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Vinícius Carvalho Multiocupação

Vinícius Carvalho traz para a OLD sua visão múltipla sobre um acampamento sem-terra. Suas imagens misturam quadros possíveis de uma mesma cena, trazendo múltiplas visões, dentro de uma mesma fotografia.

Seu ensaio apresenta uma técnica diferente, como foi o desenvolvimento e os experimentos até chegar nesse resultado?

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Já há algum tempo estava insatisfeito com o caminho trilhado na fotografia e sentia necessidade de mudar o foco do meu trabalho. Passei então a me interessar pela fotografia experimental e autoral e comecei a pesquisar várias técnicas diferentes, buscando uma linguagem própria, até chegar à múltipla exposição. Antes disso, achava a técnica esteticamente interessante, porém ainda não a dominava. A partir do momento que descobri que a minha câmera me dava essa possibilidade, comecei efetivamente meus experimentos. Foi assim que constatei que essa técnica não era tão simples quanto parecia ser, já que não se trata apenas de tirar mais de uma foto no mesmo quadro. Continuei insistindo e estudando, fiz várias tentativas, até chegar a um resultado que me agradasse com a série Multi ocupação

Multi ocupação se relaciona com o movimento dos sem terra. Qual seu envolvimento com esse movimento? Como você se relaciona com os personagens que apresenta? Meu conhecimento sobre o movimento dos sem terra se restringia, de certa forma, ao que me era exposto pela mídia, já que, até conhecer esse assentamento, nunca tinha despertado o interesse pela causa. Fui construindo minha relação com eles com base na observação da ocupação que estava acontecendo ali naquele local. Então, resolvi documentar tudo aquilo sobrepondo a minha visão à realidade daquelas pessoas que lutavam por seus direitos de ocuparem aquele espaço. No entanto, minha presença foi vista com muita desconfiança por eles, apesar do meu esforço em ser discreto. Por isso não foi possível fazer muitos registros, já que fui impedido pelos lideres do movimento de continuar meu trabalho. Eles argumentaram que esse tipo de fotografia poderia causar distorções de interpretação quanto á realidade do movimento. Mesmo contra argumentando e explicando minha proposta, me solicitaram que eu não continuasse, mas me permitiram ficar com as fotos que já tinha feito. para aquele mesmo cenário, já que para compor uma única foto é preciso que eu produza vários registros. Isso aguçou ainda mais meu olhar sobre aquele lugar.

Há um aspecto documental forte, mas também há uma experimentação estética em seu trabalho. Como você constrói essa relação?

Como você acredita que a técnica desenvolvida neste trabalho contribuiu para a apresentação do assunto em questão?

A sobreposição me ajudou a construir essa relação. Em função do meu pouco conhecimento sobre o movimento não me sentia seguro em documentar tudo aquilo com intimidade suficiente para parecer autêntico. Foi então que optei por assumir esse olhar de quem observa, contempla uma paisagem instigante, mas sem deixar de lado as minhas impressões. A sobreposição me foi útil, pois me obrigou a olhar várias vezes

Eu acredito que uma foto sobreposta cause certa inquietude no expectador. É preciso olhar para a foto mais de uma vez, às vezes sob diferentes ângulos, para que enfim se construa um significado sobre ela. À primeira vista esse tipo de registro fotográfico pode parecer confuso, em função das várias intercessões da imagem, mas creio que é exatamente por isso que consigo chamar a atenção das pessoas para o assunto em questão.

Multi ocupação apresenta uma espécie de múltipla exposição, que não funciona exatamente da maneira que estamos acostumados, com a fotografia analógica. A fotografia em filme teve alguma influência em seu trabalho? Você tem alguma preferência, entre analógico e digital?

Os primeiros contatos que tive com a múltipla exposição foram através de fotos analógicas. Cheguei a experimentar essa técnica com uma Lomo, mas de uma maneira bem descompromissada. Contudo, quando conheci o trabalho da fotógrafa Tierney

Gearon fiquei entusiasmado, pois percebi que era possível chegar a um resultado tão bom quanto o da fotografia analógica com uma câmera digital. Apesar de gostar muito da fotografia analógica, nesse caso especifico, a digital traz mais vantagens sobre ela, pois é possível ver o resultado na hora e isso acaba por acelerar o processo de aprendizagem, além de tornar mais prático os experimentos fotográficos.

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