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Sociedade
Manaus, 16 a 18 de outubro de 2021
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e você já tinha uma idade madura durante a década de 70, você com certeza já ouviu falar de Carlos Aguiar. Carlos, Carlinhos ou Carlão, era o nome e suas variações de uma das figuras de maior prestígio na sociedade amazonense da época. Respeitado por todas as classes sociais e reverenciado pela alta sociedade, o colunista social tinha desde o início, a arte como hobby, nada relacionado a algo extremamente profissional. Nascido em 13 de julho de 1946, na cidade de Mogi das Cruzes, em São Paulo, Carlos cursava faculdade de Odontologia. E como um legítimo autodidata para as artes, sempre teve facilidade em aprender coisas novas, como pintar, desenhar e cozinhar. Admirador do ofício artístico, ele chegou a ter uma oportunidade de ingressar na Escola Nacional Superior de Belas Artes, na França, mas sem o dinheiro para as passagens, seu ingresso acabou sendo adiado e Carlos se manteve em São Paulo. Em seguida, em 1974, lhe foi feito o convite por seus amigos que tinham melhores condições de vida, para ser gerente de decoração em loja recém-inaugurada no Norte do país. Mesmo contrariado, ele veio a Manaus sem muito interesse ou curiosidade de saber como as coisas funcionavam aqui pela região. Foi através de seu talento descoberto sem querer, que ele teve a oportunidade de começar a escrever nas páginas sociais de jornais locais, demonstrando todo seu conhecimento técnico e artístico sobre arte e moda. Ganhando espaço e respeito de outros profissionais, o colunista social teve a chance de conhecer grandes personalidades do país e do mundo, além de trazê-los ao Amazonas. Alvo de várias homenagens, dentre elas, o título de Cidadão do Amazonas, concedido pela Aleam (Assembleia Legislativa do Amazonas), e uma comenda outorgada pelo Ministério da Aeronáutica, Carlos Aguiar retorna ao time de colunistas sociais do Jornal do Commercio, com o objetivo de somar com sua experiência e matar a saudade do público que pede seu retorno sempre que o encontra. Hoje, iremos conhecer a trajetória de vida e profissional de uma personalidade que atrela relevância junto ao seu nome até os dias de hoje. Primeiramente, quando perguntamos aos outros como eles se referem a você, cada um lhe chama de um nome diferente. Afinal, por que Carlos, Carlinhos ou Carlão? Carlos Aguiar é meu nome, mas Carlinhos ou Carlão, eu acho que não tem problema nenhum. Geralmente o Carlão era usado por conta do meu tamanho e o Carlinhos é uma forma mais fofa. Acredito que ambos são formas carinhosas para se referir a mim. Mas durante meus anos como colunista social, sempre assinei como Carlos Aguiar e continuarei assim, quando retornar. Sabemos que, no início, você não queria vir a Manaus, tinha seus planos e a capital amazonense não estava nele. Como foi o processo de embarque e aterrisagem em solo manauara? www.jcam.com.br
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naus. Então, bolei uma maneira de retribuir o carinho. Falei com o meu amigo Pedrinho Aguiar e comuniquei a outros amigos também, que me deram total apoio, então, não tinha por que dar errado. A primeira festa aconteceu em 1983, no Tropical Hotel Manaus, e durou 10 anos. O nome Baiacu, dado ao troféu, foi escolhido porque é um peixe exótico da região. Deixei claro que queria promover a sustentabilidade e assim, convidei o artista plástico Rui Machado para criar o prêmio ‘Baiacu de Ouro’, com sua base feita em madeira acariquara e a estatueta, representando o peixe, em bronze. A premiação acontecia anualmente no mês de novembro e gerava grande expectativa durante o ano inteiro. A ‘Noite dos Destaques Amazônicos’ foi sem dúvida, um dos maiores eventos sociais da Região Norte. A lista dos premiados só era revelada 15 dias antes da festa. No dia da premiação, um tabloide especial era editado com as fotos e nomes dos agraciados. O evento era como a entrega do Oscar, resguardadas as nossas condições logísticas. Outro destaque na sua história é o costume de mandar beijo durante seus trabalhos. Como surgiu a ideia? O Milton Cordeiro e o Phelippe Daou, da cúpula da Rede Amazônica, eram fãs. Quando comecei a fazer o programa na emissora deles, o Milton Cordeiro falou: “Não quero beijinho não”’. Respondi que estava “tudo bem”. No dia seguinte, preparei umas notinhas e vi sua mensagem ao vivo pedindo beijo para a sobrinha-neta. Isso no primeiro programa, de estreia, fiquei extremamente entusiasmado, fiz um ‘carnaval’ e isso virou marca registrada.
