KÉRAMICA
revista da indústria cerâmica portuguesa
CERÂMICA & CRISTALARIA TENDÊNCIAS DE LUXO

revista da indústria cerâmica portuguesa
Acreditada pelo IPAC como organismo de certificação de produtos (incluindo Regulamento dos Produtos de Construção), serviços e sistemas de gestão
Editorial
A marcar o início de um novo ciclo diretivo na APICER, corresponde fazer um editorial que, sendo o primeiro, me leva a abordar a temática da vida associativa bem como o mundo em que vivemos atualmente.
A Direção recém-eleita é um misto de juventude e experiência de ligação à indústria e às empresas, com o acompanhamento e envolvimento nos desafios do setor, em particular da descarbonização e necessidade de inovação nos setores da Cerâmica e da Cristalaria, fortemente dependentes do gás natural como principal fonte de energia para o seu processo.
As ações tomadas no âmbito do PRR pelo consórcio APICER, CTCV, AIVE e empresas, demonstram bem a responsabilidade assumida em defesa dos setores que representamos. A ter em conta os Roteiros para a Descarbonização das Indústrias da Cerâmica e da Cristalaria, a aproximarem-se da sua conclusão e que respondem aos caminhos a tomar para uma maior eficiência e competitividade.
O mercado global e a incerteza provocada pela imposição de Tarifas por parte dos Estados Unidos da América aos países seus fornecedores, agravada por avanços e retrocessos criam nas empresas, e não apenas do nosso setor, dúvidas quanto ao futuro. Veremos como vai estabilizar este tema pois parece estar longe de terminar.
Também neste campo, há que ter presente a situação económica da própria China, que ficando excedentária de produção e fazendo um maior escoamento de produtos por via da exportação, sendo uma ameaça séria às nossas empresas. As condições são de desigualdade, bastando pensar apenas na questão da energia e do custo de descarbonizar a nossa economia. À vista estão algumas das conclusões dos Roteiros para a Descarbonização que apontando caminhos, esbarram na falta de
materialização das soluções e do tempo necessário para as realizar. Recordo a mesa-redonda do evento CeramicLow Co2, realizado no passado dia 29 de maio , onde a resposta dos fornecedores de equipamentos deixa aos empresários o risco de escolha da tecnologia a adotar, na justa medida em que ainda existe indisponibilidade de novos combustíveis em quantidade suficiente para servir todo o mercado. Ou seja, estaremos perante algum dilema, ainda durante algum tempo.
No plano local, após as eleições legislativas de 18 de maio, temos agora um novo Governo que esperamos possa não apenas dar continuidade às questões associadas ao PRR que ao nosso setor dizem respeito mas, também, acelerar a execução da sua execução transversalmente a todo o seu âmbito de influência. E, sobretudo, que exista estabilidade e previsibilidade, para que as empresas tenham condições para desenvolver os seus projetos.
Sobre o tema a que este número da KÉRAMICA dá destaque, “Tendências de Luxo”, há que dizer tratar-se de uma abordagem na criação de maior valor aos produtos que já produzimos ou a outros a desenvolver. É um segmento no qual é necessário ter uma abordagem bem diferente do tradicional já que, muitas das empresas do setor, são produtores de séries longas de produto onde, o fator diferenciação se torna difícil de alcançar. No entanto, é relevante destacar que a indústria cerâmica tem vindo a evoluir significativamente, deixando de ser um setor meramente funcional para se afirmar como um segmento estratégico no universo do design de interiores e da arquitetura de luxo. Este reposicionamento reflete-se no crescimento do nicho de luxo, orientado para um público exigente que valoriza não apenas a funcionalidade, mas sobretudo a diferenciação, a exclusividade, a inovação e a elegância estética e sofisticação visual.
Há que entender claramente o que é o “Luxo”. No entendimento de alguns, compreende aquilo (bem ou serviço) que está ao alcance de poucos, conferindo um caráter de exclusividade para quem lhe pode aceder.
Aplicar este conceito aos produtos de setor, é um desafio e um investimento para ser feito ao longo do tempo. É um processo construtivo que requer um plano bem definido e uma estratégia de implementação coerente e sustentada. Outra forma de o conseguir, de forma mais rápida, pode ser a constituição de parcerias com marcas bem posicionadas neste segmento.
Temos já empresas produtoras de cerâmica e cristalaria em Portugal, que têm demonstrado o seu potencial para competir no cenário de luxo, nomeadamente a nível internacional, não apenas como fabricantes/fornecedoras mas, também, como criadoras de tendências em design.
Ou seja, há muito trabalho pela frente, para todos os intervenientes do mercado. A resiliência, caraterística dos Portugueses, permitirá chegar mais longe neste campo. É um desejo mas, também uma convicção, e temos de trabalhar com esse objetivo.
Jorge Vieira (Presidente da Direção da APICER)
Editorial . Kéramica . p.1
Destaque . 03
Tendências de Luxo: Caminhos para a Cerâmica e Cristalaria Portuguesas se Afirmarem no Cenário Global
Luxo . 06
Como Definiria Excelência?
A Cerâmica Portuguesa: Uma Herança Viva que Conquista o Mercado de Luxo
Design . 11
O Outro Luxo: Propósito, Narrativa e Identidade Ressignificar o Luxo
Mercados . 22
Barreiras ao Livre Comércio e os Desafios à Indústria Cerâmica Portuguesa.
Descarbonização . 27
Roteiro para a Neutralidade Carbónica da Indústria Cerâmica Portuguesa até 2050: Desafios, Oportunidades e Caminhos para a Descarbonização
Descarbonizar: Mais do que um Slogan, uma Urgência!
Construção . 30
Evolução da Produção na Construção na Área do Euroconstruct
Associativismo . 32
Workshop Passaporte Digital do Produto e o Novo Regulamento dos Produtos de Construção
Secção Jurídica . 34
Luxo Intemporal – Onde a Tradição se Encontra com a Inovação
O Mercado de Luxo: Transformação, Exclusividade e o Papel da Cerâmica e Cristalaria
Marcas . 17 Tendências . 14
O Luxo do Toque: Quando o Barro se Faz Desejo
Propriedade e Edição APICER - Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria NIF: 503904023
Direção, Administração, Redação, Publicidade e Edição Rua Coronel Veiga Simão, Edifício Lufapo Hub A - nº 40, 1º Piso 3025-307 Coimbra [t] +351 239 497 600 [f] +351 239 497 601 [e-mail] info@apicer.pt [internet] www.apicer.pt
Tiragem 500 exemplares
Diretor Jorge Costa de Jesus Vieira
Editor e Coordenação Albertina Sequeira [e-mail] keramica@apicer.pt
Conselho Editorial Albertina Sequeira, António Oliveira, Cristiana Costa Claro e Martim Chichorro
Capa Nuno Ruano
Diferenças Remuneratórias entre Homens e Mulheres
Notícias & Informações . 37
Novidades das Empresas Cerâmicas Portuguesas
Calendário de Eventos . 40
Colaboradores
Albertina Sequeira, António Oliveira, António Paraíso, Claudio Prado Junior, Filipa Belo, Filipa Pereira Silva, Francisco Carvalheira, Helena Amaral Neto, Jorge Rodrigues de Almeida, Laia Oms, Mariana Bem-Haja, Martim Chichorro, Nelson Martins, Nuno Matos Cabral, Raquel Costa Pereira, Rita Ibérico Nogueira e Teresa Ribeiro Bento
Paginação
Nuno Ruano
Impressão
Gráfica Almondina - Progresso e Vida; Empresa Tipográfica e Jornalística, Lda Rua da Gráfica Almondina, Zona Industrial de Torres Novas, Apartado 29 2350-909 Torres Novas [t] 249 830 130 [f] 249 830 139 [email] geral@grafica-almondina.com [internet] www.grafica-almondina.com
Distribuição
Gratuita aos associados e assinatura anual (6 números); Portugal €43,00 (IVA incluído); União Europeia €60,00; Resto da Europa €75,00; Fora da Europa €90,00
Versão On-line https://issuu.com/apicer-ceramicsportugal
Notas
Proibida a reprodução total ou parcial de textos sem citar a fonte. Os artigos assinados veiculam as posições dos seus autores. Esta edição vem acompanhada da Revista TECNICA 2025 // #29 | JUNHO/JULHO | Bimestral
Índice de Anunciantes
CERTIF (Verso Capa) • GOLDENERGY (Verso Contra-Capa) • INDUZIR (Contra Capa)
Conteúdos conforme o novo acordo ortográfico, salvo se os autores/colaboradores não o autorizarem
Publicação Bimestral nº 395 . Ano XLX . Maio . Junho . 2025
Depósito legal nº 21079/88 Publicação Periódica inscrita na ERC [Entidade Reguladora para a Comunicação Social] com o nº 122304 ISSN 0871 - 780X Estatuto Editorial disponível em http://www.apicer.pt/apicer/keramica.php
por Helena Amaral Neto, Managing Partner LUXULTING-Luxury Consulting e Coordenadora dos cursos executivos de Gestão do Luxo no ISEG Executive Education
Nos últimos anos, o conceito de luxo sofreu uma transformação profunda, acompanhando as mudanças de mentalidade dos consumidores e da sociedade em geral. Antes associado à ostentação, ao excesso e ao inacessível, o luxo hoje aproxima-se de valores como autenticidade, propósito, sustentabilidade e experiência. Esta mudança, longe de representar um
desafio, abre uma janela de oportunidade única para setores que tradicionalmente foram reconhecidos pela sua excelência técnica e ligação à cultura, como é o caso da cerâmica e da cristalaria portuguesas.
Portugal possui uma longa e rica tradição na arte de moldar a matéria. Seja através do barro, do vidro ou do cristal, o saber-fazer português é reconhecido e valorizado a nível internacional. No entanto, transformar esse capital cultural e técnico num produto de luxo exige mais do que qualidade e tradição. Exige visão estratégica, construção de marca, adaptação a novas linguagens e uma conexão emocional com o consumidor global. E é aqui que reside o grande desafio e a grande oportunidade para as empresas do setor.
Vivemos numa era em que o consumo deixou de ser apenas funcional e passou a ser identitário. Compramos marcas e objetos que refletem quem somos, os valores que defendemos, a visão do mundo que queremos partilhar. Neste novo paradigma, o luxo já não é medido apenas pelo preço ou pela raridade dos materiais, mas pela capacidade que um objeto tem de nos emocionar, de contar uma história, de nos fazer sentir únicos.
Neste contexto, o setor da cerâmica e da cristalaria encontra-se particularmente bem posicionado.
Ao contrário de produtos produzidos em série e de forma impessoal, a cerâmica e o cristal têm uma dimensão profundamente artesanal e sensorial. São objetos que passam pelas mãos humanas, que carregam o tempo do gesto, a imperfeição do toque, a singularidade da peça única. Essa dimensão artesanal é cada vez mais valorizada pelo luxo contemporâneo.
Além disso, há uma procura crescente por objetos que nos liguem às nossas origens, à natureza, à memória. Peças de cerâmica feitas com materiais naturais, com design inspirado nas formas orgânicas, ou cristais que captam e transformam a luz do ambiente, tornam-se mais do que meros utensílios: tornam-se símbolos de um estilo de vida mais atento, mais contemplativo, com mais significado.
Durante muito tempo, o luxo esteve associado a geografias específicas: França, Itália, Suíça. No entanto, o panorama está a mudar. Há um interesse crescente por novos territórios de excelência, por tradições ainda pouco exploradas a nível global, por culturas com uma identidade estética própria. Portugal tem, nesse sentido, todos os ingredientes para se tornar um polo de desejo no mundo do luxo.
A tradição cerâmica portuguesa é secular, e mantém-se viva. Do Alentejo ao Minho, do Ribatejo à Madeira, encontramos oficinas e fábricas que perpetuam técnicas ancestrais, muitas vezes passadas de geração em geração. Na cristalaria, temos casas com décadas de experiência, que aliam precisão técnica a uma abordagem artística exigente. Este património imaterial é hoje um dos ativos mais valorizados no mercado de luxo.
O cliente sofisticado procura autenticidade. Quer saber de onde vêm os produtos, quem os fez, como foram feitos, e porquê. Neste sentido, a valorização do “Made in Portugal” pode e deve ser uma estratégia de posicionamento central para as marcas do setor. Mas para que esse selo se transforme num valor reconhecido e desejado, é necessário investir na construção de uma narrativa forte, coerente e alinhada com as expectativas do mercado global.
Um dos grandes desafios que muitas empresas do setor enfrentam é a transição de uma lógica de produção para uma lógica de marca. Portugal é, há muito, reconhecido como um país de excelência industrial, fornecedor de grandes marcas internacionais. Mas é precisamente neste ponto que se encontra a chave para o reposicionamento no segmento do luxo: deixar
de ser o "fabricante por trás da marca" para se tornar na Marca que lidera, que dita tendências, que cria desejo.
Para isso, é essencial construir uma identidade de marca clara. Uma marca de luxo não é apenas um nome ou um logotipo, é uma promessa de valor. É uma visão estética. É uma forma de estar no mundo. É um discurso consistente, tanto visual como verbal, que se expressa em cada detalhe: desde a embalagem ao ponto de venda, desde o atendimento ao cliente até à presença digital. E implica um fator crítico: tempo. É também necessário compreender que o luxo vive da experiência. Comprar uma peça de cerâmica ou cristal não é apenas adquirir um objeto – é participar num ritual. É entrar num universo simbólico. É sentir que se está a aceder a algo especial, exclusivo, feito com tempo, intenção e cuidado. Por isso, a experiência de marca deve ser desenhada com a mesma atenção ao detalhe que a peça em si.
Para orientar de forma mais concreta as empresas portuguesas de cerâmica e cristalaria que desejam entrar ou consolidar-se no segmento do luxo, é essencial compreender as tendências que moldam o comportamento do cliente contemporâneo. Estas tendências, longe de serem modas passageiras, refletem mudanças estruturais nas prioridades, valores e estilos de vida de quem consome luxo, sobretudo nas gerações mais jovens e influentes.
