Revista Kéramica n.º 385 Novembro / Dezembro 2023

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KÉRAMICA revista da indústria cerâmica portuguesa

Publicação Bimestral €8.00

nº385

Edição Novembro/Dezembro . 2023

O MUNDO DIGITAL E A CERÂMICA


Membro de vários Acordos de Reconhecimento Mútuo Presente em 25 países

Acreditada pelo IPAC como organismo de certificação de produtos (incluindo Regulamento dos Produtos de Construção), serviços e sistemas de gestão

R. José Afonso, 9 E – 2810-237 Almada – Portugal — Tel. 351.212 586 940 – E-mail: mail@certif.pt – www.certif.pt

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Index

Editorial . 03

Robótica . 22 Repensar a produção

Destaque . 04

Energia . 28

O Mundo Digital e a Cerâmica/Indústria

Smartenergy e da Unidade de Produção de Hidrogénio Verde Sizandro: Uma Solução Inovadora

Transformação Digital

.

08

8 Transformação Digital nas PME's - exemplos de aplicação na Indústria cerâmica 25 O Mundo Digital e a Cerâmica/Indústria

Associativismo . 30 30 Almoço da Natal dos colaboradores e Direção da APICER / Assembleia Geral 31 As Jornadas Europeias da Cerâmica 2023

Cibersegurança . 13

Secção Jurídica . 33

Transformação Digital da Indústria versus Cibersegurança

Senhor Dr. Juiz, eu é que sou o proprietário do software!

Internet . 15

Notícias & Informações . 36

Web3 e a Indústria da Cerâmica. Algumas reflexões

Novidades das Empresas Cerâmicas Portuguesas

Digitalização . 19

Calendário de Eventos . 40

SACMI, as oportunidades da "digitalização" da indústria cerâmica

Propriedade e Edição APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria NIF: 503904023 Direção, Administração, Redação, Publicidade e Edição Rua Coronel Veiga Simão, Edifício Lufapo Hub A - nº 40, 1º Piso 3025-307 Coimbra [t] +351 239 497 600 [f] +351 239 497 601 [e-mail] info@apicer.pt [internet] www.apicer.pt Tiragem 500 exemplares Diretor Marco Mussini Editor e Coordenação Albertina Sequeira [e-mail] keramica@apicer.pt Conselho Editorial Albertina Sequeira, António Oliveira, Marco Mussini, Martim Chichorro e Susana Rodrigues Capa Nuno Ruano Foram utilizados recursos do Freepik.com, para realização da capa

Colaboradores Albertina Sequeira, Afonso Lopes, Cristiano Jesus, Domingos Barbosa, Filipa P. Silva, Filomena Girão, Gustavo Vivas, Joaquim Vieira, José Reis Santos, Miguel Pupo Correia, Paola Gatti, Rolando Azevedo, Sérgio Ivan Lopes e Susana Rodrigues. Paginação Nuno Ruano Impressão Gráfica Almondina - Progresso e Vida; Empresa Tipográfica e Jornalística, Lda Rua da Gráfica Almondina, Zona Industrial de Torres Novas, Apartado 29 2350-909 Torres Novas [t] 249 830 130 [f] 249 830 139 [email] geral@grafica-almondina.com [internet] www.grafica-almondina.com Distribuição Gratuita aos associados e assinatura anual (6 números); Portugal €36,00 (IVA incluído); União Europeia €60,00; Resto da Europa €75,00; Fora da Europa €90,00 Versão On-line https://issuu.com/apicer-ceramicsportugal Notas Proibida a reprodução total ou parcial de textos sem citar a fonte. Os artigos assinados veiculam as posições dos seus autores.

Índice de Anunciantes AXPO (Página 35) • CERTIF (Verso Capa) • CERAMITEC (Página 37) • GOLDENERGY (Página 1) • INDUZIR (Verso Contra-Capa) • SMARTENERGY (Contra-Capa) Conteúdos conforme o novo acordo ortográfico, salvo se os autores/colaboradores não o autorizarem Publicação Bimestral nº 385 . Ano XLVIII . Novembro . Dezembro . 2023

Depósito legal nº 21079/88 . Publicação Periódica inscrita na ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social] com o nº 122304 ISSN 0871 - 780X Estatuto Editorial disponível em http://www.apicer.pt/apicer/keramica.php

p.2 . Kéramica . Index

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Editorial

O Mundo Digital e a Cerâmica O tema de destaque desta edição da revista Keramica é “O Mundo Digital e a Cerâmica”. Quem como eu, leva já alguns anos nas voltas da vida da cerâmica, não pode deixar de se recostar na cadeira a refletir no que encontrou à chegada e o que é hoje a realidade da cerâmica portuguesa de todos os seus subsetores, tanto na obtenção da forma, na colocação das decorações e como os consumidores podem percecionar digitalmente o produto final que procuram e desejam. Todas estas mudanças, tiveram e têm como objectivo uma maior interação entre empresas e consumidores finais, em cenários de grande concorrência, produzindo fluxos de informação que permitam aquelas direcionar as suas propostas de design e marketing para os seus potenciais clientes. Nem poderia ser de outra forma. Numa sociedade globalizada, com tecnologia acessível e disponível, com acesso a praticamente toda a informação e com a publicidade a propor formas de vida, modas e tendências que ditam os nossos “gostos” o comportamento das empresas e dos consumidores teria obrigatoriamente de sofrer alterações, desde que a “ferramenta” WWW foi introduzida no quotidiano de todos. Interagir com dezenas de desenhadores a separar cores de uma decoração, para poderem ser impressas uma a uma, para mais tarde por detrás de um ecrã

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ver um computador fazer o trabalho daquelas dezenas de pessoas, numa fração ínfima do tempo que anteriormente era usado e ir assistindo à permanente sofisticação destas máquinas, é mesmo fazer parte da história da cerâmica. Ver decorar revestimento cerâmico de pequenas dimensões com rolo, ou ver as modernas máquinas de impressão digital a decorar os grandes e muito grandes formatos, com uma qualidade e beleza infinitamente superior, é mesmo fazer parte da história da cerâmica. Assistir num átrio de showroom a uma demostração como base num smartphone, em tempo real, a uma nova forma de testar cores, formatos e acabamentos de revestimento e pavimento cerâmico integrado em decoração mais complexa, em qualquer tipologia de espaço ou ver construir dezenas de expositores com estes mesmos produtos para enviar aos revendedores, é mesmo fazer parte da história da cerâmica. Assistir ao trabalho de mãos de um modelador cerâmico – ainda tão necessário e tão raro – e ver uma máquina de impressão em 3D sobrepondo camadas de materiais, para construção de formas, que rapidamente possam ser enviados como protótipos aos clientes, através de comandos ditados por um programador é mesmo fazer parte da história da cerâmica. E tanto que há para referir nesta permanente revolução quase darwinista em que uns muitos ficaram pelo caminho e outros contratam engenheiros e quadros especializados para “tomarem conta” das máquinas, que obedecem a programação que foi introduzida quer seja para produzir formas quer seja para produzir decorações é mesmo fazer parte da história da cerâmica. Neste reduzido espaço de escrita, uma última referência. Toda a cerâmica portuguesa já está imersa no mundo digital. A Indústria 4.0 já é uma realidade em algumas áreas e não tenhamos ilusões, vai ser um processo darwiniano para todos. A cerâmica vai ganhar a aposta! Este número da Revista Kéramica já chegará às mãos e aos olhos dos leitores, no próximo ano, mas gostaria de deixar a todos os empresários e a todos que nos leem o desejo de grandes sucessos empresariais, profissionais e pessoais para 2024. José Cruz Pratas (Presidente da Direção da APICER)

Editorial . Kéramica . p.3


Destaque

O MUNDO DIGITAL E A CERÂMICA/INDÚSTRIA

p o r Jo a q u i m V i e i r a , D ire tor G e ral da In ovab le

Joaquim Vieira

Os contínuos avanços das tecnologias digitais e da conectividade têm potenciado a rápida evolução de diversos aspetos da vida moderna, que podem referir-se como fazendo parte integrante do ambiente ou domínio do mundo digital. O uso apropriado dessas tecnologias pode aumentar os resultados e o valor para todas as partes interessadas, transformando a experiência do cliente, as operações e os processos organizacionais. Porém, se mal utilizadas ou geridas, podem levar as organizações ao risco de obsolescência. A Indústria 4.0, através da incorporação de tecnologias modernas de informação e comunicação na produção, promove um aumento na produtividade, flexibilidade, velocidade e qualidade, garantindo mais segurança no trabalho, melhores condições laborais,

p.4 . Kéramica . Destaque

proteção ambiental e capacidade de inovação. Essa abordagem agiliza a produção, permitindo a oferta de produtos customizados rapidamente e a preços competitivos. Para beneficiar das oportunidades criadas pelo mundo digital, é fundamental garantir a capacitação da organização, dos seus líderes, dos seus colaboradores e de todas as partes interessadas, para se adaptarem às rápidas mudanças operadas pelas tecnologias digitais em evolução, com uma adequada Liderança, vontade de abraçar a Mudança e Pessoas disponíveis. O processo de transformação digital deve iniciar-se pela medição da capacidade de uma organização para criar valor através do digital, ou seja, pela sua Avaliação da Maturidade Digital, que é um indicador essencial para a predição do sucesso desse processo. Para tal deverá ser conhecida a situação atual da organização relativamente às melhores práticas, estabelecer os nossos objetivos e, por fim, definir quais são as ações que temos de implementar para os atingir. O setor cerâmico, que é tradicionalmente conhecido pelo recurso a técnicas artesanais e processos de mão de obra intensiva, encontra-se numa desafiante fase de potencial aproveitamento de oportunidades que são disponibilizadas pelo mundo digital para suportar soluções no que respeita à sua progressão económico-financeira, ao seu relacionamento com o ambiente e às pessoas, em suma, à sua sustentabilidade. Sendo o investimento em energias e tecnologias limpas e digitais, juntamente com a economia circular, uma prioridade para garantir a sustentabilidade, nos seus três pilares fundamentais, a pressão tem vindo a crescer sobre o setor cerâmico no que respeita à redução dos consumos de materiais, de consumos energéticos e à adoção das melhores práticas que permitam a neutralidade carbónica e a minimização dos impactos do con-

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Destaque

sumo. Os Passaportes Digitais dos Produtos (DPP), que podem ser vistos como um sistema de informação para a economia circular, são um dos principais componentes da estratégia europeia conducente a implementar o “Green Deal” para atingir os objetivos assumidos. Os DPP são, de uma forma muito resumida, um conjunto de dados estruturados, atualizados e fiáveis que armazenam informações sobre a origem, a composição, os processos de fabrico, as características, a duração, as instruções de manutenção e desmontagem, as instruções de reciclagem e praticamente todos os pormenores relevantes de um artigo para os diferentes intervenien-

tes na cadeia de valor. A implementação dos DPP será gradual, estando prevista ser dada prioridade às baterias, cujo processo deve estar concluído até 2026/2027, e aos setores têxtil e da construção, os restantes setores, deverão ter os seus DPP implementados até 2030. Como acontece noutros setores, podem ser encontrados diversos níveis de automação e de implementação de soluções que recorrem a tecnologias digitais, consoante o tipo de produto, o tipo de organização e a sua dimensão. Existem assim, organizações que lideram o aproveitamento das oportunidades que são criadas pelo mundo digital, seja a nível nacional seja a nível internacional. Uma implementação bem sucedida, requer ser planeada, assegurando uma adequada gestão da mudança, e é desejável que sejam selecionados os projetos que, com menor esforçoe em menos tempo, são capazes de demonstrar as vantagens da transformação digital (quick wins), o que permitirá que a organização ganhe confiança no processo desde o seu início. As tecnologias digitais podem ser implementadas com sucesso, de forma individual ou integrada, seja nas áreas administrativa, financeira, recursos humanos, comercial, compras e I&D, seja na área de operações e em todas as outras que possam existir numa organização, seja ou não industrial.

