Revista Agrotejo n.º 34 - Ano 2024

Page 1


MINISTRO

DA AGRICULTURA E PESCAS

ENTREVISTA

ROGÉRIO FERREIRA Presidente da Comissão Diretiva da Autoridade de Gestão do PEPAC Estão reunidas as condições para iniciar medidas do PEPAC

ATUALIDADES

“Água que Une” Agricultores aguardam pela concretização de medidas

DOSSIER

Mercado Voluntário de Carbono: que oportunidade representa?

O nosso objetivo na reprogramação da PAC, é aumentar os rendimentos dos agricultores. Os agricultores ganham menos de 40% da média das outras profissões.” “

CULTURAS HORTO-INDUSTRIAIS

Num contexto de crescimento e desafios

CULTURAS DE COBERTURA EM SISTEMAS DE MONOCULTURA

Pontos para reflexão

GRUPO DE TRABALHO “ÁGUA QUE UNE” Deixa agricultores esperançosos

SUSTENTABILIDADE E A RENTABILIDADE

Produção de milho A ATUALIDADES

ENTREVISTA

22 JOSÉ MANUEL FERNANDES MINISTRO DA AGRICULTURA E PESCAS

“Estamos a fazer um esforço como nunca foi feito para o aumento do rendimento dos agricultores”

92 ROGÉRIO FERREIRA

DIRETOR-GERAL DA DGADR Reunidas condições para implementar medidas do PEPAC

D DOSSIER

50 MERCADO VOLUNTÁRIO DE CARBONO

Funcionamento em Portugal

CAMPO

170 TOMATE DE INDÚSTRIA

Condicionantes, desafios e estratégias da Fileira?

DESAFIOS E OPORTUNIDADES NO SETOR “AGRIFOOD” 10

AGROMAIS PLUS E PLUS ALQUEVA

FRANCISCO GOMES DA SILVA DIRETOR-GERAL DA AGROGES 70

RESERVA NATURAL DO PAUL DO BOQUILOBO 180

SITE www.agrotejo.pt EMAIL agrotejo@agrotejo.pt

DIREÇÃO Agrotejo

EDIÇÃO E PROPRIEDADE Agrotejo

COORDENAÇÃO EDITORIAL

Mário Antunes, José Monteiro Limão e Sara Pelicano

DESIGN EDITORIAL

Teresa Matias

TEXTOS

Abílio Pereira, Alexandra Fernandes, Bruna Costa Freire, Carlos Santana, Cristina Pinto Correia, Domingos dos Santos, Francisco Caldeira, Felisbela Torres de Campos, Fernando Faria Pereira, Frederico Teixeira, José Carlos Lino Sérvulo Correia, José Macário Correia, Luís Mesquita Dias, João Almeida Filipe, José Martino, José Miguel Villaú, José Monteiro Limão, Luís Mesquita Dias, Luís Mira, Luís Vasconcellos e Souza, Maria do Céu Godinho, Mário Antunes, Miguel Pina e Cunha, Miguel Vieira Lopes, Paulo Amado de Almeida, Paulo Costa de Sousa, Paulo Fardilha, Pedro Fevereiro, Pedro Queiroz, Pedro Salamanqueiro, Rosa Santos Coelho, Sandra Pires, Sara Pelicano, Tânia Cordeiro, Tânia Lourenço, Tiago Caetan e Vânia Alcobia

D DIAGNÓSTICO

62

Mas formação é importante.

140 118 AGRICULTORES ADOTAM TECNOLOGIA

TECNOLOGIA RECOLHE DADOS Inteligência artificial gera conhecimento, agricultor toma decisões.

SETOR DA BATATA EM PORTUGAL Tem potencial de crescimento.

O OPINIÃO

12 76 PEDRO QUEIROZ

Reservas estratégicas alimentares e balança comercial agroalimentar.

PAULO COSTA E SOUSA

Fragilidade económica dos produtores

N NEGÓCIO

HIDROSOPH

Aplicação da ferramenta Agrozoom do IrristratTM

CONSULAI

Projeto AdvisoryNetPEST

PIONEER

Considerações agronómicas e económicas

VITAS PORTUGAL

ADN - Gama de Bioestimulantes para a Performance das Culturas

H HISTÓRIAS&SABERES

160 VAMOS DESPONTAR MILHO

M MEMÓRIAS&SABORES

160 PRAZERES DA GASTRONOMIA REGIONAL

IMPRESSÃO A Persistente – Chamusca

TIRAGEM 4000 exemplares

DEPÓSITO LEGAL 93520/9

Largo da Imaculada Conceição 2150-125 GOLEGÃ Tel 249 979 060 agrotejo@agrotejo.pt

Lg. Custódio Marques Montargil 2140-076 CHAMUSCA Tel 249 760 004 agrotejo@agrotejo.pt

C

Esperançados, mas expetantes. Positivos, mas vigilantes.

O momento da mudança de Governo é quase sempre um tempo de esperança e expetativa, mas também de incerteza.

Esperança e expetativa porque se os eleitores alteraram a direção do seu voto foi porque entenderam que os governantes anteriores não tinham correspondido às suas necessidades e esperam que o novo Governo o faça melhor. Incerteza, porque tantas vezes no passado aconteceu que as propostas e promessas feitas não foram concretizadas. Todos os executivos gozam de um inicial estado de graça mas também é certo que o mundo, as tendências, o progresso tecnológico e os desafios mudam cada vez com maior velocidade tornando os estados de graça cada vez mais curtos.

Necessitam-se assim medidas rápidas e eficazes embora estruturantes e não demagógicas. Necessitam-se governantes corajosos, competentes e ágeis para as implementarem. Assim estamos nós agora em Portugal.

Os primeiros sinais apontam para uma atenção dada à Agricultura pelo atual Governo bem maior do que a que lhe deu o Governo anterior. A dúvida que ainda persiste é se essa atenção será suficiente e mais certeira nos focos de atuação escolhidos.

Passaram-se até agora cinco meses e notam-se efetivamente alguns progressos dos quais destacamos o diálogo e articulação entre Agricultura e Ambiente bem como a agili -

dade na ação ilustrada na resposta aos incêndios recentes. Nesses mesmo cinco meses, no entanto, soluções para temas críticos do passado recente que julgávamos vir agora a ser resolvidos, continuam a tardar.

Na Agricultura, o objetivo mais do que legítimo de que no início das campanhas os agricultores conheçam as linhas com que se vão coser, parece uma vez mais comprometido pelo atraso na reprogramação do PEPAC.

No Ambiente, apesar da forte redução de carga ideológica que caracterizou os últimos anos, a coordenação da Agência Portuguesa do Ambiente com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e a agilização dos respetivos processos tardam e custam milhões ao país, afetando inúmeros aspetos da atividade das explorações, com destaque para o tema da água que deve ser para o país a “Causa das Causas”!

Ou seja, estamos esperançados, mas expetantes. Positivos, mas vigilantes.

Não queremos de forma alguma que se deem argumentos para o regresso aos tempos conturbados do último ano.

A melhor, a única, maneira de o evitar é fazer acontecer mais depressa e melhor aquilo que é tão evidentemente consensual no nosso setor e que a médio prazo nos pode fazer passar na Europa de quintos a contar do fim para quintos a contar do topo.

Deve ser essa a nossa ambição.

As culturas horto-industriais num contexto de crescimento e desafios

Domingos dos Santos

VICE-PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO DOS AGRICULTORES DE PORTUGAL E PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO NACIONAL DAS ORGANIZAÇÕES DE PRODUTORES DE FRUTAS E HORTÍCOLAS (FNOP)

A fileira das culturas horto-industriais em Portugal enfrenta desafios e oportunidades, destacando-se a necessidade urgente de aumentar a reserva de água, reforçar as Organizações de Produtores e simplificar a burocracia, de forma a garantir a sustentabilidade económica e a atratividade para as novas gerações. Especialistas alertam para a importância de políticas agrícolas estáveis e medidas de gestão de riscos para proteger os agricultores face às alterações climáticas e à concorrência desleal de produtos importados de fora da União Europeia (UE).

As culturas horto-industriais, tal como muitas outras culturas hortofrutícolas para consumo em fresco e não só, encontram em Portugal um conjunto de condições altamente favoráveis para que a sua produção seja bem-sucedida. Os nossos solos,

o nosso clima com influência do oceano Atlântico, o respeito pela biodiversidade, utilizando métodos ambientalmente sustentáveis no processo produtivo, o modo como os nossos agricultores se têm organizado em Organizações de Produtores, fazem com que muitas indústrias escolham a nossa matéria-prima para utilizarem nos seus produtos alimentares.

A agricultura e a alimentação têm uma ligação umbilical e devem ser tratadas em conjunto. Os produtores pretendem

produzir os melhores produtos aos melhores preços. O mesmo se passa com os consumidores, estes pretendem comprar exatamente da mesma maneira, pretendem comprar os melhores alimentos aos melhores preços. As empresas industriais escolhem os produtos produzidos em Portugal, porque estes lhes garantem um conjunto de características que vão ao encontro das necessidades dos consumidores, garantindo a estas empresas sustentabilidade económica.

Apesar da evolução positiva desta fileira, é necessário garantir o futuro e a sustentabilidade económica da mesma, é importante assegurar a atratividade da fileira aos jovens para que possa haver continuidade, mas para isso é fundamental garantir um conjunto de medidas e ações:

– O aumento das reservas de água e a sua distribuição pelo país é prioritário e indispensável para se poder continuar a produzir alimentos numa vasta área do nosso território. Não é sensato nem eficiente estarmos a debitar milhões de metros cúbicos de água para o mar e depois, nos meses de verão, fazer falta água para produzir alimentos, assim como não é razoável, a não criação de mecanismos para recarregar os lençóis freáticos, tendo como prática a proibição da extração de águas subterrâneas em determinadas regiões, inibindo a produção agrícola e aumentando o abandono do campo e a desertificação;

– O reforço das Organizações de Produtores e a criação de Organizações de segundo grau, garantindo o planea-

mento da produção de acordo com as necessidades do mercado, melhoram o acompanhamento técnico e aceleram a implementação de uma agricultura mais precisa e mais eficiente e reforçam a capacidade negocial entre a produção e os industriais, levando a que a distribuição do rendimento ao longo da cadeia seja mais justo;

– As políticas europeias e nacionais, têm de ser estáveis e robustas, os agentes económicos não podem estar permanentemente a alterar todos os seus processos em função de ideologias ou caprichos;

– As regras de produção devem de ser estabelecidas tendo em conta o conhecimento científico e avaliando os impactos das suas aplicações, não se pode avançar com propostas legislativas de acordo com as agendas políticas, sem existir uma avaliação sólida do seu impacto na sustentabilidade económica, social e ambiental.

A Europa é a região do globo onde se produzem alimentos com os mais altos padrões de segurança alimentar, no entanto, os consumidores continuam a ter muita desconfiança em relação ao que comem e isto deve-se em grande parte à instabilidade das regras e ao medo introduzido por grupos radicais sem conhecimento técnico.

Para poder dar uma garantia aos consumidores a UE deve obrigar a que todos os produtos alimentares, disponíveis no mercado, tenham inscrito nos rótulos a origem dos seus ingredientes, é inadmissível que a chancela de qualidade e segurança alimen-

tar que a UE tem não seja comunicada aos consumidores;

– A PAC instrumento político e financeiro deve ser aplicado de modo a melhorar os métodos de produção, tendo em conta os bens prestados pelos agricultores à sociedade, compensando a quebra de rendimentos provocada pelas normas exigidas e garantindo a disponibilidade de alimentos a um preço que seja acessível aos consumidores. A PAC não pode provocar o desequilíbrio competitivo entre os países da UE, nem realizar constantemente alterações legais e de princípios;

– Sendo a UE a região do mundo onde se produz alimentos com maior sustentabilidade ambiental, numa economia mais justa e com grande responsabilidade social, cumprindo os mais exigentes padrões de segurança alimentar, não é admissível que os produtos importados de outras geografias fora da UE possam competir com a nossa produção sem garantir o princípio da reciprocidade, é imperativo que a UE exija aos países terceiros os mesmos requisitos que exige

aos seus produtores. Caso isso não aconteça estamos a matar a produção europeia e a enganar os consumidores, pois estes na maioria dos casos não têm estas informações;

– Os investimentos nas infraestruturas e na instalação das culturas é cada vez mais elevado, a par nomeadamente, dos riscos climatéricos, cada vez mais frequentes em consequência das alterações climáticas, dos riscos biológicos, com o aparecimento de novas pragas e doenças e dos riscos de mercado.

Para garantir a sustentabilidade económica dos agricultores, em caso de situações adversas, os seguros de colheita e as medidas de gestão de riscos são ferramentas fundamentais na atividade.

Dentro dos programas operacionais das Organizações de Produtores, as medidas para a gestão de crises têm de ser reforçadas e acessíveis a todos os agricultores sócios das OP e em pé de igualdade em todo o espaço da UE.

Os seguros de colheita têm de ver reforçado o seu orçamento, deverá também existir

pub

uma atualização dos riscos em função da especificidade de cada cultura e uma nova definição das zonas de produção pois as tradicionais têm sofrido alterações.

– É importante também reduzir a burocracia dos processos, que é atualmente um enorme obstáculo a quem quer produzir e a quem quer investir no nosso país. O peso dos custos de contexto são muito significativos e retiram competitividade aos produtores nacionais, ao que

acresce o facto de Portugal estar longe do grande centro de consumo da Europa, enfrentado custos de transporte mais elevados.

Garantir este conjunto de medidas e acções é ainda imprescindível para evitar que a produção e as indústrias transformadoras se deslocalizem para outras regiões do globo com um ambiente mais favorável aos investimentos.

Em resumo a fileira dos horto-industriais é de extrema importância para o país, pois promove o equilíbrio da balança de transações correntes no complexo agroalimentar, garante a fixação de pessoas no terri-

tório, evitando o abandono rural, reforça a coesão territorial e diminui as áreas com potencial risco de incêndio, aumenta a biodiversidade, gera valor acrescentado para os agricultores e para todos os agentes económicos envolvidos e contribui para o desenvolvimento do turismo mantendo uma paisagem mais verde e cuidada.

Os desafios do setor dos horto-industriais

A produção de hortícolas evoluiu no passado desde os produtos frescos tradicionais, (I Gama), para o aproveitamento dos produtos com defeitos de forma e epiderme, através de industrialização pelas conservas, (II Gama), para descascados e cortados para congelar (III Gama). A produção de hortícolas avançou na cadeia de valor colocando no mercado produtos hortícolas embalados em atmosferas modificadas, ou não, prontos a

consumir, como são exemplo as saladas (IV Gama). Por fim, a V Gama tratam-se de alimentos já cozinhados que apenas precisam de ser aquecidos. Desde tempos imemoriais que o Homem procura ter hortícolas para os 365 dias do ano. Durante séculos, estes produtos estavam disponíveis apenas na estação do ano da sua maturação natural. No entanto, o Homem sempre procurou soluções que lhe permitissem preservar estes alimen-

tos. Desta forma, surgem técnicas como a degradação microbiológica através de processos ancestrais, ainda hoje, bastante usados, de forma única ou conjugada, como a subida de pressão osmótica decorrente do enriquecimento dos alimentos com sal, ou açúcar, ou ácido (por exemplo decorrente de fermentações lácticas), desidratação pela secagem ao sol ou fontes de calor incluindo o tratamento pelo fumo, etc.

Nas últimas dezenas de anos tudo se alterou com a incorporação de tecnologia com recurso a fontes de energia e conhecimento, tais como a conservação de hortícolas pela refrigeração ou congelação; pela esterilização com fervura e autoclavagem ou ainda modificação da atmosfera que envolve o alimento. Pela redução do teor de oxigénio e/ou enriquecimento em gases inertes.

Toda esta alteração tecnológica fez alterar o mercado da alimentação no que diz respeito aos hortícolas. Do aproveitamento de subprodutos passou-se a um admirável novo mundo no mercado, com a existência de produtos de fácil aquisição, grande variabilidade ao nível do preço, – com predomínio dos mais baratos e rápida preparação e consumo. A segurança alimentar de elevado rigor acompanhou este aumento da diversidade de oferta. Uma boa parte destes produtos apresentam elevada qualidade nutricional, dando resposta às necessidades do atual consumidor. Os hortícolas embalados ganharam um importante peso na moderna distribuição alimentar, e noutros pontos de venda, devido a vários fatores, tais como o incremento das quantidades consumidas e a diversificação da procura – resultado do trabalho de divulgação da sua importância na nutrição humana; as alterações dos hábitos na confeção das refeições – procurando-se hoje confecionar de forma rápida, mas saudável; e as preocupações com a segurança dos alimentos – por, eventualmente, puderem ser contaminados por outros consumidores no ponto de venda. A indústria teve de encontrar resposta para estas novas tendências de consumo. Assim, investiu fortemente nas mais modernas tecnologias e serviços que permitem preservar a qualidade e frescura dos hortícolas à saída do campo. A indústria reinventou-se aproveitando subprodutos, que os torna em novos produtos de valor acrescentado. Este segmento agroalimentar moderno tem peso no setor dos hortícolas. Trata-se de uma indústria de ponta no que diz respeito ao seu desenvolvimento, tendo forte potencial de crescimento e de exportação, se, do ponto de vista político, forem criadas condições para se ultrapassarem os desafios ao nível do campo que vão para lá da vontade e poder dos seus players (ver caixa).

DESAFIOS

Falta de água para rega

Com as mudanças climáticas presentes e previsionais futuras, os poderes públicos têm a obrigação de garantir a disponibilidade de água junto ao limite externo da exploração, quando ela é necessária para satisfazer as necessidades fisiológicas das hortícolas. Há forte margem entre precipitação 30.000 hm3 (Portugal)– 60.000 hm3 (Portugal mais água vinda de Espanha) e o consumo  (5.700 hm3, com 70% consumo agrícola) para captar água em charcas e barragens. Assim como, no caso das hortícolas, pela adaptação que possuem ao clima e à maior parte dos solos nacionais, geram sustentabilidade que suportam investimentos em dessalinizadoras, pela eliminação do risco de nunca haver falta de água e pela energia fotovoltaica gerar um custo de exploração suportável para esta atividade agrícola.

Deficiente estruturação fundiária responsável por mais altos custos de produção

Com estruturas fundiárias de pequenas ou micro dimensões, seja na dimensão da parcela, seja na exploração (hectares por exploração:  14,4 Portugal Continental; 4,8 Entre Douro e Minho; 6,9 em Trás-os-Montes; 2.9 na Beira Litoral; 11,7 na Beira Interior; 11,9 Ribatejo e Oeste; 68,9 Alentejo e 7,9 Algarve) não é possível que cada unidade industrial de valorização de hortícolas tenha um número mínimo de explorações agrícolas em regadio com uma dimensão mínima acima da economia de escala. Os responsáveis políticos devem garantir junto do Banco Europeu de Investimento uma linha de crédito de 2.000 M€ para disponibilizar à banca comercial nacional. Trata-se de uma linha de financiamento de muito longo prazo (25-30 anos) para apoio à compra de terra, dando prioridade aos jovens empresários agrícolas, pagamento de tornas a co-herdeiros e compra de prédios rústicos confinantes por parte de proprietários há mais de cinco anos.

Falta de financiamento para equipamentos em prestadores de serviços e na indústria

Tratam-se de atividades muito exigentes em equipamentos, normalmente muito caros, quer na produção de campo, quer no entreposto. Deste modo, os apoios públicos têm de ser de acesso prioritário pois são essenciais para manter a competitividade da produção nacional face à forte concorrência de outros países, como é o caso de Espanha, onde os produtores têm menores custos de produção.

Agricultura entre a sustentabilidade e a inovação: desafios e oportunidades no setor “agrifood”

O setor agrícola enfrenta uma encruzilhada, pressionado por exigências de sustentabilidade, inovações tecnológicas e uma crescente volatilidade nos mercados globais. Para João Pereira, gerente da Inspire Farms, a resposta passa pela adaptação a novas culturas, digitalização e economia circular, com foco em práticas agrícolas resilientes e sustentáveis. No entanto, as dificuldades sentidas por pequenos produtores, desde a escassez de água até à falta de mão-de-obra, levantam questões sobre como o setor pode garantir a sua competitividade e viabilidade no futuro.

A sustentabilidade está no centro das preocupações da agricultura moderna. “O European Green Deal e a crescente consciência ambiental dos consumidores pressionam a agricultura a reduzir a pegada de carbono”, salientou João Pereira, gerente da Inspire Farms e sócio da Agrotejo. O setor precisa de alinhar-se com o objetivo de neutralidade carbónica, que impõe

transformações nas cadeias de abastecimento e na produção. As alterações climáticas agravam a situação, com destaque para a escassez de recursos hídricos, que “representa o principal desafio para a agricultura”. O mesmo responsável destacou a necessidade de “reter a água disponível ou procurar outras fontes, como a dessalinização”, além da “adaptação a novas culturas

mais resilientes às mudanças climáticas”. A aposta em práticas agrícolas inovadoras será crucial para minimizar os riscos.

DESPERDÍCIO ALIMENTAR E ECONOMIA CIRCULAR

A União Europeia propôs uma meta ambiciosa: reduzir o desperdício alimentar para metade até 2030. Este objetivo abran-

ge todas as fases, desde a produção ao consumo, e exige inovações em embalamento, distribuição, e até nos hábitos alimentares. “A transformação do setor ‘agrifood’ para uma economia circular é inevitável”, comentou João Pereira, referindo-se à necessidade de “promover materiais biodegradáveis e reduzir o uso de plásticos”.

DIGITALIZAÇÃO E INOVAÇÃO

A digitalização é outra tendência que impacta diretamente o agronegócio. “A agricultura de precisão está a aumentar a produtividade e a reduzir os impactos ambientais”, afirmou, mas reconhece que “os pequenos produtores enfrentam dificuldades em adotar estas tecnologias”. A transparência nas cadeias de abastecimento e o uso de certificações tecnológicas para rastrear os alimentos desde a origem ao consumidor final são tendências em crescimento.

MUDANÇAS NOS HÁBITOS ALIMENTARES

O aumento da procura por alimentos saudáveis, como os produtos biológicos, traz novos desafios ao setor. “Os consumidores estão cada vez mais exigentes, procurando alimentos que promovam a saúde e que sejam produzidos de forma sustentável”, observou João Pereira. Este aumento na procura por proteínas alternativas e produtos biológicos coloca uma pressão adicional na viabilidade económica das produções, especialmente para os pequenos agricultores.

DISPUTAS COMERCIAIS E INSTABILIDADE GLOBAL

“A guerra na Ucrânia, o Brexit, e a pandemia de COVID-19 provocaram disrupções na cadeia de abastecimento europeia, afetando sobretudo a importação de cereais e fertilizantes”, referiu João Pereira, acrescentando que as barreiras comerciais são outro fator de risco. Para o gerente da Inspire Farms, “a diversificação de mercados e produtos será essencial para mitigar os impactos destas crises e garantir a estabilidade do setor”.

ESCASSEZ DE MÃO-DE-OBRA

Outro desafio mencionado é a escassez de mão-de-obra agrícola. “A força de trabalho na Europa está a envelhecer, e os jovens não se interessam pela agricultura”,

alertou. A necessidade de trabalhadores sazonais estrangeiros já é uma realidade, mas “a falta de trabalhadores continua a ser um problema crescente”. Como solução, João Pereira sugeriu “investir na automação e mecanização, embora reconheça que os custos representam um obstáculo para os pequenos produtores”.

AUMENTO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO

Os custos energéticos em ascensão também são uma preocupação. “Os aumentos nos preços da energia, nomeadamente combustíveis e eletricidade, pressionam o setor agrícola”, afirmou o gerente da Inspire Farms, destacando a importância de encontrar fontes de energia alternativas. No entanto, ele sublinha que “estes investimentos são elevados e podem ser difíceis de suportar para os pequenos agricultores”.

POLÍTICAS E PRESSÕES REGULATÓRIAS

“As metas ambientais da União Europeia são desafiantes”, disse, referindo-se à redução de 50% no uso de pesticidas e de 20% nos fertilizantes. João Pereira advertiu que “a pressa em adaptar-se a estas mudanças pode ter consequências negativas”, e cita o exemplo de outros setores, como as produções automóvel e energética, em que a transição rápida está a gerar dificuldades.

PRESSÃO ECONÓMICA

E VOLATILIDADE

DOS MERCADOS

A instabilidade dos mercados globais, causada por conflitos e crises económicas, agrava os problemas do setor. João Pereira observou que “a volatilidade nos preços dos produtos agrícolas, aliada ao aumento dos custos de produção, torna difícil para os produtores fixar preços e garantir a sustentabilidade das suas operações”.

OPORTUNIDADES NO SEGMENTO DE “SUPERFOODS”

Apesar dos desafios, João Pereira vê oportunidades em novas culturas emergentes, como as chamadas “superfoods”. “Os goji berries, por exemplo, são uma excelente oportunidade para os produtores que souberem posicionar-se neste mercado em crescimento”, disse. O nosso interlo-

O FUTURO DO ‘AGRIFOOD’ DEPENDE DA CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS REALIDADES CLIMÁTICAS, ECONÓMICAS E SOCIAIS.

cutor destacou os benefícios nutricionais dos goji, que são ricos em antioxidantes e vitaminas, e o seu potencial de comercialização em várias formas – frescos, secos, suplementos, ou em bebidas. “Embora a maioria da produção venha da China, estamos a começar a ver explorações na Espanha, Portugal, e Bulgária, o que pode fazer a diferença, dado que os consumidores europeus preferem produtos locais e sustentáveis.”

O mesmo responsável também mencionou a aposta da Inspire Farms em goji no Sudoeste Alentejano. “Escolhemos esta cultura devido à sua adaptação às condições edafoclimáticas e à baixa necessidade hídrica”, explicou, sublinhando a importância de diversificar a produção em resposta às mudanças climáticas. Além dos goji, a empresa também investiu em medronheiros, “uma cultura autóctone com grande potencial, tanto no mercado de bebidas destiladas como em outros produtos de alta qualidade”.

João Pereira concluiu que “o futuro do ‘agrifood’ depende da capacidade de adaptação às novas realidades climáticas, económicas e sociais”. O setor precisa de se reinventar constantemente, e “a capacidade de inovar e reagir rapidamente será essencial para garantir a competitividade”. O maior desafio será para os pequenos produtores, que terão de encontrar “soluções disruptivas para se manterem à frente, sabendo que algumas ideias falharão, mas o importante é falhar pouco e corrigir depressa”.

João Pereira
GERENTE DA INSPIRE FARMS

Reservas estratégicas alimentares e balança comercial agroalimentar

O setor agroalimentar nacional tem enfrentado, com resiliência e inovação, os desafios globais dos últimos anos, desde a pandemia de COVID-19 até às atuais crises geopolíticas. As empresas adaptaram processos e mantiveram a economia alimentar em funcionamento, apesar das disrupções nas cadeias de abastecimento e das pressões inflacionistas. O futuro, no entanto, exige uma estratégia nacional robusta, focada na criação de reservas estratégicas alimentares, no investimento em capacidade de armazenamento e na digitalização para garantir a segurança do abastecimento e o equilíbrio da balança comercial agroalimentar.

Os últimos anos têm sido ricos em acontecimentos profundamente disruptivos. Em 2019 o planeta viu-se a braços com uma crise sem precedentes e com a humanidade a viver assolada com uma pandemia – COVID-19 –, que afetou a economia global e levou a mudanças nos hábitos de vida e de consumo.

Mergulhadas neste contexto de excecionalidade, as empresas do setor agroalimentar deram uma resposta exemplar e merecedora de um profundo reconhecimento. Adaptaram as suas rotinas, os seus processos produtivos e logísticos, e viram os seus trabalhadores assumir um verdadeiro espírito de missão.

Com a crise de saúde pública a desvanecer-se, e com a sociedade a erguer-se, iniciaram-se conflitos que estão a alterar a configuração geopolítica, primeiro no leste da Europa, mais tarde no Médio Oriente.

Se dúvidas houvesse, mais uma vez, as empresas do setor agroalimentar têm afirmado o seu papel insubstituível na di-

namização da economia nacional e na garantia do abastecimento alimentar.

Olhando para a frente, o setor agroalimentar nacional está ciente do não abrandamento da turbulência, de cadeias de abastecimento estranguladas, de tendência inflacionista ainda persistente, de constrangimentos energéticos e da continuação (e eventual alastramento) de tensões geopolíticas. De igual modo, está consciente que tem de continuar a assegurar desempenhos de excelência no que respeita à segurança dos alimentos, manter a aposta na inovação permanente ao nível da qualidade nutricional e reforçar os compromissos assumidos na transição para uma economia mais sustentável. Isto, sem esquecer a sua capacidade produtiva e a viabilidade económica. É neste cenário que Portugal necessita de uma estratégia nacional para criar e, sobretudo, gerir bem as reservas estratégicas alimentares, as quais são fundamentais para garantir, não apenas, a segurança do abastecimento, mas também proteger a economia de oscilações nos mercados internacionais, ao mesmo tempo que se caminha para o aproveitamento do potencial produtivo nacional e trabalha para alcançar o equilíbrio da balança comercial agroalimentar.

Para este equilíbrio e para esta construção de reservas estratégicas, devemos colocar “em cima da mesa” soluções de incentivos ao investimento em capacidade de armazenamento e à produção de matérias-primas nacionais. Isto é, devem ser adotadas medidas estratégicas de longo prazo que permitam a criação de stocks nacionais de segurança de matérias-primas para alimentação humana e animal. A digitalização é outra ferramenta que deve ser colocada “em cima da mesa”. Só assim podemos melhorar a gestão dos stocks, obter maior previsibilidade na produção e distribuição, e uma maior capacidade de resposta a crises

A indústria portuguesa agroalimentar está comprometida com um abastecimento alimentar seguro, de elevada qualidade e assente numa produção sustentável. No entanto, o compromisso da garantia de abastecimento passa por toda a cadeia de valor e por, definitivamente, o setor agroalimentar estar no topo das prioridades políticas.

InovMilho promove dia de campo e inaugura

Albergues

O Dia de Campo do InovMilho – Centro Nacional de Competências das Culturas do Milho e Sorgo foi uma oportunidade para debater temas relacionados com a cultura do milho e conhecer os campos de ensaio que ao longo da última campanha testaram várias técnicas e tecnologias que permitem tornar a cultura do milho mais sustentável ao nível ambiental e económico. Neste dia, com a presença de mais de 300 participantes, foram também inaugurados os Albergues de apoio a estudantes, professores e investigadores, que pretendam desenvolver atividades no Centro Nacional de Competências das Culturas do Milho e Sorgo. Estas novas instalações são mais um passo na Estratégia de desenvolvimento da fileira do milho, permitindo uma maior proximidade entre a produção e a investigação.

Agrotejo alerta entidades oficiais para o acréscimo significativo da insegurança nas explorações agrícolas

Na sequência do acréscimo de furtos nas explorações agrícolas no Norte do Vale do Tejo, nomeadamente produtos agrícolas, cobre e outros metais, a Agrotejo alertou várias entidades oficiais para a necessidade de, em conjunto, serem desenvolvidos esforços que minimizem os prejuízos envolvidos. Na maioria dos casos os prejuízos causados resultam, não só dos estragos e necessidade de substituição dos equipamentos furtados, mas principalmente da impossibilidade de continuar o normal acompanhamento das culturas, que em muitos casos se traduz na diminuição das produções efetivas.

Agrotejo e Agromais estabelecem protocolo com IPMA e partilham dados meteorológicos para todo o Ribatejo

Os eventos associados a condições meteorológicas adversas estão frequentemente relacionados a danos humanos e materiais. Entre estes eventos estão, por exemplo, cheias/

inundações, incêndios florestais, tempestades e ventos fortes, ondas de calor, entre outros. Perante isto, importa gerir os diferentes riscos associados a estes eventos e

minimizar as consequências da sua ocorrência. Para conceber um sistema de prevenção que responda a este tipo de eventos é necessário obter, em tempo real, a maior quantidade de informação relativa aos diferentes parâmetros meteorológicos. Assim, considerando que a Agrotejo – União Agrícola do Norte do vale do Tejo tem por missão a promoção do desenvolvimento agrícola e regional, o apoio técnico aos agricultores, assim como contribuir para a definição da política regional nos domínios do ambiente, do ordenamento do território e o IPMA tem por missão a prossecução das políticas nacionais nos domínios da meteorologia, da climatologia e da geofísica, estas entidades estabeleceram um protocolo de colaboração e partilha de informação com objetivo de aumentar a disponibilidade e a densidade de informação meteorológica nesta região.

Festival da Biosfera do Paul do Boquilobo

regressou a Torres Novas e Golegã

Este Festival, cuja segunda edição decorreu em maio de 2024, pretendeu alicerçar, promover e dignificar as singularidades do território, enfatizando a sua riqueza e potencial, integrando diversas iniciativas. A iniciativa surgiu em plena Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo, a primeira reconhecida pela UNESCO em Portugal, zona alagada protegida e que preserva um dos mais importantes polos de nidificação de avifauna aquática da Europa. Do programa fizeram parte diversas iniciativas, nomeadamente exposições de fotografia, passeio de e-bike, oficinas criativas, degustação de produtos, passeios interpretativos e ainda atuações musicais. Também a Associação de Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Norte (ADIRN) promoveu, no âmbito do Festival da Biosfera da Reserva Natural do Paul do Boquilobo e do projeto de cooperação interterritorial “TEJO VIVO”, uma ação de promoção e dinamização territorial.

Agrotejo e AHSA assinam protocolo de colaboração

O objetivo é estabelecer uma parceria entre as duas organizações no âmbito da assistência técnico-burocrática, enquadramento legislativo, apoio na elaboração de candidaturas e outras obrigações legais inerentes às explorações agrícolas dos agricultores. A Agrotejo tem como principal zona de intervenção o Norte do Vale do Tejo e a AHSA – Associação de Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur atua no perímetro de rega do Mira no Alentejo. Apesar de desenvolverem a sua atividade em zonas distintas do país, é convicção das duas entidades que este protocolo pode e deverá ser o primeiro passo de projetos conjuntos na defesa dos seus associados.

Mais de 300 caloiros voltaram à Agromais para apanhar 4 toneladas de batata no âmbito do projeto Restolho

O Projeto Restolho enquadra-se na estratégia de uma agricultura sustentável que visa conciliar a atividade agrícola com a biodiversidade e a sustentabilidade dos recursos existentes, integrado no objetivo de promover o combate ao desperdício alimentar. Assim, o Dia Solidário da Católica Lisbon, que tem como objetivo integrar os

novos alunos no ambiente académico, envolvendo-os e partilhando os valores fundamentais que estão na base da cultura da universidade, aderiu uma vez mais ao Projeto Restolho. Criado sob o mote “uma segunda colheita para que nada se perca”, lançado no ano 2013, pela Agromais e a Agrotejo, em parceria com a Federação Portuguesa dos Bancos

Alimentares Contra a Fome (FPBACF) e a EntrAjuda, o Projeto Restolho tenta fazer a ponte entre os produtos hortícolas que ficam nos campos e os Bancos Alimentares da região onde se inserem estas organizações de produtores. Como objetivo para além da distribuição de alimentos a famílias carenciadas pretende-se assim, ver reduzido o desperdício alimentar na atividade agrícola. Desde o seu início este projeto já recebeu mais de 5.000 voluntários, entre empresas, escolas, universidades e colheu cerca de 150 toneladas de produtos hortícolas nomeadamente, abóbora, alho, cebola, couves, batata, fava, melão, tomate entre outros, que por serem perecíveis, não são habitualmente doados nas campanhas de recolha apesar da sua importância na alimentação. Estimase que Portugal perde anualmente cerca de um milhão de toneladas de alimentos produzidos para consumo humano.

Agricultura de Precisão

O livro explica conceitos e tecnologias da Agricultura de Precisão. Há informações sobre como monitorar diferentes tipos de solo, topografia, tipo de lavoura e outras variantes utilizando dados de satélites e sensores embarcados, e também como reunir essas informações e criar mapas de produtividade.

Água em Portugal

Este ensaio analisa a gestão dos recursos hídricos em Portugal Continental. Apesar de a disponibilidade per capita ser confortável, a irregularidade temporal e a assimetria espacial provocam situações de escassez. É urgente identificar as políticas públicas mais adequadas, porque a discussão sobre a gestão da água determina o modelo económico que pretendemos para Portugal.

Desconfinar a agricultura

CARLOS NEVES

As várias crónicas foram escritas ao longo de dois anos acompanhando o ciclo de cultivo da terra, da sementeira da erva no outono à colheita de feno na primavera, seguida da sementeira do milho, das regas e da sua colheita como silagem para alimentar as vacas leiteiras ou como milho grão para as rações. Leia o QR Code com o seu dispositivo móvel e aceda aos diferentes vídeos.

Modelo de indicadores para monitoramento de inovações tecnológicas na agricultura de precisão WANDERSON DE VASCONCELOS

Este livro aborda a Agricultura de Precisão, um conjunto de práticas inovadoras para melhorar a eficiência no uso de insumos agrícolas e aumentar a rentabilidade da produção. O modelo de indicadores proposto permite monitorar as inovações tecnológicas ocorridas na Agricultura de Precisão a partir dos critérios: evolução, tendência e impacto.

REVISTA AGROTEJO

Consulte as edições digitais da Revista Agrotejo e boas leituras!

Sustentabilidade dos Olivais em Portugal – Desafios e respostas

FRANCISCO CAMPELLO

No âmbito da comemoração dos 150 anos do nascimento de Alfredo da Silva, a AGROGES foi desafiada pela Fundação Amélia de Mello a elaborar a presente publicação.

A análise baseou-se na informação técnica e nas estatísticas disponíveis sobre o olival moderno, de forma a procurar identificar os verdadeiros impactos que a cultura tem nas dimensões económica, ambiental e social da sustentabilidade no nosso país, que é neste momento, no mundo, o sétimo maior país produtor de azeite (o quarto maior na União Europeia), o quarto maior país exportador de azeite, e o nono país em termos de área total de olival.

ALMONDA - UM RIO COM VIDA

Este trabalho visa promover um melhor conhecimento dos valores naturais do rio Almonda, nomeadamente junto da comunidade escolar dos ritmos das alterações sazonais, das suas paisagens e da biodiversidade que o caracteriza, proporcionando uma viagem pedagógica ao longo do rio, desde a nascente até à foz.

FIELDAIRTECH QUANTIFARM

A FieldAirTech é a primeira empresa portuguesa a possuir para venda de veículos de aplicação de produtos líquidos e transporte de carga completamente autónomo.

A Quantifarm apresenta uma Estrutura de Avaliação abrangente para avaliações qualitativas e quantitativas e benefícios das soluções de tecnologia agrícola digital.

RESERVAS DA BIOSFERA PORTUGAL

No Paul do Boquilobo entre pântanos e salgueirais, existem miradouros de onde se observam as aves que por ali habitam, há coudelarias e cavalos lusitanos, há caminhantes de Santiago de Compostela cruzando a reserva. Situada entre o Alentejo e o centro, na zona de transição entre a Lezíria do Tejo e o Médio Tejo, a Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo foi, em 1981, a primeira reserva portuguesa classificada pela UNESCO. Neste episódio do programa Reservas da Biosfera Portugal, é mostrado a grande diversidade de fauna e flora características desta zona húmidaconstitui mesmo o maior ecossistema de água doce do país, estando identificadas 317 espécies de plantas e 288 espécies de animais. Destaque para as aves, em especial as garças, que, por terem na área da reserva seus locais de invernada, nidificação ou acasalamento, foram o principal motivo para a criação desta área protegida.

Os agricultores europeus, a PAC e os Fundos de Investimento

Ultimamente grandes áreas agrícolas do nosso país foram compradas e/ou arrendadas por fundos de investimento, na sua maioria estrangeiros e na quase totalidade fundos fechados.

Estas operações financeiras tiveram início na década passada, e começaram por se realizar maioritariamente na zona do chamado EFMA (Alqueva), com aquisições massivas de terra, numa primeira fase, e numa segunda fase, também com aquisições de grande expressão, e com a realização de arrendamentos que envolveram áreas consideráveis.

Com o tempo, este tipo de investimentos evoluiu para zonas mais a norte, como a Cova da Beira e o Ribatejo, sempre com uma matriz: terras de regadio.

Segundo informações recentes, este conjunto de áreas detidas e/ou arrendadas por esses Fundos de Investimento em Portugal já ultrapassou os 100.000 hectares. Trata-se, por isso mesmo, de uma enorme alteração da estrutura fundiária de certas zonas rurais do nosso país. É uma espécie de recuperação da Baixa de Lisboa ou do Porto: redimensionar e alterar o negócio.

pub

A lógica do investimento é introduzirem-se novas técnicas e novas tecnologias em terras irrigadas, com boa capacidade produtiva, localizadas em zonas de clima ameno. Na verdade, o que é pretendido é assegurar as melhores condições de produção para sustentar novos agronegócios que, por razões de variadíssima ordem, tiveram que ser deslocalizados. Também nesse aspeto Portugal tem uma grande vantagem comparativa que muitas vezes não é sublinhada, a sua situação geográfica invejável, mesmo entre o conjunto dos países do Primeiro Mundo.

Mas voltemos ao impacto destes investimentos no mundo rural. A procura sistemática deste negócio fundiário fez com que a valorização anual das terras tenha vindo a ser da ordem dos dois dígitos, quer para compra, quer para arrendamento, o que cria a tal semelhança que caricaturei atrás, com a situação da falta de casas nos centros das cidades: há casas, mas não são para os habitantes tradicionais. Não é que eu ache que vamos ter manifestações de agricultores portugueses a pedirem terra para comprar ou para arrendar, à semelhança das manifestações dos jovens urbanos das grandes cidades. O que acho é que as zonas com áreas compradas/arrendadas pelos Fundos de Investimento vão ter uma “vida rural” diferente das restantes.

Vai haver um puzzle agro-rural bastante diverso! As implicações vão ser muitas e de vária ordem.

Espero em 2025 poder completar este meu raciocínio escrevendo um novo artigo sobre esta questão na próxima Revista da Agrotejo.

MINISTRO DA AGRICULTURA E PESCAS, JOSÉ MANUEL FERNANDES

“Estamos a fazer um esforço como nunca foi feito para o aumento do rendimento dos agricultores”

O ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, destaca a relevância da agricultura para economia, para o ambiente e coesão territorial. Assegura que quer tornar a atividade mais competitiva e rentável e para isso está a trabalhar no aumento do rendimento dos agricultores. Entre outras medidas que fortalecerão o setor estão a garantia de pagamentos, a definição de uma estratégia para o regadio e a simplificação de processos.

FOTOS

Como caracteriza o setor agrícola nacional?

TEMOS UMA COMPONENTE ESTRUTURANTE E DE FUTURO, QUE NOS DARÁ UMA MAIOR COMPETITIVIDADE E PRODUTIVIDADE, QUE É O PROJETO ÁGUA QUE UNE.

Os pontos fortes são a qualidade e a diversificação dos nossos produtos. Por exemplo, somos muito competitivos no azeite e no vinho – onde temos uma balança comercial positiva de 720 milhões de euros. O território nacional tem uma grande heterogeneidade e essa é também uma mais-valia. Ao contrário do que por vezes é percecionado, temos uma agricultura cada vez mais mecanizada e de precisão. Além disso, temos uma componente estruturante e de futuro, que nos dará uma maior competitividade e produtividade, que é o projeto Água que Une. Esta estratégia nacional vai permitir que tenhamos mais armazenamento e maior capacidade de distribuição eficiente de água através de uma rede interligada que vai ajudar não só os investimentos que estão feitos como também novos investimentos.

Mas existem também pontos fracos… Sim. Por exemplo, a fragmentação de propriedades – devíamos ter mais incentivos e menos burocracia no objetivo que é o emparcelamento. Isto condiciona, naturalmen-

te, a produtividade. Além disso, os custos de contexto como o combustível, a energia, os impostos, são limitativos. Agricultura não é só economia. Agricultura é também turismo, investigação e inovação, património, indústria de transformação, cultura, coesão territorial. Todos estes elementos implicam que haja investimentos de outros fundos para apoiar a agricultura. Além da ameaça das alterações climáticas, temos ainda problemas demográficos e de falta de mão-de-obra, que condicionam o setor. Temos de conseguir atrair mais pessoas, dar-lhes condições, habitação digna, formação e integrá-las em programas de inserção. Há ainda o desafio de integrarmos a União Europeia. Sou um defensor de uma União Europeia aberta, mas não ingénua. Não faz sentido exigirmos aos nossos produtores que adotem normas ambientais e não usem determinados fertilizantes, quando depois importamos alimentos que são produzidos com esses mesmos fitofármacos.

O Programa Nacional de Regadios foi uma iniciativa do anterior Governo que pretendia criar mais de 90 mil hectares

Sara Pelicano
Jorge Oliveira

ANTETÍTULO

“ O OBJETIVO É TERMOS UMA AGRICULTURA

MODERNA, DIGITALIZADA, MAIS SUSTENTÁVEL

E AMIGA DO AMBIENTE

E ACIMA DE TUDO

MAIS COMPETITIVA

E PRODUTIVA.”

“ HÁ AGORA UMA DIMENSÃO MAIS LARGA DAQUILO
QUE ERA A RESPONSABILIDADE DE UM DIRETOR REGIONAL.

de regadio até 2022, com um investimento de 534 milhões de euros. O que foi executado deste plano? Haverá ajustes ou alterações?

Estamos muito longe de executar este investimento. O Governo tinha até 31 de agosto de 2023, 8.300 milhões de euros na vertente dos empréstimos no âmbito do PRR, que poderia sinalizar como necessários à sua utilização, por exemplo, na restruturação do sistema de água (e não precisava de todo este montante). Como referi no início, o objetivo é termos uma rede interligada de água, onde a possamos armazenar e distribuir de forma eficiente. No que toca às inundações, é importante que essa água seja canalizada para onde é necessária, preve-

nindo simultaneamente as zonas mais vulneráveis a cheias.

Já referiu o grupo de trabalho Água que Une. Do que se trata?