Um dos aspetos mais marcantes do “novo luxo” é a sua ligação intrínseca à sustentabilidade. O cliente de hoje, especialmente nos mercados mais exigentes como o europeu e o norte-americano, demonstra uma crescente consciência ecológica. A origem dos materiais, o impacto ambiental do processo produtivo, a pegada de carbono das cadeias logísticas e a durabilidade dos produtos tornaram-se critérios de escolha tão importantes quanto o design ou a marca. Neste sentido, as empresas portuguesas têm uma oportunidade real de se posicionar de forma estratégica: valorizando matérias-primas locais, otimizando os processos de produção e investindo na transparência da sua comunicação. A cerâmica e o cristal, pela sua própria natureza – duráveis, recicláveis, intemporais – já partem com uma vantagem considerável neste campo.
Aliado à sustentabilidade, o valor do artesanato e da autenticidade ganha uma centralidade crescente. O cliente de topo está a redescobrir o fascínio pelo feito à mão, pelas técnicas ancestrais, pelos pro -
cessos que não se sujeitam à lógica da velocidade e da produção em massa. Neste sentido, a imperfeição torna-se uma marca de valor, pois comprova a intervenção humana. Uma pequena assimetria numa peça de cerâmica, a leve irregularidade de um vidro soprado, deixam de ser vistos como defeitos e passam a ser símbolos de identidade, de verdade e de conexão com o artesão. Esta valorização do trabalho manual oferece ao setor português uma vantagem competitiva difícil de replicar. Mais do que produzir com perfeição técnica, trata-se agora de produzir com alma.
Outra característica fundamental deste mundo do luxo é o desejo por exclusividade. O luxo deixou de ser sinónimo de visibilidade e tornou-se, cada vez mais, uma questão de acesso limitado. Os clientes procuram produtos e experiências únicas, que não estão disponíveis para todos, que lhes permitem expressar a sua individualidade. Neste contexto, as edições limitadas, numeradas ou personalizadas tornam-se estratégias eficazes de posicionamento. Oferecer a possibilidade de personalização de uma peça, seja através da escolha de cores, texturas, acabamentos ou até da gravação de mensagens pode transformar uma peça comum num objeto de desejo.
Por outro lado, se o cliente valoriza a tradição, também exige inovação. Há que inovar sempre – com recurso a tecnologia e criatividade, ou ambos. Por exemplo, há marcas de cerâmica e vidro que estão a incorporar carimbos invisíveis nas peças para identificar a sua origem e autenticidade. Outras exploram novas técnicas de vidragem, fusão de materiais ou colaborações com artistas contemporâneos, introduzindo elementos inesperados que desafiam a perceção clássica do que é uma peça de mesa ou decoração.
Finalmente, o cliente de luxo de hoje procura marcas com propósito. Já não basta vender um excelente produto, é necessário apresentar uma razão de ser, uma visão do mundo, um contributo claro para a sociedade. As marcas que se afirmam neste novo panorama são aquelas que comunicam não apenas o “como” e o “o quê”, mas sobretudo o “porquê”. Este propósito pode estar ligado à preservação de uma técnica tradicional, ao apoio a comunidades locais de artesãos, à valorização da cultura portuguesa ou à inovação responsável. Contar esta história com consistência e verdade, através de todos os pontos de contacto com o cliente, torna-se uma ferramenta essencial de diferenciação e fidelização.
Não há marca sem uma história bem contada. Nenhuma peça, por mais tecnicamente (im)perfeita que seja, terá verdadeiro impacto se não for acompanhada por uma história que emocione, que faça sonhar, que crie uma ponte entre a marca e o cliente. A construção de storytelling – ou narrativa de marca – é cada vez mais um dos pilares centrais na estratégia de posicionamento de qualquer marca que se queira posicionar no segmento alto.
Esta narrativa começa dentro da empresa: é fundamental que toda a equipa, desde o design ao marketing, passando pela produção, logística e comercial, compreendam e partilhem os valores da marca. Só assim se garante coerência e autenticidade em todas as interações. Mas a narrativa também precisa de ser pensada para fora, ou seja, para os mercados e públicos que se pretende atingir. Ela deve ser inspiradora, envolvente, consistente, mas também flexível o suficiente para dialogar com diferentes culturas e sensibilidades.
No setor da cerâmica e da cristalaria, existe um terreno fértil para a construção de histórias ricas e memoráveis. Uma peça pode ser o reflexo de uma tradição regional, uma homenagem a um mestre artesão, a interpretação moderna de um motivo ancestral, ou até uma ponte entre culturas. Pode simbolizar o ciclo da natureza, os elementos, a luz, o tempo. Através da fotografia, do vídeo, do texto, das redes sociais, dos eventos e da experiência de loja, é possível construir um universo simbólico onde cada peça é muito mais do que um objeto — é um fragmento de uma identidade.
A loja, física ou digital, deve ser um espaço de descoberta e contemplação, onde a beleza dos produtos se revela em ambientes que reforcem o seu carácter especial. A iluminação, a disposição das peças, a forma como são apresentadas, tudo deve contribuir para criar uma atmosfera de sofisticação e exclusividade. No ambiente online, é fundamental apostar em imagens de alta qualidade, descrições sensoriais, vídeos imersivos e uma navegação intuitiva e fluida.
As marcas do setor da cerâmica e da cristalaria que aspiram a ser relevantes no segmento de luxo têm um grande desafio pela frente. Com uma visão estratégica de longo prazo e consistência na execução, acredito que as marcas Portuguesas podem ter um grande futuro!
por António Paraísoi , Consultor e Palestrante
Em 1983, o livro A Paixão pela Excelência, de Tom Peters e Nancy Austin, trouxe-me uma nova forma de entender a excelência.
Naquela época, eu fiquei fascinado com as ideias do livro.
Depois, ao longo de mais de 35 anos de carreira nos negócios, habituei-me a ouvir que a excelência é sinónima de qualidade extrema, perfeição ou algo que supera o que é
normal. É assim que os dicionários a definem: algo excecional ou extremamente bom.
Mais tarde, depois de ter estudado Gestão de Marcas de Luxo em Madrid e de ler muito sobre esse mundo de fascínio e sedução, comecei a entender a excelência de modo diferente. Leio muitos especialistas, investigo as histórias das marcas de luxo e faço reflexão sobre o tema. Lentamente, fui alterando a forma como entendo a excelência e criando a minha definição deste conceito.
Criei também o projeto Conversas de Excelência, no meu canal YouTube, onde debato em vídeo este tema com convidados de exceção.
O assunto é fascinante e fruto da minha análise e reflexão, criei uma fórmula daquilo que eu acredito ser a excelência!
De que é feita a excelência?
Sem dúvida que um objeto, um serviço, um momento, uma marca ou uma empresa para ser excelente terá de garantir que tudo o que lhe é tangível, está próximo da perfeição. A qualidade dos materiais, o design, a qualidade da manufatura, o local onde o serviço é prestado, o aspeto irrepreensível dos prestadores do serviço e o seu comportamento, tudo o que é visível tem de estar impecável e tem de configurar aquilo a que eu chamo “tangibilidade perfeita”. Mas, em minha opinião, não é suficiente para ser considerado excelente. A essa tangibilidade perfeita é preciso acrescentar intangibilidade sedutora, para que a fórmula da excelência fique completa. Faltam cinco atributos intangíveis, que quando sabiamente acrescentados a esta equação, produzem a excelência plena.
As experiências memoráveis, que solicitem os cinco sentidos de clientes são decisivas para construir excelência. A capacidade criativa é importante neste contexto, para produzir experiências surpreendentes. Vale a pena ver os
vídeos do restaurante Sublimotion, em Ibiza, para entender o que são experiências únicas.
A emoção e a autenticidade têm de ser obrigatórias na comunicação da marca com os seus públicos. Os clientes são pessoas e quando se emocionam, são mais felizes, menos racionais e gastam mais. Sem emoção, dificilmente haverá excelência. A série de vídeos ‘The Proposal’ da marca Cartier, é disso um bom exemplo.
A exclusividade dos produtos ou serviços e o tratamento personalizado, as coisas feitas propositadamente para alguém, com carinho e gosto, fazem as pessoas sentir-se especiais e permitem manter o valor alto da oferta e fazer o cliente sentir-se único e especial. Um presente exclusivo e elegante é, por exemplo, uma garrafa de Vinho do Porto do ano de nascimento do presenteado.
As marcas que permitem o envolvimento do cliente nos processos, aumentam o sentimento de pertença e a fidelização. Berluti e Ermenegildo Zegna proporcionam esse envolvimento sedutor no processo de encomenda de sapatos e fatos, feitos por medida.
A elegância no tratamento, o relacionamento correto e educado com clientes, fornecedores e colaboradores fá-los sentirem-se valorizados e com vontade de manterem esse relacionamento com quem as trata dessa forma, no mundo dos negócios.
Por estes motivos, eu acredito que a fórmula que nos permite chegar mais perto da excelência em tudo o que fazemos, na vida pessoal ou profissional, é a de combinar tangibilidade perfeita com os 5Es da intangibilidade sedutora.
Como podem as empresas do setor da cerâmica e cristalaria aplicar esta fórmula no desenvolvimento dos seus produtos e serviços e no relacionamento com todos os seus parceiros a montante e a jusante na sua cadeia de valor, para assim elevarem o nível daquilo que fazem, se diferenciarem da sua concorrência e produzirem verdadeira excelência que não deixa ninguém indiferente?
Deixo aqui aos leitores da revista Kéramica esta pergunta em jeito de desafio para reflexão.
por Francisco Carvalheira, Secretário-Geral da Laurel e Assistente convidado na Universidade Católica Portuguesa no
Curso Gestão do Luxo
A Laurel – Associação Portuguesa de Marcas de Excelência tem como missão promover, valorizar e defender o Saber-Fazer Português, reconhecendo que as marcas de luxo se alicerçam neste conhecimento profundo, transmitido ao longo de gerações. Ao incentivar a criação e promoção de marcas nacionais de luxo e excelência, trazemos os nossos associados para o centro do debate, reforçamos a reputação da Marca Portugal e
contribuímos para a geração de riqueza que permanece no país – contrariando a tendência de fuga de valor para o exterior.
Luxo no Século XXI: Tradição com Novos Valores
O luxo, apesar de manter os seus traços distintivos – como a ostentação, a exclusividade, a mestria artesanal acumulada ao longo de décadas, os materiais nobres e o design refinado – tem vindo a incorporar, nas últimas duas décadas, novos valores: personalização, sustentabilidade, inovação e ética. Esta evolução reflete a transformação dos valores da sociedade contemporânea e as exigências das novas gerações de consumidores.
Portugal e o Luxo: Um Enquadramento Histórico e Cultural
Portugal possui uma longa e rica tradição na produção cerâmica, que lhe permite competir hoje com as grandes casas europeias do setor do luxo. Ao longo dos últimos dois séculos, a cerâmica portuguesa evoluiu da produção artesanal local para uma indústria reconhecida internacionalmente. Marcas como Vista Alegre (1824) e Bordallo Pinheiro (1884) foram pioneiras na afirmação de uma identidade nacional, aliando tradição, inovação e excelência.
No século XX, a cerâmica portuguesa incorporou influências artísticas modernas, conferindo nova vida
aos azulejos e às louças decorativas, mantendo sempre o equilíbrio entre o saber-fazer ancestral e a inovação técnica e estética.
A Cerâmica Portuguesa no Mercado Global de Luxo
O mercado de luxo valoriza elementos como a excelência, a autenticidade cultural, a exclusividade e a história. Na Europa, marcas de prestígio colaboram com designers contemporâneos, produzem edições limitadas e procuram continuamente os melhores materiais e técnicas. Os consumidores de elevado poder de compra procuram peças que traduzam identidade, artesanato e inovação – uma oportunidade para as marcas portuguesas afirmarem o seu valor.
Hoje, a cerâmica portuguesa reúne todos os atributos que definem o luxo: tradição centenária, mestria artesanal, design singular e uma forte ligação ao património cultural. Marcas como Vista Alegre, Bordallo Pinheiro e Viúva Lamego não só mantêm padrões de
qualidade ao nível das grandes casas europeias, como apresentam uma autenticidade e um imaginário visual próprios, inspirados na natureza, na história e na cultura portuguesa.
Construir uma Marca de Luxo Portuguesa: Desafios e Estratégias
Para posicionar a cerâmica portuguesa no segmento do luxo internacional, é essencial estruturar uma estratégia assente em quatro pilares:
1. Fortalecer a narrativa: valorizar as histórias da origem da marca, do atelier, dos artesãos e das técnicas ancestrais. Histórias verdadeiras criam ligação emocional e justificam o investimento.
2. Investir em edições limitadas: coleções numeradas e certificadas reforçam a exclusividade e aumentam a perceção de valor e a urgência de aquisição.
3. Estabelecer parcerias estratégicas: colaborações com designers de renome, galerias de arte, hotéis boutique e restaurantes gastronómicos elevam o prestígio e expandem os canais de distribuição.
4. Garantir sustentabilidade: o uso de matérias-primas locais e processos de baixo impacto ambiental reforça a proposta de “eco-luxo”, cada vez mais valorizada pelo consumidor atual.
A criação de uma marca de luxo nacional exige articulação em rede entre produtores, designers, galerias, museus, universidades e entidades culturais. Com 900 anos de tradição cerâmica, Portugal deve valorizar as suas narrativas históricas ligadas ao manuelino, às influências mouriscas e à tradição marítima. A junção entre artesãos experientes e criativos contemporâneos permite desenvolver coleções que cruzam tradição e modernidade.
A comunicação digital, a presença em feiras internacionais e a integração em espaços de luxo – como hotéis, conceptstores ou espaços museológicos – são fundamentais para a visibilidade e reputação global da cerâmica portuguesa.
Casos de Referência: O Tempo e a Excelência no Luxo Europeu
A legitimidade no setor do luxo constrói-se com tempo, credibilidade e significado. Exemplos europeus ilustram bem esta realidade:
• Meissen (Alemanha): fundada em 1710, é pioneira na porcelana europeia, destacando-se pelo estilo rococó e inovação artística.
