Rio Cooperativo n° 11

Page 1


2


Sumário

8 14 16

Capa Uma cidade que respira cooperativismo

Moradia Conheça a única cooperativa de corretores de imóveis do RJ

29

Crédito Sistema Unicred centraliza atendimento em busca de crescimento

Transporte Aerocoop e seu atendimento no Aeroporto Internacional Tom Jobim

30

Cooprotic Inclusão social e digital em Barra Mansa

18

Entrevista

22

Panorama

Rodolfo Tavares, presidente da Faerj e do Senar-Rio, e o mercado de leite

Resultados do Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite do Rio de Janeiro

28 Primeira cooperativa educacional do Educação

Seções Editorial Circulando Causa & Efeito Opinião Jogo Rápido

4 5 26 32 34

País é referência no ramo

Rio Cooperativo é uma publicação da Montenegro Grupo de Comunicação Contatos e Publicidade: (21) 2215-9463 - 2533-6009 E-mail: montenegrocc@montenegrocc.com.br Site: www.montenegrocc.com.br Editor executivo: Cláudio Montenegro (MTb 19.027) Redator-chefe: Leonardo Poyart (MTb 24.393) Redação: Fábio Rego Barros Programação visual: Lucas Filho Gerência comercial: Paulo Oliveira Secretaria administrativa: Marcia Fraga e Débora Araújo Colaboraram nesta edição: Abdul Nasser, Márcio Sanches e Ronaldo Gaudio Publicidade: Paulo Oliveira (comercial@montenegrocc.com.br) Fotos: Leonardo Poyart, Arquivos Prefeitura de Barra Mansa, Coopere, Unimed, OCB e SXC.

Distribuição: Lideranças cooperativistas, dirigentes, gerentes, cooperados e funcionários de cooperativas de todos os segmentos (agropecuário, consumo, crédito, educacional, especial, habitacional, infraestrutura, mineral, produção, saúde, trabalho, transporte e turismo), empresários, administradores e gestores, assessores jurídicos, auditores, contadores, profissionais de recursos humanos, associações, sindicatos, federações e entidades de classe de forma geral, orgãos e instituições governamentais, universidades, clínicas e hospitais, fornecedores de produtos e serviços para cooperativas e demais formadores de opinião. Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores, não correspondendo necessariamente à opinião dos editores. Capa desta edição: Ponte dos Arcos/Prefeitura de Barra Mansa/Claudinei Ferreira Edição nº 11 - Julho de 2010

3


Editorial

Cláudio Montenegro Editor Executivo

A arte de ousar, ter coragem e perseverar “Os melhores frutos são sempre encontrados no topo das árvores, uma vez que ficam resguardados dos apanhadores preguiçosos.” Eleanor L. Doan, autora americana

O

usadia, coragem e perseverança são carac-

endedores, que, por si só, se revelam autênticos

terísticas que acompanham os verdadeiros

exemplos de lideranças.

líderes em suas batalhas.

Como carro-chefe desta edição, trazemos o mo-

Ousadia para seguir adiante obstinadamente,

delo adotado pelo município de Barra Mansa, que

mesmo que para isso tenha que alterar os rumos

vem incentivando o cooperativismo naquela região,

previamente traçados. Coragem para superar obs-

com nítidos reflexos por todo o Sul Fluminense.

táculos sem medo de errar e, mesmo errando, re-

O apoio da prefeitura local tem sido fundamental

tomar a caminhada. Perseverança para prosseguir

para o sucesso das iniciativas apresentadas, com

incansavelmente em sua jornada, sem se deixar

o cooperativismo assumindo importante papel nes-

abalar por tormentas e percalços.

se modelo de negócio.

Não falamos da ousadia sem medir consequên-

Também é digna de aplausos a lição de cidadania

cias, mas sim daquela que nos instiga a ir além e

que a Cooperativa de Trabalho dos Profissionais de

alcançar o topo das árvores, pois é lá que estão os

Informática e Comunicação (Cooprotic) nos apre-

melhores frutos.

senta ao praticar a inclusão digital como forma de

Não falamos da coragem impetuosa e irresponsável, mas sim daquela que nos motiva a seguir em frente e inspira a alcançar o horizonte. Falamos de perseverança para conquistar e superar

inserir jovens no mercado de trabalho, promovendo assim sua inclusão na sociedade. Muitos são os projetos cooperativistas em desenvolvimento no Estado do Rio de Janeiro e todos, sem

as metas estabelecidas, tra-

exceção, passam pelo crivo

çando novos patamares e no-

da coragem, da ousadia e da

vos limites para alcançarmos.

perseverança. Sem esses in-

Quando juntas, essas ca-

gredientes, qualquer iniciati-

racterísticas tornam-se con-

va está fadada ao insucesso.

dições necessárias para que

Como disse o sociólogo

os grandes líderes possam

e cientista político alemão

conduzir seus grupos, trilhan-

Max Weber: “A história en-

do com segurança os cami-

sina-nos que o homem não

nhos que os levarão à vitória.

teria alcançado o possível se,

Nesta edição de Rio Co-

muitas vezes, não tivesse ten-

operativo, veremos algumas iniciativas que são resultados de ações ousadas de empre4

O prefeito de Barra Mansa, José Renato de Carvalho, e o editor Cláudio Montenegro

tado o impossível.” Boa leitura e saudações cooperativistas!


Circulando

Congresso debate perspectivas para catadores de lixo Foi realizado entre os dias 22 e 25 de julho, no Centro Cultural de Ação e Cidadania (Centro do Rio), o 2º Congresso Estadual do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. O evento reuniu cerca de 1.500 pessoas, entre membros de cooperativas de reciclagem e autoridades, como o deputado estadual Carlos Minc e a secretária de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Marilene Ramos. O encontro debateu a importância da organização desses trabalhadores em cooperativas e como agentes de transformação da sociedade, bem como as alternativas para a sustentabilidade. A marcha de abertura do evento, que teve mais de 200 pessoas, iniciou na Candelária e seguiu por ruas do centro. Os participantes levaram bandeiras e faixas em que diziam ‘coleta seletiva sem catadores é lixo’.

Prêmio Cooperativa do Ano 2010

Coopcat ganha equipamentos

Seguem até o dia 13 de agosto as inscrições gratui-

Um termo de doação dos equipamentos entregue pelas

tas para o Prêmio Cooperativa do Ano. Podem participar

associações à Coopcat (Cooperativa Mista de Catadores

as cooperativas, singulares e/ou centrais registradas e

de Materiais Recicláveis) foi assinado, por meio do projeto

adimplentes com o Sistema OCB, nos ramos Agrope-

“Dê a Mão Para o Futuro”, da ABIHPEC (Associação Bra-

cuário, Consumo, Crédito, Educacional, Infraestrutura,

sileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cos-

Saúde, Trabalho e Transporte.

méticos) e Abipla (Associação Brasileira das Indústrias de

Em sua sétima edição, o prêmio se divide em três categorias: Educação Cooperativista, Gestão para a

Limpeza e Afins). O evento ocorreu na sede da Coopcat, onde foram entregues três prensas enfardadeiras, uma balança digital

qualidade e Desenvolvimento sustentável. Seu objetivo é dar mais visibilidade às experiências

500 kg, um elevador de carga elétrico e um carrinho para

bem-sucedidas das cooperativas e ampliar a percepção

fardos.De acordo com a diretora da Abipla - doadora dos

da sociedade sobre estas organizações.

equipamentos -, Maria Eugenia Saldanha, o projeto tem

Para mais informações, acesse o site da OCB Nacional: http://premiocooperativadoano.brasilcooperativo.coop.br.

o intuito de dar destinação adequada a embalagens de pós-consumo e, para isso, formou-se uma parceria entre a prefeitura, a associação e a cooperativa.

(Fonte: OCB)

(Fonte: Jornal Diário do Vale)

5


Circulando

Cooperativa de costureiras de Campos em ascensão A Cooperativa de Costureiras de Campos começa a render frutos positivos para seu grupo de 20 associadas. Recentemente as cooperadas receberam mais um pagamento pela produção de 7.875 peças em 15 dias de trabalho, que totalizaram um faturamento de R$ 20.908,45. Em atividade desde janeiro, a fábrica produz capas para dispositivos de retenção utilizados em carros para o transporte de bebês e crianças. As peças são fornecidas à indústria fabricante de cadeira de bebês para automóveis. (Fonte: O Dia)

Cooperativismo comemora seu dia com 800 milhões de associados Em julho é comemorado o Dia Internacional do Cooperativismo, que celebra a união e a força, ao redor do mundo, de mais de 800 milhões de pessoas que optaram pelo sistema cooperativo como meio de organização econômica da sociedade.

Sicredi tem novos parceiros no Seguro Auto

Este ano, o tema escolhido pela Aliança Cooperativista Internacional é “A mulher e o Cooperativismo” em busca de conquistas para o empoderamento feminino.

O Sicredi conta com novas seguradoras parceiras para

No Brasil, segundo dados da Organização das Coo-

a operação de seguro automóvel, além da Mapfre: HDI e

perativas Brasileiras (OCB), 8,2 milhões de pessoas são

Sul América. Este novo modelo de negócios permitirá que

associadas a mais de 7,2 mil cooperativas. Em 2009, o

o Sicredi atue de forma mais competitiva em nichos como

setor movimentou R$ 88,5 bilhões no país, representan-

o de veículos de carga, picapes e automóveis de passeio.

do um crescimento de 30% desde 2006. Atualmente, o

Com a novidade, os associados terão mais opções para

cooperativismo emprega 274,1 mil pessoas e exportou,

escolher a que melhor atende suas necessidades.

no ano passado, US$ 3,63 bilhões, equivalente a 5,39%

(Fonte: Sicredi)

do Produto Interno Bruto (PIB) Brasileiro.

MPs trancam votação do PL 4.622 O Projeto de Lei nº 4.622, que regulamenta as Cooperativas de Trabalho, ainda não foi aprovado devido a Medidas Provisórias que trancam as votações na Câmara dos Deputados. Depois de ter sido aprovado no Senado e tramitar em caráter de urgência, sendo sancionado nas comissões da Câmara, o PL nº 4.622 aguarda para ser votado. Enquanto isso, as cooperativas de trabalho continuam sofrendo com ações do Ministério Público do Trabalho. Este Projeto de Lei é a esperança das cooperativas para funcionarem tranquilamente. Também está em tramitação na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 271/05, que estabelece regras para a tributação do ato cooperativo e está em análise na Comissão de Finanças e Tributação. (Fonte: Agência Câmara) 6


Caminhada da saúde e do cooperativismo

Curtas

A Unimed Leste Fluminense realizou caminhada, em Niterói, para ce-

Representantes do ramo Saúde da Orga-

lebrar o Dia Internacional do Cooperativismo em frente às obras do novo

nização das Cooperativas Brasileiras (OCB)

hospital da cooperativa na região. O evento, que contou com almoço de confraternização, reuniu 50 pessoas, entre funcionários e cooperados. O empreendimento, que está sendo construído sob o conceito de

se reuniram este mês em Brasília para tratar questões relacionadas ao segmento: Convenção Unimed do Brasil, Comissão de Cooperativismo Médico e Conselho Especia-

tecnologia sustentável (redução de impactos sócio-ambientais) em

lizado Ramo Saúde. Atualmente existem 871

uma área de 30 mil m², possuirá os equipamentos mais modernos para

cooperativas e cerca de 226 mil associados

a realização de diagnósticos e cirurgias de alta complexidade. Seu se-

em todo o país.

tor de Pronto Socorro e Laboratórios começa a operar no final do ano que vem e a conclusão total do complexo se dará em 2014.