O plano Água que Une é verdadeiramente estruturante. Houve promessas que não foram cumpridas, desde logo empréstimos perdidos no valor de 200 milhões de euros, por incumprimento do Estado português. Estamos longe das metas, no entanto, estamos a acelerar investimentos e a diminuir burocracias. O Água que Une vai ter um montante enorme, não só para salvaguardar os investimentos já feitos pelos agricultores, como também para atrair novos investimentos, o que reforçará a nossa competitividade, produtividade e coesão territorial.

O Projeto Tejo será integrado neste plano Água que Une?

O estudo do Projeto Tejo está a ser desenvolvido por um consórcio disciplinar para uma área de intervenção enorme em termos de hectares. Assim que estiver concluído será igualmente incluído na iniciativa Água que Une.

Como encontrou o ministério da agricultura? Que alteração estrutural pretende fazer na sua organização?

O Ministério da Agricultura estava incompreensivelmente desmantelado. Não consigo perceber qual foi o objetivo desse desmantelamento porque prejudica a economia nacional, torna-nos menos competitivos e mais dependentes do exterior. Um dos nossos objetivos passa por reduzir o défice agroalimentar, que está em mais de 5.500 milhões de euros e que tem aumentado nos últimos anos de forma exponencial. Em termos estruturais já iniciámos várias alterações. A reconstrução está em curso. Por exemplo, as florestas e o bem-estar animal vieram para o Ministério da Agricultura. Já está resolvida a questão das Direções Regionais de Agricultura e Pescas – haverá um Decreto-lei, no fundo, um upgrade em relação ao que havia. Haverá um vice-presidente para a Agricultura, proposto pelo ministro da Agricultura e aprovado em Conselho de Ministros. Além disso, o Ministério da Agricultura ficará responsável pelos contratos-programa com as CCDR, em conjunto com o Ministro da Coesão. Esta é também a visão de que a agricultura tem horizon-

talidade e transversalidade. É uma mudança estrutural muito forte. Além de termos a recuperação de uma linha de comando que se tinha perdido, há um reconhecimento, uma valorização e um novo papel que nunca existiu para a agricultura em termos da utilização de fundos e programas operacionais regionais, com montantes muito consideráveis.

Haverá assim uma recuperação das Direções Regionais de Agricultura e Pescas…

É mais do que uma recuperação. Passamos a ter a estrutura anterior, mas com um upgrade. Há agora uma dimensão mais larga daquilo que era a responsabilidade de um diretor regional – que agora é um vice-presidente da Comissão e que tem como área exclusiva a agricultura, mas que participa também na gestão dos outros fundos.

Fica com poderes reforçados…

Fica com poderes muito reforçados em relação áquilo que existia antes, que era de Diretor Regional. Ou seja, é como se o Diretor Regional que existia, passasse a estar também na decisão daquilo que são as estratégias e execução dos programas regionais e a estar sentado no conselho e no órgão de decisão regional.

E quando estará em funcionamento este novo modelo?

Estou convencido que entre outubro e novembro de 2024 isso estará definido. Aliás, estão já a circular dois diplomas com estas alterações.

As florestas, que estavam na alçada do Ministério do Ambiente, regressaram à tutela da Agricultura. Que ganhos haverá com este regresso e qual a estrutura organizacional com a sua integração no setor agrícola?

Há, desde logo, sinergias. Muita gente não tem a perceção do que é o território. Falando nos mais recentes incêndios, que são sempre um enorme desassossego e que muitas vezes, infelizmente, terminam em tragédia, só não foram mais graves devido à presença do agricultor no território. Tivemos casos em que as vinhas funcionaram como “tampão”, o que evitou a propagação do fogo. São necessárias práticas e sinergias que beneficiem quer as agroflorestas, quer a silvicultura. A experiência do Ministério

da Agricultura pode ser aplicada à gestão florestal e à valorização dos produtos florestais. Depois, haverá nestas sinergias, uma melhor gestão de recursos. Nós vemos a floresta numa dimensão económica, porque sem ela não teremos uma dimensão social e ambiental. A valorização económica é essencial neste domínio e por isso, até ao final do ano, vamos apresentar um pacto para a floresta. Os agricultores são os melhores amigos do ambiente. A agricultura sustentável, que predomina em Portugal, deve ser acarinhada, promovida e apoiada. O Ministério do Ambiente não pode estar de costas voltadas, tem é de estar de mãos dadas com a agricultura, precisamente porque têm objetivos comuns. Ambos os Ministérios têm visões que se complementam e por isso têm de se entreajudar. O Ministério da Agricultura e o Ministério do Ambiente estão a cooperar fortemente na construção do desenvolvimento e da qualidade de vida dos portugueses.

Os últimos anos ficaram marcados por sucessivos atrasos nos apoios financeiros concedidos aos agricultores, levando à asfixia de muitas explorações e famílias.

“ O MINISTÉRIO DA AGRICULTURA ESTAVA INCOMPREENSIVELMENTE DESMANTELADO.
A AGRICULTURA TEM

HORIZONTALIDADE E TRANSVERSALIDADE.

Está em posição de garantir que não irá haver atrasos nos apoios financeiros durante o seu ministério?

No que me disser respeito, não haverá atrasos. O nosso objetivo, por exemplo, na reprogramação da PAC, é aumentar os rendimentos dos agricultores. Os agricultores ganham menos de 40% da média das outras profissões. E não adianta falar de investimento se não houver rendimento e se as pessoas abandonarem o setor. Esta é a nossa grande preocupação. Além disso, é necessária uma renovação geracional do setor agrícola. Mais uma vez, sem rendi -

mentos, não haverá renovação geracional. Daremos um apoio de 50 mil euros aos jovens agricultores que estiverem em exclusividade. Este apoio aumenta para 55 mil euros se forem em zonas desfavorecidas. Temos prioridades claríssimas associadas à previsibilidade e estabilidade, que são absolutamente essenciais para o investimento e para a confiança. O Orçamento do Estado fará esforços como nunca fez para apoiar os agricultores. Além dos 58 milhões de euros previstos para reforçar o orçamento destinado aos agricultores no âmbito do PEPAC, adicionámos 60 milhões de euros por ano até 2029. De facto, estamos a fazer um esforço como nunca foi feito para o aumento do rendimento dos agricultores. Esperemos que haja absorção dos recursos que temos neste momento, no âmbito do PEPAC até 2029. Seria muito positivo que se utilizasse todo o montante até para reforçar o apoio. Além disso, queremos utilizar recursos da política de coesão. O Fundo Ambiental tem obrigação de ajudar a Política Agrícola Comum, os agricultores, o território. Nunca tinha ajudado. Felizmente, temos uma Ministra do Ambiente com sensibilidade para a importância da agricultura no que diz respeito à sua dimensão na sustentabilidade do território. Vamos ter um programa financiado pelo Fundo Ambiental de 30 milhões de euros por ano para os baldios da pastorícia extensiva com o objetivo de diminuir, por exemplo, o material combustível. Vamos também reorientar as verbas do PRR para aumentar a capacidade de proteger as florestas. O rendimento por hectare passará dos 81 euros previstos para 126 euros.

Que mecanismos podem ser implementados para evitar os atrasos na execução das verbas dos diferentes apoios?

Em primeiro lugar são precisos recursos suficientes. E depois é preciso que não haja falhas informáticas como tantas vezes existiram. É importante que cada um faça a sua parte. Felizmente, temos tido técnicos no Pedido Único que têm feito um trabalho brutal no carregamento dos dados para este objetivo. Estamos a trabalhar num programa de inteligência artificial para que esse carregamento seja mais fácil. Estou absolutamente convencido de que os prazos vão ser respeitados e que os agricultores terão, a tempo, os apoios que bem merecem e que serão reforçados.

ESTOU

ABSOLUTAMENTE

CONVENCIDO DE QUE

OS PRAZOS VÃO SER

RESPEITADOS E QUE

OS AGRICULTORES

TERÃO, A TEMPO,

OS APOIOS QUE BEM

MERECEM E QUE SERÃO REFORÇADOS

O Governo vai rever o Acordo de Parceria do Portugal 2030. Quais as alterações pretendidas e em que áreas?

Queremos flexibilidade. Consideramos que é justo e correto que empresas, indústrias de transformação do setor agroalimentar e cooperativas possam aceder ao PT2030. Daí a revisão, para que não haja hiatos. Por exemplo, o PEPAC financiava até aos dois milhões de euros uma indústria agroalimentar. O PT2030, acima dos quatro milhões. Entre os dois e os quatro havia um hiato. Assim, passa a haver uma maior flexibilidade das empresas e indústrias aos programas da política de coesão.

As Organizações de Produtores são estruturas fundamentais na competitividade do setor agrícola. Estão previstas alterações que garantam maior capacitação e novas funções reforçando a competitividade e desburocratização?

O objetivo é dar mais força e os recursos que forem necessários a estas organizações. As Organizações de Produtores são essenciais

para a escala, a dimensão, a promoção de sinergias. Mas não podemos obrigar a criação de novas organizações. Não há comércio sem produção. Claro que é importante um bom diálogo na cadeia de valor. E nessa cadeia de valor, o agricultor não pode ser o perdedor.

Qual a estratégia do Governo para acelerar a introdução de novas tecnologias no setor agrícola?

É absolutamente essencial dotar todo o território nacional de internet e banda larga. Também a questão da formação é muito importante. A ideia de que não temos uma agricultura moderna está ultrapassada. Temos de mostrar aos jovens que temos uma agricultura moderna, e, para isso, vamos valorizar as escolas profissionais agrícolas, que neste domínio têm uma ação muito importante. A utilização do maior número de dados e informação, quer sejam de satélites ou do próprio IPMA, também é fundamental. O objetivo é termos uma agricultura moderna, digitalizada, mais sustentável e amiga do ambiente e acima de tudo mais competitiva e produtiva.

Ministro da Agricultura visitou Agrotejo e Agromais

Regadio, rejuvenescimento do setor e necessidade de projetos de investimento marcaram a visita à Agromais e Agrotejo.

O ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, visitou, em outubro, o Norte do Vale do Tejo a convite da Agromais e da Agrotejo – União Agrícola do Norte do Vale do Tejo. José Manuel Fernandes teve a oportunidade de visitar as instalações destas duas organizações e conhecer um pouco melhor a realidade empresarial da região, bem como os principais desafios que assolam o setor.

Os dirigentes da Agromais e da Agrotejo tiveram oportunidade de abordar questões como a falta de mão-de-obra, a urgência em tornar a atividade atrativa aos jovens e o regadio.

Sara Pelicano

Jorge Neves, diretor-geral da Agromais, fez uma apresentação da organização ressaltando as várias áreas de trabalho, a inovação e a problemática da diminuição das áreas de milho que é transversal ao país. De 2013 a 2024 a área nacional semeada com milho caiu 52%. “Este é um problema significativo se tivermos em atenção a grande dependência do país de importação deste cereal que tem origem em países politicamente muito voláteis como são exemplo a Argentina e o Brasil”, disse Jorge Neves.

Após uma passagem pela Agromais Plus, a comitiva seguiu para as instalações da Agrotejo, onde José Manuel Fernandes

teve oportunidade de conhecer o trabalho desenvolvido no apoio direto aos agricultores. As preocupações relativas à reforma do PEPAC, os constrangimentos nos licenciamentos de captações de água e a necessidade de projetos de investimentos com enquadramento para a região foram algumas das preocupações manifestadas. Mário Antunes, diretor da Agrotejo, referiu que “estamos numa região agrícola viva e com estratégia, precisamos de políticas públicas adaptadas à realidade e aos agricultores. Precisamos de um Ministério da Agricultura que apoie o setor, e precisamos de um Ministério do Ambiente, nomeadamente que a Agência Portu-

guesa do Ambiente queira fazer parte da solução e não do problema”.

A visita passou ainda pela Ponte do Cação, onde se alertou para a urgência de ser criado um açude amovível. Projeto que não avança devido a constrangimentos da Agência Portuguesa do Ambiente. Por fim, na Quinta da Melhorada, José Manuel Fernandes teve a oportunidade de conhecer a tecnologia e a inovação que atualmente suportam cada decisão do agricultor. No campo de milho, cortou a fita, dando assim início de forma simbólica, à colheita do cereal. Subiu para a ceifeira e ainda debulhou um pouco de milho. O ministro da Agricultura não fez promessas, mas mostrou interesse em todos os temas, assegurando que iria encaminhá-los para as entidades competentes por forma a serem concretizadas.

Jorge Neves destacou que “esta visita foi importante para dar a conhecer ao Sr. Ministro da Agricultura – e aos altos dirigentes dos Organismos do Ministério da Agricultura com que trabalhamos, que

integraram a comitiva do Sr. Ministro da Agricultura – a realidade da nossa região e das nossas organizações, com particular destaque para a cultura do milho que é tão importante para a nossa realidade”. A comitiva do ministro da Agricultura integrou o diretor-geral do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP), Eduardo Diniz, a vice-pre-

sidente para a Agricultura da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, Rita Barradas, e o presidente do INIAV, Nuno Canada. Estiveram ainda presentes o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, Álvaro Mendonça e Moura, e o presidente da Câmara Municipal da Golegã, António Camilo.

CAP e ASAJA reforçam

cooperação no IV Congresso

Ibérico Agropecuário e Florestal realizado em Cáceres

O IV Congresso Ibérico Agropecuário e Florestal, uma organização conjunta da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e da ASAJA – Associação Espanhola de Jovens Agricultores, juntou as principais personalidades do mundo rural português e espanhol, em Cáceres, Espanha. Mais de 300 agricultores ibéricos afirmaram a importância de Portugal e Espanha, à semelhança do que acontece noutras regiões da Europa como os países nórdicos e do Leste Europeu, estreitarem relações e trabalharem colaborativamente no setor agrícola para definir estratégias conjuntas, conquistando uma voz mais audível em Bruxelas e maior impacto nas políticas comunitárias. Portugueses e espanhóis manifestaram total concordância na urgência em garantir preços justos e melhores condições de investimento em toda a cadeia de valor, em promover o desenvolvimento e inovação no setor e em formar os agricultores para a agricultura do futuro, que se prevê cada vez mais tecnológica. A necessidade de gerir e armazenar de forma mais eficiente a água, as potencialidades da agricultura regenerativa e a oportunidade dos créditos de carbono para a atingir a neutralidade das emissões de dióxido de carbono até 2050 na União Europeia foram igualmente temas de destaque no IV Congresso Ibérico Agropecuário. Neste domínio, CAP e ASAJA concordam com o princípio “poluidor-pagador”, mas reiteram igualmente que o “despoluidor” deve ser recompensado, defendendo o papel preponderante da agricultura enquanto agente de mitigação das alterações climáticas. Ambas as entidades prometem discutir este assunto junto do regulador europeu, destacando que este sistema confere maior resiliência ao meio ambiente perante fenómenos climáticos extremos, maior disponibilidade de água, maior produtividade agrícola e novos fluxos de rendimento aos produtores agrícolas. Os técnicos da Agrotejo estiveram presentes neste fórum, onde tiveram oportunidade de manifestar as preocupações dos agricultores desta região.

Análises de Solo, Água e Folhas

– Agromais Plus pode ajudar

A través de protocolos com laboratórios certificados e homologados, a Agromais Plus apoia os agricultores na recolha, processamento e obtenção de resultados nas análises de solo e água. Além de uma obrigação legal, nomeadamente para todos os agricultores que recorram a ajudas no âmbito do PEPAC, as análises de solo e água são uma ferramenta de elevado valor na planificação e acompanhamento das culturas. Com a análise das características do solo e da água os níveis de produção podem ser incrementados e os custos de exploração otimizados. Por estas razões, além do apoio e interpretação dos resultados, os técnicos da Agromais Plus podem assim realizar um aconselhamento técnico direcionado e personalizado.

pub

Agrotejo apoia agricultores no preenchimento de cadernos de campo obrigatórios no âmbito da PAC

O preenchimento de cadernos de campo com identificação das parcelas, culturas e operações culturais é uma obrigação para todos os agricultores que recorram a ajudas no âmbito PEPAC. Cada vez com maior especificidade e abrangência de informação, este caderno traduz-se numa dificuldade acrescida para os agricultores que muitas vezes não dispõem de ferramentas que permitam a atualização de informação em tempo oportuno de evidenciar, junto das Entidades Controladoras, as práticas culturais e inputs na exploração agrícola. Ciente desta dificuldade, a Agrotejo dispõe de um conjunto de técnicos habilitados a apoiar o agricultor, evitando assim penalizações nas ajudas a receber.

Culturas de cobertura em sistemas de monocultura: pontos para reflexão

BENEFÍCIOS DECORRENTES DA ADOÇÃO DE CULTURAS DE COBERTURA

As culturas de cobertura oferecem diversas vantagens em sistemas de monocultura. Podem ser introduzidas em rotação ou simplesmente, numa sucessão cultural, integradas em períodos de “vazio”, entre as

culturas principais. Nos sistemas do Vale do Tejo, a solução mais comum é a sua integração em sucessão com as culturas principais. A Figura 1 ilustra a situação em 2018, acerca da adoção de culturas de cobertura. A informação foi recolhida através da aplicação de um questionário a chefes de exploração, no âmbito do projeto MaisSolo (Grupo Operacional, PDR2020), concluído em 2021.

Foi nossa conclusão, à data, de que muito trabalho estaria por fazer no sentido de uma evolução positiva, em particular o acerto das melhores opções por espécies e misturas à medida das caraterísticas das parcelas e também o aumento da área agrícola com culturas de cobertura. A este assunto voltaremos mais tarde, para esclarecer acerca da continuidade dos trabalhos do projeto MaisSolo.

Maria do Céu Godinho e Rosa Santos Coelho

Os benefícios de integrar culturas de cobertura em sistemas de monocultura não é um assunto novo. São muitos e de caráter diverso. Em primeiro lugar, salientamos a melhoria da saúde do solo devido ao aumento de matéria orgânica, da capacidade de infiltração e de retenção de água e reciclagem de nutrientes com menores perdas por lixiviação e aumento da sua disponibilização para as plantas, na cultura principal. Outros pontos fortes de grande relevância são a redução de perda de solo por erosão, a supressão de plantas com caráter infestante e a melhoria do combate a pragas e doenças. As coberturas permitem um aumento da biodiversidade no campo e criam um ambiente de supressão de espécies causadoras de doenças e pragas. Há aqui um aumento de resiliência dos sistemas por interação com outras espécies que assumem um caráter funcional. A biodiversidade funcional é a base de alguns serviços prestados pelo ecossistema. Efetivamente, a biodiversidade coloca à disposição do agricultor serviços importantes como polinização e limitação natural de inimigos das culturas (Daryanto et al., 2018). Estes processos permitem reduzir o consumo de fertilizantes e pesticidas. Ainda com destaque particular, refere-se que as culturas de cobertura, ao promoverem a incorporação de matéria orgânica no solo e permitirem aumento de biodiversidade, contribuem para o armazenamento de carbono, pelo que ajudam a mitigar os fenómenos responsáveis pelos problemas que advêm das alterações climáticas. Para uma boa

compreensão destes processos recomenda-se leitura do recente artigo de revisão de Koudahe et. al. (2022). Face a este conjunto de pontos fortes, seria expectável que a opção por integrar espécies e/ou misturas de espécies nos sistemas agrícolas de monocultura, muito frequentes no Vale do Tejo, fosse em maior escala (nº de agricultores e área agrícola) e decorresse num processo mais rápido.

CONSTRANGIMENTOS

NA MAIOR ADESÃO

Surge, então, o convite à reflexão sobre as questões responsáveis pela dificuldade e demora na implementação do processo.

A adoção, ainda limitada, por culturas de cobertura pelos agricultores, apesar dos benefícios reconhecidos, está associada a constrangimentos de diferente caráter. Com efeito, são aspetos económicos, técnicos e “práticos” que impossibilitam o desejável alargamento em número de parcelas e área com instalação de culturas de cobertura. Por um lado, existe a perceção de que os custos adicionais não serão superados por retorno financeiro imediato. Estabelecer culturas de cobertura envolve custos iniciais com sementes, operações necessárias à sementeira e possíveis ajustes em máquinas. Estes custos podem não gerar retorno financeiro imediato, uma vez que os benefícios, como a melhoria da saúde do solo são de médio e longo prazo. Estudos indicam que muitos agricultores evitam essas práticas devido à incerteza sobre o retorno económico

e ao foco em maximizar a produção a curto prazo. Acresce que para parcelas de menor dimensão, o investimento pode comprometer a sua viabilidade produtiva (Carlson & Stockwell, 2013; Roesch-McNally et al., 2018).

Todavia, esta perceção decorre de um outro problema que está relacionado com a falta de conhecimento. Infelizmente, muitos chefes de exploração e proprietários responsáveis pela tomada de decisão desconhecem os benefícios específicos das culturas de cobertura e/ou como introduzi-las de forma útil. A falta de apoio técnico e de programas de formação e ações de demonstração de resultados sobre a gestão mais adequada são obstáculos importantes (Daryanto et al., 2018). Em regiões onde a prática não é comum, os agricultores têm menos exemplos de sucesso para acompanhar, o que limita a sua adoção. Outro aspeto que merece destaque é a perceção da exigência de tempo de trabalho e de gestão adicionais

A adoção de culturas de cobertura requer planeamento extra. A gestão eficaz das culturas de cobertura exige atenção adicional em momentos críticos, como por exemplo a escolha das espécies ou mistura de espécies mais adequadas, o momento certo de sementeira e de incorporação, caso seja esta a opção. Muitas vezes, estes aspetos podem desmotivar os agricultores que, normalmente, já enfrentam desafios com prazos apertados. O custo de oportunidade e concorrência com culturas comercialmente interessantes é também um obstá-

Ocupação do solo em período outono-inverno referente a uma área total de cerca de 2000 ha na região do Ribatejo (inquérito realizado em 2018 no âmbito do Grupo Operacional MaisSolo) figura 1

culo. Efetivamente ocupar a terra com culturas de cobertura, em alternativa a culturas comerciais, é visto, por alguns agricultores, como uma perda de oportunidade de rendimento. Este aspeto acresce de importância em sistemas de monocultura que priorizam a maximização de rendimento, como o milho, tomate, batata, brócolos e outras espécies de elevado valor comercial. Há uma perceção de que, ao dedicar parte da área de cultivo às culturas de cobertura, o agricultor pode estar a sacrificar ganhos financeiros no curto prazo. Voltamos ao fator falta de conhecimento quando os sistemas, por motivos vários, são diferentes até em termos de ciclo cultural. Em parcelas de sequeiro, por exemplo, com cultura principal no inverno, surge a dúvida sobre quais as melhores opções por culturas de cobertura na época de primavera-verão. Os agricultores enfrentam desafios diferentes face às caraterísticas das suas parcelas. O risco de insucesso devido à falta de água ou à competição por outros recursos cria dificuldades aos agricultores. Em alguns casos, a sementeira e gestão de culturas de cobertura requerem o uso de equipamentos agrícolas específicos, o que pode implicar investimentos adicionais. Para muitos agricultores, esse fator é um obstáculo importante (Carlson & Stockwell, 2013; Melkonian et al., 2017).

A necessidade de políticas públicas ajustadas o uso de culturas de cobertura também pode contribuir para uma baixa adesão. Embora existam apoios, muitos agricultores, face a especificidades das parcelas, vêm-se impossibilitados de recorrer às soluções standard . É necessário ajustar as so -

luções às especificidades das parcelas. A ausência de incentivos públicos claros e específicos e sobretudo incentivos de mercado para práticas de conservação do solo reduz o interesse dos produtores em adotar estas técnicas. Estes fatores crescem de importância quando a falta de conhecimento e capacitação não permitem o reconhecimento dos benefícios da sua prática.

O PROJETO SOILIFE1ST: DEMONSTRAR

COM RESULTADOS

Face aos constrangimentos elencados esclarece-se que estes estão a ser ponderados no desenvolvimento dos trabalhos e atividades no âmbito dos projetos SoiLife1st e RedeSusTerra (PRR). Pretende-se capacitar os utilizadores e demostrar os benefícios da adoção das culturas de cobertura num ambiente de laboratório vivo. Estes projetos estão a dar continuidade aos trabalhos iniciados nos projetos MaisSolo e Horticover, já terminados. Os atuais projetos estão a ser conduzidos com a participação de agricultores, com o suporte técnico e as competências necessárias para implementar as culturas de cobertura. As técnicas e práticas utilizadas nos projetos são baseadas em evidências científicas e adaptadas às condições específicas de cada parcela.

A avaliação do impacto envolve a recolha de dados de vários parâmetros que podem traduzir a evolução do estado do solo incluindo análises físico-químicas, atividade biológica, capacidade

de retenção de água e armazenamento de carbono. Além disso, são medidos os impactos nas culturas principais, nomeadamente na cultura do tomate, como produtividade e incidência de plantas infestantes. Os trabalhos são conduzindo por comparação de indicadores de referência com e sem cultura de cobertura (Figura 2).

Até o momento, os resultados dos projetos têm sido muito positivos. Observa-se uma melhoria nos indicadores de biodiversidade como aumento de diversidade e abundância de invertebrados (artrópodes) e do microbioma. Este texto inclui a informação sobre o aumento de diversidade na microfauna do solo baseada num indicador que reflete a Qualidade Biológica do Solo (QBS-ar) (Menta et al., 2018). A título de exemplo ilustra-se a evolução do solo num dos campos de ensaio onde foi aplicado o método QBS-ar.

Observa-se na Figura 3 e Figura 4, respetivamente, o método de amostra-

Parcela sem cultura de cobertura (à esquerda) e parcela com cultura de cobertura (à direita). Golegã 2024
figura 2
Esquema ilustrativo do processo de amostragem e tratamento laboratorial para construção do índice QBS-ar
figura 3
Valores de índice de QBS-ar em campo piloto no Ribatejo em parcela testemunha sem cultura de cobertura (à esquerda) e com cultura de cobertura (à direita).
figura 4

gem, extração no laboratório e catalogação dos indivíduos observados e os resultados obtidos, após a introdução de uma cultura de cobertura. Salienta-se o aumento do índice. Como se pode observar o semáforo ilustra uma melhoria dos valores de QBS-ar na parcela onde foi aplicada a cultura de cobertura com uma mistura biodiversa.

A equipa mantém a monitorização até ao fim de 2025 e em simultâneo realiza atividades de capacitação e dias de campo para demonstração e divulga-

Referências Bibliográficas

ção das soluções, sempre com o foco de disseminar o interesse pela prática e aumento da diversidade cultural ao nível da parcela agrícola. Perspetiva-se um impacto positivo. A melhoria da saúde do solo com culturas de cobertura demonstra ser uma estratégia eficaz para promover a sustentabilidade agrícola e ambiental. Os resultados até o momento indicam que esta abordagem pode beneficiar a produção e os recursos solo, água e biodiversidade, proporcionando soluções para os desafios que os agricultores

– Carlson, S., & Stockwell, R. (2013). Research priorities for advancing adoption of cover crops in agriculture-intensive regions. Journal of Soil and Water Conservation, 68(2), 107A-110. https://doi.org/10.5304/jafscd.2013.034.017

– Daryanto, S., Fu, B., Wang, L., Jacinthe, P.-A., & Zhao, W. (2018). Quantitative synthesis on the ecosystem services of cover crops. Earth-Science Reviews, 185, 357–373. https://doi.org/10.1016/j.earscirev.2018.06.013

– Koudahe, K. Allen, S. & Djaman. K. (2022). Critical review of the impact of cover crops on soil properties. International Soil and Water Conservation Research: 10(3): 343-354, https://doi.org/10.1016/j.iswcr.2022.03.003

enfrentam diariamente. Investimento e colaboração entre investigação, produção e decisores são essenciais para suportar este caminho de transição para sistemas agrícolas mais sustentáveis e resilientes.

O projeto SoiLife1st - LA4.1 - Adaptação de sistemas produtivos em contexto de alterações climáticas - Conservação e fertilidade do solo é financiado pelo PRR - Plano de Recuperação e Resiliência, Financido pela União Europeia - NextGenerationEU.

– Menta, C., Conti, F., Pinto, S., Bodini, A. (2018). Soil Biological Quality index (QBS-ar): 15 years of application at global scale. Ecological Indicators, 85: 773-780 https://doi.org/10.1016/j.ecolind.2017.11.030

– Melkonian, J., Po enbarger, H.J., Mirsky, S.B., Ryan, M.R., Moebius-Clune, B.N. (2017). Nutrient cycling in cover crops. Agronomy Journal, 109(4), 1230-1239. Agron. J. 109:1944–1959. doi:10.2134/agronj2016.06.0330

– Roesch-McNally, G. E., et al. (2018). Barriers to implementing climate resilient agricultural strategies: The case of crop diversification in the U.S. Corn Belt. Global Environmental Change, 48, 206-215.w

Culturas de cobertura

Do ponto de vista agronómico e dentro das regras e boas práticas da agricultura de conservação, tendo em vista o melhoramento continuado das características do solo, é fundamental que o solo esteja coberto com população de plantas vivas se possível, durante o maior período possível ao longo do ano.

Assim, quando o solo não estiver ocupado com uma cultura principal, designando desta forma aquela que trouxer maior rendimento ao agricultor; é importante mantê-lo coberto com outra cultura, com a função principal de manter o solo em atividade biológica, com todos os microrganismos que dele fazem parte, vivos em atividade e em desenvolvimento.

As culturas de cobertura, deveriam fazer parte integrante de todos os sistemas agrícolas e não só por imposição, mas deixemos esse aspeto para outros.

As plantas que constituem uma cultura de cobertura, como todas, têm a parte aérea constituída por folhas e caules e parte subterrânea constituída por raízes. Para retirarmos o maior proveito possível desta cultura, tal como na cultura principal, é fundamental que as plantas se desenvolvam sem desequilíbrios, tenham um bom sistema radicular e explorem ao máximo o cubo de terra que têm ao seu dispor.

As culturas de cobertura têm os seguintes benefícios:

– Ajudam a reduzir a erosão do solo, eólica e hídrica.

– Funcionam como “casa” e fonte de alimento para insetos auxiliares e microrganismos.

- Ajudam a melhorar a qualidade do solo aumentando teor de matéria orgânica.

- Contribuem para a supressão de infestantes, levando a uma redução na aplicação de herbicidas.

- Reduzem a compactação do solo, devido à ação do sistema radicular destas, rompendo as camadas compactadas.

- Por fim usam o azoto excedente da cultura anterior e podem fixar azoto atmosférico (leguminosas), reduzindo assim a quantidade de azoto a aplicar na cultura seguinte. Hoje podemos usar como culturas de cobertura um número elevado de plantas, quer seja como cultura extreme ou em consociação, havendo no mercado misturas já preparadas para semear. Devemos fazer um estudo prévio de qual a opção que vamos usar pois, em função dos problemas que temos na exploração agrícola, na parcela, qual cultu -

ra seguinte, assim devemos adaptar as nossas espécies a semear. Outro aspeto a considerar é o ciclo da cultura de cobertura, é necessário escolher plantas que tenham bom desenvolvimento inicial, para rapidamente fazerem boa cobertura do solo e tenham a floração tardia, tudo isto pensando no período de tempo que temos entre duas culturas principais. É conveniente, respeitando prazos legais, quando a cultura intercalar se integra em medidas agroambientais, não deixar que esta produza sementes, pois algumas podem ter sementes duras que têm um período de quebra de dormência alargado podendo manter a espécie no solo como infestante. Algumas espécies não devem ser cultivadas dois anos seguidos na mesma parcela. É prudente fazer terminar o ciclo da cultura de cobertura no início da floração para evitar estes inconvenientes. A instalação destas culturas convém que tenha custos reduzidos, havendo hoje e desde há muitos anos que vêm sendo experimentados vários métodos de sementeira desde a sementeira direta, distribuição das sementes na ceifeira-debulhadora, sementeira por meios aéreos, quer avião quer veículos não tripulados (drones) etc. Em todo o caso, e para que esta cultura produza os efeitos desejados é fundamental que tenha boa cama de sementeira, para que se possa desenvolver bem, mesmo em sementeira direta isto significa condições para boa germinação e o sistema radicular se desenvolver, sem compactação do solo a impedi-lo.

Estas práticas também têm a vantagem de melhorar a estrutura do solo pois os sistemas radiculares destas espécies, diferentes da cultura principal contribuem para romper camadas de solo diferentes e abrir canais que irão ser ocupados por ar e água, não nos podemos esquecer que o ar (arejamento do solo) é parte fundamental de um solo vivo, saudável!!. Este fundamental para os organismos benéficos do solo.

O uso como cultura de cobertura de espécies do género Raphanus, família de plantas das crucíferas, sendo usadas como plantas armadilhas simultaneamente, permite-nos fazer cultura de cobertura e controlar nemátodos, pois estas não sendo hospedeiras dos nemátodos, estes não completam o seu ciclo de vida, as fêmeas fazem as posturas nas raízes das plantas e a nova geração não se desenvolve. Adicionalmente no final da cultura as plantas sendo destroçadas e

incorporadas no solo libertam glucosinatos que têm efeito fumigante no solo.

Todos estes aspetos são importantes para a cultura de cobertura ter sucesso, instalação com o solo na sazão, temperatura para bom desenvolvimento inicial para “abafar” infestantes, etc. Por vezes a obrigatoriedade de “fazer” leva a compactação do solo e ter de resolver esses problemas nos anos seguintes com perdas na produtividade. Penso se não seria preferível em solos argilosos muito húmidos, deixar o solo com os resíduos da cultura anterior (p.ex. milho) tal qual e não estragar a estrutura do solo?

Na cultura de cobertura e dentro da filosofia de reciclar nutrientes, não é de considerar do meu ponto de vista qualquer adubação, amenos que haja a intenção de usar essa biomassa para outro fim que não a incorporação no solo como seja a utilização para forragem ou produção de biogás.

O final da cultura de cobertura pode ter várias opções dependendo da cultura seguinte, do desenvolvimento das plantas, da espécie cultivada, etc.

Se a cultura seguinte for uma cultura arvense (milho por ex.) e a cultura de cobertura for uma gramínea podemos optar, caso exista equipamento para tal, por sementeira direta ou mobilização na linha, mesmo sem destroçar, aplicando somente um herbicida total em pré sementeira ou semear e aplicar em pré emergência.

No caso de termos uma cultura de cobertura com Raphanus e a cultura seguinte uma hortícola ou horto-industrial devemos aplicar um herbicida total, destroçar finamente as plantas (a decomposição destas é mais rápida) incorporar, deixar passar algum tempo(10-15dias) e fazer a preparação de solo prevista. É importante o planeamento das operações de modo a instalar a cultura principal na época prevista, contando ainda com a normal imprevisibilidade dos fatores climáticos.

Em resumo, as culturas de coberturas penso que irão no futuro fazer parte das explorações agrícolas como parte integrante dos sistemas agrícolas, cabendo ao agricultor optar pela melhor solução para o seu caso, pois os benefícios serão evidentes por várias razões aqui referidas e as dificuldades vão ser vencidas. O objetivo aqui é ter plantas bem desenvolvidas, com boas raízes, se possível boa parte aérea e que tenham sido baratas de produzir; nem sempre fácil em agricultura…

BIOPESTICIDAS

A inovação que não chega ao agricultor!

Desde sempre, a agricultura é uma atividade basilar da nossa existência. O domínio do cultivo de plantas, e todas as ciências associadas à sua prática evoluíram imensamente. Hoje em dia vemos uma agricultura cada vez mais moldada pela investigação, tecnologia e ciência associada a fatores de produção cada vez mais especializados. Os desafios aos quais a agricultura é chamada a responder são diretamente proporcionais à sua evolução, num mundo com mais bocas para alimentar, com mais pessoas para vestir, com crescente procura por materiais de origem “natural”, tudo isto num cenário climático que é cada vez mais incerto e muitas vezes desfavorável à produção de alimentos.

A Indústria da ciência para a proteção das plantas segue a mesma tendência de evolução, aliás sempre foi um dos motores desta evolução, apoiando os agricultores com meios de controlo de pragas, doenças e infestantes cada vez mais diversos, tais como: sementes cujas plantas se adaptam às condições mais adversas resultantes das alterações climáticas, fruto da biotecnologia, cada vez mais avançada; com sistemas de apoio à tomada de decisão, que permitem uma maior otimização dos recursos naturais, entre muitas outras inovações tecnológicas.

Neste sentido, uma das linhas de desenvolvimento que mais se investiu e acelerou em termos de investigação foi o de controlo biológico. Com a natureza como ponto de partida, a Indústria da Ciência para a Proteção das Plantas tem mais oportunidades de desenvolver soluções que vão ao encontro das necessidades dos agricultores, em matéria de proteção das culturas. Contudo, apesar de todo o seu potencial, esta solução chega ao mercado a conta gotas, em proporção inversa à retirada de soluções. Para se ter uma perspetiva, as substâncias ativas de base biológica registadas na união europeia são 67, num total de 439, apenas 15%, sendo que muitas destas soluções são de estirpes resultantes das mesmas espécies de microrganismos, conferindo uma variabilidade reduzida em termos de novas opções.

A nova comissão europeia, que entra agora em funções, propõe uma clara linha orientadora para o fomento da inovação e tecnologia ao serviço da competitividade e da sustentabilidade. O desenvolvimento de soluções biológicas e novas soluções químicas devem ser consideradas neste repto, de modo a contrariar a dinâmica de limitação de soluções de proteção das plantas que tem colocado sob imensa pressão a Agricultura europeia. Para tal, é necessário trabalhar em diversas frentes prioritárias, por exemplo, ainda não existe uma definição consensual para os biopesticidas, pois a definição oficial não abrange a totalidade de fontes que podem dar origem a estes produtos. Estas origens são, na sua maioria, semioquímicos, tais como feromonas, atrativos, repelentes; bioquímicos como extratos vegetais, extratos animais, péptidos; microrganismos, como bactérias, vírus. Assim, o acesso dos agricultores europeus a biopesticidas de nova geração exige uma mudança de paradigma a três níveis: na legislação europeia, nos critérios de avaliação das substâncias ativas biológicas e na especialização do conhecimento das entidades que avaliam e aprovam estes produtos. É necessário e urgente um novo quadro regulamentar simplificado, mais ágil, que garanta maior previsibilidade a quem investe na investigação e desenvolvimento de novas substâncias ativas biológicas. Um período máximo de dois anos, entre a submissão e a aprovação da s.a. ao nível dos Estados-membros, é razoável e permitirá acelerar a entrada de novos biopesticidas no mercado, necessários para alcançar as ambiciosas metas da Estratégia do Prado ao Prato.

As substâncias ativas biológicas são muito específicas para o seu alvo, ou seja, atuam num espectro estreito de pragas e doenças, permitindo um controlo mais dirigido dos mesmos. Esta característica torna necessário que haja uma variabilida-

de e um maior número de produtos disponíveis no mercado, de modo a dar resposta a mais finalidades. É importante saber que, embora ofereçam muitos benefícios, os biopesticidas não são um substituto individual para os pesticidas convencionais. Uma solução biológica não substitui uma solução química, elas complementam-se. Juntas, estas soluções desempenham um papel importante na construção de uma maior e mais robusta caixa de soluções para os agricultores, por meio de práticas de Proteção Integrada (PI). É nesta ótica que devem ser vistos os biopesticidas, numa lógica de cada vez maior de integração de soluções entre as de base biológica, as de base química e as de base biotecnológica. Todas elas têm lugar no ciclo das culturas, de forma a dar uma resposta efetiva aos princípios da proteção integrada, nomeadamente na prevenção, monitorização e controlo. A indústria ao nível europeu tem um objetivo claro de investir, até 2030, quatro mil milhões de euros no desenvolvimento de biopesticidas, apoiando a transição para sistemas agroalimentares mais sustentáveis, sendo agora necessário haver uma célere mudança de paradigma no que respeita à avaliação dos produtos de proteção das plantas, para que a frase “A inovação, a tecnologia e o conhecimento desempenham um papel fundamental na transição do setor agroalimentar” possa fazer sentido aos milhares de agricultores que trabalham arduamente para produzirem os alimentos que todos precisamos, todos os dias.

AGROMAIS PLUS E PLUS ALQUEVA

Parceiros de confiança na comercialização de fatores de produção agrícola

A Agromais Plus é uma empresa líder na comercialização de fatores de produção agrícola em Portugal, inserida no grupo Agromais. Com uma visão de proximidade, a Agromais Plus oferece aos agricultores uma gama completa de soluções essenciais para potenciar a produtividade e a sustentabilidade das suas explorações, tais como sementes, fertilizantes, produtos fitofarmacêuticos, e outros equipamentos indispensáveis para as operações agrícolas modernas. A Agromais Plus está comprometida com a inovação e a sustentabilidade, promovendo práticas que ajudam os agricultores a alcançar a

eficiência e a competitividade necessárias no setor. Com o desenvolvimento do regadio no baixo Alentejo, na área de influência da barragem de Alqueva, nasceu a Plus Alqueva. O conhecimento e a relação de proximidade que caracteriza a Agromais Plus foram levados também para a Plus Aqueva. As duas entidades contam com uma equipa de especialistas técnicos que oferece apoio contínuo aos agricultores, ajudando-os a enfrentar desafios como a gestão de recursos, a proteção das culturas e a implementação de tecnologias que impulsionam o desempenho agrícola.

A Agromais Plus, com 25 anos de existência, integra o grupo Agromais e foi criada para fornecer fatores de produção aos agricultores da região do Ribatejo. A nossa comercialização é dirigida a todos os agricultores, independentemente de serem associados da Agromais. Além de disponibilizar produtos essenciais para a atividade agrícola, distingue-se pela forte componente de assessoria técnica no campo. O nosso corpo técnico trabalha lado a lado com os agricultores, assegurando o acompanhamento adequado das culturas e orientando a utilização dos produtos no momento certo, maximizando a produção. Ao longo deste quarto de século, formámos uma equipa técnica especializada que dá apoio em três áreas essenciais: nutrição das plantas, sanidade (doenças, pragas e infestantes) e fornecimento de gasóleo agrícola, um elemento fundamental na gestão energética das explorações. Atualmente, a equipa é composta por cinco técnicos, dois colaboradores na área de logística e três profissionais no departamento administrativo e financeiro. A formação contínua é uma prioridade, seja com fornecedores ou entidades externas, permitindo-nos oferecer soluções atualizadas e eficazes aos nossos clientes. Além do Ribatejo, a Agromais Plus expandiu a sua atividade com a criação da empresa Plus Alqueva, na área de influência do Alqueva, no Alentejo. Esta unidade foi desenvolvida para responder às necessidades da região, onde a agricultura tem evoluído de forma significativa devido ao regadio.

Rita Caixinha

TÉCNICO-COMERCIAL DA AGROMAIS PLUS

Na Agromais, realizamos um acompanhamento muito próximo dos agricultores, assumindo a gestão integral das suas culturas. Desde a preparação da área de cultivo, negociação de preços com as indústrias, até à planificação das plantações e colheitas, cuidamos de cada etapa do processo. Em paralelo, fornecemos aconselhamento especializado sobre produtos agrícolas. A nossa proximidade com os agricultores permite-lhes ter confiança de que as suas culturas estão bem acompanhadas e cuidadas. Muitos depositam em nós essa confiança, ao ponto de realizarmos visitas ao campo de forma autónoma, libertando-os de várias responsabilidades e permitindo que se concentrem em outras tarefas essenciais.

Sou, de certa forma, o rosto da Agromais Plus, onde trabalho há 25 anos. Gosto de pensar nos nossos clientes como “os meus agricultores”, pois acompanho de perto as suas necessidades. Cuido de toda a parte administrativa, incluindo encomendas, receção de mercadorias e organização da logística para entregas. Durante as campanhas, que são períodos muito intensos, coordeno cuidadosamente as entregas para garantir que tudo chega a tempo. O que mais me motiva é o contacto direto com o público. Aqui, construímos uma relação próxima, quase familiar, com os nossos agricultores. Procuro sempre ser proativa e responder com rapidez e eficácia às suas necessidades.

TÉCNICO-COMERCIAL DA AGROMAIS PLUS

O nosso trabalho comercial na Agromais Plus tem uma abordagem diferenciada. Fazemos um acompanhamento técnico das culturas que a Agromais desenvolve, como milho, batata, milho pipoca, nogueiras, pimentos, brócolos, entre outras. Prestamos apoio técnico constante aos agricultores que trabalham connosco, garantindo que as recomendações são fundamentadas no nosso conhecimento técnico e nas necessidades específicas de cada cultura. Além disso, comercializamos produtos para qualquer agricultor que procure os nossos serviços. Com muitos anos de experiência, estabelecemos uma ligação próxima e de confiança com os agricultores, o que lhes traz segurança e apoio em cada fase do cultivo.

Susana Covão

RESPONSÁVEL

TÉCNICO DA AGROMAIS PARA AS CULTURAS DE TOMATE, PIMENTO, ERVILHAS, FAVAS, BERINGELA E CURGETE

Desde 2001 que trabalho no grupo Agrotejo/Agromais. Inicialmente entrei para Agrotejo, para produção integrada na vinha, onde desempenhei essas funções durante mais ou menos dois anos, passei para a Agromais Plus para auxiliar a comercialização de fatores de produção, ao mesmo tempo que presto aconselhamento técnico. Consigo dividir o meu trabalho em duas fases: A partir de março começamos a preparar a campanha e instalar os campos. Acompanhamos as plantações, formalizamos entrega dos fatores de produção. No final de outubro, após colheitas, chega uma componente mais de escritório para tratar documentação e certificações. Em qualquer uma das etapas, estamos sempre muito presentes. Visitamos os agricultores todas as semanas, mas se for necessário fazemos mais visitas. Trabalhamos ainda em sintonia com outros técnicos, como por exemplo o Departamento de Rega e Agricultura de Precisão da Agromais. Sempre em prol de prestar o maior apoio possível ao agricultor para que este obtenha excelentes resultados.

