O Phi da Fotografia

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MAURICIO LISSOVSKY

O trauma A "Fotografia é o aparecimento do eu próprio como outro, uma dissociação artificiosa da consciência da identidade” (28) – esse é um dos temas fortemente benjaminianos na CC. Há muito debate em torno da eventual influência de Walter Benjamin sobre Barthes, em particular da "Pequena História da Fotografia"10. Dispomos de evidências suficientes de que uma relação, mais complexa e decisiva que mera influência intelectual, existe entre os dois textos. Em meio aos materiais utilizados por Barthes na preparação da CC esteve um número especial da revista Nouvel Observateur, de novembro de 1977, em que uma tradução do ensaio de Benjamin foi publicada. O sinal indiscutível do impacto dessa revista sobre Barthes é que das 25 fotografias que ilustram a CC, seis vieram das páginas desse número da N.O. – dentre essas, quatro ilustravam o texto de Benjamin11. Geofrey Batchen sugere que a estrutura da CC, em duas partes mais ou menos espelhadas, poderia ser oriunda da leitura da "Pequena História da Fotografia" que também tem duas partes – ainda que isso, a meu ver, seja pouco perceptível aos leitores contemporâneos, pois a divisão original foi suprimida nas edições posteriores. No centro do ensaio, assinalando sua partição, estaria o comentário de Sabe-se que "A Obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica" esteve entre suas leituras no período, além de "Haxixe em Marselha" e "Crítica da Violência", que integravam a bibliografia do seminário sobre o Neutro, no Collège de France (BARTHES, 2005c). 11 É improvável que Barthes já tivesse lido a “Pequena História” em alemão ou na tradução francesa anterior que foi pouco difundida. 10

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