Comissão especial criada para analisar

Seguindo projeto semelhante, a Unimed Resende construirá um

os projetos que alteram o Código Florestal

novo complexo hospitalar. O prédio de cinco pavimentos deve começar

(Lei 4.771/65) começou a discutir este mês

a funcionar no primeiro semestre de 2011.

a reforma no Código. As reuniões foram promovidas pelas Frentes Parlamentares do Cooperativismo (Frencoop) e da Agropecuária (FPA). A mobilização quer chamar atenção para os problemas enfrentados pelos produtores e defender a necessidade de aprovação do relatório.

O Sescoop Nacional criou comitê com missão de desenvolver diretrizes nacionais e conjunto de metodologias, indicadores e ferramentas que propiciem às cooperativas, por meio das unidades estaduais, introduzir estratégias para a gestão e a prática de responsabilidade social, empresarial e sustentabilidade.

Dados do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) mostram elevação das cooperativas de crédito em 328% nas tari-

OCB e cooperativas do Mercosul avançam na integração

fas avulsas de serviços bancários entre abril de 2008 e fevereiro de 2010, número 33 vezes maior que a inflação do período (9,8%).

Em julho, 16 representantes de cooperativas do Paraguai, Uruguai

São poucos os filmes que retratam o coo-

e Argentina visitaram diversos pólos agropecuários cooperativistas

perativismo e seus princípios igualitários. No

do Brasil. O grupo faz parte da quarta etapa do Espaço Mercosul de

documentário “Capitalismo: Uma História de

Formação em Economia Social e Solidária (EMFESS), com ênfase em

Amor” (2009), do cineasta norte-americano

cooperativas, que objetiva formar grupos interessados no desenvolvimento, integração e fortalecimento das cooperativas do Mercosul.

Michael Moore, o diretor visita uma cooperativa e, após entrevistar os trabalhadores, fica surpreso ao saber do êxito da organização.

O projeto EMFESS é uma iniciativa da Reunião Especializada das Co-

Para Moore, o sistema cooperativista resga-

operativas do Mercosul (RECM), em conjunto com o Centro de Estudos

ta valores esquecidos pelo capitalismo, como

e Formação para a Integração Regional (CEFIR) e a Agência Espanhola

liberdade e igualdade. O documentário “Capi-

de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID).

talismo: Uma História de Amor” está disponí-

(Fonte: OCB)

vel em DVD.

7


Capa

Uma cidade que respira cooperativismo

Linha de produção da Coopbama: um marco do Sul Fluminense

E

ssa é uma das principais características de Bar-

Nogueira Feris, e o diretor executivo da Superintendên-

ra Mansa, cujo pioneirismo no segmento data

cia de Obras e Serviços Públicos (Susesp), Célio José

mais de 70 anos de história, com o surgimento

Magalhães, foram comentadas as razões que estabele-

da Cooperativa Agropecuária de Barra Mansa (Coopba-

ceram a edificação do cooperativismo na cidade. Entre

ma), instituição que possui 1,8 mil associados e produz

elas, destacam-se a criação da Política Municipal para

cerca de 150 mil litros de leite por dia. É, até hoje, uma

o Cooperativismo (Lei nº 3.641, de 9 de maio de 2007)

das cooperativas mais influentes da Região Serrana Sul

e do Conselho Municipal do Cooperativismo (Portaria nº

Fluminense do Rio de Janeiro.

67/09, de 17 de abril de 2009), que regulamentam e

Por ser uma referência do cooperativismo fluminen-

atendem às demandas das cooperativas.

se, Rio Cooperativo visitou essa bela cidade, banhada

Outro fator importante é a parceria da prefeitura com

pelo Rio Paraíba do Sul e conectada às principais metró-

as demais empresas e associações locais, além do Sis-

poles da Região Sudeste através de extensas ferrovias

tema OCB/RJ-Sescoop/RJ. Juntas, essas instituições

e estradas. O cooperativismo no município, atualmente

promovem a solidificação do trabalho dos cooperados

com mais de 15 cooperativas, está em ascensão e já faz

ao fornecerem instrumentos de trabalho, maquinários e

parte da vida dos 180 mil habitantes da cidade.

cursos técnicos de gestão de pessoas e negócios.

Em entrevista com prefeito de Barra Mansa, José Renato Bruno Carvalho, da qual participaram também o secretário de Desenvolvimento Econômico, Luís Antônio 8

Para o prefeito José Renato, essas iniciativas comprovam o engajamento da cidade com o sistema cooperativista. “O cooperativismo é um sistema de importância vital


para o desenvolvimento sócio-econômico de Barra Mansa. Por isso, é necessário inovar e incentivar parcerias que forneçam o apoio necessário à difusão de novas atividades”, afirma o prefeito. Incentivo ao cooperativismo Barra Mansa foi a primeira cidade do Estado do Rio de Janeiro a implantar uma Lei Municipal para o Cooperativismo, cujo objetivo principal é fomentar o crescimento do sistema na região. Desde que entrou em vigor, há um ano, a legislação demandou a instituição do Conselho Municipal do Cooperativismo, órgão que representa as cooperativas da região e leva suas demandas ao Poder Público.

O serviço de coleta da Coopcat

Para o secretário de Desenvolvimento Econômico, Luís Antonio Feris, essas medidas vão ao encontro das opor-

e outros instrumentos de trabalho, e ainda arranjou um

tunidades de mercado que a região oferece. Afinal, parte

espaço físico para montar a sede da cooperativa em um

importante de sua estrutura produtiva é composta por pe-

galpão de 8 mil m². No local, familiares e outros membros

quenos e médios empresários, além de trabalhadores au-

da comunidade, fazem a triagem e a separação de 69 tipos

tônomos, que possuem atividades em comum. Segundo o

de materiais entre papel, papelão, plástico, vidro, ferro e

secretário, a chave para a expansão dos negócios desses

eletroeletrônicos. Esses elementos são vendidos para di-

profissionais está em sua união em forma de cooperativa.

versos compradores na região. Só no mês de julho, foram

“Há uma grande oferta de mercado em diversos seg-

comercializadas 60 toneladas desses utensílios.

mentos cooperativistas na região. Através do Conselho

Outro fator relevante é o incentivo da Coopcat na

Municipal de Cooperativismo, incentivamos e fornecemos o

educação de seus cooperados. Desde que a cooperativa

que for necessário para que esses profissionais formem um

entrou em funcionamento, grande parte dos associados

número cada vez maior de cooperativas”, explica Feris.

retomou os estudos e sempre participam de cursos de capacitação realizados com o apoio do Núcleo de Apoio ao Cooperativismo (NAC) de Barra Mansa, representan-

Orgulho cooperativista Um exemplo recente dessa iniciativa é o da Cooperati-

te direto do Sistema OCB/RJ-Sescoop/RJ.

va Mista de Catadores de Materiais Recicláveis de Barra

Segundo o presidente da Coopcat, Antônio Carlos da Sil-

Mansa (Coopcat). Há quatro anos, diversos catadores au-

va, a cooperativa é um exemplo dos resultados positivos que

tônomos recolhiam materiais na cidade de forma desorde-

o sistema cooperativista pode trazer para a sociedade.

nada e sem nenhum tipo de recurso. A atividade era desconsiderada pela maior parte da população, que não fazia uma boa imagem desses indivíduos. Foi então que a prefeitura resolveu unir esses trabalhadores e propôs a criação da cooperativa, que em pouco tempo se tornou um sucesso. Hoje, a Coopcat possui cerca de 60 associados e faz a coleta seletiva em diversos bairros da cidade. Por meio de parcerias com associações e a iniciativa privada local, a Prefeitura de Barra Mansa disponibilizou dois caminhões para a coleta, uniformizou os catadores, padronizou seus carrinhos

O prefeito José Renato (ao centro): incentivo ao cooperativismo

9


Capa “Antes da cooperativa, os catadores se considera-

das afiliadas da OCB/RJ, que participará pela terceira vez

vam marginalizados. Hoje eles consideram seu trabalho

consecutiva do evento esse ano, conheceu a Cooperativa

digno e se sentem cidadãos importantes de Barra Man-

Associativa dos Servidores Municipais da Administração

sa. Afinal, além de contribuírem diretamente para a lim-

Direta e Indireta (Casmadin). Como fruto desse conta-

peza da cidade, os cooperados têm uma fonte de renda

to, surgiu uma parceria que constituiu a primeira filial da

familiar fixa, fato que os motiva e expande ainda mais os

Coopidade na cidade sul fluminense. O trabalho segue a

frutos de seus trabalhos”, celebra o dirigente.

pleno vapor e faz a capacitação de profissionais locais através do curso de Formação de Cuidadores de Idosos. Também através da Flumisul foram feitos os contatos

Princípios Outro ponto forte do cooperativismo de Barra Mansa

que possibilitaram a implantação do Núcleo de Atendimen-

é a realização de eventos que visam difundir o sistema e

to ao Cooperativismo (NAC) de Barra Mansa, que atende

realizar novas parcerias. O mais tradicional é a Feira Inter-

às cooperativas da região e divulga o cooperativismo.

nacional de Negócios do Sul Fluminense (Flumisul), evento

“A Flumisul é um espaço excelente para difundirmos o

anual com quatro dias de duração, e que movimenta um

cooperativismo. Com a feira, estreitamos nossos laços

público de cerca de 80 mil pessoas (ver página 12).

com a OCB/RJ, que é um marco relevante, e nossa par-

Foi na edição de 2009, que a Cooperativa dos Cuidadores de Idosos e Doentes Dependentes (Coopidade), uma

ceria já rende bons frutos, como a presença do NAC, que reforça o cooperativismo da região”, avalia o prefeito.

