AIRHEAD MAGAZINE- Julho 2015

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airhead ยบ


[ SUMÁRIO ] ARTE

Shantell Martin

(texto: Ana Strapazon) LITERATURA

Resenhas do Mês

(texto: Francesco Felix // ilustrações: Ana Strapazon)

EDITORIAL

Out Of Touch With Reality

(fotos e seleção: Lara Emerich) MÚSICA Resenhas

P. 08

My Love Is Cool + Resenhas do Mês (texto: Manoela Morel) CINEMA Resenhas

Amores Imaginários

(texto: Luiza Müller) THROWBACK

p. 18

1977

(texto: Luiza Müller e Manoela Morel// ilustrações: Manoela Morel) Foto de capa: Lara Emerich Layout e arte final: Manoela Morel


~ ´ Flores de plastico nao morrem

Passo os meus dedos pelas flores. Vivas. Coloridas. Belas. Jovens. Macias. Elas estão por todos os lados. Tocam meus braços, meu rosto, minhas pernas, meu cabelo. À minha frente, um lago gigante e brilhante repousa, suas águas mornas tocando de leve as pequenas plantas, quase como se ambos fossem mesclados. Talvez fossem mesmo. Pego-me comovida, quase angustiada, com a beleza daquilo. Angustiada sim, porque tenho a mais plena certeza de que aquilo, um dia, irá acabar. Com todos os horrores do mundo, parece-me injusta essa visão tão bonita dele. Sinto vontade de construir meu próprio jardim artificial, com minhas flores artificiais e meu lago artificial. Fecho os olhos e me deixo ser levada até ele. As flores plastificadas são soberbas, mas, ao tocá-las, meus dedos ferem-se. O lago nunca me pareceu tão brilhante, porém suas águas estão tão estáticas que mais parecem uma fotografia. É uma beleza falsa. Infinita e irreal. Volto para a veracidade e percebo o que a sonhadora completamente fora da realidade nunca havia notado. O essencial da beleza é a sua finitude.


ARTISTAS INDEPENDENTES


Shantell Martin gosta de começar a explicar sua história com uma foto de quando ela era criança. Nessa foto, ela conta, vemos ela criança, com 9 anos, cabelo afro e sua pele morena, e seus cinco irmãos, todos loiros com olhos claros. Ela graduou na Central Saint Martin, uma universidade de artes em Londres, e partiu para o Japão, onde fazia performances. Depois, ela se mudou para Nova Iorque e começou a ascender no mundo da arte. Seu trabalho é tão caótico como nossa imaginação. Em seu portfólio se encontra “Dream Drawing”, uma coleção de desenhos que tentam explicar alguns dos sonhos de Shantell (esquerda, acima). Linhas se misturam criando rostos, placas, pessoas cor-

rendo no universo preto e branco que Shantell cria. Esses rostos se repetem, observando cada um dos seus clones. Dessa forma, é sempre um círculo de olhares. Entre os rostos e pessoas sem uma identidade, animais ganham vida junto de frases e textos. A pergunta que mais aparece é “Quem é você? ”, furtivo na tela de um celular (esquerda, abaixo) e numa garrafa (direita), em “Drawing on Everything”. Shantell deixa como sua marca registrada o preto no branco, que cria as histórias de seus desenhos. Seu trabalho já foi exposto em museus como o Brooklyn Museum e até mesmo o MoMA. Não ficaria impressionada se, daqui um tempo, visse os desenhos icônicos em museus aqui no Brasil e ao redor do mundo.

