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Liane Rossi, docente do IQUSP, recebe Prêmio King Carl XVI Gustafs em Ciências Ambientais pelo trabalho em Catálise Sustentável

O Prêmio King Carl XVI Gustafs é oferecido pela corte real sueca e busca reconhecer pesquisadores estrangeiros nas áreas de ciência, tecnologia e meio ambiente. A iniciativa faz parte de um fundo criado no aniversário de 50 anos do rei Carl XVI Gustafs. Em 2022, Liane Marcia Rossi, docente do IQUSP e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) na área de Ciências Químicas, foi a pesquisadora indicada ao Prêmio pela professora Belén Martín-Matute, que atua no departamento de Química Orgânica da Universidade de Estocolmo.

Com a cátedra King Carl XVI Gustafs, a pesquisadora do departamento de Química Fundamental do IQUSP — que é a 28º pessoa a receber o título — terá a oportunidade de desenvolver atividades voltadas à área das ciências ambientais na Universidade de Estocolmo, entre os anos de 2023 e 2024. “Nesse prêmio, eles nanciam um pesquisador internacional para desenvolver um projeto e para visitar a Universidade na Suécia, na área de química ambiental. É um nanciamento para uma missão de pesquisa, basicamente, que envolve também oferecer cursos, visitar a universidade e participar da vida acadêmica de lá”, descreve Liane.

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Ela relembra que, durante o processo de seleção feito por Belén, foram necessárias várias etapas e envios de documentos, como um plano de trabalho sobre sua pesquisa — e conta como é receber esse título.

Eu fiquei empolgada, a gente tem tão poucas oportunidades de receber esses prêmios, né? Ainda mais prêmios em que você compete com pessoas de fora do Brasil(...)

(...) É muito difícil a gente se classi car quando a gente é comparado com pessoas que estão fazendo pesquisa e desenvolvendo sua carreira em lugares muito mais desenvolvidos. Então, eu imagino que isso é vencer uma barreira. Uma barreira muito importante, então co muito honrada com esse reconhecimento”, diz ela.

Em um comunicado o cial da Universidade de Estocolmo sobre a nomeação de Liane, Belén Martín-Matute disse que “além de sua projeção em pesquisa e participação ativa na formação de recursos humanos, destaca-se também seu engajamento acadêmico e institucional, bem como seu esforço contínuo para fortalecer a pesquisa em catálise sustentável no Brasil”.

Em seu laboratório, a atuação de Liane é voltada para a Química Verde, com abordagens em catálise sustentável, nanomateriais para catálise, recuperação de biomassa e conversão de CO2 em produtos de valor agregado. Um dos pontos que Liane destaca acerca da premiação é a questão do gênero entre os participantes nomeados: “Poucas mulheres ganharam esse prêmio até hoje. Se você olhar a lista de nomes, acho que só teve uma ou duas mulheres que ganharam. Então, também é uma coisa importante. A pessoa que me nomeou disse: ‘Ah, Liane, nós precisamos ganhar, porque eu caria muito feliz que uma mulher ganhasse nesse ano’”, relata.

Inovação em pesquisa sobre gases de efeito estufa

A Universidade de São Paulo sedia um centro de pesquisa voltado a estudos acerca da utilização do gás natural, biogás, hidrogênio e CO2 de forma sustentável no setor energético, o Research Center for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), criado em 2016. Neste centro, Liane Rossi é diretora do programa de Captura e Utilização de Carbono, onde ela e seu grupo de pesquisa desenvolvem estudos sobre a conversão desse gás. “Originalmente, eu trabalho na área de materiais e catálise. Dentro da área de catálise, você tem várias opções de estudos, de frentes de trabalho. Desde 2017, mais ou menos, eu tenho trabalhado em reações de conversão de CO2”, explica.

A relevância da pesquisa nessa área se dá diante de dados de relatórios como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2022 — que apontou neste ano um índice histórico recorde de emissões globais médias de gases de efeito estufa. “Como transformar o CO2, um gás ligado a mudanças climáticas e que a concentração na atmosfera está muito acima do que seria o ideal?” — questiona Liane. James Hansen, climatólogo-chefe da Nasa, apontou que o nível seguro de concentração de dióxido de carbono na atmosfera — a m de que se evitem tragédias climáticas de grande escala — é de 350 partes por milhão (ppm). Em 2021, a concentração média do dióxido de carbono na atmosfera atingiu 414, 7 ppm.

Liane comenta a problemática da emissão dos gases estufa e alguns dos caminhos que podem ser considerados no caso do dióxido de carbono. “Essa questão da mitigação das emissões de CO2 envolve várias tecnologias para capturar e converter. Remover aquele CO2 que já está na atmosfera é mais difícil, porque ele está muito diluído.

Mas existem várias fontes emissoras de CO2 — industriais, por exemplo — que poderiam ser interrompidas. Ou, ao invés de emitir mais CO2 para a atmosfera, você concentraria esse CO2 e o utilizaria como matéria-prima para a produção de algum produto químico a partir desse CO2 — que podem ser polímeros, combustíveis ou produtos para a indústria química, por exemplo”, explica a professora. Ela também cita a possibilidade de concentração e estocagem do gás em cavernas e rochas, tal qual ocorre em processos naturais de captura do gás carbônico. Em seu grupo de pesquisa no RCGI, um dos focos é a conversão do dióxido de carbono em metanol. “O CO2 é a nossa molécula-chave. A gente estuda, então, os catalisadores, desenvolve novos catalisadores de processos — rotas catalíticas, a gente fala — para conversão do CO2 em produtos como o metanol. O metanol pode ser usado na área de combustíveis, solventes e também para ser transformado em outras moléculas mais complexas”, explica ela. Entre os projetos que desenvolve voltados para a produção do metanol, ela cita as parcerias nanciadas pelo Grupo Shell e pela Fapesp, com os docentes Pedro Vidinha e Reinaldo Bazito, do Instituto de Química da USP.

Mais informações: lrossi@iq.usp.br

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