Por dentro de Barra Mansa Barra Mansa possui 180 mil habitantes e está localizada na Região Serrana do Rio de Janeiro, próxima às principais

A economia da cidade, originalmente tinha por base a agropecuária. Depois, surgiram investimentos nas áreas

cidades do Sudeste do Brasil. Sua privilegiada situação geográfica a coloca bem perto

de metalurgia e metal-mecânica. Atualmente, o setor de

de pontos e cidades turísticas com opções para mar (Rio e

comércio e serviços é um dos mais fortes da região e con-

Janeiro, Angra dos Reis, Parati) ou para montanha (Itatiaia,

ta com uma capacidade de ofertas muito grande, dadas a

Caxambu, São Lourenço e Serra da Bocaina/SP).

diversificação dos ramos e a presença de grandes empre-

A paisagem urbana é enriquecida pela presença cen-

sas e centros industriais que passam de 528 unidades.

tenária de alguns casarões e construções antigas que

Barra Mansa é também conhecida por sua tradição

falam de seu passado: do período colonial, a sede da Fa-

na área de Educação. O Centro Universitário de Barra

zenda da Posse; do imperial a Câmara Municipal, a Esta-

Mansa (UBM), primeira instituição da região a implan-

ção Ferroviária e a Praça da Bandeira. Outros locais con-

tar um curso de Direito, há 40 anos, atende a cerca

corridos são as unidades-padrão do Sesc e do Sesi, com

de 5.500 alunos de todos os municípios vizinhos e de

instalações

São Paulo e Minas Gerais. A universidade possui tam-

para

de-

bém cursos em Administração de Empresas, Ciências

senvolvimen-

Contábeis, Comunicação Social, Enfermagem e Medici-

to de várias

na, entre outros. Além disso, oferece Pós-Graduação

modalidades

e Mestrado em diversas disciplinas.

Fazenda da Posse

10

espaços para eventos diversos.

o

esportivas,

As Redes Municipal, Estadual e Particular possuem

contando

cerca de 90 unidades escolares em diversos níveis e aten-

com piscinas

dem mais de 45 mil alunos. A presença de instituições

e

quadras

como o Senai e do Senac proporcionam ao município resul-

poliesporti-

tados significativos em termos de preparação de mão-de-

vas, além de

obra para indústria, comércio e serviços da cidade.


Conheça algumas cooperativas importantes de Barra Mansa Cooperativa das Artesãs de Amparo A Amparo Brasil é uma cooperativa de trabalho artesanal formada por 34 artesãs, criada em 2004, com

Suíça, Chile, Austrália A

o intuito de ajudar as mulheres do distrito de Amparo, em Barra Mansa, que não tinham onde trabalhar.

e

Kwait. co-

operativa

A expectativa de bons negócios e de expandir seus

conta com

trabalhos para o mundo foi alcançada em 2009, quando

o apoio da

participou, pela primeira vez, da Prêt-à-Porter de Paris,

Prefeitura

voltando também em 2010. Além disso, a cooperativa par-

de

ticipa de eventos nacionais como o Rio-à-Porter e Fashion

Mansa, Se-

Rio, além de exposições na região.

brae, Sindi-

Barra

Durante os eventos dos quais participou, recebeu enco-

cato das Indústrias de Vestuários do Sul Fluminense

mendas de várias partes do Brasil e passou a exportar seus

e da Igreja Presbiteriana, onde começou a oficina das

produtos para consumidores de países como França, Itália,

artesãs com o tradicional tricô.

Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo de Micro e Pequenos Empresários e Microempreendedores da Região do Médio Paraíba (Sicoob Flumicred) O Sicoob Flumicred é a primeira cooperativa de crédito de empresários do Estado do Rio de Janeiro e que

las, pecuárias, extrativas, de captura e transformação

funciona há mais de um ano em Barra Mansa.

de pescado.

Neste período, atingiu a marca de 200 cooperados,

A cooperativa nasceu com a finalidade de fomentar

compostos por pequenos empresários responsáveis

o crédito em Barra Mansa. Seus associados desfrutam

por negócios de natureza industrial, comercial ou de

de uma série de vantagens e benefícios que facilitam a

prestação de serviços - incluídas as atividades agríco-

realização de seus serviços no mercado.

Distrito de Santa Rita de Cássia (trabalham seguindo os preceitos do cooperativismo) O distrito de Santa Rita é considerado hoje o maior produtor de hortaliças da Região Sul Fluminense. De lá, saem em média, por dia, 50 caminhões para entregas, num total de produção que pode chegar a 250 toneladas por mês. Os cerca de 150 produtores do local cultivam alface, couve, agrião, mostarda, entre outras verduras, que abastecem as cidades de Barra Mansa, Volta Redonda, Resende, Barra do Piraí, Quatis, Porto Real e Pinheiral.

refeições nas escolas das Redes Municipais de Ensino e

A produção escoa para empresas responsáveis pelas

ainda no Restaurante Popular de Barra Mansa.

11


Capa

Cooperativismo presente mais uma vez na Flumisul

A

12ª Feira Internacional de Negócios do Sul Flumi-

o coordenador de Autogestão do Sescoop/RJ, Antônio

nense (Flumisul) acontece de 27 a 31 de julho, no

Bispo, apresentam a palestra “Cooperativismo ao Al-

Parque da Cidade de Barra Mansa, região serrana do

cance de Todos”, que destaca a importância do modelo

Rio de Janeiro. Nesta edição, o cooperativismo flumi-

cooperativista na sociedade.

nense será novamente representado pelo Sistema OCB/ RJ-Sescoop/RJ. A instituição participa do evento pela terceira vez consecutiva com o estande ‘Casa do Cooperativismo

Ainda no dia 29, a presidente da Coopidade, Rosa Maria dos Santos, falará sobre “O cuidador de idosos na sociedade moderna”, traçando um panorama desse profissional no mercado de trabalho atual.

Fluminense’, com 63m², localizado no pavilhão nobre. O

No dia 30, é a vez do presidente da Cooperativa de Cré-

espaço abrigará a OCB/RJ, o Sescoop/RJ e algumas coo-

dito de Mendes (Cremendes), Márcio Nami, apontar as prin-

perativas da região, como as Uniodontos Sul Fluminense

cipais tendências do mercado de crédito com o tema “Cré-

e Resende, Sicoob Flumicred, Cremendes, Ceacanp, Co-

dito e cooperação: uma alternativa para o século 21”.

opbama, Casmadin, Coopidade e Cooprotic.

A 12ª Flumisul terá cerca de 250 expositores, que

Na sala de palestras da feira, técnicos do Sistema

ocuparão uma área de 8 mil m². Além de promover a

OCB/RJ-Sescoop/RJ irão apresentar uma série de con-

exposição de cooperativas e empresas de vários ramos,

ferências com temas que visam a divulgar e fortalecer

a edição desse ano pretende surpreender os 80 mil visi-

o cooperativismo na região. Nos dias 29 e 31, o repre-

tantes esperados com a realização de desfiles de moda

sentante do NAC Sul Fluminense, Silvio Márcio Bruno, e

e leilões de gado.

12


13


Integrando para crescer Sistema Unicred centraliza serviços para crescer no Rio de Janeiro

A

crescente globalização de mercado estimula uma

Com o passar dos anos a Unicred Central-RJ apre-

competitividade cada vez maior no mundo dos ne-

sentou um crescimento expressivo. Atualmente, são 21

gócios. Para evitar contratempos, é necessário que

mil cooperados, 222 funcionários e uma carteira de em-

as empresas procurem expandir seus serviços e en-

préstimos na casa de R$ 180 milhões (dados fornecidos

globem o maior número possível de clientes. Motivada

em pesquisa da Unicred Central-RJ de 31 de dezembro

por essa realidade, a Unicred Central-RJ (sistema co-

de 2009). No entanto, em âmbito nacional, a instituição

operativo financeiro ligado à Unimed) implementou uma

ocupa apenas a sexta colocação, entre as nove Centrais

série de ações para edificar a instituição e também

do país em números de cooperados ativos. Segundo o

acompanhar as novas tendências do sistema coopera-

presidente da Unicred Central-RJ, Ricardo Alves, esse

tivista mundial financeiro.

fato motivou uma série de inovações. A primeira delas é

A Unicred Central-RJ foi criada há 18 anos como uma

a busca por novos associados.

cooperativa de crédito dos médicos da Unimed do Rio de

“Recentemente passamos a atender os demais pro-

Janeiro. Sua finalidade é fornecer aos associados e afi-

fissionais da área de Saúde entre psicólogos, dentistas,

liadas uma carta de serviços financeiros entre emprés-

farmacêuticos, terapeutas ocupacionais e também seus

timos e financiamentos. Outra atribuição importante é

familiares mais próximos (pai, mãe, esposa e filhos).

proporcionar um perfeito gerenciamento das atividades

Nosso desejo é aumentar a carta de associados e assim

e o crescimento seguro do sistema em âmbito estadual.

gerar inúmeros negócios”, projeta Alves.

Para isso, a instituição realiza uma série de iniciativas das quais se destacam: o treinamento e a capacitação de di-

Novas ações

rigentes e funcionários, as auditorias indiretas e diretas

No início do ano, a Unicred Central-RJ montou um

nas filiadas e os assessoramentos jurídico, financeiro e

Planejamento Estratégico no qual elencou diversas

contábil. Hoje o grupo é composto por oito agências e 24

ações importantes. Uma delas foi centralizar toda a

Postos de Atendimento ao Cooperativo (PACs), abrangen-

parte financeira, de auditoria e de recursos humanos de

do praticamente todo o território do Estado (ver box).

suas oito singulares. Isso porque é preciso que as agên-

14


cias deixem de realizar os trâmites que competem à Central e estejam somente focadas em atender aos cooperados e fomentar novos negócios. Para agilizar esse processo e fortalecer a segurança de suas transações financeiras e circulação de informação, a instituição contratou duas empresas da área de informática, que modernizaram e unificaram a linguagem do sistema operacional. Outra medida importante foi a criação projetos de marketing mais intensos, para aumentar a divulgação da instituição, e o desenvolvimento de um setor de negócios composto por consultores especializados em identificar clientes de acordo com as particularidades das cidades nas quais a Unicred-RJ está presente.

O gerente Paulo Nassif e o presidente Ricardo Alves

“Essas ações nos permitirão realizar um serviço mais preciso, imediato e direcionado tanto

“O mercado financeiro passa por mudanças constan-

para nossos associados como aos cooperados que que-

tes e nossos associados e funcionários precisam estar

remos alcançar. Creio que estamos no caminho correto

inteirados e partilhar dessas novidades. Os convênios

rumo à nossa edificação como instituição financeira”, fri-

com parceiros reconhecidos nos fortalecem e nos aju-

sa Ricardo Alves.

dam em nessa nova fase”, comemora Ricardo.

Parceiros importantes Com o objetivo de fortalecer ainda mais os seus negócios, a Unicred Central-RJ estabeleceu parcerias com instituições de renome nos âmbitos cooperativista e financeiro.