• Richard Ginori (Itália): criada em 1735, famosa pelos motivos florais pintados à mão e pelo equilíbrio entre tradição e contemporaneidade.
• Wedgwood (Reino Unido): desde 1759, reconhecida pelo jasperware e pelas influências neoclássicas.
Em Portugal, destacam-se marcas associadas à Laurel com herança e reconhecimento internacional:
• Vista Alegre (1824): porcelana de alta qualidade, colaborações com designers e presença consolidada nos mercados de luxo.
• Bordallo Pinheiro (1884): cerâmica escultórica inspirada na natureza, combinando arte e funcionalidade.
• Viúva Lamego: especializada em azulejaria artística, com padrões tradicionais e técnicas manuais.
O Mercado de Luxo: Tendências e Oportunidades
Segundo a consultora Bain&Company, o mercado europeu de bens pessoais de luxo atingiu em 2024 um volume de cerca de 110 mil milhões de euros. Este mercado é definido pela criatividade, excelência artesanal e marcas com identidade forte.
O novo consumidor de luxo é jovem, digital, informado e exigente quanto à sustentabilidade. Assim, práticas de ESG (Environmental, Social and Governance) e economia circular estão a tornar-se imprescindíveis. Neste contexto, a cerâmica de luxo portuguesa – com porcelanas finas, faianças artísticas e azulejaria decorativa – assume um papel de destaque, ao oferecer sofisticação, herança cultural e responsabilidade ambiental.
Só existirá um futuro, se entre todos, todos, todos, as marcas, as escolas, as entidades responsáveis, se unirem para não perdermos o mais difícil, os Jovens, que serão os artífices do amanhã. Sem artífices, não há marcas de excelência.
por Nuno Matos Cabrali, Fundador e Diretor Criativo do Nuno Matos Cabral Design Studio
Durante décadas, o luxo foi sobretudo sinónimo de ostentação, exclusividade visível e poder material. Era uma linguagem de distinção, marcada por códigos de opulência, nomeadamente logótipos, metais preciosos ou a raridade, como forma de diferenciação. Este tipo de luxo continua a existir, mas atualmente está a emergir um novo paradigma, um luxo que não se impõe, que tem um propósito, e que se revela pela intenção e pela emoção.
Na era da consciência coletiva, da escuta ativa e da responsabilidade social, existe outro luxo. Um luxo que não grita, sussurra, que não precisa de chamar a atenção, porque é reconhecido por quem sabe ver. Hoje, mais do que nunca, o luxo mede-se pela intenção, pela profundidade e pela relevância.
Enquanto frequento o curso de Luxury Management do Politécnico de Hong Kong, este tema tem motivado uma reflexão constante: o que torna algo verdadeiramente luxuoso no século XXI? A resposta parece cada vez mais clara. O luxo não é apenas aquilo que se pode pagar, é aquilo que se sente, que se compreende, que se vive com significado. É um luxo com propósito. É o corte perfeito de uma peça sem logótipo, o som da porta de um carro bem construído ou a luz certa ao entardecer numa sala cuidadosamente desenhada. O luxo está em sentir emoções ao entrar num espaço, em sentar-se à mesa com uma peça que tem alma, em experienciar um produto com todos os sentidos, sabendo que ali há intenção, cuidado, ética e beleza. É o luxo daquilo que dura, que respeita o planeta e que carrega uma história.
A cerâmica no centro deste novo tempo
A cerâmica é, por natureza, um território de luxo relevante. Feita de terra, fogo e mãos, é ancestral, simbólica e funcional. É matéria que resiste, que guarda memórias, que envelhece com toda a história que a acompanha. Numa época em que se valoriza o autêntico e o durável, a
cerâmica reencontra o seu lugar como objeto de contemplação, utilidade e afeto.
Mas para que a cerâmica se afirme neste novo contexto, precisa de mais do que estética. Precisa de narrativa, de consciência e de visão. Precisa de uma direção criativa clara, que saiba traduzir identidade em linguagem visual e material, coerente. Assim, o luxo ganha mais voz e profundidade em cada projeto.
Foi com esse espírito que criei o projeto ODE e ODE 2.0, produzidos pela Vista Alegre para a WIT (Women in Tech). Foram desenvolvidas peças, interpretando, em diferentes escalas e silhuetas, uma homenagem às mulheres que dedicam a sua vida à tecnologia. Este objeto de porcelana fina e ouro, com acabamento artesanal, é simultaneamente poético e tecnológico. Reúne simbolismo e uma mensagem clara, o verdadeiro progresso tem rosto, corpo e emoção. É esta fusão entre design e propósito que torna o luxo relevante.
Sustentabilidade, identidade e design com alma Enquanto criador, vejo o luxo relevante como um território de exigência criativa, onde tudo deve ser intencional, da escolha da matéria à forma de produção, da embalagem à experiência do utilizador. O luxo relevante respeita o planeta, honra os saberes locais e olha para o futuro com responsabilidade.
Esta visão estende-se naturalmente ao design de interiores, onde a qualidade da experiência espacial deve
sobrepor-se ao mero impacto visual. Ambientes bem desenhados não têm, necessariamente, de impressionar, têm de acolher. É aqui que entra o design biofílico, um dos meus pilares enquanto designer e criativo. Esta é uma abordagem que promove a ligação emocional com a natureza através da luz natural, dos materiais orgânicos, das formas fluidas e de uma estética sensorialmente rica. Esta ligação profunda contribui para o bem-estar, reforçando o design como instrumento de equilíbrio e cura.
O design biofílico influencia também o meu trabalho no design de produto, incluindo a cerâmica. A observação de formas naturais ou de elementos marítimos, nomeadamente na imensidão da costa portuguesa é frequentemente o ponto de partida para o desenvolvimento de formas ou padrões decorativos. A natureza, mais do que um tema, é uma linguagem constante, capaz de gerar empatia, conforto e ligação sensorial com quem utiliza as peças.
Dois projetos refletem de forma clara esta filosofia. Um deles é Green is the New Black. Este projeto assume-se como um manifesto que transforma o espaço de trabalho ao integrar a natureza como parceira essencial na experiência de viver e trabalhar. A natureza não é apenas decorativa, é um princípio vital de um novo paradigma do edificado. Inspirado pela vastidão e pelo mistério do oceano, Ocean Infinity é um projeto onde a exploração da luz e da matéria inspirada na fluidez do oceano é o mote. Este candeeiro faz parte de um projeto de design que investiga a interação entre transparência, reflexão e materiais naturais, transportando a essência do mar para uma peça escultórica de iluminação. Mais do que um objeto, propõe-se como uma experiência sensorial e poética, onde a natureza não é apenas evocada, é traduzida em luz, forma e emoção.
Blue Bird: uma narrativa imersiva
Ao longo do meu percurso, tenho procurado aplicar uma visão centrada na criação de objetos e experiências que sirvam, emocionem e resistam ao tempo, que criem momentos imersivos. Um exemplo claro dessa abordagem foi a coleção Blue Bird, desenvolvida enquanto liderava a equipa criativa do Gato Preto. Um projeto onde a cerâmica foi apenas uma das vozes. A narrativa expandia-se para além das peças, envolvendo têxteis e elementos decorativos que dialogavam entre si para construir uma atmosfera coerente e sensível.
Inspirada na tradição da arte portuguesa, a coleção estabelecia uma simbiose entre pássaros e vegetação oriunda das tapeçarias de Castelo Branco, combinada com o azul
profundo dos azulejos do século XVIII. Cada peça, pintada à mão com a técnica de aguarela, fazia parte de um universo emocional que não se limitava ao produto, pretendia-se uma visão holística de espaço, identidade e emoção.
Storytelling: quando o objeto conta uma história
No universo do luxo relevante, o storytelling é mais do que uma ferramenta, é a alma do objeto. Um produto, seja de luxo ou não, deve ter algo a dizer. Não basta ser belo, tem de ter significado. O storytelling oferece contexto, emoção e propósito. Torna o que é material em memória, e o que é funcional em simbólico.
É o caso do projeto Metamorphose, composto por três aparadores nos quais explorei a transformação da madeira bruta em peças decorativas. A narrativa por detrás destas obras acompanha a viagem da matéria — da imperfeição à escultura. É nesta interseção entre forma, intenção e narrativa que reside o verdadeiro luxo. Cada uma destas peças conta uma história, e cada história deve poder ser vivida. Esta abordagem foi distinguida com duas menções honrosas a nível internacional.
O futuro do luxo também passa por Portugal?
Portugal tem uma oportunidade única neste novo cenário. Temos criatividade, matéria-prima, artesãos, história e talento contemporâneo para desenvolver projetos de topo. O luxo relevante valoriza o autêntico, o intemporal, o feito com alma e Portugal tem essa alma.
Para que o luxo português se afirme verdadeiramente, é fundamental que exista espaço para novas ideias. Quem detém a experiência e o conhecimento acumulado poderá, com generosidade e visão, dar oxigénio a novas abordagens, mais atuais, mais arrojadas, sempre com foco e respeito pela essência. A inovação não anula a tradição, enriquece-a. Só com este equilíbrio entre legado e vanguarda conseguiremos projetar uma identidade simultaneamente sólida e inspiradora.
Uma direção criativa credível, com visão estratégica e sensibilidade estética, é essencial para dar consistência, coerência e longevidade aos projetos. Tal como acontece na indústria italiana, que conheço bem, pois estudei design em Milão, o sucesso não reside apenas na técnica ou na tradição, mas também na capacidade de criar narrativas fortes, universos reconhecíveis e no respeito pela criatividade.
Portugal precisa de casar indústria e criativos para poder inovar e diferenciar-se. É tempo de deixarmos de seguir tendências e começarmos a defini-las. O luxo é feito por quem ousa pensar fora da caixa, por quem resiste à uniformização e se compromete com a autenticidade e com a originalidade.
Não se trata apenas de fazer bonito, nem de repetir fórmulas, trata-se de fazer com verdade, uma verdade que se vê, que se toca e que se sente. Porque o novo luxo não se mostra, revela-se. E quando é relevante, permanece.
por
Laia
Oms, World Luxury Chamber of Commerce
A cerâmica está a emergir como um símbolo poderoso no setor do luxo, representando o artesanato, a inovação e o património cultural. Ela serve como veículo de memória cultural e exploração estética, refletindo o crescente desejo por autenticidade e criação significativa nos mercados de alta qualidade, para além de apenas materiais funcionais. Isso reflete um interesse crescente por criações genuínas e significativas em produtos de alta qualidade. À medida que o mundo do luxo muda, a cerâmica é valori-
zada não apenas pela sua utilidade, mas pela história por trás das peças. Ela compartilha histórias de práticas locais, habilidade artística especializada e avanços criativos. Hoje em dia, o luxo não é definido apenas pela raridade ou pelo preço, mas pela profundidade da ligação à história, ao local e ao processo. O papel em evolução da cerâmica destaca um movimento dentro do setor do luxo que reconhece o valor genuíno dos objetos baseados na tradição, mas influenciados pelas ideias atuais. Essencialmente, a produção especializada já não é secundária ao luxo; é fundamental para a sua identidade.
Curadoria da excelência: como a Câmara de Comércio Mundial do Luxo molda o panorama do luxo
Na definição em constante evolução do luxo, a Câmara de Comércio Mundial do Luxo (WLCC) desempenha um papel fundamental na definição e promoção dos mais elevados padrões em todo o setor global do luxo. A Câmara funciona como uma rede global de partes interessadas no setor do luxo, incluindo artesãos, designers, arquitetos, fabricantes e especialistas em materiais, que mantêm a integridade do luxo em todas as indústrias. A WLCC promove uma cultura em que a excelência é medida não apenas pela exclusividade, mas também pela relevância cultural, habilidade artesanal e visão criativa.
Nesta perspetiva refinada, o luxo já não se resume apenas à extravagância; trata-se de uma criação significativa – peças que transmitem uma sensação de permanência,
propósito e lugar. A cerâmica, historicamente vista através de funções funcionais ou decorativas, está hoje a ser reinterpretada como símbolo da identidade do luxo. Ela incorpora a tensão e a harmonia entre técnicas artesanais intemporais e inovação no design contemporâneo, tornando-a especialmente adequada para expressar os valores do luxo moderno.
Elevando a cerâmica ao estatuto de luxo Neste contexto de luxo mais alargado, a cerâmica sofreu uma transformação notável. Historicamente apreciada pelos seus objetivos funcionais e ornamentais, a cerâmica reclama hoje o centro do palco como forma de arte e afirmação de luxo. A sua evolução de material de construção essencial para artefacto colecionável é impulsionada por uma síntese refinada de habilidade artesanal, inovação de design e excelência do material. Os objetos de cerâmica de alta qualidade (desde azulejos arquitetonicamente integrados a instalações escultóricas) proporcionam uma dimensão experimental ao luxo que é simultaneamente tátil e emotiva. Os consumidores de luxo de hoje já não se satisfazem apenas com o estatuto; procuram objetos que reflitam a identidade, a profundidade cultural e a arte manual. Existe a necessidade de encontrar exclusividade nos detalhes, razão pela qual os criadores de cerâmica estão a reimaginar formas antigas, revivendo as tradições locais, mas também desenvolvendo novas estéticas que apelam às sensibilidades modernas. Além disso, há uma crescente apetência global por peças que repercutem emocionalmente, enriquecem os espaços e têm a assinatura de uma criação cuidada.
Reconhecimento de excelência e inovação – Prémios Luxury Construction Materials & Finishes Uma das principais missões do WLCC é reconhecer e elevar aqueles que incorporam estes princípios, particularmente através dos seus prestigiados prémios Luxury Construction Materials & Finishes através dos Luxury Lifestyle Awards (LLA). Estes prémios foram criados para homenagear os melhores fabricantes e fornecedores de materiais de construção e design de primeira qualidade – reconhecendo criações excecionais que misturam na perfeição o fascínio sensorial com a mestria técnica e celebrando os visionários que imprimem a cada produto uma profundidade narrativa e um sentido de responsabilidade. Na categoria de cerâmica, a LLA destaca aqueles que não só oferecem um design de superfície e um equilíbrio de cores impecáveis, mas que também ultrapassam os limites da
durabilidade, da inovação e da gestão ambiental. Os prémios afirmam o compromisso de uma marca em elevar o ambiente construído através da sofisticação e integridade. Proporcionam exposição internacional, ligam os inovadores a decisores influentes e afirmam o papel essencial da cerâmica na arquitetura, hotelaria e design de interiores de alta qualidade. Para os designers, promotores e colecionadores, as cerâmicas premiadas pela LLA dão o mote para o futuro do luxo material.