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Capacid dade preditiva

Adaptaabilidade

2

Digitalização

Transpaarência

1

Visibilid dade

Conectividade

0 Pré-digitalização

Informatização

A maturidade adaptado de Schuh et al. (Acatech) para incluir também a fase 0

Oral

Valor

Escriita em papel

O que está a acontecer Porque está a acontecer O que vai acontecer Como pode uma resposta autónoma ser alcançada ç

3

4

5

6

Indústria 4.0

Destaque . Kéramica . p.5


Destaque

No setor cerâmico, considerando que, independentemente do tipo de produto (Telhas e Tijolos, Azulejos e Ladrilhos, Louça Sanitária, Cerâmica Utilitária ou outros), são cinco as fases principais do processo de produção (Preparação das Matérias-Primas, Conformação, Secagem, Tratamento da Superfície e Cozedura), existem já soluções que utilizam tecnologias digitais implementadas seja na área operacional, onde se integram as fases do processo de produção, seja em todas as outras. A transformação digital deve ser integradora de toda a cadeia a montante e a jusante da fase de produção, criando valor para todas as partes interessadas, considerando os requisitos da economia circular, o que aumenta o número de entidades envolvidas, a complexidade e a dimensão do desafio. É na fase de conceção dos produtos cerâmicos que temos a possibilidade de definir e condicionar o seu ciclo de vida, para manter a função e o valor dos produtos, componentes e materiais ao mais elevado nível possível e para prolongar o tempo de vida desses produtos. O mundo digital veio revolucionar a fase de conceção na indústria da cerâmica. Com o recurso a ferramentas como a conceção assistida por computador (CAD), os artistas e designers ganham a capacidade de experimentar formas, cores e texturas de forma mais livre e com maior exatidão. Isto conduziu a uma nova era de criatividade na conceção de cerâmica, em que o único limite é a imaginação do designer. A existência de modelação tridimensional vem permitir a realização de desenhos complexos que seriam impossíveis ou extremamente morosos através dos métodos tradicionais. Adicionalmente, as tecnologias digitais permitiram aos artistas incorporar padrões geométricos complexos e imagens de grande pormenor nos

p.6 . Kéramica . Destaque

seus trabalhos, alargando o âmbito da expressão artística na cerâmica. Um dos avanços mais notáveis é a utilização da manufatura ou fabrico aditivo ou impressão 3D. Esta tecnologia digital permite a produção de peças cerâmicas diretamente a partir de desenhos digitais, agilizando os métodos tradicionais de moldagem e escultura. Oferece uma flexibilidade sem paralelo no fabrico, permitindo a criação de formas e estruturas que anteriormente eram impossíveis. O recurso a modelos e gémeos digitais (Digital Twins) dos processos produtivos possibilita, desde a conceção até à produção, a monitorização em tempo real, a previsão do comportamento do sistema, o controlo e otimização da produção, a manutenção preditiva, a redução do downtime dos recursos, o aumento da produtividade e da qualidade, a redução de custos e a garantia de segurança na operação. A automação e a robótica têm sido integradas em todas as fases da produção, aumentando a eficiência e a conformidade. Estas tecnologias apoiam a manipulação precisa de materiais, a vitrificação e até processos de decoração complexos, garantindo produtos de alta qualidade, minimizando os erros e os custos de mão de obra. A realidade virtual tem potenciado a capacidade de realização de formação nas mais diversas áreas, enquanto a realidade aumentada tem permitido integrar as informações/dados recolhidos no chão de fábrica com a atividade dos técnicos e operadores, além de permitir que quer o produtor quer o cliente tenham a possibilidade de visualizar em tempo real a imagem digital da cerâmica em diferentes localizações. Através da internet das coisas (IoT, ou no caso industrial, IIoT) os objetos do quotidiano podem estar equipados com capacidades de identificação, deteção, ligação em rede e processamento que lhes permitirá comunicar uns com os outros e com outros dispositivos e serviços através da Internet para atingir um dado objetivo. A inteligência artificial é utilizada para executar tarefas que habitualmente requerem inteligência humana, como seja a perceção visual, da qual se destaca a possibilidade de realizar inspeção da qualidade de peças de cerâmica, o reconhecimento da fala, a tradução de línguas e a tomada de decisões, está a ser utlizado de uma forma abrangente na esmagadora maioria das atividades, sejam mais operacionais, sejam mais administrativas.

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Destaque

Enterprise Resource Planning

PLC

Dispositivo

A aplicação de sistemas informáticos a serviços de fabrico, cadeias de fornecimento, produtos e processos, potencia a transformação digital integrada do processo de fabrico criando diferentes denominações de soluções, consoante a área, como sejam a “Smart Factory”, a Smart Logistics” ou a “Smart Maintenance”. As tecnologias digitais de fabrico ligam sistemas e processos em todas as áreas e níveis da organização para criar uma abordagem integrada ao fabrico, desde a conceção, à produção e à manutenção dos produtos finais.

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SCADA

Programmable Logic Controller

Controlador

Sensor

Human Machine Interface

Produçõess

Orden ns de fabricco

Gamass operatórias

Parâmetrros de máq quina

HMI

p y Supervisory Control And Data Aquisition

Consumoss

Manufacturing Execution System

MES

Variáveiis processo o

ERP

Atuador

A indústria cerâmica, que tem potencial para beneficiar da integração com o mundo digital, está ainda numa fase inicial de aproveitamento das potencialidades das tecnologias digitais, devendo este processo ter nos próximos anos uma forte evolução alavancada pela regulamentação, pela legislação, inovação e pela sustentabilidade, em todos os seus pilares, considerando a mudança do foco do valor acionista para o valor de todas as partes interessadas.

Destaque . Kéramica . p.7


Transformação Digital

T R A N S F O R M AÇ Ã O D I G I TA L NAS PME'S – EXEMPLOS DE APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA CERÂMICA

p o r Af o n so Lo p e s, Co n sultor

No início de dezembro 2023 apareceu, associado ao PRR, um Aviso para apresentação de candidaturas para um Programa de Incentivos para a Indústria 4.0 sem limitações quanto à dimensão das empresas. Muitas empresas apressaram-se a retirar da gaveta propostas que já tinham, mas aquelas que ainda não tinham começado o processo

deverão ter sentido um pouco difícil responder num prazo de 15 dias aos requisitos da candidatura, e especialmente escolher a tecnologia ou área onde deveriam investir, especificar o serviço e negociar as propostas. A adoção dos princípios da Transformação Digital e, de como isso ajuda as empresas, a reorganizarem-se e tornarem-se mais eficientes, é essencial para a sua sobrevivência. Estamos aqui a falar da constante procura de soluções para problemas, externos e internos, por meio de inovação sucessivamente colocada à prova para validação, ajudará as empresas a preparem-se proactivamente, ficarem mais eficientes e, no final poderem responder mais rapidamente a futuros avisos de incentivos perfeitamente alinhadas com a estratégia digital definida. O futuro das empresas passa muito pela adoção de estratégias nestes princípios.

Afonso Lopes

Estratégia digital para as PME’s na indústria Quando se começa a falar de digital, a maioria dos responsáveis nas empresas assume que o assunto é tecnologia e específico dos respetivos departamentos de Sistemas de Informação, como tem sido até agora na fase de digitalização das empresas ao longo das últimas décadas com o advento da automação do chão de fábrica. Será isso verdade quando estamos a falar da Transformação Digital? Como poderemos comparar isto com a Digitalização que as empresas vão adotando com a integração de alguns sistemas? É sobre este assunto que vos venho falar e deixar umas pistas como a construção de uma estratégia digital é essencial a uma Transformação Digital bem-sucedida, que, diga-se de passagem, não é bem o que acontece na maioria dos casos, mesmo em empresas grandes e com imensos recursos. A estratégia digital, princípio basilar da Transformação Digital, é uma responsabilidade da gestão e

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Fotografia de autor desconhecido.

Transformação Digital

pode ser determinante para o futuro das empresas, nomeadamente a forma como as empresas se posicionam na oportunidade de transformar os seus negócios aproveitando as ferramentas digitais colocadas à disposição num mundo em constante mudança digital. É essencialmente isto que devemos atender, refletir sobre como se pode transformar o negócio da empresa. E será que alguma empresa pode escapar à Transformação Digital? Num mundo cada vez mais globalizado julgo ser uma tarefa impossível e o adiamento de uma inevitabilidade, caso a empresa consiga sobreviver. É o que vou tentar explicitar em seguida. O que nos pode trazer a Transformação Digital? O que pode a Transformação Digital aportar ao futuro da minha empresa? Quais os aspetos a ter em consideração quando desenhamos uma estratégia para a empresa? Que valor esperamos aportar ao nosso negócio? Qual será a futura estrutura organizacional da empresa? Qual será a estratégia digital da empresa em frases simples, que possam ser entendidas e facilmente recitadas pelos funcionários? Como podemos vir a utilizar os dados que a empresa gera continuamente e lhes seja possível ir acrescentando valor? A resposta a estas questões faz sentido antes de se embarcar num processo de Transformação Digital. Poder definir áreas a priorizar, mobilizar e formar as pessoas, definir os processos mais adequados e escolher as tecnologias de apoio mais adaptadas para ajudar à transformação do negócio da empresa e potenciar a criação de valor, faz todo o sentido para tornar a empresa mais preparada para um mercado cada vez mais globalizado e competitivo.

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Resumidamente, a Transformação Digital, onde se deve potenciar a recolha, armazenamento e tratamento dos dados em tempo real para criar informação com valor para o negócio, através de ferramentas de inteligência artificial à disposição, pode ajudar as empresas no seguinte: a. Melhorar a eficiência operacional pela automatização de processos manuais e repetitivos, libertando as equipas para tarefas mais estratégicas e de valor agregado; revisão dos processos, incluindo a eliminação de alguns desnecessários; gestão de energia, gestão da qualidade, manutenção preditiva dos equipamentos pela análise por IA dos dados recolhidos; b. Melhorar a experiência do cliente, refletindo sobre novas formas de interagir com o cliente, melhorando o atendimento e oferecendo serviços mais personalizados pela análise da informação, sem esquecer uma possível promoção da expansão a novos mercados e clientes; c. Melhorar os mecanismos para a tomada de decisões, facilitada pelo acesso a dados em tempo real e o entendimento mais informado que os mesmos proporcionam, potenciando a assertividade na tomada de decisões mais informadas; d. Aumentar a colaboração e a comunicação dentro da empresa, departamentos, equipas, aumentando a eficiência no trabalho pela partilha de informação mais célere e sem compartimentações ineficientes esbatendo essas fronteiras.

Transformação Digital

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Transformação Digital

Mais especificamente para as empresas industriais do setor cerâmico, exemplos de transformação digital com os objetivos atrás referidos, nomeadamente para impulsionar a eficiência operacional, melhorar a qualidade do produto e fortalecer a competitividade, podem redundar no seguinte: Automatização da Produção: • Implementação de sistemas de automação para controlar o processo de produção de cerâmica, reduzindo a dependência de operações manuais e melhorando a eficiência. • Utilização de sensores e dispositivos IoT para monitorizar variáveis críticas ao nível do chão de fábrica, como temperatura e humidade, garantindo a consistência e qualidade dos produtos. • Rastreabilidade total e parcial de artigos/produtos (acabados, semiacabados, matérias-primas, componentes). Monitorização da fábrica em Tempo Real: • Adoção de sistemas de monitorização em tempo real para acompanhar o desempenho de máquinas e equipamentos, criando as bases para a recolha, armazenamento e tratamento de dados que podem ser muito úteis noutras funções. • Utilização de dashboards digitais para visualizar dados operacionais em tempo real e identificar rapidamente áreas que exigem atenção, nomeadamente utilizando ferramentas de BI para extrair informação relevante. • Gestão da Qualidade e Gestão da Energia fazendo uso do tratamento por Inteligência Artificial dos dados recolhidos para antecipar problemas. Gestão da Cadeia de Fornecimentos Digital: • Implementação de sistemas de gestão de stocks baseados em tecnologia digital para otimizar a cadeia de fornecimentos, incluindo ligação aos fornecedores em tempo real. • Uso de ferramentas de previsão de procura para melhorar a precisão nos níveis de stock e reduzir desperdícios. Personalização de Produtos com Tecnologia Digital: • Integração de tecnologias digitais para oferecer personalização de produtos aos clientes.

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• Uso de impressão digital para criar designs exclusivos e atender às solicitações específicas dos clientes. Manutenção Preditiva: • Implementação de manutenção preditiva utilizando sensores e análise de dados para prever falhas em equipamentos, fazendo para o efeito uso de inteligência artificial sobre os dados recolhidos nos equipamentos • Redução de custos associados a paragens não planeadas e prolongamento da vida útil dos equipamentos. Estratégias de Marketing Digital Específicas para o Setor: • Desenvolvimento de uma presença online forte com um website otimizado para busca. • Uso de redes sociais e marketing de conteúdo para destacar os processos de fabricação, a qualidade dos produtos e atrair novos clientes. Integração de Sistemas ERP: • Implementação de sistemas ERP para integrar diferentes aspetos do negócio, desde finanças até gestão de inventário e planeamento da produção. • Melhoria da eficiência e comunicação interna. Formação Digital para Funcionários: • Programas em formação digital para funcionários, garantindo que eles possuam as competências necessárias para operar as tecnologias digitais adotadas. • Criação de programas de desenvolvimento contínuo para acompanhar as mudanças tecnológicas. Será difícil satisfazer todos estes objetivos com um só Projeto, mas é importante que a estratégia para o futuro da Empresa tenha isto em consideração e possa, inclusivamente, fasear as intervenções, sendo certo que a Transformação Digital é um projeto sem fim. São muitas as áreas beneficiadas pela adoção de novas tecnologias e novas metodologias, principalmente quando se aproveita toda a informação gerada, interna e externamente, para informar a gestão em tempo real, mas também para elaborar um plano que faça crescer valor aos dados de uma forma contínua e agregada.