Estrutura do Sistema Unicred RJ O Sistema Unicred RJ possui oito agências e 24 Postos de Atendimento Cooperativo (PACs), abran-

Através do Sistema OCB/RJ-Sescoop/RJ, a coopera-

gendo praticamente todo o território do Estado do

tiva incentiva a educação continuada de seus coopera-

Rio de Janeiro. Sua finalidade é fornecer aos asso-

dos. Por meio do Programa de Educação Cooperativista

ciados e filiadas uma carta de serviços financeiros e

os associados participam de cursos e seminários sobre

também representar político-institucionalmente suas

gestão de negócios e capacitação de pessoas.

afiliadas, proporcionando sustentabilidade operacio-

Com a rede internacional de cartões de crédito Visa,

nal, segurança e desenvolvimento.

a Unicred Central-RJ disponibiliza aos seus afiliados a

Agências e PACs: Cabo Frio, Campos (São Fidélis),

bandeira Visa Electron. Até o final do ano a instituição

Costa do Sol (Rio das Ostras e Araruama), Niterói

deverá anunciar um convênio com o Bradesco para ofe-

(São Gonçalo, Icaraí e Rio Bonito), Nova Friburgo (Ita-

recer aos associados um cartão de crédito com um pa-

peruna e Santo Antônio de Pádua), Petrópolis (Tere-

cote recheado de benefícios e que também permitirá a

sópolis e Três Rios), Regional Sul Fluminense (Caxias,

realização de operações em agências e caixas eletrôni-

Barra do Piraí, Itaguaí, Barra Mansa, Resende e Volta

cos de toda a rede.

Redonda) e Rio de Janeiro (Bangu, Madureira, Ouvidor,

Para o presidente da Unicred Central-RJ, essas parecerias são importantes para os novos rumos que a

Barra da Tijuca, Ilha do Governador, Tijuca, Copacabana e Méier).

instituição deseja trilhar. 15


Uma aula de inclusão digital e social Cooprotic profissionaliza jovens do Sul Fluminense para novas demandas do mercado A sede da Cooprotic em Barra Mansa

de informática

O

combate à pobreza e a exclusão social está hoje en-

gularmente, como médicos e advogados. A cooperativa

tre as prioridades dos mais diversos segmentos da

também desenvolve websites, sistemas de bancos de

sociedade brasileira. À medida que cresce essa convic-

dados e redes de segurança, além de oferecer suporte

ção, torna-se imprescindível partilhar responsabilidades

técnico para empresas e escritórios de advocacia e de

e estimular a construção de uma rede de solidariedade

contabilidade da região. Em sua sede, a instituição forne-

onde todos os setores contribuam. Impulsionada por

ce ainda serviços de conexão à Internet, bureau gráfico e

esse pensamento, surge a Cooprotic, uma cooperativa

faz manutenção de microcomputadores e impressoras.

de trabalho com o objetivo de capacitar e desenvolver a

Segundo Raoni, uma diversidade de soluções que visam

cidadania de jovens de baixa renda através da inclusão

a atender a uma demanda cada vez maior na prestigiada

digital e da formação profissionalizante.

área de Tecnologia da Informação (TI).

A Cooprotic iniciou suas atividades em junho de 2010

“Pesquisas recentes indicam que nos próximos dois

e é a materialização do Projeto Geração de Renda, de-

anos serão criados cerca de 296 mil novos postos de

senvolvido pelo Comitê para a Democratização da Infor-

trabalho na área de TI no Brasil. O grande problema é a

mática (CDI) nos municípios de Barra Mansa e Resende.

falta de qualificação profissional. O objetivo da Cooprotic

A cooperativa conta com 23 associados entre técnicos

é preparar nossos cooperados e alunos para assumirem

de manutenção, programadores, analistas e professo-

esses postos em breve”, projeta o presidente.

res. Essa equipe recebe treinamento contínuo através de cursos promovidos pelo CDI e também pela OTI Sof-

Consolidação

tware (RS), sem ônus para os cooperados. Tudo para

Contudo, para atingir essa meta, é preciso solidificar

que, como afirma o presidente da Cooprotic, Raoni Mar-

a presença da cooperativa na região. Dessa forma, a Coo-

cel de Souza Lopes, o grupo esteja apto para transfor-

protic pretende articular reuniões com associações e sin-

mar a vida dos jovens envolvidos no projeto.

dicatos das áreas comerciais e industriais locais, inserir

“Nossa missão é capacitar os jovens para que eles

matérias sobre seus serviços em jornais de grande cir-

rompam barreiras e alcancem seus objetivos. Queremos

culação municipal e participar de eventos de grande porte

que sejam capazes de se apresentar não só como alter-

da região, como a 12ª Feira Internacional de Negócios do

nativas de alto nível para soluções no mercado de infor-

Sul Fluminense (Flumisul), que ocorre na última semana de

mática, mas também como agentes transformadores da

julho, em Barra Mansa.

sociedade”, ressalta Raoni, que também atua na área de computação como projetista e gestor de redes.

“Até o final do ano, queremos ter 100 cooperados e 30% de associados participando dos planos de negócio.

Para isso, a Cooprotic realiza cursos personalizados

Desejamos também ser um grupo cada vez mais versátil

a cada tipo de público que atende, desde jovens a pro-

e capaz de antecipar as mudanças de mercado, para que

fissionais que não têm tempo de estudar informática re-

possamos suprir as necessidades de cada cliente”, frisa.

16


17


Entrevista

O leite nosso de cada dia

A

pós alterações na tributação do leite no Rio de Janeiro em 2009, o ganho foi grande

para todos os atores do setor. Por ser um importante mercado consumidor, o Estado destaca-se por ter logística barata e um raio de distribuição localizado próximo à produção. Em entrevista exclusiva à Rio Cooperativo, o presidente da Federação de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro (Faerj) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural no Estado do Rio de Janeiro (Senar-Rio) e atual presidente do Conselho de Administração do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RJ), Rodolfo Tavares, mostra detalhes da atual situação e revela que os rebanhos estão com a genética mais apurada, melhorando a produção. Apesar das dificuldades pontuais, a meta fixada de produção de 10 mil litros de leite por hectare/ano ainda não foi atingida. Mas excelentes exemplos servem para dar o impulso necessário para se chegar lá. Acompanhe a entrevista e descubra como a experiência desse profissional consegue multiplicar os resultados do agronegócio fluminense.

18


Rio Cooperativo - Como o senhor avalia a situação atual do agrone-

“Sonhamos

gócio fluminense?

com arranjos

Estamos avançando em duas frentes: antes da porteira, que é a produ-

produtivos que

ção dentro das propriedades rurais, e depois da porteira, que é a agregação

permitam

de valor a esses produtos.

que grupo de

Em fevereiro de 2008 realizamos um seminário em Vassouras para ela-

cooperativas

borar o planejamento estratégico do agronegócio fluminense. Tivemos par-

possa aproveitar

ticipação da Faerj, do Senar, Sebrae,

toda a produção

Governo do Estado, por meio da Secretaria de Agricultura, e orientações

e, assim, investir

da Fundação Getúlio Vargas. Traçamos

na criação de

metas dos principais setores do agronegócio e os cenários desejáveis.

uma marca.”

No encontro foi definido que, na pecuária de corte, todos os rebanhos comerciais serão servidos por reprodutores selecionados, de genética comprovada tanto em monta

lizar instrumentos de proteção atra-

natural quanto em inseminação arti-

vés da Bolsa de Mercados Futuros.

ficial. Além disso, todas as propriedades serão certificadas, estaremos

70 mil litros de leite por hectare/ano. RC - A mudança tributária em 2009 fa-

RC - E quanto à pecuária leiteira?

voreceu a rentabilidade e as condições

incluídos na zona livre de aftosa sem

Nossa proposta é de um cenário

vacinação e 100% do rebanho vai es-

ideal, com a totalidade dos produto-

tar mineralizado (isento de doenças

res usufruindo de tecnologia e pro-

Em razão do programa de incenti-

contagiosas e parasitárias).

duzindo leite de qualidade superior.

vo à pecuária de leite do Estado, foi

Também foi previsto que toda a

Lançamos recentemente o Diagnós-

determinada a alteração da legisla-

venda de boi seja feita por pesagem

tico da Cadeia Produtiva do Leite no

ção tributária, que não inserta mais

no gancho e o pagamento garantido

Estado, com um excelente levanta-

acúmulos de créditos de ICMS. A

via rede bancária e que o produtor

mento de 2002 a 2008 (leia reporta-

partir de março deste ano, as coope-

passe a vender carne, e não o boi. Na

gem completa nesta edição).

rativas passaram a monetizar esses

de competitividade das cooperativas do Rio de Janeiro. O que melhorou?

pecuária de corte avançamos, mas

Quanto à rentabilidade do leite,

créditos (contabilizados até março

há vários itens a serem trabalhados

tivemos dificuldades pontuais. Coo-

de 2009), transformando-os em ati-

com o tempo.

perativas especializadas, como Leite

vo financeiro para investimentos em

Também avançamos na especia-

Barra Mansa e Macuco, consegui-

seus parques industriais.

lização em rebanhos com genética

ram pagar preços compatíveis com

mais apurada, para que o Rio de Ja-

as melhores praças do Brasil.

