Revista Kéramica n.º 396 Julho / Agosto 2025

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KÉRAMICA

revista da indústria cerâmica portuguesa

CERÂMICA & CRISTALARIA

COMPROMISSO COM ESG E COMPLIANCE

SUSTENTÁVEL

anos anos years years

Acreditada pelo IPAC como organismo de certificação de produtos (incluindo Regulamento dos Produtos de Construção), serviços e sistemas de gestão

O Editorial, em tempo de férias, leva à reflexão sobre a atual conjuntura internacional e ao seu impacto nos nossos setores e nas empresas nossas associadas. Com todos os desenvolvimentos no âmbito das tarifas de acesso ao mercado dos Estados Unidos da América (EUA), será que chegamos a um ponto de previsibilidade? Esperemos que seja a realidade, pois é o mínimo que se pode desejar nesta fase.

Num momento em que o tipo de câmbio USD/EUR já retirou quase 10% ao valor das vendas realizadas para os EUA (em USD como é para os EUA e muito generalizados para outros mercados fora da UE), comparativamente ao início de 2025, as novas tarifas serão um fator de custo adicional para os importadores. A tentação destes será a de pedirem uma redução no preço, por forma a não repercutir o aumento do custo no consumidor final. Se considerarmos que o aumento real de tarifas se situa entre os 5% e os 10% significaria, em termos grosseiros, uma desvalorização ao preço de venda real próxima dos 20% (considerando a perda cambiária, mais a eventual redução de preço de venda), caso seja aceite uma redução do preço de venda, relativamente ao início de 2025. Este é, de forma resumida, o possível impacto que as empresas nossas associadas poderão sofrer.

Como em tudo, os impactos negativos neste caso serão para todos, sendo que, alguns dos principais concorrentes terão impactos ainda superiores aos das empresas Portuguesas, deixando uma potencial vantagem competitiva a Portugal. Temos é de recordar que alguns países têm políticas protecionistas e, de subsidiação à exportação. Ou seja, há que esperar para ver ou, tomar ações mitigadoras desta situação.

Os dados de importação dos EUA revelam que, o preço médio de compra a Portugal, é cerca de 3 vezes superior ao preço médio de compra dos EUA aos nossos principais concorrentes. Posto isto, diria existir alguma vantagem competitiva por parte

das empresas associadas, já que conseguem vender a um preço superior, mesmo sem o agravamento das tarifas. Recordar o tema da edição anterior da revista Kéramica, onde se abordou o tema do “Luxo” e a necessidade de acrescentar valor ao produto por forma a obter diferenciação. É o caminho a seguir e a reforçar por parte das empresas nossas associadas.

Nesta linha a “ESG” (Ambiente, Social e Governação), temática desta edição da Kéramica, é absolutamente atual. Na realidade, falamos de um conjunto de indicadores para medir o grau de compromisso das organizações em relação aos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS).

Estes indicadores referem-se a aspetos ambientais, sociais e de governação corporativa e, surgiram no quadro dos objetivos estratégicos associados à agenda 2030 e aos ODS das Nações Unidas, tendo sido adotados como critérios para a avaliação das empresas e instituições em matéria de sustentabilidade.

No reporte de informação não financeira, as empresas podem enquadrar os seguintes tipos de informação em cada um dos pilares ESG:

Ambiente: atividades nas áreas de política e sistemas de gestão ambiental, gestão de resíduos, reutilização de matérias-primas, ou a sua substituição por materiais mais ecológicos e mais amigos do ambiente, medidas de redução da intensidade energética e das emissões de gases com efeito de estufa, gestão do consumo de água, prevenção da biodiversidade e riscos climáticos, economia circular, programas ambientais e de formação e sensibilização ambiental.

Social: Políticas de contratação e de direitos humanos, igualdade salarial, saúde e segurança no trabalho e bem-estar, medidas de aumento da diversidade e inclusão da força de trabalho, igualdade de género, qualificação de trabalhadores, medidas de conciliação entre a vida pessoal e profissional, ligação à comunidade, redes e parcerias locais, entre outras.

Governação: medidas relacionadas com valores de ética, transparência e conformidade legal, política anti-corrupção, política salarial, códigos de ética e de conduta, diversidade de género na gestão, política de compras responsáveis, códigos para fornecedores e medidas de diligência nas cadeias de abastecimento, gestão de riscos,…,etc.

Embora possa parecer que a “ESG” é algo que pode ter uma utilidade discutível, e não se entenda como mais um custo esta, é de facto uma ferramenta que permite apresentar um cartão de visita da empresa, que sirva as exigências cada vez maiores dos clientes, sobretudo no âmbito internacional.

As preocupações das grandes cadeias de distribuição e não só, em oferecer aos seus clientes produtos que cumpram com critérios de sustentabilidade, são respondidas com o reporte de “ESG”, valorizando os produtos que as empresas nossas associadas têm para oferecer ao mercado. Esse é o entendimento e a importância que se deve dar a esta ferramenta fundamental. Um elemento adicional para abrir portas além-fronteiras.

Editorial . Kéramica . p.1

Index

Editorial . 01

Destaque . 03

Responsabilidade Social e Ambiental na Indústria Cerâmica

ESG . 05

ESG e Compliance: Desafios e Oportunidades na Indústria da Cerâmica e do Vidro Compromisso com ESG e Compliance Sustentável : da obrigatoriedade ao valor estratégico Cerâmica Sustentável: Esg como Motor de Inovação e Competitividade

Empresas . 8

Compromisso ESG e Compliance sustentável

Sustentabilidade . 11

Transformação Sustentável do Setor Cerâmico em Portugal: Desafios, Inovação Tecnológica e Competitividade Internacional

Entrevista . 17

À conversa com o Eng Miguel Balboa de Sousa, Chairman of the Executive Board da CINCA.

Propriedade e Edição APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria NIF: 503904023

Direção, Administração, Redação, Publicidade e Edição Rua Coronel Veiga Simão, Edifício Lufapo Hub A - nº 40, 1º Piso 3025-307 Coimbra [t] +351 239 497 600 [f] +351 239 497 601 [e-mail] info@apicer.pt [internet] www.apicer.pt

Tiragem 500 exemplares

Diretor Jorge Costa de Jesus Vieira

Editor e Coordenação Albertina Sequeira [e-mail] keramica@apicer.pt

Conselho Editorial Albertina Sequeira, António Oliveira, Cristiana Costa Claro e Martim Chichorro

Capa Nuno Ruano

Circularidade . 23

Circularidade e valorização de resíduos: o futuro sustentável da indústria cerâmica

Compliance Sustentável . 26

A importância do compliance sustentável para assegurar que as empresas cerâmicas e de cristalaria observem as normas ambientais e sociais globais, designadamente a ISO 14001, a ISO 45001 e outras certificações de sustentabilidade

Certificação . 28

A Certificação CESGA da EFFAS: Uma Porta de Entrada para Dominar Questões ESG

Secção Jurídica . 34

O Equilíbrio entre Inovação e Responsabilidade para uma Compliance Sustentável

Notícias & Informações . 36

Novidades das Empresas Cerâmicas Portuguesas

Calendário de Eventos . 40

Colaboradores

Albertina Sequeira, Ana Gonçalves, André Alfar Rodrigues, Cristiana Costa Claro, Fátima Castanheira Geada, Filipa Pereira Silva, Joana Andrade, João Maria Botelho, Leonardo Silva, Manuel Puerta da Costa, Margarida Louro Paginação Nuno Ruano

Impressão Gráfica Almondina - Progresso e Vida; Empresa Tipográfica e Jornalística, Lda Rua da Gráfica Almondina, Zona Industrial de Torres Novas, Apartado 29 2350-909 Torres Novas [t] 249 830 130 [f] 249 830 139 [email] geral@grafica-almondina.com [internet] www.grafica-almondina.com

Distribuição Gratuita aos associados e assinatura anual (6 números); Portugal €43,00 (IVA incluído); União Europeia €60,00; Resto da Europa €75,00; Fora da Europa €90,00

Versão On-line https://issuu.com/apicer-ceramicsportugal

Notas

Proibida a reprodução total ou parcial de textos sem citar a fonte.

Os artigos assinados veiculam as posições dos seus autores.

Índice de Anunciantes

CERTIF (Verso Capa) • GOLDENERGY (Verso Contra-Capa) • INDUZIR (Contra Capa)

Conteúdos conforme o novo acordo ortográfico, salvo se os autores/colaboradores não o autorizarem

Publicação Bimestral nº 396 . Ano XLX . Julho . Agosto . 2025

Depósito legal nº 21079/88 Publicação Periódica inscrita na ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social] com o nº 122304 ISSN 0871 - 780X Estatuto Editorial disponível em http://www.apicer.pt/apicer/keramica.php

RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL NA INDÚSTRIA CERÂMICA

A indústria cerâmica é um setor essencial na economia portuguesa e global, fornecendo materiais para construção, decoração e outros segmentos industriais. No entanto, o contexto atual de emergência climática e de crescentes exigências sociais obriga o setor a repensar o seu modelo produtivo. A integração de princípios de sustentabilidade ambiental e responsabilidade social já não é opcional – é estratégica.

Sustentabilidade Ambiental: uma prioridade inadiável

Redução de emissões de CO₂

A redução das emissões de dióxido de carbono (CO₂) é um dos maiores desafios que a indústria cerâmica enfrenta na atualidade, dado que a queima de combustíveis fósseis nos fornos representa uma parte significativa da sua pegada carbónica. Esta realidade coloca uma pressão crescente sobre as empresas, não só por razões ambientais e éticas, mas também devido à evolução do enquadramento regulatório europeu.

Para responder a este desafio, a transição energética no setor torna-se imperativa. A substituição progressiva de combustíveis fósseis por fontes renováveis, como a biomassa, o hidrogénio verde ou a eletricidade de origem renovável, deve ser encarada como uma prioridade estratégica. Contudo, esta mudança exige investimentos significativos em infraestruturas, investigação e adaptação tecnológica, pelo que o acesso a incentivos públicos e mecanismos de financiamento adequados será decisivo.

Paralelamente, a melhoria da eficiência energética dos processos – por via da modernização dos fornos, da digitalização da produção e do controlo inteligente do consumo – constitui um vetor essencial para reduzir emissões e custos operacionais. Soluções como a recuperação de calor, a otimização dos ciclos térmicos e o uso de materiais

refratários mais eficientes podem gerar ganhos ambientais relevantes a curto e médio prazo.

Neste contexto, a descarbonização não é apenas um imperativo ambiental, mas também uma oportunidade de reposicionamento competitivo para a cerâmica portuguesa. As empresas que liderarem este processo estarão mais preparadas para responder às exigências dos mercados internacionais e para reforçar a sua sustentabilidade económica num cenário global cada vez mais exigente.

Uso eficiente dos recursos naturais

A extração de matérias-primas como argila, feldspatos, areias entre outras deve ser realizada com critérios de responsabilidade ambiental, incluindo planos de recuperação das áreas exploradas. Paralelamente, o aproveitamento de materiais reciclados e a conceção de produtos com menor consumo de matéria-prima contribuem para reduzir o impacto ambiental da atividade.

Gestão de resíduos e economia circular

A valorização de resíduos cerâmicos, subprodutos e efluentes permite fechar ciclos e reduzir desperdícios. A reutilização de água nos processos e o reaproveitamento de materiais internos são práticas com benefícios ambientais e económicos, reforçando a competitividade da indústria.

Inovação em processos e produtos

Investir em inovação é decisivo para tornar a cerâmica mais sustentável. O desenvolvimento de produtos com menor pegada de carbono, materiais com maior efi-

Destaque

ciência energética e soluções para a construção sustentável posicionam as empresas como líderes de um setor em transformação.

Responsabilidade Social: pessoas no centro da transformação

Condições de trabalho e direitos humanos

Um setor sustentável começa nas suas pessoas. Garantir condições de trabalho seguras e dignas é uma obrigação ética e legal, e inclui desde a prevenção de acidentes até ao combate a práticas laborais abusivas. A valorização dos trabalhadores, com salários justos, benefícios adequados e oportunidades de formação, é um investimento no futuro da indústria.

Desenvolvimento das comunidades locais

A presença da indústria cerâmica em territórios com extração de recursos naturais implica responsabilidade para com essas comunidades. Projetos sociais, apoio à educação e promoção do emprego local são formas concretas de gerar valor partilhado e reforçar a licença social para operar.

Transparência e boas práticas de governança

Cada vez mais, consumidores, investidores e reguladores exigem das empresas transparência nas suas práticas ambientais e sociais. Adotar modelos de governança responsáveis, publicar relatórios de sustentabilidade e aderir a certificações reconhecidas são passos que reforçam a credibilidade e a confiança no setor.

Consciencialização dos consumidores

O consumidor está mais atento e exigente. A indústria cerâmica deve comunicar de forma clara os benefícios dos seus produtos sustentáveis, desde a durabilidade à eficiência energética, passando pelo menor impacto ambiental. O envolvimento do cliente final é crucial para acelerar a transição do setor.

Conclusão: um caminho de futuro

A indústria cerâmica portuguesa tem uma oportunidade histórica de liderar a transição para um modelo mais sustentável e responsável. Integrar preocupações ambientais e sociais na estratégia empresarial não é apenas uma resposta aos desafios atuais, mas uma condição para a resiliência e competitividade futura. As empresas que assumirem esta agenda com ambição e consistência estarão mais bem posicionadas para enfrentar os desafios regulatórios, conquistar novos mercados e gerar valor duradouro para a sociedade.

Neste caminho de transformação, a APICER – enquanto associação representativa do setor – está comprometida em apoiar ativamente os seus associados, através de conhecimento técnico, capacitação, projetos colaborativos e representação institucional. O objetivo é claro: tornar a cerâmica portuguesa uma referência europeia e global na descarbonização industrial, promovendo simultaneamente o crescimento económico, a coesão territorial e a responsabilidade social.

ESG E COMPLIANCE: DESAFIOS E OPORTUNIDADES NA INDÚSTRIA DA CERÂMICA E DO VIDRO

A crescente adesão por parte dos consumidores a produtos que resultem de empresas que assegurem práticas de responsabilidade socio-ambiental e de ética corporativa tem impulsionado a adoção de procedimentos no âmbito de ESG (Environmental, Social and Governance) e por implementação de processos de compliance em organizações de todos os setores de atividade. Este artigo de opinião analisa os principais desafios enfrentados pelas empresas

no setor da indústria da cerâmica e do vidro na implementação desses procedimentos, bem como as oportunidades estratégicas que emergem desse processo. A integração eficaz de ESG e compliance não apenas fortalece a reputação institucional, mas também promove a inovação, a eficiência e o acesso mais facilitado a financiamento sustentável.