-por Ana Strapazon


"As Vantagens de Ser Invisível" é um livro transformado em filme pelo autor Stephen Chbosky. Escrito de forma incrivelmente realista, conta com o ponto de vista de Charlie, um adolescente que conta por meio de cartas para alguém desconhecido as histórias de sua vida. É um livro que reflete nos conceitos de amor e de amizade na época de adolescência de um modo brilhante e nunca repetitivo. Charlie é um personagem extremamente relacionável e interessante. A história flui sem picos de ação ou momentos mais lentos; toda a história é contada na mesma velocidade, dando uma maior sensação de realismo à obra. O diálogo é extremamente natural, e embora seja uma ficção, é fácil acreditar que Charlie e seus amigos realmente existiram. O filme, embora de boa qualidade, não consegue expressar tudo que o autor quis na obra, o que faz a leitura obrigatória para qualquer amante de livros.


"Rumo aos Anéis de Saturno”

é um livro infanto-juvenil escrito por Philip Reeve. Embora escrito de forma simples e tenha uma história repleta de clichês e reviravoltas previsíveis, o livro entretêm o leitor com suas ilustrações super detalhadas e com passagens engraçadas e bem escritas. A história é sobre os dois irmãos Mumby, Art e Myrtle. O livro começa em um futuro próximo, e as duas crianças moram com seu pai em uma casa que orbita a Lua. A descrição da casa é feita muito bem, e os primeiros capítulos do livro prometem por uma história rica em detalhes. A partir daí, no entanto, tudo desanda. Os personagens não são fáceis de se relacionar, e o equilíbrio entre realismo e ficção científica estabelecido nas primeiras páginas se perde até chegar a um final previsível. Embora não seja de qualidade ruim, não é um livro memorável ao terminar a leitura.

"Raiz-Forte",

do premiado autor das "Desventuras em Série" Lemony Snicket, é uma coleção de frases, conselhos e ditados que falam sobre diversos assuntos. O livro é dividido em categorias como 'família', 'viagens' e 'assuntos do coração'. O autor, usando seu senso de humor negro e sua inteligência perspicaz, trata de assuntos difíceis e algumas vezes polêmicos com metáforas inteligentes. Ele dá conselhos sobre como seguir a vida e como se comportar em situações difíceis. Ele reflete tanto sobre assuntos importantes na sociedade atual quanto sobre coisas levianas e infantis. Fácil de ler é muito útil para ter algo a se dizer em conversas sobre variados assuntos, é um ótimo livro.


OUT OF TOUC WITH REALITY


CH Y








cinema


´ amores imaginarios Amores Imaginários é um romance dramático dirigido e escrito por Xavier Dolan. O filme narra os sucessivos eventos que levaram dois amigos, Marie (Monia Chokri) e Francis (Xavier Dolan), a estarem completamente envoltos em seu obsessivo amor por Nico (Niels Schneider), cujas intenções permanecem insensivelmente nebulosas até o desfecho da história. O filme tem um formato extremamente cativante, tendo em seu percurso uma série de relatos de pessoas falando sobre seus amores e suas ruínas emocionais; o que deu ao filme um acréscimo interessante, uma hora em que o telespectador pode se sentir especialmente conectado com a obra. A fotografia é o grande porquê do filme ser tão especial. A cada cena eu me dissolvia na tela, em momentos, eu parava o filme só para admira-lo como um quadro; como a interessante arte que ele é. A cena da festa na casa do Nico com Pass This On do The Knife de fundo, me fez ficar não só apaixonada pela cena, como pela música também. Uma trama clichê que excepcionalmente se destaca pela beleza com o qual é retratada. A trilha sonora é incrível, completando a fotografia com destreza. De Bang Bang de Dalida a Exactement de Vive La Fête, as músicas costuram e tecem o filme deixando-o ainda mais completo. Destaque para a cena em que Nico canta Every Breath You Take do The Police no balanço, mostrando o menino de forma ainda mais egocêntrica e inalcançável. A obra também conta com nomes como Anne Dorval, Olivier Morin, Gabriel Lessard e Louis Garrel. Ao som de boa música, Amores Imaginários faz um passeio pelos caminhos do amor renegado, dos beijos mandados de longe e do eterno ciclo da paixão admirativa. -por Luiza Muller