A cerâmica como elemento de luxo intemporal
No cerne da cerâmica de luxo está uma interação convincente entre tradição e modernidade. Esta tensão, em vez de uma contradição, torna-se uma fonte de poder criativo.
As técnicas tradicionais, como a cozedura raku, o esgrafito e a faiança, estão a ser preservadas e revitalizadas, enquanto os artistas contemporâneos utilizam a tecnologia CNC, a escultura com braços robóticos e padrões generativos baseados em IA para melhorar as suas capacidades. Estas justaposições refletem não só o hibridismo estético, mas também uma abordagem filosófica do luxo que valoriza tanto a continuidade como a invenção.
Em Portugal, o rico legado dos azulejos encontra uma nova expressão nas mãos de designers que reinterpretam motivos históricos através do prisma das tendências globais de design, esmaltes metálicos e formatos não convencionais. Noutros locais, a cerâmica está a ser incorporada em superfícies inteligentes, instalações interactivas e sistemas arquitectónicos modulares – demonstrando a adaptabilidade do material sem perder a sua alma. Os consumidores sintonizados com o luxo exigem cada vez mais este equilíbrio: a segurança da tradição aliada ao entusias-
mo da inovação; tudo integrado numa narrativa de autenticidade.
Avançando num mercado em evolução: O futuro da cerâmica de luxo
Apesar da vitalidade do setor, a cerâmica de luxo enfrenta pressões crescentes e as expectativas dos consumidores estão a evoluir. De acordo com o relatório Luxury Ceramic Ware Market, a procura de produtos de alta qualidade e esteticamente refinados está a aumentar, ao mesmo tempo que a pressão sobre os fabricantes para inovarem, mantendo a qualidade artesanal, está a intensificar-se. A expetativa crescente dos consumidores em relação à funcionalidade e à beleza exige um investimento contínuo em materiais avançados e tecnologias de produção. Este facto pode sobrecarregar os produtores mais pequenos ou tradicionais, que poderão ter dificuldade em acompanhar o ritmo. A pressão constante para a diferenciação dos produtos através de colaborações e inovação de design também eleva
o nível de competitividade, tornando mais difícil para as marcas menos estabelecidas se destacarem num panorama saturado só orientado para o estilo.
O mercado da cerâmica de luxo está a ser cada vez mais moldado pela procura de sustentabilidade por parte dos consumidores, com os compradores preocupados com o ambiente a favorecerem marcas que adotam o fornecimento ético e os materiais locais. Esta mudança levou à adoção de tecnologias energeticamente eficientes, à nova utilização de materiais reciclados e à criação de peças artesanais, feitas à mão, que enfatizam a autenticidade e a individualidade. A previsão para 2031 da PW Consulting afirma-o: A sustentabilidade já não é opcional. É parte integrante do novo sistema de valores do luxo.
Em conclusão, a convergência da cerâmica e do luxo é mais do que uma tendência estilística. Representa um renascimento cultural enraizado no design intencional, na valorização do património e na inovação sustentável. A cerâmica é reenquadrada não apenas como produto, mas como emblema do tempo, do lugar e do engenho humano. À medida que o luxo continua a evoluir, a arte e o design da cerâmica desempenharão um papel central na articulação de novas narrativas de elegância, objetivo e identidade. Para artesãos, designers e marcas que navegam neste espaço dinâmico, o desafio não é apenas criar beleza, mas criar significado. E para os consumidores, a oportunidade reside na descoberta de peças que fazem mais do que adornar – elas ligam, perduram e inspiram. Este é o futuro da cerâmica de luxo: um futuro em que a tradição e a tecnologia caminham de mãos dadas em direção a uma expressão de valor mais consciente e culturalmente rica.
FONTES: Luxury Ceramic Ware Market report, The forecast for 2031 by PW Consulting
por Rita Ibérico Nogueira, Diretora Executivada Fora de Série
Numa altura em que o luxo se afasta da ostentação para se aproximar do essencial, até o barro ganha valor de assinatura. A cerâmica, tradicionalmente utilitária, está a reaprender a sua vocação: ser arte, ser design, ser desejo. E, sobretudo, ser humana.
Imagine um desfile da Loewe, mas com bules em vez de carteiras em pele. Agora imagine que esse bule, que
habitou os armários das avós, passou a valer mais que o iPhone mais recente. Não é ficção – é o futuro do luxo em cerâmica.
Num mundo saturado pela produção massiva e pelo brilho impessoal, o toque humano reencontrou o seu protagonismo. A cerâmica artesanal – mãos sujas, gestos pacientes – entrou nos hotéis mais instagramáveis, nas casas melhor decoradas e nas vitrinas das marcas mais cobiçadas.
Hoje, o verdadeiro luxo é tempo. E nenhum investimento em tempo é tão valioso quanto uma peça feita à mão. Esmaltes que escorrem em personalidade, assimetria intencional – tudo isso é luxo no seu estado mais genuíno. Exemplo maior? Este da Loewe, com que iniciei este artigo: na Milan Design Week, 25 designers criaram bules que são esculturas utilitárias que narram ritual, matéria e saber-fazer cerâmico. Outro exemplo? A Noritake, empresa japonesa com raízes profundas, que se juntou à britânica Faye Toogood. A coleção “Rose” mistura porcelana refinada e tons off-white esculturais, rompendo fronteiras entre objeto de uso e obra de arte.
Tendências quentes (em forno lento)
No universo da cerâmica de luxo, as formas orgânicas e assimétricas afirmam-se como protagonistas. A imperfeição é hoje uma escolha estética, uma assinatura do gesto humano. Os acabamentos acompanham essa lógica sensorial: esmaltes mate, superfícies rústicas, efeitos metálicos ou de craquelê sugerem textura antes mesmo do toque. A paleta cromática segue uma linha discreta e terrosa – tons de areia, verde musgo, cinzentos densos e azuis profundos – evocando uma ligação directa com a natureza e o tempo. A funcionalidade, por sua vez, é frequentemente desafiada: peças híbridas cruzam categorias, como vasos que são também tutores de luz ou pratos que se aproximam da pintura. Estas tendências não são apenas estéticas – são
simbólicas. Falam de consumo consciente, de desejo táctil, de peças que convidam à contemplação e ao significado.
Marcas que moldam o futuro
Algumas marcas têm sido particularmente eficazes em traduzir este novo espírito da cerâmica no universo do luxo. A norte-americana L'Objet é uma das minhas favoritas e aposta numa abordagem sensorial e teatral, onde o artesanato mediterrânico se cruza com uma fantasia de formas e materiais – criando peças que são tão tácteis quanto visuais. A sul-coreana Prouna destaca-se pela produção de porcelana cravejada com cristais Swarovski, presença habitual em palácios, cortes reais e mesas cerimoniais, numa estética opulenta mas refinada. Já a Bodo Sperlein, em parceria com a histórica manufatura alemã Nymphenburg, exemplifica como a porcelana pode ser veículo de design de autor, unindo a precisão artesanal a uma visão contemporânea do objeto decorativo.
Vista Alegre: o luxo português em porcelana Nenhuma história de luxo português fica completa sem a Vista Alegre. Fundada em 1824, em Ílhavo, é hoje sinónimo de porcelana artística de prestígio internacional que nunca perdeu o seu ADN português – seja na fábrica em Ílhavo, na museologia que preserva saberes antigos ou nos padrões decorativos que evocam uma memória colectiva – mas soube reinventar-se com colaborações que a projetaram para o mundo. Entre os nomes que contribuíram para esse posicionamento contemporâneo estão Christian Lacroix, Marcel Wanders, Oscar de la Renta, Sam Baron, entre outros criadores com visões singulares do que pode ser a porcelana no século XXI.
Entre as suas coleções mais emblemáticas destaca-se a “Única”, composta por peças de edição limitada que combinam porcelana, cristal e vidro num exercício escultórico destinado a colecionadores exigentes. Esta série valeu à
marca diversos prémios de design e inovação, confirmando a sua capacidade de unir tradição e vanguarda. Já a coleção “Blue Ming”, desenhada por Marcel Wanders, reinterpreta o azul-cobalto português em caixas decorativas que oscilam entre o classicismo oriental e a ousadia contemporânea. Por sua vez, a linha “Jane”, inspirada na calçada portuguesa, transita entre o universo doméstico e o segmento HoReCa de luxo, traduzindo com subtileza o espírito urbano e gráfico das cidades portuguesas.
A Vista Alegre tornou-se um verdadeiro pólo cultural, através de estruturas como o GOA (Gabinete de Orientação Artística) ou o CADE (Centro de Arte e Design da Empresa), promovendo residências criativas e coleções comemorativas. A marca é hoje, sem hesitações, um caso de sucesso onde a cerâmica portuguesa se assume como produto de luxo cultural.
E Portugal?
Portugal, com tradição cerâmica em Alcobaça, Coimbra e Ílhavo, figura com destaque no mapa no luxo global. A APICER pode (e deve) amplificar estas narrativas, apoiando colaborações entre ceramistas e designers, fomentando séries limitadas e incentivando a entrada nos circuitos internacionais de mercado, turismo e colecionismo.
O luxo de hoje significa autenticidade, origem, sustentabilidade. A cerâmica, feita com barro local, fogo ancestral e saber manual, diz exatamente isso. Tem história, ética e densidade – o tipo de esforço criativo e material que o consumidor contemporâneo exige.
A cerâmica não era uma área tendencialmente sexy – até agora. Hoje, ser sexy é ser singular, ter história, ter alma. O barro, bem tratado, é o material que transforma o quotidiano em extraordinário. Um bule, uma taça, um vaso – podem ser muito mais que objetos: podem ser narrativas de luxo português com futuro. Porque, no fim, o luxo é a arte de transformar o banal em icónico.
por Claudio Prado Junior, Jornalista
Profissional Especialista em Mercado de Luxo
De um jeito ou de outro, todos nós temos internamente o desejo de vivenciar o luxo, seja essa experiência de consumo, de qualidade de vida, ou realização de sonhos.
O conceito de luxo sempre esteve associado à exclusividade, inovação e tradição. No entanto, o mercado de luxo evoluiu, como segmento de mercado que é, e passou a refletir as inevitáveis transformações económicas, tecnológicas e sociais do mundo moderno.
O que antes era um privilégio restrito a pessoas realmente ricas, hoje se expande para um público mais amplo, inclusive dando atenção a quem prefere esperar um pouco mais, e ter condições de comprar um produto mais exclusivo e de mais qualidade.
E isto é ótimo!
Tanto que, muitas marcas ampliaram seu leque de produtos com preços desde os mais acessíveis até o totalmente exclusivo.
Seja em Portugal, no Brasil ou no cenário mundial, o luxo agora vai muito além do conceito material. Ele está essencialmente na experiência, na autenticidade e na história por trás de cada produto ou serviço. Aliás, falando de Brasil, os brasileiros são ávidos pelas peças tradicionais portuguesas.
Nesse contexto, sem sombra de dúvidas, segmentos como a cerâmica e a cristalaria de luxo têm desempenhado um papel essencial, combinando tradição e inovação para atender a um público cada vez mais exigente.
E porque digo isso?
Na verdade, o luxo se apresenta fortemente no bem morar, na vida dentro de casa, e por extensão, ao ambiente de trabalho ou negócios. Não adianta ter um Bentley, e morar mal, não combina e nem tem sentido dentro do conceito de vida de alguém que vivencia o luxo.
A busca por personalização e experiências autênticas tem impulsionado setores como moda, joalheria, turismo e imóveis de alto padrão. Marcas como Louis Vuitton, Dior, Rolex e Hermès continuam sendo referências globais, mas novos nichos surgem, impulsionados pelo avanço tecnológico e mudanças nos hábitos de consumo.
Dentro destas tendências globais do mercado de luxo, a personalização máxima, onde estão as peças sob medida e serviços customizados ganham destaque, onde a sustentabilidade e o seu propósito, formam o ambiente em que o luxo consciente ganha força com materiais nobres.
No universo do luxo, cerâmica e cristalaria sempre tiveram um papel essencial, seja na decoração, na arquitetura ou no design de interiores.
Empresas e marcas de cerâmica e cristalaria, que apostam no luxo, continuam se destacando, criando o desejo pelo acesso aos seus produtos, e dominando o mercado global, com peças artesanais, edições limitadas e materiais de altíssimo nível.
No universo do luxo, cada detalhe conta.
A cerâmica e a cristalaria de alto padrão não são apenas objetos funcionais, mas verdadeiras expressões de
arte e tradição. De porcelanas refinadas a cristais lapidados com precisão, esses produtos carregam história, inovação e um fascínio que transcende gerações.
E cada uma delas tem seu encantamento.
A cerâmica de alto padrão, para mim sempre foi um símbolo de requinte e exclusividade. Me encanta o facto de ver nos produtos técnicas artesanais e materiais nobres para criar peças que vão além da estética.
Importante o facto do mundo saber que o setor cerâmico português é um dos pilares da economia industrial do país, com uma forte presença no mercado europeu.
É sabido que Portugal é reconhecido internacionalmente pela excelência e este setor tem um impacto significativo na balança comercial.
Além da beleza, a cerâmica de luxo também reflete inovação. Designs contemporâneos, acabamentos foscos e formas orgânicas estão redefinindo o setor, tornando cada peça um item de desejo para colecionadores e apreciadores do bom gosto.
O cristal é um dos materiais mais cobiçados no mundo do luxo. Lapidado com precisão, ele reflete luz de maneira única, criando um espetáculo visual que encanta e valoriza qualquer ambiente.
Além disso, a sustentabilidade tem ganhado espaço no setor. Marcas estão investindo em processos ecológicos e materiais responsáveis, garantindo que o luxo continue a evoluir sem perder sua essência, o que garante uma importância ímpar no facto de ter autoridade e originalidade.