volta a fazer o que gosta: Colunismo Social Eu vim por conta da proposta de trabalho dos meus amigos, mas não queria vir, a princípio. Exigi muita coisa e me deram tudo o que pedi. Fazia isso de brincadeira, porque realmente não queria me mudar, pois nem imaginava como que seria aqui. A única coisa que sabia era que Manaus tinha uma floresta muito grande, rios maravilhosos e outras coisas interessantes. Meu amigo chegou na minha casa, um tempo depois, ainda em São Paulo, com o bilhete da passagem e eu voava no dia seguinte. Fui emburrado. Minha irmã Aparecida Pires de Aguiar foi me levar no aeroporto e assim, embarquei. Voamos com muita mordomia. Cheguei em Manaus bêbado, pois pedi muitas bebidas alcoólicas no caminho, e não queria descer do avião, disse que queria voltar ou ir direto para o próximo destino da tripulação. As comissárias e o piloto solicitaram que eu desembarcasse e eu tive que descer. Acho que fazia uns 50°C na-
IREI FAZER O QUE SEMPRE FIZ, COLOCAR MINHA MARCA” quele dia, fazia muito calor na tarde da capital. Quando peguei as malas, queria voltar de todo jeito. Mas fiquei. No primeiro dia que cheguei aqui, me adaptei. Amei Manaus e disse que daqui eu não sairia mais daqui. E como foi que você começou na carreira de colunista social? Como foi ganhando o reconhecimento da sociedade?
Sempre desenhei moda. Um amigo meu viu meus desenhos, os “roubou” e levou para mostrar para sua mãe, chamada Lúcia Costa, que era colunista social em A Crítica. Isso foi meses depois que cheguei em Manaus. A mãe desse meu amigo escrevia aos domingos. Teve uma vez que eu abri o jornal e tinha uma matéria enorme, quase uma página inteira com os desenhos e uma mensagem escrita ao fim: “Guardem bem esse nome, Carlos Aguiar, é sucesso”. Depois disso, o Jornal A Crítica começou a me procurar, até que um dia eu resolvi comparecer na sede do grupo de comunicação, através do convite feito por Dissica Tomaz, diretor à época. Acertei tudo, nessa época já estava escrevendo no Jornal A Notícia. Aceitei a proposta do A Crítica, me despedi dos colegas que tinha feito no antigo trabalho e fui embora. Todo mundo chorou, fiquei de coração partido. Depois disso, viajei para a Europa e comecei a ter re-
conhecimento. Do mesmo modo, trabalhei no Jornal do Commercio. Já passei por muitos jornais aqui da cidade, como o Em Tempo, Folha Popular, A Notícia e Diário do Amazonas, praticamente todos daquela época. Você chegou a ser colunista social em outro Estado antes ou após o início da sua carreira? Não, comecei aqui por Manaus mesmo. E como fruto do meu trabalho, conheci todo o Brasil praticamente, conhecendo pessoas novas a quem agradeço muito por isso. É uma vitória pessoal que quero continuar conquistando agora que estou voltando à função que gosto há tanto tempo. Uma das maiores marcas da sua carreira foi a ‘Noite dos Destaques Amazônicos’ com a entrega do prêmio ‘Baiacu de Ouro’. Por que o troféu levou esse nome? Eu precisava de uma forma de agradecer as pessoas que me acolheram em Ma-
E com o avanço da tecnologia, como ocorreu a transição do seu trabalho para o meio eletrônico? Eu fiz primeiro o programa Amazônia Em Revista, criado por Inês Daou, a pedido do Phelippe Daou, na época era na Rede Bandeirantes, lá pelos anos 70. Comecei o programa Destaque quando fui apresentar sozinho na mudança de canal, agora com meu programa próprio. Quando comecei o Destaque, o AmazonSat só era imagem. Fui a primeira pessoa que inaugurou esse estilo de programa no canal. Nos anos 90, juntamente com o Pedrinho Aguiar, fundei a revista Big Amazônia que me deu grandes alegrias, abordando os grandes acontecimentos sociais e culturais de Manaus, até seu encerramento em meados de 2.000. E com o seu grande retorno ao time de colunistas sociais do Jornal do Commercio, qual será o perfil do seu trabalho? Irei fazer o que sempre fiz, colocar minha marca. E vou contribuir com o Jornal do Commercio, a quem agradeço o convite. Recebi e ainda recebo muitos comentários de pessoas que sentem falta do meu trabalho, até me perguntaram se já tinha me aposentado, mas o carinho do público eu tenho até hoje.