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Transformação Digital

Como definir uma estratégia digital Importa referir que um grande número de projetos de Transformação Digital não são bem-sucedidos, mesmo em empresas grandes e com muitos recursos, exatamente pelo facto de as decisões de investimento serem desligadas da estratégia da empresa. A fase preparatória é, assim, essencial para aumentar a probabilidade de sucesso do Projeto de Transformação Digital, de que a definição de estratégias digitais claras e simples de assimilar por todos é primordial. As grandes empresas, mais capacitadas em termos digitais, têm estratégias digitais simples e facilmente recitáveis, por serem completamente assumidas pelos funcionários. Exemplos de frases de estratégia digital podem ser: • “uso de análise de dados para personalizar a experiência do Cliente, oferecendo produtos e serviços adaptados às suas preferências individuais”; • “um compromisso com a inovação tecnológica contínua, incorporando inteligência artificial e IoT nos produtos para estar na vanguarda da indústria”; • “integramos realidade aumentada na nossa estratégia digital, permitindo que os clientes visualizem os nossos produtos antes da compra”. Frases simples, que conjugadas permitem definir a Estratégia Digital de uma empresa, a base da Transformação Digital e que permitirá concretizar os objetivos referidos atrás. Na verdade, para uma Pequena e Média Empresa (PME) no setor cerâmico, a adoção de estratégias digitais específicas que potenciem a utilização dos dados e os transformem num ativo importante da empresa pode impulsionar a eficiência operacional, melhorar a qualidade do produto, a gestão da energia e da manutenção, e fortalecer a competitividade. Uma combinação de estratégias digitais para as principais atividades da empresa permite a consolidação de uma estratégia digital de suporte à Transformação Digital da Empresa. Como fazê-lo com maior probabilidade de sucesso? Como se verifica, para aumentar a probabilidade de sucesso, o Projeto envolve muito mais trabalho, que a simples escolha de uma tecnologia ou sistema para implementar numa empresa, ainda que sejam estes os investimentos importantes para financiamento pelos programas de incentivos.

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Só que, a montante, deverá ter sido definido um plano de Transformação Digital, incluindo uma clara e simples estratégia digital, para suportar a especificação dos sistemas e tecnologias. O Processo de Transformação Digital deve ser liderado pela Gestão/Administração, tal a importância que terá no desenvolvimento futuro da mesma. Deve envolver todas as áreas da empresa, promover a eliminação de barreiras entre as várias áreas e ser feito de forma metódica e organizada para poder refletir sobre o que se pretende para o futuro digital da empresa. A título de exemplo um processo de Transformação Digital feito de raiz para uma grande empresa pode considerar para análise os seguintes pilares: Clientes (melhorar a sua experiência), Concorrência (para além de concorrentes, podemos estar a falar também de parceiros), Dados (Utilização dos dados e agregação de valor que possa ser feita), Inovação (por experimentação rápida e testável) e Proposta de Valor (adaptada em função dos outros Pilares). Numa PME as preocupações serão muito mais diretas na melhoria da eficiência operacional, sem descurar a oportunidade por novos negócios, até em áreas muito diferentes, mas que o recurso à área da Inovação possa dar respostas positivas. Poderemos estar a mudar de modelo de negócio da empresa explorando uma oportunidade sem envolver novas tecnologias, mas pela simples análise do mercado, por vezes com ferramentas de ciência de dados disponíveis. A Transformação Digital também pode ser isto e, reafirma-se, nunca será um projeto encerrado. Como devem as PME aproveitar os incentivos para a Transição Digital? Com o apoio do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) as empresas têm novas oportunidades para apostar na Inovação e na Transição Digital e darem, assim, um passo importante na sua modernização. Um Aviso recente associado às portarias 135-A e 396-B, esta última publicada em 27 novembro 2023, abriu a possibilidade de todas as empresas industriais aderirem ao programa de incentivos e promover investimentos na Indústria 4.0, aproveitando para modernizarem o funcionamento e o seu parque industrial. A Transformação Digital, no âmbito destes programas de incentivos, resulta essencialmente no aproveitamento das tecnologias digitais para as empresas melhorarem a sua operação e gestão, incluindo a expe-

Transformação Digital

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Transformação Digital

riência do cliente e poderem prosperar no século XXI. Só que esses investimentos, pelo impacte que podem ter na empresa, deverão ter um enquadramento muito mais holístico para serem bem-sucedidos, conforme foi falado atrás. A aposta direta em sistemas por catálogo (ERP, CRM, MES, etc.), ou em tecnologias, não é a opção mais sensata e com maior probabilidade de sucesso, e pode transformar-se numa armadilha para a empresa. A seleção dos investimentos não deverá o ser o ponto de partida pela consulta aos principais fornecedores de tecnologia ou sistemas, mas antes o de chegada, depois da especificação dos sistemas que apoiem devidamente as pessoas e os processos otimizados da empresa e a ajudem a resolver problemas. Por outro lado, aconselhar as empresas a focarem-se na indústria 4.0, digitalizando e automatizando

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o chão de fábrica,vai mais ao encontro da melhoria da eficiência operacional e no caminho da Transformação Digital, que a escolha de outros sistemas que significam simplesmente mais um passo na Digitalização das Empresas, nomeadamente a adoção de sistemas ERP ou CRM. O retorno do investimento por adotar procedimentos sustentados de Transformação Digital é elevado, com a procura de soluções para os problemas, mesmo que sejam internos, recorrendo à inovação e experimentação para validar as soluções pelos diretamente interessados. A escolha deste caminho será sempre muito proveitosa para as empresas e com retornos elevados, mesmo sem esperarem pelos programas de incentivos, que se espera venham a reaparecer no futuro.

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Cibersegurança

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DA INDÚSTRIA VERSUS CIBERSEGURANÇA

p o r Mi g u e l P u p o Co r r e i a , P r o fe s s o r Ca t e d ráti co, In st it u t o Su p e r i o r Té cni co

A transformação digital do sector industrial começou há vários anos e é um processo inexorável. Trata-se do passo lógico a seguir à introdução de dispositivos electrónicos nos processos industriais por volta dos anos 80 do século passado. Os dispositivos electrónicos baseados em componentes discretos ou circuitos integrados (“chips”) permitiram automatizar inúmeros processos, mas eram pouco flexíveis, ou seja, difíceis de reconfigurar ou reprogramar para se adaptarem a novas necessidades. A evolução desses dispositivos para uma nova geração baseada em microprocessadores criou essa flexibilidade, pois tornou-os programáveis, como qualquer outro computador. A sua posterior interligação através de redes de computadores locais e da Internet

Mi g u e l P u p o Co r r e i a . P r o f e s s o r Ca t e d r á t i c o , In s t i t u t o Su p e r i o r Té c n i c o

DEPARTMENT OF COMPUTER SCIENCE AND ENGINEERING

permitiu o seu controle e monitorização remotos, criando ainda mais flexibilidade. Actualmente designa-se por transformação digital essa introdução da Informática, de computadores e redes, em muitos aspectos da vida das empresas, inclusive das empresas do sector industrial. A evolução seguinte, geralmente designada Indústria 4.0, expande essa visão da indústria informatizada com tecnologias avançadas de Inteligência Artificial, robótica inteligente e Internet of Things. Se a informática e estes tipos de tecnologia eram apresentadas há uns anos como convenientes, hoje são essenciais, pois a concorrência nacional e internacional exige o seu uso. Apesar dos inúmeros benefícios da transformação digital, esta traz também um risco elevado e inesperado: o da cibersegurança. Se qualquer sistema industrial esteve sempre exposto a vários tipos de sabotagem, hoje esta sabotagem e outro tipo de ataques podem ser realizados remotamente, a partir de outros cantos do mundo, através da Internet. Por exemplo, alguém mal intencionado pode remotamente: • roubar propriedade intelectual da empresa vítima – – um exemplo de ataque contra a confidencialidade de informação; • interferir com um processo industrial, levando à produção de componentes defeituosos – um exemplo de ataque contra a integridade do processo;

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Cibersegurança

• inutilizar equipamentos industriais, fazendo parar a produção – um exemplo de ataque contra a disponibilidade.

Foto:Freepik.com / Secuirty badge

Estes ataques podem ser realizados por diversos agentes de ameaça, por exemplo, ciber-máfias / ciber-criminosos, ciber-activistas, países e hackers de outros tipos. Os ataques contra empresas geralmente visam obter lucro. Ocasionalmente existem ataques que procuram simplesmente prejudicar a vítima, como tem sido fre-

quente durante e até antes da guerra contra a Ucrânia, mas menos contra empresas. Alguns ataques são meramente aleatórios, o equivalente a um vândalo que ao passar na rua atira uma pedra e quebra um vidro. Muitos casos se poderiam dar como exemplo. Em 2003 a central nuclear norte-americana de David-Besse teve alguns sistemas de controle invadidos pelo verme Slammer e inoperacionais durante várias horas; felizmente os sistemas afectados controlavam um reactor que estava desligado, caso contrário poderia ter acontecido um desastre nuclear. Mais recentemente, em 2017, a gigante da logística dinamarquesa Maersk teve alguns dos seus sistemas invadidos pelo malware NotPetya, que

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cifrou uma elevada quantidade de dados e comprometeu a actividade da empresa durante vários dias, com um custo estimado de 300 milhões de euros. Em 2021 um ataque semelhante afectou a norte-americana Colonial Pipeline, tendo criado uma disrupção do fornecimento de gasolina e gasóleo na costa leste desse país. A causa destes problemas está no interesse de algumas pessoas em causarem estragos, mas também nas vulnerabilidades existentes nos sistemas informáticos. Uma vulnerabilidade num sistema informático é um defeito que o torna passível de ser atacado, ou seja, que pode permitir a quebra de uma propriedade de segurança. As vulnerabilidades podem ser de projecto ou de configuração, mas nos dois casos são inevitáveis. A complexidade dos sistemas informáticos é de tal ordem que este tipo de problemas é inevitável. Aparecem novas vulnerabilidades todos os dias, mais de 25 mil em 2022. Se as vulnerabilidades são inevitáveis, será que o problema da cibersegurança dos sistemas industriais (ou não industriais) é solúvel? Acredito que não e é fácil de explicar porquê. O problema da cibersegurança tem cerca de 50 anos e os problemas equivalentes do mundo físico – roubos, homicídios, vandalismo, violência sobre pessoas, etc. – que existem há milhares de anos nunca foram resolvidos e nunca o serão. No entanto, são geríveis, como a cibersegurança também tem de ser. A gestão dos problemas de cibersegurança é apenas mais uma faceta da gestão de risco, algo que qualquer empresa tem de fazer. Os riscos podem ser de diversos tipos – económicos, crime, jurídicos, catástrofes naturais, saúde pública, etc. – e a cibersegurança é mais um desses riscos. Os riscos são inevitáveis, mas têm de ser geridos de forma a não terem um efeito catastrófico na empresa quando se tornam activos. O primeiro passo para gerir o risco é compreender que ele existe e convencer-se de que tem de ser gerido. Infelizmente, esse primeiro e essencial passo, muitas vezes é difícil no que toca à cibersegurança, talvez por esta ser recente e pouco visível (um vidro partido é um defeito palpável, ficheiros apagados ou modificados, menos). O risco de cibersegurança tem três factores: o nível de ameaça, o grau de vulnerabilidade e o impacto que esse risco pode ter no negócio (p.ex., o custo económico). O factor sobre o qual as empresas podem e devem actuar é o grau de vulnerabilidade: é preciso reduzi-lo a um nível adequado, de modo que o risco como um todo seja suficientemente baixo. Como? Com profissionais especializados, da própria empresa ou externos.

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Internet

WEB3 E A INDÚSTRIA DA CERÂMICA. ALGUMAS REFLEXÕES

p o r Jo s é Re i s S a n t o s, s ó ci o - g e r e nt e d a Bloq4 u Co n su l t o r We b 3 , Hi s t o r i a d o r

J o s é R e i s S a n t o s . s ó c i o - g e r e n t e d a B l o q 4 u , C o n s u l t o r We b 3 , H i s t o r i a d o r

A Web3 é a evolução da internet. A Web1, recordemos, era essencialmente estática e unidirecional, colando os utilizadores atrás de um ecrã altamente pixelizado esperando que a ligação do modem funcionasse convenientemente de forma a lhe ser proporcionado o acesso a um cabaz informativo diversificado, num misto de ‘páginas amarelas’, agência noticiosa e enciclopédia personalizada. Prevalente nos anos 90 e no início do século XXI, a worldwide web ofereceu a um conjunto alargado de utilizadores, empresas e instituições o acesso a um sistema informativo deslocalizado do mundo real iniciando uma nova e disruptiva realidade: o mundo online. Assistimos, consequentemente, ao início de um processo de capacitação de construção, gestão e partilha de recursos com alcance global, sem fronteiras (borderless), alocados em sítios na internet (web-

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sites), ligados por hiperligações unidirecionais de controlo do respectivo criador/a. Tal significou que, nesta fase, fosse disponibilizado a quem devidamente equipado, o acesso a um alargado conjunto documental desenhado apenas para consulta e leitura (read-only), sem qualquer possibilidade de interacção, bi-direccionalidade ou imersividade. Esta revolução tecnológica permitiu o advento dos primeiros sites institucionais, empresariais e pessoais, o aparecimento de um conjunto de novas abordagens metodológicas ao marketing, ao envolvimento e relação com o consumidor-cliente e na forma como apresentar e comunicar produtos, acrescentando às dinâmicas relacionais pré-internet. Agora, a empresas, instituições e/ou indivíduos era-lhes permitido comunicarem directamente a um nível global levando a si os consumidores, e não inversamente os mesmos irem à sua procura (através da colocação de anúncios, referência em páginas amarelas, ou de acções de marketing físico ou de loja). Aos consumidores, era-lhes agora possibilitado o acesso, à distância de um click, 24/7, e no conforto das suas casas ou de espaços designados para o efeito (os cafés-internet), a um maná informativo e ao contacto directo com marcas, produtos, notícias ou instituições. Diversas evoluções técnicas (como o surgimento das APIs, i.e. da capacidade de aplicações comunicarem entre si), avanços ao nível das comunicações (passagem do 2G para 3G no início do milénio, depois o 4G em 2007) e do grafismo (mais realista e capaz de criar ‘novos mundos’), bem como o aparecimento dos smartphones (em especial o primeiro iPhone em 2007), possibilitaram a transformação da Web1 em Web2, e com ela a introdução da capacidade de relação bidirecionais, ou seja, do acrescento da construção activa de conteúdos (escrita). Desta forma, os utilizadores passaram a serem capazes de colocar informação nas páginas, em as actualizar e com elas interagir, transformando