1. Introdução

Nos últimos anos, os critérios ESG e os programas de compliance passaram a ocupar um papel central nas estratégias corporativas, não só nas organizações multinacionais, mas também nas empresas que se articulam e interagem com os processos produtivos dessas organizações. Pressões regulatórias, exigências de investidores e expectativas sociais têm levado empresas a repensarem os seus modelos de negócio, incorporando práticas sustentáveis, éticas e transparentes.

2. Desafios na Implementação

Na indústria do vidro, o país produz, em média, cerca de 1,6 milhões de toneladas de vidro por ano, entre embalagens e produtos de cristalaria. Este volume corresponde a aproximadamente 3,1 a 3,5 mil milhões de embalagens e peças de vidro anualmente. Incorpora no seu processo de fabrico cerca de 700 a 750 mil toneladas de casco de vidro reciclado – recolhido em ecopontos e outras fontes, tanto nacionais como estrangeiras.

A incorporação deste “casco” permite evitar entre 250.000 a 255.000 toneladas de emissões de CO₂ por ano, em comparação com o uso exclusivo de matérias-primas virgens. Além disso, consegue-se uma poupança de cerca de 590 GWh de energia por ano. Essa energia poupada seria suficiente para abastecer todas as habitações da cidade de Lisboa durante 8 a 9 meses. Esta analogia permite evidenciar a importância das “boas práticas” sustentáveis.

Naturalmente, que neste contexto o assunto ESG é muito relevante para a indústria, quer no que concerne às emissões de CO2, quer relativamente à utilização da água, bem como na forma como os colaboradores são articulados com o negócio e também do ponto de vista organizacional, já que algumas empresas são de génese familiar e a governação das mesmas ainda traduz essa sua estrutura inicial, com uma centralização absoluta do poder e da tomada de decisões num único representante da organização, simultaneamente accionista ou sócio e gestor.

Quais os aspetos que se podem afigurar como mais desafiadores na implementação de boas práticas neste contexto industrial? De seguida iremos enunciar os mais significativos:

2.1. Capacitação e cultura organizacional

A ausência de conhecimento técnico e a resistência à mudança dificultam a internalização dos princípios ESG e de compliance, especialmente em empresas com estruturas tradicionais e de génese familiar.

Ambiental

A adoção de práticas sustentáveis pode exigir investimentos iniciais significativos, além de adaptações em processos, tecnologias e cadeias de suprimento.

Estes dois fatores podem levar a considerar que os gastos efetuados são “custos” e não investimentos com retorno de médio e longo prazo apreciáveis.

2.2. Riscos de superficialidade (greenwashing)

Sem uma abordagem genuína e integrada, há o risco de iniciativas ESG serem percebidas como meramente cosméticas, comprometendo a credibilidade da organização.

A diversidade de normas e exigências legais em diferentes jurisdições torna o compliance um desafio contínuo, especialmente para empresas com atuação global.

3. Oportunidades Estratégicas

3.1. Acesso a capital e investidores conscientes

Empresas com práticas ESG consolidadas têm maior facilidade de atrair investimentos, especialmente por meio de fundos sustentáveis e green bonds.

A transparência e o compromisso com valores éticos fortalecem a imagem institucional e a fidelização de clientes e consistem numa vantagem competitiva e reputacional inegável.

A busca por soluções sustentáveis estimula a inovação e pode gerar ganhos operacionais, como redução de desperdícios e consumo energético.

3.2. Retenção de talentos e Compromisso de colaboradores

Profissionais, especialmente das novas gerações, valorizam empresas com propósito e responsabilidade social, o que favorece a atração e retenção de talentos.

4. O Contexto ESG na Indústria

As indústrias da cerâmica e do vidro são conhecidas pelo elevado consumo energético, uso intensivo de matérias-primas minerais e emissões significativas de CO₂. A transição para modelos de produção mais sustentáveis é, portanto, uma exigência urgente, impulsionada por regulamentações europeias, metas climáticas e expectativas de investidores e consumidores.

O Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro (CTCV) tem desempenhado um papel fundamental nesse processo, apoiando empresas na adoção de práticas mais sustentáveis, como o uso de energias renováveis, eco-design e reaproveitamento de resíduos industriais.

5. Desafios Ambientais: Descarbonização e Eficiência Energética

A descarbonização é um dos maiores desafios. Cerca de 80% da energia consumida nestes setores provém de combustíveis fósseis, o que contribui significativamente para as emissões de gases com efeito de estufa. Os processos de cozedura e fusão, que exigem temperaturas elevadas, são os principais responsáveis por essas emissões.

Entre as soluções em curso destacam-se: eletrificação de fornos e secadores; recuperação de calor dos processos térmicos; isolamento térmico de equipamentos; instalação de sistemas fotovoltaicos; utilização de matérias-primas alternativas, como subprodutos de outras indústrias.

6. Desafios Sociais: Trabalho, Segurança e Comunidade

No pilar social do ESG, os desafios incluem: segurança e saúde ocupacional, especialmente em ambientes de alta temperatura; formação contínua dos trabalhadores para lidar com novas tecnologias; inclusão e diversidade nas equipas; relacionamento com comunidades locais, especialmente em regiões onde a extração de matérias-primas pode gerar impactos ambientais e sociais.

7. Desafios de Governança: Compliance e Transparência

A governanção corporativa é essencial para garantir que as práticas ESG sejam efetivamente implementadas. Isso inclui: sistemas de compliance robustos, com políticas claras de ética, anticorrupção e conformidade regulatória; transparência na comunicação com stakeholders; auditorias internas e externas; integração de critérios ESG na tomada de decisão.

A adoção de relatórios de sustentabilidade alinhados com padrões como GRI (Global Reporting Initiative) ou ESRS (European Sustainability Reporting Standards) é cada vez mais comum e valorizada por investidores e parceiros comerciais.

8. Oportunidades de Inovação e Competitividade

Apesar dos desafios, o ESG abre portas para oportunidades significativas: acesso a financiamento verde e incentivos públicos; diferenciação no mercado, com produtos sustentáveis e certificados; redução de custos operacionais com eficiência energética; melhoria da reputação corporativa e fidelização de clientes.

Empresas que lideram essa transformação estão a posicionar-se como referências no setor, como demonstram os projetos apoiados pelo CTCV e iniciativas como o uso de secagem por micro-ondas e “flash sintering”, que prometem revolucionar os processos industriais.

9. Caminhos para o Futuro

Para que a transição ESG seja bem-sucedida, é necessário: investimento em I&D e parcerias com centros tecnológicos; capacitação de recursos humanos; planeamento estratégico de longo prazo, com metas claras e mensuráveis; engajamento de toda a cadeia de valor, desde fornecedores até consumidores.

A indústria da cerâmica e do vidro, apesar de tradicional, tem demonstrado capacidade de adaptação e inovação. A integração de ESG e compliance não é apenas uma exigência regulatória, mas uma oportunidade estratégica para garantir a resiliência, competitividade e sustentabilidade do setor no século XXI.

A integração de ESG e compliance representa um caminho inevitável para organizações que desejam se manter relevantes e resilientes em um cenário global em contínua transformação. Apesar dos desafios, as oportunidades são amplas e estratégicas, exigindo uma abordagem sistémica, colaborativa e orientada por valores e sempre integrada numa visão integrada na missão da empresa e numa ótica de melhoria contínua e de investimento com retorno de médio e longo prazo.

Imagem por Nuno Correia

Empresas

COMPROMISSO COM ESG E COMPLIANCE SUSTENTÁVEL

Num mercado empresarial cada vez mais competitivo e saturado de informação, impulsionado por tecnologias emergentes como a inteligência artificial, torna-se essencial que as organizações adotem práticas que assegurem clareza, direção e responsabilidade na forma como comunicam o impacto das suas atividades. Neste cenário, é fundamental recorrer a instrumentos que introduzam intencionalidade na avaliação do desempenho: o relatório ESG (Environmental, Social and Governance) surge, assim, como uma ferramenta estruturante nesse compromisso.

Foi com esta visão que o Grupo COSTA NOVA Indústria decidiu antecipar-se às exigências regulamentares e aperfeiçoar a sua abordagem às questões ESG, aprofundando um percurso já consolidado de compromisso autêntico com a sustentabilidade. Esta decisão resulta da convicção de que, num tempo em que os efeitos das alterações climáticas e as desigualdades sociais se tornam cada vez mais evidentes, o papel das empresas deve estender-se além da conformidade legal.

Neste enquadramento, assumimos a responsabilidade de investir em soluções que reduzam de forma efetiva o nosso impacto ambiental, promovendo práticas produtivas mais conscientes, eficientes e duradouras; paralelamente, valorizamos de forma consistente a dimensão social e a qualidade da governação, integrando esses princípios nos processos de decisão e na gestão diária das empresas do Grupo, com o objetivo de gerar valor sustentável e, sobretudo, partilhado.

Para o Grupo COSTA NOVA Indústria, o relatório ESG – ou relatório de sustentabilidade, como lhe chamamos – representa uma consequência natural desta visão e uma materialização estruturada das práticas já enraizadas na nossa cultura corporativa. É um documento credível e tecnicamente fundamentado, que reflete o alinhamento do Grupo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, reconhecidos como referência internacional para aferir o desempenho ambiental, social e de governação das organizações.

por Leonardo Silva, Controlo de Gestão
Costa Nova

Ao organizar e apresentar o nosso desempenho com base nestes três eixos, somos capazes de transformar dados complexos em informação objetiva e quantificável. Esta abordagem reforça a transparência e permite demonstrar o compromisso que assumimos enquanto empresa. Tal compromisso é sustentado por métricas concretas – as ODS – definidas por uma análise rigorosa da evolução anual, assegurando uma comunicação consistente com colaboradores, clientes, investidores e restantes parceiros estratégicos.

Para além de reforçar e legitimar os valores de sustentabilidade que orientam a nossa atuação, o relatório ESG constitui também uma ferramenta estratégica na construção de confiança junto dos nossos interlocutores institucionais. Ao disponibilizar informação alinhada com os principais referenciais internacionais, reforçamos a nossa posição no mercado e criamos condições para consolidar relações de longo prazo. A transparência assume hoje um papel diferenciador nas decisões de financiamento,

sendo cada vez mais valorizada por investidores, entidades reguladoras e instituições bancárias. Esta clareza facilita o desenvolvimento de parcerias com organizações alinhadas com os mesmos princípios de responsabilidade ambiental, social e ética, potenciando sinergias sustentáveis e gerando valor mútuo.

Simultaneamente, o relatório ESG responde às crescentes exigências de um consumidor mais informado, crítico e empenhado na transição para um modelo económico mais sustentável. Este novo perfil de consumidor privilegia empresas que comunicam com autenticidade, sustentam as suas ações em dados e rejeitam práticas de greenwashing, frequentemente utilizadas para camuflar impactos negativos. Ao garantir uma comunicação baseada em indicadores auditáveis e padrões reconhecidos, posicionamo-nos de forma diferenciadora num mercado onde a integridade da informação se tornou um critério essencial de escolha. Esta transparência reforça a confiança e promove a fidelização dos consumidores ao longo do tempo.

Empresas

Num contexto em que as decisões de consumo são cada vez mais influenciadas por critérios de responsabilidade ambiental e social, comunicar de forma honesta é imperativo. Através da partilha de dados, ações comprovadas e resultados quantitativos, respondemos às expectativas de um consumidor exigente, que valoriza a coerência entre o discurso e a prática efetiva.

Este processo tem igualmente um impacto interno significativo: a integração dos princípios ESG na estratégia e na gestão operacional contribui para o alinhamento entre todas as partes envolvidas na atividade da nossa empresa. Desde os colaboradores às equipas de liderança, passando pelos fornecedores e parceiros de negócio, todos são chamados a partilhar os mesmos valores e padrões de atuação. Esta coesão é determinante para garantir a credibilidade do nosso posicionamento e para assegurar que os compromissos assumidos se refletem em toda a cadeia de valor.

A importância do ESG para a indústria cerâmica e para a melhoria contínua

O setor da cerâmica, onde o nosso Grupo tem o seu core business, tem um grande impacto ambiental e uma grande necessidade de mão de obra humana, e por isso, deve atribuir ao reporting ESG especial atenção, já que esta prática pode ajudar a identificar possíveis melhorias em processos de várias áreas.

No nosso caso, o ESG envolve uma organização e colaboração entre vários departamentos da nossa organização que, conforme analisam os seus próprios dados para esta finalidade, identificam oportunidades sobre as quais podem atuar para melhorar os seus próprios processos específicos.

O que reserva o futuro

Iniciar o processo de reporting ESG tem representado um trabalho importante para o Grupo COSTA NOVA Indústria, trazendo benefícios diversos. No entanto, mais do que um exercício isolado, reconhecemos que se trata de um trabalho contínuo, com impacto transversal na organização e com um papel determinante na melhoria contínua em múltiplas dimensões.

Entre os principais objetivos internos está o reforço da formação e sensibilização dos nossos colaboradores para as temáticas ESG, de forma cada vez mais estruturada, sistemática e recorrente; paralelamente, procuramos desenvolver diagnósticos e análises de benchmarking que nos permitam avaliar de forma rigorosa a nossa posição atual face a estes indicadores.

Ainda assim, o nosso grande foco neste momento é a obtenção da certificação B Corp, que representa um reconhecimento internacional do nosso compromisso com os mais elevados padrões de desempenho social, ambiental, transparência e responsabilidade.

TRANSFORMAÇÃO SUSTENTÁVEL DO SETOR CERÂMICO EM PORTUGAL: DESAFIOS, INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL

1. Introdução

A indústria cerâmica portuguesa atravessa um momento decisivo de transformação rumo à sustentabilidade, impulsionada pelas exigências ambientais globais e pela necessidade de reforçar a competitividade internacional. Tradicionalmente intensivo em energia e recursos naturais, o setor enfrenta agora metas ambiciosas de descarbonização alinhadas com os objetivos europeus de neutralidade carbónica para 2050. Este pequeno artigo propõe uma análise do panorama atual da cerâmica em Portugal

(tendo em conta as dimensões económicas, ambientais e de inovação) – bem como dos desafios e oportunidades que emergem neste processo de transição sustentável.

2. Retrato e Pegada

O setor integra mais de 1.139 empresas e cerca de 18.000 trabalhadores. Exporta para mercados exigentes e posiciona Portugal como 13.º exportador mundial. A marca “Portugal Ceramics – The Art of Possibility” acelerou a internacionalização e ajudou a atingir mais de 887 milhões de euros em exportações em 2023. Energeticamente, o setor depende do gás natural, que cobre perto de 80% da energia usada em fornos e secadores. As instalações no EU ETS emitiram em 2023 cerca de 324 mil toneladas de CO₂ equivalente. Os fornos concentram 70 a 90% das emissões diretas. A decomposição térmica das matérias-primas pode acrescentar até 30%. As emissões indiretas ligadas à eletricidade da rede representam mais 10 a 20%. A transição para energia limpa e eficiência é, por isso, condição técnica e económica para competir.

