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Eppur si muove
A seguir, exemplificamos alguns desses supostos mecanismos:
Magnestars – Estrelas de nêutrons (partículas nucleares sem carga elétrica) dotadas de alta rotação (cerca de mil delas por segundo) gerariam campos magnéticos milhões de vezes mais intensos que o terrestre e, assim, acelerariam os raios cósmicos.
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Choque de galáxias – Evidências experimentais indicam que galáxias podem se chocar. Mecanismos subjacentes a essas colisões poderiam gerar raios cósmicos ultraenergéticos.
Buracos negros – Esses corpos celestes, conhecidos por sugar matéria e luz, também são capazes de lançar jatos altamente energéticos de matéria. Acredita-se que aqueles dotados de rotação e com massa bilhões de vezes superior à do Sol poderiam ser os responsáveis pelo mecanismo de aceleração dos raios cósmicos de mais alta energia conhecida.
Explosões de raios gama – São os fenômenos mais energéticos do universo. Geram, em segundos, massas equivalentes à do Sol. Assim, supõe-se que tenham energia para acelerar prótons e outros núcleos até o patamar de 1020 eV.
Partículas exóticas – São, por enquanto, partículas hipotéticas. Ao decaírem, como defendem alguns teóricos, poderiam originar raios cósmicos na faixa das mais altas energias detectadas até hoje. Nessa lista, há vários candidatos, como os críptons, os vórtons e os wimpzillas.
Defeitos topológicos – Seriam diminutos volumes do espaço-tempo — um misto inseparável de altura, largura, comprimento e tempo – que não teriam ‘explodido’ juntamente com o Big Bang. Por isso, são classificados como ‘defeitos’ da topologia do espaço-tempo. Nesse fenômeno poderia estar a origem de partículas com energias de até 1020 eV.
Ronald Cintra Shellard
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (RJ) e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(Resenha publicada na revista Ciência Hoje, n. 220, 2005)
“Eppur si muove”, murmurado por Galileu Galilei ao abjurar as teses de Copérnico, é uma frase que cativou cientistas e estudiosos durante séculos. Provavelmente apócrifa, mas que expressa bem o espírito e a obra de um dos gigantes da ciência. O ponto central do processo movido pela Inquisição contra Galileu era o confronto entre fato e hipótese. A Igreja proclamava que as teses de Copérnico, que tiravam da Terra o papel central no Universo, eram meras hipóteses. Este conflito entre a autoridade religiosa e as evidências científicas é ainda atual. Seu foco foi deslocado e hoje contrapõe a Teoria da Evolução e o criacionismo, em sua forma mais bruta, ou a proposta do ‘Desenho Inteligente’. A biografia de Galileu é apresentada de forma sucinta e objetiva, tocando nos principais eventos de sua vida, neste novo livro de Stephen Hawking, Os gênios da ciência: sobre os ombros de gigantes. Aprendemos nesta biografia que o editor do Diálogos sobre duas novas ciências, obra de Galileu que é a pedra angular da
física moderna, foi Luis Elsevier, de Leiden, que está na origem da casa editorial que publica esta tradução.
Hawking é hoje, sem dúvida, o pop-star da divulgação científica. Nesta obra ele traz um saboroso prato para os amantes e simples curiosos da ciência, selecionando trechos das obras de cinco gigantes da física: Copérnico, Galileu, Kepler, Newton e Einstein. Cada um destes trechos é precedido de uma biografia, que apesar de breve é bastante rica, e comentários sobre a obra de cada um deles. Copérnico, que viveu de 1474 a 1543, deu início à desconstrução do homem como elemento central da natureza. Este processo relegou hoje, não só o homem, mas toda a matéria da qual somos feitos, a uma diminuta fração de toda a matéria do Universo. Hawking escolheu para ilustrar Copérnico trechos do Sobre as revoluções das esferas celestes. É bastante interessante acompanhar o argumento de Copérnico, com os olhos de hoje. Questões que parecem banais hoje têm papel relevante no texto, como a questão de quanto de terra e quanto de água formam a Terra. Na discussão sobre Galileu encontramos a referência ao fato de que, stricto sensu, Galileu só foi excluído do Index da Igreja Católica em 1992, pelo papa João Paulo II. Em 1982, este papa visitou o CERN, o que provocou uma reação negativa por parte de muitos cientistas daquele laboratório, pois Galileu ainda constava do Index.
A biografia de Kepler é apresentada também com detalhes e o texto escolhido por Hawking como emblema daquele gigante é o Livro Cinco de Harmonias do Mundo, com extensa discussão sobre as formas poliédricas. Já a biografia de Newton é mais contida. Traz referências rápidas ao seu espírito irascível e às suas picuinhas contra seu arqui-inimigo Robert Hooke, outro gigante cuja importância para a ciência acabou sendo ofuscada pelo brilho de Newton. O último gigante da lista é Einstein, e sua biografia fica ofuscada pela enorme quantidade de material publicado sobre ele neste ano. Os textos escolhidos já terão como público apenas estudantes de física, pois todos trazem fórmulas, para cujo entendimento já se faz necessário ter certo treino.
Esta edição dos Gênios da ciência é fartamente ilustrada, se bem que nem sempre as ilustrações têm relação direta com o texto. É um livro que dá prazer manusear e ler de forma aleatória, um trecho de Galileu, um pedaço de Newton. A tradução, excelente, feita pelo pesquisador Marco Moriconi, mostra o cuidado da editora com esta publicação.
Ronald Cintra Shellard
CBPF/PUC-Rio