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Os 100 anos do físico Costa Ribeiro
(Texto publicado no Jornal da Ciência, 2006)
Descobridor do efeito termodielétrico, que depois levou o seu nome, Costa Ribeiro ajudou a projetar internacionalmente a física feita no Brasil, sempre preocupado com uma ciência geradora de riquezas e bem-estar para o povo brasileiro.
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Celebramos, este ano, o centenário de um pioneiro da física e da ciência no Brasil: o engenheiro e físico Joaquim da Costa Ribeiro (1906-1960), descobridor do efeito termodielétrico, mais tarde batizado com seu nome, e um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
Não se trata de reverenciar Costa Ribeiro com um sentimento saudosista, mas, sim, como oportunidade de olhar o futuro com a visão de uma geração de pioneiros do passado, homens que, como Costa Ribeiro, tinham para o Brasil um projeto de nação intimamente ligado à estruturação e ao fortalecimento da pesquisa científica no país.
Um projeto em que a ciência seria geradora de riqueza e bem-estar para o povo brasileiro.
Acreditamos ser este o momento propício para tal reflexão.
Costa Ribeiro faz parte de uma geração de cientistas brasileiros cujos trabalhos foram responsáveis por dar início ao reconhecimento internacional da física feita então no Brasil, poucos anos depois da institucionalização da pesquisa nessa área, em meados da década de 1930, na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade do Distrito Federal – esta última pouco depois fechada por motivos políticos por Getúlio Vargas.
A geração a que pertenceu Costa Ribeiro soube superar inúmeras dificuldades e fazer ciência de elevado nível em um ambiente muitas vezes indiferente ou mesmo hostil à prática científica.
Muitos daqueles pioneiros – entre eles, Costa Ribeiro – visionariamente defenderam uma ciência aplicada e voltada para a resolução de problemas do país, inserida em um contexto que pudesse produzir dividendos sociais e econômicos para a sociedade brasileira.
Exemplo disso em Costa Ribeiro foram suas primeiras pesquisas voltadas à radioatividade de minerais brasileiros, bem como sua luta em prol das aplicações pacíficas da energia nuclear na década de 1950, quando passou a desempenhar um papel relevante em organismos nacionais e internacionais ligados a essa área.
O reconhecimento de seu profissionalismo e de sua capacidade intelectual como homem e cientista veio com o convite para ocupar cargo de destaque na então recém-criada Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Ainda em 1943, Costa Ribeiro, então professor livre-docente da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, no Rio, percebeu, na cera de carnaúba (material mau condutor de eletricidade), um efeito relacionado à retenção permanente de cargas elétricas, quando esse material era submetido à mudança de estado físico em que uma das fases era sólida.
No ano seguinte, concluiu que esse efeito estava presente em várias outras substâncias. Batizou-o efeito termodielétrico. A história lhe fez jus, sendo o fenômeno hoje conhecido como Efeito Costa Ribeiro.
Essa descoberta ganhou ampla repercussão internacional. Para César Lattes (1924-2005), outro grande nome da ciência brasileira, ela foi o marco inicial do reconhecimento internacional da pesquisa física realizada no Brasil.
Costa Ribeiro, homem de grande formação humanista, poeta e pai exemplar, levou o nome da física e da ciência brasileiras a vários países, através dos vários convites que recebeu para falar sobre suas pesquisas. Tornou-se membro de várias academias científicas internacionais de prestígio.