3. Regulação, preço do carbono e mercados

O Pacto Ecológico Europeu e o pacote “Fit for 55” apertam o sinal de preços do carbono e reduzem a alocação gratuita de licenças. Em Portugal, a Lei de Bases do Clima, o RNC2050 e o PNEC 2030 ancoram metas industriais. A agenda pública já inclui um plano setorial para cerâmica e vidro, com o INEGI, e instrumentos financeiros do PRR e do Compete 2020/2030 para projetos de eficiência, energias limpas e I&D.

As cadeias de distribuição e os compradores institucionais passaram a valorizar desempenho ESG verificável. A CSRD impõe a muitas empresas reporte de sustentabilidade com métricas auditáveis. Quem reduzir intensidade carbónica, melhorar governação e demonstrar

João Maria Botelho

Sustentabilidade

performance ambiental ganha acesso a financiamento mais competitivo e a mercados premium.

4. Vetores tecnológicos de descarbonização

A descarbonização em cerâmica não se faz por uma única via. Exige eficiência energética profunda, eletrificação sempre que tecnicamente viável, gases renováveis e captura e utilização de CO₂ quando necessário.A eficiência energética oferece retornos rápidos. O Manual de Eficiência Energética e Carbónica da APICER e CTCV lista intervenções de baixo risco: melhor isolamento de fornos e condutas, recuperação de calor de exaustão, otimização de queimadores e controlo avançado. O isolamento adequado de condutas reduz perdas em ordem de grandeza e melhora a estabilidade térmica de processo.

A eletricidade renovável em autoconsumo é subaproveitada. Em 2021 o autoconsumo médio ficava abaixo de 0,9%, longe de um potencial técnico muito superior. Várias unidades já instalaram fotovoltaico. Programas com operadores como a Helexia abastecem fábricas e geraram mais de 21 GWh, evitando cerca de 9.800 toneladas de CO₂. A subida do autoconsumo para patamares em torno de 20% reduz exposição a volatilidade e alivia custos unitários.

O hidrogénio verde mostra viabilidade técnica em cozedura. Em 2024, a Grestel realizou a primeira cozedura de utilitários com mistura 50% H₂ num forno industrial, com resultados de qualidade próximos do padrão e ajustes finos em vidrados. Em 2025, a Ria Stone testou a conversão de um forno túnel para hidrogénio, em parceria com o CTCV, no âmbito da Agenda Mobilizadora “Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal”. Estes passos validam a transição técnica. A adoção massiva dependerá da disponibilidade, preço e logística do H₂ e da adaptação segura dos queimas e controlo de atmosfera.

O biometano, quando disponível com garantias de origem, reduz emissões de ciclo de vida sem alterações profundas em infraestrutura. Soluções de recuperação de calor com ciclos ORC ou permutadores para pré-aquecimento de matérias e ar de combustão reforçam ganhos. A captura e utilização de CO₂ poderá ter lugar em subsetores com gases de exaustão concentrados, desde que o balanço energético feche e existam saídas comerciais para o CO₂.

5. Circularidade e digitalização

A economia circular reduz custos e dependência de matérias virgens. O projeto Ecogres 4.0, da Grestel

com a Universidade de Aveiro, criou uma pasta com mais de 95% de resíduos e subprodutos internos e externos, produzindo grés utilitário de elevada qualidade e desviando fluxos de aterro. A replicação exige caracterização reológica rigorosa, controlo de contaminantes e consistência de fornecimento.

A digitalização é uma catalisadora transversal. Sensores, SCADA e analítica em tempo real permitem controlar perfis térmicos, consumo específico e qualidade, com manutenção preditiva e menor desperdício. A impressão 3D e as tecnologias aditivas já suportam prototipagem, design complexo e produção de pequenas séries, abrindo espaço a diferenciação de produto.

6. Atores e Governação ESG

A transição avança por coordenação setorial. A APICER tem liderado roteiros, normalização e diálogo com Governo e UE, incluindo a Cerame-Unie. O CTCV assegura ensaios, metrologia, segurança de processo e

Imagem por Nuno Correia

Sustentabilidade

desmaterialização de risco tecnológico. Universidades e institutos reforçam materiais, combustão e automação, formando perfis críticos: engenheiros de materiais, especialistas de energia, data scientists e técnicos de qualidade.

As empresas estão a profissionalizar a governação nos domínios ESG. Multiplicam-se certificações ISO 14001 e ISO 50001, relatórios com métricas de intensidade de CO₂ por tonelada, taxas de reutilização de água e valorização de resíduos, bem como planos de segurança e formação. Os conselhos integram objetivos ESG e ligam remuneração variável a metas de eficiência, qualidade e clima. Bancos e fundos passam a condicionar custo de capital a esses mesmos resultados.

7. Conclusões

A transformação sustentável do setor cerâmico português não é um feito “trivial” envolve reimaginar processos centenários sob uma nova lente tecnológica e ecológica, porém, os avanços já alcançados e em curso indicam um caminho promissor. Ao longo desta exposição, verificámos que o setor, apesar de dependente de energia fóssil e exposto a pressões competitivas, mobilizou-se nos últimos anos para encarar os desafios da descarbonização e da inovação, com resultados tangíveis. Por meio de projetos colaborativos impulsionados por associações como a APICER e apoios do PRR/Compete, a indústria cerâmica experimentou combustíveis limpos (biometano, hidrogénio) com sucesso técnico comprovado, integrou energias renováveis e eficiência nas fábricas (aumento do solar, recuperação de calor) e desenvolveu produtos mais sustentáveis (caso paradigmático das pastas cerâmicas de resíduos). Essas iniciativas, além de reduzirem emissões e impactos ambientais, servem de vitrine internacional de competência tecnológica, elevando o perfil de Portugal num mercado global atento à sustentabilidade.

Os desafios persistem, naturalmente. A massificação de algumas soluções, como a substituição ampla de gás por hidrogénio verde – dependerá de fatores externos (disponibilidade e preço competitivo do hidrogénio, infraestruturas de rede) e poderá levar mais uma ou duas décadas a concretizar. Durante esse intervalo, será fundamental uma gestão estratégica que combata riscos de curto prazo (como custos de transição, necessidade de financiamento e potencial perda de competitividade temporária) sem perder de vista os benefícios de longo prazo. A colaboração entre governo e indústria deverá assegurar que o ritmo das imposições ambientais é equilibrado

com mecanismos de apoio, evitando a deslocalização de empresas ou o encerramento de unidades incapazes de investir. Afinal, uma transição sustentável bem-sucedida deve ser também justa e inclusiva. Felizmente, as políticas nacionais recentes indicam essa preocupação, apoiando financeiramente a mudança e envolvendo os atores setoriais na definição de roteiros exequíveis.

No âmbito das políticas públicas, conclui-se que um mix de abordagens é necessário: regulação inteligente (diretrizes claras de redução de emissões, mas com flexibilidade para caminhos tecnológicos diferentes), incentivos económicos e fiscais, investimento em I&D e capacitação profissional, e iniciativas de diplomacia comercial para valorizar os produtos de menor pegada. Do lado das empresas, a incorporação profunda de critérios ESG na tomada de decisão e na cultura organizacional será determinante – empresas que vejam a sustentabilidade não apenas como cumprimento legal, mas como parte do seu ADN corporativo, tendem a liderar este novo paradigma. O setor cerâmico, pela sua heterogeneidade (desde grandes grupos exportadores a pequenas olarias regionais), exigirá soluções à medida e partilha de conhecimentos dos líderes para os seguidores, para que ninguém fique para trás.

Em suma, a transformação sustentável da cerâmica portuguesa já está em marcha e configura-se como um percurso irreversível.

Os casos práticos analisados demonstram que é possível reduzir emissões, manter (ou até aumentar) produtividade e criar valor a partir da inovação verde – contrariando a ideia de que sustentabilidade é sinónimo de encargo. Pelo contrário, para a cerâmica nacional, tornar-se sustentável é condição para continuar a prosperar no século XXI: significa acesso a energia mais barata e limpa, conformidade com os mercados de destino, maior eficiência e qualidade, e uma marca distintiva no contexto internacional. Nas palavras de um dos protagonistas do setor, “mostrámos que é possível aliar a tradição industrial às exigências da transição energética” essa síntese entre herança e modernidade poderá muito bem ser o fator que permitirá à cerâmica portuguesa não só enfrentar os desafios ambientais, mas também brilhar como referência mundial de competitividade responsável. Com o compromisso contínuo de todos os atores, a visão de um setor cerâmico neutro em carbono, inovador e competitivo globalmente deixa de ser utópica para se tornar uma meta alcançável nas próximas décadas, solidificando a perenidade de uma indústria que é ao mesmo tempo orgulho do passado e promessa de futuro sustentável para Portugal.

COMPROMISSO ESG E COMPLIANCE

SUSTENTÁVEL: DA OBRIGATORIEDADE AO VALOR ESTRATÉGICO

A indústria da cerâmica, marcada não só por um consumo intensivo de energia, mas também de outros recursos naturais e água, encontra-se numa posição preponderante para liderar a transformação rumo à sustentabilidade.

As crescentes exigências regulamentares impostas pela União Europeia (UE), como a Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativa (CSRD), impõem um novo ritmo de mudança. No entanto, o verdadeiro desafio – e

oportunidade! – está em reconhecer que a adoção de práticas ambientais, sociais e de governação (ESG) responsáveis deve ser encarada não apenas como uma obrigação legal, mas como uma vantagem competitiva, um fator de acesso a mercados e um pilar de resiliência.

Sustentabilidade Regulada:

CSRD e pacote OMNIBUS

A CSRD, publicada em 2022, continua a representar um dos quadros normativos mais ambiciosos em matéria de sustentabilidade, na União Europeia. Iniciou a sua aplicação em 2024, substituindo a NFRD (Non-Financial Reporting Directive) e alargando o seu âmbito de aplicação a mais empresas, incluindo indústria que até então estava fora destas obrigações. A CSRD veio também introduzir as Normas Europeias de Reporte de Sustentabilidade (ESRS) e o conceito de dupla materialidade, exigindo que as empresas reportem não só os impactos da sua atividade no ambiente e na sociedade, mas também os riscos e oportunidades que os fatores ESG representam para o seu desempenho financeiro. Desta forma as empresas deverão reportar quer os impactos, positivos e negativos, sobre o ambiente e a sociedade, resultantes da sua atividade, quer os riscos e oportunidades que os fatores ESG representam para o seu negócio e desempenho financeiro.

Para o setor cerâmico, isso significa reportar, entre outros, os consumos energéticos, emissões de gases com efeito de estufa (GEE), utilização de água, origem das matérias-primas, condições laborais ao longo da cadeia

Joana
Andrade

de valor e impactos nas comunidades locais. Esta nova exigência de transparência implica a implementação de sistemas robustos de recolha e validação de dados, com envolvimento transversal, desde a produção à gestão de topo.

Apesar disto, em fevereiro deste ano, o enquadramento da CSRD, e de outras Diretivas, foi revisto, estando em discussão uma alteração aos critérios de aplicabilidade e pontos de reporte, pelo apelidado pacote OMNIBUS. Dentro das várias propostas de alteração, está já em vigor o alargamento dos prazos para implementação obrigatória, para a maioria das empresas abrangidas, pela apelidada Diretiva “Stop the clock”. Em discussão, continua o aumento do limiar de obrigatoriedade de reporte, potencialmente excluindo todas as empresas com menos de 1000 trabalhadores, eliminação das normas setoriais e redução significativa dos dados a reportar (data-points). Segundo a UE, estas alterações têm o objetivo ajustar o ritmo e a escala de implementação, garantindo proporcionalidade e clareza operacional às empresas, sem comprometer a ambição do quadro regulatório.

Ainda assim, e apesar das exigências da CSRD, é esperada uma curva de aprendizagem. A própria Comissão Europeia reconhece que o primeiro ciclo de reporte é exigente e poderá conter lacunas e aspetos a melhorar. O importante é que seja iniciado o caminho da transição sustentável, que sejam assumidos compromissos claros e que se construam processos internos consistentes.

Neste contexto, a Comissão publicou em julho de 2025 a recomendação oficial para adoção da norma voluntária de reporte de sustentabilidade para PME (VSME). Desenvolvida pelo EFRAG, esta norma oferece uma forma simples e proporcional, alinhado com os ESRS, pensado para as PME não abrangidas diretamente pela CSRD mas que atuam como fornecedoras de grandes empresas ou pretendem aceder a financiamento sustentável.

Assim, este período representa uma janela estratégica para o setor cerâmico: tempo para estruturar os sistemas de recolha e reporte, capacitar equipas e transformar a sustentabilidade num motor de inovação, reputação e criação de valor.

Para além da conformidade: pilar de competitividade

A adoção de práticas de sustentabilidade não deve ser encarada apenas como uma imposição legal, mas como uma decisão estratégica de futuro. Empresas que integram a sustentabilidade no seu modelo de negócio,

tendem a ser mais resilientes, inovadoras e atrativas quer para clientes, investidores e talento.

Alguns exemplos de práticas ESG podem passar por promover: (i) a eficiência energética e a transição para fontes renováveis, reduzindo não só custos, mas também a pegada de carbono e, consequentemente, o risco de exposição a restrições legais de emissão; (ii) gestão circular de resíduos e subprodutos, através da criação de novos modelos de design e fabrico bem como novos fluxos de valor a partir de subprodutos; (iii) iniciativas sociais, como a promoção e valorização do trabalho local, carreira, condições de trabalho seguras e de igualdade de tratamento e de oportunidades para todos, contribuindo para a estabilidade e atratividade da própria mão de obra; (iv) Governação ética e transparente, mitigando os riscos de compliance, assegurando práticas anticorrupção e suborno e fortalecendo a confiança de parceiros de negócio e consumidores.

Quando bem implementadas e integradas, as práticas ESG permitem:

• Redução de custos operacionais, ao reduzir consumos de energia e outros recursos.

• Acesso facilitado a financiamento mais atrativo, através de instrumentos de financiamento, publico e privado que valorizam critérios ESG.

• Diferenciação junto de clientes, que privilegiam fornecedores com desempenho sustentável comprovado.

• Atração e retenção de talento, especialmente entre as gerações mais jovens.