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relações estáticas em dinâmicas, e possibilitando o nascimento de um novo conjunto de aplicações, e respectivos modelos de negócios, apostados em conceber relações online mais atractivas, intreractivas, user-friendly e monetizáveis. De forma mais significativa, a Web2 permitiu também a criação do ‘perfil do utilizador/a’, e a capacidade de captura e utilização dos seus dados e respectivo historial. Estes utilizadores, ao se transformaram em produtores activos de conteúdos, transfiguraram-se também em produto, e seus dados no novo ouro do milénio, à espera de mineração. Com melhor grafismo, menor latência e conteúdos mais elaborados e dinâmicos, a Web2 permitiu revolucionar a forma como pessoas se interligam, comunicam e conhecem, através do aparecimento das redes sociais (Facebook em 2004, Twitter, 2006, Instagram, 2010, e mais recentemente o TikTok, 2016), como se relacionam na forma de comprar e vender produtos, através do comércio electónico (Amazon, fundada em 1994, e-Bay, em 1995 e a Alibaba de 1999, todas sobreviventes da bolha dotcom), e como o mundo online pode proporcionar novos modelos de negócio, novos mundos e formas de interação associadas a uma expansão das nossas identidades individuais e empresariais, agora virtualizadas em permanência (metaverso, jogos e gamificação). A Web2 proporcionou também a consagração do que Shoshana Zuboff chamou de Capitalismo de Vigilância (Survaillance Capitalism), ou seja, a utilizaçãodos dados pessoais gerados online para maximizar a capacidade de angariação, envolvimento e retenção de consumidores, e de em torno deles criar ‘comunidades fechadas’ (gated comunities) com algoritmos desenhados para promoverem comportamentos aditivos. Estas comunidades, ferreamente controladas através de logins proprietários, vindimam dados dos seus utilizadores (transformando-os em produto) para lhes incutir níveis de adições consumistas

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com elevado grau de precisão. A ampliação dos canais de conectividade e do tempo despendido online, bem como a expansão da proporção da nossa vida social aberta à recolha e processamento de dados, apenas veio incrementar o acesso a conjuntos massivos de informação, cuja análise e tratamento tem permitido identificar e optimizar padrões de consumo e dinâmicas comportamentais, reduzindo os vectores de incerteza no que respeita ao marketing customizado, afunilando-se neste processo a nossa liberdade de escolha e de acesso (livre) à boa informação, no que se tem designado por pós-verdade. A Web2 assume assim um controlo totalmente centralizado, não auditável, invasivo e potencialmente desrespeitador da privacidade dos utilizadores, desprovidos de qualquer propriedade sobre a sua data ou de autonomia gestora da mesma. Estas questões relacionadas com a capacidade de gestão da informação pessoal e empresarial, de como esse conhecimento é angariado, guardado, trabalhado e partilhado, aliado à vontade de retomar o controlo do mesmo, levaram ao aparecimento da Web3, ligada à tecnologia blockchain. Contribuiu também para esta evolução, a necessidade de embutir na Internet determinados mecanismos de automação, permitindo que máquinas comunicassem e trocassem recursos entre si, de forma segura, descentralizada e rastreável. A Web3 colocou ao dispor o que é conhecido como semantic markup, permitindo-se que os dados fossem apresentados em formatos que respeitassem quer as necessidades humanas como os avanços nos requerimentos de software. Desta forma, é possível a interconectividade segura entre mecanismos IoT, interacções autónomas entre computadores, a utilização de robôs (bots), e aplicações descentralizadas sem controlo centralizado(Dapps), uma vez que a tecnologia blockchain protege a informação, retendo e segurando os recursos partilhados em redes descentralizadas de computadores. A Web3 promete, então, quebrar o ciclo de domínio das grandes plataformas centralizadas através da devolução ao(s) criador(es) da propriedade do seu conteúdo, sob auspícios de uma nova e robusta arquitetura distribuída, desintermediada, e consequentemente segura. Embora a Web3 esteja em franco crescimento, vivemos ainda sob domínio da Web2, ou se preferirmos numa Web2.5, num momento em que algumas instituições (como a Comissão Europeia) já identificam as bases do que será a Web4, a que conceptualiza a integração integral do mundo físico com o digital em total imersividade e integração com realidade virtual, aumentada e imersiva (VR, AR, XR), num mundo phygital. Nesta próxima evolução da net, con-

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(CBDCs) e NFTs (tokens não fungíveis). Activos digitais podem também incluir e permitir versões tokenizadas de ativos, incluindo quaisquer categorias de bens reais, e utilizam carteiras Web3 (wallets) para garantir a propriedade dos mesmos.

tinuará a ser a tecnologia blockchain a fornecer o sustento tecnológico, quer na construção das plataformas descentralizadas, como na mintagem dos NFTs que irão amparar os itens digitais ao dispor do utilizador (skins de avatares, gémeos digitais de produtos físicos), e na definição das bases do sistema económico adjacente, assente na gamificação e no rewarding associados a tokens e/ou criptomoedas. Em todo o caso, na actual evolução da Web2 o tema da confiança é premente, pois o controlo centralizado e a utilização abusiva dos dados dos utilizadores (sem quaisquer recompensas para os próprios) assim o obriga. E, tratando-se de tecnologia, impera reforçar estas questões de forma não personalizáveis, ou seja, de maneira a conseguir transportar as metodologias de verificação existentes no mundo real para uma arquitectura tecnológica que nos forneça e garanta de forma segura (e automática) essa mesma confiança. Como? Na essência, a Web3 disponibiliza essa confiança através da introdução de 3 pilares, a saber: Tecnologia Blockchain, ou seja, um «livro-razão» / ledger descentralizado e distribuído que existe digitalmente numa (alargada) rede de computadores, que regista transações partilhadas. À medida que novos dados são adicionados, novos blocos são criados e anexados permanentemente à cadeia, assim atualizada para refletir esta mudança, numa arquitectura auditada, e com transações e circulação de informação (dados) verificados e rastreados. Ativos digitais e tokens, que são bens de valor que existem apenas digitalmente, que podem incluir criptomoedas, stablecoins, moedas digitais do banco central

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Contratos inteligentes (Smart Contracts), que são programas de software registados numa blockchain e executados automaticamente quando as condições estipuladas são atendidas. Com estas bases expostas, como devem então os produtos da área da indústria das cerâmicas e cristalaria beneficiar destes recentes avanços tecnológicos? Têm as marcas deste sector a necessidade imperativa de entrar na Web3? Que casos de estudo podemos identificar? Que novos modelos de negócio e/ou posicionamento de mercado podem ser apresentados? Para responder a estas questões, talvez seja importante começar por referir que as marcas, em si mesmas, não têm nenhum ‘problema’ com a Web3. Podem ter é problemas de lealdade e envolvimento com os seus clientes, de crescimento e diferenciação no mercado, hoje global e extremamente competitivo. Para essas situações, uma boa utilização e integração de ferramentas Web3 podem provar ser de alta utilidade e rentabilidade, especialmente se conseguindo criar um sentimento de escassez e de exclusividade assente num espírito de comunidade forte, nos pilares da sustentabilidade, e no desejo de criação de experiências exclusivas e personalizadas de elevado engajamento e de sentido de pertença. Ou seja, em construir um storytelling diferenciador, em alcançar e comunicar com novas audiências, oferecendo-lhes acesso imersivo e imediato à aquisição do(s) produto(s). Entrar no mundo Web3 deve também significar a promoção de dinâmicas de parceria e de quebra de silos, i.e., das empresas do sector serem capazes de desenvolver a capacidade de se envolver com o mundo da inovação, da tecnologia e das startups que hoje lideram a área Web3. Complementarmente, pode também o sector explorar as potencialidades de utilização de criptoactivos como formas de pagamento de produtos ou mesmo utilizando-os operativamente (como no pagamento de ordenados, por exemplo), optimizando processos e ganhando tempo pela rapidez das transações. Todas estas soluções encontram-se hoje devidamente salvaguardadas do ponto de vista legal, regulatório, fiscal e contabilístico, especialmente no espaço da UE. Recordamos ainda que abordar estratégias Web3 para a indústria da cerâmica e cristalaria deve ser bem mais

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extenso que apenas apresentar gémeos digitais de peças, criar showrooms virtuais ou mintar alguns NFTs. Deve ser construído um ecossistema devidamente desenhado e curado, que envolva dimensões de gamificação, experiências imersivas, personalizadas, transparentes, auditáveis, inter-operativas e multi-sectoriais. Conclusões Durante os mais de 20 milénios de presença assídua e contributiva para a vida das sociedades humanas, a inovação foi sempre um factor decisivo na definição da relação entre a cerâmica e as comunidades que foi servindo. Se num primeiro momento, esta encontrava-se relacionada com aspectos técnicos na procura de melhores condições de produção (acesso controlado a altas temperaturas), rapidamente o sector diversificou as suas linhas de produto, e consequente necessidade de o comunicar e vender. O advento da internet abriu uma plêiade de novas oportunidades de vendas e de colocação aplicada de metodologias actualizadasde marketing, mais ou menos direcionado. A Web2, centralizada, manteve a relação entre consumidor e produto inclinada, remetendo o utilizador-consumidor para um contexto de ambiente predatório, facilmente refém das dinâmicas do capitalismo de vigilância, sem controlo ou propriedade sobre os seus dados ou capacidade de verificar a confiança depositada nas instituições e marcas.

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A Web3 vem colocar à disposição dos seus utilizadores um conjunto de (novas) capacidades, de entre elas o retomar do controlo sobre os dados, quer do utilizador como do(s) produto(s), pois são oferecidas formas de verificação da transparência e de auditoria não-personalizada antes não disponíveis. A Web3 abre também a possibilidade de explorar novos modelos de negócio, de acesso a novas audiências, à exploração de novas metodologias de apresentação de produto, e de colocação e posicionamento da marca, com amplas vantagens para quem se envolva com esta arquitectura tecnológica. Basta, aliás, referir que muitos indicadores apontam que sejam em ambientes virtualizados e gamificados que se irá encontrar o futuro do (e)comércio e das interacções humanas, institucionais, sociais e empresariais. E estamos apenas no início de uma nova revolução da forma como vemos e nos ligamos ao mundo, pois os pilares da Web4 apontam adicionalmente para uma diluição das fronteiras dos mundos reais e digitais, prevendo, e antecipando, uma vivência phygital plena e quotidiana, quando tecnicamente permitido (avanços em termos de VR/AR/XR, implementação de redes 5G, óculos de VR mais acessíveis, etc.). Sabemos também que muitos dos novos utilizadores e consumidores já não aceitam as premissas da Web2, ou seja, não acedem a não ter controlo e propriedade sobre os seus dados. Nem depositam confiança em instituições, produtos ou marcas sem que a mesma lealdade seja (tecnologicamente) verificável. Sentem o espírito e narrativas das marcas de forma diferente da do início do milénio, até porque cresceram e atingiram a maturidade através de uma vivência em comunidades alimentadas por algoritmos carregados de hiper-informação. Por estas e outras razões, os consumidores são hoje mais exigentes. E bem. Cabendo às marcas saberem se adaptar e reposicionar. Assim, espera-se que a indústria das cerâmicas e cristalaria, e respectivos subsectores, rapidamente transite para esta nova realidade. E as boas noticias é que Portugal encontra-se muito bem posicionado no que respeita aos diversos verticais constituintes da Web3, uma vez que tem acumulado as necessárias capacidades legais, técnicas e de consultoria para desenvolver projectos em Web3. É uma questão de nos contactarem. E entrarem neste novo mundo.

empresa: bloq4u (www.bloq4u.com contacto: jose.reis.santos@bloq4u.com

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Digitalização

SACMI, AS OPORTUNIDADES DA " D I G I TA L I Z A Ç Ã O " D A I N D Ú S T R I A CERÂMICA

p o r Paola G a t t i , Ce ra m i c Pla nt D i g i t a l D e ve l o p me n t Ma na g e r

SACMI Smart Powder Plant O Laboratório de Cerâmica é o ponto de partida dos serviços tecnológicos da SACMI. Aqui, todos os testes e análises sobre a caraterização da matéria-prima e a formulação da pasta são efetuados em nome do cliente, com amostras reais recolhidas numa fábrica piloto SACMI. O passo seguinte é a industrialização, começando pelo departamento de preparação de pastas, SACMI Smart Powder Plant. O que significa a introdução do digital neste contexto? Por exemplo, com Smart Powder Plant, a SACMI oferece um controlo baseado num software de dosagem de matérias-primas, otimizando a aquisição e evitando erros. Os controlos avançados (de humidade, temperatura, granulometria, etc.) durante a moagem e a atomização garantem que a qualidade do produto atomizado é sempre constante e repetível, minimizando o consumo de energia.