José Vargas TÉCNICO DA PLUS ALQUEVA

A Plus Alqueva atua como uma base logística de fatores de produção, seguindo o modelo da Agromais Plus. Trabalhamos com fornecedores e oferecemos acompanhamento no campo para várias culturas, como olival, amendoal, vinha e milho sob pivots. O meu trabalho consiste em visitar os agricultores, identificar as suas necessidades e colaborar com os consultores das grandes herdades, prestando todo o apoio logístico necessário. O nosso objetivo é ajudar os agricultores a maximizar a rentabilidade das suas culturas. Embora muitas herdades já contem com técnicos, trabalhamos em parceria com eles, oferecendo aconselhamento técnico em alinhamento com as melhores práticas para alcançar os melhores resultados.

COMERCIAL DA AGROMAIS PLUS

O meu foco na Agromais Plus é proporcionar aos agricultores as melhores condições de preço e qualidade, trabalhando diretamente com eles no campo. Acompanhar de perto cada fase permite-me identificar as melhores soluções comerciais para produtos essenciais como agroquímicos, fertilizantes e sementes, adaptados às necessidades reais das suas culturas. Estamos sempre disponíveis para ajudar, e essa proximidade faz diferença na prática agrícola. O nosso trabalho é também identificar oportunidades de negócio para os agricultores. Foi assim que nasceu o projeto do milho pipoca, que também comercializo. Esta cultura tornou-se uma opção que muitos agricultores mantêm após a primeira experiência, devido ao seu potencial de rentabilidade.

Bruno Moura
Francisco Freire

Dirigentes

e

técnicos

da Agromais e da Agrotejo participam em Programa de capacitação promovido pelo Projeto +VALORCER pub

Este projeto é dinamizado pela Anpromis, pela ANPOC, pela Universidade NOVA de Lisboa e pela Consulai. O Projeto +VALORCER é liderado pelo InnovPlantProtect. Com a participação de mais de 17 organizações de produtores do setor dos cereais, incluído o arroz, que representam cerca de 90% da produção nacional comercializada, o projeto envolve mais de 12.500 agricultores distribuídos pelo país.

O projeto +VALORCER tem como principal objetivo incentivar a inovação, aumentar a eficiência da gestão e valorizar a produção nacional de cereais, através de um programa de capacitação avançada nas áreas dos recursos humanos e na criação de um sistema de blockchain.

No final deste projeto teremos certamente uma fileira cerealífera muito mais competitiva e capaz de ir ao encontro dos crescentes desafios que lhe são colocados tanto do ponto de vista ambiental, como económico, traduzindo assim a forte dinâmica e capacidade mobilizadora que a caracteriza.

Biosfera do

Paul do Boquilobo

melhora observatórios e entradas de visitação

A obra foi executada após uma candidatura apresentada pelo Município da Golegã ao Fundo Ambiental, num investimento total de 34.929,55, euros, dos quais 31.304,77 euros corresponderam ao financiamento do Fundo Ambiental. Este investimento permitiu intervencionar os observatórios de aves que se encontravam danificados, bem como o telheiro de apoio à visitação, melhorando assim a interação dos visitantes com o património natural da Reserva Natural do Paul do Boquilobo, sendo ainda efetuada uma entrada para cavalos, devido à procura dos turistas em visitar a reserva a cavalo ou em carro de cavalos. António Camilo,

presidente da Câmara Municipal da Golegã e Pedro Ferreira, presidente da Câmara Municipal de Torres Novas, estiveram lado a lado na inauguração da requalificação dos Observatórios e Entradas de Visitação da Reserva Natural do Paul do Boquilobo, bem como das melhorias das condições

de visitação à Reserva. Ambos os autarcas realçaram a importância da requalificação dos observatórios, que melhoram substancialmente as condições de visitantes que têm agora, novamente, boas condições de observação de uma Reserva única no país.

Agromais Plus vai ser Centro de Recolha da Valorfito

O Valorfito - Sistema Integrado de Gestão de Embalagens e Resíduos em Agricultura viu renovada a sua licença para gerir fluxos de resíduos atuais e novos, a partir de 1 de janeiro de 2025. Além da gestão de embalagens primárias de fitofármacos, biocidas e sementes, a entidade assumiu a responsabilidade pela gestão de novos fluxos, como embalagens secundárias de fitofármacos, sementes, e as embalagens primárias e secundárias de fertilizantes, rações e batata de semente. Esta alteração é crucial para o Sigeru - Sistema Integrado de Gestão de Embalagens

e Resíduos em Agricultura, que até ao fim de 2024 geria apenas embalagens primárias de produtos fitofarmacêuticos, biocidas e sementes de uso profissional. “Ficar responsável pela gestão de mais três tipos de embalagens é tanto uma responsabilidade como um reconhecimento do trabalho que o Sistema Valorfito tem realizado em todo o país, em contacto próximo e contínuo com os profissionais do setor. Esperamos continuar a contribuir de forma real, palpável e muito positiva para a sustentabilidade do planeta”, concluiu António Lopes Dias, diretor geral do Valorfito.

Agromais apoia os agricultores na gestão eficiente da rega e incrementa a rede de sondas de monitorização

Num momento em que a gestão de recursos hídricos é cada vez mais um fator determinante, não só na rentabilidade das explorações agrícolas como na sustentabilidade dos territórios, a Agromais decidiu aumentar a rede de monitorização, com instalação de sondas de humidade. Desta forma, complementando o serviço de avaliação de sistemas e os avisos de rega emitidos semanalmente, é dado mais um passo na eficiência das explorações agrícolas aderentes à Agromais, havendo um contributo efetivo para os objetivos nacionais de proteção e sustentabilidade dos recursos hídricos.

ESTRATÉGIA PARA O REGADIO TERÁ NOVO ALENTO?

Grupo de trabalho “Água que Une” deixa agricultores esperançosos

Em junho de 2024, os ministérios da Agricultura e Pescas e do Ambiente e Energia criaram o Grupo de Trabalho “Água que Une”. Quisemos saber junto dos principais agentes do setor quais as expectativas.

O regadio é uma peça-chave na agricultura portuguesa, especialmente nas regiões onde a escassez de água limita a produção agrícola. A agricultura de regadio tem permitido o cultivo de produtos de elevado valor económico, contribuindo para o desenvolvimento das áreas rurais e para a competitividade do setor agrícola no mercado global. Contudo, com as intensificação das alterações climáticas e as reservas de água a diminuírem, o futuro do regadio em Portugal enfrenta desafios significativos. O Governo português, através do Ministério da Agricultura e Pescas e o Ministério do Ambiente e

Energia, criou em julho o grupo de trabalho “Água que Une”, com o objetivo de identificar projetos estruturantes no setor hídrico, que permitam uma gestão eficiente e sustentável dos recursos. Este grupo inclui várias entidades com responsabilidades na gestão de recursos hídricos, e a sua missão é propor soluções para garantir o futuro do regadio em Portugal. De acordo do Despacho n.º 7821/2024, “o Governo pretende rever e atualizar o quadro de planeamento que vigora, assumindo uma visão mais holística e integrada sob a orientação de uma estratégia nacional designada ‘Água que Une’”.

O REGADIO

EM PORTUGAL: UM PILAR DA AGRICULTURA

O regadio tem sido um motor crucial para a agricultura em Portugal, particularmente nas regiões do Alentejo e do Ribatejo, onde a disponibilidade de água é limitada e a chuva irregular. Este sistema permite que culturas de elevado valor, como o tomate, milho, amêndoa, olival e vinha, prosperem, impulsionando a economia agrícola e gerando emprego. O impacto do regadio é também visível na fixação das populações nas áreas rurais, ajudando a mitigar o despovoamento e o declínio das economias locais.

Sara Pelicano

O grande exemplo do sucesso do regadio em Portugal é o projeto do Alqueva, uma das maiores infraestruturas de regadio da Europa. O sistema de rega do Alqueva não só aumentou a produtividade agrícola na região como também atraiu novos investidores, transformando a paisagem agrícola e social do Alentejo. Com mais de 120.000 hectares de área irrigada, o Alqueva tornou-se um símbolo da capacidade de inovação e adaptação do setor agrícola português.

GRUPO DE TRABALHO

‘ÁGUA QUE UNE’: MISSÃO E DESAFIOS

O grupo de trabalho “Água que Une” tem como um dos principais objetivos identificar os projetos prioritários para assegurar a gestão eficiente e sustentável dos recursos hídricos. Este esforço é uma resposta à necessidade urgente de adaptação do setor agrícola às mudanças climáticas, que se manifestam através de secas mais frequentes e prolongadas. A tarefa do grupo inclui a criação de um diagnóstico detalhado da disponibilidade de água, a modernização das infraestruturas de rega e a promoção de soluções tecnológicas que permitam a utilização eficiente da água. José Pedro Salema, presidente da EDIA - Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, empresa responsável pelo projeto Alqueva, acredita que o sucesso do futuro regadio em Portugal depende de uma abordagem estratégica coordenada. “O Governo precisa de elementos sólidos para definir uma estratégia nacional que envolva os investimentos necessários num setor tão vital como a água,” afirmou. José Pedro Salema sublinhou que o grupo de trabalho está a recolher contributos de organizações de produtores, comunidades intermunicipais, associações ambientalistas e agricultores de todo o país. A recolha de informação será fundamental para a criação de um mapa de investimentos, que irá indicar as áreas com maior disponibilidade e necessidade de água, ajudando a criar um plano nacional robusto. A análise do Grupo de Trabalho “Água que Une” será entregue no início do ano. Será uma base de trabalho para o Governo decidir quais os investimentos a realizar nesta altura.

EXPANSÃO DO REGADIO: SUSTENTABILIDADE E NOVAS INFRAESTRUTURAS

No Alqueva, o sucesso é evidente. Segundo José Pedro Salema, a adesão dos agricultores ao projeto superou as expectativas: “Prevíamos uma taxa de adesão de 80% em 2020, mas atingimos os 94%. Isso reflete uma dinâmica de investimento no sul do país, associada a fundos de investimento com capacidade financeira e objetivos claros,” revelou. Atualmente, a obra de expansão do perímetro de rega do Alqueva está na sua fase final. Terminados os blocos de rega de Reguengos de Monsaraz, a ligação ao Monte da Rocha (com bloco da Messejana), Vidigueira e Moura o projeto estará na sua capacidade máxima sem, contudo, colocar em causa a capacidade. “Quando tiverem estas quatro zonas novas chegamos ao mapa final. Alqueva está hoje próximo da sua capacidade limite e não podemos continuar a imaginar que o consumo pode aumentar porque não pode. Se aumentar, o que estamos a fazer é retirar a capacidade de dar garantia de abastecimento. A grande vantagem de Alqueva é oferecer garantia estatística de que a água não faltará”.

ÁGUA DE ALQUEVA

PARA OUTRAS REGIÕES

Poderá a água do maior lago artificial chegar a outras regiões do país, nomeadamente o Algarve? Para José Pedro Salema, “o sistema como está, sem outros reforços, é complicado”. No entanto, sublinhou “Alqueva tem uma grande capacidade de regularização. É um lago muito grande e, portanto, podemos utilizá-lo como bateria, trazendo água de outro local. Guardar ali para depois chegar a mais sítios. Se encontrarmos forma de reforçar Alqueva com outras origens se calhar conseguimos alargar o perímetro”. A solução de regadio em Portugal passa também, reforçou José Pedro Salema, por “trabalhar a eficiência, a resiliência, as culturas, os solos, ou seja, são várias as frentes que temos de atuar”.

REGAR COM ÁGUA DO MAR

Luís Mesquita Dias, presidente da Associação de Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur (AHSA), vê com otimismo

ALQUEVA TEM UMA

GRANDE CAPACIDADE DE REGULARIZAÇÃO. É UM LAGO MUITO

GRANDE E, PORTANTO, PODEMOS

UTILIZÁ-LO COMO

BATERIA, TRAZENDO ÁGUA DE OUTRO

LOCAL. GUARDAR ALI PARA DEPOIS CHEGAR A MAIS SÍTIOS.

“ AINDA HÁ MUITO POR EXPLORAR NAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS, UM

RECURSO QUE PODE SER CRUCIAL DURANTE OS PERÍODOS DE SECA, DESDE QUE SE INVISTA NA RECARGA DOS AQUÍFEROS E NUM

CONHECIMENTO MAIS

PROFUNDO DAS SUAS CAPACIDADES.

José Pedro Salema PRESIDENTE DA EDIA
Luís Mesquita Dias PRESIDENTE DA AHSA

A ÁGUA É UM RECURSO QUE NOS UNE COMO NAÇÃO, E ESTE PROJETO É UM PASSO

IMPORTANTE PARA

GARANTIR QUE TODAS AS REGIÕES DO PAÍS,

ESPECIALMENTE O ALGARVE, TENHAM ACESSO ADEQUADO A ÁGUA PARA A AGRICULTURA E OUTROS SETORES.

Álvaro

O PROJETO ‘ÁGUA QUE UNE’ É ESSENCIAL PORQUE COLOCA A ÁGUA NO CENTRO DO DESENVOLVIMENTO DO PAÍS.”

a criação do Grupo de Trabalho “Água que Une”. Luís Mesquita Dias considerou fundamental a diversificação das fontes de água para o regadio, mencionando alternativas como a dessalinização e a gestão mais eficaz dos aquíferos subterrâneos. “Ainda há muito por explorar nas águas subterrâneas, um recurso que pode ser crucial durante os períodos de seca, desde que se invista na recarga dos aquíferos e num conhecimento mais profundo das suas capacidades,” explicou Luís Mesquita Dias. Este tipo de intervenção será particularmente importante no sudoeste alentejano, uma região de forte produção hortícola e com grandes necessidades hídricas. É também nesta região que esteve em análise um projeto de dessalinização. Usar a água do mar para rega é uma das possibilidades para colmatar a falta de água na região cujo perímetro de rega em utilização é de 12.000 hectares. Recorde-se que no Sudoeste Alentejano grande parte dos produtos agrícolas produzidos são para exportação atingindo um volume perto dos 400 milhões de euros anuais. “Aumentando a área regada, setia possível atingir um volume de exportações na ordem dos 500 a 600 milhões de euros”, disse o presidente da AHSA.

UMA VISÃO NACIONAL

PARA O USO DA ÁGUA

Álvaro Mendonça e Moura, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), destacou a importância de uma abordagem nacional e integrada para o uso dos recursos hídricos. Segundo ele, “o projeto ‘Água que Une’ é essencial porque coloca a água no centro do desenvolvimento do país.” Defende que o grupo de trabalho deve explorar todas as opções possíveis para aumentar a resiliência hídrica do país, incluindo a modernização das redes de distribuição de água, a promoção do uso eficiente da água nos sistemas de rega e a interligação entre bacias hidrográficas. “Temos de pensar o país como uma rede de água, onde todas as regiões beneficiem,” sublinha Álvaro Mendonça e Moura. O presidente da CAP alertou ainda para a necessidade de evitar o desperdício de água, tanto na agricultura como nas redes urbanas, apontando para a modernização urgente das infraestruturas.

O Grupo de Trabalho “Água que Une” é composto por:

a) O Presidente do conselho de administração da AdP –Águas de Portugal, SGPS, S. A., António Pedro de Nobre Carmona Rodrigues, que coordena o Grupo de Trabalho;

b) O membro do conselho diretivo da APA – Agência Portuguesa do Ambiente, I. P., responsável pelos recursos hídricos;

c) O diretor-geral da DGADR –Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural;

d) O presidente do conselho de administração da EDIA –Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, S. A.

Para Jorge Neves, presidente da ANPROMIS – Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo, o grande desafio é garantir a coesão territorial no acesso à água. “A água é um recurso que nos une como nação, e este projeto é um passo importante para garantir que todas as regiões do país, especialmente o Algarve, tenham acesso adequado a água para a agricultura e outros setores,” afirmou. O presidente da ANPROMIS acrescentou que, para isso, é essencial garantir que as regiões agrícolas mais afetadas pelas secas possam contar com investimentos sólidos, como a construção de novas barragens e a expansão de sistemas de rega eficientes, especialmente em culturas intensivas como o milho e o sorgo. O presidente da ANPROMIS olha também para uma das maiores regiões produtoras de milho que, embora não sofra ainda de escassez de água, deve acautelar o futuro. “Na região do Norte do Vale do Tejo é fundamental assegurar o caudal do Tejo, sobretudo durante o Verão, para repor os níveis freáticos. A barragem do Ocreza já dará o seu contributo e depois é necessário, devendo ainda garantir a utilização de fins múltiplos para a barragem do Cabril e assegurar os caudais mínimos diários estipulados com Espanha”, concluiu.

Captações Subterrâneas: Lezíria e Médio Tejo, ponto de situação

A existência cada vez maior de fenómenos relacionados com situações de seca que se tem verificado em Portugal na última década, e com a possibilidade de poderem vir a ser agravadas com o efeito das alterações climáticas, fazem com que as disponibilidades hídricas e as atividades que delas dependem, nomeadamente a agricultura de regadio, tenham sofrido nos últimos anos uma modernização quer na implementação de sistemas de rega, quer na utilização de tecnologia que permite aos produtores aplicar as dotações necessárias em cada fase do ciclo de cada cultura.

Esta é uma questão que a AGROTEJO tem vindo a acompanhar, a fazer o report do que se passa in loco e a promover o debate sempre que nos é dada essa possibilidade, uma vez que grande parte senão mesmo a maioria dos nossos agricultores são produtores de culturas de

regadio. É um problema que existe, está identificado, mas para o qual estamos a trabalhar, munir-nos de ferramentas e conhecimento – técnicos e agricultores - de forma a minimizarmos ao máximo a perda deste recurso fundamental à atividade agrícola e num sentido mais lato, a todos nós.

Se por um lado existe a obrigatoriedade de os agricultores possuírem os títulos de recursos hídricos das captações existentes na sua exploração, para terem a sua atividade devidamente licenciada, e existe essa vontade por parte dos produtores, em termos práticos constata-se uma necessidade premente de uma racional operacionalização de licenciamentos que se torne mais simples, mais rápida e mais próxima. Não são admissíveis situações como ocorreram este ano em que produtores com culturas implementadas, ainda aguardam a emissão do título.

Relativamente à complexidade identificamos as seguintes situações:

1. Licenciamento de furos existentes, que por algum motivo nunca foram licenciados, alguns com três ou quatro décadas. São muitas vezes solicitadas informações como relatório da execução do furo. Ora em boa verdade os atuais proprietários da parcela não sabem nem quem explorava a parcela, nem quem efetuou o furo à data, sendo a solução para responder à solicitação contratar uma empresa certificada que efetue esse relatório e com um elevado custo associado.

2. Licenciamento de furos cujo requerimento foi submetido em 2010 (a AGT licenciou cerca de 6.000 captações) através de uma plataforma que desapareceu, deixando sem resposta milhares de agricultores. Neste caso, foram dados importantes passos nomeadamente com o reconhecimento

da parte da Agência Portuguesa do Ambiente que efetivamente esses requerimentos deveriam ter um seguimento e um termino, sendo por isso, a custo zero, possível solicitar com a apresentação do requerimento inicial, desde que os dados se mantenham, que dará origem a um título de utilização de recursos hídricos (TURH).

3. Pedidos de pesquisa para novas captações subterrâneas, ou qualquer alteração a efetuar, ex. alteração de potência da bomba ao licenciamento existente, custa ao produtor 150€. Neste último ponto gostaríamos de colocar especial enfoque na Bacia do Tejo/Sado, margem esquerda, afetando maioritariamente os nossos associados dos concelhos de Chamusca, Constância, Alpiarça e Almeirim, onde de há 2 anos a esta parte, consequência dos relatórios emitidos pelo Grupo de Trabalho de assessoria técnica à Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, constituída em 2017, onde o procedimento é adotado é o seguinte:

1. Pedidos de novas captações – recusados;

2. Regularização de captações existentes - são solicitadas filmagens efetuadas por empresas acreditadas para o efeito o que na maioria dos casos são incomportáveis pelos agricultores. Note-se que este serviço de filmagens, por exemplo para um furo até 40 m representa um custo de cerca de 2.000 € (somatório a filmagem, retirar e recolocar a eletrobomba e taxa de licenciamento).

Imaginemos agora um jovem que se instala, e que adquire uma propriedade com 10 furos, para estar legal terá em legalizações de furos investir 20.000€, já não mencionando a colocação de Caudalímetros o que representaria grosso modo para os 10 furos mais 3.000€. Porque não equipar equipas APA que possam vir ao campo e validar situações que eventualmente surjam, cobrando um valor justo… já imputar todos estes custos aos agricultores não é viável, nem justo. Em suma, todos os que vivemos de, e para, a atividade agrícola entendemos que existe efetivamente um problema real e que há uma redução mais ou menos gradual dos recursos hídricos (dependendo das várias bacias hidrográficas), mas é importante que manifestemos também a nossa preocupação face ao facto de a agricultura de regadio só se fazer com água e que esta água que consumimos acaba por voltar em grande parte ao lençol freático que lhe está subjacente. A agricultura é uma atividade empresarial como qualquer outra, e que carece de respostas concretas e atempadas… já nos bastam os fatores que não controlamos, afinal somos uma indústria a “céu aberto”.

O desinvestimento na atividade agrícola e transformação dos produtos que dela advêm acaba por ser também uma das consequências desta postura, pouco próxima da tutela. Vejam-se o caso da construção da fábrica de cenouras bebé em Almeirim, que devido aos vários constrangimentos relacionados com a captação de água para lavagem da cenoura e onde estava até previsto um reaproveitamento da água para abastecimento dos agricultores locais, foi abandonado e acabou por ir para outro concelho, mais longe da produção. Projetos de investimento que beneficiem novos sistemas de rega, certamente mais eficientes e promovendo uma maior poupança de agua não podem ser aprovados se não detiverem TURH anterior à submissão do pedido de apoio… ora se os concursos PDR estão abertos 3 a 4 meses e uma licença demorar 1 ano ou mais a ser emitida… Por todos estes motivos, congratulamo-nos com artigo do Expresso onde a Sra. Ministra do Ambiente e Energia a propósito das iniciativas para garantir a disponibilidade de recursos hídricos, informou que foram recentemente aprovadas medidas para simplificar os licenciamentos para que se tornem “mais simples e céleres” ao mesmo tempo que dizia que “a água tem de ser prioridade no financiamento europeu”. Não podemos estar mais de acordo, aguardamos ansiosamente esta revolução do modus operandi e disponibilizamos-nos para ajudar no que estiver ao nosso alcance, e no que assim o entenderem, em prol de todos… porque a água é de todos e para todos.

Água: uma questão de tempo e de espaço

PRESIDENTE DA DIREÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DE BENEFICIÁRIOS DO PLANO DE REGA DO SOTAVENTO ALGARVIO

Em Portugal, como em toda a orla mediterrânica, por norma temos chuva em poucos meses de Inverno e depois longos meses quentes e sem chuva. E temos água suficiente, em regra, do Tejo para Norte. Por vezes, temos escassez em Trás-os-Montes, mas com frequência no Baixo Alentejo incluindo o Alto Sado e depois o Algarve. Com alguma tendência para pior, nos últimos anos, os dados são estes. Todos sabemos isto há muito tempo. No Centro da Europa, a chuva cai todo o ano e por isso não são precisos grandes armazenamentos. Entre nós, fazem-se barragens desde há um século, sem contar com as que os romanos por cá deixaram e que hoje são apenas arqueologia. Foi com as barragens que se desenvolveu a produção de energia renovável, se desenvolveu a produção de alimentos e matou a sede às populações. No Algarve, se não fossem as seis barragens feitas nos últimos 60 anos seria impossível alimentar a população e a agricultura seria apenas de sequeiro. Temos que armazenar quando chove e temos que regar no tempo quente de verão.

Quando temos esta distribuição no tempo e no espaço, o engenho é saber gerir a realidade sem fatalidades. Para gerir os problemas da atualidade, temos de olhar de modo muito acutilante para as zonas de seca. No Algarve e no Alentejo, os poderes públicos produziram uns planos ditos

de eficiência hídrica. No caso do Algarve, esse dito plano tinha quatro opções e foram tidas, erradamente, como prioritárias as duas mais caras e as que não dão um litro de água para a agricultura.

A tomada de água do Pomarão resolve o problema dos espanhóis que ficam com a extração de Bocachança legalizada de onde tiram 75 hm 3 por ano há quase 50 anos. Implica nos anos secos reduzir a água armazenada em Alqueva e leva à execução de condutas com mais de 40 quilómetros com custos estimados de mais de 60 milhões de euros para apenas 20hm 3

A dessalinizadora de Albufeira, cuja construção está anunciada por 107 milhões de euros, servirá para 16hm3 de água. Teremos ainda de somar aqui os elevados custos de retirada da salmoura.

Estas duas opções apontam para perto de 200 milhões de euros para 36 hm3. Nada disto serve para a agricultura. No tal plano de há cinco anos estavam lá as barragens do Alportel e da Foupana muito mais baratas e para fins múltiplos. O Governo do primeiro-ministro António Costa e do ministro do Ambiente e da Ação Climática, José Pedro Matos Fernandes, desconsiderou estas opções. Apenas em 2023 a Associação de Regantes do Sotavento Algarvio pegou no caso da Foupana (Castro Marim) e, após obter apoio do PDR 2020, meteu mãos ao estudo prévio e estudo

de impacte ambiental os quais estarão prontos dentro de três a quatro meses. Na fase dos trabalhos estima-se uma retenção anual média de 50 hm3 com custos de cerca de 50 milhões de euros, portanto seis a sete vezes mais barato do que deixar salgar a água e depois gastar fortunas para o retirar e fazer água doce.

A barragem do Alportel (Tavira) por sua vez começou a ser feita sensivelmente em 1930 mas parou pouco depois. Em 2009 fez-se um estudo prévio com o objetivo de proteger a cidade de Tavira da devastação da sua parte baixa em cheias recorrentes a cada 30 anos em média.

No final de outubro, foi lançado o concurso para o projeto de execução de uma barragem de fins múltiplos com cerca de 10hm3 de retenção média anual por cerca de 15 milhões de euros. Tudo isto resultado de uma boa articulação da Associação de Regantes do Sotavento e da Agência Portuguesa do Ambiente.

Como se vê existem soluções para atenuar os efeitos da seca no Algarve.

Da serra do Caldeirão nascem uma dezena de ribeiras, poucas delas aproveitadas. E na margem direita do rio Guadiana de Beja até Castro Marim temos mais uma meia dúzia de ribeiras, algumas delas com potencial de aproveitamento.

No futuro a água para todo o Algarve tem que sair desta zona e ser conduzida para todo o Algarve.

A estratégia para a gestão da água é interligar bacias e conduzir os recursos conforme as necessidades. Só assim se resolve uma desigual distri -

buição natural no espaço e no tempo. Apenas precisamos de estadistas e de visionários com bom senso capazes

de anteciparem nas decisões. É disto que temos tido escassez nas últimas décadas.

Agricultores adotam tecnologia, mas formação é importante

José Rafael Marques da Silva, professor Catedrático do Departamento de Engenharia Rural da Universidade de Évora, sublinha ainda que os empresários agrícolas não têm a formação necessária para uma boa aplicação das tecnologias disponíveis. O mesmo responsável destacou que imagens de satélite e drones poderão vir a ser as grandes conquistas no futuro.

Qual o estado da arte na aplicação de novas tecnologias no setor agrícola em Portugal?

Em geral os portugueses são muitos curiosos e gostam de adotar rapidamente tudo o que seja novas tecnologias. Somos aventureiros por natureza. Mas no setor agrícola, adotar novas tecnologias, dominar novos equipamentos, procedimentos e processos é um caminho longo e difícil. Normalmente, os empresários agrícolas não têm o tempo nem a formação necessária para tirar o máximo partido das

novas tecnologias disponíveis no mercado. E nos casos em que acabam por adquirir novos equipamentos e serviços, ficam muitas vezes desfraldados, porque embora estes sejam úteis, não há tempo para olhar com cuidado e usá-los da melhor forma. A maior parte dos empregadores agrícolas tentam comprar novos equipamentos, serviços e tecnologias porque há financiamento para isso. Mas estes financiamentos são condicionados à compra desses equipamentos, que depois os agricultores não sabem utilizar ou tirar o melhor partido.

Isto acontece só em Portugal?

Na América do Norte e do Sul, por exemplo, face à dimensão e à escala das empresas, é normal adquire-se um serviço a terceiros para aumentar a performance e os níveis de produção. Na Europa, apesar da dimensão das propriedades ser mais pequena, formam-se agricultores à força para tirar partido das novas tecnologias. Mas isso é impossível. Desde logo porque as tecnologias estão em constante alteração. É muito difícil para um empresário agrícola estar atualizado sobre

Sara Pelicano

todos os equipamentos e instrumentos associados. Em contrapartida, um consultor ou uma empresa de consultoria na área, conhece várias culturas, vários problemas e várias funções, e pode rapidamente aportar valor ao proprietário agrícola.

Mais do que novas tecnologias, os agricultores devem dominar as tradicionais…

Existe uma falta de conhecimento do ponto de vista agronómico. Os fertilizantes, em geral, usados de forma correta, são uma tecnologia, e nem essa os agricultores dominam totalmente. Temos um conjunto tecnológico de soluções na área da fertilização que pouca gente usa e que faz a diferença do ponto de vista técnico, económico e ambiental. Há uma falta de conhecimento no uso de fertilizantes, no uso da água ou de processos de produção.

Que desafios enfrentam os agricultores na adoção de soluções tecnológicas inovadoras?

Além de desafios de carácter financeiro e falta de conhecimento, os agricultores não têm, por vezes, noção de escala. Isto é, a adoção de tecnologias para determinada escala pode fazer sentido e para outra não. Por isso, diria que o capital, o conhecimento e a escala, são as três principais barreiras à adoção de novas soluções tecnológicas no setor.

Falou da falta de conhecimento dos agricultores. Qual o papel da academia na transferência de conhecimento para o setor agrícola? A transferência de conhecimento entre universidades e agricultores é sempre muito difícil porque as empresas têm realidades diferentes. Mas há tecnologias que podem ser disruptivas. Se a tecnologia for útil, barata e fácil de utilizar, ninguém precisa de ensinar nada que todos aprendem rápido e começam a usar. Mas o que acontece muitas vezes é que as academias não são avaliadas pela ligação ao meio empresarial. E não havendo essa ligação, não existe motivação para fazer esse tipo de partilha de conhecimentos e boas-práticas. Nesse sentido, seria mais interessante fazer a transferência de conhecimento para as-

NORMALMENTE, OS EMPRESÁRIOS AGRÍCOLAS NÃO
TÊM O TEMPO NEM A FORMAÇÃO NECESSÁRIA PARA TIRAR O MÁXIMO PARTIDO DAS

NOVAS TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS NO MERCADO.

sociações e empresas, e, posteriormente, passar os ensinamentos ao utilizador final. A academia pode formar, mas é impossível dotar todo o universo de agricultores com conhecimento, face à complexidade, à disponibilidade e aos recursos. Contudo, isto não impede que a academia crie boas-práticas para os agricultores perceberem qual a utilidade de determinada tecnologia. Ainda que os agricultores estejam munidos de novas ferramentas, equipamentos e serviços, vão precisar sempre de apoio e de linhas orientadoras que os guiem para as melhores práticas agrícolas.

Quais as tecnologias agrícolas mais comuns em Portugal?

Diria o balizamento eletrónico e a distribuição variável com autoguiamento. Não é uma tecnologia dispendiosa e os agricultores gostam de fazer as linhas paralelas para a distribuição de fertilizantes e semear. Esta é uma tecnologia muito vulgarizada, não é complexa, não é cara e é útil para otimizar os fatores de produção. Os sensores, nomeadamente os de humanidade, podem

também fazer a diferença. É preciso é que os empresários agrícolas façam caso deles, pois muitas vezes não tiram partido dos seus dados e só os têm no terreno para receber contrapartidas financeiras de apoio à produção.

E que tendências antevê para os próximos anos?

Vejo mais a otimização na tecnologia agronómica convencional, como é o caso dos fertilizantes, do que propriamente em grandes equipamentos. Mas entre as tendências tecnológicas com maior capacidade de penetração no nosso país, sublinho as imagens de satélite, pois ajudam bastante os agricultores e são uma tecnologia barata. E os drones, por exemplo, para contar plantas ou espalhar fertilizante. Ainda que tenha sido proibido aplicar fitofármacos com recurso a aviões, o uso de drones para a aplicação de fertilizantes poderia trazer resultados interessantes, desde logo na redução de combustível dos tratores agrícolas.

Que mais poderia ser feito ao nível de políticas públicas em prol do aumento de competitividade e promovam da sustentabilidade?

Se os empresários dispusessem de um “vale” para usar em serviços de consultoria para otimizar a sua exploração agrícola haveria uma mudança de política drástica. Apesar de ser o agricultor a ser financiado, indiretamente acabariam por ser as empresas que prestam esses serviços. Acredito que as empresas de serviços possam fazer a diferença no setor agrícola em

TEMOS UM CONJUNTO TECNOLÓGICO DE SOLUÇÕES NA ÁREA DA FERTILIZAÇÃO QUE

POUCA

GENTE

USA E QUE FAZ A DIFERENÇA DO PONTO DE VISTA TÉCNICO, ECONÓMICO E AMBIENTAL.

“ SE OS EMPRESÁRIOS DISPUSESSEM DE UM “VALE” PARA USAR

EM SERVIÇOS DE CONSULTORIA

PARA OTIMIZAR A SUA EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA HAVERIA

UMA MUDANÇA DE POLÍTICA DRÁSTICA.”

Portugal, pois é impossível o agricultor ter conhecimento de tudo o que está a sair. Mesmo até do ponto de vista agronómico, os agricultores poderiam dispor de outros apoios importantes. No fundo, estaria a promover-se o

apoio a empresas agrícolas e ao tecido empresarial focado nas novas tecnologias e responsável por desenvolver competências e habilidades de muito alto nível para servir os proprietários agrícolas.

Que projetos tem a Universidade de Évora em desenvolvimento no âmbito da utilização de novas tecnologias para a otimização do setor?

Todos os anos temos feito um curso de agricultura de precisão com a duração de uma semana. A inscrição é gratuita, ainda que participem somente 20 a 25 alunos. Isto para que todos possam ter o tempo útil necessário com as máquinas agrícolas e os sensores no terreno. No fundo, a ideia é dar à sociedade a possibilidade de autoformação. Na área dos cereais temos o projeto “Pegada 4.0” com o objetivo de perceber como é que as novas tecnologias na agricultura podem otimizar os proces-

sos do ponto de vista económico com a menor pegada ambiental possível, isto porque a sociedade exige cada vez mais que, do ponto de vista da produção de alimentos, o setor seja mais eficiente.

ALUNOS DO CURSO PRÁTICO PARA LICENCIADOS DEDICADO À AGRICULTURA DE PRECISÃO, EM 2024.
OS DADOS SÃO A TECNOLOGIA DO FUTURO

Tecnologia recolhe dados, inteligência artificial gera conhecimento, agricultor toma decisões

A tecnologia é hoje familiar aos agricultores, embora a adoção da agricultura de precisão seja diferente de região para região. João Noéme, sócio fundador da TerraPro, José Palha, presidente da ANPOC e agricultor, e João Coimbra, produtor de milho partilham a sua experiência sobre agricultura tecnológica.

O uso de tecnologias na agricultura tem vindo a transformar o panorama das explorações agrícolas em Portugal. João Noéme, sócio fundador e diretor-geral da TerraPro, empresa especializada em tecnologia para o setor agrícola, explicou que o país, apesar de pequeno, é altamente heterogéneo. “Existem zonas onde os agricultores estão muito virados para a tecnologia,

mesmo que não façam grandes investimentos, enquanto noutras, há um grande vazio devido à pequena dimensão das parcelas”, afirmou. Esta disparidade entre regiões reflete-se na adoção de ferramentas de agricultura de precisão, que embora estejam cada vez mais acessíveis, ainda não atingiram todas as zonas do país. A TerraPro trabalha principalmente em regiões como o Alentejo, Ribatejo e Beira, onde os agricultores têm uma certa dimensão e estão mais predispostos a investir em tecnologia. “Quem nos procura já está interessado em aderir à tecnologia, mesmo que sejam pequenos produtores, que, apesar das dificuldades, estão a perceber que o custo de investimento está a diminuir”, sublinhou João Noéme.

ADOÇÃO DE TECNOLOGIA VARIA CONFORME

A CULTURA

A tecnologia disponível para os agricultores é diversa e a sua adoção varia conforme a cultura. No caso dos cereais, por exemplo, os empresários têm tendência por recorrer mais a imagens aéreas e só depois chegar às sondas de humidade do solo, por exemplo. “As sondas de humidade do solo são um ótimo exemplo de tecnologia que, uma vez implementada, torna-se indispensável para o agricultor”, revelou João Noéme. No setor dos cereais, particularmente no milho, os agricultores já são pioneiros na adoção de tecnologias de precisão, como os mapas de produção. “Os mapas de produção são valiosíssimos. Se se utilizarem mapas de vários anos, a informação é ainda mais preciosa”, destacou João Noéme, referindo-se à capacidade de as ceifeiras já gerarem este tipo de dados sem custos adicionais. Basta que os agricultores os utilizem corretamente.

Segundo o diretor-geral da TerraPro, quem experimenta estas tecnologias raramente abdica delas, dada a diferença que fazem na eficiência das operações.

As estações meteorológicas são outro exemplo de uma ferramenta cada vez mais comum, permitindo aos agricultores aceder a previsões meteorológicas de precisão, fundamentais para gerir a evapotranspiração e otimizar o uso da água, particularmente em rega por pivôs.

O uso de pivôs para rega de forma diferenciada também ganhou tração nos últimos anos, com baixos investimentos a permitir grandes ganhos na gestão da água. Esta abordagem, conhecida como VRT (Variable Rate Technology), permite aplicar diferentes quantidades de produtos ou ajustar a densidade da sementeira de acordo com as condições do solo em diferentes áreas da mesma parcela. “Começar a tratar uma parcela de forma diferenciada pode fazer uma enorme diferença no resultado final”, enfatizou. Contudo, o custo ainda pode ser um obstáculo, principalmente em culturas como o milho, onde os preços de mercado limitam a capacidade de investimento. “No caso do milho, com

os preços como estão, é uma guerra convencer os agricultores a gastar mais dinheiro. Mas uma vez que começam a investir, não param mais”, destacou João Noéme. O mesmo responsável ressaltou que os custos de investimento em tecnologia estão a diminuir, tornando cada vez mais acessível a adoção de ferramentas como as sondas de humidade do solo, que podem ser adquiridas ou simplesmente alugadas para campanhas específicas. Um dos grandes desafios, no entanto, é a sobrecarga de informação que os agricultores enfrentam no dia a dia. “A tecnologia, em muitos casos, só vem atrapalhar”, confessou João Noéme. A TerraPro tem tentado combater este problema oferecendo aos agricultores informação simplificada e direcionada, enviando alertas específicos para problemas identificados em vez de inundá-los com dados. “Espero que a tendência seja fornecer ao agricultor apenas o que ele precisa, no momento certo”, acrescentou. No que toca à inteligência artificial (IA), a TerraPro já está a experimentar internamente, embora a sua aplicação ainda seja limitada. “A IA vai ter um papel preponderante na agricultura, especialmente na análise de dados”, considerou João Noéme. Tarefas como a contagem de plantas ou frutos podem ser automatizadas, aumentando a

“ A TECNOLOGIA VEIO
PARA

FICAR. DAQUI A 10 ANOS, NÃO HAVERÁ AGRICULTORES A TRABALHAR

SEM TECNOLOGIA.

eficiência das operações agrícolas, mas a ligação humana continua a ser essencial. “A IA ainda está a dar os primeiros passos no setor, mas tem um grande potencial”, sublinhou. O setor hortofrutícola, por sua vez, apresenta desafios próprios, com exigências muito específicas em termos de precisão e rapidez de resposta. “Se faltar água um único dia, pode fazer de imediato a diferença”, referiu João Noéme, realçando a urgência e a precisão que estas culturas exigem. Ao olhar para o futuro, João Noéme acredita que a agricultura de precisão veio para ficar. “Não estou a ver nenhum agricultor daqui a 10 anos a trabalhar sem recurso a tecnologia, independentemente da dimensão da exploração”, afirmou. Quanto mais cedo se começar, mais cedo se tiram proveitos, e o conhecimento acumulado ao longo dos anos é crucial para a eficiência a longo prazo.

AGRICULTORES COM PRECISÃO

O futuro da agricultura de precisão está a ser construído hoje, com cada vez mais agricultores a aderirem a estas tecnologias que prometem transformar o setor. José Palha, produtor de cereais praganosos, recordou que “a tecnolo-

gia é fundamental para qualquer setor” e ainda mais na agricultura “porque concorremos num mundo global e só temos duas maneiras de aumentar a rentabilidade das explorações: ou é pelo aumento da eficiência ou é pelo aumento da venda do produto final”. No entanto, como o preço de venda é estabelecido em mercados internacionais, foge um pouco do controlo dos empresários agrícolas, desta forma “a única hipótese de continuar a ser competitivos é através do aumento da eficiência na produção e esta eficiência só se consegue aumentar com tecnologia. Esta é uma ferramenta absolutamente indispensável para os cereais praganosos”. José Palha, também presidente da presidente da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC), concluiu que “na ANPOC olhamos para a tecnologia como um vetor fundamental para a valorização da produção, aumento da eficiência e, em alguns casos, como um garante da continuidade da produção agrícola nalgumas regiões do país”.

Na perspetiva do agricultor João Coimbra, “a agricultura de precisão é um processo contínuo, uma evolução constante sobre o que já foi alcançado, utilizando o conhecimento e os dados recolhidos”. Esse progresso permite uma especialização cada vez maior das soluções, aplicadas de for -

ma mais específica, com menos receitas gerais e mais respostas direcionadas a problemas concretos, adaptadas ao tipo de solo, cultura ou fertilização. O produtor de milho considerou ainda que “a capacidade de crescimento da agricultura de precisão é infinita”, sublinhando que “a tecnologia, neste contexto, é uma ferramenta, não um fim em si mesma”. Na sua exploração procura “tomar decisões baseadas em dados, minimizando a dependência da nossa intuição como agricultores”.

A AGRICULTURA DE PRECISÃO É UM CICLO VIRTUOSO DE RECOLHA, TRATAMENTO E UTILIZAÇÃO DE DADOS, RESULTANDO EM MAPAS DE PRODUTIVIDADE QUE NOS AJUDAM A PERCEBER O SUCESSO OU FRACASSO DE ALGUMA TECNOLOGIA OU PROCESSO IMPLEMENTADO.

João Coimbra exerce a sua atividade com recurso a inúmeras ferramentas tecnológicas que lhe fornecem um conjunto alargado de dados que começa a ser tratados por inteligência artificial (IA) e machine learning. “A IA, por si só, moldará a sociedade do futuro, e na minha exploração, já utilizamos diversas ferramentas suportadas por inteligência artificial. O processo de tomada de decisão tecnológico vai muito além da capacidade humana, permitindo identificar o que é mais importante

para o progresso produtivo, ecológico e ambiental”, explicou. No futuro, considera importante que haja “apoio direcionado para a investigação e que os agricultores estejam em contacto com outros agricultores, através de associações e cooperativas. Estas entidades devem desempenhar um papel essencial no desenvolvimento e implementação de novas tecnologias no campo, garantindo que estas inovações cheguem a todos os agricultores”. João Coimbra terminou recordando que “a agricultura de precisão é um ciclo virtuoso de recolha, tratamento e utilização de dados, resultando em mapas de produtividade que nos ajudam a perceber o sucesso ou fracasso de alguma tecnologia ou processo implementado”.

“ NA ANPOC OLHAMOS PARA A TECNOLOGIA COMO UM VETOR FUNDAMENTAL PARA A VALORIZAÇÃO DA PRODUÇÃO, AUMENTO DA EFICIÊNCIA E, EM ALGUNS CASOS, COMO UMA GARANTE DA CONTINUIDADE DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA NALGUMAS REGIÕES DO PAÍS.

José Palha PRESIDENTE DA ANPOC

COMPETITIVIDADE NA CULTURA DOS CEREAIS

Urge criar condições estruturais para escolhas livres dos empresários agrícolas

Francisco Gomes da Silva, diretor-geral da AgroGes e responsável por duas empresas agrícolas, destaca a importância de dar continuidade à Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais e do regadio para garantir a atratividade da cultura dos cereais.

Nos últimos anos, a rentabilidade dos produtores de cereais tem sido bastante afetada. De que forma outras culturas, como por exemplo o olival ou o amendoal, contribuem para a perda de competitividade das culturas de cereais?

DE FACTO, EXPANDIR O REGADIO SEM QUE EXISTAM ALTERAÇÕES NA CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO E DISTRIBUIÇÃO

INTER-REGIONAL DA ÁGUA LEVAR-NOS-IA

A UM BECO SEM SAÍDA.

Temos de ter alguma cautela ao apontar “culpados” para a quebra de rentabilidade de uma determinada atividade económica. Produzir cereais, quaisquer que sejam, ou outro qualquer produto agrícola é, e deverá ser sempre, uma livre escolha dos empresários agrícolas, desde que cumpram a legislação em vigor, nomeadamente quando esta legislação impõe determinadas restrições ao uso de parcelas específicas de solo. Dito isto, aquilo que podemos observar da realidade das áreas regadas em Portugal ao longo dos últimos anos, é que culturas permanentes como o olival ou o amendoal, que refere, têm vindo a ganhar terreno. Como são culturas permanentes, essa dominância, por ser de reversibilidade muito limitada (pelo valor de investimento que acarreta) retira graus de liberdade em relação aos anos seguintes, pelo que o espaço para culturas anuais (cereais ou outras) fica mais reduzido. Esse é o preço que os cereais “estão a pagar” por, na avaliação dos empresários agrícolas, oferecerem menor rentabilidade do que essas culturas permanentes. Resta saber se essa perceção traduz efetivamente a realidade ou se, a médio prazo, algumas das áreas em questão

não seguirão caminhos diversos. Em resumo, dada a opção massiva que se tem verificado pelas culturas permanentes em certas zonas do país, e dada a fraca reversibilidade desses investimentos, os cereais, mesmo que apresentem condições de rentabilidade interessantes, perderam espaço físico para se expandirem. Se isto é, ou não, um problema, é outra questão completamente diferente.