• Resiliência face a riscos climáticos, regulatórios e reputacionais, incluindo os associados ao greenwashing

Para além da atuação na atividade própria, também o envolvimento e prova de cadeias de valor sustentáveis, começa a mostrar-se critério de acesso a mercados, dificultando cada vez mais o acesso a empresas que não consigam demonstrar o seu compromisso ESG e assim reduzindo a sua competitividade. Para muitos produtores cerâmicos, isto pode significar que, mesmo que não sejam ainda abrangidos diretamente pela CSRD, deverão estar preparados para reportar indicadores ESG aos seus clientes.

Assim, pensar em adotar desde já praticas ESG e reportá-las de forma estruturada, mesmo que voluntariamente e de forma simplificada, pode representar um passo decisivo para a competitividade das empresas. Ao fazê-lo, as empresas não só estão a recolher e organizar a

sua informação, como têm a capacidade de construir uma narrativa coerente e auditável, estabelecendo uma base sólida para responder às exigências futuras e posicionar-se como parceira de confiança.

Na indústria cerâmica, a sustentabilidade e o ESG não devem ser vistos como “mais uma obrigação”. Devem ser encarados como promotores de modernização, competitividade e diferenciação. Para a cerâmica portuguesa, setor exportador, de forte presença internacional e grande intensidade energética, esta transição pode ser encarada como uma oportunidade para reforçar o seu posicionamento nos mercados globais.

Agir hoje, de forma estruturada, é preparar um futuro onde a excelência ambiental, social e de governação deixará de ser um fator diferenciador, passando a parte inseparável da própria viabilidade económica das empresas.

Num contexto europeu cada vez mais exigente e regulado, preparar-se já não é uma escolha, mas sim uma condição para a competitividade. Mas, mais do que isso, é uma oportunidade para liderar com visão e responsabilidade o caminho para uma indústria mais inovadora, resiliente e sustentável.

Imagem por
Nuno
Correia

À CONVERSA COM MIGUEL BALBOA DE SOUSA,

Percurso e Visão do Setor

Kéramica – Para começar, gostaríamos que partilhasse um pouco do seu percurso profissional. O que o conduziu ao setor cerâmico? E como compara esta indústria com outras nas quais já exerceu funções?

Miguel Balboa de Sousa – Antes de mais, agradeço o convite para esta entrevista.

O meu percurso profissional não esteve originalmente ligado à indústria cerâmica. Sou licenciado em Engenharia Mecânica pela Universidade de Coimbra e, desde a conclusão da minha formação académica, desenvolvi a minha carreira maioritariamente na indústria automóvel. Durante cerca de 30 anos, fui crescendo e adquirindo competências em diversas áreas, nomeada-

mente produção, marketing, desenvolvimento de negócio e direcção geral. Há cerca de 9 meses abracei o desafio de integrar a indústria cerâmica, motivado não só pela curiosidade, mas essencialmente pela vontade de aplicar, em novos contextos, a experiência adquirida. Acredito que a evolução profissional aguça não só a capacidade, mas também a vontade de sair da zona de conforto. Enfrentar novas realidades torna-se, com o tempo, um motor natural de desenvolvimento. Sair da rotina, pensar de forma transversal, cruzar experiências e aplicar o know-how adquirido numa indústria e contexto totalmente diferentes é, muitas vezes, aquilo que permite gerar verdadeiro valor. Se permanecermos demasiado tempo no mesmo sector, corremos o risco de ficar condicionados a formas de pensar já estabelecidas, formatadas. Mudar de indústria permite trazer um pensamento “fora da caixa” que pode ser muito enriquecedor. Para mim, a indústria cerâmica representa precisamente esse salto: para um sector com desafios muito próprios, tecnicamente exigente, que me tem cativado profundamente –não só pela complexidade dos processos produtivos, mas também pelo valor acrescentado que resulta da fusão entre tecnologia, design, inovação e, em muitos casos, com uma verdadeira componente artística.

Tendo trabalhado em sectores onde o rigor técnico e a excelência operacional são inegociáveis – como é o caso da indústria automóvel, em que a segurança do utilizador dita padrões de qualidade extremamente elevados – reconheço, na cerâmica, um nível de exigência comparável. Aqui, a precisão, o controlo de qualidade e

Miguel Balboa de Sousa

a atenção ao detalhe são igualmente fundamentais, nomeadamente para garantir a compatibilidade com os requisitos técnicos da arquitetura moderna, a durabilidade das soluções e o cumprimento de especificações frequentemente rigorosas, sobretudo em projectos de autor. Tal como no sector automóvel, também na indústria cerâmica a excelência técnica é um pré-requisito – não uma opção. Garantir essa excelência implica manter o equilíbrio (instável, diria mesmo, falando como engenheiro –um sistema em que qualquer pequena perturbação exige uma acção imediata de correção) entre a inovação (sem comprometer a identidade), a qualidade, a rentabilidade e a sustentabilidade. É precisamente nesse tipo de ambiente, onde coexistem rigor, criatividade e complexidade, que me sinto verdadeiramente realizado.

A indústria cerâmica tem-se revelado profundamente enriquecedora, do ponto de vista técnico e estratégico. É um desafio que encaro com entusiasmo e empenho, procurando contribuir diariamente com o melhor da minha experiência, com espírito de colaboração, humildade e total dedicação.

Cinca: História e Evolução

Kéramica – A CINCA é uma empresa com uma história notável, operando desde 1967 – mais de seis décadas de atividade. Poderia destacar os marcos mais relevantes da sua fundação e a visão dos seus fundadores?

Miguel Balboa de Sousa – Tem toda a razão, excepto no que respeita à data de início das operações. A CINCA foi fundada em 1964 e iniciou a sua laboração em 1965, cerca de um ano depois – um feito absolutamente extraordinário para a época. Este rápido arranque só foi possível graças a um incrível esforço de planeamento, um pensamento analítico apurado e a uma invulgar capacidade de trabalho. Todo esse processo é um marco histórico que (arriscaria dizer) é praticamente único na indústria portuguesa. Desde o primeiro metro quadrado produzido, a empresa revelou uma visão clara de internacionalização, afirmando-se, desde sempre, como uma entidade fortemente exportadora.

É precisamente esta história inspiradora, idealizada pelo fundador Dr. Joaquim Barros, que nos levou, na atual Administração, a avançar com o projeto de elaboração de uma monografia sobre o legado da CINCA.

Estou há nove meses nesta empresa, como tive oportunidade de referir. No âmbito das comemorações do 60.º aniversário, encetámos a tarefa de reconstrução da história desta casa. Mergulhámos nos arquivos, con-

sultámos atas, falámos com a família fundadora, investigámos fontes documentais… e ficámos absolutamente deslumbrados com este notável percurso. Com uma visão tão à frente do seu tempo! As inovações, as decisões estratégicas – como o facto de a CINCA ter sido a segunda empresa portuguesa cotada em bolsa, ou a forma como enfrentou tempos de conflito com resiliência e visão –deixaram-nos verdadeiramente impressionados com a dimensão histórica desta organização.

Sentimos, com plena convicção, que temos o dever de homenagear esta herança. Este projeto visa precisamente assegurar que toda esta riqueza histórica não se extinga na memória daqueles que a viveram mais de perto. A monografia encontra-se já em fase bastante avançada e a sua apresentação está prevista para o último trimestre do ano corrente, representando o corolário de um conjunto de iniciativas destinadas a assinalar os 60 anos de início da atividade industrial da CINCA.

Kéramica – A transição de uma estrutura de gestão predominantemente familiar para a integração num grupo internacional de investidores representa uma transformação significativa. Como foi conduzido este processo e que desafios e oportunidades surgiram com essa mudança?

Miguel Balboa de Sousa – A CINCA foi adquirida no início da década de 1990 pelo Grupo LAUFEN, com sede na Suíça, o que representou uma transformação profunda na estrutura e modelo de gestão da empresa. Até então, a CINCA era dirigida essencialmente por uma Administração de cariz familiar, centrada nos dois filhos do fundador, o Eng.º José António Barros e o Arq.º Jorge Barros, que, em conjunto com uma equipa de direção composta por quadros com longos anos de ligação à empresa – alguns desde a sua fundação – constituíam a força motriz da organização.

A integração no Grupo LAUFEN implicou uma reestruturação total da abordagem de gestão, com a adoção de práticas alinhadas com os standards de um grupo que, à data, era um dos mais influentes e avançados do sector cerâmico a nível mundial. Esta transição, embora exigente, foi conduzida com sucesso e traduziu-se em ganhos significativos em termos de modernização organizacional e competitividade internacional – efeitos que ainda hoje são visíveis.

Um exemplo paradigmático dessa transformação foi a adoção, já em 1994, de um modelo de gestão por processos de negócio — uma abordagem altamente inovadora para a época, sobretudo no contexto da indústria cerâmica, e anterior à formalização deste conceito na norma ISO 9001:2000.

Produção e Desafios Atuais

Kéramica – Como caracteriza atualmente a produção da CINCA? Que gamas de produtos integram o vosso portefólio e quantos colaboradores têm ao vosso serviço?

Miguel Balboa de Sousa – A CINCA continua a ser uma “one-stop shop” para pavimentos e revestimentos cerâmicos de elevada qualidade e desempenho. Apesar dos inúmeros desafios enfrentados pelo setor nos últimos anos – desde a pandemia de COVID-19, passando pela crise logística global, a inflação, o aumento abrupto dos preços da energia (ainda antes do início da guerra na Ucrânia), os impactos diretos do conflito e, mais recentemente, as guerras comerciais e tarifárias iniciadas pela Administração Trump –, a CINCA demonstrou uma notável resiliência e capacidade de adaptação.

Importa referir que este exemplo de resposta firme a cenários económicos internacionais adversos não é novo na história da empresa. De facto, as atas da Admi-

nistração consultadas no âmbito da investigação histórica em curso revelam que, já nas décadas fundacionais, os sócios fundadores enfrentaram contextos de grande incerteza e complexidade com uma visão estratégica notável, tomando decisões estruturantes e muitas vezes arrojadas, que garantiram a solidez e o crescimento sustentado da empresa. Essa herança de pragmatismo e visão de longo prazo permanece viva na cultura da CINCA. Como parte desse processo de adaptação, procedemos ao redimensionamento estratégico da empresa, concentrando as nossas operações industriais nas unidades de Fiães e da Mealhada e apostando fortemente na automação e modernização dos processos produtivos. Atualmente, contamos com cerca de 350 colaboradores.

Em termos de portefólio, continuamos empenhados em disponibilizar uma gama abrangente e tecnicamente diferenciada de produtos, que inclui pavimentos e revestimentos cerâmicos, vidrados e não vidrados, rectificados e não rectificados, para aplicações residenciais e técnicas. A nossa oferta abrange uma diversidade de formatos, desde o clássico mosaico porcelânico 2,5×2,5 cm – que está na génese da CINCA – até ao formato 60×120 cm, respondendo assim às exigências dos mercados contemporâneos, tanto a nível estético como funcional.

Kéramica – A transição energética e os elevados custos de energia são desafios prementes para a indústria cerâmica. Como tem a CINCA enfrentado estas questões? Existem outros constrangimentos relevantes no vosso quotidiano industrial?

Miguel Balboa de Sousa – A CINCA tem enfrentado os desafios energéticos com uma abordagem pragmática e tecnicamente fundamentada. A indústria cerâmica é, por natureza, fortemente intensiva em energia, tanto elétrica como, sobretudo, térmica – esta última, maioritariamente sob a forma de gás natural. As alternativas tecnológicas hoje disponíveis para os processos de fabrico – e, em particular, para os equipamentos de alta temperatura – continuam a ser limitadas, pouco testadas em contexto industrial real e, na sua maioria, ainda com níveis de fiabilidade insuficientes.

Neste contexto, a estratégia da CINCA tem passado prioritariamente pela optimização dos processos produtivos, com vista à melhoria do desempenho energético e ambiental. Um exemplo concreto foi a substituição integral dos queimadores dos fornos por modelos de alto rendimento, permitindo uma redução média de cerca de 8% no consumo específico de energia térmica — o que representa, simultaneamente, uma diminuição significa-

tiva das emissões de CO₂ e uma redução relevante dos custos operacionais.

Paralelamente, iniciámos a implementação de um sistema de produção de energia fotovoltaica para autoconsumo, com uma potência instalada de cerca de 4 MW, reforçando assim a nossa aposta na diversificação energética e na descarbonização progressiva.

Apesar disso, consideramos que a adoção de tecnologias disruptivas – como a eletrificação de processos atualmente baseados em gás natural, a utilização de hidrogénio verde ou a implementação de fornos híbridos — deverá ser feita com prudência e responsabilidade. A maioria destas soluções encontra-se ainda numa fase de desenvolvimento ou ensaio piloto, pelo que aguardamos o seu amadurecimento tecnológico antes de avançar com decisões de investimento estruturais. De facto, vale a pena recordar que os primeiros fornos utilizados pela CINCA, na década de 1960, eram integralmente elétricos – uma ironia histórica que demonstra o carácter cíclico de certas evoluções tecnológicas.

Para além da questão energética, um dos maiores constrangimentos que enfrentamos atualmente é a excessiva complexidade burocrática, legal e regulamentar, que afeta de forma transversal a atividade industrial em

Portugal. Processos que deveriam ser simples e céleres transformam-se, frequentemente, em labirintos administrativos, onde nem sempre as próprias entidades competentes conseguem fornecer orientações claras e eficazes. Esta realidade representa um travão sério ao investimento, à inovação e à competitividade da indústria nacional. Kéramica – A CINCA é amplamente reconhecida pelos seus mosaicos porcelânicos de 2,5x2,5cm, ainda se verifica uma procura significativa por formatos pequenos por parte dos arquitetos? Por outro lado, a procura por formatos maiores e soluções personalizadas tem vindo a crescer, esta tendência tem sido incorporada na vossa estratégia?

Miguel Balboa de Sousa – A CINCA tem procurado, de forma consistente, explorar ao máximo o seu know-how e capacidade produtiva no domínio dos pequenos formatos – área em que detemos uma reconhecida especialização – sem, contudo, descurar a crescente procura por formatos de maiores dimensões.

É inegável que existe, por parte de alguns fabricantes, uma certa tendência para a ostentação técnica através da apresentação de formatos cada vez maiores –numa lógica quase hedonista onde “o céu é o limite”. No entanto, a análise dos dados de mercado a nível global revela que os formatos 30×60 cm e 60×60 cm continuam a ser, de forma destacada, os mais vendidos em termos de volume, mesmo sendo hoje considerados formatos de média dimensão.