A mudança foi a retirada do leite UHT da posição tributária da cesta

neiro possa se tornar em um grande

Em relação à produtividade, ainda

básica, com alíquota de 7% de ICMS.

fornecedor de bezerros comerciais,

não estamos na meta fixada, que se-

Isso trazia prejuízo competitivo para

melhorar o valor da arroba de boi,

ria de 10 mil litros de leite por hecta-

o leite produzido no Rio porque, pela

equiparando-se aos grandes centros

re/ano, embora existam propriedades

Legislação Federal, as alterações

produtores (como São Paulo) e a uti-

que servem de exemplo, produzindo

interestaduais trazem um crédito 19


não admitem pequenas produções. São necessários arranjos que per-

“No momento

mitam que a Região Noroeste, com

em que

produção estimada de 400 mil litros/ dia, tenha um grupo de cooperativas

a sociedade

que possa aproveitar toda a produ-

se organiza

ção e, assim, investir na criação de

e busca

uma marca forte.

maneiras

RC - O que falta para isso acontecer?

inteligentes

É preciso considerar que a tecnologia tem duas forças distintas: uma

de produção,

de inclusão e outra de exclusão. Com

todos se

o leite é a mesma coisa. A população das cidades aumenta a cada dia e,

beneficiam.”

se as empresas não se reestruturarem com novas maneiras para su-

presumido de 12% de ICMS. O leite

produção. São 500 milhões de litros

prir esta demanda de consumo cada

processado de outros estados car-

produzidos para atender a um mer-

vez maior de alimentos processados,

reava um crédito presumido de ICMS

cado hoje estimado em 2,5 bilhões

não acontecerá evolução.

para os supermercados de 12% e,

de litros/ano. Ou seja, apenas 20%

O Brasil não é exceção da ten-

quando as cooperativas vendiam, só

do que é consumido de produtos

dência mundial de concentração po-

repassavam crédito de 7%. Existia

lácteos no Estado é produzido aqui.

pulacional em grandes megalópoles.

um desnivelamento tributário de 5%

Estamos avançando, apesar de

O Rio de Janeiro é um exemplo, por-

e isso impunha a prática de um pre-

alguns percalços, como a rescisão

que mais de 80% dos 12 milhões de

ço inferior aos outros estados.

de um contrato para a exploração

fluminenses residem na capital e na

Com a mudança tributária, o lei-

da planta da CCPL, em São Gonça-

região metropolitana. Portanto, em

te UHT saiu da cesta básica e pas-

lo. Tenho certeza de que, em breve,

termos de logística, é maravilhoso,

sou a ter 19% de alíquota, embora

anunciaremos um novo parceiro para

pois a produção está a distâncias

as cooperativas não paguem esse

essa planta com o objetivo de absor-

que não excedem mais que 300km

imposto. Quando elas vendem leite,

ver a produção de leite da Baixada

desse grande centro consumidor.

repassam para o supermercado um

Litorânea Norte. Em contrapartida,

E, ainda, com os grandes cami-

crédito de ICMS de 19%, pasando,

um bom exemplo é a entrada em fun-

nhões de mais de 700 cavalos de po-

então, a ter uma alíquota 7% supe-

cionamento da nova planta da Bom

tência, não faz muito diferença trans-

rior ao leite que vem de fora. Antes

Gosto, em Barra Mansa, que aumen-

portar leite UHT produzido no Rio

tínhamos 5% contra nós, e agora

ta a oferta de empregos na região.

Grande do Sul para o Pará, por exem-

temos 7% a nosso favor, o que me-

Sonhamos com arranjos produti-

plo, pois o raio de distribuição é quase

lhorou extremamente a competiti-

vos entre as cooperativas que pos-

ilimitado. O Rio de Janeiro tem essa

vidade das cooperativas, especial-

sam dar melhores condições de mer-

vantagem. Grandes estados produ-

mente aquelas que têm um grau de

cado. Algumas delas poderiam optar

tores de leite não têm mercado con-

industrialização mais avançado.

pelo fornecimento de matéria-prima

sumidor. Temos a segunda ‘boca’ do

ou pela industrialização dos produ-

Brasil, depois de São Paulo, com uma

RC - Como está a produção leiteira

tos. Não podemos continuar com a

das maiores rendas médias do país.

no Estado hoje?

forma de organização que tínhamos,

A grande discussão no campo

Com investimentos e a nova le-

porque a tecnologia avançou e itens

ideológico é a incapacidade do peque-

gislação, o objetivo fixado é dobrar a

de grande consumo pela população

no produtor em agregar valor à sua

20


matéria-prima e, principalmente, a

êxito da iniciativa privada, do espíri-

grande quantidade de intermediá-

to público e da noção social do Gru-

rios entre a porteira da fazenda e a

po Pão de Açúcar, que fez doações

cozinha da dona-de-casa.

para a implantação da escola.

A única forma de encurtar esse

O Nata também vai fornecer

caminho é dominar a cadeia pro-

mão-de-obra especializada para as

dutiva, fixando os preços de cima

cooperativas. Se juntarmos a isso

para baixo. Através de um contro-

a qualificação da mão-de-obra rural

le de custos, podemos marcar os

na produção de alimentos, estare-

preços e, quando esses custos se

mos gerando no interior do Esta-

alterarem, seja por razões natu-

do condições de trabalho e opor-

rais de entressafra ou aumento de

tunidades que os jovens até aqui

custo de algum item da produção,

tinham dificuldades de obter. Com

os preços possam garantir uma

isso, teremos a redução do êxodo

renda mínima ao produtor rural.

rural, movimentando a economia do interior. No momento em que a so-

RC - O projeto Nata está demons-

ciedade se organiza e busca manei-

trando excelentes resultados na

ras inteligentes de produção, todos

preparação de adolescentes em

se beneficiam. Essa é a verdadeira

São Gonçalo. Como o senhor ava-

renovação do país.

lia essa iniciativa?

Para finalizar, vale fazer um pa-

O projeto Nata qualifica o jovem

ralelo com as palavras do presi-

para atuar no mercado da produção

dente Kennedy em sua posse: “É

de alimentos e na industrialização

preciso saber o que podemos fazer

dessa produção. Está formando

pelo Brasil e não ficarmos apenas

300 adolescentes que se especia-

perguntando o que o Brasil pode

lizaram tanto na administração de

fazer por nós”. É fundamental ter

cooperativa quanto na tecnologia

essa consciência de ir além das

de produção de laticínios, panifica-

obrigações de cidadão e brigar por

ção e embutidos. É uma parceria de

um todo, por um coletivo.

21


Os resultados do diagnóstico da cadeia produtiva do leite no Rio de Janeiro

P

roblemas e dificuldades são apresentadas. Soluções

impostas pelo conhecimento. “Mudanças significam van-

e direcionamentos são instruídos. Mas falta deter-

tagens de redução e racionalização dos custos de produ-

minação e união das cooperativas em prol de um setor

ção e aumento da produtividade de um lado, e de outro, a

mais justo a todos.

inevitável exclusão dos que resistem em aceitar e adotar

Em busca de uma melhor compreensão das transfor-

as novas técnicas e realidades”, frisa.

mações do mercado leiteiro no Estado do Rio de Janeiro,

Vale lembrar que, em entrevista à Rio Cooperativo

a Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado

nº 8, de agosto de 2008, Tavares já ressaltava que as

do Rio de Janeiro (Faerj) em parceria com o Serviço de

dificuldades começavam antes da porteira, na maneira

Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RJ), aca-

da cooperativa em adquirir insumos modernos de pro-

bam de lançar um novo diagnóstico da cadeia produtiva

dução. Na época, ele já dizia que era preciso investir na

do leite no Estado do Rio de Janeiro, com números fecha-

capacidade gerencial para reduzir o custo de produção.

dos de 2008.

Após esses anos, as dificuldades continuam, mas as

O desempenho da produção de leite no Estado do Rio de Janeiro, porém, deixou a desejar, com taxa média de crescimento de 1% ao ano (entre 2002 e 2008). Para o presidente de ambas instituições, Rodolfo Tavares, a diferença marcante é a velocidade das mudanças

perspectivas são favoráveis. Os resultados do Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite, que teve como coordenadores Carla Ribeiro Valle e Maurício Cézar Gomes de Salles, permitem chegar a importantes conclusões e recomendações.

Cenário brasileiro No cenário nacional da produção de leite, o maior destaque foi para a região Sul, que abrange os estados de Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. De 2002 a 2008, a produção nessas localidades passou de 5,5 para 8,3 bilhões de litros, o que indica um crescimento de 50,13% e taxa média de 7% ao ano. Outro ponto a destacar é o pequeno crescimento da produção de leite em Goiás no período de 2002 a 2008: apenas 15,7%, à taxa média de 2,4% ao ano, o que demonstra que este tem perdido posições em relação aos estados da Região Sul.

22


Panorama das cooperativas agropecuárias no Estado

Produção Os sistemas de produção predominantes são à base

No levantamento, foi verificado que os produtores têm

de pasto, com suplementação de cana-de-açúcar e capi-

pouca participação em cooperativas. Entretanto, avaliam

neiras (no inverno). A maioria dos pequenos produtores

a qualidade dos serviços oferecidos por essas entidades,

não utiliza ração concentrada durante todo o ano, mas

como boa. O número total de associados das nove cooperativas

apenas no período da seca. A produção de leite no Rio de Janeiro é conduzida, em

entrevistadas é de 9.831, com média de 1.092 por co-

sua maior parte, por mão de obra contratada. Contrários

operativa (número influenciado pela cooperativa de Itao-

ao senso comum, que indica problemas na qualidade, os

cara, com seus 3.736 associados). Desse total, apenas

produtores entrevistados avaliam como muito boa a qua-

57% são fornecedores de leite. Em geral, as cooperativas agropecuárias do Rio de Ja-

lidade da mão de obra. Caracterizada por pequenas quantidades médias (114

neiro apresentam um número elevado de anos de existên-

litros de leite por dia), o pequeno volume de produção

cia: média de 66 anos. Já o patrimônio líquido aumentou

compromete a lucratividade do setor. Dois terços dos

significativamente de 2005 para 2008: média de 34%.

produtores apresentam produtividade média de apenas 2,42 litros por total de vacas, resultado que reflete o baixo nível tecnológico da maioria dos entrevistados. Outra característica da atividade leiteira é o elevado investimento em benfeitorias, máquinas, animais e terras. O uso da ordenha mecânica, no entanto, é feito por apenas 15% dos entrevistados. Entre os pequenos produtores, ninguém utiliza essa tecnologia e, entre os grandes, o uso é mais frequente.

Renda Segundo o Diagnóstico, a garantia de renda mensal para o produtor é a principal razão para sua permanência na atividade. A maior parte que continuará na atividade pretende aumentar a produção e melhorar a tecnologia. Essa avaliação renova as esperanças para o futuro da atividade leiteira no Estado. No entanto, mais da metade dos entrevistados disse que seus filhos deixarão a atividade leiteira, resultado que reforça a tese de êxodo rural.

Maiores produtores Os quatro municípios fluminenses que mais produzi-

A maioria dos produtores não concorda com o pagamen-

ram leite, em 2008, foram: Valença, Itaperuna, Campos

to do leite no sistema “cota e excesso” nem com a bonifica-

dos Goytacazes e Barra Mansa, todos com produção

ção por volume de leite, e a quase totalidade concorda com

superior a 20 milhões de litros. Dentre essas cidades,

o critério de bonificação por qualidade. Esses resultados

a maior produção, em 2008, aconteceu em Itaperuna:

estão diretamente associados aos estratos de produção

30,9 milhões de litros.

de leite nos quais predominam pequenos produtores.