A ótima notícia é que o consumidor do luxo está totalmente aberto a conhecer outros produtos que se encaixem aos seus desejos, gostos e necessidades. O consumidor de luxo não busca apenas um objeto bonito, mas uma peça que tenha história, técnica e significado.
O luxo transcende o simples ato de consumir, ele é uma experiência, um símbolo de status, um sonho realizado. Ele representa a busca pelo excepcional, pelo raro, pelo que vai além da necessidade básica e se torna uma expressão de personalidade, poder e sofisticação. Dos carros esportivos às joias impecáveis, dos imóveis deslumbrantes às peças de alta costura, o luxo se reinventa constantemente, mantendo-se como um dos mercados mais desejados do mundo.
Produtos de luxo são desejados porque carregam características únicas que os distinguem de qualquer outro item disponível no mercado. Qualidade impecável, design inovador, produção artesanal e materiais raros são alguns dos atributos que elevam um produto ao status de luxo. Uma bolsa de couro feita à mão por um artesão experiente ou um relógio suíço produzido com técnicas seculares carrega mais do que estética: carrega história, legado e a promessa de durabilidade, e passa de geração em geração. O luxo não é apenas sobre ter, é sobre sentir. O toque de um tecido refinado, o brilho do ouro polido, o aroma de um perfume exclusivo criado por mestres perfumistas, que realmente sabem o que fazem. Cada detalhe é pensado para proporcionar uma experiência sensorial completa.
Mas também outro ponto é muito relevante: O desejo pelo luxo está fortemente ligado à escassez. Algo que poucos podem ter naturalmente se torna mais cobiçado. O mercado de luxo joga inteligentemente com essa percepção, lançando edições limitadas, colaborações raras e produtos personalizados para reforçar a sensação de exclusividade.
Marcas de alto padrão não vendem apenas produtos; vendem status, pertencimento e a experiência de estar em um círculo seleto. Esse senso de raridade gera desejo imediato e uma busca intensa por aquilo que é único.
Ao contrário de bens comuns, produtos de luxo muitas vezes se valorizam com o tempo. Obras de arte, relógios sofisticados, vinhos raros e joias finamente lapidadas podem se tornar ativos valiosos, preservando e até aumentando seu valor ao longo dos anos.
O mercado imobiliário de luxo segue essa mesma lógica. Mansões em locais exclusivos, apartamentos com design assinado por arquitetos renomados e residências em destinos cobiçados não apenas oferecem conforto e prestígio, mas são investimentos sólidos. O luxo, portanto, não é apenas um estilo de vida, é uma estratégia inteligente de aquisição patrimonial.
Mais do que apenas comprar algo caro, consumir luxo é acessar um mundo de experiências únicas. Um jantar em um restaurante estrelado pelo Michelin não é apenas uma refeição, é uma jornada sensorial. Um cruzeiro privado pelo Mediterrâneo não é apenas uma viagem, é um momento de exclusividade incomparável.
É por isso que o luxo continua a fascinar, a inspirar e a definir padrões. Ele não se limita a um objeto, mas sim ao que esse objeto representa: status, refinamento, sonho, conquista.
O mercado de luxo continuará evoluindo, impulsionado por novas tecnologias, sustentabilidade e experiências imersivas.
A cerâmica e a cristalaria são, e não é de hoje, protagonistas desse universo, garantindo produtos que unem tradição, inovação e autenticidade.
E tudo isso atrai o público consumidor de alto padrão.
Afinal, luxo não é apenas um conceito, é uma experiência que transcende o tempo.
E como eu sempre digo: Aposte no luxo e prospere!
por Raquel Costa Pereira, Professora coordenadora,
Diretora da Licenciatura em Comércio
Internacional - INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO DO PORTO
A evolução económica, política e social, da segunda metade do século XX, demonstra que o livre comércio, o multilateralismo e a interdependência entre as nações foram determinantes para promover a paz e prosperidade. O livre comércio tem sido, a par da evolução tecnológica e dos transportes, um dos principais motores de crescimento económico, inovação e desenvolvimento social. A redução progressiva de barreiras tarifárias e não tarifárias potenciou o aumento do comércio mundial, permitiu a especialização produtiva, ganhos de escala e eficiência, a difusão tecnológica entre países, bem como cadeias produtivas progressivamente globais. Em resultado, os níveis de crescimento e riqueza aumentaram e os consumidores passaram a ter acesso a maiores quantidades e variedades de produtos e a preços mais baixos.
Mas estará esta perspetiva ameaçada? Estaremos a retroceder no multilateralismo?
Desde finais da década passada que se têm vindo a registar e verificar indícios que desafiam os princípios do livre comércio, e, simultaneamente, parecem promover uma reconfiguração das políticas comerciais internacionais, estas cada vez mais assentes em novas tendências, nomeadamente de “nearshoring”, de “friend-shoring”, relocalização e “soberania industrial”. Com efeito, a guerra comercial e tarifária entre os Estados Unidos da América (EUA) e a China, iniciada já com a primeira administração de Donald Trump, os efeitos da crise Pandémica de Covid-19, sobretudo nas cadeias logísticas, as tensões geopolíticas e os recentes conflitos armados entre a Ucrânia e a Rússia e no Médio Oriente, estão a desacelerar os fluxos de comércio e a condicionar as orientações políticas, assistindo-se ao progressivo recrudescimento de medidas protecionistas e imposição de barreiras ao comércio. No contexto das relações económicas internacionais, as barreiras comerciais, que englobam as barreiras tarifárias (tarifas), mas também as barreiras não tarifárias, tais como normas técnicas, de certificação, normas ambientais, regras específicas de etiquetagem, entre outras, constituem instrumentos de poder que, pese embora justificados nos motivos de segurança nacional e proteção das indústrias domésticas, visam reconfigurar e reduzir as dependências comerciais, incentivar o investimento e criar vantagens comparativas artificiais. De facto, a reelei-
ção do Presidente Trump marca uma mudança ideológica numa das maiores economias do mundo que, através de políticas como “América First” e uma política comercial centrada no aumento das tarifas, vem exacerbar os princípios do nacionalismo económico, gerar incerteza, fragmentação, imprevisibilidade e distorções no comércio global.
O setor da indústria cerâmica nacional exporta cerca de 70% da sua produção sendo, assim, um dos mais internacionalizados da economia portuguesa. Esta forte orientação internacional foi favorecida durante décadas por medidas multilaterais e políticas de abertura comercial. A redução das tarifas e a harmonização de normas técnicas, que garantiam a previsibilidade das regras comerciais, a par de investimentos em inovação, estratégias bem-sucedidas de promoção e marketing, como é exemplo a “Portugal Ceramics”, permitiram à cerâmica portuguesa conquistar os mercados internacionais distinguindo-se e diferenciando-se por critérios de qualidade, design e inovação tecnológica. Apesar da forte concentração das exportações do setor nos mercados intra-comunitários, nos últimos anos a penetração no mercado norte-americano tem sido particularmente relevante para o subsetor das cerâmicas utilitárias e decorativas.
Contudo, o crescimento sustentado do setor enfrenta sérios desafios no plano internacional, em particular aqueles que decorrem da imposição de barreiras comerciais. As mais recentes medidas protecionistas adotadas pelos EUA acentuam um ambiente de incerteza, com impactos diretos sobre a competitividade externa da cerâmica portuguesa.
O pacote de tarifas unilaterais implementado pela administração Trump em 2025, estabelece uma tarifa-base de 10% para a maioria dos bens importados e sobretaxas que podem chegar aos 50% em setores considerados estratégicos para a economia americana. Embora o setor cerâmico não tenha sido diretamente visado como “setor estratégico”, diversos produtos que se enquadram na categoria “produtos minerais não metálicos” – onde se inclui a cerâmica – passaram a estar sujeitos a uma taxa aduaneira situada entre 10% a 25%. Em específico, estas tarifas afetam especialmente os segmentos de pavimentos, revestimentos e artigos sanitários exportados para os EUA, um mercado que de acordo com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) representava cerca de 7% das exportações do setor em 2023. Estas medidas afetam diretamente a competitividade das exportações da indústria de cerâmica nacional,
quer do ponto de vista financeiro, quer do ponto de vista estratégico. Por um lado, o aumento das tarifas significa um aumento do preço do produto português no mercado americano, tornando-o menos competitivo em comparação com produtos provenientes de países com custos de produção mais baixos e/ou com regimes mais favoráveis de acesso ao mercado americano. Consequentemente, as empresas exportadoras terão de absorver o impacto das tarifas ou perder quota de mercado. Por outro lado, a incerteza, a volatilidade, a imprevisibilidade e a natureza unilateral das medidas tarifárias norte-americanas dificultam o planeamento comercial, condicionando e inibindo o investimento em estratégias de longo prazo para o mercado norte-americano. Não podemos esquecer que a estes fatores acrescem, também, o aumento dos custos logísticos, decorrentes do aumento do custo de transportes, dos seguros e outras incertezas nas cadeias de abastecimento, bem como a valorização do euro face ao dólar, que aumenta artificialmente o preço do produto nacional e prejudica, ainda mais, a competitividadee sustentabilidade do setor da indústria cerâmica portuguesa num enquadramento global altamente competitivo. Neste contexto adverso, que afeta sobretudo países com economias muito abertas ao exterior, como é o caso de Portugal, em que as suas indústrias e empresas não possuem poder negocial atuando isoladamente, é de crucial importância, desde logo, a diplomacia económica e a cooperação institucional. Isto é, o setor deve trabalhar com as autoridades portuguesas e europeias de forma a garantir representatividade nas negociações comerciais internacionais, promover a criação de instrumentos de
mitigação de riscos e obter medidas de compensação e apoio que permitam enfrentar os novos desafios, como exemplo instrumentos e fundos para inovação, transição energética, digitalização e internacionalização para novas geografias.
Considerando o perfil do setor cerâmico português, altamente internacionalizado e reconhecido pela qualidade, design, estética e inovação, as empresas do setor devem adotar estratégias pró-ativas e multifacetadas, de cooperação e parceria empresarial e integrando vários stakeholders, designadamente os designers, os arquitetos e os influenciadores para integrar a cerâmica portuguesa em projetos internacionais de referência. Estas estratégias devem ser apoiadas pelo excelente trabalho que tem sido desenvolvido pelas associações do setor, ou seja, a resposta do setor cerâmico português requer ação coordenada entre empresas, associações e as entidades governamentais.
Para enfrentar os desafios será necessário reduzir a dependência dos mercados sujeitos a riscos e incertezas decorrentes das tarifas. É crucial diversificar os mercados de exportação apostando, designadamente, em mercados emergentes (Médio Oriente, Sudeste Asiático) com elevado potencial de crescimento, bem como em países com acordos bilaterais estáveis. A estratégia de diversificação de mercados deve ser indissociável de políticas de inovação, diferenciação e valorização do produto. Os mercados mais exigentes valorizam a vertente sustentável e circular dos produtos a que se deve associar o design diferenciado e personalizado, bem como as soluções técnicas inova-
doras, como cerâmicas funcionais com propriedades antibacterianas, resistentes e com certificações ambientais, valorizando a autenticidade e o saber-fazer nacional. Portanto, as empresas do setor devem assegurar o acompanhamento das normas legais e ambientais dos mercados de destino e assegurar as certificações, internacionais de qualidade, segurança e sustentabilidade. Estas políticas e estratégias devem ainda estar associadas à digitalização, quer no âmbito do processo produtivo, quer no âmbito comercial, marketing e da promoção da marca coletiva “Portugal Ceramics”, coordenada pela Associação Portuguesa da Indústria Cerâmica (APICER), usando e diversificando as plataformas de e-commerce para alargar e reforçar a presença nos mercados-alvo.
As recentes medidas e barreiras comerciais impostas pelos EUA consubstanciam uma disrupção na liberalização do comércio internacional, indiciando um novo paradigma de retração multilateral e competição comercial assimétrica. Para os setores fortemente dependentes das exportações, como é exemplo o setor cerâmico, estas medidas representam riscos significativos. No entanto, a indústria cerâmica portuguesa tem vantagens competitivas, é reconhecida nos mercados internacionais pela qualidade, inovação, estética e design dos seus produtos. Estas vantagens, aliadas e conjugadas com políticas de diplomacia económica ativas, estratégias de inovação e de diversificação consistentes e eficazes, permitirão ao setor não apenas atenuar os impactos como afirmar-se enquanto referência global de qualidade e sustentabilidade no comércio internacional.
por Filipa Belo, Fundadora Portugal Manual
Durante séculos, o luxo foi domínio exclusivo das elites. Um território onde o acesso era limitado, a posse celebrada e a distância reforçada. Luxo era sinónimo de distinção social e de raridade material. Mas o mundo mudou — e com ele, a urgência de ressignificar certas palavras. Hoje, mais do que nunca, importa perguntarmo-nos: o que é, afinal, o luxo? E quem o pode ter?
Esta reflexão começa neste lugar incómodo entre o que sempre foi e o que pode vir a ser. E talvez seja na cerâmica que encontramos uma das respostas mais significativas. Durante séculos, peças em porcelana chinesa da dinastia Ming cruzaram continentes e oceanos para adornar mesas reais. A faiança portuguesa, com origem em Coimbra, Alcobaça ou Viana do Castelo, enfeitava as casas senhoriais. O azul delicado da cerâmica de Delft decorava
prateleiras de colecionadores abastados. E a Vista Alegre –símbolo de excelência e requinte – continua, ainda hoje, a marcar presença em recepções de Estado.
Essas peças não eram apenas funcionais – eram símbolos de gosto, poder e distinção. E continuam a sê-lo. Mas hoje, num tempo em que procuramos novas formas de estar no mundo, talvez o verdadeiro luxo não esteja apenas nas mesas ou nas casas das elites – mas também numa chávena moldada por um artesão local, numa jarra com imperfeições que a tornam irrepetível, num prato feito com tempo, paciência e intenção.