Na CINCA, procuramos sempre responder às necessidades reais do mercado e às exigências dos nossos clientes e prescritores – em particular dos arquitetos, com quem mantemos uma relação próxima e ativa. A nossa presença no setor de projeto é parte intrínseca do nosso ADN e da nossa história, pelo que continuamos inteiramente disponíveis para desenvolver soluções personalizadas, tanto do ponto de vista técnico como estético, que respondam a requisitos específicos de cada obra.

A versatilidade da nossa oferta, que vai do mosaico porcelânico 2,5×2,5 cm – símbolo da nossa identidade – até aos formatos maiores e retificados, reflete precisamente essa postura: combinar tradição industrial com inovação orientada ao mercado.

Kéramica – Que relação identifica entre a arquitetura contemporânea portuguesa e a utilização de pavimentos e revestimentos cerâmicos nacionais? Considera que os produtos fabricados em Portugal, são valorizados pelos novos arquitetos?

MAD Bars House, Lviv, Ukraine — Design by @yod.group, 2.5x2.5 Porcelain
Mosaic by Cinca

Miguel Balboa de Sousa – De forma geral, considero que sim – os arquitetos portugueses valorizam cada vez mais os produtos cerâmicos nacionais. Isso deve-se, em grande parte, à excelente relação qualidade/preço que estes oferecem, mesmo quando comparados com os maiores produtores internacionais, como os italianos ou espanhóis. Hoje, a cerâmica portuguesa compete, sem qualquer complexidade, com os melhores do mundo, quer ao nível da qualidade técnica, quer ao nível do design. Não deixamos absolutamente nada a dever.

Para além disso, existe um fator que tem vindo a ganhar particular relevância: a proximidade e a disponibilidade das empresas portuguesas do setor, como é o caso da CINCA, em prestar um acompanhamento técnico de excelência. Os arquitetos e prescritores sentem-se confortáveis e confiantes ao saber que podem contar com um parceiro disponível, quer na identificação e seleção das soluções mais adequadas, quer no apoio à sua correta aplicação ou na resolução de eventuais dificuldades em obra. Esse compromisso com o serviço é, para nós, inegociável. Não por acaso, um dos nossos lemas fundacionais é “Qualidade, Design e Serviço” – e continua, ainda hoje, a orientar toda a nossa atividade no setor da arquitetura e do projeto.

Kéramica – Na sua opinião, qual a importância de uma colaboração estreita entre a indústria e as instituições de ensino superior em Portugal? Considera que estas têm conseguido responder eficazmente às necessidades e desafios do setor cerâmico?

Miguel Balboa de Sousa – A colaboração entre o ensino superior e a indústria é absolutamente fundamental para o desenvolvimento sustentável e inovador do setor cerâmico. As universidades possuem o intelecto – o conhecimento científico, a capacidade de investigação, o método rigoroso, o espírito crítico e a vontade de inovar, fazer ciência e criar conhecimento – enquanto a indústria dispõe das ferramentas e dos meios para aplicar esse conhecimento no terreno, transformando ideias em produtos e processos reais.

Investir nesta sinergia é, sem dúvida, um verdadeiro “win-win”: não só promove o avanço da ciência, como também direciona esse avanço para as necessidades concretas da sociedade e do mercado. Desta forma, as parcerias entre universidades, politécnicos, centros tecnológicos e empresas industriais tornam-se essenciais para assegurar que o conhecimento académico é traduzido em soluções práticas, que aumentam a competitividade do setor.

Atualmente, as instituições de ensino superior mostram-se cada vez mais abertas e recetivas a estes projetos colaborativos, colocando as suas capacidades técnico-científicas ao serviço da indústria. Os centros tecnológicos, por sua vez, desempenham um papel vital como facilitadores dessa transferência de conhecimento, garantindo que a inovação científica seja integrada de forma eficiente nas operações industriais.

Kéramica – O tema de destaque desta edição da revista Kéramica incide nos fatores ESG, indicadores ambientais, sociais e de governação corporativa, criados para medir o grau de compromisso das organizações relativamente aos objetivos do desenvolvimento sustentável. Qual a atuação da Cinca perante estes indicadores?

Miguel Balboa de Sousa – A CINCA está atualmente a desenvolver um projeto interno de avaliação dos principais indicadores ESG (ambientais, sociais e de governação corporativa). Paralelamente, encontra-se a acompanhar de perto as alterações recentes na regulamentação europeia, com o objetivo de alinhar e redesenhar o seu roadmap estratégico nesta área, garantindo assim um compromisso eficaz e consistente com os princípios do desenvolvimento sustentável.

Dinâmica dos Mercados

Kéramica – Que representatividade têm as exportações no volume de negócios da CINCA? E quais são, atualmente, os principais mercados internacionais onde a empresa marca presença?

Miguel Balboa de Sousa – Cerca de 60% das nossas vendas são realizadas em mercados externos. Os principais mercados são os EUA, França, Alemanha, países nórdicos. Os suspeitos do costume…

Kéramica – No panorama global, quais são os principais obstáculos que a empresa enfrenta na consolidação e expansão internacional?

Miguel Balboa de Sousa – Para além dos elevados custos logísticos, um dos principais obstáculos que enfrentamos na consolidação e expansão internacional prende-se com barreiras artificiais impostas, mesmo no contexto da União Europeia, através de restrições e exigências técnicas diversas.

A multiplicidade de critérios de certificação de produtos, com requisitos distintos conforme os mercados, cria barreiras não tarifárias que, frequentemente, visam proteger a indústria local ou sustentar organismos cuja utilidade para o consumidor final é questionável. Estes obstáculos dificultam a entrada e a concorrência justa

nos mercados externos, representando um desafio significativo para empresas exportadoras como a CINCA.

Kéramica – As medidas protecionistas em países como os Estados Unidos, as tensões geopolíticas globais e as guerras comerciais entre blocos como os EUA, China e União Europeia, podem ter um impacto nas vossas exportações? De que forma?

Miguel Balboa de Sousa – Estas medidas já estão a ter impacto neste momento. Os Estados Unidos, um dos nossos principais mercados de exportação, enfrentam ainda um quadro de incerteza quanto ao nível definitivo de taxação aplicado aos produtos europeus, o que tem provocado alguma retração por parte de alguns clientes, que procuram alternativas.

No entanto, entendemos que todas as dificuldades trazem também oportunidades. Apesar das perturbações nos mercados tradicionais, surgirão novas oportunidades noutros mercados, permitindo compensar eventuais perdas e fortalecer outros laços comerciais.

Kéramica – Que países produtores internacionais considera como concorrência direta para as empresas portuguesas do setor?

Miguel Balboa de Sousa – Como já referi, a cerâmica portuguesa posiciona-se entre as melhores do mundo no que respeita à relação qualidade/preço. Competimos diretamente com produtores de Espanha e Itália, não tanto em termos de capacidade produtiva, mas sobretudo pela excelência da qualidade e do design que conseguimos oferecer.

Por outro lado, os produtores de baixo custo, nomeadamente da China, Índia e Indonésia, entre outros, têm impacto em determinados segmentos de mercado. No entanto, para clientes que valorizam qualidade e serviço, estas opções são, geralmente, menos atrativas e dificilmente representam uma alternativa viável.

Kéramica – A participação e visita a feiras setoriais, sejam nacionais ou internacionais (como em Itália, Estados Unidos e outros mercados), continua a ser um canal relevante para a promoção e divulgação dos vossos produtos?

Miguel Balboa de Sousa – Absolutamente. Mantemos a nossa presença nos principais eventos a nível mundial, nomeadamente na Coverings (EUA) e Cersaie (Itália).

Kéramica – Têm verificado um aumento da procura no mercado nacional, impulsionado pelo crescimento da construção nova e, sobretudo, pela reabilitação urbana?

Miguel Balboa de Sousa – Até ao momento, temos verificado que o mercado nacional conseguiu estabilizar, após um período prolongado de tendência negativa que remontava, inclusivamente, à época da intervenção da troika.

Face à crise habitacional, que é mais do que um problema português, um verdadeiro desafio a nível europeu, acreditamos que o futuro reserva uma expansão significativa tanto do mercado português como do europeu, impulsionada pelo crescimento da construção nova e, sobretudo, pela reabilitação urbana.

Investimento e Perspetivas Futuras

Kéramica – Olhando para o futuro, como imagina a CINCA daqui a 60 anos? E qual o futuro que antevê para o setor dos pavimentos e revestimentos cerâmicos?

Miguel Balboa de Sousa – Bem… 60 anos é um horizonte temporal muito longo, impossível de prever. Nos próximos 5 a 10 anos, o impacto da inteligência artificial e da robótica será avassalador em todas as indústrias, e o nosso setor não será exceção. Para além disso, a questão da energia, e em particular o avanço da eletrificação dos processos industriais, será um tema determinante a acompanhar de perto. Contudo, para além desse horizonte temporal, o futuro torna-se naturalmente muito incerto.

Já em relação aos produtos cerâmicos, posso antever um futuro promissor. Os materiais cerâmicos destacam-se pela sua durabilidade excecional e baixa necessidade de manutenção. Quando se analisa o ciclo de vida completo destes materiais, verificam-se vantagens significativas face às alternativas, o que assegura que continuarão a ser uma escolha preferencial e uma referência na construção civil e nas obras públicas.

Kéramica – Para terminar, poderia destacar uma obra de referência — nacional ou internacional — onde os produtos da CINCA tenham sido aplicados e que represente um marco significativo para a empresa?

Miguel Balboa de Sousa – São tantas as obras em que a CINCA marcou presença que me é difícil destacar apenas uma, sob o risco de inadvertidamente deixar de fora projetos relevantes. Contudo, algumas que se salientam e me vêm imediatamente à memória incluem a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, projetada pelo arquiteto Tasso de Sousa, o edifício do New York Times, e a Cidade Universitária de Jeddah, na Arábia Saudita. Cada uma destas obras representa um marco significativo na nossa trajetória.

Circularidade

CIRCULARIDADE E VALORIZAÇÃO DE RESÍDUOS: O FUTURO SUSTENTÁVEL DA INDÚSTRIA CERÂMICA

A indústria cerâmica é um dos setores mais emblemáticos da economia do sul da Europa, particularmente relevante em Portugal, Espanha e Itália. Pela sua ligação à construção, ao design e ao património cultural, tem uma posição estratégica, mas também enfrenta desafios estruturais: é intensiva em energia, consome grandes volumes de matérias-primas naturais e gera resíduos sólidos e emissões. Em Portugal este setor é diversificado, abrangendo desde métodos tradicionais até tecnologias de ponta da Indústria 4.0. Presente principalmente no norte e centro do país, divide-se em cinco subsetores distintos: Cerâmica Estrutural, Pavimentos e Revestimentos, Louça Sanitária, Cerâmica Utilitária e Decorativa, e Cerâmica Técnica.

Num contexto marcado pela transição energética, pela neutralidade carbónica e pela escassez de recursos, a circularidade surge como uma oportunidade única para

transformar riscos em inovação. Em particular, a conversão de resíduos em subprodutos abre caminho para um setor mais eficiente, competitivo e ambientalmente responsável.

No setor cerâmico, a circularidade traduz-se em práticas como a reincorporação de lamas e pós no processo produtivo, a utilização de resíduos externos como matérias-primas secundárias e a redução do desperdício energético e hídrico. Este movimento não é apenas uma tendência industrial, mas sim parte integrante da agenda europeia, nomeadamente do European Green Deal, do Plano de Ação para a Economia Circular e da meta da neutralidade carbónica em 2050.

Adicionalmente, a futura Lei da Economia Circular, em consulta pública até ao dia 6 de novembro de 2025, visa acelerar a transição da EU de um modelo económico linear para um modelo circular, reforçando a segurança económica e a competitividade. Pretende igualmente ajudar a criar oferta e procura suficientes de matérias-primas secundárias, incluindo as críticas e estabelecer um mercado único de resíduos e matérias-primas secundárias. O ato legislativo facilitará a livre circulação de produtos «circulares», matérias-primas secundárias e resíduos. Aumentará igualmente a oferta de materiais reciclados de elevada qualidade e estimulará a procura destes materiais na UE.

Para as empresas, investir em circularidade é também uma estratégia competitiva, pois permite reduzir custos de produção, assegurar conformidade regulatória e reforçar a imagem de sustentabilidade junto de clientes e mercados internacionais.

Margarida
Louro

Circularidade

A cadeia de valor da indústria cerâmica gera diferentes fluxos de resíduos que, com inovação e know-how técnico, têm vindo a ser valorizados nas últimas duas décadas, promovendo a lógica de subprodutos em vez de resíduos:

- Resíduos internos: peças defeituosas, recortes de azulejos, refugos de produção, lamas provenientes do polimento e do corte, pós de esmalte ou de moagem. Em alguns casos, estes resíduos podem representar até 30% da massa inicial antes de reincorporação;

- Resíduos externos aproveitáveis: cinzas de biomassa ou carvão, escórias siderúrgicas, resíduos de vidro, lamas de pedreiras e até resíduos da construção e demolição;

- Água de processo: utilizada no corte, polimento e pre-

paração de pastas, pode ser tratada e reutilizada em circuito fechado.

Nas empresas portuguesas existem diversos exemplos de economia circular estudados e/ou em aplicação, em diferentes áreas, nomeadamente inovações classificadas como estratégias de ecodesign, simbioses industriais, extensão de ciclo de vida, ecoeficiência e valorização de resíduos e subprodutos entre outras:

- Reincorporação interna: resíduos de polimento, lamas e pós cerâmicos são moídos e reintroduzidos nas massas. Esta prática reduz a necessidade de argilas virgens e diminui custos de deposição em aterro;

Circularidade

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Substituição de matérias-primas: escórias siderúrgicas, cinzas volantes e resíduos de vidro podem desempenhar o papel de fundentes, melhorando a sinterização e reduzindo a temperatura necessária de cozedura;

- Redução de espessura de produtos: esta estratégia acarreta um menor consumo de matérias-primas, menos consumo de energia e emissões de gases com efeito de estufa (GEE) inferiores;

- Novos produtos: algumas empresas estão a desenvolver produtos diferenciados, como cerâmicos técnicos ou ladrilhos com resistência acrescida, através da incorporação de resíduos externos;

- Água e energia: sistemas de circuito fechado permitem recuperar praticamente 100% da água utilizada no processo. A valorização energética de resíduos ou a substituição parcial de combustíveis fósseis por biomassa também reforçam a circularidade;

- Distribuição de produtos: otimização desta etapa através do estudo de acomodação de produto em carga, permitindo aumentar a quantidade total de produto transportado e, consequentemente uma redução de custos e de emissões de GEE

Um ponto essencial é integrar a Análise de Ciclo de Vida (ACV) como ferramenta de decisão. A ACV permite avaliar o impacto ambiental total de um produto cerâmico desde a extração da argila até ao fim de vida. Ao fazê-lo, evidencia que a maior parte da pegada de carbono provém da cozedura, mas também demonstra que a durabilidade do produto é crucial. Um revestimento que dura décadas reduz a necessidade de substituições, poupando recursos e energia ao longo do tempo. Assim, a circularidade deve ser entendida não só como reincorporação de resíduos, mas também como prolongamento do ciclo de vida do produto cerâmico.