Números gerais Cooperativa Agropecuária de Sumidouro Ltda Regional Agropecuária de Macuco Ltda

Associados

Fornecedores

Funcionários

Litros / dia 2008

200

100

11

13.768

1.397

807

155

81.082

Agropecuária de Itaperuna de Ltda

806

806

143

45.987

Laticínios de Conceição de Macabu Ltda

286

286

42

22.307

Agrária Vale do Itabapoana Ltda

854

854

110

42.721

1.710

120

33

19.362

695

695

139

44.310

3.736

1.837

132

74.171

147

107

20

7.992

9.831

5.612

785

351.700

Mista de Valença de Responsabilidade Ltda Agropecuária de Barra Mansa Ltda Agropecuária de Itaocara Ltda Agropecuária de Carmo Ltda Total

Fonte: Cooperativas dos produtores de leite do Estado do Rio de Janeiro

23


Preços praticados

Recepção do leite

O preço médio pago aos produtores de leite aumen-

Nas nove cooperativas de produtores de leite do Rio

tou em 2007, quando comparado com o de 2006, e di-

de Janeiro entrevistadas, a recepção média é de 39.449

minuiu em 2008, quando comparado com o de 2007. Em

litros/dia, o que indica que são indústrias de pequeno

valores corrigidos, o preço, em 2008, foi 4,73% menor

porte, com reflexo na tecnologia de processamento in-

do que o de 2007.

dustrial e nos custos industriais.

Quando o preço do leite aumentava, de 2006 para

Em relação ao volume de leite fornecido às coope-

2007, a quantidade total de leite recebida pelas coope-

rativas, 65% são transportados na forma granelizada

rativas diminuía. No entanto, quando o preço diminuía, a

e 35% em latões. Sobre esta questão, vale registrar

quantidade de leite aumentava. Para entender tal com-

que nem todas as cooperativas pesquisadas possuem

portamento, é preciso analisar os laticínios particulares

100% do leite granelizado, o que reflete na qualidade

que tiveram comportamentos diferentes dos observa-

do produto. Em todas as entrevistadas, o volume cap-

dos nas cooperativas.

tado corresponde a 40% da capacidade de beneficiamento, o que demonstra significativa ociosidade nas

Capacitação

indústrias lácteas.

Poucos responderam que possuem empregados que

Das nove cooperativas, seis não compram leite de

participam de algum programa de treinamento. Esse re-

outros estados. Quanto à existência de algum adicional

sultado reforça a ideia de que a mão de obra contratada

no preço pago pela qualidade do produto, seis cooperati-

é de baixa qualidade, o que contraria a avaliação.

vas responderam que realizam essa prática.

Em 2008, apenas uma cooperativa respondeu que não fez treinamento dos funcionários. Esse resultado

Distribuição

pode ser considerado como positivo na busca de maior

Quanto à distribuição da produção, 47,09% são na

eficiência no processamento industrial. As áreas de trei-

forma de leite in natura, 18,33% como leite pasteuriza-

namento mais citadas foram a segurança no trabalho e

do tipo C e 18,73% como leite esterilizado (longa vida).

a manutenção de equipamentos. Questões relacionadas

Ou seja, 84% do leite produzido no Rio de Janeiro são

com a qualidade foram pouco mencionadas, e, segundo o

vendidos na forma fluida, com pouco ou nenhum valor

levantamento, representam falhas no conteúdo.

adicionado à produção.

Quanto aos fatores limitantes, a resposta mais fre-

Já em relação ao destino desta produção, a maior

quente foi o custo do treinamento. Na realidade, as re-

parte do mercado lácteo acontece dentro do estado (su-

soluções são pouco convincentes pois o treinamento de-

permercados, padarias e mercearias). Esse resultado

veria ser entendido como um investimento.

inclui todas as cooperativas entrevistadas.

Áreas de treinamento aos funcionários das cooperativas, em 2008 Cooperativa

Fatores Limitantes

Agropecuária de Sumidouro Ltda

Não sabe / Não respondeu

Gestão de qualidade, custos

Regional Agropecuária de Macuco Ltda

Indisponibilidade de horário

Produção, gestão de qualidade, vendas

Agropecuária de Itaperuna de Ltda

Custo do treinamento

Vendas, custos, gestão financeira

Não sabe / Não respondeu

Gestão de qualidade, custos, gerenciamento de fornecedores, recursos humanos

Não existem

Produção, gestão de qualidade, vendas, gerenciamento de fornecedores, planejamento

Mista de Valença de Responsabilidade Ltda

Indisponibilidade de horário

Produção, gestão de qualidade, vendas, custos, informática, recursos humanos

Agropecuária de Barra Mansa Ltda

Indisponibilidade de horário

Produção, gestão de qualidade, custos, gerenciamento de fornecedores, recursos humanos

Não existem

Produção, gestão de qualidade, atendimento a clientes

Custo do treinamento

Gestão de qualidade, vendas, custos, gestão financeira

Laticínios de Conceição de Macabu Ltda Agrária Vale do Itabapoana Ltda

Agropecuária de Itaocara Ltda Agropecuária de Carmo Ltda

Fonte: Cooperativas dos produtores de leite do Estado do Rio de Janeiro

24

Áreas de Interesse


Gerenciamento

Solução

Quanto aos aspectos gerenciais, das nove coopera-

O contrato de fornecimento de leite entre produto-

tivas entrevistadas oito responderam que fazem o con-

res e indústria está longe de acontecer no Rio de Janei-

trole de estoque de produtos acabados, seis fazem es-

ro porque a maioria dos produtores entrevistados des-

toques de embalagens, sete de insumos e apenas duas

conhece ou desconfia de tal procedimento.

fazem o controle dos custos de produção.

Questões como a concorrência desleal no mercado

A pouca frequência de controle dos custos de produ-

(prática de dumping), os preços impostos pelas redes

ção indica graves deficiências nos aspectos gerenciais,

supermercadistas em geral, o mercado informal e a ele-

visto que o custo de produção é um poderoso instru-

vada carga tributária podem ser combatidos pela união

mento no gerenciamento da cooperativa.

das cooperativas.

Em 2008, as imperfeições

Isso porque, individualmen-

do mercado lácteo represen-

te, as cooperativas possuem

taram os principais problemas

pouca chance de competição

enfrentados pelas cooperati-

em um mercado altamente

vas na comercialização. A falta

voraz. Seguindo os seus prin-

de crédito rural e a deficiência

cípios,

de informações técnicas são

produtoras de leite do Rio de

outros fatores citados na pes-

Janeiro podem dar a volta por

quisa como condicionamentos

cima e mostrar novos e bons

do sucesso da produção de lei-

resultados no próximo levan-

te no Rio de Janeiro.

tamento do setor.

essas

organizações

25


Causa&Efeito

Abdul Nasser é especialista em Direito Tributário e em Gestão de Cooperativas. Ronaldo Gaudio é especialista em Direito Processual Civil e MBA em Business Law. Ambos são sócios da Gaudio & Nasser Advogados Associados.

Nova Regulação das Cooperativas de Crédito Em 27 de maio, o Banco Central renovou e consoli-

Com a nova regulação, as cooperativas de livre ad-

dou a regulação das cooperativas de crédito, através da

missão renovam o fôlego, livrando-se de pesadas restri-

Resolução n° 3.859. Editada após o início da vigência da

ções à área de adesão, podendo hoje abranger áreas e

Lei Complementar n° 130/2009, que estatui o Sistema

contingentes muito maiores, contanto sejam sócias de

Nacional de Crédito Cooperativo, o norma reguladora re-

uma cooperativa central integrante de sistema coope-

presenta claro avanço para a maior liberdade e flexibili-

rativo e que contraiam os serviços de auditoria externa.

dade de atuação das cooperativas de crédito, apesar de

Foram valorizadas as políticas de governança corporati-

ainda serem várias as demandas ainda não contempla-

va (ou melhor, cooperativa), focada na participação, na

das pelo ramo.

representatividade, na gestão estratégica, nos meca-

Basicamente, o normativo cuida das seguintes maté-

nismos de controle e fiscalização, na instrumentalização

rias: a) constituição, da autorização para funcionamento

de princípios de segregação de funções na administra-

e da alteração estatutária; b) condições de admissão de

ção, transparência, em valores de equidade, ética, res-

associados; c) condições especiais às cooperativas de

ponsabilidade corporativa e, em especial, da educação

livre admissão de associados, de pequenos empresários,

cooperativista.

microempresários e microempreendedores e de empre-

As inovações e melhorias são várias, ao mesmo passo

sários; d) aplicação de princípios de governança corpora-

em que são incrementados os mecanismos de profissio-

tiva; e) atribuições especiais das cooperativas centrais

nalização, organização e segurança para o funcionamen-

de crédito e das confederações de centrais; f) auditoria

to. A atual resolução revogada a Resolução nº 3.442,

externa; g) do capital e do patrimônio; h) operações e

de 28 de fevereiro de 2007, e o art. 5º da Resolução

dos limites de exposição por cliente (grupo econômico); i)

nº 3.454, de 30 de maio de 2007, merecendo cautela

cancelamento da autorização para funcionamento, entre

a leitura dos normativos para que possa ter segurança

outras disposições.

quanto às regras que estão valendo.

26


Cooperativas de Trabalho, Licitações e o Decreto nº 5.938/2010 O Estado de São Paulo publicou em 21/06/2010 um Decreto ilegal (e inconstitucional). Ao argumento de que serviços supostamente subordinados não poderiam ser objeto de terceirização por cooperativas, acolhe entendimento equivocado do Tribunal de Contas e atende a interesses das sociedades empresárias. As atividades listadas no decreto não ensejam necessariamente subordinação, em especial subordinação direta, esta que efetivamente enseja vínculo de emprego. O trabalho em cooperativas é exercido de forma coordenada (ou parassubordinada). O pressuposto de que tais serviços somente poderiam ser prestados de forma subordinada exclui as cooperativas da inserção nos processos de terceirização com o Estado, criando efetiva reserva de mercado para

O Decreto nº 55.938/2010 deve ser suprimido do

as sociedade com fins lucrativos. Flagra-se a violação

ordenamento jurídico seja através de mobilização e

aos dispositivos de ao menos três leis federais distin-

persuasão política, seja através de instrumentos le-

tas, além de dispositivos da Constituição Federal.

gais processuais.

Cooperativas Educacionais e a Receita Federal Desde 2005, com a IN/SRP 03, cooperativas educa-

O resultado prático é que exige-se hoje dessas so-

cionais constituídas por professores e que possuem o

ciedades o mesmo encargo que estas teriam quando

estabelecimento de ensino tem sido ilegalmente sobre-

da contratação autônomos para prestarem serviços a

carregadas com o custeio da Previdência Social. A atual

ela. Nada poderia ser mais equivocado e desestimulante

IN/RFB n° 971/2009 renovou para essas cooperativas

para a constituição e funcionamento de cooperativas,

previsão de recolhimento previdenciário pela cooperativa,

considerando que estas são constituídas para presta-

na condição de contribuinte, de 20% sobre as remune-

rem serviços a seus sócios, e não o contrário.

rações por ela pagas. De outro lado, obriga a cooperativa

A Receita Federal foi muito feliz em apresentar con-

a reter 11% sobre a produção cooperativista dos sócios,

ceitos distintivos entre cooperativas de trabalho e de

recolhendo aos cofres públicos. A IN desborda dos limites

produção. Entretanto, foi extremamente inadequado o

previstos pela Lei Federal n° 8.212/91, viola os limites

tratamento tributário dados a elas quanto ao custeio

do poder normativo, invadindo a competência da Função

da Previdência Social. A norma merece ser questiona-

Legislativa, e viola o Código Tributário Nacional.

da judicialmente. Contudo, as cooperativas precisarão

A Receita Federal busca amoldar a seu gosto a reali-

buscar segurança para tanto, optando pelos meios judi-

dade dos atos praticados entre os sócios e a sociedade

ciais mais seguros e, sobretudo, reavaliando e adequan-

cooperativa, em flagrante contramão da definição de coo-

do seus estatutos sociais, instrumentos contratuais e

perativas e de ato cooperativo previstos na Lei 5.764/71.

demonstrações contábeis.