My love is cool, by

wolf alice

Wolf Alice já é um nome comumente falado na música indie tanto em seu país de origem, a Inglaterra, quanto noresto do mundo. Devido a grande divulgação, o nome da banda provavelmente soa familiar mesmo para quem nunca os ouviu e surpreende por estarem só a algumas semanas do lançamento de seu primeiro disco. Seu som é simplesmente único e é descrito por críticos como algo entre o grunge dos anos 1990 e o próprio indie folk. Além de ótima música, outro quesito de destaque da banda é a atitude de seus membros: desinibidos, descontraídos e despreocupados. My Love Is Cool já alcançou a segunda posição nas paradas inglesas, mas o rápido sucesso não vem como surpresa para ninguém. O disco de estréia tão esperado abre com a sombria "Turn To Dust", alertando para que mantenhamos nossos olhos na banda. "Silk“ segue a mesma linha e é uma música de indie rock perfeita, uma faixa marcante bem no meio do álbum. Algo diferente das musicas anteriores da banda, mas com elementos que parecem vagamente familiar para os fãs. A banda dispensou o uso das músicas de seus dois aclamados EPs, Blush (2012) e Creature Songs (2014), mas "Bros" e "Fluffy", singles lançados em 2012, ganharam regravações, esta última parecendo cada vez mais com o Hole de Courtney Love. "Bros", por sua vez, juntamente com "Frenzy" são faixas de alt-pop perfeitas, açúcaradas e contagiantes. São um contraste com as outras faixas mais rebeldes e ousadas do disco. Apesar da excelência em criar musicas melodicamente empolgantes, o Wolf Alice é principalmente aplaudido por seu quê mais frenético. "Giant Peach" é o primeiro single do álbum e é uma faixa de rock sensacional, que vai de distorções à gritos da vocalista Ellie Rowsell. "My Loves Whore" é a minha favorita: ritmo bem marcado pelo baterista Joel Amey, base de guitarra envolvente e letras que dão vontade de cantar gritando. Para fechar o disco, outra faixa marcante, "The Wonderwhy", que o encerra com um coro harmonioso de "don't leave me here“ (“não me deixe aqui”). O pedido, que tem um peso religioso- tema este abordado várias vezes no album- logo toma outra posição: passa a ser um apelo dos fãs aos músicos. Uma carreira no mundo da música só começando mas que promete muito. E, sinceramente falando, já estou contando ansiosamente os dias para o segundo disco. Por favor, Wolf Alice, não nos deixe aqui.


Before we forgot how to dream by soak

Rough Trade Records

Debut da irlandesa Bridie Monds-Watson, Before We Forgot How To Dream já entrega no próprio título o clima da obra. Tendo como influências artistas que caminham entre Bob Dylan, Jamie T e Laura Marling, vai agradar a todos que gostaram das trilhas sonoras dos filmes Submarine, por Alex Turner e de God Help The Girl, pela banda Belle and Sebastian. “Garden” e “Sea Creatures” carregam o quê de nostalgia passado ao longo do album com metáforas à natureza. Falando das letras, estas são destaque: falam, na maioria das vezes, sobre juventude quase como se vista de fora, em contraste com os só 18 anos da artista, como fica claro na faixa mais marcante do album “Reckless Behaviour”. Trilha sonora perfeita para qualquer filme caseiro.

himalaya

by

summer fiction

Bill Ricchini nasceu na Pênsilvânia, mas não basta mais do que 10 segundos ouvindo seu lançamento para percebemos que sua mentee a sua músicasão totalmente californiamnas.Himalaya é um bom disco, mas não traz nada surpreendente: indie pop jovial, despretencioso e simples. Não surpreende a data do lançamento, justo no verão estadunidense, como sugere o próprio nome artístico. A primeira metade do disco é formada por músicas chiclete e bem dançantes, mas a partir da faixa “Lauren Lorraine”, diminui o rítimo e se torna um pop quase que acústico. Para indicar uma música de cada “parte”, sugiro “Perfume Paper” e “By My Side”. Fãs de Best Coast e Beach House, anotem a dica para o próximo verão: piscina, sol, um copo de limonada e Himalaya tocando ao fundo.