Os benefícios destas estratégias vão além do aspeto ambiental: representam poupança de custos operacionais, reduzem a exposição a riscos regulatórios e aumentam a aceitação social da indústria.

Apesar dos avanços, a implementação da circularidade ainda enfrenta obstáculos relevantes, como questões técnicas, barreiras regulatórias e falta de normas harmonizadas. Por outro lado, o investimento tecnológico para adaptar as linhas de produção existentes ou desenvolver novos produtos pode ser bastante avultado. A superação destas barreiras exige articulação entre indústria, centros de investigação, entidades reguladoras e associações setoriais.

A circularidade não é apenas uma obrigação ambiental: é uma estratégia de futuro para a indústria cerâmica. A valorização de resíduos em subprodutos tem provas dadas em diversos contextos e oferece benefícios claros em competitividade, inovação e reputação.

O setor encontra-se numa encruzilhada histórica: ou mantém modelos lineares, com riscos crescentes de custo e regulação, ou assume a circularidade como eixo de transformação. Com investimento, inovação e colaboração, a cerâmica poderá consolidar-se como uma das indústrias mais avançadas na transição para a economia circular, contribuindo para um futuro mais sustentável e resiliente.

Referências

European Commission (2025). Public consultation on the Circular Economy Act. Disponível em: environment. ec.europa.eu

EIT Raw Materials (2023). Eco-Innovative Ceramics Project Report. https://ec.europa.eu/info/law/better-regulation/ have-your-say/initiatives/14812-Ato-legislativo-sobre-economia-circular_pt (consultado dia 18/08/2025)

Horizon Europe Projects Data base (2024). Projetos sobre circularidade no setor cerâmico (Cerartech, Eco-InnovativeCeramics).

Asociación Española de Fabricantes de Azulejos y Pavimentos Cerámicos (ASCER) (2022). Circularidad en la industria cerámica.

Associação Portuguesa da Indústria Cerâmica (APICER) (2023). Sustentabilidade e inovação no setor cerâmico.

Almeida M.; Vaz S .; Baio Dias, “Impactes Ambientais e Comércio de Emissões, Indústria Cerâmica - Um caso de estudo”, ed. APICER-Associação Portuguesa da Indústria Cerâmica, Coimbra,2004.

ISO 14040/44 (2006). Environmental management — Life cycle assessment — Principles and framework.

Circularidade . Kéramica . p.25

Compliance Sustentável

A IMPORTÂNCIA DO COMPLIANCE SUSTENTÁVEL PARA ASSEGURAR QUE AS EMPRESAS CERÂMICAS E DE CRISTALARIA OBSERVEM AS NORMAS AMBIENTAIS E

SOCIAIS GLOBAIS, DESIGNADAMENTE A ISO 14001, A ISO 45001 E OUTRAS CERTIFICAÇÕES DE SUSTENTABILIDADE

No quadro jurídico-económico contemporâneo, marcado por uma crescente interdependência entre as esferas normativa, social e ambiental, o instituto do compliance sustentável afirma-se como verdadeira pedra angular de um novo paradigma de governação empresarial, no qual a licitude formal e a responsabilidade social corporativa deixam de constituir planos paralelos para se fundirem num único e indissociável imperativo jurídico-funcional.

A relevância desta figura, no contexto específico das indústrias cerâmicas e de cristalaria, não resulta apenas da necessidade de mitigar os impactos ambientais e laborais inerentes à sua atividade, mas também da exigência de harmonizar tais atividades produtivas com os princípios constitucionais da proteção do ambiente (artigo 66.º da CRP),

da valorização do trabalho humano (artigos 58.º e 59.º) e da prossecução do interesse público na preservação de recursos e condições de vida das gerações futuras.

O compliance sustentável, concebido não como mera opção de gestão mas como obrigação decorrente da conjugação de fontes normativas internas e compromissos internacionais, impõe às empresas uma atuação que ultrapassa o cumprimento literal de normas, exigindo a adoção de sistemas estruturados de gestão, monitorização e auditoria capazes de prevenir infrações e de promover a melhoria contínua das práticas empresariais. Neste domínio, as normas ISO 14001 e ISO 45001 surgem como referenciais técnico-jurídicos de alcance universal, cuja observância, ainda que formalmente voluntária, se encontra cada vez mais entrelaçada com obrigações contratuais, regulatórias e até legislativas, assumindo assim uma função quase regulamentar no comércio global.

A ISO 14001 estabelece um quadro metodológico para a gestão ambiental assente na identificação de impactos, na definição de objetivos mensuráveis e na implementação de programas de prevenção e mitigação, sempre em estrita conformidade com a legislação aplicável. A ISO 45001, por seu turno, consagra um modelo integrado de gestão da segurança e saúde ocupacional, estruturado para prevenir lesões, doenças e riscos laborais, promovendo simultaneamente o envolvimento dos trabalhadores na concepção e aplicação das medidas preventivas. Ainda que não revestindo natureza de lei formal, estas certificações exercem uma inegável influência normativa, funcionando como standards internacionais que moldam a interpretação de cláusulas contratuais, condicionam o acesso a financiamentos e integram, por via reflexa, a diligência exigível aos administradores e gerentes no cumprimento do seu dever de cuidado e lealdade para com a sociedade e os seus stakeholders

André Alfar Rodrigues

O ordenamento jurídico português, em consonância com os princípios e políticas da União Europeia e com as obrigações decorrentes de convenções multilaterais, consagra um denso tecido normativo que converge com os fundamentos destas normas internacionais. No domínio ambiental, relevam diplomas como o Regime Geral de Gestão de Resíduos, o regime jurídico de emissões industriais e o quadro normativo da prevenção e controlo integrados da poluição, todos impondo obrigações concretas às empresas no sentido da redução de emissões, da gestão sustentável dos recursos e da prevenção de danos ambientais. No plano laboral, a legislação em matéria de segurança e saúde no trabalho, transpondo as diretivas comunitárias, impõe ao empregador deveres de proteção que não podem ser delegados ou relativizados, estabelecendo regimes sancionatórios que abrangem a responsabilidade contraordenacional, civil e, em casos de gravidade elevada, penal.

As consequências jurídicas da não conformidade com estes padrões de conduta apresentam-se múltiplas e interdependentes. Na vertente administrativa, a violação de licenças ambientais, de limites de emissão ou de obrigações de gestão de resíduos pode dar lugar a coimas de montante significativo, à aplicação de sanções acessórias como a suspensão ou cessação de atividade e à revogação de autorizações. No plano civil, danos ambientais ou lesões sofridas por trabalhadores em consequência do incumprimento das regras de segurança geram o dever de indemnizar, sendo que, em matéria ambiental, vigora frequentemente um regime de responsabilidade objetiva. No plano penal, condutas particularmente lesivas ou dolosas podem preencher os tipos legais de crime de poluição, dano contra a natureza ou infração de regras de segurança, punidos com penas de prisão ou de multa, reforçando-se, assim, o carácter imperativo das obrigações de compliance.

A figura do compliance officer, no contexto destas indústrias, transcende a mera função de fiscalização interna, constituindo-se como órgão operativo da política de conformidade empresarial, responsável pela criação de códigos de conduta, pela implementação de canais de denúncia protegida, pela realização de auditorias internas e pela formação contínua dos trabalhadores. A sua atuação, para ser eficaz, deve integrar um conhecimento técnico apurado dos processos industriais, designadamente no que toca à operação de fornos de alta temperatura, ao manuseamento de matérias-primas, à gestão de resíduos sólidos e líquidos e ao controlo das emissões atmosféricas, com um sólido domínio da legislação aplicável.

Compliance Sustentável

Importa enfatizar que a certificação por si só, quando não acompanhada de práticas efectivas e verificáveis, pode gerar uma “aparência de conformidade”, prática conhecida como greenwashing ou social washing. Tal conduta, além de ferir os princípios da boa-fé e da transparência, pode constituir ilícito de publicidade enganosa, concorrência desleal ou mesmo crime de fraude, sendo suscetível de desencadear responsabilidades múltiplas e cumulativas.

A tendência legislativa e regulatória, tanto na União Europeia como no plano internacional, aponta para a progressiva integração dos requisitos de sustentabilidade nas obrigações jurídicas das empresas, como se verifica, por exemplo, com a Diretiva (UE) 2022/2464, que impõe um alargamento substancial do reporte de informação sobre sustentabilidade. Neste cenário, o compliance sustentável deixa de ser um elemento de diferenciação competitiva para se tornar, pura e simplesmente, condição sine qua non de acesso a determinados mercados, de manutenção de licenças e de preservação da viabilidade económica.

Assim, as empresas cerâmicas e de cristalaria, pelo elevado impacto ambiental e pela intensidade laboral que lhes é intrínseca, não podem adotar uma postura reactiva ou meramente formal no que toca ao compliance sustentável. A incorporação plena e substantiva deste modelo de conformidade no âmago da sua estrutura organizacional representa não apenas o cumprimento de um dever jurídico, mas a assunção de um compromisso ético e estratégico com a sociedade, com o Estado e com as gerações vindouras, garantindo a sua legitimidade jurídica e social no seio de um ordenamento que, cada vez mais, mede a licitude empresarial pela sua capacidade de conjugar crescimento económico e tutela efetiva dos bens jurídicos coletivos e difusos.

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A CERTIFICAÇÃO CESGA DA

EFFAS: UMA PORTA DE ENTRADA PARA DOMINAR QUESTÕES ESG

Numa era em que a degradação ambiental, as desigualdades sociais e as falhas de governação intersectam cada vez mais com decisões de negócios e investimentos, os fatores Ambientais, Sociais e de Governação (ESG) tornaram-se indispensáveis para uma tomada de decisão informada por parte dos Gestores em qualquer setor de atividade.

A matéria ESG abrange um amplo espectro: questões ambientais como mudanças climáticas e esgotamento de recursos; aspectos sociais como direitos laborais, diversidade e impacto comunitário; e elementos de governação, incluindo transparência do conselho, ética e gestão de riscos. À medida que as regulamentações globais se intensificam (Regulamentação de Divulgação de Finanças Sustentáveis da UE - SFDR ou no Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade - ISSB), profissionais de várias indústrias buscam maneiras de aprofundar o seu conhecimento em ESG. É aqui que a certificação Certified ESG Analyst (CESGA) da Federação Europeia de Sociedades de Analistas Financeiros (EFFAS) entra em cena. Projetada para preencher a lacuna entre conceitos teóricos de ESG e sua aplicação prática, a certificação CESGA equipa indivíduos com ferramentas para integrar ESG na análise financeira, tornando-a altamente relevante para quem deseja aprimorar sua expertise em finanças sustentáveis, com maior impacto naqueles setores que pela natureza da sua atividade são mais intensivos na emissão de CO2.

A EFFAS, fundada em 1962, é uma organização “umbrella” pan-europeia que representa sociedades nacionais de analistas financeiros e profissionais de investimento. Com mais de 16.000 membros em 28 países, a EFFAS promove altos padrões em educação financeira e ética. A certificação CESGA, lançada em 2019, é um de seus programas principais, especificamente desenhado para atender à crescente demanda por integração de ESG

em processos de investimento. O programa evoluiu rapidamente, com a versão mais recente, CESGA 4.1, sendo a primeira certificação acreditada pelo “Grupo Consultivo Europeu de Relatórios Financeiros” (EFRAG) da UE por conformidade com os Padrões Europeus de Relato de Sustentabilidade (ESRS). Essa acreditação destaca a sua relevância num cenário regulatório onde as empresas devem divulgar dados ESG de forma transparente, ajudando profissionais a navegar pelos relatórios obrigatórios sob a Diretiva de Relato de Sustentabilidade Corporativa (CSRD).

Entendendo o Programa CESGA: Estrutura e Conteúdo

O programa CESGA é uma qualificação de nível de diploma que combina conhecimento fundamental de ESG com técnicas avançadas de avaliação, tornando-o acessível, porém rigoroso do ponto de vista académico. Ele é estruturado em 10 módulos, entregues inteiramente online através da EFFAS Academy ou de sociedades membros nacionais acreditadas, como é o caso da APAF – Associação Portuguesa de Analistas Financeiros. Os participantes recebem acesso à plataforma de aprendizado por seis meses, com a opção de estender por mais seis meses com um pequeno custo adicional. O currículo é em inglês, exigindo pelo menos um nível de proficiência B2, e é projetado para estudo autónomo, recomendando-se geralmente 80 a 120 horas de preparação.

A estrutura garante uma compreensão holística, da teoria à prática. Por exemplo, um dos últimos módu-

los inclui dois estudos de caso que simulam decisões de investimento no mundo real, enfatizando soluções para mudanças climáticas e ferramentas de due diligence. Não são necessários pré-requisitos, embora algum conhecimento financeiro seja vantajoso, tornando-o adequado tanto para iniciantes quanto para profissionais experientes.

O ponto culminante é um exame de 150 minutos, dividido em duas partes: 20 questões de múltipla escolha (50% de peso) e um estudo de caso prático com nove questões abertas (50% de peso). Os exames são realizados periodicamente (por exemplo, 26 de setembro de 2025; 12 de dezembro de 2025; 13 de março de 2026) em inglês, online ou em locais presenciais, com resultados classificados como "Aprovado" ou "Não Aprovado". Os custos incluem aproximadamente €1.450 para o curso online incluindo o exame (excluindo IVA e possíveis taxas de supervisão).

A actualização mais recente (versão 4.1) reforça o foco na conformidade com os ESRS, incorporando integração aprimorada de dados ESG, ferramentas de análise sistemática e módulos dedicados a classes de ativos e soluções climáticas. A acreditação da EFRAG significa que os detentores da CESGA são reconhecidos pela sua capacidade de lidar com relatórios de sustentabilidade obrigatórios ou preparar as suas principais linhas de atua-

ção, alinhando-se com as diretivas da UE que afetavam mais de 50.000 empresas europeias. Esta característica posiciona a certificação CESGA como líder na preparação de profissionais para os ESRS, que padronizam as divulgações ESG em avaliações de dupla materialidade (impacto e financeiro).