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Conformação e decoração digital A tecnologia Continua+ da SACMI é uma referência mundial para a produção de lastras e sub-formatos. Neste contexto, a introdução da "sincronização digital" entre a deposição de pó atomizado pré compactação e as decorações subsequentes efetuadas com DHD-DDG (SACMI Deep Digital) abre novas perspetivas para o produto cerâmico. Por exemplo, a realização de bancadas de cozinha e acessórios de mobiliário com uma veia passante ou efeito full body, imitando perfeitamente o mármore, a madeira, a pedra natural. Nesta configuração, cada lastra é rastreada, o depósito "físico" de pós no tapete da linha Continua+ e a subsequente decoração da superfície são comparados com

Continua+

Como verdadeira "tecnologia facilitadora", o digital intervém em todas as fases do ciclo de produção. Aumentar a qualidade e o rendimento, reduzir o consumo, tornar os fluxos de produção mais eficientes e flexíveis, com controlo total sobre o desempenho e os fluxos graças ao software HERE SACMI O que significa a digitalização para a cerâmica e que oportunidades oferece em termos de qualidade, sustentabilidade e eficiência? Líder mundial no fornecimento de máquinas e instalações para cerâmica, a SACMI oferece soluções "digitalizadas" para todas as fases da linha. Além disso, desenvolveu o HERE, o software que integra funcionalidades específicas para as necessidades da indústria cerâmica e que se destina a otimizar a gestão de toda a unidade de produção, desde a matéria-prima à expedição, da produção à manutenção e à Intra logística.

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Digitalização

o ficheiro gráfico original, para obter efeitos estéticos tão únicos quanto repetíveis e, acima de tudo, fiéis ao design gráfico predefinido, não só na superfície, mas em todo o corpo da lastra. A par do lançamento da nova gama de doseadores V-Nature, combinada com Continua+, a SACMI apresenta também importantes inovações na prensagem tradicional. Várias soluções são propostas e integradas em novos kits de prensas de elevado valor acrescentado, incluindo software para autodiagnóstico que reduz o tempo médio necessário para resolver uma falha até 2/3, ou “moldes inteligentes" que dialogam diretamente com a máquina, acelerando os setup’s e otimizando a manutenção. Fornos digitais e a hidrogénio Com a gama de fornos Maestro, a SACMI estabeleceu o estado da arte no mundo da produção de fornos de cerâmica. Com o FMD, uma solução já bem estabelecida no mercado, todos os parâmetros (curvas de cozedura, teor de oxigénio) são geridos digitalmente, com a possibilidade de arquivar receitas e de as recuperar quando necessário. Produzir produtos de melhor qualidade consumindo menos e melhor não é o único benefício da digitalização do forno, é também o passo necessário para a evolução da máquina para combustíveis alternativos como o hidrogénio verde. Há apenas algumas semanas, a SACMI anunciou o primeiro mosaico fabricado com 100% de hidrogénio como combustível. O desenvolvimento do forno digital FMD foi o primeiro passo para a chegada ao forno FMH, tanto na versão atualmente no mercado – que pode gerir até 50% de misturas de metano-hidrogénio – como na versão atualmente em desenvolvimento, um protótipo capaz de gerir até 100% de combustível limpo. Graças à gestão digital dos parâme-

tros, é possível, de facto, regular e adaptar as curvas de cozedura a um combustível diferente, como o hidrogénio, que apresenta um poder calorífico diferente, um comportamento diferente na interação com o material e os componentes do forno, etc. HERE - Perícia Humana para Engenharia Reativa HERE é a porta de acesso para a gestão digital de instalações cerâmicas. Não se trata apenas de um "supervisor", mas de uma verdadeira ferramenta que integra as funções do MES (sistema de gestão da produção) com a gestão das encomendas e a análise dos índices de desempenho, integrando os níveis de TI (tecnologia da informação) e de TO (tecnologia operacional) na fábrica. A modularidade é uma das grandes vantagens do HERE, porque permite ao cliente uma abordagem passo a passo, rumo à digitalização, obtendo benefícios claros imediatamente com um investimento limitado de tempo e recursos e avançando passo a passo para a digitalização completa da fábrica. Desde soluções de "entry level" a soluções mais avançadas, o HERE foi concebido para facilitar a ligação de novos dispositivos, a adição de novas funcionalidades e a automatização crescente de múltiplos processos e fluxos de trabalho, com base nos requisitos do cliente. A gestão de processos, o planeamento operacional, o acompanhamento da produção, os indicadores de qualidade e desempenho, a análise energética, a gestão da manutenção e muito mais são geridos pelo HERE de forma integrada e sem papel. A máxima liberdade e funcionalidade da ferramenta - toda a fábrica e máquinas individuais podem ser visualizadas e geridas remotamente – estão disponíveis em conformidade com os princípios da cibersegurança e da proteção dos dados dos clientes.

Maestro

Gémeo digital e controlo de processos Uma outra fonte de vantagem competitiva é a oportunidade de desenvolver, com a SACMI, um verdadeiro gémeo digital (digital twin) do sistema. Desenvolvido em conjunto com o cliente, o modelo da fábrica virtual é testado em diferentes cenários para simular o seu comportamento. Graças à sua experiência em engenharia de instalações e software, a SACMI pode avaliar com precisão a melhor solução de implementação, protegendo o investimento do cliente. Também estão disponíveis sistemas de controlo de processos cada vez mais avançados que permitem que os vários componentes da fábrica se "autorregulem" para oti-

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Digitalização

mizar a sua produção, tanto em termos de qualidade como de produtividade. Também neste caso, os dados – obtidos a partir das máquinas ou de sistemas de controlo de câmaras apropriados – são a principal fonte de controlo, para atingir o objetivo de uma produção cada vez mais automática e eficiente. Assistência. Serviços SACMI Smart&Secure Um dos objetivos da digitalização é tornar o serviço no terreno, para as máquinas e instalações SACMI em funcionamento, cada vez mais proativo, rápido e eficaz. Todas as máquinas SACMI de nova geração estão equipadas com um código QR dinâmico que permite ao cliente, ao ler o código com o seu smartphone, aceder a um conjunto de dados relevantes e solicitar imediatamente a assistência ou intervenção de um técnico SACMI. Os planos de manutenção também evoluíram, explorando o potencial do "digital". Com o Smart&Secure Service, por exemplo, os clientes da SACMI podem adquirir pacotes de manutenção que incluem planos personalizados e a oferta de kits de peças sobresselentes preventivas. As intervenções do técnico e peças/componentes a susbtituir são programadas com precisão a partir dos dados disponibilizados pelas máquinas do cliente (por exemplo, horas de funcionamento), de modo que a produção seja sempre de alto nível e sem problemas.

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SacmiCassioli Intralogistics A SACMI está sempre a fazer novos investimentos para tornar a digitalização eficaz, acessível e, acima de tudo, útil para os seus clientes. Entre os projetos mais recentes da SACMI, para completar a gama de soluções dedicadas à logística de instalações, está a criação de uma joint venture com a Cassioli, uma histórica empresa italiana com décadas de experiência no sector da intralogística. O objetivo da nova empresa SacmiCassioli Intralogistics é ser um fornecedor global de soluções de automação logística para as fábricas SACMI, desde o hardware (transelevadores, transportadores, ilhas de recolha, paletizadores automáticos, LGVs) até ao software (WMS, Warehouse Management System, e WCS, Warehouse Control System). Com este acordo, a SACMI reforça o seu profundo conhecimento do processo de produção nos sectores em que é líder, completando a sua oferta numa fase chave, afirmando-se como fornecedor completo de instalações e oferecendo mais valor acrescentado ao mercado em termos de eficiência e eficácia na gestão dos fluxos de produção. Também neste caso, o que é estratégico junto com a oferta de sistemas hw (meios mecânicos de movimentação) é a integração com softwares de gestão para um ecossistema fabril inteligente, smart e sustentável.

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Robótica

REPENSAR A PRODUÇÃO

p o r D o m i n g o s B a r bo sa , Rob oti c Busi n e ss D e v e lo pe r OMRON

Domingos Barbosa . Robotic Business Developer OMRON

Nos anos 70, o fundador da Omron, Kasuma Tateishi proclamou: “Para a máquina o trabalho da máquina, para o homem o desafio da criação”. À medida que nos inserimos na era da Indústria 5.0, essa declaração ganha vida em uma realidade onde a colaboração entre máquinas e seres humanos é o cerne da inovação industrial. Ao romper as barreiras tradicionais entre máquinas e seres humanos, a Indústria 5.0 promete transformar radicalmente a maneira como concebemos e executamos processos industriais.

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O lema corporativo da Omron, “Melhorar a vida das pessoas e contribuir para uma sociedade melhor”, impulsiona a nossa abordagem inovadora, tornando-se numa chamada à acção. Como sociedade temos que repensar a forma como produzimos. Temos que ser conscientes das necessidades sociais e dos factores que as influenciam. Enfrentamos um cenário complexo, onde factores sociais como a escassez de mão-de-obra qualificada, uma força laboral que envelhece e as tensões internacionais desafiam a estabilidade. As rupturas nas cadeias de fornecimento e a relocalização de empresas acrescentam uma dimensão global a essa equação. As tecnologias emergentes são catalisadoras essenciais nessa jornada. A Indústria 5.0 não é apenas uma evolução técnica; é uma revolução que integra a inteligência artificial, a IoT e a automação colaborativa. Ao repensar a produção, não apenas contemplamos factores sociais, mas também consideramos o impacto ambiental. O compromissos colectivo com a preservação do meio ambiente é essencial para contribuir para uma sociedade mais sustentável. Num mercado em constante mudança, a sobrevivência empresarial depende da habilidade de adaptação. Repensar a forma como produzimos é imperativo face a este desafio, que tem o consumidor no epicentro dessa transformação. Com acesso fácil à informação, o consumidor actual é mais informado e mais exigente. Muitas vezes adquire os bens desde sua casa navegando por diferentes plataformas para encontrar produtos e serviços. O consumidor actual espera respostas rápidas e entrega ágil. A busca por produtos e serviços personalizados é uma tendência crescente. O consumidor quer sentir que as suas escolhas são únicas e adaptadas às suas necessida-

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Robótica

des individuais. Não é leal a uma marca, está disposto a experimentar produtos de diferentes fornecedores que julgue mais adaptados às suas expectativas. Valoriza experiências autênticas e uma interacção com as marcas. A experiência do consumidor é tão crucial quanto o próprio produto ou serviço. É um consumidor atento às práticas éticas e sustentáveis das empresas. A responsabilidade ambiental e social tornou-se um fator relevante nas decisões de compra. As mudanças no panorama do consumo têm um impacto real na produção exigindo uma adaptação ágil para permanecer relevante. Esta adaptação conduz-nos a uma viagem fascinante em direção à fábrica do futuro, caracterizada pela flexibilidade e colaboração. Nesta jornada, a tecnologia é uma força motriz. Dois protagonistas desempenham papéis cruciais: os “Activadores da mudança”, nós fornecedores de tecnologia, e os “Habilitadores da mudança”, as empresas que implementam as transformações necessárias. Essa colaboração é vital para moldar as fábricas flexíveis e colaborativas do futuro. Outro factor relevante é as pessoas no centro da produção. As fábricas inteligentes dependem de pessoas inteligentes. Não falamos de inteligência intelectual mas sim de capacidade de adaptação. Pessoas capazes de adquirir novos conhecimentos, deixando as tarefas repetitivas para as máquinas, e que agreguem valor ao processo produtivo. Colocar as pessoas no centro é fundamental para o sucesso da transição. A disciplina na tomada de decisões desde a gestão é também um alicerce fundamental. É imprescindivel definir claramente onde queremos que a nossa empresa esteja no futuro. Precisamos de definir um caminho e esta-

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belecer metas. Assim que tivermos claro aonde queremos chegar temos que começar a implementar. A implementação ocorre em fases, começando em pequena escala, experimentando e testando, muitas vezes recorrendo a Provas de Conceito (PoC). Uma vez claros os resultados, escalar é a última etapa, rápida e eficazmente, para alcançar a fábrica colaborativa e flexível. Esta jornada é mais do que uma adaptação às mudanças; é uma transformação guiada pela tecnologia, potenciada pelas pessoas e sustentada na disciplina na busca por uma produção ágil e colaborativa no horizonte da Indústria 5.0. Na nossa viagem para a fábrica do futuro, uma gama impressionante de tecnologias habilitadoras desta transformação surgem como possíveis aliadas. A Computação em nuvem oferece flexibilidade e escalabilidade, enquanto o Big Data fornece insights valiosos. Ambos podem optimizar processos e melhorar a eficiência operacional. A Robótica e a IoT trazem automação e conectividade. Robots colaborativos e dispositivos IoT fornecem dados em tempo real, possibilitando uma produção mais ágil e adaptável. A Cibersegurança é uma salvaguarda essencial, garantindo a proteção dos dados e operações enquanto a Integração de sistemas assegura a fluidez na comunicação entre diferentes tecnologías. Os robots móveis autónomos (AMR’s) oferecem flexibilidade no chão de fábrica, facilitando a adaptação à produção de pequenos lotes adaptados ao consumidor. No entanto, é crucial compreender que a implementação bem sucedida não exige a adoção de todas essas tecnologías. Pelo contrário, a chave reside em identificar aquelas que são mais relevantes para os nossos objectivos específicos e avançar com determinação para o próximo passo.