Que medida preconiza para repor a atratividade na produção de cereais?

O essencial, do meu ponto de vista, é que sejam criadas as condições estruturais para que os empresários agrícolas possam efetuar as suas escolhas sem terem de enfrentar constrangimentos ou custos de contexto injustificados, que lhes limitem essas escolhas. No caso concreto da produção de cereais, a atratividade da sua produção em cada momento dependerá essencialmente de três tipos de fatores: os fatores estruturais que enformam a nossa agricultura (nas quais destaco o acesso à água para rega a preços competitivos, pois cada vez será mais limitada a competitividade em regimes de sequeiro), o domínio de tecnologias de produção com níveis crescentes de eficiência (cuja adoção conduzirá à redução dos custos de produção), o comportamento dos mercados (que poderá tornar mais atrativa a relação de preços entre os recursos necessários à produção e os preços dos cereais) e a existência de políticas públicas que permitam alcançar os desígnios

Sara Pelicano

“ EM RESUMO, DADA A OPÇÃO MASSIVA QUE SE TEM VERIFICADO PELAS CULTURAS PERMANENTES EM CERTAS ZONAS DO PAÍS, E DADA A FRACA REVERSIBILIDADE DESSES INVESTIMENTOS, OS CEREAIS, MESMO QUE APRESENTEM CONDIÇÕES DE RENTABILIDADE INTERESSANTES, PERDERAM ESPAÇO FÍSICO PARA SE EXPANDIREM. SE ISTO É, OU NÃO, UM PROBLEMA, É OUTRA QUESTÃO COMPLETAMENTE DIFERENTE.”

PORTUGAL

CADA VEZ TERÁ MENOS CONDIÇÕES

PARA MANTER UMA

AGRICULTURA DE SEQUEIRO EM CONDIÇÕES DE COMPETITIVIDADE

COM O MERCADO INTERNACIONAL.

que, nessa matéria, o Governo tenha para a produção de cereais em Portugal. No que se refere a esta última questão, e uma vez que existe uma Estratégia aprovada pelo anterior Governo e que o atual Governo não revogou, será essencial, por uma questão de coerência, que sejam implementadas as medidas que essa Estratégia preconiza.

Referia a água como essencial à competitividade da cultura dos cereais. O Programa Nacional de Regadios, iniciativa do Governo, pretendia criar mais de 90 mil hectares de regadio até 2022, com um investimento público de 534 milhões de euros. Que comentário lhe oferece fazer aos objetivos anunciados, face ao que está realizado?

Nesta matéria os objetivos ambiciosos são sempre bem-vindos. Neste caso, e feita a avaliação, é claro que ficámos aquém das metas estabelecidas. No entanto, e do meu ponto de vista, o mais importante é ter sido possível, de 2023 para cá e com um evidente reforço de intensidade com o atual Governo, colocar na lista de prioridades o desenho e implementação de uma Estratégia para a Água. De facto, expandir o regadio sem que existam alterações na capacidade de armazenamento e distribuição inter-regional da água levar-nos-ia a um beco sem saída.

Ou seja, e em resumo, do meu ponto de vista e numa perspetiva nacional, um atraso na expansão do regadio (isto é, na infraestruturação de área para o regadio) desde que signifique um compasso de espera para a criação de uma forte estratégia para a gestão da água e respetiva implementação, não é um problema maior. Lamento é o enorme atraso que certas posições políticas, entre 2015 e 2023, impuseram a esta questão, período em que falar da construção de uma barragem era quase um crime de lesa-majestade, e pronunciar a palavra transvase dava direito a ser ostracizado pela sociedade pensante.

Segundo algumas entidades a capacidade de produção nacional de cereais continua a ser fragilizada pela falta de água. Quais as soluções que preconiza? Como atrás referi, Portugal cada vez terá menos condições para manter uma agricultura de sequeiro em condições de competitividade com o mercado internacional. Se no passado essa circunstância já era difícil, com o proces-

so de alterações climáticas em curso, e a maior irregularidade que irá caraterizar os regimes de precipitação, o futuro ainda se apresenta mais complexo. Assim, e no que se refere à produção de cereais numa envolvente de mercados de elevada competitividade, a única solução é conseguirmos ampliar, em termos geográficos e em termos temporais, o acesso à água para rega. Ou seja, assumirmos, enquanto país, a necessidade imperiosa de termos um plano para a gestão da água disponível em cada momento no território, regularizando a sua disponibilidade nas várias regiões do país e nos diversos momentos do tempo. Isto não será possível alcançar sem a implementação de transvases entre bacias hidrográficas (para quem não aprecie a designação de transvase, pode substituí-la por uma outra equivalente) e pelo aumento da capacidade de armazenamento nas diversas regiões. Depois disto, ou em paralelo com isto, será necessário investir em estruturas mais locais para disponibilização desta água aos agricultores, com a recuperação de perímetros de rega existentes e com a construção de novos perímetros.

O crescente aumento da população de javalis e consequente destruição de culturas, em particular de cereais, tem sido apontado como uma das causas para a redução de área cultivada. Qual a sua opinião e quais a soluções que antevê como exequíveis e eficazes?

Hoje já todos percebemos as consequências da ausência de controlo das populações de javalis, não só para a agricultura como para outras dimensões da vida humana. A única via passa por controlar essas populações. Aliás, estamos a correr riscos de que fenómenos semelhantes possam vir a ocorrer com outras espécies animais, afetando outras culturas.

De que forma as medidas agroambientais podem também estar a prejudicar a rentabilidade dos agricultores?

Os agricultores são agentes económicos, e efetuam as suas escolhas com base nos sinais que, quer o mercado quer o Estado, enquanto agente regulador, lhes vão dando. É natural que as medidas agroambientais privilegiem objetivos ambientais na sua conceção, compensando sobrecustos de determinadas práticas ambientalmente mais interessantes, ou premiando resultados concretos que sejam alcançados neste âmbito. Dito isto, custa-me a crer que os agricultores, de uma forma generalizada, adotem uma determina-

da medida agroambiental sem avaliarem as consequências económicas de tal escolha. Coisa diferente, é percebermos se as medidas agroambientais estão suficientemente bem calibradas para que o valor que é pago ao agricultor seja suficientemente atrativo para que o agricultor as adote. No meu entender, a verificação ou não desta condição depende muito das culturas e dos sistemas de agricultura praticados e, como é evidente, de cada medida agroambiental em concreto. Posso dar-lhe o meu exemplo, como responsável por duas empresas agrícolas localizadas na mesma região, ambas de regadio, mas com sistemas de agricultura bastante distintos. Uma delas não beneficia de qualquer medida agroambiental nem eco-regime porque entendemos não fazer qualquer sentido económico a candidatura a tais medidas. A outra beneficia de diversas destas medidas, por existir um excelente encaixe entre o desenho dessas medidas e o sistema de agricultura e respetivas tecnologias utilizadas. Ou seja, do meu ponto de vista é sempre necessário avaliar caso-a-caso a relação custo-benefício antes de avançar com uma candidatura a uma qualquer medida de política pública disponível.

Em termos das áreas cultivadas, quais os impactos reais nas áreas de cultivo de cereais? Quais as consequências da redução das áreas de cereais?

Esta pergunta não é de resposta fácil, pois pode ser olhada através de prismas muito diversos. A área de cereais tem diminuído em Portugal, embora tal diminuição dependa muito do cereal de que estejamos a falar. E isso acontece porque essas produções se tornaram menos competitivas, seja em termos absolutos (menores resultados económicos) seja em termos relativos (outras produções melhoraram a sua performance, e os agricultores alteraram a sua escolha). E isso aconteceu sem que as políticas públicas o tivessem conseguido evitar, se é que esse objetivo tenha estado presente nas políticas públicas implementadas ao longo dos anos. Para o país, a consequência é termos um nível de auto-aprovisionamento mais reduzido, recorrendo mais à importação para que o consumo possa ser satisfeito. Se olharmos para os cereais como commodities, essa é a única consequência de relevo. Mas se olharmos para a produção de cereais como um instrumento para se atingirem outros objetivos mais ligados com a coesão territorial, a ma-

nutenção de certos habitats, a preservação de certos valores ambientais e de diversidade, então esta redução tem outras consequências. Se assim é, teremos de apontar o dedo a quem tem desenhado as políticas públicas, pois elas têm falhado de forma evidente os seus objetivos.

Segundo a FAO a produção mundial de cereais vai atingir 2.854 milhões de toneladas em 2024, um novo marco histórico. Está Portugal em contraciclo ou é o resultado de más políticas nacionais e/ou comunitárias?

Não lhe sei dizer. Provavelmente é uma mistura de ambas as razões. Como lhe disse, sou muito pouco dogmático em relação às escolhas que os agricultores devem ou não devem fazer. Se a sua opção, num determinado momento, passa por não produzir cereais, é porque existem boas razões para tal. Assim como se, em resposta a es -

“ EXISTE UMA ESTRATÉGIA

APROVADA PELO

ANTERIOR GOVERNO E QUE O ATUAL GOVERNO NÃO REVOGOU, SERÁ ESSENCIAL, POR UMA QUESTÃO DE COERÊNCIA, QUE SEJAM IMPLEMENTADAS AS MEDIDAS QUE ESSA ESTRATÉGIA PRECONIZA.

UM AGRICULTOR NÃO “PERTENCE” A UMA DETERMINADA

CULTURA. FAZ AS SUAS ESCOLHAS

TENDO EM CONTA OS OBJETIVOS QUE TEM, A COMPETÊNCIA

QUE LHE ASSISTE E A INFORMAÇÃO A QUE CONSEGUE ACEDER. POLITICAMENTE É

QUE A QUESTÃO SE DEVE COLOCAR: QUAL É O OBJETIVO

QUE O GOVERNO TEM NESTA MATÉRIA?

tímulos de mercado ou a políticas públicas específicas, a opção noutro momento for a de inundar o país de cereais, é porque essa é certamente a decisão que faz sentido. Por outras palavras, um agricultor não “pertence” a uma determinada cultura. Faz as suas escolhas tendo em conta os objetivos que tem, a competência que lhe assiste e a informação a que consegue aceder. Politicamente é que a questão se deve colocar: qual é o objetivo que o Governo tem nesta matéria?

Que entendimento faz da evolução internacional da cotação dos cereais, tendo em consideração o contexto de instabilidade mundial?

O contexto internacional, em termos humanos, é dramático, e é possível que esteja bastante pior quando esta entrevista for publicada daqui a alguns dias. Este contexto de incerteza à escala global, normalmente induz algum ímpeto protecionistas nos diversos blocos regionais, com as consequentes perturbações na produção, no consumo

e no comércio internacional. Viemos de um par de anos com os preços das matérias-primas alimentares a baterem os seus máximos, e estamos agora num período em que os mercados ajustam em baixa. Para os produtores, estes períodos de rampa descendente são sempre muito complicados, tanto mais que os preços dos fatores de produção (que também atingiram máximos históricos) não ajustam em baixa ao mesmo ritmo. O que se vai passar nos próximos anos, para mim, é uma incógnita. Como responsável por duas empresas agrícolas, aquilo que tento fazer, como certamente a generalidade dos agricultores, é definir trajetórias e parcerias técnicas e comerciais que me salvaguardem a maior flexibilidade possível para o futuro próximo. Quanto mais o conseguir, maior sucesso terei no processo de adaptação das empresas em causa a esta envolvente tão estupidamente desconcertante. Com uma certeza: o mundo vai continuar a precisar desesperadamente de alimentos, e sem agricultura, até ver, esses alimentos não estão disponíveis.

PRODUÇÃO

DE CEREAIS

Fragilidade económica dos produtores

Recebi um amável convite por parte da Revista Agrotejo para escrever um artigo com o tema “Fragilidade económica dos produtores nacionais de cereais”, o meu pensamento foi em primeiro lugar mudar este título, ele transmite um sentimento de fatalidade, de que somos débeis façamos o que fizermos. Parece-me afastado da verdade, criando uma narrativa perdedora e fatalista que só assim será, caso o produtor queira. Gostava de realçar que quando digo produtor estou a referir-me quer ao produtor individual quer às entidades agregadoras de produção, sejam elas agrupamentos, empresas ou cooperativas. É verdade que o conhecimento dos mercados agrícolas a que estamos expostos não tem sido até agora uma prioridade por parte do produtor, que preferiu maximizar a área técnica. É de fazer notar que claramente venceu esta aposta, rivalizando, ou mesmo, liderando o domínio da tecnologia agrícola, quer na sua vertente agronómica quer na sua vertente ambiental. Ou seja, canalizou o seu esforço para duas das três vertentes principais de maximização da rentabilidade: produzir mais e a menor custo, pondo de alguma forma de parte a ênfase na terceira – vender mais caro.

Felizmente vão aparecendo alguns sinais de que a pouco e pouco se está a descobrir a importância dessa terceira vertente e que ela é perfeitamente complementar às outras duas. Na verdade, nada impede um produtor de conhecer e dominar a escolha de sementes, fertilização ou operações culturais, ou aspetos de redução de custos como a gestão da água e da energia, com os conhecimentos da análise de mercados e as ferramentas para o operar.

VOLTEMOS À FRAGILIDADE

(OU MELHOR PSEUDO FRAGILIDADE)

Da mesma forma que o produtor fez uma transferência de tecnologia e não se verificou nenhuma fragilidade em especial. Tem hoje acesso e utiliza a maior parte da tecnologia disponível no mundo, parece que pode e deve aplicar também conhecimentos sobre análise e operação em mercados agrícolas. Deve-se lembrar que todos estes conhecimentos e ferramentas estão tão

disponíveis para o produtor português, como o estão para a esmagadora maioria dos produtores espalhados pelo mundo, não sendo de forma alguma fragilidade o facto de sermos produtores num país pequeno.

A melhoria desses conhecimentos não depende do tamanho do país, nem da sua localização geográfica, dependem exclusivamente da atitude do produtor em querer conhecer e começar a operar rivalizando com o que acontece por todo o mundo produtor. Estas ferramentas são bastante horizontais e de custo relativamente baixo, certamente mais baixo que a tecnologia, que implicam apenas aprendizagem e uma disciplina no seu uso.

QUE TIPO DE OPORTUNIDADES ESTÃO À DISPOSIÇÃO PARA VALORIZAREM

OS SEUS PRODUTOS?

• Numa visão simplista, o produtor deve melhorar as características da sua produção casando com as características valorizadas pelo seu cliente. Felizmente existem já uma série de casos que devem ser alargados e afinados. Um bom exemplo é a escolha de sementes com um maior índice de vitrosidade para uma fábrica de “grits”. Ao melhorar o seu rendimento industrial, a fábrica pode dividir essa melhoria com o produtor, incrementando o prémio que paga pela matéria-prima. Tomando este exemplo, e para ter a garantia de uma divisão equilibrada dessa melhoria, o produtor deve conhecer e quantificar exatamente como se traduz financeiramente para a fábrica essa vantagem. A passagem à quantificação da qualidade e tradução financeira é um campo ainda pouco explorado pela produção que hoje sabe que é valorizada, mas não tem tido em geral uma grande preocupação em quantificar de uma forma objetiva e metódica, saindo do termo melhor para o quanto melhor.

• Com conhecimentos sobre análise de mercados e ferramentas de gestão de risco. Neste apartado, poderia haver lugar para páginas infinitas sobre o assunto. Tentando resumir, prende-se com a aprendizagem e utilização do método de análise de mercados, cuja utilização na determinação do timing e no formato de venda dos produtos é comumente aceite em todo o mundo. Para obter conhecimento e acompanhamento dos quatro pilares da análise fundamental (oferta, procura, clima e política); conhecimentos sobre análise técnica – que hoje é incontornável devido à presença massiva de fundos financeiros no mercado de “agro commodities” que premeiam e tomam decisões muito baseados neste tipo de análise – o produtor tem de fazer uma rotura completa com o método tradicional de vender o

produto apenas quando tem o produto para o vender. Deve, por isso, separar o comércio do cereal físico da utilização das Bolsas de Futuros.

Realmente o mercado de cereal físico português está algo limitado pelo número reduzido de operadores, típico de um país mais pequeno e que não oferece muita liquidez. Carece, por isso, da maior importância a forma de tornear este condicionalismo operando com as Bolsas, onde há sempre um comprador quando queremos vender, (e vice-versa) o que nos dá uma liquidez extrema muito acima da que existe no mercado físico. Felizmente não existe no mercado interno nenhuma importante barreira logística que impeça o acesso direto dos produtores à indústria de forma a ampliar o leque de clientes e aumentar a liquidez, ao contrário do que acontece normalmente nos países exportadores, uma vez que neste caso o cliente industrial está noutro local do mundo.

Dominando os métodos de análise pomos um racional na opinião que temos do mercado e permite-nos melhorar o timing da venda num ponto em que achemos o mercado favorável. Conjugando isso com as operações nas Bolsas de Futuros correspondentes permite-nos maximizar o preço de venda final para o produto sendo uma parte dos ganhos tomada na Bolsa e outra no físico. Estatisticamente teremos muito mais probabilidades de melhorar o preço operando o ano inteiro versus o método tradicional de vender apenas quando se tem o físico em poucas vezes e geralmente num curto espaço de tempo.

Criaram-se, no entanto, alguns tabus em relação a estas operações que gostaria de começar a desmistificar.

• Tem risco: toda a atividade agrícola e comercial tem um risco inerente. Risco do clima, risco de decisões políticas, de flutuação de preços e muitos mais. O que estas ferramentas permitem é precisamente minorar esse risco de flutuação, tendo já dado provas de que é melhor do que não ter nada; tal como a maior parte das vezes em caso de sinistro, se provou ser melhor ter um seguro do que não o ter.

• O agricultor torna-se num especulador: há que partir de um ponto base. O agricultor já é um especulador por inerência da atividade. Sem nenhum caráter depreciativo quanto à palavra especulador, ela refere-se neste contexto a uma atividade onde não se pode comprovar as premissas de partida (clima, preços, políticas, etc..) quando se toma a decisão de semear. Com estas ferramentas pretende-se exatamente o inverso. A sua utilização permite ao agricultor fixar, tanto quanto possível, margem no seu negócio, ao contrário de a deixar livre até ao ato da venda do físico. Neste momento, já fica limitado ao preço do físico. Os produtores americanos criaram a Bolsa de Chicago, há quase 100 anos, precisa-

mente para evitar esta circunstância. Esta bolsa lidera hoje o comércio de “agro commodities” no mundo.

• É muito caro: com o volume brutal de operadores, os custos unitários tornaram-se bastante acessíveis, na casa das poucas dezenas de cêntimos por tonelada, com um impacto francamente mais pequeno que qualquer input.

• É só para grandes quantidades: nada mais falso. Um contrato na Bolsa de Chicago são 127 toneladas, no caso do milho, e 136 toneladas no caso do trigo. Ou ainda de 50 toneladas no caso da Bolsa Europeia (Matif). Estas quantidades não são de forma alguma grandes, mesmo para um pequeno produtor e menos ainda para um aglutinador de produção.

A título de resumo, espero ter deixado claro que de forma alguma temos fragilidades inerentes. Os conhecimentos estão ao alcance de todos. Só temos de procurar quem nos possa ajudar nessa transferência. É este o papel de empresas como a Aestivum. À semelhança do que aconteceu na tecnologia numa fase inicial, o que temos de facto é uma barreira de atitude, que felizmente começa a dar modestos, mas claros, sinais de querer cair. Não se trata de alguma fragilidade ou impedimento inerente ao facto de sermos um pequeno país no oeste da Europa. Só me resta deixar o desafio de não aceitar que as fatalidades se tornem realidade e que os produtores consigam um grau tão apurado no domínio dos mercados como têm no domínio da tecnologia.

DESAFIOS NA PRODUÇÃO DE MILHO

Entre a Sustentabilidade e a Rentabilidade

Os produtores de milho em Portugal enfrentam desafios económicos consideráveis num setor em que as variáveis são cada vez mais influenciadas por dinâmicas globais e mudanças estruturais nas políticas agrícolas. Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), e Jorge Neves, presidente da Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (ANPROMIS) e José Palha, presidente da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC), partilharam as suas perspetivas sobre a realidade do setor, destacando a necessidade de aplicação eficaz da Estratégia Nacional para Promoção da Produção de Cereais e o reforço das políticas de apoio ao rendimento e à sustentabilidade.

A produção de milho em Portugal enfrenta atualmente desafios económicos significativos, com fatores globais e políticas agrícolas em constante mudança a pressionarem os produtores. Para Luís Mira, o milho, sendo uma commodity, não permite a criação de valor através de uma marca própria, obrigando os produtores a competir diretamente no mercado global. “O milho tem de competir com todos os outros, e isso torna as coisas mais de-

pendentes do que se passa no resto do mundo”, afirmou. O secretário-geral da CAP considerou que Portugal tem uma capacidade excecional de produzir milho com produtividades “que muito poucos no mundo conseguem”, mas ressalvou que essa vantagem deve ser mantida através de um esforço contínuo de melhoria para garantir a competitividade e a rentabilidade, especialmente quando os preços estão em baixa. A flutuação de preços é uma

constante neste setor, exigindo que os produtores estejam preparados para enfrentar variações de ano para ano. Apesar das dificuldades, Luís Mira realçou que o setor do milho em Portugal é “muito unido”, com os produtores a apostarem fortemente em tecnologia e inovação, ajudando-se mutuamente na evolução do setor. Esta cooperação tem sido crucial para que o milho atinja o nível em que se encontra hoje. No entanto, o mesmo responsável também sublinhou

Sara Pelicano

a necessidade de aplicação eficaz da Estratégia Nacional para a Promoção da Produção dos Cereais, que visa assegurar a sustentabilidade e competitividade da produção no país. A Política Agrícola Comum (PAC), por sua vez, tem sido ajustada, com um foco crescente na sustentabilidade ambiental, refletindo a preocupação dos consumidores. Luís Mira defendeu este será o caminho a seguir nos próximos anos, com as novas políticas agrícolas a focarem-se cada vez mais na sustentabilidade.

Jorge Neves, por outro lado, trouxe à discussão uma inversão positiva na tendência dos preços na campanha atual, proporcionando uma ligeira melhoria no rendimento dos agricultores em relação às perspetivas iniciais. No entanto, o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis) alertou para um problema maior: a diminuição progressiva dos apoios diretos ao rendimento, especialmente os pagamentos base que têm sofrido cortes significativos devido à convergência da PAC. “Os agricultores vão ver muitíssimo reduzido o seu rendimento, e essa é a questão principal neste momento”, afirmou, destacando a necessidade urgente de encontrar formas de compensar esta quebra de rendimento. Neste contexto, Jorge Neves referiu que estão a trabalhar com o Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP) e com o Ministério da Agricultura para revisitar a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais em Portugal. “O objetivo é reforçar os mecanismos de apoio ao rendimento dos agricultores e agilizar alguns processos, tais como a construção de charcas e a simplificação da burocracia associada à gestão da água”, explicou. Jorge Neves relembrou que a questão da água é um fator determinante para a sustentabilidade da produção de milho em Portugal.

A perda significativa de área de cultivo é outro ponto crítico. “Em 10 anos, perdemos praticamente 50% da área de milho em Portugal, o que não é de forma alguma aceitável”, alertou Jorge Neves. O milho, além de ser uma cultura essencial para a coesão territorial, reduz a dependência das importações. Atualmente, Portugal encontra-se numa posição de grande fragilidade,

com a dependência de importações de dois mercados principais: a Ucrânia, cuja situação política e económica é instável, e o Brasil, que tem uma agenda própria e nem sempre alinhada com os interesses portugueses.

A solução para este cenário, segundo Jorge Neves, passa pela reposição do rendimento dos agricultores, algo que o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, já considerou essencial. O presidente da Anpromis defendeu que o reforço dos pagamentos ligados ao setor é uma das formas mais viáveis para atingir este objetivo. Além disso, destacou a importância de reforçar as medidas agroambientais como forma de compensar a perda de rendimento, sendo fundamental implementar medidas específicas para a agricultura de precisão. O fortalecimento das organizações de produtores também é crucial para garantir a resiliência do setor.

O presidente da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC), José Palha, referiu igualmente a urgência em repor o rendimento dos agricultores, recordando que “o valor da ajuda atualmente em vigor foi calculado em 2018 antes da pandemia da Covid-19, da guerra na Ucrânia e do aumento enorme dos custos de produção”, mais recordando que “o valor das ajudas tem um grande impacto na atividade agrícola, podendo, em alguns casos, fazer a diferença entre ganhar ou perder dinheiro. Em muitas situações a margem de lucro está no valor da ajuda e pouco mais”. Paralelamente, José Palha afiançou que há outras medidas que podem ser facilitadas e podem contribuir para aumentar a rentabilidade – e mesmo manter, a produção de cereais praganosos –, nomeadamente a construção de barragens privadas e outras estratégias de regadio que possam levar àgua às regiões onde se produzem cerais em sequeiro. “Se perdermos a rentabilidades destas culturas, o que acontece é que não haverá continuidade do negócio. As gerações mais novas se não conseguirem perceber que poderão ter um rendimento atrativo com estas culturas não vão dar continuidade”, disse, concluindo que “a produção de cereais é importantíssima para a coesão territorial”.

“ PORTUGAL TEM UMA CAPACIDADE EXCECIONAL DE PRODUZIR MILHO COM PRODUTIVIDADES QUE MUITO POUCOS NO MUNDO CONSEGUEM.

“ O OBJETIVO

É REFORÇAR OS MECANISMOS DE APOIO AO RENDIMENTO DOS AGRICULTORES E AGILIZAR ALGUNS PROCESSOS.

“ A PRODUÇÃO DE CEREAIS É IMPORTANTÍSSIMA PARA A COESÃO TERRITORIAL.
Luís Mira SECRETÁRIO-GERAL DA CAP
Jorge Neves PRESIDENTE DA ANPROMIS
José Palha PRESIDENTE DA ANPOC

AGROMAIS

Três décadas de união, sustentabilidade e desenvolvimento em prol do agricultor

A Agromais, Cooperativa Agrícola, nasceu em 1987 com o objetivo de agregar a produção dos agricultores do Norte do Vale do Tejo, promovendo a profissionalização, sustentabilidade e força comercial dos produtos da região. Originalmente focada na produção de milho, a Agromais expandiu-se para incluir outras culturas, como o tomate para indústria, batata, brócolos e cebola, diversificando a sua oferta e aumentando a sua relevância no mercado na -

cional. Com mais de três décadas de história, a Agromais continua a impulsionar o desenvolvimento económico local e a apoiar os agricultores na implementação de práticas ambientalmente responsáveis. Este é o espírito que define a Agromais, uma união forte e orgulhosa do compromisso com o território e com os seus associados. Conhecemos a seguir os técnicos que diariamente trabalham para assegurar os interesses dos agricultores.

Desde a sua criação, os princípios da Agromais e das restantes organizações a que pertencemos mantêm-se sólidos. O nosso objetivo é oferecer aos agricultores um conjunto de serviços que lhes permita concentrar-se na sua atividade principal: produzir com qualidade e eficiência. Procuramos fornecer todas as ferramentas para que os agricultores possam ser competitivos e sustentáveis. A nossa missão passa por oferecer apoio técnico diário, identificar novas oportunidades de negócio e fomentar o desenvolvimento de culturas que aumentem a rentabilidade das explorações. Os técnicos da Agromais desempenham um papel crucial ao lado dos agricultores, ajudando-os a identificar oportunidades, adaptar-se às condições específicas de cada exploração e implementar as melhores práticas. Na Agromais, procuramos integrar a cadeia de valor agrícola, criando parcerias a montante com a indústria para definir variedades, épocas de colheita e quantidades adequadas. Estamos ainda ativamente presentes nas principais associações setoriais, como a ANPOC, a FNOP e a ANPROMIS, para defender os interesses dos agricultores e promover o desenvolvimento sustentável das culturas em Portugal.

SUSANA MACHADO RESPONSÁVEL DE QUALIDADE

E SEGURANÇA ALIMENTAR DA AGROMAIS

Sou responsável pela gestão das atividades relacionadas com a monitorização e controlo dos normativos de qualidade e segurança. Trabalhamos com normas como a ISO 9001 e 22000 e apoiamos os agricultores na certificação GlobalGAP, que é realizada individualmente. O meu papel envolve acompanhar auditorias, gerir documentação, resolver e monitorizar não conformidades e assegurar o controlo do sistema integrado de gestão. Tudo isso em colaboração com as equipas de produção e manutenção, sempre com foco na otimização dos processos e na melhoria contínua da organização. A Agromais fornece apoio documental essencial para que os agricultores cumpram os requisitos de segurança alimentar exigidos pelos clientes. Os agricultores devem atender a normas legais, como a calibração de pulverizadores, o uso de produtos homologados, o respeito pelos intervalos de segurança, além de monitorizar riscos como a qualidade da água de rega e o teor de matéria orgânica nos solos. Garantimos que o circuito completo dos produtos é monitorizado para assegurar o cumprimento rigoroso destas normas.

O nosso trabalho comercial na Agromais Plus tem uma abordagem diferenciada. Fazemos um acompanhamento técnico das culturas que a Agromais desenvolve, como milho, batata, milho pipoca, nogueiras, pimentos, brócolos, entre outras. Prestamos apoio técnico constante aos agricultores que trabalham connosco, garantindo que as recomendações são fundamentadas no nosso conhecimento técnico e nas necessidades específicas de cada cultura. Além disso, comercializamos produtos para qualquer agricultor que procure os nossos serviços. Com muitos anos de experiência, estabelecemos uma ligação próxima e de confiança com os agricultores, o que lhes traz segurança e apoio em cada fase do cultivo.

DEPARTAMENTO DE REGA E AGRICULTURA DE PRECISÃO

André Rodrigues RESPONSÁVEL PELOS SECADORES E LOGÍSTICA DA AGROMAIS, RESPONSÁVEL PELA HORTEJO, COORDENADOR DO CENTRO DE INSPEÇÕES DE PULVERIZADORES DO DEPARTAMENTO DE REGA E COORDENADOR DO DEPARTAMENTO DE REGA E AGRICULTURA DE PRECISÃO

Na componente da manutenção e logísticas dos secadores, a minha função é gerir entradas e saídas de milho nos postos. Ver qual é posto que está a chegar à sua capacidade de armazenagem e retirar o milho seco para podermos secar mais. Os secadores nunca ficam cheios para não haver constrangimentos do lado do agricultor.

Na Hortejo temos câmaras frigoríficas que armazenam hortofrutícolas e a minha função é gerir o funcionamento daquelas instalações. Um trabalho que assegura o total funcionamento de todas as infraestruturas para que o agricultor se possa focar em obter os melhores resultados da sua cultura. Prestamos apoio do início ao fim da cultura. O departamento de Rega e Agricultura de Precisão ajuda os agricultores a terem ganhos de eficiência económica e ambiental.

Acompanhamos os nossos agricultores desde a instalação das culturas até à colheita, usando tecnologias avançadas como imagens de satélite e sondas de humidade de solo. Geramos planos de rega semanais com o objetivo prioritário de preservar este recurso estratégico. A maioria dos nossos agricultores já beneficia de medidas de uso eficiente da água, mas têm também um conjunto crescente de obrigações legais a cumprir. O nosso papel é assegurar que todos os requisitos são respeitados, especialmente para aqueles que aderiram às normas de Uso Eficiente da Água. No entanto, trabalhamos igualmente com agricultores fora destas medidas. Realizamos avaliações completas dos sistemas de rega, medindo o caudal e utilizando ferramentas modernas que permitem uma gestão planeada e eficaz da rega. Os agricultores são os nossos olhos no terreno, permitindo-nos otimizar o uso da água e maximizar a eficiência.

TÉCNICO

DO CENTRO DE INSPEÇÕES DE PULVERIZADORES DO DEPARTAMENTO DE REGA

Uma das minhas funções é assegurar a inspeção dos pulverizadores, essencial para garantir que os agricultores utilizam o equipamento de forma eficiente e segura. Este processo verifica se o equipamento está em boas condições, sem desperdício de produto, e sem falhas que possam comprometer a aplicação dos tratamentos. A inspeção, que é obrigatória, pode ser solicitada pelo próprio agricultor ou realizada de forma preventiva por nós, ao alertarmos o produtor quando o prazo para a nova inspeção está próximo. O nosso foco é assegurar que o equipamento está a funcionar corretamente, incluindo verificação de bicos, manómetros para controlo de pressão, caudal e equipamentos de proteção. Analisamos o caudal e a pressão dos bicos na saída, verificando se estão em conformidade com as tabelas de débito. Para garantir rigor nas inspeções, usamos equipamentos aferidos que avaliam com precisão o estado dos pulverizadores, sempre de acordo com os parâmetros estabelecidos. O objetivo é contribuir para que a aplicação dos produtos decorra de forma segura e eficiente, com impacto positivo nos resultados de cada campanha agrícola.

Organizações de Produtores

que compõem o Conselho

Geral da Anpromis declaram tolerância zero à Figueira do Inferno. Agromais implementa um sistema de controlo de qualidade

A Fgueira-do-Inferno é uma espécie da família Solanaceae, disseminada em todas as regiões do país, sendo frequente a sua presença nos campos irrigados, nomeadamente de milho e hortícolas de primavera-verão. Trata-se de uma planta muito tóxica, conhecida pela acumulação de alcaloides do tropano nas suas folhas, caules, flores e sementes. Os seus efeitos tóxicos manifestam-se, quer nos humanos, quer nos animais, por uma sintomatologia nervosa parassimpática, incluindo descoordenação motora, distúrbios cardiovasculares e respiratórios e vasodilatação periférica. Por estas razões, as Organizações de Produtores que compõem o Conselho Geral da Anpromis solicitam, em conjunto, aos produtores de milho, um redobrado cuidado na eliminação desta infestante por meios mecânicos. Pedem ainda a maior atenção na altura

da colheita do milho, quer aos agricultores como aos prestadores de serviços, de forma que nenhuma Figueirado-Inferno seja colhida pela ceifeira. Esta é uma situação que preocupa os agricultores e as organizações, já que os limites regulamentares autorizados são extremamente reduzidos, pelo que a contaminação de uma carrada coloca em causa não só esse lote, mas também um silo inteiro. Face a este cenário a Agromais implementou em 2024 um sistema de controlo e monitorização de sementes de Figueira-do-Inferno que permite identificar os níveis de presença.

Agricultores

para receber ajudas do PEPAC

tem de cumprir

novas regras novas

Encontra-se publicado em Diário da República, através da Portaria n.º 80-A/2024/1n.º 80A/2024/1, os requisitos da condicionalidade social, no âmbito do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum para Portugal (PEPAC Portugal), no continente. Os requisitos obrigatórios da condicionalidade social abrangem as áreas do trabalho e da segurança e saúde no trabalho e aplicam-se aos beneficiários que recebem pagamentos diretos. De acordo com o diploma, os requisitos relativos à área do trabalho respeitam às condições de trabalho transparentes e previsíveis, designadamente ao dever de informação dos empregadores sobre os aspetos relevantes na prestação de trabalho, aos meios de informação e atualização da mesma, ao período experimental, das condições relativas à previsibilidade mínima do trabalho, em caso de trabalho intermitente, e à garantia de formação, nos termos previstos no Código do Trabalho.

Aplicação Infestantes e FITCount: Contagens Cronometradas

de polinizadores

Em traços gerais a polinização é um processo que consiste basicamente na transferência de pólen de uma planta para outra, permitindo posteriormente a fertilização e a produção de sementes viáveis, sendo na maioria das vezes efetuada pelo vento ou por insetos. Concebida para que qualquer cidadão interessado possa participar na recolha de novos dados sobre o número e diversidade de insetos polinizadores que visitam as flores, a FitCount é uma aplicação que permite ao utilizador efetuar contagens de vários insetos, fazendo a sua identificação. A app inclui um guia de identificação dos grupos de polinizadores existentes em Portugal. As contagens podem ser inseridas no campo, não é necessária uma ligação à internet, sendo salvas e carregadas imediatamente ou a posteriori. Outra característica importante da app é que pode usar o GPS do dispositivo para registar automaticamente a sua localização.

Em 2025 chega ao mercado o primeiro arroz

100% português

A primeira variedade de arroz 100% desenvolvida em Portugal chega ao supermercado em janeiro de 2025, após uma investigação que durou 20 anos. Neste projeto estiveram envolvidos a Lusosem (detentora da semente) e a indústria agroalimentar Novarroz. Recentemente, foi estabelecida uma parceria com o Clube de Produtores do Continente que irá comercializar em exclusivo a nova variedade nas lojas Continente. Ondina Afonso, presidente do Clube de Produtores do Continente, afirmou que esta aliança é “fruto de uma parceria entre investigação, produção, indústria e retalho e que está assente numa abordagem colaborativa e de fileira que o Clube de Produtores Continente promove há mais de 25 anos. Estamos a valorizar a economia rural e assegurando simultaneamente as melhores práticas agrícolas”. “A obtenção da primeira variedade portuguesa de arroz Carolino, que vai estar disponível para os consumidores, é o resultado de vários anos de investigação aplicada e alinhada com o setor do arroz, que só foi possível porque Portugal tem excelentes

valências na área do melhoramento genético de cereais. Tem sido um caminho feito de mãos dadas com a produção, a indústria e a distribuição para que a investigação obtida traga valor acrescentado à fileira do arroz”, referiu Ana Sofia Almeida, investigadora do INIAV/COTArroz.

Agrotejo e Agromais marcaram presença na 60.ª Feira Nacional de Agricultura

Em edição histórica, a Agrotejo e Agromais estiveram presentes em mais uma edição da FNA, partilhando com associados, parceiros e outros visitantes experiências e contactos. Tivemos oportunidade de apresentar os nossos serviços, assim como a estratégia de desenvolvimento para os próximos anos. Através da Agenda Mobilizadora InsectERA, num evento organizado pela Agromais,

dinamizamos um workshop dedicado aos fertilizantes orgânicos derivados de inseto (insect frass). Este evento teve ligar durante a Feira Nacional de Agricultura e teve o privilégio de contar com a presença do Professor Doutor Ivã Guidini Lopes, da Universidade de Agricultura da Suécia (SLU), que expôs o seu trabalho e desenvolvimentos nestes produtos inovadores que estão a chegar ao mercado.

COTR apresentou nova Agenda de Investigação e Inovação do Regadio

O Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio (COTR) vai apresentar a nova Agenda de Investigação e Inovação para o Regadio durante o X Congresso Nacional de Rega e Drenagem que vai ter lugar em Alcobaça, de 13 a 15 de novembro. Segundo o COTR, “a nova agenda quer ser um farol para a criação de políticas públicas especificamente relacionadas com a rega e com o regadio em Portugal, de modo a alinhar o enquadramento legal com as necessidades de uso mais eficiente e sustentável da água de rega, facilitando a sua gestão e impulsionando a sua modernização e desenvolvimento”. A Agenda de Investigação e Inovação para oRegadio reúne contributos e visões das entidades e dos profissionais do setor/fileira do regadio e identifica quais as áreas de investimento e investigação a privilegiar.

A valorização nutricional do milho

O milho é um cereal com relevo na cultura agrícola em Portugal, tendo raízes profundas na história do nosso país, o que é demostrativo da existência de alguns pratos culinários cujo o milho é fundamental, por exemplo a broa de milho, “os milhos” de Trás-os-Montes e Alto Douro, o milho frito na ilha da Madeira. Efetivamente, o milho faz parte da nossa memória, desde logo nas pipocas. Do ponto de vista nutricional o milho tem um relevo bastante interessante, o seu teor em macronutrientes. por 100g de grão seco crú, fornece 368kcal e é composto essencialmente por hidratos de carbono (70,3g), seguido de proteína (9,3g) e de gordura (4,9g), contém ainda 2,9g de fibra, essencialmente fibra insolúvel. No que respeita aos micronutrientes destacam-se as vitaminas do complexo B, niacina (4,2mg) e B6 (0,62mg), tiamina (0,63mg), vitamina E (2 mg), potássio (290mg), fósforo (190mg), magnésio (110 mg), ferro (2,5mg) e zinco (2,4mg). Fornece ainda por 368 kcal por 100g. Acresce o milho, especialmente as variedades pigmentadas são ricas em compostos fenólicos, que são fundamentais para

a sobrevivência da planta. Estes compostos têm também uma ação benéfica na saúde humana, nomeadamente pela sua ação anti-oxidante. Alguns autores sugerem que os benefícios do consumo de milho pigmentado na saúde humana podem ir além da presença de compostos fenólicos e a sua capacidade antioxidante, promovendo ainda a codificação de enzimas antioxidantes e potenciar a regulação da microbiota intestinal e seus metabólitos. (1) Também o seu teor de fibra solúvel e insolúvel pode trazer benefícios para a saúde humana, nomeadamente pela sua ação ao nível do trato gastrointestinal, nomeadamente na prevenção da obstipação e na microbiota intestinal. Voltando ao ponto de partida, introduzir nos nossos pratos o cereal milho integral (independentemente da variedade) é estar a promover a variedade alimentar e a promover a nossa saúde, assim como a promover o consumo de um alimento que faz parte da nossa história e do nosso receituário.

(1) https://www.mdpi.com/2218-273X/14/3/338

“ É CENTRAL PERCEBERMOS QUE NÃO SENDO UM EXCLUSIVO DO NOSSO PAÍS, ESTE DESAFIO GERACIONAL COMUM AO ESPAÇO EUROPEU DEVE CONVOCAR-NOS

A TODOS, AGENTES PÚBLICOS E PRIVADOS, NUMA ABORDAGEM QUE DEVE SER, FORÇOSAMENTE, ESTRATÉGICA E ARTICULADA NO CENÁRIO SOCIOECONÓMICO.

“Estão reunidas as condições para iniciar a implementação das principais medidas de investimento

do PEPAC

no continente”

Rogério Ferreira, diretor-geral de agricultura e desenvolvimento rural (DGADR) e presidente da comissão diretiva da autoridade de gestão do PEPAC no continente, aborda em entrevista a importância de tornar a atividade agrícola atrativa para os jovens, a taxa de execução do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2020 e da gestão do regadio.

Aagricultura é o motor do desenvolvimento rural e ao agricultor são atualmente imputadas muitas responsabilidades além da produção de alimentos: tem de ser um agente que promova a biodiversidade, tem de produzir a sua energia, tem de fazer mais com menos. Considera que a atividade agrícola é suficientemente atrativa para os jovens? Que medidas devem ser tomadas para que tal aconteça? A renovação profunda do setor agrícola a que temos assistido, com particular ênfase na última década e meia, alavancou uma vitalidade crescente do setor agroalimentar, que não foi acompanhada por uma inversão da perceção que a sociedade tem da agricultura e da profissão de agricultor. Importa agir para travar esta tendência e recuperar a capacidade de atração perdida nas últimas décadas. É central percebermos que não sendo um exclusivo do nosso país, este desafio geracional comum ao espaço europeu deve convocar-nos a todos, agentes públicos e privados, numa abordagem que deve ser, forçosamente, estratégica e articulada no cenário socioeconómico. O reconhecimento do real impacto da agricultura e do produtor agrícola na economia tem de ser trabalhado, comunicado ao público em geral de modo a captar maior atratividade, sobretudo, junto das camadas mais jovens da sociedade, sem descurar, obviamente, o conhecimento e a experimentação em rede, cruciais para promover o sucesso de cada nova instalação e uma maior rentabilidade. E o potencial existe. Esta nova geração de agricultores, de jovens empresários, constituem uma força motriz vital para intensificar o processo de transição ecológica, um dos maiores desafios que a agricultura enfrenta. Com um nível de formação elevado, são nativos tecnológicos que dominam os processos de adaptação da agricultura à economia digital, com gosto e saber pelos sistemas de recolha e gestão de dados, soluções de biotecnologia, instrumentos de precisão e tecnologias de comunicação, automação e inteligência artificial, que aplicam nas suas explorações agrícolas. Para quem investe interessa estabilidade, previsibilidade e celeridade no acesso ao financiamento europeu, condição fundamental para ganharmos capital de atração. É com esse foco que trabalhamos todos os dias para fazer chegar o PEPAC no continente à economia real e criando as condições para um

efetivo acompanhamento destes jovens agricultores e dos seus projetos, para salvaguardar o sucesso destes investimentos e o futuro da agricultura. Olhando para o PDR2020 na sua fase de conclusão, temos um exemplo da capacidade de a produção agrícola atrair estas novas gerações. São já 4.470 os jovens agricultores apoiados, aos quais foi atribuído um apoio de 523 milhões de euros, que originou um investimento de 928 milhões de euros e que permitiu beneficiar uma área de 117 mil hectares. O PEPAC no continente está a iniciar a sua operacionalização e vai continuar a priorizar este rejuvenescimento geracional, podendo, agora, o prémio à primeira instalação atingir os 55 mil euros.

As organizações de produtores são essenciais para a competitividade do setor agrícola, mas o seu papel tem vindo a ser fragilizado de forma continuada. Como é que a instituição que lidera trabalha e dá força a estas entidades? Que novas medidas podem ser tomadas para reforçar o papel das OP’s na atividade agrícola?

