Especial Educação

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O TEMPO Belo Horizonte

INTERESSA

DOMINGO, 29 DE MAIO DE 2011

Educação. Pesquisa revela que professores usam apenas 33 dos 50 minutos para passarem conteúdo CHARLES SILVA DUARTE

Corrida. Professor corre contra o tempo para chegar a outra turma e garantir o máximo de aproveitamento em sala de aula

Um terço das aulaségasto comatividadesburocráticas Aprendizado do brasileiro é pior do que o de estudantes das nações da OCDE ¬ ANDRÉA JUSTE ¬ A matéria do dia já está

no quadro negro, às 8h40. Cinco minutos mais tarde, o professor de matemática José Márcio de Oliveira entra na sala do segundo ano do ensino médio da Escola Estadual Técnico Industrial Professor Fontes, no bairro Cidade Nova, re-

gião Nordeste de Belo Horizonte. Outros três minutos se passam até que os alunos adolescentes entrem. E pelo menos mais dois minutos até o professor, enfim, conseguir a atenção dos estudantes. Dos 50 minutos previstos de aula, restam 40 para que ele passe o conteúdo da disciplina. Oliveira não está sozinho nessa luta contra o relógio acompanhada pela reportagem. Uma pesquisa do Banco Mundial (Bird) revelou que, em média, pouco mais de um terço (34%) da aula

de 50 minutos no Brasil é consumido com atividades burocráticas – disciplina, chamada e distribuição de tarefas. A avaliação foi feita nas escolas estaduais de Minas Gerais e Pernambuco e municipais do Rio de Janeiro, em 2008 e 2009. Segundo a pesquisa, coordenada pela economista principal do Banco Mundial para Educação na América Latina, Barbara Bruns, 66% do tempo destinado ao conteúdo, em média, está abaixo do percentual encontrado nas nações da Organi-

zação para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nesses países, 85% do tempo é usado para o aprendizado. Enquanto no Brasil a média de tempo de aprendizagem é de 33 minutos, nos países da OCDE, é de 42 minutos e 30 segundos. Entre um pedido para beber água, outro para ir ao banheiro e diversas intervenções para chamar a atenção dos adolescentes, Oliveira consegue explicar a resolução dos exercícios. Se-

INDISCIPLINA.

gundo ele, as quatro aulas semanais são insuficientes. “O ideal seriam seis”, opina. Mesmo assim, ele opta por fazer a chamada diariamente. “(Isso) me permite visualizar as ausências, saber se existe algum problema”, conta. Ele sugere, porém, que é possível otimizar esse tempo, conferindo a lista do professor anterior. Na opinião do economista Gustavo Ioschpe, especialista em economia da educação, os estudantes brasileiros são tratados com

DESCASO.

descaso pelo sistema educacional. “Nos países em que a educação dá certo, há um comprometimento maior com a ideia de que o aluno precisa aprender e de que a escola e seus profissionais devem ser cobrados por isso”, fala. “Estamos aferrados à ideia de que o importante é colocar a criança na escola, e pronto, e que não é possível se esperar muito do sistema educacional por conta da pobreza do país, o que é uma enorme mentira”, alerta Ioschpe.

ALEX DE JESUS

Alternativas

Tecnologiaajudaaganhartempo O uso da tecnologia pode ajudar a contornar o tempo gasto com as atividades burocráticas. O colégio Pitágoras, unidade do bairro Cidade Jardim, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, por exemplo, oferece recursos multimídia aos professores, para que não precisem escrever no quadro a todo momento. Para Francisco de Assis Assunção, professor de matemática, é interessante não escrever tanto no quadro para tentar preservar a atenção dos adolescentes. Para ganhar tempo e conteúdo, o Pitágoras também

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Atenção. Professor José Márcio de Oliveira leciona há 17 anos e diz que falta perspectiva aos alunos

disponibiliza os deveres no site da escola. “Tem uma pasta que passa na sala e onde o professor anota as tarefas. Depois, o conteúdo é colocado no site”, explica a diretora da unidade, Cristina Durzi Sarsur. Daniel Borges da Silva, diretor da Escola Estadual Professor Fontes, diz que o colégio é “até privilegiado” porque conta com recursos de data show. “Temos quatro (equipamentos) data show que podem ir para sala de aula, com notebook, e estamos tentando adquirir outros dois”, disse. Cristina lembra, entretan-

to, que o bom professor deve saber como cada pessoa aprende. “Tem aluno que precisa registrar. Outros aprendem ouvindo”. Com ou sem tecnologia, o especialista em educação Gustavo Ioschpe alerta que os professores precisam ter interesse em melhorar. “Todo professor, por pior que seja sua formação e por menos apoio que tenha da direção da sua escola, pode fazer com que menos tempo de sua aula seja gasto em atividades irrelevantes para o ensino”, afirma. (AJ)


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