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Robótica

Temos que considerar que emergimos de um passado caracterizado por baixa variedade e alta produção para um futuro definido por uma alta variedade e baixo volume. A transição de produzir conforme previsões para produzir por encomenda é uma mudança paradigmática que desafia a antiga rigidez do modelo de produção. A evolução de um fluxo síncrono rígido para um fluxo síncrono e assíncrono flexível é o resultado da adaptação necessária às dinâmicas do mercado moderno lançando bases para uma produção mais ágil, capaz de ajustar-se em tempo real às necessidades do consumidor. Ao considerar estratégias que abracem a diversidade, personalização e flexibilidade, estamos a abrir o caminho para uma produção mais ágil capaz de ajustar-se em tempo real às necessidades do consumidor actual. Todos estes factores estão a gerar muitas oportunidades para que a automatização industrial possa intervir adicionando valor para a sociedade. Na Omron, acreditamos que o valor real para a sociedade não é apenas uma consequência, mas sim a própria essência dessa transformação. Neste processo a Omron também se adaptou e inovou deixando de ser um fornecedor de equipamentos de qualidade para a automação industrial convertendo-se num fornecedor de soluções em que nos comprometemos a contribuir para construir um futuro onde a excelência industrial está entrelaçada com o bem-estar social e a sustentabilidade ambiental. A solução da Omron para esta transformação baseia-se num Conceito de Inovação na produção a que chamamos I-Automation. Desenvolvemos mais de 200.000 produtos de automação, abrangendo todas as áreas necessárias para a automação de fábricas, desde o sensor ao robot colaborativo passando pelos controladores de máquinas. Produzimos também mais de 230 tipos de apli-

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cações de controlo, integrando dispositivos de controlo com software, a capacidade de automatizar tarefas que normalmente exigem a perícia humana, a capacidade de aprendizagem contínua e auto-evolução, e a capacidade de compreender e assistir os humanos conforme necessário. Tudo isso é possível com a Automação Avançada da OMRON. A solução de controlo integrado combina controlo robótico com controlo de movimento de forma afinada, permitindo automatizar trabalhos que dependem de perícias especializadas e combinando IA que incorpora julgamento humano para aprimorar a produtividade através do controlo autónomo. Além disso, ao maximizar a eficiência energética, realizámos um novo conceito de produção que combina alta produtividade com preservação ambiental. O conceito de colaboração avançada entre humanos e máquinas direciona-se a locais de produção com foco no processamento manual. Avançando na tecnologia colaborativa entre humanos e máquinas, as máquinas acompanham os humanos, maximizando o potencial humano e possibilitando que humanos e máquinas cresçam e evoluam juntos. Trata-se de um novo conceito de produção que combina produtividade laboral capaz de responder de forma flexível a diversas exigências, mantendo simultaneamente a satisfação no trabalho. A inovação em engenharia digital apoia os dois conceitos de produção que estamos empenhados em alcançar. Ao sincronizar completamente as informações de equipamentos, robots e fontes de energia recolhidas em todo o local de produção em tempo real, conseguimos realizar a simulação realista de uma instalação de produção num ambiente digital. Isto contribui para inovações nos processos de negócio, como gestão de fábrica, design de equipamentos e melhorias no local. Através destas soluções em novos conceitos de produção, encontramos um equilíbrio entre o avanço das indústrias, a manutenção da satisfação no trabalho e a preservação ambiental global. Estamos preparados para ajudar na concretização do desenvolvimento sustentável para a produção. A Omron enriquece o futuro para pessoas, indústrias através da automação inovadora. Mas o sucesso desta transformação digital não passa apenas pela disponibilização destas novas ferramentas. Tem mais a ver com a forma como as empresas e as pessoas se conseguirem adaptar. As empresas que levarem uma transformação digital a bom termo serão aquelas que primeiro desenvolverem um bom programa para a transformação das pessoas e proporcionem um espaço para aprender e evoluir.

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Transformação Digital

O MUNDO DIGITAL E A CERÂMICA/INDÚSTRIA

p o r S é rg i o Iv a n Lo p e s - d i r e t o r- g e ra l CiT i n , Cr i s t i an o Je su s - i nv e s t i g a d o r e Ro lando A ze v e d o - e ng e nh e i r o I &D

Sérgio Ivan Lopes • Cristiano Jesus • Rolando Azevedo

Introdução Da experiência no âmbito da atividade científica e profissional, tanto na promoção da inovação como na resolução de problemas concretos, verifica-se que, quando recorremos aos manuais, sejam técnicos ou àqueles sobre as boas práticas, a abordagem que predomina resulta da implementação de ferramentas e modelos genéricos que fomentam novas práticas de governança e integração tecnológica. De dez pessoas a quem possamos perguntar sobre a pertinência de tais orientações, todas acabarão por concordar com a sua relevância e validade técnica. No entanto, se perguntarmos como tais princípios podem ser aplicados nas empresas, e até que ponto podem realizar transformações significativas, poucos são capazes de apresentar respostas concretas. É importante ressaltar que os computadores têm sido uma presença constante no mundo corporativo desde a década de 1950, os braços robóticos já integraram as linhas produtivas da indústria desde os anos 1990 e a conectividade alcançou

maturidade elevada na mudança do século. Portanto, faz-se notar que o mundo digital é uma realidade há muito estabelecida. Com base no que foi exposto, propõe-se com este artigo, primeiro, esclarecer a evolução que se espera, e porque a mesma é importante, no que diz respeito ao tal “mundo digital”, naquilo que é identificado frequentemente como Indústria 4.0/5.0 e, segundo, em vez de mais uma descrição genérica sobre ferramentas, modelos e estruturas, propõe-se uma abordagem definida a partir de fatores humanos, na expectativa de fazer as empresas avançarem na modernização tecnológica centrada nas pessoas e, consequentemente, na transformação digital dos seus negócios, numa era em que a procura por uma elevada personalização dos produtos e a customização em massa ditaram a necessidade de desenvolver sistemas de produção cada vez mais flexíveis e resilientes. Transformação digital – porque não se pode negligenciá-la? A Indústria 4.0, cada vez mais consolidada na literatura científica e no debate público, refere-se a uma ampla gama de tecnologias digitais, incluindo Internet

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Transformação Digital

vidade e negócios. A sustentabilidade é um fator essencial para o futuro da indústria, sendo essencial desenvolver práticas e tecnologias que sejam mais eficientes no uso dos recursos existentes, i.e., menos poluentes e com reduzida emissão de gases de efeito de estufa. Nesse sentido, os paradigmas da Indústria 4.0/5.0 não representam apenas um processo de modernização tecnológica mas sim uma revolução industrial em curso. Os seus reflexos alcançarão inevitavelmente todas as empresas, e, a falta de preparação para lidar com essa realidade poderá, num futuro muito próximo, colocar em causa a existência de muitas empresas, que, ao serem expostas a novos desafios tecnológicos e/ou de organização dos seus processos, acabam por ter uma atitude reativa e não transformativa, i.e., digitalização numa primeira etapa e transformação digital do negócio para maturidades mais elevadas.

das Coisas (IoT), Manufatura Aditiva, Inteligência Artificial (IA), Aprendizado de Máquinas, Realidade Aumentada (RA), Realidade Virtual (RV), Análise de Dados, Computação em Nuvem e Blockchain. Essas tecnologias digitais estão rapidamente a transformar a cadeia de valor e os seus procedimentos de manufatura, tornando-os mais eficientes, produtivos e personalizados. O paradigma da Indústria 5.0, por sua vez, surge com o intuito de complementar essa visão centrada na tecnologia, incorporando de forma central os fatores humanos e sociais nessa discussão. Seus pilares são a colaboração humano-máquina, a resiliência e a sustentabilidade. A colaboração humano-máquina, física e cognitiva, é fundamental para o conceito da Indústria 5.0. Os operadores precisam de ser capacitados para trabalhar em colaboração com máquinas inteligentes e responsivas de forma segura e eficiente. A resiliência caracteriza-se pela capacidade que as empresas apresentam para se adaptar rapidamente às mudanças do mercado, bem como a outros fatores externos que impactem a sua ati-

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Porque os projetos de TD falham? As falhas nos projetos de transformação digital são essencialmente causadas pela perceção de que esses projetos são como os de engenharia, i.e., seguem procedimentos estruturais que garantem a sua eficácia. No entanto, um projeto de transformação digital não é como um carro, um navio ou um avião, que são soluções mecanicamente autosuficientes e não precisam do engenheiro mecânico, naval ou aeronáutico para funcionar. Na prática, é preciso compreender que não se pode garantir que a decisão por encher os carrinhos de compras de dispositivos, softwares e servidores, per si, faça a empresa avançar na sua maturidade, em direção à transformação digital. Os projetos de transformação digital são complexos e envolvem mudanças significativas na organização exigindo uma compreensão profunda dos negócios, da tecnologia e das pessoas envolvidas. A perceção de que os projetos de transformação digital são como projetos de engenharia pode levar a uma série de dificuldades, resultando em falhas. Por exemplo, pode levar a uma abordagem excessivamente técnica, que ignora os aspetos humanos e organizacionais da transformação. Também pode levar a uma falta de flexibilidade, que dificulta a adaptação às mudanças inesperadas. Para evitar essas falhas, é importante que os projetos de transformação digital sejam liderados por uma equipa experiente e qualificada. Essa equipa deve ter uma compreensão holística do projeto sob implementa-

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Transformação Digital

ção e ser capaz de gerir os diferentes aspetos da transformação. Transformação digital por meio da abordagem da maturidade É evidente que o projeto de transformação digital possui uma componente tecnológica muito importante porque sem ela nada acontecerá, mas está implicada no próprio conceito de “transformação” a necessidade da abordagem construtivista, isto é, cada projeto deve ser entendido como único para aquilo a que se destina tendo em conta os aspetos singulares de cada empresa, a sua história, a sua cultura organizacional, o seu arranjo funcional formal, ou seja, que está previsto nas descrições de cargos de cada profissional, e informal, isto é, naquilo que é circunstancial nas relações que se desenvolvem entre as pessoas em ações orientadas a fins e também nas ações improvisadas. A ferramenta metodológica que segue essa abordagem é o modelo de maturidade. Nesse modelo, faz parte do projeto uma avaliação inicial, com base num modelo de referência, das capacidades da empresa que são identificadas na sua infraestrutura instalada, nos modelos de gestão em vigor, nas suas políticas de governança e nas suas competências. Essa avaliação resulta num desenho “AS-IS”, ou seja, uma representação da situação corrente seguida de um diagnóstico técnico criterioso. Com base nesse desenho é possível desenvolver um plano estratégico de transformação digital que promova a evolução da maturidade, ou seja, um roteiro, denominado “TO-BE”, que tem em conta as condições da empresa, não apenas na sua situação financeira mas também nas suas competências e restrições, sejam elas técnicas ou organizacionais. Assim sendo, trata-se de uma evolução progressiva em que cada passo é dado em perfeita conformidade com as capacidades intrínsecas e com o nível de complexidade que é assimilável e gerível pelas pessoas. Centralidade no humano – porque não pode ser diferente? A orientação da centralidade no humano não é uma opção, é uma necessidade, mas também um grande desafio por diferentes motivos. É importante lembrar que o nível de produtividade nas empresas é um problema em Portugal, quando comparado com os índices dos demais países-membros da União Europeia. Porém, não

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é um exclusivo de Portugal, visto que, a maior parte dos países da UE apresenta dificuldades nessa matéria. A inteligência artificial, normalmente temida por supostamente ameaçar o trabalho das pessoas, na verdade, precisa de ser compreendida como uma ferramenta, não um substituto, surgindo justamente para ajudar a resolver o problema da produtividade. Essa perspetiva é de facto um desafio porque as pessoas terão de aprender a trabalhar de forma colaborativa com robôs e saberem separar o que lhes cabe enquanto função e o que cabe ao robô. De forma simplificada, no aspeto físico, o robô colaborativo tem uma função ergonómica, ou seja, age para minimizar o esforço e adequar as operações às características biomecânicas do trabalhador, ampliando, assim, as suas capacidades, segurança e conforto. No âmbito da colaboração cognitiva, a inteligência artificial realiza para as pessoas as atividades que não são difusas como a tomada de decisões, ou seja, que obedecem a uma sequenciação linear e possuem condições estruturadas de execução. Se forem repetitivas, os ganhos são ainda maiores visto que os robôs não se cansam, não precisam de pausas e também não gozam férias. Tudo isso implica numa mudança de consciência das pessoas. Os professores, desde a escola primária, já sabem dessa realidade e a discussão corrente é que a educação já não pode privilegiar as habilidades de cálculos sem propósitos estratégicos, porque é nessa matéria que os robôs facilmente nos substituem com ganhos consideráveis, mas perdem de forma considerável nas decisões que exigem uma capacidade de visão holística, bem como na criatividade. O CiTin – Centro de Interface Tecnológico Industrial, reconhecido pelo Ministério da Economia e do Mar como Centro de Tecnologia e Inovação – CTI, é especializado em: • Sistemas Avançados de Produção • Digitalização e Indústria 4.0 • Mobilidade e Ambiente

Website https://citin.pt Morada InovArcos Passos - Guilhadeses 4970-786 Arcos de Valdevez

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Energia

SMARTENERGY E A UNIDADE DE PRODUÇÃO DE HIDROGÉNIO VERDE SIZANDRO: UMA SOLUÇÃO INOVADORA

p o r Gu st a v o V i v a s, Project Developer H2

Benefícios do Hidrogénio Verde: Inovação e Sustentabilidade O hidrogénio verde está a emergir como uma solução energética crucial na busca por um futuro mais sustentável. A produção de hidrogénio verde por eletrólise, utilizando energia elétrica de origem renovável, substituindo combustíveis fósseis, é um contributo significativo para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, nomeadamente dióxido de carbono. A eletrólise é uma tecnologia integralmente sustentável e alinha-se com os objetivos globais de descarbonização. Além disso, o hidrogénio verde contribui para uma maior independência energética e fortalece a segurança energética ao reduzir a dependência de importações energéticas, em especial de combustíveis fósseis.