A robustez registada pelo setor nos últimos anos, onde assistimos a um positivo comportamento das exportações, à valorização da produção e dos produtos, ao aumento da dimensão económica das pequenas explorações e à adoção de práticas agrícolas ambientalmente mais sustentáveis, diz-nos que os produtores têm acesso a mais conhecimento, estão a alcançar escala, e tal também se deve a estarem cada vez mais conscientes dos benefícios da organização. Da nossa parte, trabalhamos para impulsionar esse crescimento. Os fundos no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC) contribuem para este crescente estímulo à organização. Seja no FEADER (PDR2020 e PEPAC no continente), por via de apoios diretos, majorações atribuídas ou dos critérios de seleção que concedem prioridade aos agricultores inseridos em OP ou no âmbito do financiamento assegurado pelo FEAGA (Fundo Europeu de Garantia Agrícola). Mantemo-nos empenhados na implementação dos programas nacionais para apoio ao setor da fruta e dos produtos hortícolas e no apoio ao setor apícola, que alargámos ao PEPAC no continente no concurso aberto em junho passado, no âmbito da Intervenção C.1.1.6 “Apoio à apicultura para a Biodiversidade”. A primeira vez que um programa de desenvolvimento rural apoiou diretamente os apicultores

PARA QUEM INVESTE INTERESSA ESTABILIDADE, PREVISIBILIDADE E CELERIDADE NO ACESSO AO FINANCIAMENTO EUROPEU, CONDIÇÃO FUNDAMENTAL PARA GANHARMOS CAPITAL DE ATRAÇÃO.

e a atividade apícola e que gerou mais de 4.600 candidaturas submetidas, que representam um apoio previsto de cerca de 10 milhões de euros. E não esquecemos as OP reconhecidas em início de atividade. Desde setembro, o PEPAC no continente disponibiliza um envelope financeiro de 1,6 milhões de euros, apoio que estará aberto em contínuo ao longo de um ano. Queremos reforçar a orientação para o mercado e aumentar a competitividade das explorações agrícolas, tanto a curto como a longo prazo, com maior incidência na investigação, na tecnologia e na digitalização, melhorando também a posição dos agricultores na cadeia de valor. Numa outra dimensão, mas não menos importante, estamos junto das OP, trabalhando em rede e no apoio à transferência de conhecimento, dinamizando a interação entre organizações do setor, empresas, entidades públicas, entre outros parceiros relevantes, ouvindo as suas preocupações e partilhando soluções. De olhos postos no futuro, é muito importante que a nova Rede AKIS, se constitua enquanto polo agregador de partilha de conhecimento, inovação e digitalização, ferramentas que o setor necessita. Importa sinalizar a importância das ações que promovem a constituição de organizações de produtores, de modo a permitir a concentração da produção, ganhos de escala, promoção da qualidade e o incremento da remuneração da produção agrícola. Releva, pois, mencionar a existência do instrumento de apoio FEAGA para organizações no setor das frutas e hortícolas através do “Programa Nacional para apoio ao setor da fruta e dos produtos hortícola”.

Recuperando a questão inicial, da agricultura enquanto motor do desenvolvimento rural, os agricultores que já exercem esta atividade lamentam a burocracia excessiva e os atrasos na abertura de medidas no âmbito da política agrícola comum. Como é que a Autoridade de Gestão do PEPAC no continente pode ser uma entidade facilitadora? E que balanço podemos fazer da execução do PDR2020?

A quem investe interessa ter acesso rápido ao financiamento, e à máquina da administração importa contribuir para que a execução financeira dos projetos coincida com a respetiva execução física. É o que estamos a colocar em prática. Pensámos estrategicamente sobre o longo período de vigência do

PDR2020 (10 anos) e tornou-se muito claro que os tempos de decisão e contratação teriam, necessariamente, de ser mais curtos para garantir uma maior previsibilidade no investimento, sobretudo porque o novo PEPAC no continente terá um ciclo mais reduzido. Partimos para o terreno, auscultámos os nossos agricultores e produtores florestais, fomos ao encontro das suas expectativas e alterámos estruturalmente o acesso ao financiamento, construindo um PEPAC no continente mais consistente. Pretende-se que os tempos de resposta do circuito de decisão e contratação se adeque à realidade de quem investe, tornando-se mais ágil e eficaz. Em simultâneo, atuámos sobre o PDR2020 criando as margens de segurança sólidas para o seu encerramento em 2025. Só no último ano e meio, a Taxa de Compromisso do Programa cresceu 14%, situando-se nos 113%, tendo alcançado uma redução do tempo médio no procedimento de decisão de cerca de 59%, e a Taxa de Execução nesta data já ascende a 93%, estimando-se que, no final do corrente ano, possa atingir os 97%. Desta história longa do PDR2020 (uma década) aprendemos que é fundamental agir para superar a morosidade no processo de decisão, a uniformidade dos pareceres emitidos regionalmente e a complexidade da documentação, em particular os orçamentos, debelando ainda as tabelas de custos de referência desatualizadas e a reduzida articulação entre entidades da administração local e central. Para isso, estamos a desenvolver ferramentas informáticas que permitem uma total interoperabilidade dentro do Ministério da Agricultura e Pescas e um reforço com as restantes entidades da administração pública, reduzindo a carga burocrática associada a todo o processo de candidaturas.

Estão previstos novos avisos de candidaturas PDR para este final de ano? À exceção das medidas PDR2020 de apoio ao restabelecimento do potencial produtivo e à estabilização de emergência pós-incêndio, com caráter de emergência por decorrerem de imprevisíveis calamidades ou catástrofes naturais, não estão previstas a abertura de novos avisos nestes três últimos meses do ano. Relembro que o Programa supera os 113% de Taxa de Compromisso e os 93% de Taxa de Execução, pelo que estão reunidas as condições para iniciar a implementação das principais medidas de investi-

mento do PEPAC no continente, agora que a reprogramação já se encontra submetida na Comissão Europeia.

Muitas vezes sabemos de críticas na articulação entre o IFAP e a Autoridade de Gestão do PDR. A gestão partilhada da PAC por estas entidades pode ser um entrave ou criar mais burocracia?

O foco da Autoridade de Gestão incide em garantir a previsibilidade e estabilidade do apoio aos nossos produtores agrícolas e florestais, por via da implementação do PEPAC no continente e do encerramento do PDR2020, pelo que consideramos ser fundamental continuar a fomentar uma total articulação com o IFAP, o Organismo Pagador. Estamos muito empenhados nas medidas de simplificação que introduzimos nos processos de submissão, análise e decisão das candidaturas, para garantir a previsibilidade e fluidez na execução do fundo, que serão, certamente, acompanhadas do lado do IFAP, por medidas que aliem a agilização dos pagamentos à limitação do nível de irregularidades e litigância. Em conclusão, e tendo por base o princípio da boa articulação, importa salientar que todo o desenvolvimento do novo Sistema de Informação tem como ponto de partida toda a informação residente no IFAP, em particular no parcelário.

A gestão da água de rega (captações particulares ou publicas) sendo partilhada pelos ministérios da Agricultura e Ambiente, traz alguns entraves ao setor agrícola, nomeadamente ao nível dos licenciamentos. Está previsto algum mecanismo para aligeirar a burocracia e facilitar o investimento em regas mais eficientes?

É uma evidência que a necessidade de obtenção de licenciamentos por entre entidades com tutelas distintas condicionou o processo de decisão de candidaturas, promovendo uma eficaz execução dos programas de desenvolvimento rural. Como já disse anteriormente, sabíamos que tínhamos margem para melhorarmos o processo de operacionalização, quer por via da simplificação de procedimentos, quer da linguagem comunicacional utilizada. Foi essa a nossa missão no último ano e meio, e o conjunto de alterações já operacionalizadas confirmam que este é um caminho possível. Consolidámos uma operacionalização que garante previsibilida-

ESTAMOS A DESENVOLVER FERRAMENTAS INFORMÁTICAS QUE PERMITEM

UMA TOTAL

INTEROPERABILIDADE DENTRO DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E PESCAS E UM REFORÇO COM AS RESTANTES ENTIDADES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, REDUZINDO A CARGA BUROCRÁTICA

ASSOCIADA A TODO O PROCESSO DE CANDIDATURAS.”

ALÉM DE UMA ANÁLISE E DECISÃO CÉLERE NESTE CONCURSO DE APOIO AO INVESTIMENTO NA CONSTRUÇÃO DE CHARCAS EM EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS

FOI, GLOBALMENTE, APROVADO UM AUMENTO DA CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO SUPERIOR A SEIS MILHÕES DE M3 DE ÁGUA, MAIS DE METADE CANALIZADA PARA AS EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS LOCALIZADAS NO ALENTEJO.

de e estabilidade a quem investe, reduzindo tempos de análise e decisão das candidaturas e construindo um novo balcão dos Fundos da Agricultura mais ágil e interoperável. A título de exemplo, e ainda no âmbito do PDR2020, desencadeámos um mecanismo de simplificação e aceleração dos processos de licença para construção de pequenos reservatórios de água, como as charcas, a que se designou de “Via Verde” para os processos de licenciamento. Este trabalho conjunto entre entidades da Administração Pública, a AGPEPAC no continente e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), deu frutos ainda no último concurso de apoio ao investimento na construção de charcas em explorações agrícolas, e foi operacionalizado no PEPAC no continente. Hoje, temos processos de elaboração e submissão das candidaturas mais simples, com preenchimentos automáticos de formulários na maioria dos concursos e com interoperabilidade entre entidades. Além de uma análise e decisão célere neste concurso de apoio ao investimento na construção de charcas em explorações agrícolas foi, globalmente, aprovado um aumento da capacidade de armazenamento superior a seis milhões de m3 de água, mais de metade canalizada para as explorações agrícolas localizadas no Alentejo. Ganhámos menos burocracia, mais eficiência e tempos de decisão mais curtos. Acreditamos que o novo Sistema de Informação que permitiu a interoperabilidade com informação proveniente da Agência Portuguesa

do Ambiente irá desmaterializar todo o processo documental no processo de candidatura.

Que mecanismos de financiamento podem os agricultores utilizar para acréscimos na eficiência de utilização da água de rega?

Os nossos agricultores estão na linha da frente deste combate contra padrões climáticos cada vez mais imprevisíveis e assimétricos, investindo em tecnologias de precisão, de utilização da água para rega, mais eficientes e sustentáveis, otimizando a sua eficiência.

E estão atentos, adotando boas práticas agrícolas sustentáveis e diversificando as espécies, variedades e cultivares agrícolas, optando por selecionar as mais resistentes à seca e menos dependentes do recurso água, o que auxilia na mitigação das ameaças associadas à escassez hídrica. Os sistemas de rega para distribuição da água na parcela são considerados eficientes, permitindo uma eficiência hídrica média de 88%. Temos assistido a um aumento da eficiência hídrica dos sistemas hidráulicos dos principais aproveitamentos hidroagrícolas, situando-se nos 75%, registando-se, por isso, uma melhoria significativa face ao previsto no Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água (PNUEA, 2012), de 65% para 2020. Esta evolução está também refletida na redução dos consumos de água ocorrida entre 2002 e 2016 (-48%). Nos anos seguintes, em muitas regiões, os consumos têm estado relativamente estáveis e condicionados pelos vários períodos de escassez hídrica, mas cujo recurso a sistemas de rega eficientes contribuíram e para a sustentabilidade económica e ambiental da agricultura. A medida do Uso Eficiente da Água no PDR2020 revelou-se fundamental para apoiar e otimizar os resultados para a promoção da eficiência hídrica. Mais de 100 mil hectares apoiados, num total de mais de 42 milhões de euros de apoio aprovado. Importa, assim, assegurar a continuidade deste apoio no PEPAC no continente promovendo a utilização da Intervenção C.1.1.1.2 “Uso eficiente da água”, fundamental para o processo de melhoria contínua da eficiência hídrica no setor agrícola, o qual já conta com uma área apoiada de 130 mil hectares, com um pagamento anual ao total de agricultores que se estima em sete milhões de euros. A par desta medida, é fundamental continuar a valorizar e promover os modos de produção sustentáveis, em particular a produção integrada e a agricultura biológica, as quais já correspondem a mais de 388 mil hectares e 660 mil hectares apoiados, respetivamente.

Os sistemas de produção animal e a qualidade dos produtos de origem animal

O projeto INTAQT é um projeto financiado pelo programa H2020 da Comissão Europeia, com duração de cinco anos (2021-2026). Durante este período, o projeto pretende avaliar a relação entre os sistemas de produção animal e a qualidade dos produtos de origem animal: carne bovina, aves e produtos lácteos.

Atualmente, os consumidores estão cada vez mais conscientes da qualidade dos produtos lácteos, demonstrando uma crescente atenção tanto à qualidade do leite utilizado na produção destes produtos, como à sua origem geográfica.

Os produtos lácteos com Denominação de Origem Protegida (DOP) distinguem-se por uma profunda ligação entre a área geográfica de produção, a alimentação dos animais, o conhecimento humano e os elementos locais que influenciam a sua qualidade e características. Sabe-se, igualmente, que diversos fatores podem influenciar as propriedades do leite e do queijo, tais como a raça do animal, a idade, o estado de saúde, a fase de lactação, o regime alimentar e a sazonalidade.

Entre os queijos DOP disponíveis no mercado, o Parmigiano Reggiano destaca-se como um dos mais exportados,

consumidos e reconhecidos mundialmente. E, por isso, no âmbito do projeto INTAQT, o Consórcio Parmigiano Reggiano e a Universidade de Bolonha, ambos parceiros, uniram-se para conduzir um estudo com o objetivo de investigar as diferenças nas caracterís-

ticas sensoriais percecionadas pelos consumidores em função de variações na dieta alimentar das vacas leiteiras. Este estudo baseou-se nas respostas de 119 participantes, com idades entre os 18 e os 70 anos. Foram utilizadas duas amostras de Parmigiano Reggiano, ambas com 24 meses de cura, produzidas a partir de leite de vacas sujeitas ao mesmo regime alimentar, exceto no tipo de forragem — forragem verde ou feno. No que respeita à informação que os consumidores consideraram mais relevante nos rótulos dos produtos, os aspetos mais valorizados foram o tempo de cura, a origem do leite e a data de validade. Relativamente ao tipo de Parmigiano Reggiano mais consumido, a maioria dos participantes indicou preferir queijos com cura entre 20 e 26 meses.

As duas amostras testadas não evidenciaram diferenças significativas em termos de gosto global, que incluiu aparência, cheiro, sabor e textura. Contudo, quando solicitada a descrição visual, os participantes identificaram algumas diferenças, descrevendo o Parmigiano Reggiano produzido com leite de vacas alimentadas com feno como tendo atributos típicos de um Parmigiano Reggiano

de meia cura, utilizando expressões como “leite fresco” e “solubilidade”. Por outro lado, o queijo produzido a partir de vacas alimentadas com forragem verde foi descrito como tendo características geralmente associadas a um Parmigiano Reggiano DOP mais curado, com uma coloração mais amarelada e usaram termos como “crosta de queijo” e “pungente”. No que respeita à avaliação sensorial, foram identificadas diferenças consoante o género dos consumidores que participaram no estudo. As mulheres atribuíram maior importância a atributos específicos como o sabor a “leite fresco”, “doçura” e “granulosidade”, fatores que in-

fluenciaram a sua apreciação do queijo. Já os homens mostraram-se mais atentos à cor amarelada e à falta de doçura. Este estudo oferece assim uma visão sobre o impacto da alimentação das vacas leiteiras nas caraterísticas sensoriais do queijo Parmigiano Reggiano DOP, e os resultados revelam nuances que poderão interessar aos produtores e aos consumidores atentos à qualidade e origem dos produtos lácteos europeus, podendo ser adaptado à realidade portuguesa.

Se pretende explorar com maior detalhe as conclusões deste estudo convidamo-lo a consultar o artigo completo e também o website do projeto INTAQT.

ARTIGO COMPLETO

O funcionamento do mercado voluntário de carbono em Portugal

SÓCIA DA VDA, CO-RESPONSÁVEL PELA ÁREA DE PRÁTICA DE AMBIENTE & CLIMA

ODecreto-Lei n.º 4/2024, de 5 de janeiro, instituiu o Mercado Voluntário de Carbono (MVC) e estabeleceu as regras para o seu funcionamento. Em especial, veio prever os princípios que regem o sistema, quem são os seus participantes, os projetos de carbono admissíveis, o seu ciclo de vida e os instrumentos complementares para a execução plena das regras previstas no referido decreto-lei.

CONSULTOR PRINCIPAL DA VDA, INTEGRA A ÁREA DE PRÁTICA DE AMBIENTE & CLIMA

Foram também já publicadas, em 2 de outubro de 2024, as seguintes portarias que regulamentam aspetos instrumentais ao diploma:

a) Portaria n.º 239/2024, que estabelece os montantes das taxas a cobrar no âmbito do MVC pelas entidades supervisora (APA –Agência Portuguesa do Ambiente, I.P.) e gestora (ADENE – Agência para a Energia) da plataforma de registo;

OS MERCADOS VOLUNTÁRIOS DE CARBONO SÃO CADA VEZ MAIS UM MECANISMO A QUE OS VÁRIOS INTERVENIENTES DOS DIVERSOS SETORES DE ATIVIDADE ADEREM, DESIGNADAMENTE, PARA PODEREM COMPENSAR AS SUAS EMISSÕES E PROCURAREM ATINGIR A NEURALIDADE CARBÓNICA. NO PRESENTE ARTIGO, ABORDAM-SE AS REGRAS PARA O FUNCIONAMENTO DO MERCADO VOLUNTÁRIO DE CARBONO (MVC) EM PORTUGAL E DE QUE MODO SE PERSPETIVA O SEU FUTURO.

b) Portaria n.º 240/2024, que fixa os critérios de qualificação para o exercício da atividade de verificador independente de projetos de mitigação de emissões de gases com efeito de estufa e identifica a ADENE como entidade gestora do sistema de qualificação no âmbito do MVC;

c) Portaria n.º 241/2024, que estabelece os requisitos gerais da plataforma eletrónica de registo do MVC. Note-se que, como o próprio nome indica, o mercado instituído é voluntário, ou seja, em tudo depende da vontade dos agentes do mercado, funcionando a regulação da lei numa lógica de requisitos mínimos do MVC e do seu funcionamento, sendo que, em tudo o que não esteja aí previsto, a transação de créditos no mercado fica sujeita ao princípio da liberdade contratual.

O PROCEDIMENTO PARA A GERAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE CRÉDITOS DE CARBONO O cálculo da pegada carbónica associada a uma determinada atividade é hoje uma premissa indispensável ao desenvolvimento sustentável e competitivo de qualquer empresa ou indústria independentemente do seu ramo de atividade. Para neutralizar ou contrabalançar essa pegada carbónica, dois mecanismos são indispensáveis: a redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e o sequestro de carbono. Nos termos da lei, podem gerar créditos de carbono quer as reduções de GEE, quer o sequestro de carbono.

Para se obter créditos de carbono ao abrigo do regime jurídico do MVC é necessário cumprir alguns passos, que se podem sintetizar do seguinte modo:

previstos na lei, tais como a demonstração do cumprimento do princípio da adicionalidade do projeto, o método de quantificação da redução das emissões ou do sequestro de carbono, os riscos associados e formas de mitigação, entre outros.

É este relatório de projeto que o promotor deverá inscrever na plataforma pública digital de registo do MVC e assegurar o seu desenvolvimento.

Para o efeito, porém, o projeto terá de ser previamente validado por verificadores externos independentes (validação inicial) que, assim, atestam a conformidade do projeto com os requisitos da metodologia aprovada aplicável.

As metodologias para cada tipologia de projetos serão elaboradas por uma Comissão de Acompanhamento do MVC, ou podem ser propostas por outras entidades ou particulares interessados, que as submetem à aprovação da APA.

MITIGAÇÃO DE EMISSÕES

A efetiva redução de emissões de GEE ou sequestro de carbono, em resultado da execução do projeto, tem de ser periodicamente verificada por entidades verificadoras externas independentes (verificação periódica), com vista a verificar a efetiva redução ou sequestro, tendo por referência a metodologia aplicável e o plano e relatório de monitorização do promotor estabelecido na submissão do projeto.

O promotor do projeto deve apresentar periodicamente relatórios de monitorização e reportar quaisquer alterações substanciais ao projeto que ponham em causa o seu funcionamento.

EMISSÃO DOS CRÉDITOS

ao nível da biodiversidade e do capital natural, sendo por isso expectável que o preço da sua transação seja superior ao dos demais créditos de carbono. Podem ainda ser emitidos créditos de carbono verificados (CCV), i.e., após verificação por verificador independente da efetiva redução ou sequestro, ou créditos de carbono futuros (CCF), i.e., previamente a uma efetiva redução ou sequestro, com base numa estimativa do promotor validada por verificador independente. Os CCF não poderão exceder 20% dos créditos totais de carbono previstos para o período de duração do projeto.

TRANSAÇÃO COMERCIAL

DOS CRÉDITOS DE CARBONO O promotor do projeto pode vender a terceiros os créditos de carbono que resultem de emissões mitigadas conforme certificação por verificadores externos independentes e que tiver registado na plataforma.

A transação comercial dos créditos não constitui uma obrigação, mas antes uma faculdade. No entanto, caso a opção seja a da venda dos créditos a terceiros, de modo a rentabilizar os projetos desenvolvidos, essa transação será feita diretamente entre os interessados, por via contratual, podendo ser mediada por intermediários, exigindo cautela na salvaguarda de todos os aspetos específicos que assistem a este mercado, designadamente quanto à credibilidade dos créditos, valorização, etc..

Uma vez realizada a transação dos créditos, a mesma é registada na plataforma digital, identificando-se e atualizando-se o titular último dos créditos.

UTILIZAÇÃO DOS CRÉDITOS

DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DO PROJETO DE CARBONO

O promotor do projeto desenvolve um relatório do projeto, do qual devem constar um conjunto de dados

A cada tonelada de CO2e reduzida ou sequestrada (1tCO2e), por uma atividade desenvolvida por um projeto de carbono registado na plataforma do MVC e que seja verificada por uma entidade externa independente, corresponde 1 crédito de carbono.

Os créditos podem ser “Créditos de Carbono” ou “Créditos de Carbono +” correspondendo estes últimos aos que, para além do sequestro, incorporem significativos benefícios adicionais

Os créditos registados na plataforma digital de registo público podem ter utilizações distintas:

– Compensação de emissões; – Contribuição positiva a favor da ação climática.

Estas utilizações podem ser feitas pelo próprio promotor do projeto que utiliza os créditos de carbono por si emitidos, ou por outras entidades que são emissoras de GEE, que adquirem os créditos de modo a compensar as suas

emissões ou para contribuírem positivamente para a ação climática. Uma vez usados, os créditos são cancelados na plataforma digital de registo público, para que não possam vir a ser usados nova e repetidamente, evitando assim a dupla contabilização dos mesmos e situações de greenwashing que em nada acrescem à neutralidade carbónica.

PROJETOS ADMITIDOS

NO MVC

No MVC é admitida a inscrição de todo e qualquer projeto que seja desenvolvido em Portugal e que vise a redução de emissões de GEE ou o sequestro de carbono. Esses projetos tanto podem basear-se em soluções de base tecnológica como em soluções de base natural. De registar que o MVC pretende também promover co-benefícios ambientais e socioeconómicos, tais como:

• proteção da biodiversidade e do capital natural;

• melhoria da qualidade da água e do solo;

• maior resiliência do território aos efeitos das alterações climáticas, incluindo o risco de incêndio florestal;

• rentabilização económica de áreas com baixo potencial de produção, mas alto potencial de conservação;

• criação de emprego e de novos modelos de negócio e a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias. O diploma atribui prioridade, numa primeira fase, às tipologias de projetos de sequestro florestal de carbono que contribuam para a conservação do capital natural e maior resiliência da paisagem, incluindo a redução da vulnerabilidade aos incêndios. São também definidas áreas prioritárias para o desenvolvimento de projetos, em especial as áreas localizadas em RedeNatura2000 e Rede Nacional de Áreas Protegidas, ou afetadas por incêndios. Os projetos aí desenvolvidos devem permitir potenciar benefícios como a promoção da biodiversidade e do capital natural, promovendo a emissão de Créditos de Carbono +. No entanto, tal não significa a desconsideração de outros projetos, como, por exemplo, de agropecuária, desde que contribuam ativamente para a mitigação de emissões.

OS PRINCÍPIOS A CUMPRIR POR TODOS OS PROJETOS

Alguns princípios foram estabelecidos com vista a garantir um contexto de transparência e confiança favorável aos investidores na participação do esforço coletivo de transformação, num horizonte próximo, numa sociedade neutra em carbono.

Assim, e de modo a assegurar a fiabilidade dos créditos de carbono como contributo válido para a neutralidade carbónica, o diploma estabelece um conjunto de princípios, dos quais se podem destacar:

• Adicionalidade: princípio basilar que exige que a redução de emissões ou o sequestro associados ao projeto vão além do situação inicial antes da execução do projeto, ou seja, do cenário de referência (adicionalidade física) e que as atividades não sejam exigidas por imperativos legais (adicionalidade legal), admitindo-se que o projeto possa ser financeiramente atrativo como resultado da certificação da atividade pelo MVC (adicionalidade financeira);

• Acompanhamento: previsão de um sistema de monitorização, reporte e verificação robusto para atestar periodicamente o volume de redução de emissões ou de sequestro de carbono atribuíveis ao desenvolvimento do projeto;

• Permanência: impõe a consideração de mecanismos que permitam a salvaguarda de situações de reversão das emissões sequestradas (p.e., devido a uma catástrofe natural) com vista à manutenção do sequestro de carbono. O enunciado destes princípios evidencia a preocupação de garantir um referencial de regras garantísticas aos agentes do mercado, que procuram créditos de carbono credíveis e que lhes permitam evitar o “greenwashing”.

QUEM PODE PARTICIPAR?

De entre as diferentes entidades intervenientes neste mercado destacam-se:

• Os promotores de projetos de mitigação de GEE;

• Os verificadores independentes que atestam a conformidade dos projetos com as metodologias aplicáveis e certificam o volume de toneladas reduzidas ou sequestradas que podem fundamentar a emissão de créditos de carbono; e

• Os utilizadores finais, pessoas individuais como coletivas, públicas ou privadas, que adquirem ou utilizam créditos de carbono para compensar as suas emissões ou para contribuirem favoravelmente para a ação climática.

PRÓXIMOS PASSOS

E O FUTURO DO MVC

A plena operacionalidade do MVC depende, ainda, de mais alguns instrumentos que estão por realizar. Desde logo, está ainda por publicar a portaria que regulamenta as condições e capitais mínimos relativos aos seguros para a cobertura de risco de reversão de emissões.

Tendo em conta a exposição dos projetos a riscos de vária ordem, é prevista a possibilidade de os promotores de projetos celebrarem seguros para cobrir reversões de emissões não intencionais, isto é, quando provocadas por fenómenos naturais, designadamente cheias, secas, incêndios e outras situações de força maior, desde que não imputáveis ao promotor.

Alternativa ou cumulativamente, os promotores podem também optar pelo recurso à Bolsa de Garantia pública criada ao abrigo deste regime com vista a contribuir para a manutenção dos créditos de carbono adquiridos pelos investidores e assim gerar confiança no mercado.

Outros dois aspetos essenciais para o pleno funcionamento do MVC são:

• A designação da Comissão Técnica de Acompanhamento, órgão colegial liderado pela APA e responsável pela elaboração das metodologias ou pela apreciação das metodologias que lhe sejam apresentadas por terceiros; e

• O desenvolvimento da plataforma digital de registo público dos agentes do mercado, projetos de carbono e respetivos créditos – esta plataforma constitui o centro nevrálgico de todo o sistema com a informação sobre a evolução dos projetos, bem como da geração de créditos e sua utilização.

O MVC deverá ser uma aposta contínua nos próximos anos para que os países possam atingir os seus objetivos climáticos. Tanto assim terá de ser, que o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPPC) concluiu, no seu Relatório sobre as Alterações Climáticas 2022, que também “as remoções de dióxido de carbono são necessárias para alcançar zero emissões líquidas de CO2 e GEE, tanto a nível global como nacional, contra-

balançando as emissões residuais que não são possíveis de evitar”. É também absolutamente relevante para que Portugal possa atingir os seus objetivos climáticos, sobretudo, tendo em conta que a Lei de Bases do Clima, aprovada pela Lei n.º 98/2021, de 31 de dezembro, consagra a obrigação de o Governo estudar e avaliar a possibilidade de antecipar em cinco anos a neutralidade climática, isto é, até 2045.

A União Europeia, por seu turno, sentiu a necessidade de criar um contexto favorável ao bom desenvolvimento destes mercados voluntários no espaço da União, estabelecendo requisitos mínimos que garantam credibilidade, comparabilidade e valorização dos projetos de carbono e dos respetivos créditos que possam ser transacionados comercialmente.

Para o efeito, a Comissão Europeia apresentou uma proposta de regulamento para a certificação das remoções de carbono que, no decurso das negociações com o Conselho e o Parlamento Europeu, apesar de, em geral, se aplicar apenas projetos de remoção de carbono, viu o seu âmbito estendido também

ao armazenamento de carbono em produtos duradouros (como a madeira) e à captura de carbono e armazenamento no solo relacionada com o uso dos solos e com a atividade agrícola (carbon farming).

Portugal foi mais rápido no desenho de um quadro legislativo próprio e em janeiro de 2024 publicou o diploma aqui analisado, com o propósito de estabelecer um conjunto de regras mínimas para garantir segurança aos agentes do mercado, no sentido de assegurar que os projetos de carbono desenvolvidos no país são credíveis, com valor acrescido, e, assim, transacionáveis comercialmente.

O diploma português é mais generoso ao admitir todo o tipo de projetos desde que visem a redução ou o sequestro, mas está genericamente alinhado com o que a UE visa regular futuramente nesta matéria. Assim, é expectável que os projetos de carbono, por exemplo, associados à silvicultura ou à agricultura, possam no futuro, com os ajustes que se verificarem necessários, vir a ser também certificados a nível da UE, reforçando ou aumentando o seu valor de mercado.

MERCADO VOLUNTÁRIO DE CARBONO EM PORTUGAL

Reconhecimento dos serviços ambientais da agricultura e floresta “é um grande triunfo”

Nélia Aires, engenheira florestal e técnica da AGROGES, destaca as oportunidades e desafios que o Mercado Voluntário de Carbono (MVC) pode trazer para agricultores e produtores florestais em Portugal. Em entrevista, Nélia Aires explica como a implementação de práticas sustentáveis pode gerar créditos de carbono, passíveis de certificação e transação, permitindo finalmente remunerar o sequestro de carbono e a redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE). Contudo, aponta também as incertezas sobre a operacionalização deste mecanismo de mercado.

No âmbito do Mercado Voluntário de Carbono, de que forma os agricultores e produtores florestais poderão eventualmente rentabilizar este serviço de ecossistema que presta ao captar carbono?

O reconhecimento, por parte do mercado voluntário de carbono, de que a atividade agrícola e florestal gera um conjunto amplo de serviços ambientais (ou de ecossistema) que devem ser va-

lorizados economicamente, é por si só já um grande triunfo, e a remuneração pelo sequestro de carbono resultante destas atividades peca só por tardia. O mecanismo de mercado que está a ser preparado visa duas tipologias de projetos: projetos que promovam o sequestro e o armazenamento de carbono da atmosfera e projetos que promovam a diminuição da quantidade de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) liber-

tados para a atmosfera. Assim, no meu entender, os agricultores e proprietários florestais têm neste mecanismo de mercado a oportunidade para apresentarem projetos enquadrados numa (ou em ambas?) das tipologias, desde logo, promovendo novas práticas agrícolas, implementando novas tecnologias ou novos processos que diminuam as emissões de GEE resultantes da sua atividade (por exemplo, através da utilização de eletri-

cidade com origem renovável, da eletrificação da frota, do aumento de eficiência de máquinas ou de equipamentos, da redução da aplicação de fertilizantes e fitofármacos, etc.), ou, por outro lado, aumentando a capacidade de sequestro de carbono nas áreas sob sua gestão (melhorando a produtividade de povoamentos florestais existentes ou diminuindo o risco da ocorrência de incêndios através de práticas de gestão ativas, aumentando a área de floresta e garantindo a sua manutenção através de práticas de gestão florestais sustentáveis). Com a adoção de práticas de gestão que diminuam as emissões da atividade ou que aumentem a sua capacidade de sequestro e de armazenamento de carbono, os agricultores e os produtores florestais poderão estar aptos a apresentar projetos que venham a gerar créditos de carbono, créditos estes passíveis de serem certificados e transacionados no mercado voluntário de carbono que se está a constituir. Assim, poderão ser finalmente remunerados alguns serviços ambientais prestados pelos agricultores e produtores florestais. Contudo, são ainda muitas as dúvidas existentes para que se possa desde já assumir que este mecanismo de mercado vai ser suficientemente atrativo e compensatório de todas as práticas de gestão que irão conduzir aos objetivos pretendidos.

Que tipologia de projetos geradores de créditos de carbono se podem considerar?

Segundo o regulamento do MVC que se está a preparar em Portugal podem ser emitidos créditos de carbono de duas tipologias de projetos distintos: projetos que resultem na diminuição de emissões de carbono para a atmosfera e projetos que resultem no aumento do sequestro e do armazenamento de carbono da atmosfera. Há ainda uma outra tipologia de créditos de carbono que incorporam outros benefícios ambientais ao nível da biodiversidade e do capital natural (chamados créditos +) e que provavelmente terão um valor distinto dos créditos de carbono “normais”. Nesta fase, é muito difícil quantificar ou mesmo estimar a quantidade de créditos de carbono que existem. Primeiro, porque nem todas as áreas agrícolas ou

florestais apresentam condições de elegibilidade ao MVC tal como ele está a ser preparado. Segundo, porque ainda não são conhecidas as metodologias de quantificação de créditos de carbono para cada uma das tipologias de projetos estabelecidas. Terceiro, porque a quantificação dos créditos gerados será sempre estabelecida comparativamente a um cenário de referência, e ainda não está claro como vão ser definidos os cenários de referência (vai haver um cenário de referência tipo para cada região? para cada tipologia de floresta? cada projeto vai ter de definir o seu próprio cenário de referência?). Portanto, há ainda muitas questões por esclarecer que não permitem responder a esta questão.

De que forma poderão submeter projetos neste sentido?

Uma das poucas informações que já se conhece, pela publicação no passado dia 2 de outubro de três portarias que tentam começar a operacionalizar o referido mercado, é de que a submissão de projetos de carbono será efetuada numa plataforma eletróncia a desenvolver pela ADENE – Agência para a Energia, com a supervisão da APA – Agência Portuguesa do Ambiente. Nessa plataforma deverão ficar registados todos os agentes do mercado (detentores e compradores de créditos, verificadores independentes) e será nessa plataforma que os promotores de projetos devem fazer o registo e a monitorização dos projetos de carbono, mediante o pagamento de um conjunto de taxas que também já são conhecidas (taxas de abertura e manutenção de conta, taxas de registo de projetos e taxas de transação de créditos). O processo iniciar-se-á então com a apresentação de uma candidatura de projeto ao MVC na referida plataforma (que ainda não está operacional). A candidatura posteriormente é validada por um verificador independente devidamente qualificado (também já são conhecidos os critérios de qualificação destes verificadores independentes), sendo esta validação inicial um pré-requisito ao registo do projeto na plataforma. Com a validação inicial, o projeto ficará disponível para investimento e os créditos gerados e validados ficarão dis-

Nélia Aires

ENGENHEIRA FLORESTAL E TÉCNICA DA AGROGES “ O RECONHECIMENTO, POR PARTE DO MERCADO VOLUNTÁRIO DE CARBONO, DE QUE A ATIVIDADE AGRÍCOLA E FLORESTAL GERA UM CONJUNTO AMPLO DE SERVIÇOS AMBIENTAIS (OU DE ECOSSISTEMA) QUE DEVEM SER VALORIZADOS ECONOMICAMENTE, É POR SI SÓ JÁ UM GRANDE TRIUNFO,

poníveis para transação (os processos de geração de créditos de carbono e de transação desses créditos devem ocorrer sempre via plataforma). A geração de créditos ao longo do desenvolvimento do projeto estará sujeita a medidas de monitorização e de verificação permanentes. Atualmente está já disponível um formulário de manifestação de interesse para apresentação de propostas de projetos (https://mvcarbono.pt/pt/ projetos/) que visa orientar o trabalho da Comissão Técnica de Acompanhamento no desenvolvimento das metodologias e na operacionalização da referida plataforma.

Como está a AGROGES a preparar-se para poder ajudar os agricultores e produtores florestais a integrar este Mercado Voluntário de Carbono?

A AGROGES está a preparar-se para poder atuar em várias vertentes: 1) Como entidade consultora para a aplicação das metodologias definidas com vista à quantificação de créditos

de carbono em áreas agrícolas e/ou florestais e para a preparação e submissão de projetos de carbono na plataforma;

2) Como entidade verificadora independente, em projetos do setor de atividade “Agricultura” e “Uso do Solo” sempre que esteja garantida a total independência e imparcialidade da ligação ao promotor, e desde que não exista incompatibilidade com a função anterior.

3) Como entidade consultora para o desenvolvimento de ferramentas informáticas e digitais que facilitem o processo de recolha de dados e de gestão de informação para os processos de monitorização e de verificação ao longo do desenvolvimento do projeto.

Uma vez que a AGROGES já elaborou vários estudos que contemplam a quantificação do sequestro de carbono em áreas agroflorestais e florestais, aplicando uma metodologia desenvolvida com

base nos guidelines do IPCC que são aplicados para a elaboração do Inventário Nacional de Emissões (NIR) pela APA, a empresa pondera eventualmente vir também a poder contribuir para a definição e o estabelecimento de metodologias específicas de várias tipologias de projetos, nomeadamente, projetos de (re)arborização com as principais espécies florestais (eucalipto, sobreiro, pinheiro-manso e pinheiro-bravo).

Desta forma, os agricultores e produtores florestais poderão contar com o apoio da AGROGES quer para o estabelecimento e submissão de projetos de carbono e para a quantificação dos créditos gerados aplicando as metodologias aprovadas, mas também para a verificação e validação dos critérios de elegibilidade dos projetos, e para a monitorização e verificação futura do desenvolvimento desses projetos, nomeadamente através da consultoria para o desenvolvimento de ferramentas informáticas de gestão de informação que

“ COM A ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE GESTÃO

QUE DIMINUAM AS EMISSÕES DA ATIVIDADE OU QUE AUMENTEM A SUA CAPACIDADE DE SEQUESTRO E DE ARMAZENAMENTO DE CARBONO, OS AGRICULTORES E OS PRODUTORES FLORESTAIS PODERÃO ESTAR APTOS A APRESENTAR PROJETOS QUE VENHAM A GERAR CRÉDITOS DE CARBONO.

ajudem os promotores a centralizar e a tratar os dados recolhidos na exploração que resultem da implementação do projeto, de modo a gerar reports de monitorização e de verificação ao longo do tempo.

Mário Antunes Áurea Santos

Alexandra Fernandes

Maria José Pires

Carla Petulante

Sílvia Rama

AGROTEJO

Unir para prosperar

A Agrotejo – União Agrícola do Norte do Vale do Tejo nasceu da vontade de cerca de 600 agricultores que reconheceram a importância de uma estrutura associativa sólida para fortalecer a agricultura nacional, perante a adesão à agora denominada União Europeia. Os agricultores uniram-se para construir uma associação que hoje desempenha um papel essencial no setor agrícola português. Com um cor-

po técnico altamente qualificado, a Agrotejo oferece apoio próximo e especializado em áreas como licenciamentos, candidaturas a fundos comunitários, formação e gestão de projetos, ajudando a manter a competitividade e resiliência da região num mercado agrícola cada vez mais global. É com esta visão de futuro e espírito inovador que a Agrotejo continua a impulsionar o desenvolvimento da agricultura.

A Agrotejo é uma associação de agricultores sediada na Golegã, com uma delegação na Chamusca, e tem como missão prestar apoio técnico e administrativo aos agricultores. A área de influência é abrangente, indo de Abrantes a Alpiarça/Almeirim, no entanto, alargar a área de atuação é um dos objetivos da Agrotejo. Neste momento, contamos com um grupo alargado de agricultores associados

na região da Serra d’Aires e Candeeiros e assinámos recentemente um protocolo com a Associação de Horticultores do Sudoeste Alentejano, o que nos permite expandir a nossa atividade a novas regiões. O apoio que prestamos está dividido em duas vertentes principais: por um lado, ajudamos com candidaturas anuais e projetos de investimento, e, por outro, apoiamos os agricultores em licencia-

mentos e no cumprimento das obrigações legais. O nosso conhecimento aprofundado da região, a proximidade aos agricultores e a nossa presença no meio rural permitem-nos oferecer um serviço completo e ajustado às necessidades locais. A Agrotejo é um ponto de apoio permanente, sendo o elo entre os agricultores e as exigências administrativas e técnicas que enfrentam atualmente.

A Agrotejo é uma entidade devidamente certificada e faz formação à medida das necessidades dos associados. Todos os anos nos candidatamos a programas de financiamento para a formação. Quando conseguimos esse apoio, disponibilizamos as formações de forma gratuita. Quando não temos financiamento, o custo será suportado pelo formando. Como somos uma associação agrícola, as nossas formações têm sido muito direcionadas para esse setor. No entanto, estamos cada vez mais a alargar a área formativa. Atualmente, é muito mais abrangente, havendo conteúdos que podem interessar a outros setores económicos. As nossas formações são sempre abertas à população interessada, sem ter de ser associado da Agrotejo. Estamos sempre atentos à legislação e antecipamos as necessidades dos agricultores, mas também estamos disponíveis para receber sugestões de formações. Paralelamente à área formativa, presto ainda apoio técnico aos agricultores na elaboração de cadernos de campo e na candidatura às ajudas anuais.

Sílvia

DEPARTAMENTO

Temos um serviço de aconselhamento agrícola, estando sempre atentos à legislação e oportunidades que valorizam o trabalho dos agricultores. Fazemos também um acompanhamento para garantir que cumprem toda a legislação em vigor. Neste sentido, a nossa relação com o setor é de extrema proximidade. Estamos sempre disponíveis para aprender mais e disponibilizar novos serviços. Por exemplo, este ano fiz uma formação no âmbito do programa VITIS para dar resposta à necessidade de um cliente que pretendia investir na vinha. Conseguimos assim dar apoio em qualquer área.

A AGROTEJO É UM PONTO DE APOIO PERMANENTE, SENDO O ELO ENTRE OS AGRICULTORES E AS EXIGÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E TÉCNICAS

QUE ESTES ENFRENTAM ATUALMENTE.

Há 37 anos que estou na Agrotejo. Eu tenho a responsabilidade de manter a faturação toda em ordem e o funcionamento contabilístico da Agrotejo. Desenvolvemos um trabalho em prol do sucesso do agricultor. Acredito que a região e os agricultores beneficiam de ajudas muito graças ao apoio do movimento associativo, como é exemplo a Agrotejo.

Áurea

DEPARTAMENTO

Sou responsável pelos licenciamentos pecuários e pelos licenciamentos de furos. Além disso, colaboro com a equipa em candidaturas do Pedido Único, na atualização dos cadernos de campo e em outras tarefas que respondem às necessidades dos agricultores. Ao longo dos anos, vamos conhecendo os técnicos destes serviços públicos, o que facilita bastante o tratamento destas questões burocráticas, especialmente numa altura em que as plataformas de trabalho dos organismos oficiais se tornam cada vez mais complexas. O agricultor entrega-nos os seus assuntos e sabe que pode ficar tranquilo, pois asseguramos o cumprimento de todos os requisitos e tratamos de cada etapa com rigor.

Na Agrotejo, oferecemos um acompanhamento completo aos agricultores, proporcionando um verdadeiro serviço “chave na mão”. Cuidamos das candidaturas e fazemos a gestão de parcelário, incluindo todas as atualizações de direitos e áreas necessárias para cada campanha. Além disso, desenvolvemos projetos de investimento tanto de grande como de pequena dimensão, abrangendo o programa LEADER e as medidas Next Generation, com apoio na execução e nos pedidos de pagamento.

Estamos também ao lado dos agricultores em todos os licenciamentos exigidos para os seus projetos, mantendo contacto constante com as várias entidades do Estado envolvidas, para garantir que todos os processos avançam sem obstáculos. Prestamos este apoio tanto a agricultores associados da Agrotejo como a não-associados. Com mais de 23 anos de experiência, sabemos que, atualmente, a atividade agrícola depende muito do trabalho de gabinete e de plataformas eletrónicas, tanto de entidades do Ministério do Ambiente, quanto do Ministério da Agricultura. A nossa função é simplificar essa interação, uma vez que os processos e requisitos exigidos pelos diversos organismos podem ser complexos até para nós, que lidamos com eles diariamente. É precisamente para isso que existimos: facilitar o acesso do agricultor, associado, ou não, da Agrotejo, a estas entidades e assegurar que cada fase do processo decorre da forma mais eficiente e descomplicada possível.

Carla Petulante
DEPARTAMENTO TÉCNICO AGROTEJO
Alexandra Fernandes DEPARTAMENTO TÉCNICO AGROTEJO
Maria José Pires DEPARTAMENTO ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO
Rama
TÉCNICO AGROTEJO
Santos
TÉCNICO AGROTEJO

Liderar a transformação agrícola

Nas escolas de gestão, como aquela em que trabalho, fala-se muito da transformação digital das organizações. É normal, dada a importância das mudanças tecnológicas em curso. Mas a mudança não se limita a organizações de alguns setores: todos são tocados por esta vaga transformadora. Para a navegar, todos os setores, incluindo o agrícola, precisam de liderança. A liderança, o processo de influenciar para a mudança, é necessário para trazer às organizações, designadamente as do setor, novas maneiras de trabalhar e de pensar. Eis algumas possibilidades de atuação. Muitas outras haverá, estou certo, que os leitores desta publicação conhecerão muito melhor que eu. Mas eis alguns pontos de reflexão. A agricultura, como todos os setores da atividade humana é crescentemente um setor intensivo em conhecimento. O conhecimento e o engenho humano permitem encontrar novas soluções. Os Países Baixos são um exemplo de como novas pub

abordagens tecnológicas permitem inovar, criando estufas que ultrapassam a falta de terra, de sol, de pessoas. O conhecimento pode ajudar a ultrapassar limitações. Tendo estudado nos Países Baixos, lembro-me de ter ouvido uma ideia recorrente naquele país: Deus criou o mundo, os holandeses criam os Países Baixos. E, na falta de terra, inventam-na para alimentar a produção agrícola. O adubo dessa invenção tem um nome: conhecimento e inovação. Em segundo lugar a sustentabilidade traz desafios e oportunidades. Os agricultores são em última análise os zeladores da terra. Essa zeladoria acontece num mercado é certo (com preços, regras e competição), mas poderá por vezes ser fonte de valor. A terra tem valor desde que esse valor seja comunicado e percebido. O produto de um local pode ser uma commodity, igual aos outros ou pode ter um valor específico. Contar as histórias do produto, complementá-las com atividades criadoras de valor pode ajudar a diferenciar e a criar novos segmentos. Um produto criado numa zona ambientalmente protegida pelos seus agricultores-utilizadores pode ter mais valor.

