Brazilian Business 282

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sustentabilidade

entrevista

Emilio La Rovere

Brazilian Business: O que pode sair de importante dessa reunião? É possível que seja criado algum acordo relevante? Emilio La Rovere: Ainda não se espera que

O coordenador do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (CentroClima) da Coppe/UFRJ, Emilio La Rovere

Impasses climáticos O desafio de encontrar na Polônia um caminho para deter o aquecimento global Por Cláudio Rodrigues

8_Edição 282_jul/ago 2013

E

ncontrar a equação para evitar as mudanças climáticas não é uma tarefa fácil. As emissões de gases do efeito estufa continuam crescendo, e diferentes interesses comerciais e diplomáticos impedem a criação de um acordo capaz de controlar o aquecimento global. A próxima rodada de negociações será em Varsóvia, na Polônia, entre os dias 11 e 22 de novembro deste ano, durante a 19ª Conferência do Clima (COP-19). Na mesa, estará o desafio de criar os mecanismos capazes de superar os impasses envolvendo quase 200 países até 2015, quando deverão estar definidas as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa que passarão a vigorar em 2020. Para entender melhor o que deverá ser aprovado na COP-19, a revista da Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (AmCham Rio), Brazilian Business, entrevistou o cientista Emilio La Rovere, especialista que faz parte do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Professor titular da Coppe/UFRJ, ele é coordenador do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (CentroClima) da universidade. De acordo com La Rovere, o encontro na Polônia precisará dar passos importantes para que seja possível a criação de um acordo climático até o prazo estabelecido, 2015, quando a Conferência do Clima deverá ser realizada em Paris, na França. Leia a seguir os trechos da entrevista com o professor sobre a expectativa em torno do encontro e os possíveis desdobramentos para o futuro.

Divulgação Coppe/UFRJ

um acordo seja concluído neste ano, nem no ano que vem. O prazo estabelecido é até 2015. Tradicionalmente, na Conferência do Clima, dadas as regras de consenso de todas as convenções da ONU, infelizmente, os acordos feitos geralmente são atingidos só no apagar das luzes. Foi assim em Kyoto, negociado em 1997. E, pelo que temos visto nas reuniões preparatórias, que acontecem a cada três meses em Bonn, na Alemanha, ainda não se desenha nenhum consenso. Entretanto, estão surgindo novas ideias. O maior impulso deverá vir, desta vez, das duas maiores potências, Estados Unidos e China.

BB: Quais são os indícios de uma mudança de postura desses dois países, que têm as maiores emissões de gases de efeito estufa do planeta? ER: A China anunciou um grande plano

para combater a poluição local. A poluição do ar em Pequim é crítica. Esse movimento ensejou uma resposta dos Estados Unidos um dia depois: o governo Obama escolheu simbolicamente a escada da Universidade de Georgetown, em que vários presidentes americanos fizeram anúncios históricos, para anunciar um plano de combate à mudança do clima.

O maior impulso deverá vir, desta vez, das duas maiores potências, Estados Unidos e China

BB: E o Brasil, pode ter algum protagonismo, ou não? ER: O Brasil teve um desempenho muito

importante no combate ao desmatamento, reduzindo muito as emissões. Assim, praticamente assegura, caso seja mantido esse desempenho, o cumprimento dos objetivos voluntários com que o Brasil se comprometeu na Conferência de Copenhague, em 2009. Neste sentido, estamos numa boa situação, dependendo das próximas estatísticas de desmatamento, que devem vir com algum aumento neste ano. Mas, comparado com uma queda forte que vem acontecendo desde 2005, mais ou menos, a gente pode dizer que as metas com que o Brasil se comprometeu devem ser cumpridas.

BB: O Estado do Rio de Janeiro abriga uma indústria intensa de carbono, como a produção de petróleo e a siderurgia. Esses novos acordos climáticos podem ter impactos nestas atividades econômicas? ER: Isso vai acontecer, provavelmente um

pouco mais à frente. O Brasil, e acho que isso também já se sabia em Copenhague, tinha essa oportunidade de reduzir emissões da sua economia sem sacrificar muito o crescimento econômico: bastava conter o desmatamento, o que, na verdade, não afeta tanto assim a economia nacional. Até 2020, deveremos contar com essa zona de conforto. Bastará fazer o dever de casa na Amazônia para que as nossas emissões estejam dentro do que a gente se comprometeu. Entretanto, a rodada de negociações de Paris, em 2015, vai estabelecer o passo seguinte. Ou seja, os objetivos para depois de 2020, até 2025, ou 2030. Não há ainda um prazo definido, para que ano seriam traçadas as metas, se serão voluntárias ou, digamos, obrigatórias. Enfim, isso ainda está sendo negociado. Falando de reduções de emissões de 2020 a 2030, o Brasil estará numa situação mais parecida com a da economia industrializada de hoje nos países avançados. Neste caso, as metas de redução de emissões dependem essencialmente do combate a combustíveis fósseis. O governo publicou uma estimativa de emissões referentes a 2010 na qual os lançamentos atmosféricos do setor de energia – da indústria, dos transportes, das residências e do comércio – já superam os do desmatamento, que estão caindo drasticamente. → Edição 282 Brazilian Business_9


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