27


A número 1

Primeira cooperativa de educação do país é referência no ramo

M

anter um ensino de qualidade, com custo reduzido

Futuro promissor

e que garanta os princípios necessários para for-

A Coopere iniciou suas atividades há 30 anos, quando um

mar uma sociedade sadia e justa. Esse é o principal de-

grupo de professores resolveu mudar os rumos da educa-

safio da Cooperativa Educacional de Resende - Escola Um

ção em Resende por estarem insatisfeitos com uma série

(Coopere), localizada na região Sul Fluminense do Rio de

de problemas da área. Entre eles, a baixa qualidade de en-

Janeiro. A instituição surgiu há 30 anos como a primeira

sino, a má formação de profissionais de magistério, as bai-

do ramo de cooperativas de educação do país.

xas remunerações e os elevados custos das mensalidades

Atualmente, a cooperativa conta com 51 associados

escolares. Para lutar contra as adversidades e transformar

que atuam na área da educação infantil e do ensino fun-

a realidade existente, constituíram uma sociedade coopera-

damental e trabalham para propagar os ideais cooperati-

tivista, ao compreenderem que essa era a forma mais de-

vistas às gerações futuras. Para isso, a instituição reali-

mocrática de gerenciar o ensino e renovar o segmento.

za uma série de ações, que vão desde gincanas de doação

Hoje, a escola trabalha para sustentar o seu nome e

de alimentos e de reciclagem de materiais aos encontros

continuar a oferecer um ensino distinguido das demais,

familiares e projetos de educação ambiental, entre ou-

por meio da elaboração de novas estratégias e resolu-

tras atividades. Em espaço físico próprio, a escola dispo-

ções. Além disso, o grupo luta para vencer os desafios da

nibiliza o melhor em termos de tecnologia e estrutura de

gestão cooperativa dentro do cenário atual e permanecer

ensino, com o objetivo de capacitar de forma diferenciada

firme na divulgação dos princípios cooperativistas. Segun-

seus professores e alunos. Investimentos que, segundo a

do Ana Paula, esses são os norteadores que alimentam a

diretora Ana Paula Rodrigues, são recompensadores.

vontade de crescer cada vez maior dos cooperados.

“A Coopere representa para a sociedade de Resende

“Nosso produto é a oferta de uma educação de qua-

uma escola de tradição, disciplina e de ensino diferencia-

lidade. Para tanto, é preciso cumprir nossas atribuições

do, onde o aluno tem a liberdade de expressar sua opinião

com afinco e criar métodos de gestão que devem estar

e pontos de vista. Temos orgulho em torná-los agentes

em consonância com este objetivo. Assim, conseguire-

ativos e conscientes na construção de seu destino e da

mos buscar reformulações e fortalecer ainda mais a Co-

sociedade”, afirma Ana Paula.

opere como instituição”, ressalta a dirigente.

28


Imóveis via cooperativa Única cooperativa de corretores no Estado participa de lançamentos exclusivos

P

arafraseando o presidente Lula, pela primeira vez na história desse país uma cooperativa de corretores de imó-

veis participa, com exclusividade, do lançamento de mais de 1.000 unidades habitacionais no Estado do Rio de Janeiro. Única neste segmento no Estado (no país, existe apenas mais uma, em Curitiba-PA), a Cooperativa de Corretores de Imóveis do Estado do Rio de Janeiro (CCIERJ) teve recente eleição e conquistas ao longo dos anos. Fundada em 30 de março de 2002, a cooperativa passou por diversas transições em oito anos e, hoje, possui 160 sócios. Mas Curitiba saiu na frente. A CCIERJ só não foi a primeira do setor a iniciar as atividades por apenas 90 dias de diferença. O antigo presidente, Jabes de Abreu Fosssati, lembra que a instituição fez um levantamento fiscal, administrativo e jurídico. “Equilibramos os processos administrativos e temos como meta, para o próximo biênio, o crescimento sócio-econômico, financeiro e social.

Fossati e Teixeira: lançamentos exclusivos

Temos a expectativa de associar os demais companheiros que trabalham nesse ramo como autônomos e chegarmos a 500 sócios ao final do ano”, revela Fossati. O atual presidente, Manoel Teixeira, eleito em março

tar inteiramente realizado. São unidades de dois e três quartos para um público-alvo com renda de até R$ 4.600,00.

deste ano, explica que o leque da corretagem imobiliária é

A cooperativa pretende, a partir de 2011, integrar-se

grande. “São várias as necessidades a serem cumpridas

às grandes empresas construtoras do Rio de Janeiro.

para que se realize uma negociação. A cooperativa dá as-

“Estamos propondo expandir os pólos de atuação. Já te-

sessoria técnica, jurídica e administrativa”, afirma, com-

mos alguns instalados no centro do Rio. Em breve, vamos

plementando que o comissionamento nas negociações é

abrir outros no Largo do Machado, em Mangaratiba, Vol-

maior porque os associados são os donos da cooperativa.

ta Redonda, Nova Iguaçu e Méier”, conta o presidente.

Um dos pontos altos da presidência de Jabes Fossati foi o convênio com a Caixa Econômica Federal, em

Bom momento

fevereiro de 2009, onde é possível negociar todos os

As perspectivas são excelentes pois o mercado está

produtos da Caixa. “Este convênio foi o marco da nossa

aquecido devido ao programa do Governo Federal ‘Mi-

existência”, ressalta o antigo presidente.

nha Casa, Minha Vida’, além disso, acontecerão grandes eventos internacionais, como Copa do Mundo em 2014

Exclusividade

e Olimpíadas em 2016.

Desde abril, a CCIERJ participa de lançamentos na plan-

“Com os diversos planos de financiamentos é possível

ta, negociados direto com os construtores, no Recreio dos

trocar o valor do aluguel pelo valor de uma prestação,

Bandeirantes, Barra da Tijuca e Catete, no Rio de Janeiro,

pois a casa própria é o sonho verdadeiro de todas as

e lotes em Rio das Ostras. Na primeira fase são cerca de

pessoas. Se você tem um imóvel, sua cadeira sucessó-

280 unidades residenciais no Recreio, 130 na Barra e 20 no

ria está segura, pois terá a sua residência assegurada.

Catete, além de 600 terrenos em Rio das Ostras.

Esta é a parte mais importante, porque é onde acontece

Segundo Teixeira, em 24 meses o lançamento deverá es-

o desenvolvimento sócio-familiar”, pondera Fossati. 29


Aerocoop preparada para receber o turista

A

pós um pedido da Infraero para que os taxistas

bém atende a particulares no aeroporto. Alguns contratos

se organizassem em cooperativa para atuarem no

são negociados com as companhias aéreas, no atendimen-

Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão),

to tanto dos funcionários como dos passageiros que por

nascia assim, em 10 de março de 1987, a Cooperativa

ventura precisem ser transladados para hotéis ou para o

de Taxistas do Aeroporto (Aerocoop).

Aeroporto Santos Dumont, em caso de mudança de vôo.

A Aerocoop é especializada na prestação de serviços

À frente da cooperativa, Nilton Cruz desenvolve traba-

no Galeão e pelo menos 20% de seus cooperados são

lho de evolução, equipando com o que há de mais moderno

bilíngues, o que é importante para o atendimento aos

em infraestrutura. “Tivemos um aumento significativo no

turistas que passam pelo aeroporto.

número de cooperados. O número de corridas chega a

O presidente da cooperativa, Nilton Cruz, lembra que

mais de 300 por dia”, lembra.

a cooperativa iniciou com 40 associados. “Hoje somos

A Aerocoop possui 42 funcionários, sendo 20 operado-

187 cooperados. Na época, foi alugado um imóvel em

res de rádio e de call center. Já as tarifas praticadas pela

Ramos para a administração e a central de atendimen-

cooperativa são mais baixas do que as demais empresas.

to. Com os recursos que juntamos, compramos uma sede em julho de 1996”, recorda o presidente.

Negociação

Uma das facilidades é que os cooperados não possuem

Está em fase de negociação com a Infraero a colocação

um horário fixo de trabalho. “A vantagem é que, se o taxista

de um balcão para venda antecipada de bilhetes. Segundo

estiver cansado, pode ir para casa descansar. Não existe a

Nilton Cruz, a cooperativa possui autorização da Secretaria

obrigatoriedade de um plantão de trabalho”, diz Nilton.

Municipal de Transportes (SMTR), resolução nº 1.728/2007

A frota da cooperativa é nova, sendo composta por

para operar com tarifas pré-fixadas. “Mas a resolução afir-

carros grandes e utilitários, como Zafira e Dobló. “Os

ma que é preciso ter um balcão de atendimento. Se chegar-

veículos têm menos de três anos de uso e todos comple-

mos ao interior do aeroporto, brigaremos no mesmo nível

tos, com radiofonia e ar condicionado”, conta Nilton.

dos táxis especiais. E com a grande vantagem de uma tabe-

A cooperativa possui contratos com empresas e tam30

la mais em conta para os passageiros”, ressalta.


Conquista Pelo menos o segmento já pode comemorar uma vitória conquistada em novembro de 2009, com forte atuação de Nilton Cruz, que também é conselheiro fiscal da Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado do Rio de Janeiro (OCB/RJ). A redução da alíquota do ISS para as cooperativas de táxi de 5% para 2% foi uma promessa do prefeito Eduardo Paes durante um evento realizado no Galeão. “Apoiamos o prefeito, embora entendemos que o tributo não deveria taxar a cooperativa. Isso porque, a partir do momento que o taxista se junta a uma cooperativa, ele passa a ser taxado, mas não há incidência do tributo para o motorista de táxi”, pondera Nilton.