Finalmente, os produtos da terra podem ser apresentados de muitas formas. Recordo há anos ter visto num supermercado em Tóquio uma meloa embrulhada numa caixa forrada a veludo. Portugal não é o Japão, mas aquela meloa era um presente raro, temporário e valioso, não uma mera meloa. E, no entanto, a meloa não deixava de ser ... uma meloa. Creio haver aqui uma lição em termos de marketing.

Ou seja, em tempos de mudança, suspeito que os profissionais do setor devem ser agricultores, líderes e especialistas em marketing e tecnologia. Parecendo muito, não é certamente pouco. Creio, no entanto que é este mesmo o desafio que se coloca ao setor num mundo em que mesmo a terra e o seu uso não param de mudar.

PS: Este artigo foi feito sem qualquer intervenção de IA. Quaisquer erros são mesmo da responsabilidade do autor.

O SECTOR DA BATATA EM PORTUGAL

Panorama, Desafios e Oportunidades

O Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP) faz uma análise do estado atual da fileira da batata, abordando desafios e oportunidades.

“A batata e a mulher, quanto mais tortas, melhores são.” Este antigo provérbio português reflete a profunda ligação da batata à cultura popular do país. Desde tempos remotos, a batata tem desempenhado um papel central na alimentação e economia das famílias portuguesas, sendo cultivada de

norte a sul e presente em muitos pratos tradicionais. Hoje, o setor da batata continua a ser vital para a agricultura nacional, mas enfrenta novos desafios e oportunidades num contexto cada vez mais globalizado.

A produção de batata em Portugal, apesar das dificuldades, mantém-se

como uma das culturas agrícolas mais relevantes, tanto para o consumo interno como para exportação. No entanto, com a pressão dos mercados externos, as variações de preços e as questões de sustentabilidade a ganhar importância, é crucial analisar o estado atual do setor e perspetivar o seu futuro.

A produção portuguesa de batata revelou tendências interessantes em termos de preços e desenvolvimento da indústria de processamento. Neste artigo, analisaremos o estado atual da fileira, os desafios e as oportunidades que se apresentam ao setor.

O SETOR DA BATATA

EM PORTUGAL

Portugal possui condições climáticas favoráveis para o cultivo da batata, sendo que as principais regiões produtoras estão localizadas no litoral norte e centro do país, bem como nas regiões da Beira Interior. A diversidade de solos e climas permite a produção de diferentes variedades, desde batata de consumo fresco até batata de semente.

A área de batata em Portugal, manteve-se estável até 2016, no entanto a partir de 2017, verificou-se uma tendência de redução acentuada, cuja redução culminou nos 43% em 2023 relativamente a 2010. Neste ano, Portugal teve uma área cultivada com batata na ordem dos 14.478 ha, muito próxima da área de 2022, sinal de alguma estabilização depois da queda anteriormente referida. A área de regadio é predominante, representando 81,5% da área total, enquanto a área de sequeiro representa 18,5% da área total.

A produção na última década apresenta alguma variação, assistindo-se a movimentos de quedas e crescimento de volume ao longo dos anos, não sendo um comportamento homogéneo. Nos últimos 10 anos, a produção atingiu as 539.873 toneladas em 2014, que contrastam com as 325.081 toneladas de 2023. Ainda assim, tendo em conta a redução de área, a produtividade tem aumentado consideravelmente ao longo dos últimos 10 anos, correspondendo a 23,2% desde 2013 a 2023 (18 225 kg/ha em 2013 vs 22 454 kg/ha em 2023). A região com maior produção é o Ribatejo e Oeste com 32,2%, seguindo-se a Beira Litoral com 19,5% e Trás-os-Montes com 13,1%.

Como principais razões para esta heterogeneidade nos volumes de produção aponta-se o facto da prática de rotação de culturas que afeta a área disponível

para a plantação de batatas a cada ano, que muitas vezes advém do preço de mercado do produto, que influencia a decisão dos agricultores para determinadas campanhas. Adicionalmente, a batata é uma cultura sensível às condições climáticas, e as variações anuais no clima em Portugal podem impactar significativamente a produção. Secas, chuvas excessivas ou geadas tardias podem reduzir o rendimento. Nos últimos anos, as mudanças climáticas têm agravado a imprevisibilidade dos padrões meteorológicos.

PREÇO DA BATATA

2023 foi um ano marcado por um enorme aumento do preço da batata. O aumento dos custos de produção, associado à inflação e às condições climáticas adversas que afetaram o rendimento das colheitas, levou a uma subida do preço médio no mercado. O preço médio da batata de consumo, de acordo com dados de mercado, variou entre 0,47€/kg da batata de conservação e os 0,62€/kg da batata nova. O perfil de cotações ao longo do ano é muito heterogéneo no tempo e nos diferentes mercados.

Por outro lado, a batata de semente, essencial para garantir a qualidade e a sustentabilidade da produção, também sofreu oscilações de preço. O custo de importação da batata de semente, principalmente oriunda de países como a Holanda e França, tem impactado os preços internos.

CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA DE PREPARAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE BATATA

Nos últimos anos, o setor da preparação e conservação de batata em Portugal tem registado um crescimento considerável. O aumento da procura por produtos processados, como batata frita, pré-cozida e congelada, tem impulsionado a instalação de novas unidades industriais e a modernização das existentes. Este crescimento tem contribuído para o aumento do valor acrescentado do setor e para a criação de novos empregos, tanto na produção como no processamento.

A tendência de consumo por conveniência, com produtos prontos a cozinhar ou já preparados, reflete-se no aumento da procura por batata processada. Grandes cadeias de supermercados e a indústria de restauração são alguns dos principais clientes desta indústria, que tem visto a procura aumentar de forma constante.

O volume de negócios de empresas com atividade na preparação e conservação de batatas (indústria alimentar), cresceu cerca de 47% entre 2018 e 2022 (75 M€ para 110 M€), empregando cerca de 880 pessoas.

BALANÇA COMERCIAL E INFLUÊNCIA

DOS MERCADOS EXTERNOS

A balança comercial de batata em Portugal tem sido caracterizada por uma

elevada dependência de importações. A produção interna não cobre o consumo, sendo a oferta nacional complementada por batata importada, principalmente de França e Espanha. Por outro lado, Portugal exporta uma parte da sua produção de batata, sobretudo a União Europeia e para mercados africanos. O setor da batata em Portugal teve em 2023 uma orientação exportadora de 25,2%, um grau de autoaprovisionamento (Produção/ Consumo Aparente) de 53,5%. O consumo aparente, que reflete a produção mais a importação, retirando-se o que é exportado, ultrapassou as 600 mil toneladas, para uma produção que ronda as 325 mil toneladas.

A balança comercial é deficitária, tendo os mercados externos uma forte influência nos preços e na disponibilidade do produto, no entanto, o valor médio de exportação, é superior ao de importação.

Quanto ao consumo humano, tem-se mantido estável ao longo dos anos, rondando os 90kg/habitante/ano – em 2023 este valor ascendeu aos 93kg. Os valores demonstram a relevância do produto na dieta dos portugueses.

ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO E SUSTENTABILIDADE DO SETOR

Um dos grandes desafios do setor da batata em Portugal é a sua organização. Apesar de existirem associações de produtores e cooperativas que têm procurado agregar e defender os interesses dos agricultores, a fragmen-

tação da produção continua a ser um problema. A existência de muitas pequenas explorações dificulta a negociação conjunta e a implementação de estratégias comuns para enfrentar os desafios de mercado e reduzir custos. O grau de organização do setor é muito reduzido, e circunscrito ao Ribatejo e Oeste.

A sustentabilidade do setor também tem ganho destaque, com os produtores a adotarem práticas mais sustentáveis, como a redução do uso de pesticidas e fertilizantes, a utilização de técnicas de agricultura de precisão e o investimento em sistemas de irrigação eficientes. A integração de práticas sustentáveis é essencial para garantir a competitividade da batata portuguesa, tanto no mercado interno como no externo.

OPORTUNIDADES

E

DESAFIOS

PARA A FILEIRA

O setor da batata em Portugal enfrenta um conjunto de desafios, mas também apresenta várias oportunidades. Entre os principais desafios estão a concorrência externa, a volatilidade dos preços, o custo dos fatores de produção e a fragmentação da estrutura produtiva. Além disso, as alterações climáticas têm tido um impacto cada vez mais relevante, afetando a produtividade, rentabilidade e a qualidade das colheitas, culminando numa tendência de redução de área em Portugal. Por outro lado, existem várias oportunidades a explorar. A crescente procura por produtos de qualidade, de origem local e sustentável abre es-

paço para os produtores portugueses aumentarem a sua competitividade. Além disso, o desenvolvimento da indústria de transformação e o investimento em inovação e novas tecnologias podem melhorar a eficiência do setor e aumentar o seu valor acrescentado. Com a crescente valorização dos produtos locais e de origem sustentável, há uma oportunidade para os produtores nacionais aumentarem a sua quota de mercado e promoverem a produção interna. A diversificação da oferta, com batatas de diferentes variedades e características, como a batata-doce ou as batatas para fritar, também pode ser uma estratégia para aumentar o consumo de batata nacional. Há também espaço para crescer no que diz respeito aos regimes de qualidade – Produção Certificada IGP: Batata de Trás-os-Montes IGP e Batata-doce de Aljezur IG.

A organização da fileira, através de cooperativas e associações de produtores, será fundamental para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades. Um setor mais organizado e sustentável estará mais bem preparado para competir no mercado global e garantir a viabilidade a longo prazo da produção de batata em Portugal.

ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO É ESSENCIAL

Setor da batata em Portugal tem potencial de crescimento

O setor da batata em Portugal enfrenta desafios importantes, desde o aumento dos custos de produção até aos impactos das alterações climáticas. Contudo, existem oportunidades de crescimento e a organização da produção terá forte impacto neste desenvolvimento.

Sérgio Ferreira, presidente da Porbatata, partilha a sua visão sobre o estado atual e o futuro desta cultura essencial à economia de base rural.

A Porbatata – Associação da Batata de Portugal, tem como principal missão a promoção da batata nacional e a defesa dos interesses dos seus produtores e comerciantes. Esta organização tem sido fundamental para fomentar a união do setor e promover a produção de batata, tanto para o mercado de fresco como para a indústria. No entanto, o setor enfrenta desafios signifi -

cativos, como explica Sérgio Ferreira, presidente da Porbatata. “O setor da batata em Portugal caracteriza-se por um setor cada vez mais profissional e competitivo, contanto com operadores bem estruturados tanto para o mercado de fresco como para a indústria. A produção de batata de indústria tem apresentado um aumento significativo na área de produção, reflexo da estabilidade e melhor gestão do risco que oferece aos produtores. No caso da batata para o mercado de fresco, as últimas campanhas foram positivas, tendo o mercado oferecido valores mais elevados à produção. É um setor que se tem esforçado para aumentar o seu nível de organização, no entanto ainda tem um longo caminho a percorrer,” revelou Sérgio Ferreira.

Quando questionado sobre a competitividade da produção de batata em Portugal, Sérgio Ferreira destacou que “a competitividade da produção de batata em Portugal enfrenta desafios, principalmente pela crescente pressão dos custos de produção e pela dependência de fatores externos. Apesar disso, o mercado de batata de indústria tem-se tornado atraente para os agricultores, devido à previsibilidade de preços oferecida pelos contratos com as empresas transformadoras. No entanto, as áreas de produção têm vindo a diminuir desde 1986, o que afeta a oferta interna e agrava a balança comercial”. No entanto, o presidente da Porbatata alerta para a ausência de uma Organização Comum de Mercado (OCM) para a batata, o que contribui para a volatilidade do mercado e a fragilidade dos produtores perante as oscilações de preço. “Há uma crescente organização entre os produtores, mas é necessário um esforço adicional para que exista o reconhecimento para a batata como fazendo parte de uma COM”, sublinhou. Sérgio Ferreira acrescentou ainda que a competitividade da produção nacional é “fortemente afetada pela grande capacidade de produção de batata da Europa”, que influencia o mercado de fresco, “sem que a nossa produção tenha dimensão suficiente para contrariar isso”. O presidente da Porbatata defendeu ser necessário “ganhar escala para poder resistir melhor às oscilações do mercado”.

DESAFIOS DO SETOR

DA BATATA

Os desafios que afetam a cultura da batata são variados e incluem o aumento dos custos energéticos e dos fatores de produção, bem como a redução das substâncias ativas para o controlo de pragas. Nesta equação junta-se ainda a “disponibilidade de água e quantidade suficiente”. “A gestão de água é outro fator crítico”, afirmou Sérgio Ferreira. Num cenário de alterações climáticas, a questão da água torna-se ainda mais premente, mas o trabalho passa também pela introdução de novas variedades, um processo que demora muitos anos. “As alterações climáticas representam um desafio transversal para

todas as culturas agrícolas. Na batata, a produção de sequeiro é particularmente vulnerável, tendo esta campanha de 2024 sido uma das piores neste tipo de produção. Com a introdução de novas variedades é possível obter maior resistência às condições climáticas adversas, como a seca e as doenças associadas a climas mais extremos. No entanto, o desenvolvimento de novas variedades é um processo moroso, e que deveria ser acelerado com a implementação de novas técnicas genómicas de melhoramento vegetal, algo que a União Europeia ainda está a regular”, comentou.

Os agricultores, contudo, não baixam os braços e têm trabalhado para encontrar estratégias que lhes permitam contornar estes desafios e continuar a ser competitivos. “A produção está cada vez mais preparada com tecnologia e soluções digitais. É hoje uma cultura de precisão com uma grande evolução campanha a campanha. Gere cada gota de água disponível, utiliza apenas os fertilizantes e fitofarmacêuticos necessários para que a cultura seja cada vez mais produtiva com menor número de recursos. O setor está consciente da importância da sustentabilidade e defende-a diariamente. Importa salientar que a batata, sendo um alimento fundamental na dieta mediterrânea, mantém-se como uma cultura de elevada importância”, pormenorizou Sérgio Ferreira. Apesar dos desafios, o futuro do setor parece promissor. “O setor da batata em Portugal tem muito potencial para crescer, mas esse crescimento depende essencialmente de uma melhor organização da produção e da cadeia de abas-

O SETOR DA BATATA EM PORTUGAL CARACTERIZA-SE

POR UM SETOR CADA VEZ MAIS PROFISSIONAL E COMPETITIVO, CONTANTO COM OPERADORES BEM ESTRUTURADOS TANTO PARA O MERCADO DE FRESCO COMO PARA A INDÚSTRIA.

tecimento. Infelizmente as últimas décadas foram de decréscimo de área de produção”, disse.

O caminho para um futuro de sucesso será pela criação de mais organizações de produtores e um enfoque na inovação tecnológica. Estes dois fatores “serão essenciais para garantir um crescimento sustentável e competitivo, permitindo ao setor capitalizar as janelas de oportunidade que atualmente se perdem”, comentou Sérgio Ferreira, concluindo que “o aumento da consciencialização do consumidor em relação ao produto nacional e à importância da sustentabilidade cria oportunidades para o crescimento do setor”.

Guia de Fatores de Produção para a Agricultura Biológica

AGRO-SANUS

Este Guia tem como principal objetivo divulgar os fatores de produção autorizados em agricultura biológica, na atividade de produção vegetal, compatível com a legislação comunitária em vigor e aplicação desde 1 de janeiro de 2022, e comercializados em Portugal. São produtos que nem sempre o distribuidor ou o agricultor sabe que são autorizados em agricultura biológica, pois nem sempre essa indicação está no rótulo. As práticas prioritárias são, a adubação verde, os estrumes de animais de pecuária biológica e a rotação de culturas, incluindo pelo menos uma cultura leguminosa/proteaginosa.

Como Liderar Empresas Familiares

MIGUEL PINA

E FILIPE

S. FERNANDES

Este ensaio analisa a gestão dos recursos hídricos em Portugal Continental. Apesar de a disponibilidade per capita ser confortável, a irregularidade temporal e a assimetria espacial provocam situações de escassez. É urgente identificar as políticas públicas mais adequadas, porque a discussão sobre a gestão da água determina o modelo económico que pretendemos para Portugal.

ÁGUA EM PORTUGAL

Portugal destaca-se pela sua capacidade de escoamento anual médio per capita, superando muitos países do Centro e Sul da Europa, mas enfrenta sérios desafios de escassez hídrica devido às alterações climáticas e acentuadas assimetrias na precipitação ao longo do ano. A esta situação, soma-se a preocupante taxa de perda de água que varia entre 30 a 50% nas zonas urbanas e agrícolas, respectivamente. Nesta conversa, Rodrigo Proença de Oliveira, autor do livro «Água em Portugal» e especialista em gestão hídrica, Maria da Conceição Cunha, especialista em recursos hídricos, e Jorge Froes, engenheiro agrónomo, abordam a necessidade urgente de reformas tanto na arquitetura legal e institucional do sector, como na maneira como financiamos e gerimos este recurso vital.

CLIENFARMS

ClieNFarms é um projeto de Ação de Inovação cujo objetivo é co-desenvolver e ampliar soluções sistêmicas e localmente relevantes para promover fazendas neutras e resilientes ao clima em toda a Europa.

AGROMAIS

Mais de 30 anos de cooperação num território único.

ÍNDICES DE VEGETAÇÃO UTILIZADOS NA GESTÃO DE REGA

Aplicação da ferramenta Agrozoom do IrristratTM

Com o objetivo de apoiar a tomada de decisão na gestão de rega, o Departamento de Rega e Agricultura de Precisão da Agromais CRL (DRAP), estabeleceu uma parceria com a Hidrosoph Lda., disponibilizando aos seus associados, em 2024, a plataforma Irristrat™. A crescente necessidade de gerir os recursos hídricos de forma eficiente, devido à cada vez maior escassez de água e às alterações climáticas, associada à maior importância que os agricultores da Agromais atribuem à agricultura de precisão e às tecnologias de apoio à decisão, como instrumentos para garantir a recorrência de elevadas produtividades e um uso da água sustentável, conduziram à utilização do software Irristrat™ como uma ferramenta essencial e vantajosa nas tomadas de decisão. Neste artigo, pretendemos explicar como os índices de vegetação derivados de imagens de satélite podem ser usados para otimizar a rega, e reportar como foi utilizada a ferramenta Agrozoom do Irristrat™ para o apoio à decisão durante a campanha de 2024. Os índices de vegetação são resultados matemáticos derivados de dados de sensores multiespectrais que podem ser montados em plataformas de satélite, aviões ou drones e que ajudam a avaliar o estado de desenvolvimento, nutricional e fitossanitário, e o vigor vegetativo das culturas.

Para a cultura do milho, são particularmente úteis dois índices de vegetação:

• O NDVI, Índice de Vegetação da Diferença Normalizada, que mede a diferença relativa entre as radiações refletidas pela vegetação nos espectros do vermelho e do infravermelho próximo. No caso do milho, é amplamente usado para a monitorização do desenvolvimento da cultura ao longo do

seu ciclo. Um valor mais alto de NDVI indica um maior vigor das plantas na parcela, o que sugere a presença de condições de crescimento mais favoráveis.

• O EVI, Índice de Vegetação Melhorado, embora sendo semelhante ao NDVI, corrige efeitos atmosféricos e de saturação em zonas de vegetação muito densa. O EVI é útil quando a cultura atinge o seu porte máximo altura em que o NDVI já não capta toda a variabilidade da vegetação devido à saturação em valores muito altos.

Um outro índice importante para a avaliação do estado hídrico das plantas, é o MSI Índice de Stress Hídrico, já que o stress por deficiência de água impacta diretamente na reflectância das folhas e, por isso, nos valores dos índices de vegetação.

Para a cultura do milho, que tem um crescimento sensível as alterações do estado hídrico do solo, a monitorização contínua por imagens de satélite pode fornecer informação essencial para a gestão de rega. Satélites como o Sentinel-2 e a constelação Planet fornecem imagens multiespectrais com resolução suficiente para captar alterações de vigor em tempo útil de se ajustar rapidamente a rega.

O Irristrat™ é a plataforma de gestão de rega da Hidrosoph, que apoia os técnicos da Agromais a monitorizar a rega de forma mais eficiente e precisa, permitindo desta forma uma maior disponibilidade de informação de apoio aos seus produtores/associados. O Irristrat™ utiliza dados provenientes de diferentes fontes, como imagens de satélite, estações meteorológicas, sensores no solo e nas plantas e previsões meteorológicas, para gerar recomendações de rega específicas para cada parcela com uma determinada cultura, solo e sistema de rega.

No caso da cultura do milho, a plataforma permite aos agricultores, de forma simples e intuitiva:

1. Consultar as necessidades de rega da cultura para os próximos 7 dias;

2. Monitorizar continuamente o estado hídrico do solo e o desenvolvimento da cultura;

3. Adaptar a rega de forma dinâmica ajustando-a às variações espaciais e temporais da cultura no campo.

O Irristrat™ facilita ainda a criação de relatórios específicos para as parcelas, em que é possível visualizar toda a informação respeitante à gestão de rega, permitindo desta forma aos técnicos do DRAP a elaboração de relatórios semanais gerado com base na informação disponível, bem como tendo em conta o seu

NDVI CONSTELAÇÃO PLANET COM 2 A 3 M DE RESOLUÇÃO ESPACIAL.

histórico, a fase do ciclo em que se encontra a cultura instalada e previsões meteorológicas. Sendo particularmente útil para os produtores que têm que reportar a eficiência da gestão de rega e justificar tomadas de decisão com base em dados concretos, como os produtores que aderiram à Intervenção C.1.1.1.2. Uso Eficiente de Água.

A ferramenta Agrozoom do Irristrat™, para além oferecer uma interface cartográfica onde os produtores podem observar imagens de satélite das suas parcelas, apresenta ainda mapas de índices de vegetação como o NDVI, o EVI, o MSI e outros, que mostram visualmente a distribuição do vigor e do estado hídrico do milho no campo, diferenciado por cores para mais fácil interpretação. Uma funcionalidade chave do Agrozoom, é a sua capacidade de comparar os dados atuais das médias dos índices de vegetação nas parcelas com dados históricos. Isso significa que os produtores podem acompanhar a forma como estes índices da parcela evoluem em relação aos anos anteriores, permitindo identificar padrões de crescimento. Por exemplo, durante as fases críticas da floração e en-

chimento do grão, é possível verificar se a parcela está a responder à rega de forma adequada e ajustar as dotações de rega mediante as reais necessidades.

AGROZOOM COM REPRESENTAÇÃO

Em 2024 o Agrozoom foi utilizado ao longo da campanha pelos técnicos do Departamento de Rega e Agricultura de Precisão da Agromais CRL para as recomendações de rega enviadas semanalmente aos seus produtores. No caso do milho, o Agrozoom permitiu identificar a fase de desenvolvimento da cultura, o seu vigor vegetativo e o seu estado fitossanitário e nutricional, tendo em conta que o NDVI aumenta rapidamente durante o desenvolvimento vegetativo do milho, atinge o seu pico alguns dias antes da floração e entra em declínio durante a maturação ou caso a cultura fique sujeita a condições de stress.

Valores mais baixos de NDVI e EVI foram utilizados para indicar condições de stress causado por rega deficitária, permitindo assim emitir o reajuste dos calendários das dotações de rega em tempo útil, antes que o rendimento das culturas fosse afetado.

O acompanhamento do comportamento dos índices de vegetação ao longo do tempo nas várias parcelas permitiu ainda implementar estratégias de rega adequadas ao potencial produtivo das culturas, de forma a melhorar a eficiência hídrica e reduzir os custos com a água e energia.

Apesar dos avanços significativos na utilização de índices de vegetação para a gestão de rega, ainda existem alguns desafios. A precisão das imagens de satélite pode ser afetada por fatores como a resolução e a nebulosidade que limita a frequência da disponibilidade de dados. No entanto, as perspetivas são promissoras nesta área. Inovações como satélites de maior resolução e menor tempo de revisita e o uso de inteligência artificial para prever padrões de crescimento e necessidades hídricas abrem novas oportunidades. A inclusão destas tecnologias em plataformas de apoio à decisão, como o Irristrat™, poderá conduzir a uma cada vez maior eficiência do uso da água, particularmente em culturas exigentes como o milho.

ECRÃ INICIAL DO IRRISTRAT™ COM CALENDÁRIO DE REGA.
DO ÍNDICE EVI2 POR ALTURA DA FLORAÇÃO DA CULTURA DO MILHO.
IMAGEM DE AGROZOOM COM GRÁFICO DE EVOLUÇÃO DO NDVI DA CULTURA DO MILHO EM RELAÇÃO A UMA REFERÊNCIA.

Utilização de drones para aplicação de fitofármacos deve ser licenciada com brevidade

Os agricultores têm vindo a conquistar ganhos de eficiência com recurso a novas tecnologias.

Há muito que pedem a autorização para aplicação localizada de fitofármacos com recurso a drones. O estudo GO PhytoDron concluiu que este processo é seguro. Contudo, a União Europeia continua a proibir esta prática.

O projeto GO PhytoDron é um projeto financiado pela União Europeia, que decorreu em Espanha em 2023. Um consórcio que reuniu empresas e academia teve como objetivo avaliar a utilização de drones na aplicação de fitofármacos, estudando a sua segurança. A metodologia deste projeto passou por estudos multidisciplinares (o consórcio avaliou parâmetros como segurança do operador e da operação, a qualidade da aplicação, a eficácia, os resíduos e, entre outros, a exposição das pessoas). No âmbito do GO PhytoDron foram realizados dias de campo para demonstrar o potencial deste método e ainda decorreram ações de sensibilização. As conclusões indicam que os drones podem

melhorar a precisão e reduzir o impacto ambiental. “Os drones são ferramentas válidas para agricultura de precisão que contribuem para atingir metas de sustentabilidade, ao mesmo tempo em que atendem aos requisitos e necessidades dos agricultores. Um estudo holístico, realista e pragmático provou que o tratamento com drones é diferente do tratamento aéreo tripulado, acelerando os processos da União Europeia em direção à sua aprovação”, explicam os responsáveis pelo estudo. No âmbito do GO PhytoDron foi ainda possível concluir que “os drones podem trabalhar com altura de aplicação variável e diferentes velocidades de avanço; estes equipamentos podem usar volumes

menores de água e trabalhar com outro tipo de configuração de bico e podem executar aplicações direcionadas e localizadas”. O consórcio adianta ainda que o próximo passo seria a regulamentação europeia para utilização de drones na aplicação de fitofármacos. No entanto, ainda não é possível.

DGAV ESTÁ “ATIVAMENTE” EMPENHADA EM VIABILIZAR O USO DE DRONES

Susana Guedes Pombo, diretora-geral da Direção-geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), explicou que “ao contrário da maioria dos outros Estados-Membros, Portugal fez uso da possibilidade prevista na referida

diretiva de derrogar essa proibição em situações de comprovada necessidade, como em casos de emergência fitossanitária, e sempre que é demonstrado que a intervenção terrestre não é viável. Nestas situações pontuais, as aplicações aéreas podem ser autorizadas, quer sejam realizadas por aeronaves tripuladas ou por drones, desde que cumpram os requisitos específicos estabelecidos para estas exceções”. A mesma responsável sublinhou que que “a DGAV está ativamente empenhada em viabilizar o uso de drones para a aplicação de fitofármacos em Portugal, enfrentando, no entanto, limitações impostas pela legislação europeia”, mais acrescentando que “a DGAV considera essencial que essa legislação seja atualizada para acompanhar as inovações tecnológicas e as necessidades dos agricultores”. Recentemente, esteve em discussão uma proposta de regulamento que visava substituir a atual diretiva sobre o uso sustentável de produtos fitofarmacêuticos e que incluía uma abordagem mais moderna e flexível para o uso de drones. “A DGAV contribuiu de forma ativa nesse debate, defendendo uma mudança significativa que permitisse uma experimentação segura e o uso mais amplo dessa tecnologia, reduzindo a dependência do atual regime de derrogação, que é restritivo e apenas aplicável em casos muito pontuais”. Contudo, a proposta foi retirada da agenda pela Comissão Europeia, o que significa que, por enquanto, o uso de drones e de aeronaves tripuladas para aplicação de fitofármacos em Portugal permanece sujeito ao regime de autorização excecional, conforme estabelecido pela Lei n.º 26/2013. Susana Guedes Pombo afirmou que “a DGAV continua a acompanhar e a participar em discussões no âmbito europeu, com o objetivo de facilitar a utilização desta tecnologia no futuro, de forma a apoiar os agricultores e promover práticas agrícolas mais modernas e sustentáveis”.

“NÃO HÁ QUALQUER JUSTIFICAÇÃO” PARA ESTA RESTRIÇÃO

Os agricultores pedem inúmeras vezes que haja uma alteração desta legislação. João Coimbra, produtor de milho

e um especialista em agricultura de precisão, destacou o papel crucial dos drones nesta área. “Os drones tornaram-se uma ferramenta indispensável na agricultura de precisão, sendo atualmente o meio mais eficaz para monitorizar parcelas agrícolas. Eles revolucionaram aplicações que antes eram realizadas por máquinas no solo. Um exemplo é a aplicação de bioestimulantes, uma prática já autorizada e cuja importância temos vindo a comprovar.” João Coimbra recordou que “com a agricultura de precisão, conseguimos identificar, numa parcela de cinco hectares por exemplo, que apenas meio hectare necessita de um tratamento específico, como a aplicação de um herbicida. Isto é crucial e está autorizado em muitos países. No entanto, em Portugal, continuamos a importar produtos de países que utilizam estas ferramentas, mas que, paradoxalmente, nos são vedadas. Não há qualquer justificação para esta restrição, visto que os estudos demonstram que o uso de drones é seguro e eficaz, reduzindo significativamente o número de aplicações.” O mesmo responsável concluiu ainda que “o drone permite observar e identificar variações nas parcelas, possibilitando aplicações localizadas e diferenciadas. Parece, mais uma vez, que a Europa está a tomar decisões isoladas, sem considerar a realidade prática”.

“É FUNDAMENTAL LICENCIAR A APLICAÇÃO

COM RECURSO AOS DRONES”

A CropLife Portugal - Associação da Indústria da Ciência para a Proteção das Plantas defendeu que os drones são ferramentas válidas para uma agricultura de precisão e que é urgente a regulamentação, ainda que admita que possam ser necessários alguns estudos. “A aplicação de produtos fitofarmacêuticos (PF) por drones apresenta diversas oportunidades, seguras e eficazes, nos vários cenários de pulverizações em banda, de aplicação de iscos, pulverizações localizadas, tratamentos em terrenos de difícil acesso (socalcos, arrozais, ou quando o trânsito dos tratores é impraticável). Ao

“ A DGAV ESTÁ ATIVAMENTE EMPENHADA EM VIABILIZAR O USO DE DRONES PARA A APLICAÇÃO DE FITOFÁRMACOS EM PORTUGAL, ENFRENTANDO, NO ENTANTO, LIMITAÇÕES IMPOSTAS PELA LEGISLAÇÃO EUROPEIA.

ENTENDEMOS QUE É FUNDAMENTAL LICENCIAR A APLICAÇÃO COM RECURSO AOS DRONES, E ESTABELECER UM QUADRO REGULAMENTAR PARA A SUA UTILIZAÇÃO, QUER SEJA EM SEDE PRÓPRIA OU INTEGRADO NAS APLICAÇÕES TERRESTES, DEIXANDO DE SER EQUIPARADA A PULVERIZAÇÃO AÉREA.”

Susana Guedes Pombo DIRETORA-GERAL DA DGAV
João Cardoso
DIRETOR EXECUTIVO DA CROPLIFE

PARECE MAIS UMA

VEZ QUE A EUROPA ESTÁ A TOMAR DECISÕES ISOLADAS, SEM CONSIDERAR A REALIDADE PRÁTICA.

nível da precisão representam, uma enorme mais-valia no sentido de otimizarem a eficiência da pulverização e reduzirem a exposição do operador durante a mesma”, disse João Cardoso. O diretor executivo da CropLife Portugal comentou ainda que “entendemos que é fundamental licenciar a aplicação com recurso aos drones, e estabelecer um quadro regulamentar para a sua utilização, quer seja em sede própria ou integrado nas aplicações terrestes, deixando de ser equiparada a pulverização aérea. Sendo que o fator tempo corre contra o legislador, uma vez que a tecnologia já se encontra disponível”. O mesmo responsável pormenorizou ainda que “ao nível comunitário, é fundamental criar um enquadramento próprio para a aplicação de fitofarmacêuticos com drones, tornando esta tecnologia disponível para todos. Os próximos passos para que esta importante tecnologia para a aplicação de produtos fitofarmacêuticos

se torne uma realidade legal e comum passam pela geração de mais dados de segurança do operador, de qualidade e de eficiência da pulverização em diversos cenários, entre outros parâmetros e a aceitação destes por parte dos reguladores, viabilizando, desta forma, o enquadramento legislativo pelo qual todos ansiamos”.

Produção de amêndoa atinge valores “nunca antes vistos” em Portugal

Apesar do “crescimento exponencial” do setor dos frutos secos nos últimos 10 anos em Portugal, Albino Bento, presidente do Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos (CNCFS), alerta que “a área plantada anualmente já decresceu bastante”, face à diminuição do preço pago aos produtores, sobretudo no setor da amêndoa.

O responsável caracteriza o clima nacional como “adequado” à produção de frutos secos, sublinhando que as boas condições para a produção de origem biológica e sustentável podem continuar a fazer a diferença no mercado internacional, desde logo sobre a concorrência norte-americana.

Nos últimos 10 anos, o setor dos frutos secos, em especial a amêndoa e a castanha, teve “um crescimento exponencial de área plantada”. A análise é de Albino Bento, presidente do Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos (CNCFS), que explica que “Portugal foi dos países que mais cresceu na última década em termos de área plantada”. Segundo o responsável, em 2014 havia pouco mais de 26 mil hectares de amendoal, comparativamente aos atuais 70 mil hectares. No caso da castanha, o crescimento é igualmente “extraordinário”, passando de 20 mil para 42 mil hectares. O resultado deste aumento significativo de área plantada traduziu-se, no

ano passado, em 40 mil toneladas de castanha e cerca de 65 mil toneladas de amêndoa. É um setor “bastante dinâmico, com plantações novas a entrar em produção”, disse Albino Bento, acrescentando que “este dinamismo resultou de preços relativamente favoráveis, desde logo face ao decréscimo de produção em Itália e nos

Estado Unidos da América (EUA)”. O maior setor em Portugal continua a ser o da amêndoa. “Neste momento, estamos numa situação de produção de amêndoa nunca antes visto”, reiterou o responsável. Também no setor da noz houve “um crescimento interessante”. Atualmente, contam-se em Portugal cerca de seis mil hectares de noz e 1.500 hectares de avelã. O crescimento, transversal às várias culturas, deve-se tanto ao investimento de origem familiar como a fundos de investimento. “Na Beira Interior e no Alentejo temos grandes produtores ou fundos de investimento, sobretudo em amendoal, pois preferem investir em culturas que rapidamente entram em produção”. Já na castanha e na avelã, o investimento é “maioritariamente de pequenos agricultores e/ou empresas de maior dimensão nas zonas da Guarda e Bragança”.

“A AMÊNDOA EUROPEIA É MAIS SUSTENTÁVEL, É PRODUZIDA COM MENOS ÁGUA E COM MENOS FERTILIZANTES”

A nível internacional, Albino Bento explicou que “a produção de amêndoa tem crescido exponencialmente em todo o Mundo”, desde logo nos EUA, face à modernização do setor e não necessariamente a mais hectares cultivados. Atualmente, os EUA detêm 80% do mercado global, seguidos pela Austrália com uma quota entre os 5% e os 6%. Também a Espanha “cresceu bastante”, diz o presidente da CNCFS, tendo atualmente “750 mil hectares de amendoal”.

No que toca ao consumo, “a amêndoa tem um potencial muito grande para ser utilizada em diversos produtos, com destaque para as barras de cereais ou o torrão em Espanha. Pensamos que vá crescer também o consumo de leite vegetal [leite de amêndoa]”, explica Albino Bento. Resumidamente, “o mercado europeu resume-se a países como a Alemanha, a França e a Inglaterra. No caso da Espanha, já produz mais do que consome”. Outro dado importante é o facto de a amêndoa europeia ser diferente da americana. “A amêndoa europeia é mais sustentável,

é produzida com menos água e com menos fertilizantes. Além disso, temos na Europa áreas biológicas de produção de amêndoa muito grandes”. Todos estes fatores tornam as áreas plantadas em “bons sumidouros de carbono”, tão necessários à descarbonização do setor. Ao nível da evolução das culturas, o setor apresenta um crescimento em áreas intensivas e super intensivas. “Não me preocupa a questão de intensidade das plantações”, disse Albino Bento, sublinhando que “não é por ter 300 plantas em Trás-os-Montes e 500 no Alentejo que uma coisa é boa e a outra é má. A questão está no que se faz no terreno e não na quantidade de plantação”.

“ESTAMOS NO LIMIAR DO RENDIMENTO”

Segundo o presidente do CNCFS, o setor tem-se modernizado, sobretudo em maquinaria e sistemas de rega avançada. “A evolução é transversal a todas as culturas, pois só assim é possível ser-se competitivo”. No seu parecer, “a rentabilidade anda no limite”, com preços a rondar os “0,80€ ou abaixo pago aos produtores”. Por essa razão, já se verifica um decréscimo na área plantada. “No caso

NA BEIRA INTERIOR E NO ALENTEJO TEMOS GRANDES PRODUTORES OU FUNDOS DE INVESTIMENTO, SOBRETUDO EM AMENDOAL, POIS PREFEREM INVESTIR EM CULTURAS QUE RAPIDAMENTE ENTRAM EM PRODUÇÃO

da amêndoa, para as situações de intensivo e super intensivo, o preço pago ao produtor ronda os 0,70€/0,80€. Se o preço baixar dos 0,70€ vamos começar a ver amendoais não colhidos ou menos tratados”. E frisou: “estamos no limite da rentabilidade. Apesar de várias culturas não darem prejuízo, a rentabilidade é praticamente nula. Estamos no limiar do rendimento”. Na produção de sequeiro, os níveis produtivos são “muito baixos”, sobretudo em áreas de produção biológica ou em reconversão para biológica. “A

A AMÊNDOA TEM UM POTENCIAL MUITO

GRANDE PARA SER

UTILIZADA EM DIVERSOS

PRODUTOS

realidade é essa”, lamentou Albino Bento, explicando que o grande problema da produção biológica é a falta de nutrientes, azoto e água no solo. “Sem isto, a planta ressente-se e a produção também”.

CLIMA DE EXCELÊNCIA

Em Portugal verifica-se igualmente um crescimento do setor na agroindústria, embora com um diferencial significativo entre regiões. No caso da amêndoa, explicou Albino Bento, “Trás-os-Montes tem duas empresas com alguma dimensão: uma das quais

com três linhas de descasque e processo de acabamento. Além disso, existem cinco linhas de britagem”. Todavia, “na Beira Interior e no Alentejo, não existe capacidade para transformar toda a produção, embora já existam algumas empresas que fazem britagem”. Segundo o responsável, “o Alentejo produz três vezes mais do que o norte com a mesma área e a tendência é que essa diferença aumente, podendo a região alentejana vir a produzir 60% a 70% do total nacional. Para se ter uma noção, no Alentejo são produzidas cerca de cinco toneladas por hectare, enquanto que em Trás-os-Montes são produzidas pouco mais de 1,5 toneladas por hectare”.

Ainda que os níveis de produção variem de região para região, Albino Bento não tem dúvidas quando afirma que “Portugal tem um clima adequado para a produção de frutos secos. Temos algumas zonas com água suficiente para satisfazer as necessidades.

E mais água tivéssemos em Trás-os-Montes, por exemplo, e os níveis de produtividade eram ainda mais satisfatórios”. Apesar das dificuldades e dos desafios acrescidos, o presidente do CNCFS realça “as boas condições” do nosso território para a produção de amêndoa e castanha biológica. Além da amêndoa, da castanha, da noz e da avelã, a cultura do pistácio começa a dar os primeiros passos. “É uma cultura que começou agora a ser plantada em Portugal e por isso os níveis produtivos são muito baixos”, esclareceu Albino Bento, lamentando que “não conseguimos que as plantas cresçam como em Espanha”. Apesar das condicionantes, avançou que “o Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos está a fazer um trabalho de macrozonagem para o pistácio, sobretudo para as variedades mais plantadas. Isso será importante para que os agricultores não plantem esta cultura em zonas sem aptidão”.

PROJETO ADVISORYNETPEST

Uma rede de técnicos de aconselhamento agrícola

O projeto AdvisoryNetPEST visa promover o reforço dos serviços de aconselhamento técnico na União Europeia (UE) e disseminar novas abordagens que contribuam para a redução do uso e dos riscos dos pesticidas em todos os Estados-Membros. Trata-se de um projeto europeu financiado pelo programa Horizonte Europa, coordenado pela CONSULAI, e com a duração de cinco anos, tendo tido início a 1 de janeiro de 2024.

O projeto criará uma rede de técnicos de aconselhamento agrícola, abrangendo os 27 Estados-Membros da UE e o Reino Unido, todas as regiões pedoclimáticas da Europa e os sectores

agrícolas mais relevantes (culturas arvenses, viticultura, fruticultura e horticultura, floricultura e culturas ornamentais).

Os objetivos específicos do projeto são:

• Estabelecer uma rede de técnicos de aconselhamento agrícola na UE.

• Identificar e selecionar novas abordagens que contribuam para a redução do uso e dos riscos dos pesticidas, de modo a serem adaptadas e replicadas na UE.

• Promover a partilha de conhecimento.

• Comunicar e divulgar essas novas abordagens, incentivando a adoção de soluções inovadoras pelos agricultores.

O conceito de novas abordagens é definido no projeto AdvisoryNetPEST como estratégias que contribuem para redução da utilização e dos riscos dos pesticidas no setor agrícola, e que não sejam inteiramente inovadores, ou seja, que tenham sido testadas em, pelo menos, algumas explorações agrícolas.

Neste momento, o projeto encontra-se a estabelecer as redes nacionais de técnicos de aconselhamento agrícola. Em Portugal, a rede irá focar-se nas culturas hortícolas e na vinha.

As vantagens de integrar a rede do projeto AdvisoryNetPEST incluem:

• Integração numa rede europeia de técnicos de aconselhamento, especializados na redução do uso e dos riscos dos pesticidas.

• Participação em visitas de campo em países da UE (duas visitas por ano, entre 2025 e 2027)

• Participação em eventos de demonstração e formações focados nas novas abordagens a desenvolver (um por ano, entre 2026 e 2028)

As atividades do projeto mencionadas serão focadas nas novas abordagens selecionadas em cada país, ou seja, serão focadas na discussão e demonstração de estratégias que contribuam para a redução do uso e dos riscos dos pesticidas, que no caso de Portugal serão aplicáveis para os setores da vinha e das culturas hortícolas.

Consulai

Os técnicos de aconselhamento agrícola, que trabalhem no setor da vinha e das culturas hortícolas, e que tenham interesse em integrar a rede do projeto AdvisoryNetPEST ou obter mais informações sobre o projeto, poderão contactar os coordenadores do AdvisoryNetPEST (Dina Lopes, dlopes@ consulai.com; Luís Mira, lmira@consulai.com).

Linkedin

CONTROLO DA POPULAÇÃO DE JAVALIS

Agricultores consideram que “pouco foi feito”

Um estudo da Universidade de Aveiro concluiu, em 2023, que existe uma sobreabundância da população de javalis em Portugal. Estes animais procuram alimento sobretudo em áreas regadas o que se tem refletido em destruição de searas de culturas de regadio. Passado um ano, os agricultores consideram que pouco foi feito para um controlo efetivo de javalis.

No Plano Estratégico e de Ação do Javali em Portugal, elaborado em dezembro de 2022, pela Universidade de Aveiro (e apresentado em 2023) foram monitorizadas 16 áreas com o objetivo de “garantir representatividade, seja ao nível ambiental como ao nível dos modelos de gestão”, lê-se do documento disponível online. O estudo chegou a uma “estimativa nacional de 277.385 javalis em Portugal continental, podendo este valor variar entre 163.157 e

391.612 javalis”. No mesmo documento escreve-se que “o território nacional continental apresenta uma população de javali sobreabundante, e que essa sobreabundância poderá ser particularmente relevante em áreas periurbanas e em áreas onde as culturas (exemplo milheirais) constituem um importante aporte alimentar. Além de promoverem o conflito entre as atividades humanas e o javali, a disponibilidade de recursos alimentares de origem antrópica, seja

em áreas rurais, ou em áreas periurbanas, desempenha um importante papel na dinâmica populacional do javali”. O trabalho verificou que os processos tradicionais de caça não são neste momento suficientes para assegurarem o controlo das populações de javali e por isso é sugerido que sejam feitos alguns ajustes no que respeita à atividade cinegética, mas também à alimentação suplementar, que foi realizada durante largos períodos do ano com um pro-

pósito que pode ter levado ao aumento do número de crias por fêmea fértil. Sugere-se ainda “limitação temporal de cevagem”. O Plano Estratégico e de Ação do Javali em Portugal recomenda, por fim, que “a curto-médio prazo (510 anos) se encetem esforços no sentido de aumentar a taxa de extração em 20-30% face ao valor atual”.

