O Phi da Fotografia

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MAURICIO LISSOVSKY

O phi No frontispício desse livro relido acrescento um signo: Ф – a letra grega phi. Nos rascunhos da CC, Barthes a usava para abreviar Foto-

grafia (LEBRAVE, 2002). Essa também é a letra inicial de Filosofia, sugerindo um parentesco significante entre ambas, o que não é pouca coisa pois Barthes afirma em uma entrevista: "minha luta é sempre lutar pelo significante, por sua suntuosidade erótica, por sua pulsão, por sua libertação" (BARTHES, 2005b, p. 167). Não pretendo com isso corroborar a sugestão irônica que a ontologia de Bazin e a fenomenologia de Barthes pretenderam tornar o pensamento da fotografia "um ramo da metafísica filosófica" (MAYNARD, 1997, p. 13), pois a luta pelo significante também é a luta pelo sopro, pela fonação, pela “presença do corpo na língua”. A consoante phi – o F do alfabeto latino – é aquela que está mais próxima do puro sopro (a fonética a descreve como "bilabial fricativa surda") – o ar que atravessa os lábios sem fazer qualquer outro ruído que não o da própria passagem. Barthes nos convida a participar de um jogo perigoso, pois se Ф representa um som, sem ser esse som, mantém igualmente uma relação complexa com a Fotografia que deveria abreviar, pois representa, em termos estritamente geométricos, a proporção áurea. Isto é, a razão de proporção que Pitágoras descobriu ser o princípio fundamental da harmonia e da beleza, cujo símbolo homenageia Fídias, o arquiteto do Partenão, que também se escrevia com Ф. Todo fotógrafo aprende em suas primeiras lições de composição a "regra dos

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