O luxo está a ser, lentamente, democratizado. Não porque se banalizou, mas porque começou a ser ressignificado. Passou a ser entendido não só como aquilo que é caro, mas como aquilo que tem valor. E o valor não se mede apenas em euros – mede-se em tempo, em significado, em relação.
Luxo é termos tempo para escolher. É podermos saber quem fez. É termos um objeto que carrega consigo uma história — a de quem o produziu, a do território de onde vem, a das mãos que o moldaram. É uma escolha ética, estética e afetiva. Uma escolha que nos aproxima de uma outra economia: a do cuidado, da consciência e da permanência.
Estamos a viver uma mudança de paradigma. O que antes era visto como ordinário, hoje é celebrado. O que antes se escondia por ser “rústico”, agora é reconhecido como autêntico. As peças feitas à mão deixaram de ser
apenas heranças do passado ou manifestações folclóricas. São, cada vez mais, respostas do presente a um mundo saturado de produção em massa, de velocidade e de obsolescência programada.
Este novo luxo é feito de tempo — o tempo que leva a aprender um ofício, a preparar um forno, a vidrar uma peça. É feito de gestos repetidos até se tornarem precisos. É feito de falhas, de recomeços, de intenção. É também feito de encontros: entre quem faz e quem usa, entre quem preserva e quem transmite.
Mas não nos iludamos: este luxo não é “acessível” no sentido comercial do termo. Ele exige um outro tipo de disponibilidade – um olhar mais atento, uma escuta mais longa, uma vontade de participar numa outra lógica de valor.
Quando falamos de cerâmica e do feito à mão, não falamos apenas de objetos. Falamos de património vivo. De um saber que atravessa gerações. De uma relação com a matéria que é profundamente humana. Falamos de criadores contemporâneos que reinventam a tradição sem a trair. De práticas locais que nos ajudam a construir uma identidade global mais plural e consciente.
E é por isso que precisamos de reivindicar este novo entendimento de luxo. Um luxo que não exclui, mas aproxima. Que não isola, mas liga. Que não se mede pelo brilho, mas pela história. É tempo de dizermos que o luxo também é nosso – daqueles que escolhem ter menos, mas melhor. Portugal é um território onde a cerâmica nunca deixou de pulsar. De Barcelos a São Pedro do Corval, de Caldas da Rainha à Ilha de São Miguel, encontramos fornos acesos, mãos calejadas e olhos atentos a cada detalhe. A tradição não se fossilizou – evoluiu. Adaptou-se sem perder a essência. Bordallo Pinheiro, por exemplo, fez da ironia um luxo acessível, transformando couves e andorinhas em pe-
ças de coleção. Hoje, jovens ceramistas reinterpretam esses legados com liberdade, questionando formas, utilidades e fronteiras entre arte e design.
E o que é mais valioso do que um objeto que nos convoca à memória? Que nos devolve a um tempo mais lento, onde as coisas eram feitas para durar? Que nos obriga a parar, tocar, olhar com mais atenção? Esse é o verdadeiro luxo – e deve ser defendido como tal. Um luxo que está ao alcance de quem escolhe com consciência, de quem rejeita a pressa e o descartável, de quem entende que cada peça feita à mão é um gesto de resistência cultural.
Projetos como a Bienal de Cerâmica de Aveiro, residências artísticas em Estremoz ou coletivos como Oficinas do Convento demonstram que este movimento é vivo, plural e profundamente atual. Não é apenas uma tendência: é um posicionamento. Uma forma de estar no mundo. Uma vontade de voltar a dar valor ao que é essencial. E, nesse sentido, democratizar o luxo é garantir que mais pessoas possam aceder a essa experiência transformadora.
Porque o luxo, na sua forma mais justa, é um direito cultural. É termos acesso a objetos que nos ligam ao território, que nos ensinam sobre quem somos, que preservam técnicas e saberes que não podem desaparecer. É termos orgulho no que é nosso, sem cair no exotismo nem na nostalgia. É podermos integrar o extraordinário no quotidiano. Não para o exibir, mas para o viver.
Neste novo entendimento, o luxo deixa de ser ostentação para se tornar pertença. Deixa de ser ruído e passa a ser silêncio. Deixa de estar nas vitrines para se encontrar nas mãos. E talvez seja aí que sempre esteve. Apenas estávamos a olhar para o lado errado.
Entre ecrãs e algoritmos, há algo de silenciosamente radical em tocar a matéria e transformá-la com as mãos. Talvez a verdadeira sofisticação não resida no que é raro, mas no que é autêntico. Aquilo que hoje nos parece excecional – uma peça feita com tempo, intenção e história – deveria ser o ponto de partida. Um fundamento para reconstruirmos uma relação mais consciente com o que consumimos, com quem faz e com o mundo que habitamos. Assim, ressignificar o luxo é também resgatar um sentido mais profundo para a nossa experiência enquanto sociedade. É olhar para os objetos não apenas como mercadoria, mas como espelhos de uma cultura. É devolver ao quotidiano a sua dimensão simbólica, afetiva e estética. O luxo do futuro será, inevitavelmente, coletivo. Feito de partilha, de memória, de permanência. E, sobretudo, de escolha. Porque o verdadeiro luxo nunca foi apenas ter – foi sempre saber ver.
ROTEIRO PARA A NEUTRALIDADE CARBÓNICA DA INDÚSTRIA CERÂMICA
PORTUGUESA ATÉ 2050: DESAFIOS,
OPORTUNIDADES E CAMINHOS PARA A DESCARBONIZAÇÃO
por Martim Chichorro, técnico da APICER
Resumo
A indústria cerâmica portuguesa, com raízes profundas na história e economia nacional, enfrenta atualmente um dos maiores desafios do seu percurso: alinhar-se com os compromissos europeus e globais de neutralidade carbónica até 2050, sem comprometer a sua competitividade e sustentabilidade. Este artigo apresenta os principais eixos do “Roteiro para a Neutralidade Carbónica da Indústria Cerâmica até 2050”, elaborado no âmbito do projeto CeramicLowCO2, promovido pela APICER e pelo CTCV, e destaca os resultados do evento final deste projeto, realizado a 29 de maio de 2025.
1. Introdução: Contexto e Relevância do Setor
A produção cerâmica em Portugal é uma atividade ancestral, que evoluiu acompanhando o desenvolvimento das civilizações e consolidou-se como um dos pilares da indústria transformadora nacional. Atualmente, o setor é composto maioritariamente por pequenas e médias empresas, empregando cerca de 18.724 trabalhadores e apresentando um volume de negócios de 1.465 milhões de euros em 2023. As exportações têm vindo a crescer, com destaque para mercados como França, Espanha, Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Países Baixos, refletindo a forte orientação internacional do setor.
A indústria cerâmica divide-se em cinco subsetores:
• Cerâmica estrutural (telhas, tijolos, abobadilhas)
• Pavimento e revestimento cerâmico (azulejos, ladrilhos)
• Louça sanitária (porcelana, grés fino)
• Cerâmica utilitária e decorativa (louça de mesa, peças decorativas)
• Cerâmica técnica, refratários e outros (materiais isolantes, refratários, novos materiais para aplicações tecnológicas)
Roteiro para a Neutralidade Carbónica da Indústria Cerâmica até 2050 Sumário executivo
2. O Desafio da Descarbonização
A indústria cerâmica é caracterizada por um elevado consumo de gás natural e emissões significativas de gases com efeito de estufa (GEE), particularmente nos processos de secagem e cozedura. O setor enfrenta, assim, um duplo desafio:
• Reduzir a pegada de carbono
• Manter a competitividade e o crescimento sustentável
A crise climática global e os compromissos assumidos por Portugal e pela União Europeia, nomeadamente o Acordo de Paris, o Pacto Ecológico Europeu e o pacote legislativo “Fit for 55”, tornam a transição para a neutralidade carbónica um objetivo estratégico inadiável para o setor.
3. Políticas e Instrumentos de Apoio
A União Europeia tem liderado a transição ecológica, implementando políticas e instrumentos legais para a redução de emissões e promoção de energias limpas. Destacam-se:
• Acordo de Paris (2015)
• Pacto Ecológico Europeu (2019)
• Lei Europeia do Clima (2021)
• Pacote “Fit for 55” (2021)
• Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativo (CSRD, 2022)
• Plano Industrial do Pacto Ecológico (2023)
Estes instrumentos impõem metas ambiciosas e mecanismos de reporte, mas também oferecem oportunidades de financiamento, inovação e modernização industrial.
4. O Roteiro para a Neutralidade Carbónica: Visão, Metas e Ações
O “Roteiro para a Neutralidade Carbónica da Indústria Cerâmica até 2050” constitui uma resposta articulada aos desafios identificados, propondo um conjunto de princípios, metas e ações concretas para equilibrar as emissões e a sua compensação ao longo de toda a cadeia de valor.
Pilares estratégicos do roteiro:
• Inovação tecnológica e digitalização
• Eficiência energética
• Eletrificação dos processos
• Adoção de novos vetores energéticos (gases renováveis, hidrogénio, biometano)
• Implementação de práticas de economia circular
• Captação, armazenamento e utilização de CO2 (CCUS)
• Produção de energia verde (autoconsumo, energias renováveis)
Caminhos de descarbonização:
• Substituição progressiva do gás natural por gases renováveis e combustíveis neutros em carbono
• Adoção de tecnologias de captura e reutilização de CO2
• Reforço da eficiência energética através da modernização de equipamentos e processos
• Digitalização e monitorização inteligente do consumo energético e das emissões
• Redesenho de produtos e processos para facilitar a reciclagem e a reutilização de materiais
5. Desafios Tecnológicos e Barreiras à Implementação
Apesar das oportunidades, a transição para a neutralidade carbónica apresenta desafios significativos:
• Elevado custo de investimento em novas tecnologias
• Necessidade de adaptação das infraestruturas industriais existentes
• Disponibilidade e custo dos novos vetores energéticos (hidrogénio, biometano)
• Barreiras regulatórias e necessidade de políticas públicas de apoio
• Qualificação e capacitação dos recursos humanos para operar novas tecnologias
6. O Evento Final do Projeto CeramicLowCO2:
Um Marco para o Setor
No passado dia 29 de maio, o Montebelo Aguieira Lake Resort & Spa, em Mortágua, acolheu o evento final do projeto CeramicLowCO2. Esta iniciativa, promovida pela APICER e pelo CTCV, traçou o roteiro para a neutralidade carbónica da indústria cerâmica até 2050 e reuniu empresas do setor, especialistas, decisores políticos e parceiros europeus para um debate abrangente sobre os principais desafios e oportunidades no caminho da descarbonização.
Temas em destaque no evento:
• Ambições internacionais e perspetivas globais da transição energética
• Caminhos definidos para uma indústria cerâmica mais sustentável
• Estudo de casos práticos, barreiras tecnológicas e estratégias empresariais
• O papel crucial das políticas públicas no apoio ao setor
O evento destacou-se como um marco importante na transformação da cerâmica portuguesa, apontando para um futuro mais inovador, limpo e competitivo. Durante a sessão de abertura, o Presidente da Direção da APICER, Jorge Vieira, sublinhou:
Vetores de
“Este Roteiro é um convite e um apelo à ação; é um guia claro e prático que nos aponta o caminho, identificando tecnologias promissoras e as políticas necessárias para atin girmos as ambiciosas metas de descarbonização até 2050. É uma bússola que nos orienta para um futuro mais verde, competitivo e sustentável. O encerramento deste projeto não é, de forma alguma, um ponto final. É, antes, o início de um novo capítulo.”
7. Projeções, Custos e Benefícios
O roteiro apresenta cenários de evolução do setor até 2050, considerando diferentes ritmos de adoção das tecnologias de descarbonização. As projeções indicam que, com a implementação das medidas propostas, será possível atingir uma redução significativa das emissões de GEE, assegurando simultaneamente a competitividade e o crescimento do setor.
A análise custo-benefício demonstra que, apesar do investimento inicial elevado, os ganhos em eficiência, redução de custos energéticos e acesso a mercados internacionais mais exigentes em termos ambientais compensarão o esforço realizado.
8. Conclusão: O Futuro da Cerâmica Portuguesa
A neutralidade carbónica é um objetivo ambicioso, mas alcançável, desde que se adote uma atuação colaborativa, inovadora e sustentada por políticas públicas eficazes. O roteiro apresentado constitui não apenas um compromisso, mas um convite à ação para todas as partes interessadas — empresas, instituições de investigação, governo e sociedade civil.
O futuro da indústria cerâmica portuguesa depende da sua capacidade de converter desafios em oportunidades, promovendo a inovação, a sustentabilidade e a adaptação às novas exigências do mercado global. A transição para um setor mais verde, resiliente e competitivo está ao nosso alcance, se todos caminharmos juntos neste novo capítulo.
Sugerimos a leitura do Sumário Executivo do projeto CeramicLowCo2, em ceramiclowco2.ctcv.pt/ bem como a visualização do vídeo do projeto em https://www. youtube.com/watch?v=JR7q7yda5h4
Nota: A elaboração deste artigo teve por base a informação contida no“Sumário Executivo do Roteiro para a Neutralidade Carbónica da Indústria Cerâmica até 2050”, elaborado no âmbito do projeto CeramicLowCO2, promovido pela APICER e pelo CTCV, e as conclusões do evento final realizado a 29 de maio de 2025.
por António Oliveira , Economista da APICER
De acordo com a nota de imprensa divulgada pelo Euroconstruct (*) por ocasião da sua 99ª Conferência, que decorreu em Varsóvia em 6 de junho de 2025, a produção total da construção na área do Euroconstruct caiu 2,1% em 2024.
A dinâmica atual e as perspetivas de evolução do setor da construção no período 2025-2027 serão influenciadas por uma ligeira melhoria da situação económica. No entanto, continua a existir uma elevada incerteza em torno das consequências negativas multifacetadas da guerra na Ucrânia e das alterações nas tarifas dos EUA.
O choque inflacionista causado pela eclosão da guerra na Ucrânia está a diminuir gradualmente e as perspetivas económicas gerais são positivas. A queda da inflação melhorou as condições de financiamento do setor da construção em resultado da descida das taxas de juro e da melhoria das condições de acesso ao crédito. Por outro lado, o reforço de fundos da União Europeia no financiamento de investimentos em infraestruturas e atividades ligadas à engenharia civil e à construção de edifícios, representa também um estímulo ao crescimento do setor da construção.