O presidente da Aerocoop, Nilton Cruz

Segundo ele, tudo o que a cooperativa ganha, repassa integralmente aos cooperados. “Somos uma instituição

Apesar desse obstáculo, a redução do ISS foi uma

que tem o lucro apenas para a manutenção das despe-

economia significativa para a cooperativa. Também vale

sas. Tudo o que recebemos passamos aos cooperados. E

lembrar o incentivo do senador Francisco Dornelles, que

ainda estamos em busca da extinção da cobrança.”

luta em favor da classe. “Ele proporcionou a isenção do

Segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, uma Lei Federal impede a isenção do tributo.

IPI para compra de carros novos para os taxistas”, finaliza o presidente.

31


Opinião

Márcio Sanches é médico reumatologista, formado pela UFRJ e pós-graduado em Marketing Estratégico pela ESPM. É coordenador do setor de Atenção Domiciliar da Unimed Nova Iguaçu, cooperado da Unicred Nova Iguaçu e diretor da Clinimkt, empresa de marketing especializada na área da saúde.

Bom atendimento importa mais que preço?

P

esquisa realizada em fins de 2009 pelo Grupo Pa-

liza o negócio, seja ele um simples consultório, uma clíni-

drão em parceria com a Shopper Experience inti-

ca ou um hospital. Atentar para o treinamento adequado

tulada “As empresas que mais respeitam os consumi-

da equipe de recepcionistas, para a adequação às exi-

dores”, revelou que 61% dos entrevistados (de ambos

gências específicas de determinados pacientes (crian-

os sexos, acima de 18 anos e das classes A, B, C e D)

ças, idosos, portadores de necessidades especiais, por

elegeram o atendimento como atributo mais importante

exemplo), para o conforto das instalações, não necessa-

na hora da compra, mesmo quando comparado à qualida-

riamente entendendo-se por isso instalações luxuosas,

de do produto ou preço.

contribui para o processo de construção de valor atribu-

O estudo relata ainda que 34% dos consumidores se-

ído ao serviço prestado ao cliente.

lecionaram educação, cortesia e boa apresentação como

Um atendimento cordial, atencioso, com a preocu-

essenciais. Em segundo lugar, com 26%, ficou a qualida-

pação de ser resolutivo, bem como a manutenção de

de dos produtos, com forte impacto da durabilidade da

um relacionamento pós-consulta, torna a percepção do

garantia. Em terceiro, a imagem da empresa no merca-

atendimento pelo paciente como algo completo, respon-

do representa 24% da preferência dos entrevistados,

sável, comprometido com o resultado final e com a sua

sendo que 5% dos clientes observam o respeito com o

melhora efetiva.

RH, 4% levam em conta projetos de responsabilidade

Tocamos aí em uma palavra que traduz de maneira

social e 3% preocupam-se em verificar se a companhia

precisa o sentido real de bem atender – comprometi-

atua de maneira ambientalmente sustentável.

mento. Ser comprometido é, de fato, envolver-se na re-

A pesquisa nos traz à reflexão uma discussão ampla-

solução do problema do cliente. E deve-se entender por

mente difundida em marketing, a diferença entre valor e

resolução de problema desde oferecer atenção à sua so-

preço. Enquanto por preço entende-se o quanto se paga

licitação até certificar-se de que seu objetivo tenha sido

por um produto ou serviço, valor compreende algo bem

alcançado satisfatoriamente.

mais abrangente, que leva em conta a percepção do clien-

O simples ato de marcação de consulta, por exemplo,

te de todos os aspectos que envolvem não só o ato da

pode deixar transparecer ao cliente a falta de compro-

venda, mas também o de pré e pós-venda. O processo de

metimento e de preocupação com o seu problema. Quan-

construção de valor pela empresa ou profissional é algo

tos de nós já não estivemos diante de uma situação de

que deve ser tratado com muita seriedade. Oferecer um

aguardar pela confirmação de um agendamento que nun-

bom atendimento é parte integrante nesse processo.

ca ocorreu? E como resultado, quantos de nós deixamos

Falando em saúde deve-se, em verdade, começar a pensar no atendimento ao cliente desde quando se idea32

de consumir o serviço em questão, pois acabamos indo para a concorrência?


As ações de relacionamento após a prestação de serviços são da mesma forma extremamente importantes. É sempre muito bom receber um telefone atencioso demonstrando preocupação com a eficácia do tratamento na resolução de nosso problema, colocandose à disposição no evento de intercorrências, mostrando-se ao lado do cliente no momento em que este carece de atenção. Com a percepção do atendimento como fator crucial para o processo de venda, incluindo servi-

ciais. Treinar seus atendentes, organizar seu cadastro

ços, até mesmo e principalmente os de saúde, podemos

de clientes, estabelecer rotinas para um bom e eficiente

opinar em uma discussão pra lá de controversa: é lícito à

atendimento pré e pós consulta constituem ferramentas

classe médica fazer marketing?

que ampliam a sensação de satisfação por parte de seus

Para início de discussão, cabe diferençarmos o que de

pacientes com o serviço prestado.

fato seja marketing. Dentre as muitas definições exis-

A esse tempo, fatores como preço de consulta passam

tentes, a que sou mais afeito é a de marketing é a en-

a ser “vistos” pelos clientes como menos importantes,

trega de satisfação para o cliente em forma de benefício

uma vez que a sensação de estarem sendo bem atendidos

(Kotler e Armstrong, 1999). É comum confundi-lo com

os fazem desejar manter o atendimento, mesmo que para

propaganda ou publicidade. No entanto, propaganda e

isso tenham que fazer um esforço adicional. Casos onde

publicidade estão contidas em marketing, não se consti-

o atendimento se dá de forma tão impactante exercem

tuindo a mesma coisa.

sobre o cliente o efeito mais desejável, que é a percepção

Marketing é algo bem mais complexo, que envolve con-

de superação das expectativas com o atendimento. Tudo,

ceitos bem definidos e que consiste na aplicação de fer-

por fim, objetiva alcançar o boca a boca, o meio mais eficaz

ramentas complementares que, por fim, objetivam criar

e mais econômico de propaganda que existe.

diferencial para um produto ou serviço aumentando a

Aproveitemos, portanto, a oportunidade em nossos

percepção de valor pelo cliente sobre ele e, dessa forma,

negócios, seja ou não em saúde, de olhar para esse im-

fazendo-o evidenciar-se frente à concorrência.

portante componente de marketing, o atendimento, ofe-

Entendido isso, compreende-se que o próprio proces-

recendo treinamento, capacitando nossos atendentes e

so de atendimento ao cliente é uma forma de se fazer

municiando-os com ferramentas eficientes de relaciona-

marketing. Com isso, obedecendo-se às normas de con-

mento com nossos clientes. Mas, não nos esqueçamos

duta e ética, pode o médico, ou qualquer outro profis-

que, também nós, em nossas funções, temos o dever de

sional da saúde, estabelecer e evidenciar seus diferen-

fazer o mesmo e dar exemplo.

33


JogoRápido

Márcio Nami, presidente da Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo de Mendes (Cremendes), mais antiga cooperativa de crédito aberta (luzzati) do País

Divulgação é a solução para o cooperativismo RC- Qual sua visão sobre o coope-

Cooperativa de Crédito de Mendes”.

rativismo?

Os vencedores, escolhidos por pro-

O cooperativismo é um caminho

fessores indicados pela Secretaria

inevitável, em seus diferentes ramos,

de Educação do Município, receberão

pois como os recursos se tornam cada

prêmios diversos como notebooks e

vez mais raros e escassos, a alterna-

cadernetas de poupança.

tiva natural é o compartilhamento e a geração de sinergia, cujo sinônimo

RC- Que dificuldades o senhor vê

mais fiel é o cooperativismo.

no ramo Crédito e o que pode ser feito para minimizá-las?

RC- A Cremendes é importante

A minimização de todas as dificul-

para a movimentação de renda no

dades passa pela ampla divulgação do

“Somente teremos sucesso se conseguirmos abrir mão de interesses

cooperativismo. Dificilmente alguém

Mendes e região, participando sem-

e visões individuais”

porém precisamos divulgar melhor e

pre do cotidiano, desde as tran-

Márcio Nami

agir em grupo, para atingirmos escala

município de Mendes. Quais são os projetos para a cooperativa? A Cremendes com seus 81 anos de história é parte integrante de

sações simples, como depósitos e saques, como parcerias para a rea-

sente falta daquilo que não conhece, e o cooperativismo de crédito tem muito mais virtudes que defeitos,

e o consequente bem comum. Existe um princípio jurídico que

lização de eventos, encontros culturais e afins. Embora

diz: os iguais com sua igualdade e os desiguais com sua

octagenária, existe a constante preocupação da insti-

desigualdade. Por analogia, não devemos jamais tentar

tuição em renovar-se a cada oportunidade, atingindo

a comparação com os bancos comerciais convencio-

diferentes gerações com as linguagens mais variadas.

nais, e sim ressaltar nossas idiossincrasias e diferen-

Atualmente encontra-se em gestação a campanha Rumo

ças. Assim poderemos não necessariamente superar,

aos 90 com preparação de mídia e conscientização dos

mas informar de maneira correta à expressiva massa de

funcionários, diretores e associados da visão de futuro,

não-cooperados, pois, se não participam de sociedades

pois é muito comum em instituições “maduras” o sau-

cooperativas, é por puro e simples desconhecimento do

dosismo predominante em detrimento de planejamentos

sistema, pois as vantagens são claras e inegáveis.

estratégicos e projetos para as gerações futuras. Toda a diretoria e funcionários estão em constante atualização, participando de cursos e seminários, e nos

É fundamental para o sistema o renascimento de uma central de crédito forte e sólida, bem como massivo investimento em publicidade e informação à população em geral.

orgulhamos de possuir 100% dos diretores com pósgraduação ou cursando e 100% dos funcionários com graduação em diferentes áreas.

RC- Como avalia o cooperativismo atualmente no Rio? O Rio de Janeiro se encontra em imerecida letargia,

Finalmente, destaco a parceria com o Sistema OCB/RJ-

temos o potencial de primeiro mundo e reflexos de ter-

Sescoop/RJ para a capacitação e a qualificação de nossos as-

ceiro. Vivemos um momento de retomada, porém para o

sociados em diferentes áreas, como Gestão Empreendedora

sucesso da empreitada é fundamental a união em torno

e Orçamento Familiar, e o lançamento da turma de Jovens

do tema que é tão caro para todos nós: a cooperação.

Lideranças Cooperativistas, com excelente reflexo na região.

Porém não devemos nos iludir, somente teremos suces-

Também está em elaboração um Concurso de Redação

so se conseguirmos abrir mão de interesses e visões

para os cerca de 1.500 alunos dos ensinos médio e fun-

individuais para abraçarmos o objetivo comum: o desen-

damental da região que consistirá na leitura do livro “Via-

volvimento da cooperação em seus diferentes ramos. É

bilidade das Cooperativas Abertas: um Estudo de Caso da

um caminho árduo, porém possível.

34


35


36


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.