Summer Fiction

How big, how blue, how beautiful by florence + the machine

Island Records

O lançamento da inglesa Florence Welch é um must-listen para qualquer um, desde fãs até aqueles que nunca tiveram tanto interesse na cantora. O disco abre com a charmosa “Ship To Wreck”, sem dúvida um dos maiores hits de 2015 e é sucedida pelo também single “What Kind Of Man”, marcante e cheia de atitude. “How Big, How Blue, How Beautiful” mostra o porquê da escolha do próprio título, sintetizando em 5 minutos o som do disco inteiro: luxuoso, grandioso, majestoso. “Long & Lost” é lindíssima, minimalista e meio jazz, algo diferente de tudo já feito por Welch. No entanto, o álbum também conta com faixas como “Thrid Eye”, em que a cantora provou fazer o mesmo que fez de melhor nos últimos discos. A incrível “Mother” é outra música sensacional: passa de blues a algo com um quê de Scremadelica, do Primal Scream, encerrando o album com tanta ambiciosidade quanto o próprio início. Lembrando Interpol, Adele e até mesmo Janis Joplin, o álbum é, definitivamente, um dos melhores de 2015.

-por Manoela Morel


1977 foi um ano em que a música e as produções cinematográficas atingiram um auge memorável. Com álbuns épicos e filmes atemporais, o ano elimina barreiras e gerou grande inovação. Com comentários cômicos sobre o amor, Annie Hall virou um dos filmes mais famosos do adorado diretor Woody Allen. O figurino de Annie (Diane Keaton) é um clássico, o modelo da gravata com o colete e a calça social marcou época para os apreciadores do cinema. Já em outro gênero, Star

Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança mudou a história da ficção cientifica e deixou uma legião de entusiastas imensa por onde estrelou. Com seus personagens e história complexos, o filme continua sendo até hoje o preferido de muita gente.


Em 1977 também foi lançado um dos maiores marcos da cultura pop, Os Embalos de Sábado à Noite. Com John Travolta encenando o clássico Tony Manero, usando a famosa calça boca de sino e camisa branca na discoteca, dançando ao som de Bee Gees, certamnte é uma das cenas emolduradas na história do cinema e também da música. Canções como “Staying Alive”, “Night Fever” e “More Than A Woman” são certamente eternas. O disco mais vendido de 1977 foi o excelente Rumours, do Fleetwood Mac, que contêm hits -como “Go Your Own Way” e “Don’t Stop”- do começo ao fim. Falando de sucessos, outro hit desse ano foi “Heroes”, do David Bowie, que continua a marcar os jovens até hoje. No entanto, discos mais experimentais também fizeram sucesso no ano como Animals do Pink Floyd, contendo somente 5 faixas- das quais duas são intro e exitlude e as outras três ultrapassam a marca de 10 minutos de duração. No mesmo ano também foi lançado Never Mind the Bollocks, Here’s The Sex Pistols, que influenciou toda uma geração de punks ao redor do mundo Com tantos eventos e produções épicas, 1977 foi um ano extremamente importante na história da arte e do mundo. -por Luiza Muller e Manoela Morel


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Playlist do mEs- out of touch with reality 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.

Day go by, karen o Spiral steams, the outs Tangerine, led zeppelin Dreams, fleetwood mac Out of the woods, foals Fresh starwberries, franz ferdinand California daze, peace Flores, titãs Interlude i (ripe and ruin), alt-j Flowers in your hair, the lumineers

*voce^ pode conferir esta e outras playlists no nosso usuario ´ no spotify, @airheadmagazine


alguns crÉ´ditos... ://

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