O Projecto Sizandro, promovido pela Smartenergy Um dos exemplos a apresentar na região de Torres Vedras é o Projeto Sizandro, promovido pela Smartenergy. Este projeto inclui uma Unidade de Produção de Hidrogénio Verde (UPH) de 5 MW, alimentada por uma central solar fotovoltaica de 7,5 MWp. Sendo a primeira central de produção com hidrogénio verde do concelho de Torres Vedras, este projeto não constitui apenas um exemplo de sustentabilidade energética, mas também um modelo para futuros empreendimentos verdes na região. Este projeto tem o potencial de fornecer cerca de 750 toneladas de hidrogénio verde por ano aos consumidores, quantidade que pode aumentar para fazer face à procura crescente de fontes de energia limpa e renovável.

Gustavo Vivas

A adaptação da indústria a um novo vetor energético: o Hidrogénio Verde Um aspeto relevante na adoção do hidrogénio verde na indústria é o retrofit de equipamentos existentes para se adaptarem a esta nova forma de energia. No caso da cerâmica, vários projetos de fabricantes de renome demonstram como os fornos podem trabalhar com misturas de metano-hidrogénio, até 50%. Estão em curso várias iniciativas, no sentido de avaliar a utilização de hidrogénio em equipamentos de cogeração e em cal-

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Energia

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Fotografia

Freepik.com

deiras, com o objetivo de disseminar a utilização deste vetor energético, com diferentes “blends” de gás natural, que podem variar entre 20% e 100% na quantidade de hidrogénio. Este avanço representa um passo significativo na redução das emissões de carbono, tentativamente melhorando também a eficiência energética dos equipamentos existentes e preparando-os para uma era de maior sustentabilidade. Liderando a caminhada da indústria rumo a um futuro mais sustentável A adoção do hidrogénio verde representa uma mudança paradigmática na produção de energia, oferecendo um caminho para um futuro energético sustentável. Projetos como o Sizandro, juntamente com iniciativas de retrofit já referidas, demonstram a viabilidade e o potencial desta transição. Este movimento não só irá transformar o setor energético, como fortalecerá a economia e as indústrias locais, melhorará a segurança energética e contribuirá de forma significativa para a proteção ambiental global. À medida que avançamos, a adoção total do hidrogénio verde, impulsionada por contínuas inovações tecnológicas, será decisiva na definição do nosso futuro energético, reforçando o compromisso com a sustentabilidade e o cuidado com o nosso planeta.

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Associativismo

ALMOÇO DA NATAL DOS COLABORADORES E DIREÇÃO DA APICER / ASSEMBLEIA GERAL

p o r Al be r t i n a S e qu e i r a, Vice-Presidente Executiva da Apicer

No dia 5 de dezembro de 2023, realizou-se o habitual almoço de Natal. Foi um momento de confraternização dos elementos dos Órgãos sociais da APICER, ou seja, Mesa da Assembleia Geral, Direção e Conselho Fiscal e dos seus colaboradores.

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O almoço foi um excelente momento de confraternização entre todos os presentes a seguir a este almoço realizou-se a Assembleia Geral Ordinária da APICER, para entre outros assuntos, apreciar e votar o Plano de Atividades e Orçamento da APICER para o ano de 2024.

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Associativismo

AS JORNADAS EUROPEIAS DA CERÂMICA 2023 REALIZARAM-SE DE 27 A 29 DE NOVEMBRO EM BRUXELAS, BÉLGICA.

p o r Su s ana Ro d r i g u e s, departamento de Ambiente e Assuntos Europeus da APICER

Manifesto da Cerâmica 2024-2029

No contexto das Jornadas Europeias da Cerâmica, realizaram-se várias reuniões sectoriais da Cerame-Unie (CU), bem como as reuniões plenárias do Fórum da Cerâmica do Parlamento Europeu (EPCF), tendo estas últimas, sido transmitidas em direto através das plataformas de redes sociais da Cerame-Unie: Twitter e YouTube. Este ano, as reuniões do EPCF foram compostas por três painéis de debate centrados nos desafios comuns entre a cerâmica artesanal e a cerâmica industrial, na transição sustentável e energética no sector da construção da EU e na aplicação do pacote Fitfor55. Os painéis serviram para os oradores e moderadores destacarem os desafios que toda a indústria da UE enfrenta no caminho para um futuro sustentável e ecológico, tais como: • A indústria precisa de fortes incentivos políticos, em particular a curto e médio prazo, para superar os desafios da descarbonização e manter-se competitiva. • A legislação tem de ser realista e exequível. A redução das emissões de processo proposta deve ser

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definida tendo em conta as tecnologias disponíveis. • Os edifícios da UE são responsáveis por 40% do consumo de energia e 36% das emissões de gases com efeito de estufa. Os produtos cerâmicos de construção podem ajudar a alcançar um ambiente de construção sustentável e energeticamente eficiente • É necessário apoiar os investimentos e harmonizar a regulamentação em matéria de reciclagem e reutilização. • O potencial de eletrificação da cerâmica deve ser devidamente considerado e refletido com urgência numa revisão das orientações relativas aos auxílios estatais no âmbito do CELE! Estas reuniões foram seguidas pelo cocktail EPCF-CU, durante o qual o Presidente da CU, Alain Delcourt, e o Vice-Presidente, HeimoScheuch, entregaram o novo Manifesto da Cerâmica 2024-29 à Presidência Espanhola da UE, na pessoa do Embaixador D. Marcos Alonso. Ainda integrado nas Jornadas, no dia 29 de novembro, e na presença da Comissão Europeia, de sindicatos, de representantes da investigação e da indústria, foram realizados dois eventos. O primeiro evento foi o Lançamento do Manifesto da Cerâmica 2024-2029 "Assegurar a Sustentabilidade da Europa com o fabrico de Cerâmica", pelo presidente da CU Alain Delcourt, destacando os valores-chave da indústria cerâmica da UE: sustentabilidade, inovação, resiliência e construção de um futuro NetZero. Este Manifesto tem como objetivo mostrar que a cerâmica é essencial em muitas cadeias de valor para cumprir o Pacto Ecológico Europeu. O segundo e último evento foi a Conferência Pública da CU, sob o tema "Capacitar a indústria trans-

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Eurodeputada Maria da Graça Carvalho

Fórum da Cerâmica do Parlamento Europeu

Associativismo

Marcelo Sousa- Presidente da FEPF

formadora da UE para um futuro sustentável e uma Transição Ecológica", onde os oradores concluíram que, para que o fabrico de cerâmica na Europa seja viável e sustentável, é necessário adaptar uma série de políticas nacionais e da UE para restaurar a competitividade e

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criar as condições que permitam novos investimentos para garantir o futuro do sector na Europa. Nota: Manifesto da Cerâmica 2024-2029 "Assegurar a sustentabilidade da Europa com o fabrico de cerâmica" Através do seu Manifesto, a indústria cerâmica europeia propõe seis prioridades políticas fundamentais para permitir que a cerâmica desempenhe o seu papel essencial na contribuição para um futuro sustentável na Europa: uma visão do Sistema de Comércio de Licenças de Emissão (ETS), o acesso a energia verde, políticas neutras em termos de materiais para a construção, ajustamentos à exportação ao abrigo do Mecanismo de Ajustamento das Emissões de Carbono nas Fronteiras (CBAM) e nenhum alargamento do âmbito de aplicação sem avaliações de impacto adequadas, políticas que garantam a igualdade de condições tanto nos mercados nacionais como nos mercados de exportação e uma abordagem harmonizada dos regulamentos e normas de saúde e segurança. Estas seis prioridades-chave são completadas no manifesto por oito recomendações políticas pormenorizadas através das quais as políticas europeias e nacionais podem ajudar a moldar um sector cerâmico sustentável. Estas áreas de ação abrangem uma política industrial europeia ambiciosa e ampla, uma política climática para a indústria transformadora, recursos energéticos e infra estruturas para a indústria transformadora, a promoção de edifícios sustentáveis e a preços acessíveis, a proteção do ambiente e da saúde e o acesso a financiamento sustentável, uma política comercial europeia eficaz, um apoio eficaz à investigação e inovação para todos os produtores de cerâmica e competências para a indústria transformadora.

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Secção Jurídica

SENHOR DR. JUIZ, EU É QUE SOU O PROPRIETÁRIO DO SOFT WARE!

p o r Fi lome n a Gi r ã o e Fi l i p a P. Si l v a , FAF Sociedade de Advogados

Com o advento da inteligência artificial, que trouxe consigo o ChatGPT, o Bard, o DALL.E e tantas outras ferramentas, é inevitável reconhecer a sua utilidade graças à sua capacidade para facilitar tantos e tão diversos aspetos da nossa vida. Não obstante, à semelhança de tais (óbvios) benefícios, são também levantadas as mais diversas problemáticas – das quais nunca se poderia arredar a propriedade dos direitos de autor; como bem sabemos, a criação e manipulação de imagens são, atualmente, tanto o holy grail como o calcanhar de Aquiles de todos quantos recorrem a inteligência artificial generativa. Por um lado, estas ferramentas permitem a criação de imagens que outrora seriam inconcebíveis (ou que, pelo menos, exigiriam muito maior esforço): imagens incríveis, do filho que um casal pode vir a ter quando decidir conceber, da senhora que deseja ver como ficaria vestida de noiva ou se se parecerá com a sua mãe quando for mais velha – nenhum lifestage é deixado para trás, como vemos – da expansão do fundo da fotografia quando não se apanhou aquele monumento famoso na íntegra, etc... Por outro lado, a imensa possibilidade de criação e manipulação daquelas ferramentas levará também, potencialmente, a usos bem mais macabros do que aqueles que há pouco enunciámos, que em muitos têm gerado enorme preocupação, já vastamente abordada nos media – e não nos referimos apenas a deep fakes como aqueles que já mostraram o Papa com um blusão da moda – estes, por inofensivos, de per si, não preocuparão ninguém, mas servem como exemplo das suas amplas e inquietantes possibilidades. Antes de mais, veja-se, a propósito dos direitos de autor, a sentença judicial que, nos Estados Unidos da América, gira à volta da obra ‘A Recent Entrance to

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Paradise’. Stephen Thaler, um designer norte-americano, reivindicou esta obra, onde se observam trilhos envoltos na natureza, como sua. Certo é, no entanto, que o próprio menciona que a mesma foi criada através de um sistema de inteligência artificial, que o designer denomina de ‘Creativity Machine’. O U.S. Copyright Office (Gabinete de Direitos de Autor) negou a Stephen o direito de autor sob a obra, que, segundo este, lhe pertenceria, uma vez que era o proprietário do sistema que a criara, o que desencadeou uma ação judicial, na qual se discutiram as consequências de a referida obra não ter sido originada pelo espírito humano; faltando-lhe autoria humana, um requisito obrigatório para o direito do autor sobre a mesma, a juíza Beryl A. Howell manteve o veredito¹, negando a Stephen os direitos de autor que este reivindicava. Como esta ação, muitas outras merecerão, com certeza, o mesmo desfecho. O Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos² português, no seu artigo 2.º, menciona como obras originais as obras de desenho, de pintura e, bem assim, as obras fotográficas ou produzidas por quaisquer processos análogos aos da fotografia. Terá o legislador permitido a abertura de uma verdadeira caixa de

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Foto:Freepik.com / Person using ai tool at job

Secção Jurídica

pandora, com este desiderato? Quanto à titularidade do direito de autor, o diploma legal menciona que o criador intelectual da obra (cfr. artigo 11.º ), salvo disposição legal em contrário, será também o seu autor, presumindo-se como tal aquele cujo nome tiver sido indicado na obra (cfr. n.º 2 do artigo 27.º). De facto, na lei vigente não existe (ainda) uma menção expressa quanto à autoria de obras realizadas mediante inteligência artificial generativa. Contudo, estamos em crer que, estando os tempos a mudar, será urgente rever a legislação que versa sobre os direitos de autor – também porque a utilização destas ferramentas acarreta outras preocupações, como, por exemplo, o plágio, uma vez que alguns sistemas utilizam bases de dados de uma enormidade tal que, ao gerar uma imagem, facilmente poderão ser violados direitos de autor. Assim, resta sempre a questão de saber se a utilização de uma ferramenta, seja de IA, seja outra qualquer, pode ser desacompanhada da idealização proveniente do autor? A verdade é que a utilização de um pincel nunca nos fez duvidar da autoria de Picasso sobre o que conhecemos como a sua obra; no entanto, com a utilização de algoritmos e inteligência artificial, a grande diferença reside no facto de muitas vezes, aquelas

ferramentas gerarem imagens, por si, a partir de uma base de dados que lhes é intrínseca, sem qualquer mão humana. Ou antes, com a mão de quem ativou o programa ou com a mão daquele que o criou. Nesta senda, chegar-se-á a um ponto em que é inevitável sufragar o entendimento de que ao artista que usa um software do qual é legítimo possuidor e proprietário, deverá ser atribuída, de alguma forma, a menção como autor na obra criada pelo referido software. De alguma forma; forma quiçá diferente da forma atualmente utilizada. Num polo diferente, encontra-se aquele que utiliza um software aberto ao público, nomeadamente o já mencionado DALL.E, caso em que, na criação de uma qualquer imagem, será cada vez mais difícil encontrar ‘mão’ humana. E o próprio conceito de criação, de obra nova, também merecerá, certamente, discussão. Com estes ventos de mudança, que já se vêm fazendo sentir, urge refletir e pugnar pela definição e implementação de boas práticas na utilização de ferramentas de inteligência artificial generativas e, consequentemente, na adequação da legislação relativa aos direitos de autor à nova realidade que, a largos passos, deixa de ser virtual e se torna a nossa.