Materialidade da CESGA para Aprimorar o Conhecimento em ESG

Para indivíduos ansiosos por melhorar seu conhecimento em ESG, a importância da certificação CESGA reside na sua abordagem prática e orientada para investimentos. Diferentemente de cursos gerais de sustentabilidade, ela enfatiza a integração na análise financeira, ajudando os usuários a quantificar o impacto do ESG em risco, retorno e avaliação. Isso é crucial num mundo onde 90% das empresas do S&P 500 agora relatam dados ESG, e investidores gerindo acima de US$ 30 trilhões em ativos solicitam considerações ESG.

Profissionais de finanças — analistas, gestores de portfólio e consultores — beneficiam-se imensamente ao aprender a incorporar ESG em processos, desde triagem até relatórios. Por exemplo, o programa ensina como ajustar modelos de fluxo de caixa descontado (DCF) para riscos ESG, como preços de carbono ou ética na cadeia de

Certificação

suprimentos, que podem alterar avaliações de empresas em 10-20% em alguns setores. Funções não financeiras, como oficiais de sustentabilidade corporativa ou auditores, adquirem competências em relatórios ESG, vitais para a conformidade com a CSRD.

A relevância da certificação estende-se ao avanço na carreira. Num mercado de trabalho onde as funções ESG crescem 30% ao ano, os detentores da CESGA relatam aumentos salariais de 10-20%, com oportunidades em gestão de ativos, consultoria e órgãos regulatórios. É particularmente valiosa para aqueles sem experiência prévia em ESG, pois constrói desde o básico até a integração avançada, ao contrário de certificações mais especializadas como a CFA ESG Investing, que presume conhecimento financeiro. Empregadores valorizam o seu foco europeu, alinhado com regulamentações rigorosas da UE, mas os seus módulos globais tornam-no aplicável mundialmente.

Além disso, a CESGA promove uma mudança de mentalidade ao transformar o ESG de um fardo de conformidades jurídico legais para uma oportunidade estratégica. Os participantes aprendem a avaliar a dupla materialidade — como as empresas afetam a sociedade/meio ambiente e vice-versa —, permitindo melhores tomadas de decisão. Em mercados voláteis, profissionais com conhecimento em ESG podem identificar investimentos resilientes, como títulos verdes que oferecem retornos mais

elevados. Para uma aprendizagem ao longo da vida, as atualizações do programa garantem relevância contínua, com a acreditação da EFRAG reforçando a credibilidade em relatórios de sustentabilidade.

Impactos na Carreira e Além Além dos ganhos de conhecimento, a CESGA abre portas. Os certificados ingressam numa rede de ex-alunos da EFFAS, acessando webinars, recursos e bolsas de emprego. Em indústrias orientadas por sustentabilidade, como energia renovável ou tecnologia ética, ela sinaliza expertise, levando a papéis como Analista ESG (com salários médios estimados de €70.000-€100.000 na Europa) ou Consultor de Sustentabilidade. Também capacita as competências de advocacy: armados com insights ESG, os profissionais podem pressionar por práticas responsáveis, contribuindo para metas globais como os ODS da ONU. Em resumo, para quem está comprometido em elevar o seu conhecimento em ESG, a certificação CESGA da EFFAS que a APAF – Associção Portuguesa de Analistas Financeiros promove em Portugal é materialmente significativa. Ela fornece uma educação estruturada e acionável que se traduz em impacto no mundo real, crescimento na carreira e preparação regulatória. À medida que o ESG se torna uma matéria inegociável, investir em tais certificações não é apenas benéfico — é essencial para se manter à frente num futuro

CERÂMICA SUSTENTÁVEL: ESG

COMO MOTOR DE INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE

Transformar desafios em oportunidades no setor da cerâmica

Os últimos anos têm sido desafiantes para as empresas que têm enfrentado uma pressão crescente para integrar práticas de sustentabilidade e responsabilidade social nos seus modelos de negócio. Para além de requisitos cada vez mais exigentes por parte do mercado e do setor financeiro, surgiu todo um contexto legislativo ao qual as médias e pequenas empresas têm que responder. Ligadas ao Green Deal, surgiram múltiplas diretivas europeias que têm exigido uma adaptação constante. A Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) é um dos exemplos de regulação que obriga a preparar

relatórios mais completos e auditáveis sobre impactos ESG, com requisitos muito exigentes. Numa tentativa de simplificação – e para dar resposta a muitas vozes de empresas que se queixavam do grande peso de implementação destas diretivas - surgiu o pacote Omnibus no início de 2025. No entanto, este pacote trouxe, para além de um alívio dos requisitos, alguma incerteza para as empresas que estavam já a preparar o reporte para 2026.

Para muitas organizações, sobretudo as de média dimensão, a incerteza relativamente às necessidades de relato e a constante atualização das exigências traduzem-se em custos acrescidos e na necessidade de alocar recursos especializados. Em paralelo, a pressão de investidores, consumidores e parceiros comerciais obriga as empresas a apresentarem evidências claras de compromisso com a sustentabilidade. E, mesmo no contexto internacional global, o risco de “greenwashing” é cada vez mais escrutinado e penalizado.

Assim, o enquadramento atual coloca as empresas entre a obrigação regulatória e a necessidade estratégica de se diferenciarem, transformando o ESG num verdadeiro fator de competitividade e num vetor de investimento incontornável.

Os desafios específicos do setor da cerâmica

No setor da cerâmica, os desafios estendem-se a diferentes dimensões. Esta é uma indústria altamente intensiva em energia, dependente de fornos de elevada temperatura estando exposta às flutuações de preço da energia que têm grande impacto na sustentabilidade financeira das operações. Este consumo está também diretamente associado a emissões significativas de CO₂ fazendo da descarbonização do setor um dos temas centrais na sustentabilidade, que foi já falado na última edição desta revista.

Gonçalves

Em Portugal, esta é também uma indústria de forte implantação regional — em particular no Centro e no Norte — que assume grande relevância nas exportações nacionais e na geração de emprego local.

Por fim, a cerâmica portuguesa, reconhecida internacionalmente pela sua qualidade e design, enfrenta uma concorrência global intensa, muitas vezes proveniente de países com menores exigências regulatórias. Isso significa que a integração de práticas ESG e de compliance sustentável é não só uma resposta a exigências normativas, mas também uma forma de diferenciação competitiva.

Certificações e compliance como resposta estratégica

Na verdade, muitos dos temas ligados à sustentabilidade não são estranhos às empresas do setor, visto que são centrais para as suas operações. Em geral, esta abordagem tem sido guiada ou por otimizações operacionais ou por certificações específicas como a ISO 14001 (Sistemas de Gestão Ambiental), a ISO 50001 (Sistemas de Gestão de Energia) ou a ISO 45001 (Saúde e Segurança no Trabalho).

Estas certificações são hoje relativamente comuns entre os grupos exportadores, ainda que representem um desafio maior para PME que enfrentam restrições de recursos.

Estas normas, bem como a regulamentação de reporting CSRD que está em revisão, representam mais do que um selo de conformidade: são ferramentas que permitem estruturar processos, mitigar riscos, reduzir custos operacionais e demonstrar compromisso perante clientes e stakeholders internacionais.

Um olhar sobre as principais componentes de ação ESG

Mas o que é que, na realidade, pode implicar no dia a dia das empresas, esta necessidade de incorporação das práticas ESG nas suas operações? Tudo depende do que é mais relevante para cada uma das empresas, sendo que esse é um primeiro passo essencial, mas é possível fazer um sumário dos principais temas por eixo, deixando como primeira recomendação: um diagnóstico inicial será indispensável.

Eixo ambiental – energia, água e economia circular

Do ponto de vista ambiental, a indústria cerâmica portuguesa já fez um progresso relevante, dado que muitos dos temas ligados a este eixo estão entre os principais drivers de custo das empresas.

Um dos principais temas a ter em conta é consumo energético e os investimentos necessários para efetuar a transição energética do setor. Isto implica investir em eficiência energética e em fontes alternativas de energia. Contudo, estes investimentos estão relativamente limitados devido ao reduzido número de soluções que possam substituir os atuais processos ligados ao consumo de combustíveis fósseis. Por isso, estão a surgir, internacionalmente, alguns projetos de inovação que poderão tornar viáveis, algumas das aplicações como a de hidrogénioverde ou biogás.

Outro ponto crítico é a gestão da água, um recurso que, em várias regiões de Portugal, se encontra sob pressão. A capacidade de minimizar consumos, reaproveitar fluxos internos e reduzir descargas não é apenas uma boa prática ambiental: é um fator de resiliência operacional num contexto em que as alterações climáticas poderão acentuar episódios de escassez hídrica.

Finalmente, as empresas devem ter presente a importância da circularidade e da inovação em materiais. A incorporação de resíduos e refugos no processo produtivo, bem como o desenvolvimento de formulações mais duráveis e de menor impacto ambiental, é uma forma de reduzir desperdício e dar resposta à exigência regulatória europeia de integrar princípios de economia circular.

Assim, mais do que implementar medidas avulsas, as empresas da indústria da cerâmica devem encarar a vertente ambiental do ESG como um eixo estratégico para a sua competitividade futura, capaz de alinhar eficiência, inovação e credibilidade internacional.

Eixo Social – segurança, saúde, atração de talentos e dinamização territorial

O capital humano é um dos pilares da sustentabilidade e, no setor cerâmico português, essa dimensão assume uma relevância particular. Ao empregar milhares de pessoas e dinamizar comunidades locais, a cerâmica é mais do que uma indústria: é um elemento estruturante do território.

A segurança e saúde no trabalho constituem o primeiro eixo dessa responsabilidade. Mais do que conformidade regulatória, estas medidas traduzem-se em maior satisfação dos colaboradores, o que está ligado a um menor absentismo e melhor reputação do setor, o que é crítico para atrair novas gerações para uma indústria que compete com outros setores na captação de talento.

Outro fator estratégico é a formação contínua. O setor está a atravessar uma fase de transformação,

marcada pela digitalização dos processos e pela incorporação de práticas mais sustentáveis, que irá continuar no futuro. Para que essa transição seja bem-sucedida, é essencial capacitar a força de trabalho.

Por fim, há que sublinhar o impacto comunitário. As fábricas de cerâmica não estão isoladas: inserem-se em territórios específicos, influenciam economias regionais e contribuem para a vitalidade cultural. Apoiar a vida comunitária e dinamizar iniciativas locais são atividades que ligam as empresas aos stakeholders que as rodeiam. Esse compromisso fortalece a ligação entre empresa e comunidade, gerando confiança mútua e assegurando legitimidade social à atividade industrial.

Valorizar pessoas, garantir condições dignas de trabalho, apostar na formação e contribuir para o desenvolvimento das comunidades não são apenas boas práticas, devem ser vistas como condições essenciais para que a cerâmica continue a ser um setor resiliente, competitivo e atrativo para toda uma nova geração de trabalhadores.

Governança – o pilar menos conhecido, mas fundamental

Se o “E” e o “S” do ESG têm ganho visibilidade, o “G” é o elemento que garante consistência e credibilidade. Sem sistemas de governança robustos, os compromissos ambientais e sociais podem facilmente perder eficácia ou ser encarados como meras intenções.

Um dos principais pontos críticos é a integração estratégica da sustentabilidade . O ESG não deve ser tratado como uma área isolada. Deve ser incorporado

na visão e na gestão do negócio, de forma a influenciar decisões de investimento, inovação e posicionamento competitivo.

Outro dos pontos essenciais ligados à boa governança é a transparência . A publicação de relatórios claros e auditáveis, alinhados com a regulação e as melhores práticas internacionais, é fundamental para dar confiança a investidores, clientes e reguladores.

Esta integração e transparência deve ser acompanhada de uma estrutura de compliance sólida, que inclua políticas de ética empresarial, mecanismos de prevenção do greenwashing e da corrupção, assim como uma gestão responsável da cadeia de fornecedores.

Em conclusão, considero que o compromisso com o ESG e com a compliance sustentável não deve ser visto apenas como resposta a imposições externas. No caso da cerâmica portuguesa, trata-se de uma oportunidade para reforçar a liderança internacional, incorporar componentes de avaliação de risco que normalmente são negligenciadas, diferenciar-se pela inovação responsável e garantir competitividade a longo prazo.

A transição não é simples: implica investimento, adaptação tecnológica e, por vezes, mudança cultural. Mas também abre espaço para ganhos de eficiência, novos mercados e reconhecimento institucional. Ao assumir a sustentabilidade como eixo estratégico, a indústria cerâmica portuguesa não só responde aos desafios do presente, como constrói as bases para um futuro mais competitivo, e preparado para os desafios e exigências do futuro.

Jornada ESG das empresas

Secção Jurídica

O EQUILÍBRIO ENTRE INOVAÇÃO E RESPONSABILIDADE PARA UMA COMPLIANCE SUSTENTÁVEL

A integração dos indicadores ambientais, sociais e de governação corporativa (ESG), criados para medir o grau de compromisso das entidades para com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é, hoje, uma preocupação central no mundo empresarial, considerando que, para além de contribuir para um futuro mais sustentável, oferece ainda vantagens competitivas e, consequentemente, maiores linhas de financiamento, àquelas organizações que, conscientes da responsabilidade social que, impreterivelmente, cada vez mais lhes é incumbida, atuam como pilares nas comunidades onde estão inseridas.

Na medida em que as pequenas e médias empresas cujos valores mobiliários estão admitidos à negociação num mercado regulamentado na União ficam obrigadas, a partir do exercício financeiro que iniciará a 1 de janeiro de 2026, ao cumprimento das disposições relativas ao relato de sustentabilidade – salvo quando se auto excluam dos requisitos de relato durante o período transitório de 2 anos – ao abrigo da Corporate Sustainability Reporting Directive [Diretiva (UE) 2022/2464 de 14 de dezembro¹], devendo pronunciar-se sobre matérias como a atenuação e adaptação às alterações climáticas, compromissos

assumidos pela empresa, as principais características dos sistemas de controlo interno e de gestão de riscos da empresa, a igualdade de tratamento e de oportunidades para os colaboradores, as condições de trabalho, é absolutamente fulcral que as empresas detenham os recursos necessários para demonstrar o alinhamento dos seus modelos de negócio com o processo de transição para uma economia sustentável.

Por que as demandas empresariais se revelam cada vez maiores, não é incomum que certas incumbências sejam ofuscadas em detrimento de outras; assim, a inteligência artificial pode surgir como uma verdadeira aliada na compliance regulamentar. A capacidade de análise de grandes volumes de dados

1.- Que substitui a anterior Diretiva de Reporte de Informação Não-Financeira [Diretiva (UE) 2014/95, de 22 de dezembro de 2014], já transposta para a legislação nacional através do Decreto-Lei n.º 89/2017, de 28 de julho.