Na figura 1 apresenta-se a evolução do PIB e da produção na construção no conjunto dos 19 países da rede Euroconstruct, para o período 2021-2027, sendo que, para 2025 os dados apresentados correspondem a previsões e para 2026 e 2027 a perspetivas.
Os três principais segmentos do mercado da construção irão crescer em termos reais entre 2025 e 2027, mas as perspetivas de crescimento não são muito otimistas, uma vez que a taxa de crescimento anual não irá exceder os 2,3%. Isto inclui, quer o segmento da engenharia civil, quer o segmento da construção de edifícios, residenciais e não residenciais, em termos de construção nova e renovação. No entanto, o segmento que mais deverá crescer neste período será o da nova construção residencial.
No período 2025-2027 os países onde se registará um maior crescimento do setor da construção são a Polónia, Suécia, Irlanda, Espanha, Noruega, Dinamarca e Reino Unido. Em sentido contrário, espera-se um declínio nos mercados de Itália e Bélgica, e uma estagnação em mercados como Alemanha e Áustria.
No que diz respeito a Portugal, o crescimento da produção da construção para os anos de 2025, 2026 e 2027 perspetivam-se na ordem dos 2,2%, 2,3% e 2,5%, respetivamente, acima da média esperada para o conjunto dos 19 países que integram a rede Euroconstruct.
Na tabela 1, pode observar-se a evolução esperada da produção na construção nos 19 países da área do Euroconstruct (EC-19), por países e por áreas, em % de variação em termos reais.
(*) O Euroconstruct é um grupo europeu para a investigação tecnológica e análise económica do setor da construção. Fundado em 1974, reúne 19 institutos de análise económica e técnica de toda a Europa, dos seguintes países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Suíça e Suécia (15 países da Europa Ocidental), e ainda Chéquia, Eslováquia, Hungria e Polónia (4 países da Europa Central e Oriental).
O objetivo do Euroconstruct é fornecer informações, análises e previsões aos decisores do setor da construção e de outros mercados relacionados com a indústria da construção, para que possam planear melhor e mais eficazmente os seus negócios. As atividades da rede Euroconstruct destinam-se também a instituições oficiais, tais como ministérios ou agências, bem como a associações nacionais e internacionais.
Tabela 1 –Evolução da Produção da Construção na área do Euroconstruct, por países Fonte: Euroconstruct, junho 2025 a) Previsõesb) Perspetivas
por Nelson Martins, Técnico na ECP e Teresa Ribeiro
Bento , Gestora de Comunicação na ECP
No dia 7 de maio de 2025, a Sala Carapichel do Montebelo Vista Alegre Ílhavo Hotel acolheu o Workshop "Passaporte Digital do Produto e o Novo Regulamento dos Produtos de Construção", organizado pela APICER, em parceria com o TICE.PT, no âmbito da Ecocerâmica de Cristalaria de Portugal (ECP), Agenda Verde para a Inovação Empresarial – financiada pelo PRR, Plano de Recuperação e Resiliência, no âmbito do NextGenerationEU e liderada pela Vista Alegre Atlantis, SA.
Esta iniciativa insere-se na promoção e divulgação dos trabalhos em desenvolvimento no PPS 29 – Novos Serviços Transversais, dentro do Work Package 6 da Agenda ECP, que prevê a criação de uma Plataforma de Interoperabilidade para o Passaporte Digital de Produtos Cerâmicos.
Com a recente publicação do Regulamento (UE) 2024/1781 (Conceção Ecológica dos Produtos Sustentáveis) e do Regulamento (UE) 2024/3110 (Produtos de Construção), a União Europeia introduz o conceito de Passaporte Digital de Produto (PDP), cuja implementação será obrigatória nos próximos anos. O workshop teve
como objetivo preparar e capacitar as empresas do setor cerâmico e da construção para estas novas exigências europeias.
Preparar a indústria para as novas exigências europeias
A sessão contou com a abertura por Carla Santos, do IAPMEI, seguida de uma apresentação sobre “O Futuro da Rastreabilidade e Transparência de Produtos no setor da Construção” por Pedro Mêda, do Instituto para a Construção Sustentável da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Na sessão de abertura, Carla Santos destacou diversas iniciativas promovidas pelo IAPMEI no domínio da sustentabilidade empresarial e da transição digital. Entre estas, salientou-se o Programa PME “Rota da Sustentabilidade”, um plano de ação orientado para capacitar as pequenas e médias empresas portuguesas na adoção de práticas sustentáveis. Referiu ainda a participação do IAPMEI na Rede SME Envoys, desenvolvida em articulação com a Direção-Geral das Atividades Económicas (DGAE) e com a Suécia, no âmbito da qual está a ser coordenada a elaboração de um relatório que identifica os principais desafios e oportunidades associados à implementação do Passaporte
Digital de Produto (PDP) no tecido empresarial nacional.
Na sua intervenção, Pedro Mêda, docente e especialista em construção sustentável, destacou a relevância da rastreabilidade, digitalização e disponibilização estruturada de informação técnica e ambiental por via do PDP, como instrumentos fundamentais para promover a sustentabilidade e a circularidade no setor da construção. Enfatizou as oportunidades decorrentes da digitalização dos dados dos produtos de construção, bem como os obstáculos à sua implementação, sublinhando que o Passaporte
Digital de Produto, embora não constitua uma disrupção
tecnológica, implicará uma transição progressiva, que exigirá uma preparação cuidadosa e a coordenação entre todos os intervenientes da cadeia de valor.
As Agendas Mobilizadoras como propulsoras da inovação
No Workshop foram também apresentados os desenvolvimentos mais recentes relacionados com o Passaporte Digital de Produto, incluindo o trabalho desenvolvido na Agenda ATE, apresentado por Rui Lameiras, da Efacec, e os projetos em curso no âmbito da Agenda ECP, nomeadamente: “Avaliação do Ciclo de Vida dos Produtos”, por Marisa Almeida, do CTCV e “Plataforma de Interoperabilidade e DigiPass-Connect”, por Bernardo Pacheco, do INOV INESC.
Durante a sua intervenção, Rui Lameiras apresentou as estratégias em curso no setor dos produtos elétricos face à implementação do novo enquadramento regulamentar europeu, com especial enfoque na preparação para os requisitos associados ao Passaporte Digital de Produto (PDP). No âmbito da Agenda ATE, foram destacados os esforços de inovação no ecodesign de equipamentos como transformadores e carregadores de veículos elétricos, enfatizando o papel central dos PDP na disponibilização estruturada de dados sobre circularidade, reciclabilidade e extensão do ciclo de vida útil destes produtos.
Marisa Almeida salientou a importância da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) como instrumento essencial para as empresas, não apenas para cumprimento das exigências regulatórias emergentes, mas também como ferramenta estratégica para a quantificação dos impactes ambientais, promoção da circularidade e mitigação da pegada de carbono no setor da construção. Neste contexto, destacou-se que as Declarações Ambientais de Produto (DAP), que integram os resultados da ACV, passarão a ser obrigatoriamente incorporadas nos Passaportes Digitais de Produtos de Construção, reforçando a transparência e rastreabilidade da informação ambiental.
Por fim, Bernardo Pacheco apresentou a plataforma digipass-connect, concebida como infraestrutura de interoperabilidade para suportar a integração e partilha de dados no âmbito dos PDP. Detalhou a arquitetura tecnológica da solução, que assenta num modelo federado e seguro de troca de informação, e sublinhou a necessidade crítica de harmonização semântica entre sistemas heterogéneos, nomeadamente ERP (EnterpriseResourcePlanning), PLM (Product Lifecycle Management) e BIM (Building Information Modeling), para garantir a fluidez e integridade dos fluxos de dados ao longo do ciclo de vida dos produtos.
Associativismo
Debate alargado com especialistas
Um dos pontos altos do programa foi o Painel de Debate “Impacto e Implementação do Passaporte Digital de Produto”, moderado por Pedro Roseiro, do INOV INESC, que reuniu especialistas de diferentes entidades: Bernardo Pacheco (INOV INESC); Júlia Tomaz (IAPMEI); Marisa Almeida (CTCV); Pedro Mêda (ICS FEUP) e Rui Lameiras (Efacec)
O painel destacou as oportunidades e desafios da implementação do PDP, abordando os impactos na transformação digital e na promoção da economia circular no setor da construção.
Durante o painel, destacaram-se as oportunidades associadas à digitalização da informação dos produtos, como a melhoria da rastreabilidade, a interoperabilidade e a integração com sistemas digitais já utilizados no setor (como BIM, ERP e PLM). O PDP foi apresentado como um impulsionador da transformação digital, promovendo maior eficiência na gestão de materiais e recursos.
Foram também discutidos os principais desafios, como a criação de infraestruturas digitais seguras, a garantia da qualidade dos dados e a necessidade de harmonização entre sistemas e agentes. A adaptação pelas PME, devido à sua menor maturidade digital, foi apontada como um obstáculo a considerar.
O painel reforçou ainda o potencial do PDP para impulsionar a economia circular, ao disponibilizar dados sobre a composição, reciclabilidade e impacto ambiental dos produtos. A sua implementação bem-sucedida exigirá colaboração entre todos os intervenientes e alinhamento com as políticas europeias.
Diálogo aberto e compromisso institucional
A sessão incluiu ainda um espaço de perguntas e respostas com o público, promovendo o diálogo sobre os desafios associados à transparência e sustentabilidade dos produtos de construção.
O encerramento do evento contou com as intervenções de João Campolargo, Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, e Patrícia Gonçalves Costa, Secretária de Estado da Habitação, reforçando o compromisso institucional com a transição digital e sustentável da indústria.
O Workshop “Passaporte Digital do Produto e o Novo Regulamento dos Produtos de Construção” representou mais um passo importante na preparação da indústria cerâmica e da construção para as exigências do futuro, garantindo competitividade, inovação e sustentabilidade no mercado europeu.
por Filipa Pereira Silva e Mariana Bem-Haja FAF Sociedade de Advogados
Muitas empresas têm sido notificadas, pela Autoridade das Condições de Trabalho (doravante apenas ACT), para apresentação de Plano de Avaliação das Diferenças Remuneratórias nos casos em que, através de uma análise da informação estatística do Relatório Único submetido no ano civil anterior, esta entidade detete a possibilidade de diferenças remuneratórias entre homens e mulheres.
A necessidade de apresentação do dito Plano vem estipulada na Lei n.º 60/2018, de 21 de agosto, na sua redação atual, que teve como objetivo a criação de medidas de promoção da igualdade remuneratória entre mulheres e homens por trabalho igual ou de igual valor, aprofundando as normas já previstas no Código do Trabalho.
De acordo com o preceituado neste diploma legal, as entidades empregadoras devem assegurar a existência de uma política remuneratória transparente, assente na avaliação das componentes das funções, com base em critérios objetivos, transversais a homens e mulheres. De resto, em caso de alegação de discriminação remuneratória em razão do género, por parte do serviço com competência inspetiva do ministério responsável pela área laboral – o
que acontecerá caso a empresa receba a notificação da ACT – , a entidade empregadora deverá demonstrar que a sua política remuneratória assenta numa estrita avaliação dos postos de trabalho e do conteúdo das funções, não sendo norteada por qualquer discriminação em função do género. No entanto, os requisitos que vêm estipulados quanto ao conteúdo do Plano em si são bastante parcos, apenas se ditando que este “assenta na avaliação das componentes das funções, com base em critérios objetivos, de forma a excluir qualquer possibilidade de discriminação em razão do sexo”, ou seja, repetindo o que já se havia determinado, no mesmo diploma, quanto à obrigatoriedade de existência de uma política remuneratória transparente. Esta falta de determinação de requisitos e critérios legais tem levado, por um lado, ao estabelecimento de exigências por parte da ACT, não raras vezes com entendimentos diferentes entre os diversos centros locais, e até contradizendo a informação que a própria divulga, e, por outro lado, à dificuldade por parte das empresas em cumprir esta obrigação, originando incerteza jurídica e comprometendo a eficácia do próprio objetivo da lei –a promoção da igualdade remuneratória entre homens e mulheres –, expondo as entidades a procedimentos inspetivos e a eventuais sanções com base em critérios levianos e inconsistentes.
por Jorge Rodrigues de Almeida, Managing Partner, RdA Climate Solutions
Os processos industriais que requerem elevadas temperaturas, como os associados ao setor da cerâmica, são tipicamente energeticamente intensivos e, muitas vezes, com uma elevada dependência do gás natural. Por consequência, estes processos são responsáveis pela emissão de dióxido de carbono (CO₂) e outros gases com efeito de estufa.
Num cenário de alterações climáticas, estas indústrias, independentemente da sua dimensão, estão a ser incentivadas a reportar os seus impactos – nomeadamente através dos exercícios de dupla materialidade ou do cálculo da sua pegada carbónica, elaborados no âmbito dos relatórios de sustentabilidade – e, mais importan-
te, estão a ser pressionadas a reduzir a sua pegada carbónica, i.e., a iniciar o seu processo de descarbonização. Neste contexto, importa destacar a importância do reporte de sustentabilidade como um catalisador desta transição. Por exemplo, a Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativa (CSRD, do inglês Corporate Sustainability Disclosure Directive ) da União Europeia, reforça a necessidade de transparência e responsabilidade nas práticas de sustentabilidade das empresas. Esta diretiva exige que as empresas divulguem informações detalhadas sobre as suas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, do inglês Environment, Social and Governance ). No âmbito desta diretiva, as empresas devem reportar as suas emissões de gases com efeito de estufa, os esforços de redução de emissões e as medidas implementadas para promover a sustentabilidade. Saliente-se que as empresas não abrangidas pela Diretiva, a maioria das empresas nacionais estão igualmente a ser pressionadas pelos bancos, fundos de investimento ou pelos clientes a reportar de forma transparente e fidedigna o seu impacto.
Assim, urge promover a descarbonização para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, mas também, e não menos importante, reduzir a exposição à volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis e dos custos de produção.