1. Conforme consultado em https://cdn.patentlyo.com/media/2023/08/THALER-v.-PERLMUTTER-et-al-Docket-No.-1_22-cv-01564-D.D.C.-Jun-02-2022-Court-Docket-1.pdf 2. Cfr. Decreto-Lei n. 65/85, de 14 de março.

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Notícias & Informações

NOVIDADES DAS EMPRESAS CERÂMICAS PORTUGUESAS

p o r Al be r t i n a S e qu e i r a, Vice-Presidente Executiva da Apicer

Maria Fradinho

MARGRÉS A Casa 109, da arquiteta Maria Fradinho, é o projeto vencedor do Margres Architecture Award. O júri reuniu no passado dia 24 de outubro e elegeu esta obra como a vencedora daquela que é a 6ª edição do prémio. Foram apresentados 15 projetos nacionais e internacionais, mas foi o conceito da Casa 109, apresentado de forma clara, que captou as atenções dos jurados. Em Vagos há uma casa em curva numa das principais artérias rodoviárias que se destaca pela sua imponência. O edifício, em forma curva, situa-se numa das artérias rodoviárias mais conhecidas do país: a estrada 109. A obra assumidamente horizontal, garante a devida proteção aos ventos no alpendre, enquanto certifica uma maior profundidade do logradouro no eixo da habitação. A sua forma curva consegue uma profundidade arquitetónica ímpar, garante um logradouro lateral e o desenho de uma zona verde de lazer. O piso superior eleva-se e ganha destaque na composição, num jogo de

FRARI-CASA

equilíbrio entre brancos e o corten, para garantir leveza ao volume da obra. A funcionalidade entre os espaços comuns e privados apresenta-se bem dividida e a utilização dos materiais Margres é estruturante para o projeto, pois apresenta uma coerência na sua aplicação, especialmente na ligação entre o pavimento interior e exterior. Pela sua evidente qualidade, o júri do Margres Architecture Award atribuiu ainda uma menção honrosa, ao atelier And-Ré, com a obra residencial Aguda Houses.

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Learn more! ceramitec.com/visitor April 9–12, 2024 . Messe München ceramitec.com


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to de vista energético, o que o torna no parceiro ideal para o projeto de descarbonização do Roca Group. Após quatro anos de desenvolvimento, o primeiro forno túnel elétrico para o fabrico de louça sanitária deu início, de forma bem-sucedida, à produção de peças complexas em Gmunden. A fábrica de Laufen, que já utiliza eletricidade proveniente de fontes renováveis, foi escolhida para a primeira implementação desta tecnologia pioneira por permitir, em especial, o fabrico de produtos de última geração e de alta qualidade. Esta inovação do forno elétrico foi registada pelo Instituto Europeu de Patentes. Uma vez que o forno é altamente eficiente, neutro em emissões de carbono e automatizado, proporciona uma valiosa alternativa à produção convencional que está dependente dos combustíveis fósseis, e é um marco fundamental para assegurar que, em 2024, Gmunden se torna na primeira fábrica de produção de sanitários com zero emissões do mundo. Este investimento também é fundamental para a estratégia de descarbonização do Roca Group. O Grupo encerrou 2022 com uma redução de 39% nas emissões diretas de CO2 relativamente a 2018, aproximando-se do seu objetivo SBTi (ScienceBased Targets Initiative) de neutralidade em emissões de car-

Roca

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ROCA Roca Group coloca em funcionamento o primeiro forno túnel elétrico do mundo para a produção de louça sanitária A operação realizou-se através de uma colaboração pioneira com o fabricante especializado em fornos Keramischer OFENBAU. Esta iniciativa posiciona o Roca Group como a primeira empresa do mundo com uma fábrica de produção de louça sanitária neutra em emissões de carbono, gerando um efeito em cadeia em todo o setor. O Roca Group, líder mundial em design, produção e comercialização de produtos para o espaço de banho, investe no primeiro forno túnel elétrico do mundo para produção de louça sanitária. Num esforço para descarbonizar a sua produção, intensiva em energia e carbono, a empresa deu este passo decisivo no sentido da eletrificação dos seus processos de produção na sua fábrica da Laufen, em Gmunden (Áustria), graças à tecnologia de ponta da Keramischer OFENBAU, líder tecnológico mundial no fabrico de fornos para a indústria cerâmica. O fabricante alemão de fornos conta com mais de 25 anos dedicados à inovação sustentável e é líder no mercado de fornos para a indústria eficientes do pon-

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bono até 2045. Os primeiros resultados do novo sistema mostram um grande potencial para toda a indústria, já que esta nova tecnologia não beneficiará apenas a produção de louça sanitária, como também outros setores da cerâmica, estrutural e técnica ou a louça de mesa. Este forno vem demonstrar que a descarbonização da produção cerâmica, além de ser possível, é também realista e exequível do ponto de vista económico. Albert Magrans, CEO do Roca Group, declarou: “Temos o objetivo de, a longo prazo, descarbonizar as nossas operações. Temos trabalhado intensivamente para encontrar soluções que nos ajudem a atingir esta meta. Esta nova associação pan-europeia não só nos ajuda no nosso caminho no sentido da redução das emissões para zero, como também é um claro passo em frente para a indústria no seu conjunto”. Günter Halex, presidente do Conselho Consultivo da Keramischer OFENBAU, acrescentou: “Este forno elétrico demonstra, uma vez mais, que as nossas tecnologias avançadas são adequadas para descarbonizar inclusivamente a indústria cerâmica, intensiva em emissões de CO2. Os nossos fornos de aquecimento elétrico proporcionam uma independência cada vez maior do mercado energético aos nossos clientes, permitindo uma produção sustentável e económica hoje e nas próximas décadas. Este projeto pioneiro e inovador demonstra que a nossa tecnologia pode manter a máxima qualidade nos produtos cerâmicos, enquanto contribui positivamente para preservar o nosso planeta”. Êxito europeu na produção de cerâmica descarbonizada. Com o Roca Group, com sede em Espanha, a fábrica de Laufen, na Áustria, e a Keramischer OFENBAU, na Alemanha, este projeto conjunto constitui um caso de sucesso europeu rumo a uma produção da indústria da louça sanitária preparada para o futuro global. Para continuar a impulsionar a descarbonização de toda a indústria, é necessário um desenvolvimento intensivo e uma inovação audaz. Através do Roca Group Ventures, a Roca adquiriu uma participação maioritária na Keramischer OFENBAU Holding GmbH, proprietária da Keramischer OFENBAU GmbH, e está a investir na capacidade da empresa para inovar em benefício de toda a indústria cerâmica. O Grupo assume também o compromisso de apoiar a empresa com financiamento adicional para continuar a desenvolver, implementar e comercializar esta tecnologia de vanguarda que moldará

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o futuro da indústria. Apesar de os dois negócios continuarem a ser totalmente independentes, esta colaboração reforçará, a longo prazo, as capacidades de inovação de ambas as empresas tendo em conta os respetivos objetivos de descarbonização com uma meta comum: a indústria cerâmica sustentável do futuro. SAINT-GOBAIN A Saint-Gobain Portugal aliou-se à Reynaers na “Solução Baixo Carbono” e apresenta ao mercado português uma oferta integrada: Janela Baixo Carbono, Porta de Correr Baixo Carbono e Fachada Baixo Carbono, com impacto ambiental reduzido. A parceria que junta dois importantes players, da construção e da indústria do alumínio, resulta numa combinação de vidros isolantes Climalit® Ecológico em base vidro Oraé® da Saint-Gobain com os sistemas MasterLine 8, MasterPatio e ConceptWall 50 da Reynaers Aluminium. Esta nova proposta conjunta está disponível em Janela Baixo Carbono, Porta de Correr Baixo Carbono e Fachada Baixo Carbono. A solução Climalit® Ecológico em base vidro Oraé® da Saint-Gobain caracteriza-se como um vidro baixo carbono que na sua composição apresenta 70% de vidro reciclado. Já os sistemas propostos pela ReynaersAluminium são compostos por 66% a 85% de alumínio baixo carbono certificado e alumínio reciclado, dependendo da solução. “Estamos muito satisfeitos com esta sinergia que nos permite, uma vez mais, contribuir para a sustentabilidade do setor. As soluções Baixo Carbono demonstram o quão importante é a indústria trabalhar em conjunto para disponibilizar aos projetos opções que tenham menor impacto ambiental.”, sublinha Rui Oliveira, Diretor de Operações da Saint-Gobain.

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Calendário de eventos

IMM’2024 (Interiores) Anual – Colónia (Alemanha) De 14 a 15 de Janeiro de 2024 imm-cologne.com

SALONE DEL MOBILI’2024 (Design/Tendências) Anual – Milão (Itália) De 16 a 21 de Abril de 2024 salonemilano.it

CERSAIE’2024 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Bolonha (Itália) De 23 a 27 de Setembro de 2024 cersaie.it

MAISON & OBJET’2024 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bianual – Paris (França) De 18 a 22 de Janeiro de 2024 maison-objet.com

COVERINGS’2024 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Atlanta (USA) De 22 a 25 de Abril de 2024 coverings.com/

BATIMAT’2024 (Materiais de Construção) Bienal – Paris (França) De 30 Setembro a 06 de Outubro de 2024 batimat.com

AMBIENTE’2024 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Frankfurt (Alemanha) De 26 a 30 de Janeiro de 2024 ambiente.messefrankfurt.com

TEKTONICA’2024 (Construção) Anual – Lisboa (Portugal) De 02 a 05 de Maio de 2024 https://tektonica.fil.pt/

The New York Tabletop Show´2024 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bianual – New York (EUA) De 8 a 11 de Outubro de 2024 tabletopassociationinc.com

SURFACE DESIGN SHOW’2024 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Londres (R.U.) De 6 a 8 de Fevereiro de 2024 surfacedesignshow.com/

The National Restaurant Show.com’2024 (Cerâmica Utilitária ) Anual – Chicago (USA) De 18 a 21 de Maio de 2024 nationalrestaurantshow.com

EQUIPHOTEL’2024 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bienal – Paris (França) De 03 a 07 de Novembro de 2024 equiphotel.com

CEVISAMA’2024 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – Valência (Espanha) De 26 de Fevereiro a 01 de Março de 2024 cevisama.feriavalencia.com

CONSTRUMAT’2024 (Construção) Anual – Barcelona (Espanha) De 21 a 23 de Maio de 2024 construmat.com

UNICERA ‘2024 (Materiais de Construção) Anual – Istanbul (Turquia) De 04 a 08 de Novembro de 2024 unicera.com.tr

THE INSPIRED HOME SHOW’2024 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Chicago (EUA) De 17 a 19 de Março de 2024 theinspiredhomeshow.com

THE HOTEL SHOW’2024 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Anual – Dubai (EAU) De 04 a 06 de Junho de 2024 thehotelshow.com/

LONDON BUILD ‘2024 (Materiais de Construção) Anual – Londres (UK) De 20 a 21 de Novembro de 2024 londonbuildexpo.com

EXPOREVESTIR’2024 (Ladrilhos Cerâmicos) Anual – São Paulo (Brasil) De 19 a 22 de Março de 2024 exporevestir.com.br/

NEOCON’ 2024 (Design/Tendências) Anual – Chicago (USA) De 10 a 12 de Junho de 2024 neocon.com/

BIG 5 SHOW´2024 (Materiais de Construção) Anual – Dubai (EAU) De 26 a 29 de Novembro de 2024 www.thebig5.ae/

CERAMITEC´2024 (Equipamento Ind Cerâmica) Anual – Munique (Alemanha) De 09 a 12 de Abril de 2024 ceramitec.com

3DAYSOFDESIGN ’2024 (Design/Tendências) Anual - Copenhaga (Dinamarca) De 12 a 14 de Junho de 2024 www.3daysofdesign.dk/

ARCHITECT@WORK´2024 (Materiais de Construção) Anual – Lisboa (Portugal) De 04 a 05 de Dezembro de 2024 architectatwork.pt

The New York Tabletop Show´2024 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bianual – New York (EUA) De 09 a 12 de Abril de 2024 tabletopassociationinc.com

MAISON & OBJET’2024 (Cerâmica Utilitária e Decorativa) Bianual - Paris (França) De 05 a 09 de Setembro de 2024 maison-objet.com

BAU’2025 (Materiais de Construção) Anual – Munique (Alemanha) De 13 a 18 de Janeiro de 2025 bau-muenchen.com/en/

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