8 MILHÕES DE EUROS DE PREJUÍZO

As searas de milho têm sido das mais afetadas por esta sobreabundância de javalis. O milho é uma cultura regada, disponibilizando abundância de alimento para estes animais. Neste sentido, no ano passado, a Anpromis – Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo fez um levantamento dos prejuízos provocados pelos javalis nas searas de milho dos seus associados, e concluiu que, em 2022, os estragos alcançaram “um valor extremamente elevado, a rondar os 8 milhões de euros”, esclareceu a Anpromis. À data reuniram com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) para analisar o estudo da Universidade de Aveiro e solicitar que fossem implementadas medidas para controlar a densidade de javalis no país. Em junho de 2024, houve nova reunião para debater este tema. A Anpromis sentiu “o ICNF mais colaborante”, no entanto “sentimos que a situação continua descontrolada”, afiançou o secretário-geral da Anpromis, Tiago Silva Pinto. O mesmo responsável considerou que “o ICNF tem de chamar a si a responsabilidade de jun -

tar agricultores e caçadores e ser um árbitro nesta discussão para que se elabore um plano concertado entre todos os interessados”.

ICNF TEM SENSIBILIZADO PARA AUMENTO

DA

ATIVIDADE CINEGÉTICA

Rui Pombo, vogal do conselho diretivo do ICNF, adiantou que têm desenvolvido “um trabalhado de proximidade junto das entidades gestoras de zonas de caça no sentido de os sensibilizar para um aumento do esforço de caça por forma a alcançarmos uma regulação da população de javalis”. De acordo com o mesmo responsável, “apesar de ainda sabermos que a população se encontra desequilibrada, o número de animais é tendencialmente menor”. O ICNF tem empreendido um trabalho de simplificação processual para facilitar a organização de montarias, por forma a que possam ser realizadas no menor espaço de tempo possível. “Os relatórios que temos indicam-nos que existem áreas do território em que o problema se mantém com alguma gravidade. No entanto, há regiões em que a sua existência já não é um real problema. A quantidade de montarias que não têm sido feitas porque não há animais demonstra que este equilíbrio está a ser conseguido”, adiantou Rui Pombo. O ICNF vai obtendo dados a partir do sistema de caça implementado. Os caçadores devem colocar selos aos animais abatidos e reportá-los numa plataforma online. Existem selos para as montarias normais e outros mais específicos para as montarias de correções de densidade.

O ICNF TEM DE CHAMAR

A SI A RESPONSABILIDADE DE JUNTAR AGRICULTORES E CAÇADORES E SER UM ÁRBITRO NESTA DISCUSSÃO

A QUANTIDADE DE MONTARIAS QUE NÃO TÊM SIDO FEITAS PORQUE NÃO HÁ ANIMAIS, DEMONSTRA QUE ESTE EQUILÍBRIO ESTÁ A SER CONSEGUIDO.

Tiago Silva Pinto SECRETÁRIO GERAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PRODUTORES DE MILHO E SORGO - ANPROMIS
Rui Pombo VOGAL DO CONSELHO DIRETIVO DO INSTITUTO DA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E DAS FLORESTAS - ICNF

Agromais Plus reforça Centro de Inspeção de Pulverizadores

A legislação em vigor obriga a inspeção periódica de todos os pulverizadores, visando alcançar um elevado nível de segurança e proteção da saúde humana e do ambiente e garantia da eficácia dos tratamentos fitossanitários através do funcionamento adequado dos dispositivos e funcionalidades dos equipamentos. Também inserida nas regras que os agricultores têm de cumprir no âmbito das ajudas da PAC, esta obrigação implica a verificação do normal funcionamento. Desde 1 de janeiro de 2020 os equipamentos de aplicação de produtos fitofarmacêuticos devem ser inspecionados e aprovados de três em três anos. Desde 2024, a Agromais Plus além de centro de inspeção de pulverizadores de barras, ficou também acreditada como centro de inspeção de pulverizadores de turbina.

Agricultores do Alqueva contestam cortes de água

De acordo com jornal Público, a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) estará a cortar água aos agricultores que excedem os consumos acordados. A EDIA assegura que esta medida está prevista na legislação. Uma parte dos agricultores notificados sobre os cortes de água está a contestar a medida. A ACOS – Associação de Agricultores do Sul emitiu um comunicado no qual esclarece que “logo após ter conhecimento das cartas enviadas pela EDIA aos agricultores, anunciando o corte imediato da água para rega, teve oportunidade de discordar de tal procedimento junto do Senhor Ministro da Agricultura, quer pessoalmente, quer por e-mail enviado para o seu gabinete em 11 de Setembro passado”. A associação exemplificou ainda que há algumas associações de regantes “tratam esta situação de carência de água para rega, sem recorrerem a cortes radicais, conforme decisões tomadas em assembleias gerais de regantes”.

Agrotejo tem aprovada candidatura para ações de formação modular no âmbito do Programa PESSOAS 2030

Integrada na Candidatura de Formação da CAP, a Agrotejo viu aprovada a sua proposta de ações de formação modulares para o período entre 2024 e 2027. Conduzir e operar tratores em segurança, modos de produção integrada, aplicação de fitofármacos, boas praticas agrícolas, higiene e segurança no traba-

“Água ao Serviço de Futuro” une Alentejo litoral

lho e literacia digital, são algumas das ações de formação a desenvolver pela Agrotejo, num total previsto de cerca de 250 participantes e mais de 8.200

horas de formação. As inscrições já estão abertas e as vagas são limitadas, pelo que aconselhamos todos os interessados a contactar a Agrotejo.

A Câmara Municipal de Odemira, a Câmara Municipal de Aljezur e a Câmara Municipal de Ourique, em parceria com a Lusomorango, promoveram o primeiro encontro do Movimento “Água ao Serviço de Futuro”. Este movimento é uma iniciativa multisetorial que tem como

principal objetivo evidenciar a mobilização dos agentes económicos destas regiões para a urgência de concretizar soluções que assegurem a disponibilidade de água para os seus diversos usos, garantindo a sustentabilidade destes territórios e das suas populações.

Agricultores apelam a que o plano “Água que Une” estabeleça medidas concretas, calendarizadas e orçamentadas

Na Conferência “Alterações Climáticas: Que desafios se nos coloca nas próximas décadas?”, organizada pelo Centro Nacional de Competências para as Alterações Climáticas do Setor Agroflorestal (CNCACSA) em outubro, os agricultores apelaram a que o plano “Água que Une” seja um documento com medidas concretas, calendarizadas e orçamentadas. O evento, que reuniu mais de 300 participantes, contou com a presença de especialistas e representantes de diversos setores que abordaram as questões críticas da adaptação climática, os desafios económicos e o futuro da gestão de recursos hídricos. Gonçalo Santos Andrade, vice-presidente da CAP, afirmou que esta entidade “tem defendido sempre uma rede nacional da água. Embora seja importante fazer estudos, planos e projetos, já estamos há muito tempo nesta fase. Precisamos de obras de modernização ao nível de reservas de água e novas obras. Precisamos de mais reservas de água”. O ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, marcou presença no evento onde reiterou o seu apoio ao

setor agroflorestal, mostrando-se disponível para resolver alguns dos entraves ao desenvolvimento desta atividade. Relembrou que até ao final do ano, o grupo de trabalho Água que Une apresentará o seu relatório que será uma base de trabalho para o seu Ministério. “Trata-se de um plano multissetorial que visa assegurar a disponibilidade de água para todos os usos essenciais e promover a sustentabilidade ambiental e social”.

Foto Jorge Oliveira

Ministro da Agricultura promete mais

execução no OE2025

De acordo com a agência Lusa, o ministro da Agricultura prometeu aumentar a execução dos diferentes programas comunitários para o setor face ao anterior executivo socialista. “Ao contrário do passado, estamos a simplificar e a pagar aos agricultores a tempo e horas, procurando conferir estabilidade e confiança”, disse José Manuel Fernandes. A Lusa acrescenta ainda: “na reprogramação do PEPAC (Plano Estratégico da Política Agrícola Comum), temos como primeiro objetivo o aumento do rendimento do agricultor e a renovação geracional. O Orçamento do Estado passará a contribuir anualmente com 60 milhões de euros até 2029. A média do rendimento do agricultor passará assim de 81,7 euros por hectare

para 126 euros, um aumento superior a 50%”, completou. Relativamente aos jovens agricultores: “passarão a receber 50 mil euros (aumento de 100%) e, por outro lado, ao nível da execução de fundos, apontou que, no tempo dos governos socialistas, o valor anual de

investimento executado entre 2016 e 2023 foi de 222,5 milhões de euros”. Segundo Lusa, “para o período entre 2024 e 2029 será de 246,3 milhões de euros. Estamos a executar aquilo que o Governo anterior não executou”, disse o ministro da Agricultura.

Portugal integra

projeto europeu sobre práticas sustentáveis na agricultura de futuro

O ISQ é parceiro no projeto europeu AgriFood4Future, uma iniciativa de quatro anos no valor de 3,4 milhões de euros. Este projeto, que reúne 23 parceiros de sete países (Itália, França, Grécia, Espanha, Bélgica, Portugal e Alemanha), tem como principal objetivo criar uma rede de Centros de Excelência Vocacional (CoVE), ao nível de programas de formação, orientados para práticas sustentáveis e inovadoras na agricultura do futuro. Com o envolvimento de instituições de ensino, centros de investigação e empresas, este projeto pretende ser uma referência na modernização do setor agroalimentar europeu, em linha com as políticas europeias de transição verde. Além do ISQ, conta-se com a

participação do Food4Sustainability, do GreenUPorto (Faculdade de Ciências da Universidade do Porto) e do Building Global Innovators (BGI). Juntos, estes parceiros irão colaborar na criação do futuro CoVE nacional, que será um polo de inovação e excelência na educação e formação para o setor agroalimentar. Para alcançar os seus objetivos, o AgriFood4Future irá desenvolver três grandes atividades ao longo dos próximos quatro anos: avaliação das necessidades do mercado, identificando as lacunas e exigências existentes no mercado de trabalho, especialmente no que se refere à produção primária do setor agroalimen-

tar. Irá ainda promover a interação entre os CoVEs locais, com a criação de parcerias entre empresas e instituições de ensino, bem como a internacionalização dos ecossistemas de formação profissional. Por último, irá desenvolver Programas de Formação: desde o desenho, desenvolvimento e teste de novos programas de educação e formação profissional (VET), que reforcem as competências necessárias para impulsionar a agricultura inteligente e os sistemas agroalimentares sustentáveis. O projeto também prevê a criação de ferramentas de e-learning para ensino e formação em temas relacionados com o setor agroalimentar.

AGROGLOBAL 2025

Impulsionando a agricultura, floresta e pecuária, o futuro acontece num desenvolvimento que se pretende sustentável!

Em 2025, nos dias 9, 10 e 11 de setembro, realizar-se-á a 10.ª edição deste encontro de profissionais, que a cada dois anos têm oportunidade de participar num evento que é já uma referência ibérica e com alguma notoriedade internacional. Desde a sua criação em 2009, tem sido um marco fundamental para o setor agrícola português.

A AGROGLOBAL 2025 irá apresentar algumas novidades, para além das inovações que todo o setor anualmente apresenta, surpreendendo, com as constantes adaptações e melhoramentos ao nível da eficiência, sustentabilidade e muita resiliência aos permanentes desafios. Tal como em 2023, iremos manter o formato do espaço para exposição e pequenas demonstrações na zona exterior do CNEMA, em Santarém. A maior alteração irá ocorrer no local para as áreas de demonstração de culturas anuais.

A AGROGLOBAL celebrou um acordo com a Quinta da Alorna para a disponibilização de cerca de 60 hectares que irão ficar afetos à demonstração e

ensaios de culturas anuais, tais como milho, tomate, batata, entre outras ainda por definir/confirmar.

As áreas de culturas permanentes manter-se-ão no CNEMA, em Santarém, com diversas demonstrações dinâmicas, na vinha, olival, frutos secos, pomares, floresta, entre outros, permitindo aos visitantes conhecer de perto as últimas novidades e tecnologias aplicadas a cada cultura.

A associação da marca Quinta da Alorna à AGROGLOBAL, trará benefícios para ambas as partes. Termos a possibilidade de realizar as culturas anuais necessárias, com o apoio de uma estrutura técnica e operacional de uma exploração agrícola com vasta experiência nas culturas de primavera-verão. Entre outras contrapartidas a Quinta da Alorna, irá promover a sua marca de vinhos, não só na nossa comunicação, bem como em iniciativas que ocorrerão durante os três dias do evento.

A AGROGLOBAL continua a ser um espaço privilegiado para a apresentação

de soluções práticas e inovadoras para os desafios do setor. Através de congressos, seminários, palestras, workshops e demonstrações práticas, a feira promove a transferência de conhecimento e a adoção de tecnologias que visam aumentar a produtividade, a eficiência e a sustentabilidade das atividades agrícolas. Reafirmamos o nosso compromisso com o desenvolvimento do setor. Ao promover a inovação, a sustentabilidade e a colaboração entre os diferentes atores da cadeia produtiva, o evento contribui de forma inequívoca para a construção de um futuro mais promissor para a necessidade primordial da produção de alimentos.

A 10.ª edição da AGROGLOBAL é um marco importante neste percurso desde 2009. Muita coisa já aconteceu desde então, inovações, tecnologia, as constantes mudanças nas políticas agrícolas, as alterações climáticas, a globalização no novo xadrez geopolítico, também em permanente atualização. Com tudo isto,

teremos um vasto programa diversificado e abrangente, quer ao nível das demonstrações, como ao nível dos painéis que se apresentarão nos diversos auditórios. Como não queremos “desaparecer” em ano de “não AGROGLOBAL”, anunciámos em

2024, o AGROGLOBALWIDE, em parceria com a CONSULAI, será a marca das iniciativas conjuntas. Estas serão em forma de conferências, fóruns, eventos de promoção de networking , indo até à realização de missões empresariais fora de Portugal.

Para 2024 está já anunciado o GO WIDE, um fórum de inovação, que irá realizar-se no CNEMA, em Santarém, no dia 20 de novembro. Em breve teremos mais novidades no âmbito do AGROGLOBALWIDE! “NÓS SEMEAMOS”

Terá a alteração de política monetária impacto nos investimentos em compra de terra?

Em meados de setembro, a Federal Reserve (FED) dos Estados Unidos da América reduziu pela primeira vez, desde há anos, as suas taxas de referência, seguindo a tendência que já se tinha iniciado na Europa três meses antes, quando o Banco Central Europeu (BCE) fez o mesmo.

Marca-se assim uma nova era na gestão monetária dos principais mercados ocidentais, com a aparente movimentação para o retorno a taxas mais reduzidas, como forma de tentar combater a inflação e incentivar a economia a crescer por meios próprios, vendo-se obrigada a gerar riqueza no mercado.

De facto, as taxas estiveram muito baixas, até negativas no caso da União Europeia (UE), durante um período alargado de tempo, que acabou com os choques provocados na economia pelas medidas de gestão da pandemia e pelo desequilíbrio na oferta e procura de commodities provocado pela invasão da Ucrânia. Após esse período, assistiu-se a um aumento vertiginoso das taxas de juro, quando os bancos centrais foram obrigados tomar medidas de controlo da inflação causada pelos distúrbios referidos anteriormente, tentando fazer o consumo abrandar ao tornar o crédito mais caro e o custo de oportunidade do capital mais alto.(ver gráfico)

Pois agora que o dinheiro parece estar no caminho de se tornar mais barato, interessa perguntar o que se pode esperar que aconteça ao movimento de investidores institucionais que tem virado a sua atenção para a agricultura desde há vários anos.

O interesse de fundos de investimento e investidores particulares por ativos agrícolas tem sido muitíssimo evidente, com especial foco nas culturas com maior expansão recente, como o olival e o amendoal, mas também noutras menos estabelecidas, e nas áreas do país servidas pelos grandes aproveitamentos hidroagrícolas.

O Alqueva surgiu assim como grande elemento promotor de desenvolvimento, conseguindo captar a atenção dos investidores internacionais com a sua promessa de uma resiliência fortíssima a fenómenos de seca. A seguir a Alqueva, os perímetros que já lhe estão associados, e outros, como Idanha-a-Nova ou Vale do Sorraia, apresentaram-se como novo território, e uma nova terra de oportunidades, qual quimera do ouro no Oeste selvagem. Esta tendência muito forte chegou antes da subida das taxas de juro

e conseguiu sobreviver-lhe, com o interesse a manter-se forte e novos agentes a entrar no espaço português do mercado até aos dias de hoje.

Então, o que se pode esperar desta aparente nova direção na gestão monetária do mundo ocidental?

Em primeiro lugar, importa reconhecer que a agricultura gera habitualmente rendimentos mais baixos que outras classes de investimentos, como o imobiliário, a tecnologia ou os serviços financeiros. Esta tem sido uma observação transversal e bastante estável ao longo do tempo, salvo algumas fileiras muito específicas, em que há grandes barreiras à entrada e condições de mercado muito difíceis de gerir, como são exemplo a canábis medicinal ou algumas frutas tropicais e outros produtos de especialidade. Assim, e considerando que em geral, a agricultura promete yields mais baixos que as outras classes de ativos, porque será que o investimento em agricultura tem sido tão procurado? Exploremos alguns fatores importantes na decisão dos investidores. A segurança oferecida por um ativo que não se gasta nem se pode replicar, a terra, tem, talvez, sido o principal fator de atração. Se calçarmos os sapatos de um investidor institucional, como, por exemplo, um fundo de pensões, podemos ver o valor que o ativo terra tem. Basta vermos que um fundo de pensões tem dois mandatos que são difíceis de conciliar: (1) gerar rentabilidade com o dinheiro dos pensionistas e (2) não perder o dinheiro dos pensionistas.

Assim, quando aparece um possível investimento que oferece menos rendimento, mas oferece algum, e cujo valor fica, em larga parte, guardado sob a forma de terra (ativo que não se pode reproduzir e que tem mostrado forte valorização nos últimos anos), este ganha uma atração que se explica para além da rentabilidade. Este tipo de raciocínio estende-se também a outros tipos de investidores, cujo perfil de risco encaixe bem nesta abordagem estratégica, ou que queiram garantir uma diversificação dos seus investimentos.

Outro fator resulta da análise macroeconómica do que são os movimentos do mercado global e dos fluxos de bens e serviços. As recentes disrupções de oferta de alguns bens essenciais, como o trigo e a cevada da Ucrânia, mostraram que há um valor estratégico forte na produção de alimento em zonas que tenham um acesso aos grandes centros de consumo mais salvaguardado, do ponto de vista das distâncias e do risco de interrupção (NOTA: este argumento pode ser feito também para o sector da energia, mas essa é outra conversa). Este critério aliado ao facto de haver uma certeza de aumento da procura, nas próximas décadas, devido ao aumento da população, faz com que uma entrada, estreante ou não, no negócio de produzir alimentos faça sentido de um ponto de vista estratégico. Assim, e como se viu várias vezes na história, a fortuna de uns é o infortúnio de outros. Algumas geografias tornam-se menos interessantes por instabilidades variadas, como é atualmente o caso de alguns países do médio oriente, enquanto algumas fileiras em Portugal beneficiam da atenção que recebem pela possibilidade de produzir, com relativo baixo risco, culturas com elevado valor no mercado, nos dias de hoje. Os preços do azeite, a possibilidade de produzir abacate no espaço europeu e a promessa de retorno a preços mais elevados de amêndoa, têm sido fortes argumentos para o investimento na agricultura portuguesa.

FONTE: BANCO DE PORTUGAL; FEDERAL RESERVE

Finalmente, os grandes investimentos em agricultura têm procurado uma nova fonte de valorização, que tem a ver com o serviço ambiental prestado por gestão dirigida de ativos agrícolas às componentes ambientais do negócio. O cada vez maior conhecimento acerca de tecnologias que permitam melhorar condições do solo, a conservação e promoção da biodiversidade, e a qualidade da água, para citar apenas as que são hoje mais badaladas, permite criar iniciativas de investimento com uma vertente ambiental que não era valorizada até há poucos anos. De facto, para entidades de grande dimensão, este pode ser um fator importante, como parte de uma estratégia de posicionamento e de diversificação.

Portanto, o interesse em investimentos agrícolas parece ter motivos para estar em alta (e é o que vemos na AGROGES no nosso dia-a-dia, desde há vários anos, e não tem dado sinais de abrandamento, mesmo passando por períodos conturbados no mercado). Mas o que se pode esperar nos tempos próximos, com esta mudança de política monetária?

A redução do custo de oportunidade do capital será vantajosa para a análise e decisão de investir em agricultura, uma vez que as taxas de comparação baixam e ficam mais próximos que os valores que a agricultura (e também a floresta e a agroindústria) pode prometer. Num ambiente de taxas Euribor mais baixas da ordem dos 1% ou 2%, e consequentemente de custos de oportunidade mais baixos, é mais fácil justificar o investimento numa atividade que gera rendimento anual de 4% ou 5% do valor investido, que num ambiente em que as taxas são da ordem da verificada nos últimos anos, como mostra o gráfico apresentado no início do texto.

O real custo de oportunidade é, na realidade mais complexo que o que aqui se referiu, pois, de facto, o importante é que a yield do setor pague o prémio de risco associado ao sector.

No que se refere ao investimento dos fundos na agricultura devemos dividir os investimentos nitidamente em duas componentes, a componente do investimento no ativo terra e a componente do investimento nas atividades agrícolas. Relativamente à terra, o risco é muito baixo e por isso o prémio de risco exigido deverá ser muito baixo também. No caso da componente da atividade agrícola propriamente dita, a exigência, em termos de yield, deverá estar associada à atividade respetiva. Um dos incentivos do investimento dos fundos de pensões, por exemplo, nas atividades agrícolas prende-se com as maturidades destes investimen-

tos que casam na perfeição com os investimentos no setor e que permite o investimento no ativo terra com baixo risco. Ainda assim, é importante que as fileiras mais relevantes e mais notórias consigam apresentar uma performance forte, mesmo dotados deste fator de conforto que é trazido pelo investimento na componente terra. Caso contrário, os investidores podem perder o interesse nos nossos ativos agrícolas e encontrar nova paixão em sectores com rendimentos de 10% ou mais. Isto porque a redução do custo de oportunidade também vale para as outras áreas da economia. É preciso, assim, que os gestores agrícolas portugueses, quer estejam à venda quer queiram manter o seu negócio, invistam em conhecimento técnico, que permita manter uma forte rentabilidade, assente em boas produtividades e boa gestão operacional. O valor da terra tem crescido muito nos últimos anos, no mercado nacional. Esta tendência, ainda que possa continuar a sentir-se, terá de acabar um dia, como, aliás, tudo na vida. O valor dever-se-á aproximar de comparáveis mais estáveis, como, por exemplo, o preço da terra em Espanha. Historicamente, esse nunca foi o caso, mas atualmente verifica-se uma aproximação que pode levar à previsão de que a estabilização de preços verificada no País vizinho há cerca de duas décadas, pode vir a ser verificado por cá. Se assim for, aqueles que olham para o investimento agrícola como uma forma de reserva de capital num ativo em valorização podem perder algum do interesse, quando comparando com outras classes de investimento. Dito de outra for-

ma, a segurança da terra como investimento de reserva de capital mantém-se, mas a oportunidade da terra como investimento de valorização pode perder-se.

Para terminar, parece-me que o interesse se manterá nos investimentos agrícolas nos próximos anos. Resta-me recomendar que, quer a forma de gerar valor seja pela produção pura e dura, que seja pela combinação de produção, conservação e geração de serviços ambientais, os detentores de ativos agrícolas devem-se focar na eficiência, para que o interesse dos investidores não se vire para outras direções e para que possam manter os seus ativos o mais desejáveis possível, se chegarmos a uma situação de estabilização de preços da terra, que se conhece noutros países do Sul da Europa.

A Força do Associativismo Agrícola Organizado

Os movimentos associativos surgem e afirmam-se em momentos de crise e contestação intensa, em reação a adversidades de extrema gravidade, como sejam o risco de perda de propriedade ou das condições para a continuação da atividade agrícola. Foi assim com o surgimento da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) – que emergiu de uma convulsão social provocada pela ocupação e nacionalização

de propriedades agrícolas, na sequência do processo revolucionário iniciado em abril de 1974.

Logo após essas ações iniciais de contestação, os agricultores sentiram necessidade de se organizar em estruturas associativas com conhecimento técnico, capacidade de influência política e reconhecimento institucional, as quais permitissem não apenas apresentar propostas válidas acerca do que pre-

tendiam, mas também de diligenciar junto dos vários poderes políticos, das entidades oficiais e da sociedade civil, para que fossem efetivamente tomadas decisões no sentido de ultrapassar os problemas.

Com a entrada na União Europeia e com a própria evolução da Política Agrícola Comum, o apoio aos agricultores de forma permanente e sustentada tornou-se uma necessidade incon-

tornável. Neste caso, só um movimento associativo organizado permite apoiar o agricultor em continuidade, no sentido de garantir que cada exploração agrícola efetivamente aproveite os programas nos quais têm aplicação prática as medidas que forem tomadas pelo poder político, completando assim um ciclo que se inicia na contestação, mas que só termina com aproveitamento para o agricultor na melhoria da sua exploração, do seu negócio e do seu rendimento. A CAP está prestes a completar 50 anos de existência e é um exemplo desta realidade. Congrega cerca de duas centenas e meia de organizações agrícolas, é o parceiro social nomeado pelo Governo para o setor agrícola na Concertação Social, incluindo a nível europeu, sendo uma entidade de interesse público e a organização socioprofissional de cúpula do movimento associativo agrícola. A CAP tem inclusivamente uma delegação em Bruxelas e uma forte representação ao nível do associativismo agrícola europeu.

Na sequência da referida entrada na União Europeia, o Estado revelou-se incapaz de cumprir as suas competências no quadro de uma Política Agrícola Comum cada vez mais exigente e complexa, e teve necessidade de delegar essas competências nas organizações de agricultores. Neste contexto, a CAP desenvolveu um conjunto de competências relacionadas com as candidaturas e o parcelário, bem como com o registo animal, entre outras, alargando a sua equipe técnica e as suas competências no domínio das políticas agrícolas europeias. Todos estas valências de apoio ao agricultor só são possíveis no quadro

de um movimento associativo estruturado e institucionalmente organizado. Como retorno de todo este processo e como forma de completar o ciclo do associativismo, o apoio dos agricultores às organizações que lhes são próximas e a participação destas ao nível federado e confederado, permitindo-lhes chegar ao poder central e aos órgãos de decisão nacional, torna-se absolutamente fundamental para o bom funcionamento do movimento associativo agrícola a nível nacional.

Os movimentos espontâneos por si só não conseguem obter os resultados alcançados pelo associativismo organizado, uma vez que a resolução dos problemas exige persistência, competência técnica, presença organizada em todo o território nacional, capacidade financeira, poder de influência, credibilidade e reconhecimento institucional. É com estas valências que o movimento associativo se consolida e aprofunda. E é este ciclo

…SÓ UM MOVIMENTO ASSOCIATIVO

ORGANIZADO PERMITE APOIAR O AGRICULTOR EM CONTINUIDADE, NO SENTIDO DE GARANTIR QUE CADA EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA EFETIVAMENTE

APROVEITE OS PROGRAMAS NOS QUAIS TÊM APLICAÇÃO PRÁTICA AS MEDIDAS QUE FOREM TOMADAS PELO PODER POLÍTICO...

de crescimento que dá força aos agricultores e às suas causas. Não deixe, portanto, de apoiar a sua organização de agricultores, a bem do seu futuro.

Como classifica o apoio que recebe da Agrotejo:

Qual a qualidade dos nossos serviços e apoio?

Nos serços que pestamos, além da Agrotejo, recorre a outras Associações ou entidades consultoras?

Muito importante

Pouco importante

Sem importância

Muito profissional

Importante profissional

Pouco profissional

ASSOCIADOS DA AGROTEJO

Apenas recorro ao apoio Agrotejo

Também recorro a outras Entidades

Não utilizo os serviços da Agrotejo

Os nossos agricultores estão contentes connosco?

A génese da sua fundação em 1986 e os Resultados do Inquérito de satisfação em 2024

A Agrotejo, desde a sua constituição, desenvolve, em simultâneo, uma dupla função: tenta adaptar as políticas publicas ao nosso território e, por outro lado, desenvolve um conjunto de ações de aconselhamento e esclarecimento dos agricultores, no sentido da sua adaptação às regras existentes ou que a curto prazo podem vir a ser uma realidade. Apoiamos os agricultores nas obrigações legais, candidaturas, projetos de

investimento, mas também informamos e formamos os nossos Associados. Porque pretendemos estar mais próximos dos nossos agricultores e adaptar a nossa estratégia às reais necessidades de todos os que nos procuram, submetemos em 2024, à apreciação de todos os sócios, a avaliação dos nossos serviços e do nosso atendimento.

A Resposta, julgamos, não poderia ser mais clara!

O apoio que a Agrotejo desenvolve junto dos agricultores é de relevante importância e o profissionalismo e empenho dos colaboradores é elevado. Congratulamo-nos com este resultado, mas pretendemos no futuro, mais e melhor! Tentamos identificar, na qualidade manifestada, pontos de melhoria, porventura novos serviços, ou numa abordagem mais fina, algumas insatisfações também sinalizadas.

Na sua opinião, a qualidade dos nossos serviços, em comparação com outras Entidades do mesmo sector, é:

A Agrotejo só faz sentido se resolver os problemas dos associados. Foi essa a génese da sua constituição, e é e continuará a ser essa a linha mestra da sua atuação.

Mas, nem sempre é fácil, muito menos agora que se identificam algumas mudanças estruturais no setor agrícola.

Vivemos um tempo em que o tipo de agricultor, quer pela dimensão, idade, formação e ou necessidades de apoio técnico é muito diferente de outros

Relativamente ao atendimento pelos colaboradores da Agrotejo, considera:

Como classifica a competência e profissionalismo que os colaboradores da Agrotejo mostraram no atendimento?

tempos, e muito diferente de associado para associado.

Vivemos num tempo em que, no âmbito da PAC, as oportunidades e obrigações deixaram de ser direcionadas para países, regiões ou sistemas de produção, e, passaram a ter uma abordagem cada vez mais local e personalizada. Vivemos num tempo em que a informação, e por vezes a desinformação, circula a uma velocidade tal que muitas vezes quando chega a alguns já está desatualizada.

Vivemos num tempo em que o próprio Ministério da Agricultura tem adaptações, estratégias e regras, muitas delas desadequadas da realidade agrícola do país; Vivemos num tempo em que o setor agrícola e as ajudas da PAC continuam pouco compreendidos pelos consumidores e, mais recentemente, até pelas populações do mundo rural; Vivemos num tempo em que muitas das Entidades publicas ligadas ao setor agrícola tendem a desaparecer ou a 126pessoas

Numa escala de 1–10 como classifica o serviço e apoio Agrotejo?
Muito satisfeito
Muito bom

No apoio que recebe da Agrotejo e em cada serviço, normalmente o tempo de permanência nas nossas instalaçoes, é:

21,3%

Inferior a 1 hora

Entre 1 e 2 horas

Superior a 2 horas

Contato eletrónico e sem necessidade de deslocação às instalações

A AGROTEJO SÓ FAZ

SENTIDO SE RESOLVER OS PROBLEMAS DOS ASSOCIADOS. FOI ESSA A GÉNESE DA SUA CONSTITUIÇÃO, E É E CONTINUARÁ A SER ESSA A LINHA MESTRA DA SUA ATUAÇÃO. É E SERÃO, NO FUTURO, A GÉNESE DA SUA ATUAÇÃO.

serem reformuladas, sempre com uma tendência para uma presença menos efetiva nas regiões; Vivemos num tempo em que a pressão fiscal, ambiental e social recai cada vez mais no setor agrícola, criando constrangimentos, muitas vezes pouco claros e sem evidencias de resultados efetivos nos fins que os implementam e sustentam.

Também é verdade, que vivemos num tempo em que a adaptação das políticas publicas às regiões e, muitas vezes, a adaptação dos agricultores aos novos paradigmas e regras nem sempre acontece, o que muitas vezes se traduz nalguma incompreensão relativamente à importância do trabalho desenvolvido pela Agrotejo e outras associações.

Enfim, estamos mesmo em tempo de mudança!

E a Agrotejo acompanha e terá que acompanhar, sempre, esta mudança. Uma nova abordagem aos associados, com novos serviços, e, sobretudo, com uma comunicação mais clara do trabalho que desenvolvemos no sentido da adaptação das regras e agricultores na região, são alguns dos aspetos de melhoria identificados.

Tendo em conta o diagnóstico realizado, é certo que o apoio técnico que prestamos, é um apoio de proximidade entre o técnico e o agricultor, com contactos cada vez mais digitais e com tempo e eficiência de resolução cada vez mais rápida.

Mas a visita a explorações agrícolas e um aconselhamento mais “terreno”, também é identificado como ponto de melhoria.

Novas oportunidades na capacitação e formação dos colaboradores e agricultores sócios da Agrotejo também vão surgir.

Assim, assumindo sempre um dos compromissos da constituição da Agrotejo, nomeadamente a proximidade e o esclarecimento aos agricultores, julgamos cada vez mais importante a existência de laços fortes entre esta organização e os seus associados.

Tentaremos, todos os dias, cumprir esses desígnios, defendendo e acompanhando os agricultores, no seu dia a dia.

Certo é que muito do trabalho desenvolvido, nomeadamente aquele que tenta o enquadramento da agricultura da região, nem sempre é visível ou quantificável. Por isso, de todos também esperamos confiança, cumplicidade, proximidade e a manifestação das preocupações e expetativas, porque só assim conseguiremos promover o desenvolvimento agrícola da região e defender os interesses dos associados.

Resta-nos agradecer a todos os sócios que colaboraram neste inquérito de satisfação. A celebre frase “a agricultura não para” que se vulgarizou na pandemia que todos vivemos, é muito aquilo que nos define enquanto um TODO – colaboradores e seus associados – resiliência, proatividade, proximidade e modernização. Consideramos serem estas as palavras chave para um sector agrícola bem-sucedido e é esta a postura que podem continuar a esperar de nós.

Estamos certos que ficamos, todos, mais fortes.

PROJETO QUANTIFARM

Consórcio reúne em Lisboa

O QuantiFarm é um projeto de quatro anos cofinanciado pelo Horizonte Europa, o programa de pesquisa e inovação da União Europeia. O consórcio do projeto, do qual a Consulai faz parte, é uma rede dinâmica de 32 parceiros de 20 países europeus liderados pela empresa grega Gaia Epicheirein.

Na última semana do mês de junho, a Consulai reuniu e acolheu, com muita satisfação, a equipa de consórcio do projeto QuantiFarm, em Lisboa.

O QuantiFarm é um projeto de quatro anos cofinanciado pelo Horizonte Europa, o programa de pesquisa e inovação da União Europeia. O consórcio do projeto, do qual a Consulai faz parte, é uma rede dinâmica de 32 parceiros de 20 países europeus liderados pela empresa grega Gaia Epicheirein.

O projeto arrancou em julho de 2022 e tem como objetivo a avaliação do impacto da digitalização na agricultura, estando a realizar a avaliação de desempenho de

diversas tecnologias utilizadas por explorações agrícolas comerciais através de 30 casos de estudo. As tecnologias em avaliação estão a ser testadas em 7 áreas distintas do sector agrícola: culturas aráveis, fruticultura, horticultura, produção de laticínios, produção de carne, apicultura e aquacultura. Os 30 casos de estudo serão avaliados durante 3 anos e encontram-se localizados em 20 países europeus, representando 10 regiões biogeográficas. Em Portugal, o projeto conta com dois parceiros, a Consulai líder do pacote de trabalho “Teste e avaliação de tecnologias digitais em condições reais”, e a Agromais líder do caso de estudo

relacionado com a irrigação de precisão na cultura do milho.

A Consulai é responsável pela elaboração de relatórios de avaliação que expressem os resultados dos 30 casos de estudo, coordenando a comunicação entre os diferentes parceiros envolvidos: líderes de cada caso de estudo que recolhem informação junto de cada exploração e os investigadores do Politécnico de Milão que realizam a avaliação custo benefício de cada tecnologia.

No decorrer dos dias 25 e 26 de junho, a Consulai reuniu mais de 50 parceiros na reunião plenária do QuantiFarm para celebrar os 2 anos de implementação do

Consulai

formação de formadores, focado na Academia de Inovação Digital do projeto QuantiFarm. Durante o workshop foram apresentados princípios e orientações metodológicas para a organização eficiente e o sucesso de formações para técnicos de aconselhamento agrícola. O workshop foi dividido em 7 módulos e foi orientado por diferentes formadores, entre eles, Olivia Harmann e Markus Rombach (AGRIDEA), Caroline van der Weerdt (TNO), Nikos Kalatzis (NP), Savvas Maliotis (Filagro) e Diogo Moniz (Consulai).

vídeo de apresentação do projeto

projeto, partilhar resultados do primeiro ano de testagem e planear as atividades dos próximos meses. A reunião contou com exercícios de grupo dinâmicos, e ainda com um jantar em Lisboa, no qual os parceiros tiveram oportunidade de provar pratos típicos portugueses.

Todas estas partilhas permitiram fortalecer as relações do consórcio e motivar os seus membros para o segundo ano de avaliação dos casos de estudo.

Já nos dias 27 e 28 de junho, no mesmo local, decorreu o primeiro workshop de

Dionysios Solomos, coordenador do projeto, que conduziu o último módulo do workshop, expressou muito entusiasmo durante a entrega dos certificados de participação aos formandos: “É com muito entusiamo que vos entrego os certificados de participação deste workshop, espero que esta atividade inserida na Academia de Inovação Digital do projeto QuantiFarm vos seja útil e contribua para

o sucesso na formação de outros técnicos de aconselhamento agrícola no vosso país! Obrigada à equipa da Consulai por nos ter recebido e tratado de todos os preparativos logísticos.”

Após estes 4 dias de muita aprendizagem, troca de conhecimento e degustação de pratos portugueses, os parceiros do projeto regressaram a casa muito felizes e concretizados.

Para obter mais informações e atualizações relacionadas com a avaliação do impacto das soluções de tecnologia digital na agricultura, visite o website do projeto.

PRIMEIRO DIA DO WORKSHOP
ENTREGA DOS CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO PELO COORDENADOR DO PROJETO QUANTIFARM, DIONYSIOS SOLOMOS.

AGENDA MOBILIZADORA INSECTERA

O eixo InFrass

A agenda insectERA tem como finalidade explorar o potencial da produção de insetos como ferramenta e soluções bioindustriais em particular para as industrias alimentares humana e animal e para as fileiras da produção agrícola, agro-industrial e de biorremediação, numa perspetiva de bioeconomia circular. O Eixo Transversal InFrass é coordenado pelo Laboratório Colaborativo InnovPlantProtect (InPP) e tem como objetivo a valorização agronómica do frass, um subproduto da produção de insetos constituído por excrementos de insetos, exúvias e substrato em decomposição. O frass encontra-se amplamente reconhecido pelo seu elevado potencial na promoção do crescimento das plantas, bem como no aumento da tolerância a stresses bióticos e abióticos através da mobilização de nutrientes, microorganismos ou biomoléculas.

Neste contexto, e de forma a avaliar o impacto do frass proveniente da cultura de diferentes insetos na saúde e produtividade das plantas e na biodiversidade bacteriana e fúngica do solo, definiu-se um conjunto de ensaios em diferentes culturas (cereais, hortícolas, forrageiras e culturas permanentes) e em condições controladas (câmaras fitoclimáticas), semi-controladas (estufa) e em campo. As atividades em curso, que envolvem a participação de diversos parceiros – Agromais, Agrotejo, DGAV, INIAV, INEGI, Ingrident Odissey, Thunder Foods, The Cricket

Farming Co., Nutrifarms e Universidade de Aveiro, vão desde a avaliação da qualidade do frass gerado nos diferentes produtores de insetos e o desenvolvimento de novos métodos de processamento até à avaliação do seu impacto nas culturas selecionadas para avaliação e na qualidade do solo. Desde o início de 2023 e com o objetivo de monitorizar os efeitos da aplicação de frass nas culturas, durante pelo menos dois anos consecutivos, foram estabelecidos diversos ensaios de campo, nos quais foi aplicado frass produzido de acordo com a regulamentação em vigor indicada pela DGAV (parceira no projeto). Este frass, produzido pela Entogreen, provém da produção de mosca sodado negro (Hermetia illucens) em cuja alimentação é incorporado bagaço de azeitona, também este um subproduto da produção de azeite. O InPP tem o papel de coordenar estes ensaios nas culturas do milho, brócolos e amendoal, em parceria com a cooperativa agrícola Agromais e a Agrotejo. No estabelecimento dos ensaios é feita a sua georreferenciação e posterior acompanhamento com avaliações fisiológicas das plantas e com recolha de amostras de solo para análise de parâmetros físico-químicos e biológicos, como a análise do seu microbioma. Paralelamente aos ensaios de campo referidos, o InPP é também responsável pela realização de ensaios em condições controladas e semi-controladas para avaliação do potencial de

diferentes frass na bioestimulação e/ ou na promoção da saúde das culturas selecionadas. Nesses ensaios, realizados em estufa, são testados frass provenientes da cultura de três insetos: mosca soldado negro (Hermetia illucens) fornecido pela Entogreen, grilo doméstico (Acheta domesticusHermetia illucens), fornecido pela The Cricket Farming Co., e larva-da-farinha (Tenebrio molitor), fornecido pela ThunderFoods. Uma das variáveis testadas nestes ensaios em condições controladas é o impacto do tipo de alimentação do inseto no potencial do frass. Nos ensaios estabelecidos é avaliada a suscetibilidade das plantas à ação pragas e de agentes patogénicos nos diferentes tratamentos, nomeadamente à infeção da Alternaria brassicicola em brócolos, bem como a produtividade, biomassa e parâmetros fisiológicos das culturas. A partir dos resultados obtidos pretende-se valorizar novos frass, desenhados à medida, formulados com o objetivo de dar resposta às necessidades e desafios no âmbito da saúde das plantas e do solo.

O InPP é uma Associação Privada sem Fins Lucrativos de hélice 4, à qual foi atribuído em 2018, pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior o selo de Laboratório Colaborativo, com nota máxima. Está sedeado em Elvas, na antiga Estação Nacional de Melhoramento de Plantas, atual INIAV Elvas. O InPP tem como associados quatro instituições de ensino superior – a Univer-

sidade NOVA, a Universidade de Évora, o Instituto Politécnico de Portalegre e o Instituto Politécnico de Santarém, um laboratório de Estado – o INIAV, um Município – a Câmara Municipal de Elvas, quatro empresas – a Syngenta Crop Protection, a Bayer CropScience, a Fertiprado e a Lusosem, um centro de investigação – o CEBAL, três associações de produtores – a FNOP, a ANPROMIS e a ANPOC, e uma associação interprofissional – a Casa do Arroz.

A missão do InPP, única em Portugal, é desenvolver produtos de origem biológica, até ao nível de prontidão tecnológico 6 (TRL 6), e serviços inovadores, “bio-inspirados” e digitais para a proteção das culturas mediterrânicas contra pragas e doenças. A nossa finalidade é criar valor através da inovação na gestão de organismos vivos no campo do agricultor. Os produtos do InPP são desenvolvidos de acordo com as necessidades identificadas pelos potenciais utilizadores finais, protegidos por um dos diferentes tipos de propriedade intelectual e transferidos para empresas que os colocam no mercado. Presentemente o InPP tem 43 contratados, todos a trabalhar em Elvas e está organizado em seis departamentos: Dept.1 – Novos Biopesticidas; Dept.2 – Proteção de culturas específicas; Dept.3 – Gestão de dados e análise de risco; Dept.4 – Deteção e monitorização de pragas e doenças; Dept.5

– Formulações e desenvolvimento de processo e; Dept.6 – Gestão e Administração. Dos membros do InPP 17 são doutorados e 20 são mestres em diversas áreas do conhecimento, entre outras a Biologia Celular e Molecular, a Biotecnologia, a Engenharia Química e Agronómica, a Informática e a Bioinformática, os Sistemas de Informação Geográfica e a Inteligência Artificial. o InPP tem submetidos quatro pedidos provisórios de patente, estando em preparação mais um, o primeiro já publicado ao nível europeu e os restantes ao nível nacional. Dois dos pedidos referem-se a novos biopesticidas, um constituído por um microrganismo capaz de controlar doenças fúngicas e bacterianas, como a piriculariose do arroz e o fogo bacteriano nas pereiras, e outro biopesticida constituído por um filtrado de meio de cultura de um fungo, capaz de controlar vários fungos do solo, incluindo fitoftoras e pitiums. A terceira patente refere-se a um bioesti- mulante de origem microbiana e a quarta a uma formulação para estabilização de bioprodutos. A patente a ser brevemente apresentada refere-se a um método de cobertura de sementes, que aumenta a capacidade das plantas de resistirem a condições adversas durante a germinação e primeiras fases de crescimento.

O InPP participa atualmente em 10 projetos de desenvolvimento e inovação, dois dos quais do Horizonte Eu-

ropa. Para além da atividade de Inovação o InPP oferece um conjunto de serviços que vão desde a identificação e monitorização, com recurso a técnicas digitais e moleculares de pragas e doenças, a monitorização de pragas e doenças no campo, também com recurso a sensorização remota, à análise do microbiomas de plantas e de solo entre outros.

DENSIDADE DE PLANTAS NA CULTURA DO MILHO

Considerações agronómicas e económicas

A cultura do milho é essencial para a economia agrícola em muitos países do mundo. A sua versatilidade e procura tanto na alimentação humana como animal, bem como na indústria, fazem dela uma cultura chave. Um dos fatores agronómicos mais influentes na produção de milho é a densidade de plantas, que se refere ao número de plantas viáveis por unidade de área. A escolha de uma densidade apropriada não afeta apenas o rendimento da cultura, mas também tem implicações económicas significativas para os agricultores.

DENSIDADE DE PLANTAS

E RENDIMENTO

A densidade de plantas é um aspeto fundamental na gestão da cultura do milho. A relação entre densidade e rendimento é complexa. O aumento da densidade de sementeira pode levar a um aumento do

rendimento por hectare até um certo limite, onde a competição entre as plantas por recursos como a luz, a água e os nutrientes pode resultar numa diminuição do rendimento.

