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A pandemia impôs mudanças nas práticas de linguagem. Que mudanças foram essas?

“A pandemia impôs mudanças nas práticas de linguagem. Que mudanças foram essas?”

POR FERNANDA FLORES

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No dia 15 de maio, recebemos Flora Perelman¹, em palestra na qual nos convidou a pensar sobre como as transformações advindas da pandemia chegaram à escola e as implicações que tiveram no ensino e na aprendizagem.

Mais além disso, nos provocou a pensar também sobre as alterações importantes que vieram para ficar, além de dar especial atenção à questão da profissionalização das equipes docentes.

Desde seu posicionamento inicial, ela nos fez refletir sobre estes tempos de isolamento e aulas remotas, nos quais a escola sofreu uma transformação sem precedentes, o que nos impôs a necessidade de compartilhar o que produzimos para fazer frente ao momento emergencial, em meio a tantas mudanças e rupturas, mas também com certas continuidades necessárias. Afinal, estamos no contexto do ensino e da aprendizagem, somos educadores e seguimos com nossas alunas e alunos no compromisso com o direito primordial à educação.

Por meio da troca com professoras e professores sobre suas práticas, interatuando com as produções possíveis de seus estudantes, Flora Perelman traz a força da colaboração e, como investigadora, nos provoca a pensar sobre as condições didáticas do atual momento, bem como o papel central das/ os docentes nesse processo.

Considerando o compromisso inegociável relacionado ao direito à alfabetização, ela defende que sustentar o propósito didático de formar leitores e escritores que exerçam sua cidadania crítica e participativamente é o que move ajustes e transformações nas práticas pedagógicas. Não sem alterações, em função da centralidade imprescindível dos meios digitais nesse contexto, mas com muitos ganhos acumulados.

Soma-se a isso a defesa da democratização do acesso aos meios digitais, uma vez que eles passaram a significar, mais do que nunca, ter direito à educação. Assim, a luta pela diminuição das desigualdades hoje passa também pelo alcance a dispositivos eletrônicos e à conectividade.

No caldo da pandemia para as escolas, então, professoras/es puseram à prova novas variáveis didáticas, novas práticas de ensino, gêneros antes pouco

explorados e testaram intervenções docentes inéditas, na tentativa de ampliar o direito das crianças à educação. Experimentaram novos projetos, como: As fotos pela voz dos autores; Diário de Pandemia; Leituras por meio de vídeos; Bibliotecas de aula compartilhadas digitalmente; Intercâmbios entre leitores em meios digitais... Enfim, diversas propostas de trabalho que buscaram sustentar, com sentido, a produção dos alunos e alunas para além do que estavam vivendo, mas sem com isso desconsiderar a experiência comum dada pelo isolamento.

Vale destacar ainda os projetos compartilhados sobre séries selecionadas da Netflix e jogos em vídeo, como o Fortnite, por exemplo, partindo do entendimento de que esse é o mundo midiático no qual as crianças e jovens estão inseridos. Segundo Flora, é necessário à necessidade de maior profissionalização da docência, em especial no contexto de “transmídias”, em que a participação ativa dos usuários em múltiplas linguagens, por meio de gêneros híbridos, fluídos e intertextuais, faz ainda mais necessária a realização de investigações colaborativas, com e entre professores e pesquisadores. Só assim será possível avançarmos em conhecimento didático sobre a potência que a centralidade dos meios digitais hoje tem na formação de leitores e escritores.

Situações desafiadoras foram compartilhadas e nos ajudaram a pensar com muita ênfase no papel da comunidade educativa, destacando a importância da ampliação dos intercâmbios entre professores/as, em múltiplas redes que a própria cultura midiática oferece para o compartilhamento de estratégias. Ela destacou o quanto a pandemia trouxe luz

Flora finalizou esse potente encontro tratando das dimensões produtiva e construtiva da prática docente, a didática profissional, defendendo-a como o estudo do trabalho que os educadores e educadoras comportam de maneira indissociável, citando José Antonio Castorina para fundamentar que a “atividade produtiva se refere às ações do trabalhador para transformar o real em um fim: “abordar a formação de um leitor crítico o professor produz uma situação de em meios digitais, o que implica propiciar ensino para que seus alunos aprendam. a passagem de uma prática de leitura Mas, se forem criadas condições em uso (quando assistem essas séries ou para a reflexividade, para o retorno jogam o jogo) a uma leitura como espaço à sua produção, o trabalhador se compartilhado de reflexão”. transforma, processo que caracteriza a atividade construtiva. O professor, ao conceituar ou analisar retrospectivamente sua atividade, pode generalizar uma situação didática, colocando-a entre outras possíveis, ou pode reorganizar seus recursos. Para que o trabalho de reconstrução tenha um poder transformador, ele precisa ser sustentado no tempo, ser acompanhado institucionalmente e fazer parte das práticas pedagógicas”.

¹Flora Perelman, doutora pela Universidade de Buenos Aires, pesquisadora sobre o tema das práticas de linguagem em meios digitais, veio, mais uma vez, ao Centro de Formação da Vila - agora de forma remota - para discutir sobre este assunto, que é sua especialidade.

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