No entanto, o processo não é simples. Se, por um lado, existem medidas como a eficiência energética dos sistemas auxiliares, a recuperação de calor ou a digitalização dos sistemas – que possuem maturidade e estão amplamente testadas – por outro lado, a eletrificação dos processos ou a utilização de sistemas híbridos com elevadas misturas de gases renováveis, embora detenham um enorme potencial estão, ainda, na sua infância, apresentando constrangimentos de capacidade ou fiabilidade, bem como elevados custos, o que se traduz em limitações à sua bancabilidade e implementação.
Adicionalmente, a promoção de práticas de economia circular no setor cerâmico, nomeadamente através da valorização de resíduos e subprodutos, representa uma via estratégica para a redução de emissões. A integração de matérias-primas secundárias, resultantes de processos internos ou de setores industriais adjacentes, pode substituir parcialmente recursos naturais, reduzir emissões de processo e diminuir a deposição em aterro. Neste contexto, as simbioses industriais ganham relevância como instrumento para otimizar o uso de materiais, energia e água, reforçando a eficiência coletiva e a sustentabilidade das cadeias.
A União Europeia, consciente destas limitações, está a financiar, através do Horizonte Europa ou do Innovation Fund, alguns projetos de inovação que têm por objetivo desenvolver processos de aquecimento elétrico de alta temperatura e altamente eficientes, que substituam os sistemas de queima baseados em combustíveis fósseis, destacando-se, por exemplo, o projeto eLITHE (www.elithe.eu) focado no setor cerâmico industrial. Por outro lado, o roteiro nacional de descarbonização do setor cerâmico identifica soluções técnicas e medidas estruturais que orientam o setor rumo ao objetivo nacional de neutralidade carbónica até 2045.
O Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE)ou Mecanismo de Ajustamento Carbónico Fronteiriço (que na sua fase inicial aplica-se ao cimento, ferro e aço, alumínio, fertilizantes, hidrogénio e eletricidade) emergem também como ferramentas económicas vitais nesta transição, oferecendo mecanismos que incentivam a redução de emissões de forma eficiente, promovendo a inovação e apoiando o financiamento de tecnologias de baixo carbono. No entanto, e face à escala do desafio, serão necessárias novas políticas nacionais e outros sistemas de incentivo que promovam a verdadeira descarbonização do setor cerâmico.
Estes incentivos não têm exclusivamente de passar por incentivos fiscais ou financiamentos públicos, podendo ter múltiplas formas como, por exemplo, garantias que ajudem a banca a financiar projetos de descarbonização com taxas bonificadas, ou ajustes ao mercado das empresas de serviços de energia, por forma a incentivar a promoção de modelos de financiamento alternativos como os contratos de desempenho energético (ou contratos de descarbonização), onde se assegura a performance do projeto pois os pagamentos estão ligados à efetiva redução do consumo ou descarbonização.
Em contrapartida, é importante assegurar o envolvimento dos diferentes atores do mercado e uma resposta rápida no que concerne aos financiamentos públicos. Programas do PRR como o apoio à produção de hidrogénio renovável foram desenhados tendo por base um conjunto de limitações, que poderiam ter sido antecipadas através de um diálogo aberto. Com base nas informações disponíveis, verifica-se que os projetos do hidrogénio estão com execução muito residual. Esta baixa execução está claramente associada às limitações temporais à implementação dos projetos, à falta de eletrolisadores no mercado e às dificuldades de injeção da rede que, em parte, poderiam ter sido analisadas e mitigadas de forma prévia.
É também necessário assegurar a formação e capacitação dos trabalhadores do setor cerâmico e da energia em relação às novas tecnologias. A sensibilização para a importância da descarbonização e a promoção de uma cultura empresarial voltada para a sustentabilidade também são fundamentais para o sucesso a longo prazo.
A descarbonização do setor cerâmico é um desafio técnico complexo, mas essencial para a sustentabilidade a longo prazo das nossas indústrias. Os mercados de carbono fornecem uma estrutura económica que pode ajudar nesta transição, promovendo a adoção de inovação, tecnologias limpas e processos mais eficientes, no entanto, e face à escala do desafio, serão certamente necessários outros incentivos, desenhados em colaboração com os diversos atores e que promovam a verdadeira descarbonização do setor cerâmico, alavancando a sua história e resiliência para liderar esta transição. Descarbonizar, mais do que um slogan é uma urgência!
por Albertina Sequeira, Vice-Presidente Executiva da Apicer
COSTA NOVA
Exposição itinerante «A Fábrica» desloca-se até ao Porto, onde estará presente até setembro
Após a inauguração em Lisboa, na Rua Castilho, a exposição itinerante “A Fábrica” da marca COSTA NOVA ruma agora ao Porto, onde estará patente na loja da marca localizada na Rua Sá da Bandeira. A mostra
pode ser visitada até 4 de setembro, seguindo depois para Aveiro e Madrid, com datas ainda por anunciar.
A exposição convida o público a descobrir os bastidores das unidades fabris da COSTA NOVA, oferecendo uma perspetiva única sobre o processo de criação das peças em cerâmica – desde a moldagem e vidragem até à cozedura e acabamento final.
Segundo Liliana Padinha, Diretora de Marketing da marca, “A Fábrica” nasceu do crescente interesse de clientes e académicos pelo universo produtivo da COSTA NOVA:
“Há uma curiosidade natural sobre o que acontece antes de cada peça chegar à mesa: como é moldada,vidrada, cozida e aperfeiçoada. ‘A Fábrica’ nasce dessa vontade de mostrar a autenticidade que está antes do produto final: um lugar onde a tradição e a inovação se encontram.”
Com esta iniciativa, a marca portuguesa leva a diferentes públicos a essência do seu processo artesanal e industrial, sublinhando a ligação entre herança cerâmica e design contemporâneo.
Um registo autêntico do processo cerâmico
Com fotografia por Manuel Gomes da Costa, a exposição percorre várias fases do processo produtivo, mas também se foca noutros elementos: é um retrato do ambiente da fábrica, das suas pessoas, das mãos que moldam as peças, do brilho dos vidrados, dos contrastes, dos cheiros, das texturas e do calor dos fornos.
«Parte dessa atmosfera é transportada para a exposição, onde elementos reais da fábrica ajudam a compor a experiência sensorial. O visitante pode conhecer os nossos rostos, ver materiais, moldes, matérias-primas e até ferramentas utilizadas na produção, inteirando-se dos detalhes que fazem de cada peça o reflexo do nosso saber-fazer.», acrescenta.
Fundada em 2005, a marca portuguesa COSTA
NOVA tem vindo a afirmar-se como uma referência global no segmento de tableware inovador e sustentável. Com uma forte aposta na produção local e responsável, a empresa destaca-se pela utilização de pasta cerâmica reciclada e por processos produtivos que visam reduzir o impacto ambiental.
Presente em mais de 60 países, a COSTA NOVA mantém-se como um símbolo de autenticidade e qualidade, representando a tradição da cerâmica portuguesa aliada à arte de bem receber.
LOVE TILES / MARGRES
Fragment e Heartwood: as primeiras coleções de 2025 chegam para transformar os projetos de design e arquitetura em pura inspiração
Fragment e Heartwood marcam os primeiros lançamentos de 2025, da Margres e da Love Tiles, e trazem consigo mais intensidade e mais criatividade ao universo cerâmico. Esta é uma celebração do detalhe, da matéria e dos espaços.
A nova coleção Fragment, da Margres, apresenta uma abordagem elegante e arquitetónica inspirada no terrazzo mais clássico de forma a obter uma maior liberdade visual, texturas granulares sofisticadas e cores tanto diversificadas, quanto suaves. Fragment destaca-se pela sua estética depurada e é, sem dúvida, uma proposta pensada para projetos exigentes, onde o rigor e o design caminham lado a lado.
O coração vai bater como um só este Verão. A coleção Heartwood, da Love Tiles, recupera a essência natural da madeira de carvalho, numa interpretação cerâmica envolvente, perfeita para ambientes residenciais acolhedores. Com uma paleta cromática suave e
acabamentos que reproduzem a textura do carvalho, Heartwood proporciona conforto visual, aliando design emocional à durabilidade da cerâmica.
Alberto Ramos, diretor de desenvolvimento de produto, acredita que as duas coleções trazem conceitos diferentes, mas que vão surpreender o público:
“Numa tipologia terrazzo, inspirada no battuto veneziano, com Fragment o grande destaque são os mate-
Noticias & Informações
riais naturais, num produto que é totalmente diferente do que temos feito até ao momento para a Margres. No caso da Love Tiles, desenvolvemos uma madeira, fluída e acolhedora, um espelho e um retrato fiel da própria marca.”
Estas duas novas coleções representam não apenas um avanço técnico, mas também um posicionamento claro das marcas no diálogo com as tendências globais, onde o design é cada vez mais consciente e funcional:
“O desenvolvimento das coleções Fragment e Heartwood surge da escuta ativa das necessidades de arquitetos, designers e consumidores finais. As duas coleções são respostas diretas a uma procura crescente por soluções que conciliem identidade estética, inovação técnica e sustentabilidade nos projetos de habitação e arquitetura”, explica Alberto Ramos, Diretor de Desenvolvimento de Produto.
Com este lançamento duplo, a Margres e a Love Tiles fecham o segundo trimestre de 2025 com uma afirmação clara: criar cerâmica é criar possibilidades, para quem constrói, para quem vive, para quem ousa pensar um pouco mais além.
ATLANTA MARKET’2025 (Design/Utilitária e Decorativa)
Anual – Atlanta (USA)
De 15 a 21 de Julho de 2025 atlantamarket.com
MAISON & OBJET’2025 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)
Bianual – Paris (França)
De 04 a 08 de Setembro de 2025 maison-objet.com
CERSAIE’2025 (Ladrilhos Cerâmicos)
Anual – Bolonha (Itália)
De 22 a 26 de Setembro de 2025 cersaie.it
FERIA HABITAT VALENCIA’2025
(Ladrilhos Cerâmicos/Design Habitat
Anual – Valencia (Espanha)
De 29 de Setembro a 02 de Outubro de 2025 feriahabitatvalencia.com/en/
The New York Tabletop Show´2025 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)
Bianual – New York (EUA) De 16 a 19 de Setembro de 2025 tabletopassociationinc.com
HOST MILANO’2025 (Restauração)
Anual – Milão (Itália) De 17 a 21 de Outubro de 2025 host.fieramilano.
DECOREX’2025 (Design/Tendências)
Anual – Londres (UK) De 12 a 15 de Outubro de 2025 decorex.com
UNICERA’2025 (Ladrilhos Cerâmicos/Louça Sanitária)
Anual – Istambul (Turquia) De 3 a 7 de Novembro de 2025 en.unicera.com.tr/
MAIS CONCRETA’2025 (Construção / Tendências para arquitetura e interiores)
Anual – Porto (Portugal) De 06 a 07 de Novembro de 2025 concreta.exponor.pt/
DOWNTOWNDESIGN’2025 (Design/Tendências)
Anual – Dubai (EAU)
De 5 a 9 de Novembro de 2025 downtowndesigcom
LONDON BUILD ‘2025 (Materiais de Construção)
Anual – Londres (UK)
De 19 a 20 de Novembro de 2025 londonbuildexpo.com
BIG 5 SHOW´2025 (Materiais de Construção)
Anual – Dubai (EAU)
De 24 a 27 de Novembro de 2025 www.thebig5.ae/
ARCHITEC@WORK 2025
(Materiais de Construção)
Anual – Lisboa (Portugal)
De 3 a 4 de Dezembro de 2025 architectatwork.pt//
MAISON & OBJET’2026 (Design / Cerâmica Utilitária e Decorativa)
Bianual - Paris (França) De 15 a 19 de Janeiro de 2026 maison-objet.com
THE INTERNATIONAL SURFACE EVENTE 2026 (Ladrilhos cerâmicos)
Bianual – Las Vegas (EUA) De 27 a 29 de Janeiro de 2026 https://www.intlsurfaceevent.com/
SURFACE DESIGN SHOW’2026 (Ladrilhos Cerâmicos)
Anual – Londres (R.U.) De 4 a 5 de Fevereiro de 2026 surfacedesignshow.com/
AMBIENTE’2026 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)
Anual – Frankfurt (Alemanha) De 06 a 10 de Fevereiro de 2026 ambiente.messefrankfurt.com
HIP HORECA PROFESSIONAL EXPO’2026 (Restauração)
Anual – Madrid (Espanha) De 16 a 18 de Fevereiro de 2026 expohip.com/en/
NKBA|KBIS’2026 (Cerâmica Sanitária e Ladrilhos Cerâmicos)
Anual – Orlando (USA)
De 17 a 19 de Fevereiro de 2026 https://kbis.com/
THE INSPIRED HOME SHOW’2026 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)
Anual – Chicago (EUA)
De 10 a 12 de Março de 2026 theinspiredhomeshow.com
EXPOREVESTIR’2026 (Ladrilhos Cerâmicos)
Anual – São Paulo (Brasil)
De 9 a 13 de Março de 2026 exporevestir.com.br/
CERAMITEC’2026
(Tecnologia para Cerâmica)
Bianual – Munique (Alemanha)
De 24 a 26 de Março de 2026 https://ceramitec.com/en/
COVERINGS’2026 (Ladrilhos Cerâmicos)
Anual – Las Vegas (USA) De 30 de Março a 02 Abril de 2026 coverings.com/
The New York Tabletop Show´2026 (Cerâmica Utilitária e Decorativa)
Bianual – New York (EUA) De 14 a 17 de Abril de 2026 tabletopassociationinc.com
TEKTÓNICA´2026 (Construção)
Anual – Lisboa (Portugal) De 23 a 25 de Abril de 2026 tektonica.fil.pt/
The National Restaurant Show.com’2026 (Horeca / Cerâmica Utilitária)
Anual - Chicago (USA) De 16 a 19 de Maio de 2026 nationalrestaurantshow.com
ISH’2027 (Cerâmica Sanitária)
Bianual – Frankfurt (Alemanha) De 15 a 19 de Março de 2027 ish.messefrankfurt.com/frankfurt/en.html