sobrenome
laryssa andrade
sobrenome
Laryssa Andrade
Publicação digital
Livre circulação - Direitos reservados Maceió/AL, 2025
Este projeto foi realizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Governo Federal, através do Ministério da Cultura (Minc), operacionalizado pelo Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult).
fotografia, escrita, projeto gráfico
Laryssa Andrade
leitura e revisão final
Angela Andrade
Aylla Iana
Minne Santos
Mônica Andrade
diagramação e revisão
Thamyres Lourenço / Syres Design
audiodescrição
Laryssa Andrade
imagens de arquivo e objetos
Angela Andrade
Claudia Regina
Meran Andrade
Mônica Andrade
Selma Alves
Severino Freitas
digitalização de filmes
Taynah Silva
agradecimentos
Carolina Junqueira
Gabriella Moura
Heverton Lourenço
LA’GRIMA (UNICAMP)
Priscilla Luiza
Priscilla Pinheiro
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Andrade, Laryssa Sobrenome [livro eletrônico] / Laryssa Andrade. -Maceió, AL : Ed. da Autora, 2025. PDF
ISBN 978-65-01-60109-0
1. Família - Histórias 2. Fotografia 3. Memórias I. Título.
25-288348 CDD-770
Índices para catálogo sistemático: 1. Fotografia 770
Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415
www.laryssaandrade.com.br
Para Euclides José e Maria José.
apresentação
Sobrenome é um projeto fotográfico construído entre 2023 e 2025, em Maceió, Alagoas. Surgiu de uma ausência, mas não se limita a ela. Parte da despedida de uma casa, do fechamento de um ciclo familiar, e da tentativa de encontrar, entre objetos, o que ainda permanece.
Esta publicação surge da observação da memória afetiva e material presente em lares familiares, focando na circulação de objetos do cotidiano entre casas de diferentes gerações. É um trabalho tecido por muitas mãos e corações. Por meio de fotografias digitais e analógicas, colagens e arquivos de família, um mapa afetivo foi desenhado entre tempos e territórios, especialmente entre Maceió e Batalha, cidade de origem da minha família, no sertão alagoano.
Foi na morada construída por meus avós, há quase cinquenta anos, que iniciei esse processo. Compreendi que os registros não apenas falavam sobre o passado, mas sobre uma tentativa de continuidade.
Mais do que um registro, as páginas se tornam um caminho para olhar o que insiste em permanecer; de transformar silêncios; de valorizar a cultura visual, as memórias partilhadas. E, sobretudo, de dizer que a lembrança se transforma (e sempre está).
legendas
1. Vista da “Serrinha”, na cidade de Batalha, sertão alagoano, com o trecho “lembrança” escrito à mão no verso de uma fotografia, na década de 1970.
2. Detalhes do verso de uma fotografia.
3. Contornos de uma fotografia de família em que se observam objetos domésticos da época. Entre mesas e cadeiras ao centro da imagem, há pratos e um vaso com flores, à direita. Sobre a mesa, uma toalha — a mesma que aparece em destaque no canto direito da página, quarenta anos depois do registro.
4. À esquerda, um vestido de noiva desfocado. À direita, detalhes de um tecido e a página de um livro de costura em preto e branco, com granulações visíveis na edição.
5. O rosto de uma mulher ao fundo de um tecido com rendas florais quase transparentes. À direita, a página de um livro de costura. Ao
centro, uma fotografia 3x4 se destaca sob outro tecido também rendado.
6. Do lado esquerdo, um erro na imagem transformou a máquina de costura em um borrão. Em detalhe, do lado, direito, o regulador de tensão da linha da mesma máquina de costura Singer, que pertence à família há gerações.
7. Parte da capa do livro Curso prático de corte e costura (Editora Verbo, cerca de 1970).
8. Página inteira com detalhes de moldes e costuras de uma blusa.
9. Encerrando o ciclo da costura, a capa do álbum de casamento da minha tia Meran e do meu tio Severino. É possível notar os sinais do tempo: marcas, fita adesiva, desenhos feitos à caneta e lápis.
10. Uma colagem com diversas sobreposições: a capa do álbum, folhas de caderno e uma fotografia rara feita em frente à casa dosmeus avós, no início dos anos 2000. Algumas pessoas aparecem sentadas em cadeiras de plástico cor de vinho.
11. O pote decorativo, em preto e branco, é o mesmo que aparece à direita, numa fotografia da década de 1990. Lá, ele está sobre uma estante de madeira.
12. À esquerda, meu pai e eu sentados à mesa. Essa fotografia estava perdida, mas graças à Taynah Silva que digitalizou o filme tão perfeitamente, foi possível perceber detalhes ainda mais especiais na imagem. Ao fundo, utensílios de cozinha, como uma jarra — a mesma que aparece à direita da página.
13. A edição em preto e branco mostra, à esquerda, uma planta desfocada por uma lupa (que pertenceu à minha avó). À direita, a lupa sobrepõe o rosto da minha mãe em uma fotografia 3x4.
14. Do lado esquerdo, o meu contorno, enquanto eu estava sentada na mesa de madeira que por décadas esteve na cozinha dos meus avós. À direita, a mesma mesa e uma cadeira, já no momento em que
começamos a desfazer a casa. Esses objetos foram reunidos no quarto onde morei — o mesmo que aparece na legenda 12. A partir desta página, a casa e seus ecos se tornam presença.
15. O quartinho, hoje demolido. Registrei essa imagem na Páscoa de 2023, a última ao lado do meu avô. Estávamos no quintal com familiares. A luz que entra pela direita marca o espaço e o que o tempo fez ali: tintas desbotadas, as rachaduras e o mofo.
16. Os santos que foram da minha avó, reunidos em uma sacola.
17. Paredes demolidas de um quarto sustentam rabiscos e a colagem digital de uma cerâmica que um dia decorou a casa.
18. Sobreposições do antes e do agora. O rosto de Fátima, o vazio.
19. Os restos de Fátima.
20. À esquerda, o olhar amassado de uma santa. À direita, uma dupla exposição de um altar.
21. O antes e o depois desse altar.
22. Parte do que foi o altar. À direita, o recorte de uma folha antiga.
23. A última fotografia do livro é de uma gaveta. Ela fazia parte de um móvel ao lado da cama do meu avô. Quando iniciamos o processo de desmontar a casa, abrimos portas, reunimos objetos — e lembro bem desse momento. Ao abrir o pequeno móvel, encontrei um botão.
Provavelmente de alguma roupa dele. Nunca saberei. Mas lembro que fotografei. E durante a montagem desta publicação, essa imagem me saltou, viva, com um sentido bom. A lembrança. Começar e encerrar sobrenome com ela. Lembrança.
a autora
Laryssa Andrade é artista visual e pesquisadora, nascida em Maceió/AL (1996). Desenvolve projetos em fotografia documental e design, investigando a memória a partir de arquivos e do cotidiano doméstico. Criou o Alinhavos, plataforma de pesquisa sobre filmes de família e sua expansão para outras margens da arte. Seu documentário O lugar que somos recebeu o Prêmio
Mariza Corrêa, da UNICAMP, e foi eleito melhor filme documentário da 6ª
Mostra NUPEPA-ImaRgens, promovida pela USP e pela Universidade
NOVA de Lisboa.