Secção Jurídica

permite monitorizar, de forma contínua, o impacto ambiental, bem como os demais indicadores, auxiliando na tomada de decisões estratégicas, ao antecipar riscos e oportunidades de melhoria, mas também na otimização de processos, designadamente, por permitir a automatização dos relatórios ESG, libertando os profissionais para tarefas de maior valor estratégico.

A premissa de uma maior eficiência operacional aliada à possibilidade de mitigação de riscos, nomeadamente na identificação de inconsistências e de possíveis práticas de greenwashing , auxilia as empresas no cumprimento rigoroso das suas obrigações legais, abrindo caminho para que se afirmem como referências de transparência e responsabilidade e, consequentemente, alavancando posições de liderança. No entanto, nem tudo são rosas; é que, para além dos desafios que se levantam com a utilização de IA – o viés algorítmico, a possível opacidade, o consumo energético elevado, os riscos éticos e legais – é também necessário cumprir com o AI Act ², que impacta diretamente a forma como as empresas utilizam inteligência artificial, ao estabelecer classificações de

risco, o que implica, para os sistemas de IA classificados como de alto risco, a sujeição a regras rigorosas de validação e auditoria, mas também a garantia de que os sistemas são compreensíveis na sua execução.

Por outro lado, se a promessa de uma maior liberdade é aliciante, tal fica gorado por uma contradição inevitável: o AI Act recorda-nosque a inteligência artificial não pode nunca funcionar sozinha – manter um “ human in the loop ” é a forma de garantir que a supervisão humana continua a ser o fio condutor da responsabilidade e da tomada de decisão, entendimento que acompanhamos.

Não obstante, num mundo onde a inovação assume um imperativo estratégico, será precisamente a interação entre automatização e supervisão, eficiência e responsabilidade, que transforma a inteligência artificial num valioso aliado para as empresas: a verdadeira inovação não reside apenas na automatização, mas na capacidade de harmonizar a inteligência artificial com a supervisão humana, reforçando, assim, a eficiência, a cultura de governação e os valores que diferenciam as entidades.

2.- Artificial Intelligence Act, estabelecido pelo Regulamento (EU) 2024/1689, de 13 de junho, que define regras harmonizadas em matéria de inteligência artificial nos Estados-Membros.

Notícias & Informações

NOVIDADES DAS EMPRESAS CERÂMICAS PORTUGUESAS

ALELUIA

Aleluia Ceramics celebra 120 anos com exposição em Aveiro

“Peças da história, espaços de futuro” assinala o legado e a visão de uma marca centenária

De 2 de agosto a 28 de setembro, a Galeria da Antiga Capitania do Porto de Aveiro acolhe a exposição “ 120 Anos da Aleluia Ceramics – Peças da história, espaços de futuro”, uma iniciativa que celebra a história, o legado e a constante reinvenção de uma das marcas mais icónicas da cerâmica portuguesa.

Organizada em parceria com a Câmara Municipal de Aveiro, esta mostra convida o público a mergulhar no universo da Aleluia Ceramics, empresa fundada em 1905, em Aveiro, onde continua sediada até hoje. Com entrada gratuita, a exposição propõe um percurso entre passado, presente e futuro, destacando a evolução da marca ao longo de mais de um século de atividade.

Uma viagem no tempo através da cerâmica

Desde os primeiros dias da Fábrica dos Santos Mártires até às mais recentes coleções de design contemporâneo, a exposição apresenta uma seleção de produtos históricos, peças pintadas à mão, equipamentos de laboratório e painéis publicitários que marcaram diferentes épocas.

A cidade de Aveiro como cenário e inspiração

Além de celebrar a longevidade e identidade da Aleluia Ceramics, a exposição sublinha a profunda ligação da empresa à cidade de Aveiro.

Estes testemunhos revelam não só a qualidade técnica da marca, mas também a sua capacidade de adaptação estética às transformações da arquitetura e do design de interiores.

No final do percurso expositivo, os visitantes são convidados a seguir um roteiro urbano que dá a conhecer locais onde a cerâmica da Aleluia continua presente e ativa no tecido arquitetónico da cidade.

Noticias & Informações

Curadoria e parcerias

A exposição resulta de um trabalho conjunto entre a Aleluia Ceramics e a equipa da Divisão de Cultura e Turismo, Museus e Património Cultural da Câmara Municipal de Aveiro, com curadoria de José António Christo e Patrícia Sarrico.

Informações úteis

• Exposição: 120 Anos da Aleluia Ceramics – Peças da história, espaços de futuro

• Local: Galeria da Antiga Capitania do Porto de Aveiro, Aveiro

• Datas: 2 de agosto a 28 de setembro de 2025

• Entrada: Gratuita

• Organização: Aleluia Ceramics e Câmara Municipal de Aveiro

• Curadoria: José António Christo e Patrícia Sarrico (CMA) | Aleluia Ceramics

REVIGRÉS

Revigrés e REGA ENERGY assinam acordo estratégico de longo prazo para fornecimento de biometano

A Revigrés quer liderar a descarbonização do setor da cerâmica com a substituição do consumo de gás natural fóssil por biometano, no processo industrial, reforçando a sustentabilidade e a competitividade dos seus produtos

As empresas portuguesas Revigrés e REGA ENERGY assinaram um acordo pioneiro para o fornecimento de biometano a longo prazo.

O contrato prevê que a REGA ENERGY, empresa de energias renováveis, venha a fornecer biometano – que será produzido nas unidades que está a instalar em Portugal e com certificado de origem e prova de sustentabilidade – à Revigrés, pelo período de 10 anos.

Este acordo permitirá à Revigrés produzir cerâmica mais sustentável, liderando a substituição do gás natural por fontes de energia renovável. Ao substituir em

Notícias & Informações

cerca de 20 % do seu consumo de gás natural por biometano – que pode ser introduzido diretamente nos processos produtivos sem necessidade de alterações –, a empresa implementa uma alternativa altamente eficiente e sustentável, marcando um passo decisivo rumo à descarbonização do seu processo industrial.

A Revigrés tem vindo a implementar um Plano Integrado para a Descarbonização e Eficiência Energética, que contempla várias iniciativas para reduzir as emissões de CO2 e otimizar o consumo de energia e de água. Este esforço foi reconhecido recentemente com a atribuição de um prémio Sustainability Initiative Award.

Além disso, com a recente obtenção da norma ISO 50001 – relativa à certificação energética –, a Revigrés compromete-se a melhorar o desempenho energético de forma contínua, promovendo a utilização de energias alternativas e renováveis, bem como a redução de custos e dos impactes ambientais. A empresa de Barrô, orgulha-se de ser a única empresa do setor cerâmico a alcançar a quíntupla certificação dos seus sistemas de gestão integrados.

“O contrato com a REGA ENERGY é um passo muito importante no quadro da nossa estratégia de sustentabilidade e inovação, que nos diferencia e que vai reforçar a nossa capacidade competitiva a médio e longo prazo”, afirma a Revigrés.

Para a REGA ENERGY, a parceria com Revigrés “enquadra-se na missão da nossa empresa, que está empenhada em contribuir para o rápido desenvolvimento de uma indústria e de produtos nacionais competitivos e sustentáveis, fazendo avançar a ideia de que o Made in Portugal ser Made Sustainable , vai gerar valor económico, social e ambiental e criar competitividade para a indústria instalada em Portugal”

TERRAFINA

Terrafina Stoneware by Ceramirupe com novidades na Maisonet Objet e na Host em 2025 .

A Terrafina Stoneware by Ceramirupe confirma a sua presença nos principais salões internacionais de 2025, com uma agenda que inclui a Maisonet Objet , de 4 a 8 de setembro, em Paris, e a feira dedicada à hotelaria, Host , de 17 a 21 de outubro, em Milão. Nestes eventos, a marca apresentará um portfólio renovado com novas categorias de produtos, coleções e peças de design exclusivo.

Esta dupla participação intensifica a dinâmica do seu mercado B2B, com uma forte aposta nos segmentos de Gift e Tableware HoReCa

Nova Linha HomeDecor: Jarras Decorativas para Oferecer “Emoções”

A marca estreia-se oficialmente no mercado de decoração de interiores com uma linha que se destaca pelas formas simples e pela aplicação de vidrados reativos em oito cores. Esta técnica, de cariz artesanal, confere a cada peça um carácter único e de inspiração emocional, ideal para o exigente mercado de presentes que procura originalidade e qualidade.

Noticias & Informações

A Arte de Servir e Partilhar

Será apresentada uma nova categoria de produtos –Serve and Share – que inclui duas caçarolas (com 0,65 L e 1,6 L de capacidade) e um versátil Prato para Tapas. As peças estão disponíveis em dois acabamentos: creme e preto mate.

Nova Coleção Aurora para os Segmentos Gift e Ho -

ReCa

Será também lançada a coleção Aurora , uma linha de

estética muito atual e alinhada com as tendências do momento, onde se evidenciam as fusões de brancos com tons rosa e apontamentos de azul. O que vem a seguir? A resposta será desvendada nas feiras, com a apresentação de novos produtos que prometem surpreender e complementar na perfeição as coleções Terrafina.

Sobre a Terrafina Stoneware by Ceramirupe

A Terrafina Stoneware by Ceramirupe é uma marca da Ceramirupe Cerâmicas, um reconhecido fabricante português de grés com mais de 38 anos de experiência em tableware e artigos decorativos. Inicialmente criada para o mercado de artigos de oferta, a Terrafina expandiu-se para responder à procura da indústria hoteleira, com uma oferta de louça de mesa que vai desde opções de fine dining até soluções mais casuais. Produzida manualmente por ceramistas especializados, cada peça é um testemunho de dedicação e de práticas de produção sustentável, garantindo qualidade e valor excepcionais para clientes exigentes.

A Terrafina Stoneware by Ceramirupe disponibiliza uma plataforma de e-commerce B2B em Terrafinastore.com , onde é possível agilizar as encomendas a qualquer hora, com stock garantido de fábrica para uma entrega mais célere. A plataforma está agora disponível para empresas qualificadas, incluindo lojas de retalho, designers de interiores e estabelecimentos do setor da hotelaria, como restaurantes e empresas de catering.

Calendário de Eventos

CERSAIE’2025 (Ladrilhos Cerâmicos)

Anual – Bolonha (Itália)

De 22 a 26 de Setembro de 2025 cersaie.it

FERIA HABITAT VALENCIA’2025

(Ladrilhos Cerâmicos/Design Habitat

Anual – Valencia (Espanha)

De 29 de Setembro a 02 de Outubro de 2025 feriahabitatvalencia.com/en/

The New York Tabletop Show´2025 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)

Bianual – New York (EUA)

De 16 a 19 de Setembro de 2025 tabletopassociationinc.com

HOST MILANO’2025 (Restauração)

Anual – Milão (Itália)

De 17 a 21 de Outubro de 2025 host.fieramilano.

DECOREX’2025 (Design/Tendências)

Anual – Londres (UK) De 12 a 15 de Outubro de 2025 decorex.com

UNICERA’2025 (Ladrilhos Cerâmicos/Louça Sanitária)

Anual – Istambul (Turquia) De 3 a 7 de Novembro de 2025 en.unicera.com.tr/

MAIS CONCRETA’2025 (Construção / Tendências para arquitetura e interiores)

Anual – Porto (Portugal) De 06 a 07 de Novembro de 2025 concreta.exponor.pt/

DOWNTOWNDESIGN’2025 (Design/Tendências)

Anual – Dubai (EAU) De 5 a 9 de Novembro de 2025 downtowndesigcom

JORNADAS TÉCNICAS DA CERÂMICA

Bianual – Coimbra ( Portugal) De 19 a 21 de Novembro de 2025

LONDON BUILD ‘2025 (Materiais de Construção)

Anual – Londres (UK)

De 19 a 20 de Novembro de 2025 londonbuildexpo.com

BIG 5 SHOW´2025 (Materiais de Construção)

Anual – Dubai (EAU)

De 24 a 27 de Novembro de 2025 www.thebig5.ae/

ARCHITEC@WORK 2025 (Materiais de Construção)

Anual – Lisboa (Portugal)

De 3 a 4 de Dezembro de 2025 architectatwork.pt//

MAISON & OBJET’2026 (Design / Cerâmica Utilitária e Decorativa)

Bianual - Paris (França)

De 15 a 19 de Janeiro de 2026 maison-objet.com

THE INTERNATIONAL SURFACE EVENTE 2026 (Ladrilhos cerâmicos)

Bianual – Las Vegas (EUA) De 27 a 29 de Janeiro de 2026 https://www.intlsurfaceevent.com/

SURFACE DESIGN SHOW’2026 (Ladrilhos Cerâmicos)

Anual – Londres (R.U.) De 4 a 5 de Fevereiro de 2026 surfacedesignshow.com/

AMBIENTE’2026 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)

Anual – Frankfurt (Alemanha) De 06 a 10 de Fevereiro de 2026 ambiente.messefrankfurt.com

HIP HORECA PROFESSIONAL EXPO’2026 (Restauração)

Anual – Madrid (Espanha) De 16 a 18 de Fevereiro de 2026 expohip.com/en/

NKBA|KBIS’2026

(Cerâmica Sanitária e Ladrilhos Cerâmicos)

Anual – Orlando (USA)

De 17 a 19 de Fevereiro de 2026 https://kbis.com/

THE INSPIRED HOME SHOW’2026 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)

Anual – Chicago (EUA)

De 10 a 12 de Março de 2026 theinspiredhomeshow.com

EXPOREVESTIR’2026 (Ladrilhos Cerâmicos)

Anual – São Paulo (Brasil)

De 9 a 13 de Março de 2026 exporevestir.com.br/

CERAMITEC’2026

(Tecnologia para Cerâmica)

Bianual – Munique (Alemanha)

De 24 a 26 de Março de 2026 https://ceramitec.com/en/

COVERINGS’2026

(Ladrilhos Cerâmicos)

Anual – Las Vegas (USA) De 30 de Março a 02 Abril de 2026 coverings.com/

The New York Tabletop Show´2026 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)

Bianual – New York (EUA) De 14 a 17 de Abril de 2026 tabletopassociationinc.com

TEKTÓNICA´2026 (Construção)

Anual – Lisboa (Portugal) De 23 a 25 de Abril de 2026 tektonica.fil.pt/

The National Restaurant Show.com’2026 (Horeca / Cerâmica Utilitária)

Anual - Chicago (USA) De 16 a 19 de Maio de 2026 nationalrestaurantshow.com

EquipHotel’2026 (Horeca / Cerâmica Utilitária)

Anual – Paris (França) De 2 a 5 de Novembro de 2026 equiphotel.com

ISH’2027 (Cerâmica Sanitária)

Bianual – Frankfurt (Alemanha) De 15 a 19 de Março de 2027 ish.messefrankfurt.com/frankfurt/en.html

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