OTIMIZAÇÃO DA DENSIDADE

Para atingir a densidade ideal, é essencial considerar vários fatores, incluindo:

1.º Tipo de solo: Os solos férteis e bem drenados podem suportar densidades mais elevadas, enquanto os solos menos produtivos podem exigir densidades mais baixas para evitar a competição excessiva.

2.º Condições climáticas: Em regiões com pluviosidade suficiente ou com recurso a rega, podem ser adotadas densidades mais elevadas. No entanto, em condições de stress hídrico, uma densidade mais baixa pode ser mais benéfica.

3.º Variedades de milho: A genética desempenha um papel fundamental na adaptação às diferentes densidades. Algumas variedades adaptam-se melhor a elevadas densidades de sementeira do que outras. Escolher a variedade certa pode otimizar o desempenho. Para tal, é necessário contrastar os dados dos ensaios, testando a resposta de diferentes híbridos a diferentes densidades nas mesmas condições agronómicas em diferentes locais e ambientes durante vários anos.

Como resultado destes testes e tendo como base a densidade que o agricultor tem utilizado na sua parcela nos últimos anos, a Pioneer testa todas as suas variedades em diferentes ambientes da Península Ibérica.

Nestes ensaios, comprova-se a adaptabilidade não só às elevadas densidades (por maior potencial produtivo) mas também

FIGURA 1
FIGURA 2

às baixas densidades, para no caso de termos a nossa cultura com um número de plantas inferior ao desejado, conhecer a adaptação do híbrido a esta baixa densidade e permitir avaliar se é mais rentável economicamente manter a cultura no campo ou antes voltar a semear (implica custos extra e menor potencial produtivo devido à data de sementeira).

Pode ver os gráficos 1 e 2 de adaptação de duas genéticas distintas com as suas densidades mínimas, rentáveis para o agricultor, e a densidade ótima para obter a maior rentabilidade da cultura.

O Híbrido 1 possui uma maçaroca muito elástica que compensa baixas densidades e um grande potencial produtivo a altas densidades.

O Híbrido 2 tem uma maçaroca do tipo “fixa”, pouco elástica, que necessita de um elevado número de plantas para atingir o seu máximo potencial produtivo e económico, compensando mal as baixas densidades.

É importante escolher uma densidade adequada tendo igualmente em conta a data de sementeira e ciclo de maturação escolhido. Um híbrido semeado fora do seu ciclo pode romper com a dinâmica de adaptação à densidade. (ver figura 1)

O mesmo híbrido com diferentes densidades de plantas. Nas fotos acima o híbrido de espiga “flexível”, nas fotos abaixo o híbrido de espiga “fixa”. (ver figura 2)

4.º Gestão agronómica: A aplicação de fertilizantes, o controlo de pragas e a utilização de práticas de conservação do solo também desempenham um papel fundamental na determinação da densidade ideal.

FATORES ECONÓMICOS

A CONSIDERAR

CUSTOS DE PRODUÇÃO

O custo de produção é um aspeto fundamental que os agricultores devem

considerar ao decidir a densidade de sementeira. O aumento da densidade envolve mais utilização de sementes e pode exigir mais fatores de produção, tais como fertilizantes e água. Assim, é crucial realizar uma análise custo-benefício para determinar se o aumento de potencial compensará os custos adicionais.

PREÇOS DE MERCADO

A rentabilidade da cultura do milho depende também dos preços de mercado. Num mercado onde os preços são elevados, investir numa maior densidade pode ser mais justificável. Contudo, se os preços forem baixos, os custos adicionais associados a uma densidade mais elevada podem não ser sustentáveis. Assim, os agricultores devem estar bem informados sobre as tendências do mercado e ajustar as suas práticas em conformidade.

RISCOS ASSOCIADOS

A agricultura tem sempre um risco intrínseco e a densidade de sementeira não é exceção. Uma densidade mais elevada pode aumentar a suscetibilidade a doenças e pragas, o que pode afetar o rendimento. Além disso, em condições climáticas adversas, como temperaturas muito elevadas em períodos críticos, falta de água ou tempestades, uma densidade elevada pode agravar o impacto negativo na cultura. Por conseguinte, é vital que os agricultores ponderem os riscos e os benefícios antes de aumentar a densidade de sementeira.

CONCLUSÕES

A densidade de plantas é um fator crucial na cultura do milho, que influencia não só o rendimento, mas também a rentabilidade económica do agricultor. Para maximizar a rentabilidade, os agricultores devem considerar cuidadosamente

ESTRATÉGIAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO

Para que os agricultores possam aplicar com sucesso os conhecimentos sobre a densidade de plantas e a sua relação com a rentabilidade, é essencial que sigam determinadas estratégias:

• Avaliação das condições locais: Antes de decidir sobre a densidade de sementeira, é crucial realizar uma análise detalhada das características do solo, do teor de nutrientes com base em análises do solo, do clima local e da disponibilidade de recursos hídricos. Isto estabelecerá uma base sólida para a tomada de decisões.

• Experiência de campo e bom conhecimento da adaptação da genética a utilizar e da densidade adequada (agro-económica) com base em dados plurianuais e multi-ambientais

• Monitorização contínua: Durante o ciclo de crescimento do milho é fundamental realizar uma monitorização constante das plantas e das condições ambientais. Isto ajudará a identificar potenciais problemas tais como pragas ou deficiências nutricionais, que podem ser mais evidentes em densidades mais elevadas.

• Utilização de tecnologia: A implementação de tecnologias modernas, ferramentas digitais como o Granular Link, pode facilitar a tomada de decisões fundamentadas sobre a densidade de plantas e a sua adaptação às condições variáveis.

• Equilíbrio da rentabilidade para o agricultor com a densidade escolhida.

a densidade de sementeira em relação às características do solo, às condições climáticas predominantes, aos custos de produção e aos preços de mercado.

A gestão adequada e a tomada de decisões fundamentadas sobre a densidade de plantas recomendada para cada híbrido e terreno são cruciais e podem fazer uma diferença significativa no sucesso da cultura do milho. A necessidade de práticas agrícolas sustentáveis significa que os agricultores que otimizarem a sua densidade de sementeira estarão melhor posicionados para enfrentar os desafios do sector agrícola e garantir uma produção rentável e estável.

Vamos despontar Milho

Naquele ano o patrão chegou a acordo com os fangueiros, pôr 2 mulheres a despontar, desfolhar o milho e atar o folhado.

- Oh Maria queres ir comigo para o Miro o olho, despontar Milho?

- É kchopa até vou, é pr’a onde?

- É nos “Talhos”, mas é com uns fangueiros

- Na faz mal, olha lá, vamos de Madrugada?

- Parece que sim, vamos às 4h da “manhêm”

No dia combinado lá foram todas juntas até ao “campo da Golegã”; cesta à cabeça com o farnel “foicinho” ao ombro, iam contentes pois o seu ordenado era superior às outras em cinco tostões. Chegadas ao local, já lá estavam os fangueiros, pois dormiam na serra para que ninguém roubasse o produto.

- Bom dia Mulheres!!!

- Bom dia, é como quem diz, ainda é noite

- É verdade!

- Olha vamos começar por aqui junto ao carreiro.

Tomam o eito, fazem o sinal da cruz dizendo:

- Deus me ajude e que a noite não se descuide.

Começado o trabalho não havia paragens, mas falavam:

- A So Tono, “vocêsses” são da “serra”

- Somos sim Senhor, já fazemos Fanga para o Miro o Olho há uns Anos.

- Olhem vimos aqui ganhar no Verão para ter po Inverno

- Olhe agente ande à jorna, os nossos homens na querem fazer fanga, dizem cos patrões é que ficam com tudo.

A Seara de Milho estava Basta, boas espigas, com o “foicinho” cortavam a “Bandeira do milho”, tiravam as folhas deixando-as no chão a secar, para daí a uns dias irem atar o folhado, que servia de alimento no Inverno para os animais.

Dizia o Fangueiro:

- Mas isto pa’ gente também é uma “Matação” ó tempo c’agente saiu das nossas casas, dormimos em quartéis, e aqui no campo, mas sempre levamos o milho, Feijão, abóboras, que dá pr’a gente comer no Inverno.

- Isso é verde à Senhor António, olhe agente aqui na Golegã, é uma miséria nos Anos de cheia; está o campo tapado de água 3 meses, os nossos homens vão à Praça e vem pra casa que não há trabalho. Mas o que é que a gente há-de fazer, toda a vida foi assim…

O Trabalho, sordia, o chão ficara repleto de bom folhado, aquele Fangueiro tratou bem da seara; o ano também correu de feição.

A Fangueira, mulher da “Serra de Tomar” muito mais reservada, poucas falas dava.

O sol já ia alto, e elas despegavam há uma hora da tarde. Às 10h foram ao almoço, sentados à sombra de um Freixo, comeram do pouco que tinham.

- É chopa hoje só tenho um ovo frito e um bocado de pão.

- Olha e eu pão e azeitonas e umas sopas de café.

Os Fangueiros almoçaram nos seus aposentos.

Até à uma da tarde continuaram a despontar, dizendo:

- Á S’Tonho agente vem atar o folhado

- Daqui a quatro dias, tá calor ele seca num instante.

No dia combinado lá foram atar o folhado. A cintura tinha uns “Bencelhos” (Baraços feitos em junco), com o foicinho faziam molhos que eram atados, com os ditos, Bencelho.

Ao fim de uma hora chega a galera com o “Mulateiro” (Maioral das Mulas) que vinha carregar o Folhado para o levar para o palheiro em casa do Patrão

Elas na sua árdua tarefa lá iam pensando em ganhar mais alguma coisa e perguntaram:

- Á S’ Tonho, você na quer vender uma ceara de milho pa gente descomisar? Olhe lá agente dá-lhe 2$50 (vinte cinco tostões).

- Pode ser sim senhor, diz o Fangueiro.

- Quando for para a eira eu mando recado a “vocêsses”.

- Muito obrigadinho.

As mulheres do campo da Golegã, compravam aos Fangueiros carradas de Milho para descamisar para depois na eira serem elas a fazer esse trabalho, ficando depois com as camisas que iriam ser desfiadas no Inverno para serem vendidas aos compradores de palha.

Era um fator económico importante para a comunidade Rural da Golegã.

O dinheiro do desfiar camisas, era um dinheiro à parte; era guardado para os extras; enxoval, fio de ouro.

Era assim o dia a dia das gentes da Golegã. Outros tempos outras Realidades. Era assim a nossa Golegã. Coisas do passado.

Campanha 2024/2025 de azeite poderá ser a segunda maior de sempre

A produção nacional de azeite, na atual campanha, poderá atingir este ano entre as 170.000 e as 180.000 toneladas, superando em mais de 10% as 150.000 toneladas registadas na campanha anterior. Com este volume de produção a campanha oleícola 2024-2025 poderá tornar-se na segunda maior produção de azeite de sempre. A estimativa foi avançada pela Olivum - Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal. A mesma entidade destacou ainda que os lagares associados da Olivum antecipam conseguir cerca de 830 milhões de quilos de azeitona, que podem originar cerca de 125.000 toneladas de azeite. Este valor representa um aumento de cerca de 12% – em linha com o registo nacional – e consolida a relevância

destes lagares para o setor em Portugal, explicou a associação em comunicado de imprensa. “Esta evolução é o reflexo das novas plantações de olival, mas também do compromisso dos nossos associados – e do setor como um todo – em adotar práticas inovadoras e sustentáveis que permitem garantir não só a quantidade, mas também a qualidade que já é característica do azeite produzido em Portugal, posicionando cada

vez mais o nosso país como um dos maiores produtores no mercado global de azeite”, destacou Susana Sassetti, diretora-executiva da Olivum. Segundo a nota de imprensa, o aumento esperado na produção de azeite resulta da entrada em produção de novos olivais em sebe e, também, por ser um ano favorável para o olival, com condições climatéricas mais estáveis e com menos fenómenos extremos.

Investigadores

portugueses

descobrem molécula capaz de transformar

CO2 em combustível

Uma equipa internacional de investigadores, liderada por cientistas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, fez uma descoberta científica promissora no caminho para a descarbonização dos processos industriais. A equipa, coordenada por Paulo Martinho, do Centro de Química Estrutural, e integrada pelo doutorando Marcos Bento, desenvolveu uma molécula inovadora que transforma dióxido de carbono (CO2) em monóxido de carbono (CO) utilizando a luz solar como fonte de energia. Este composto à base de rénio, ao ser ativado pela luz solar, permite a conversão de CO2 em CO de forma sustentável e com maior eficiência. A utiliza-

ção de uma fonte renovável como a luz solar reduz não só a necessidade de processos industriais intensivos em energia, mas também o consumo energético, o que representa uma vantagem significativa para a indústria. O CO gerado neste processo pode ser empregado na produção de combustíveis através do método Fischer-Tropsch, amplamente utilizado para a criação de hidrocarbonetos, e é uma matéria-prima versátil para a produção de produtos químicos e farmacêuticos. “Esta descoberta é importante porque oferece uma forma mais sustentável de utilizar um gás poluente como o CO2. Utilizar a luz solar evita processos industriais que requerem grandes quantidades

de energia”, destacou Marcos Bento. Em termos ambientais, o avanço oferece um potencial significativo para reduzir a pegada ecológica das indústrias, permitindo a reutilização de CO2 numa escala mais ampla. O próximo passo da equipa será desenvolver reatores à escala laboratorial que possam converter CO2 em CO em maiores quantidades, mantendo a eficiência do processo em pequena escala. Este processo abre novas portas para a economia circular e para a criação de produtos químicos, plásticos e compostos moleculares de aplicação industrial, reduzindo a dependência de recursos fósseis e promovendo um futuro industrial mais sustentável.

O TOMATE DE INDÚSTRIA EM PORTUGAL

Condicionantes, desafios e estratégias da fileira?

A campanha de transformação em 2024, terminou quase em meados de outubro, tendo começado em início de agosto, cerca de 10 a 15 dias mais tarde do que em anos anteriores. Para além das vicissitudes climatéricas, creio que a quase obrigatoriedade de instalação de culturas intercalares de outono-inverno, terão também contribuído para algum atraso inicial na preparação dos solos e na plantação.

À data em que escrevo este artigo, ainda não existem números finais oficiais, mas crê-se que o saldo da campanha poderá estar em torno dos 1,7 milhões de toneladas métricas de tomate fresco produzido e destinado á transformação industrial, dos quais 1,55 milhões de toneladas métricas para indústrias situadas em Portugal e 150 mil toneladas métricas para fábricas na Extremadura Espanhola.

A média de produção unitária poderá rondar as 93-94 toneladas por hectare, de tomate de boa qualidade.

O atual momento do mercado de concentrado de tomate, o mais importante dos produtos transformados à base de tomate, parece estar num ponto de viragem para cenários mais difíceis. Sendo uma commodity, é um produto global sujeito às oscilações de mercado e cada vez mais exposto à oferta de países terceiros, dentro e fora da União Europeia, alguns de grande importância como a China, cujas previsões rondam os 11 milhões de toneladas métricas produzidas, tornando-se o segundo maior transformador mun-

dial a seguir aos Estados Unidos da América. Só a título de curiosidade há 30 anos, em 1994, a China produziu 500 mil toneladas de tomate destinadas à transformação industrial, vinte e duas vezes um volume inferior ao atualmente produzido.

Não cabe no âmbito deste artigo alusões às diferentes condições e regras de produção e transformação entre o espaço da União Europeia e outras regiões do mundo. Também existem diferenças dentro do próprio espaço Comunitário, tais como, políticas fiscais, preços

dos combustíveis e alguns fatores de produção, execução e monotorização de algumas diretivas comunitárias e agroambientais, entre outras. Portugal é, e sempre foi reconhecido, como uma origem de alta qualidade de concentrado de tomate, respeitando os mais elevados padrões de segurança alimentar, tanto no plano agrícola como industrial e cumprindo as normas ambientais.

É vulgar ouvir de quem vem de fora e nos visita durante a campanha, os mais altos elogios à qualidade das nossas culturas e ao cuidado que existe com a colheita, resultando em cargas de tomate que mais parecem destinadas às prateleiras de um supermercado exigente. Os parques das nossas fábricas têm tomate maduro ao sol, cuidadosamente selecionado e de aspeto sadio. Matéria-prima de qualidade é a primeira condição para um produto transformado de valor acrescentado. Porém, e aqui reside a dúvida de muitos nesta importante fileira, sendo o concentrado de tomate uma commodity será que o mercado/comprador ainda valoriza a qualidade? Podemos também questionar se a qualidade é valorizada só com preferências de compra ou com acréscimo de preço? Creio convictamente que no dia em que Portugal abandonar este modelo de elevado padrão de qualidade e bem-fazer em todas as fases desta fileira (produção, transformação e vendas) o sector ficará seriamente comprometido e em grande agonia, pois o mundo continuará a gerar oferta suficiente, proveniente das mais variadas origens e de todos os continentes.

Certamente, para garantir este desígnio de alta qualidade cada um terá de cumprir a sua parte, produtores, técnicos do sector, empresas de fatores de produção, de maquinaria, prestadores de serviços, indústria, serviços oficiais, infraestruturas estatais ou privadas (vias de comunicação, logística, água e energia), e nas suas variáveis contribuir para maximizar o resultado final da equação.

Por fim, espera-se dos decisores políticos, ao mais alto nível, que possam definir políticas comunitárias que sem serem adjetivadas de protecionistas, contribuam

de facto para um mercado justo, sério e transparente. A concorrência global tem de se pautar por regras que defendam não só o consumidor mas também o produtor e a industria europeia.

A monotorização dos produtos que circulam no mercado europeu deve ser criteriosa e caso se verifiquem irregularidades devem ser adotadas medidas que salvaguardem a concorrência leal. A Alemanha já o conseguiu para as importações de veículos automóveis elétricos de outras origens.

E a Agricultura para quando na agenda?

Prazeres da gastronomia regional

ENGUIAS DO BOQUILOBO

Na Reserva Natural do Paúl do Boquilobo a abundância de enguias é uma vantagem económica para os habitantes das imediações, que a pescam para comercialização e para consumo próprio, de formas variáveis, tornando famosas as enguias de Boquilobo.

Enguias fritas:

kg de enguias; farinha sal q.b.; vinagre e sumo de limão para temperar.

Enguias grelhadas:

1,2 kg de enguias; 1 cebola; azeite; sal q.b.; vinagre e sumo de limão para temperar.

REQUENTADO

Enguias fritas: Temperam-se as enguias com sal, envolvem-se em farinha e fritam-se em óleo bem quente durante cerca de 10 minutos. Retiram-se para uma travessa e temperam-se com vinagre e sumo de limão.

Enguias grelhadas: Depois de previamente temperadas com sal, levam-se as enguias a assar em grelha de carvão durante 15 minutos, aproximadamente.

O Requentado é um prato muito popular na Golegã e em muitos outros concelhos do Ribatejo, e é mais um exemplo da ancestral economia doméstica, com o aproveitamento e a valorização das sobras, usando produtos da região. Depois do consumo da sopa, para não repetir o mesmo prato na refeição seguinte, usava- se a criatividade, acrescentando o alho e o pão de milho. Mas há quem afirme que é a segunda fervura que faz toda a diferença. Quem podia acompanhava o Requentado com bacalhau assado, durante muito tempo conhecido como o “fiel amigo”, ou com sardinhas fritas ou assadas.

Para a sopa: que deve ser em quantidade suficiente para duas refeições: 300 g de feijão branco; 1 cebola; 1,5 dl de azeite; 2 couves portuguesas; 3 dentes de alho; 0,5 kg de pão de milho; sal q.b. Para o Requentado: Restos da sopa de feijão branco; 3 dl de azeite; 6 dentes de alho; pão de milho

Sopa: Depois do feijão demolhado durante dez a doze horas, coze-se em água abundante com a cebola e um pouco de azeite. Quando o feijão estiver cozido, junta-se a couve cortada em caldo-verde grosso. Tempera-se com sal. Serve-se a sopa à noite, ao jantar, e cada um junta-lhe pão de milho esfarelado e rega-se com um fio de azeite.

Algumas receitas quase esquecidas e produtos em vias de desaparecer têm vindo a ser recuperados e redescobertos ou mesmo descobertos por novas gerações que, mais informadas, optam pelo que tem mais sabor e garante melhor qualidade de vida. IMAGENS

Requentado: No dia seguinte, leva-se o resto da sopa ao lume, até ferver. Junta-se-lhe o azeite, os dentes de alho descascados e inteiros e pão de milho em quantidade suficiente para enxugar o caldo e se obter um preparado com aspeto de uma açorda. Depois de se adicionar o pão, deixa-se o requentado ferver, mexendo sempre para evitar que se pegue ao fundo do tacho. Nesta altura e enquanto se mexe, se for necessário, junta-se mais azeite. Acompanha-se com bacalhau assado, carapaus ou sardinhas fritas.

Impugnação judicial de atos administrativos

Nas últimas décadas, os custos das atividades de exploração agricultura têm vindo a aumentar significativamente.

Este facto, aliado à cada vez maior desertificação do interior do país, veio colocar uma pressão económica significativa nos agricultores portugueses. Face à importância basilar da agricultura (para um país), o Estado, através de diversos programas, tem disponibilizado aos agricultores fundos de

apoio nas mais variadas áreas. Desde o investimento na exploração agrícola aos incentivos por práticas agrícolas benéficas para o clima e ambiente, os agricultores têm tido à sua disposição o acesso a fundos para investir e desenvolver a sua atividade, ou simplesmente para a manutenção da mesma, beneficiando assim de apoios para fazer face às já referidas dificuldades com que se têm deparado.

Apesar da arguível opacidade no anúncio e falta de clarificação de algumas iniciativas e programas para a disponibilização de apoios, bem como da complexidade na preparação e submissão das respetivas candidaturas, com o apoio de profissionais especializados na área, os agricultores têm conseguido apresentar as suas candidaturas, disponibilizando-se assim a inovar e a desenvolver o panorama agrícola

Paulo Amado de Almeida CALÇADA ADVOGADOS

nacional, o que não trará apenas benefícios para o agricultor em si, mas também para a região e país onde este exerce a sua atividade.

O problema surge quando, apesar de aparentemente ter cumprido os requisitos legais, ou, noutros casos, por culpa do próprio Estado, o agricultor não foi capaz de cumprir, à data da candidatura, todos os requisitos exigidos e vê a sua candidatura indeferida (o que, normalmente, surge primeiramente na forma de um Parecer Desfavorável). Dependendo do procedimento ou operação em causa, este revés pode tomar diversas formas, sendo também distintas as reações às mesmas. Normalmente, o agricultor terá direito a exercer o seu direito de audição em sede de audiência prévia, onde poderá expor as suas justificações e argumentos – se existirem – para tentar demonstrar que a candidatura não deverá ser indeferida ou, numa fase posterior, a apresentar Reclamação ou Recurso (se admissível) da própria decisão (desfavorável) que recaia sobre a sua candidatura.

Nestas fases, o agricultor (utilizarei este termo apesar de nesta fase o assunto já estar, normalmente, entregue a um profissional jurídico) tenta fazer valer os seus direitos junto da Administração Pública, apresentando-lhe os seus argumentos contra um parecer ou decisão da própria Administração Pública, cabendo a esta determinar se é o agricultor ou ela própria quem tem razão.

Ora, se, mesmo após o agricultor utilizar todos estes meios ao seu dispor, a Administração Pública entender que a candidatura deverá ser e permanecer indeferida e assim decidir, e o agricultor

considerar que está perante uma decisão injusta e/ou ilegal, resta ao agricultor a impugnação judicial (não abordaremos, por uma limitação de espaço e tempo, eventuais outros meios de reação).

Antes de avançar e, sem querer tornar este texto maçudo demais, por uma questão de rigor, cabe-me referir que, normalmente, o agricultor poderá recorrer diretamente à impugnação judicial sendo que, por vezes, a lei pretende que primeiro se apresente Reclamação ou Recurso, antes de se poder recorrer à via judicial. Também, é importante denotar que, salvo um efeito suspensivo conferido ao meio de defesa apresentado pelo agricultor, o tempo de espera entre a apresentação de Reclamação ou Recurso e uma efetiva decisão (dado o reiterado incumprimento dos prazos legais por parte da Administração Pública) pode implicar a caducidade do direito do agricultor de recorrer aos Tribunais para fazer valer os seus direitos. Esclarecido este ponto, retomemos o texto.

A ação administrativa pode versar sobre diversos temas, consoante a questão com que nos deparamos. Para efeitos deste texto, no qual versamos sobre um indeferimento de uma candidatura a um apoio por parte de um agricultor, a vertente mais adequada

de ação administrativa que pretenda agir contra o indeferimento, será –porventura – a de impugnação de atos administrativos.

Por meio de uma ação administrativa para impugnação de ato administrativo, o agricultor poderá expor os seus argumentos, de forma a tentar demonstrar ao Tribunal que a decisão de indeferimento da sua candidatura terá sido injusta e/ou ilegal (ou qualquer outra justificação que considere), procurando que a mesmo seja, por exemplo, anulada, de forma a reverter o indeferimento e procurar uma decisão noutro sentido por parte da entidade decisora. Diga-se, a bem da verdade, que mesmo tendo razão, o caminho não é fácil. Não o é, pois, não são só os agricultores que se deparam com problemas, mas também os Tribunais - especialmente os da vertente administrativa - que, devido à falta de meios (entre outras razões), tendem a tomar excessivo tempo para formular uma decisão e trazer clareza ao litígio entre os particulares e o Estado. Não obstante e, essencialmente, porque é justo, é da mais fulcral importância que todos conheçamos os nossos direitos e os mecanismos existentes num Estado de Direito para tutelar e garantir esses direitos!

“ESPETA A BURRA”

A forma de confecionar as refeições dos trabalhadores dos arrozais

A introdução do arroz em Portugal pode ser traçada até o período muçulmano (séculos VIII a XIII), quando os árabes trouxeram o conhecimento e as técnicas de cultivo de arroz para a Península Ibérica. No entanto, foi no século XIX que a cultura do arroz começou a expandir-se significativamente no Ribatejo.

No século XIX, o arroz tornou-se uma cultura mais importante no Ribatejo, em parte devido a incentivos estatais e ao reconhecimento da importância das áreas inundadas para o cultivo.

A região da Chamusca foi uma das regiões onde os arrozais tiveram uma forte presença, dando trabalhos a milhares de pessoas.

O cultivo do arroz exigia uma grande força de trabalho devido à natureza intensiva do plantio e colheita, principalmente nas fases iniciais, quando o arroz era plantado e colhido manualmente. Os trabalhadores agrícolas que operavam nos arrozais do Ribatejo enfrentavam condições muito duras, pois trabalhavam em terrenos alagados e expostos ao calor, o que tornou o cultivo do arroz uma atividade particularmente

José Monteiro Limão

exigente e exigia grande esforço físico. Durante as pausas, os trabalhadores usavam a burra para cozinhar as suas refeições no campo, sendo assim um momento de descanso no meio do trabalho pesado. A burra, era o ferro utilizado para segurar uma ou mais panelas, sobre uma fogueira, onde eram preparados cozinhados simples mas substanciais. A comida confecionada era baseada em ingredientes locais e sazonais, com preparações que variavam entre sopas, guisados e pratos à base de pão. O momento do cozinhar era a ocasião de estreitar os laços de proximidade e amizade, criados entre os trabalhadores dos campos, que se reuniam para partilhar refeições simples e reconfortantes cozinhadas sobre o fogo. Alguns exemplos de refeições típicas cozinhadas na burra incluem:

SOPAS

- Sopa de feijão: Preparada com feijão, batatas e couves. Era um dos pratos mais comuns, feito com ingredientes acessíveis e de fácil cultivo.

- Sopa de couve com batata: Simples, mas nutritiva, combinava couves, ba-

tatas e alho, muitas vezes enriquecida com azeite.

MIGAS

- As migas eram feitas com pão duro, alho, azeite e, por vezes, com enchidos ou toucinho, quando disponíveis. Era um prato popular por ser econômico e satisfatório.

CALDEIRADAS E GUISADOS

- Caldeirada de peixe: Aproveitando o peixe dos rios próximos era um prato comum, com batatas e pão.

- Guisados de carne: Quando havia carne disponível, eram preparados guisados simples com carne de porco ou carneiro, batatas e vegetais.

PAPAS DE MILHO

- As papas de milho, uma espécie de polenta, eram cozidas lentamente e podiam ser servidas simples ou com adição de pequenos pedaços de toucinho ou enchidos.

COZIDO DE VEGETAIS

- Um prato simples de vegetais como batatas, cenouras, nabos e couves, cozidos lentamente na panela sobre a burra.

RESERVA NATURAL DO PAUL DO BOQUILOBO

Garças e outras espécies coloniais

A Reserva Natural do Paul do Boquilobo classificada pelo Decreto-Lei n.º 198/80 de 24 de junho com uma área inicial de 529 hectares, foi alargada para os atuais 817 hectares, através do Decreto Regulamentar n.º 2/2005 de 23 de março.

A sua importância no contexto internacional foi reconhecida pela UNESCO que a consagrou como a primeira Reserva da Biosfera nacional em 1981. É sítio Ramsar desde 1986, sendo assim valorizada como uma zona húmida relevante em termos mundiais.

Está classificada como uma área de importância internacional para a avifauna (Important Bird Área) incluída

na Rede Natura, como Zona de Proteção Especial, através do Decreto-Lei n.º 384-B/99 de 3 de setembro. Todas estas classificações acrescem a responsabilidade, coletiva e individual, na preservação da maior zona húmida natural de águas interiores em Portugal.

É fator de desenvolvimento regional: promove o turismo ambiental, sem degenerar para a massificação, que compromete os valores naturais; funciona como reserva estratégica de água, nos terrenos adquiridos pelo Estado, com espaço para aumentar a capacidade de armazenamento desse recurso fundamental; estabelece a conetividade com

zonas mais reduzidas, importantes para a proteção e valorização da biodiversidade, fundamental para o equilíbrio ecológico e sustentabilidade. Estes são apenas três exemplos, de muito outros que possiveis, para exemplificar a sua relevância no que respeita aos, cada vez mais propalados, serviços dos ecossistemas numa região de intensa atividade agrícola.

A reserva, apesar da existência de grandes matas de salgueiros e freixos, porventura as melhores conservadas em termos nacionais, e de algumas plantas com estatuto de conservação em perigo no Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, é

principalmente conhecida pelos seus valores faunísticos.

É local de reprodução e desenvolvimento de algumas espécies de peixes endémicas em risco de extinção, anfíbios, répteis, mamíferos e uma enorme diversidade de insetos e outros artrópodes que, embora esquecidos e pouco valorizados, estão na base da cadeia alimentar sendo responsáveis pela polinização, fundamental para a agricultura, nomeadamente de espécie hortícolas e oleaginosas.

É sobretudo pela avifauna que a reserva é mais conhecida: numa área correspondente a menos de 0,009 % território do território nacional, ocorrerem, ainda que nalguns casos esporadicamente, 56,73% de todas as espécies de aves registadas em Portugal.

Entre as aves, sem prejuízo de outros exemplos relevantes, ressalta-se a importâncias das garças e outras espécies que com elas compartilham o espaço colonial, como se refere, exageradamente, no preâmbulo do referido Decreto-Lei nº 198/80, que criou esta área protegida:

Merecem especial relevo as seguintes caraterísticas da área em causa:

1) Existência de dois maciços de sagueiros, num dos quais está instalada a maior colónia de garças da Península Ibérica (…).

Esta importância foi reconhecida no início do Sec. XXI, pela inclusão do Paul do Boquilobo entre os 50 sítios mais importantes para as garças em termos europeus.

As primeiras contagens da colónia do Boquilobo datam de 1964, estimando-se em cerca de 4.000 casais, de apenas 5 espécies: carraceira, garça-branca-pequena (localmente conhecida como lavandeira), garça-noturna, garça-vermelha e papa-ratos. Em 1987 começou também a nidificar o colhereiro, estimando-se um total de 1.200 de casais de todas as 6 espécies. Em 2012, a estimativa do n.º de casais foi de apenas 800, mas o n.º de espécies presentes era já de 10 incluindo: a garça-cinzenta, anteriormente apenas como invernante; a íbis-preta que teve uma explosão populacional do final do séc. passado; a cegonha-branca, que embora comum, não nidificava

na colónia; o corvo-marinho-de-faces-brancas. Mais recentemente, a garça-branca-grande, que era um visitante raramente observado no nosso país, começou também a nidificar na Reserva. Uma espécie, atualmente bastante rara mas anteriormente muito comum, é o garçote que, embora não seja colonial, hoje nidifica irregularmente na área protegida.

Consta-se assim que, embora o número de casais de garças tenha sofrido um decréscimo acentuado a diversidade de espécies aumentou significativamente.

Continuam presentes as 5 espécies de garças coloniais registadas em 1964, para além das outras 2 que apareceram posteriormente. Regista-se assim a nidificação regular de 8 das nove espécies de garças, contabilizando o garçote, que se reproduzem na Europa. Considerando as outras 4 espécies que não são garças, verificamos que são 11 as espécies que ocupam a colónia na reserva, sendo este é o único local nacional onde se regista a reprodução conjunta de todas estas aves, num total de 11 espécies, excluindo o garçote.

FOTO: Fernando Faria Pereira
FOTO: Martin Jenner

Todas estas aves podem ser observadas, com maior ou menor regularidade, nas áreas alagadas da Reserva Natural e também noutras pequenas zonas húmidas nucleares da Reserva da Biosfera, relevantes para conetividade da biodiversidade, por exemplo nas alvercas, como a que acompanha o Equuspolis ou as que ficam junto à foz do Rio Almonda.

A espécie de garça mais comum é a carraceira. Começou a nidificar, em Portugal nos anos 40 do séc. passado. É observada com facilidade na senda dos tratores ou acompanhando as reses na pastagem, não raro pousada no seu dorso. É a garça que frequenta terrenos mais secos. Ao contrário do que o seu nome indica não se alimenta das carraças ou outras parasitas desses animais quadrúpedes, mas aproveita sua boleia e o facto de, na sua progressão, levantarem e assustarem diversas espécies de insetos, pequenos mamíferos e répteis de que se alimenta a carraceira, caçando-os a partir do seu

poiso privilegiado. É acusada de dizimar os pintos de aves que nidificam no solo e, embora não seja de excluir a utilização ocasional desse recurso alimentar, um estudo desenvolvido pelos serviços florestais, que analisou o conteúdo estomacal de diversos indivíduos, descartou essa suspeita. Tal como a maioria das garças que nidificam colonialmente desenvolve, na altura da reprodução, penas especiais, na cabeça, pescoço e dorso que são utilizadas em cerimónias de reconhecimento mútuo quando os casais se juntam na balburdia da colónia. Estas penas foram utilizadas como adornos femininos na belle époque ameaçando diversas colónias de garças. Para que estas penas estejam sempre em boas condições, sob as asas existem outras penas especiais que se desfazem e são utilizadas para a maquilhagem, como uma espécie de pó talco.

As garças e as outras aves que compartilham a colónia demonstram a vitalidade deste ecossistema de importância

mundial, cuja proteção depende de todos. Esta biodiversidade assegura a produtividade e resiliência deste território, fundamental para a sustentabilidade das atividades económicas. E, finalmente, demonstram que o que nos liga à Natureza é mais do aquilo que nos separa, como a garça carraceira exemplifica admiravelmente: constantemente preocupada com a sua plumagem, vaidosa; aproveitando e rentabilizando as diferentes oportunidades, à boleia no lombo das ovelhas ou na esteira dos tratores; capaz, como fez há mais de 70 anos, de adaptar-se às novas oportunidades; compartilhando o espaço, em harmonia, com as outras 7 espécies de garças, que aproveitam de forma inteligente, os diferentes recursos… Agora e sempre, dependentes de um elemento básico, cada vez mais escasso, fundamental para Reserva Natural do Paul do Boquilobo e para a agricultura, porque, tal como nós, sangue, carne e osso, também a carraceira, mais que tudo, é 70% de água.

FOTO: Fernando Faria Pereira

ADN - Gama de Bioestimulantes para a Performance das Culturas

As alterações climáticas, a sustentabilidade e a segurança alimentar estão profundamente interligadas e impactam o mundo de forma abrangente. A agricultura moderna tem de promover práticas mais eficientes, e simultaneamente mais sustentáveis, que preservem os recursos naturais e reduzam o impacto ambiental. É crucial que se mitiguem os efeitos de eventos climáticos extremos, da alteração dos padrões de precipitação, do aumento da temperatura média e da escassez de água, etc. Atenta a estes desafios e à necessidade de alimentar uma população global crescente, a Timac AGRO desenvolveu soluções específicas para o setor agrícola, focadas no aumento sustentável da produtividade: a gama de bioestimulantes ADN. Esta gama inclui produtos essenciais para o desenvolvimento e proteção das culturas, com forte compromisso com a sustentabilidade. Ideal para culturas de Outono / Inverno, o IRYS - complexo húmico baseado em extratos vegetais, substâncias húmicas e aminoácidos - promove o desenvolvimento das raízes e melhora a absorção de nutrientes. Os seus ingredientes ati-

vos (C-IRYS1, C-IRYS2 e C-IRYS3) favorecem a multiplicação celular, o desenvolvimento foliar e a eficiência fotossintética, além de ajudar na resposta global aos estresses abióticos e na transformação dos nutrientes. Aplica-se na fase de instalação / plantação da cultura. O ASTELIS é um bioestimulante inovador formulado com extratos selecionados de microalgas. A sua fórmula exclusiva combina dois mecanismos de ação: peptídeos bioativos que estimulam o crescimento radicular e vegetativo e o complexo AIS que atua como anti-stress, promovendo um desenvolvimento robusto mesmo em condições adversas.

A sua aplicação proporciona crescimento sincronizado das raízes nodularescruciais na nutrição das gramíneas - e dos órgãos foliares, o que favorece o afilhamento e um enraizamento profundo. O produto melhora a nutrição bioativa, otimiza a fertilização azotada e impulsiona o crescimento e enchimento das espigas, além de aumentar a resistência aos estresses abióticos, garantindo um melhor desenvolvimento das plantas. Deve-se aplicar nas fases iniciais das

culturas: entre 2-8 folhas no milho, e nas fases de 2/3 folhas e 1 cm de espiga no arroz. Com o uso de ASTELIS, observa-se um aumento na massa radicular e foliar, maximização da fotossíntese e melhoria na mobilização e absorção de nutrientes, resultando em maior qualidade e produtividade das culturas.

Os produtos SEACTIV, à base de extratos de algas marinhas, focam-se na redução do estresse e melhoria do desempenho das culturas, aproveitando as estratégias naturais das algas para tolerar condições extremas.

O KAORIS, à base de algas castanhas e extrato de plantas, fortalece as paredes celulares das plantas, melhorando a textura e firmeza dos frutos. Melhora a produção de biomassa e mantém o equilíbrio mineral das folhas e frutos.

O GENAKTIS é um bioestimulante que aumenta a produtividade ao melhorar a absorção de silício, o que leva ao reforço das paredes celulares e aumento da tolerância ao estresse hídrico e radiação. Estimula também a produção de cloroplastos para uma fotossíntese mais eficiente e otimiza o transporte de nutrientes na planta.

LEISHMANIOSE

Uma Ameaça em Ascensão

A leishmaniose é uma doença infeciosa causada por parasitas do gênero Leishmania, que afeta tanto humanos quanto animais. Esta doença é transmitida por insetos vetores, principalmente mosquitos flebótomos, e apresenta diferentes formas clínicas, como leishmaniose cutânea, mucocutânea e visceral. Embora a leishmaniose seja mais prevalente em regiões tropicais e subtropicais, sua incidência tem aumentado em diversas partes da Europa, incluindo Portugal.

PREVALÊNCIA EM PORTUGAL

Em Portugal, a leishmaniose é considerada um problema de saúde pública, especialmente em áreas rurais e suburbanas. A prevalência da doença tem aumentado nas últimas décadas, com casos de leishmaniose visceral sendo reportados em várias regiões, principalmente no Alentejo e no Algarve. Os registros indicam que a transmissão da doença se intensifica durante os meses mais quentes, quando a atividade dos

Bruna

vetores (mosquitos) é maior. Estudos recentes apontam para uma crescente incidência de leishmaniose em cães, que são os principais reservatórios da doença. A presença de cães infetados está diretamente relacionada ao aumento do risco de transmissão para os humanos, especialmente em áreas onde a convivência entre humanos e animais é mais próxima.

Encontram-se descritas, até hoje, cerca de 53 espécies diferentes de Leishmania e destas, 20 são responsáveis por doença clínica no Homem.

A doença no Homem pode ser classificada, de acordo com os sinais clínicos demonstrados, como Leishmaniose Visceral ou “Kala-azar”, Leishmaniose Mucocutânea e Leishmaniose Cutânea. No cão não se observa uma distinção tão nítidandas manifestações clínicas causadas por estes parasitas e os animais tendem a apresentar uma síndroma viscerocutânea. Apenas L. infantum (L. chagasi na América) parece ser relevan-

te como agente de doença no cão. Contudo, este é o principal reservatório de L. infantum para as infeções humanas, relevando, assim, a sua importância na saúde animal e humana.

TRANSMISSÃO

A transmissão da leishmaniose ocorre principalmente através da picada de mosquitos flebótomos infetados. Quando um mosquito pica um animal ou humano, ele injeta os parasitas Leishmania, que podem invadir células do sistema imunológico e multiplicar-se. Embora a transmissão direta de cães para humanos não seja comum, a proximidade entre humanos e cães infetados aumenta o risco de infeção. É essencial que os proprietários de cães adotem medidas preventivas, como vacinar seus animais e realizar exames regulares, para minimizar o risco de transmissão.

A leishmaniose nos humanos pode se manifestar de várias formas:

1. Leishmaniose Cutânea: Causa feridas na pele e é a forma mais comum da doença.

2. Leishmaniose Mucocutânea: Afeta as mucosas, especialmente a boca e o nariz, e pode causar deformidades.

3. Leishmaniose Visceral: A forma mais grave, que pode afetar órgãos internos, como fígado e baço, e pode ser fatal se não tratada.

Além da transmissão pelo vetor, há registros de transmissão por transfusões de sangue e transmissão vertical de mães infetadas para seus bebês. Nos cães, a infeção pode originar um ou vários dos seguintes sinais:

1. Perda de peso: Apesar de o animal manter o apetite.

2. Problemas de pele: Lesões, úlceras ou perda de pelo, especialmente no focinho e nas orelhas.

3. Fadiga: O cão pode mostrar-se menos ativo ou cansado.

4. Inchaço: Inflamação nos gânglios linfáticos, baço ou fígado.

5. Problemas oculares: Inflamação dos olhos, secreções ou até cegueira.

6. Manchas ou hemorragias: Podem aparecer manchas na pele ou nas mucosas.

7. Onicogrifose: crescimento anormal das unhas.

CICLO DE VIDA

O ciclo de vida do Leishmania envolve dois hospedeiros: o vetor (mosquito flebótomo) e o hospedeiro definitivo (humanos ou animais). Por isso não se transmite diretamente de animal para animal nem de animal para humano. Descrição do ciclo de vida:

1. Mosquito Flebótomo: O ciclo começa quando o mosquito pica um hospedeiro infetado e ingere os parasitas.

2. Forma Promastigota: No intestino do mosquito, os parasitas se transformam em promastigotas, que se multiplicam.

3. Inoculação: Quando o mosquito pica novamente um novo hospedeiro, ele injeta os promastigotas na corrente sanguínea.

4. Forma Amastigota: Dentro do hospedeiro, os promastigotas se transformam em amastigotas, que se replicam dentro das células do sistema imunológico.

5. Ciclo Completo: O ciclo se completa quando o mosquito pica um hospedeiro infetado, reiniciando o processo.

PREVENÇÃO

A prevenção da leishmaniose envolve várias estratégias, incluindo:

• Controle de Vetores: Reduzir a população de mosquitos flebótomos por meio de medidas como a eliminação de locais de reprodução e o uso de inseticidas.

• Proteção Pessoal: Uso de repelentes de insetos e roupas de proteção, especialmente em áreas onde a leishmaniose é endêmica.

• Vigilância em Cães: Monitorizar e testar cães para a doença, além de promover a vacinação e tratamentos preventivos:

• Vacinas: Existem vacinas disponíveis para cães que podem reduzir o risco de infeção por Leishmania. A vacinação é uma ferramenta importante para proteger animais e, consequentemente, reduzir a transmissão para humanos.

• Antiparasitários: O uso de medicamentos antiparasitários em cães infetados

pode ajudar a controlar a carga parasitária e a transmissão para os mosquitos. Esses tratamentos são essenciais em áreas endêmicas.

• Repelentes: Produtos repelentes (coleiras, pipetas, etc.) que podem ser aplicados em cães para afastar mosquitos flebótomos. Esses produtos ajudam a reduzir o risco de picadas.

TRATAMENTO

O tratamento da leishmaniose varia de acordo com a forma clínica da doença. Os principais tratamentos incluem:

• Leishmaniose Cutânea: Pode ser tratada com medicamentos tópicos ou orais, dependendo da gravidade.

• Leishmaniose Visceral: Requer tratamento com medicamentos antiparasitários, como antimoniato de meglumina ou anfotericina B. O tratamento deve ser iniciado o mais cedo possível para evitar complicações.

CONCLUSÃO

A leishmaniose representa um desafio crescente em Portugal, exigindo atenção tanto das autoridades de saúde pública quanto da população. A prevenção, que inclui medidas para controlar a população de mosquitos e a vigilância em relação a cães infetados, é crucial para reduzir a transmissão da doença. A conscientização sobre os riscos e sintomas da leishmaniose é fundamental para o diagnóstico precoce e tratamento adequado, contribuindo para o controle da doença. Se tem dúvidas sobre a prevenção ou suspeita que o seu animal possa estar infetado, consulte o seu médico veterinário, ou mesmo o seu farmacêutico pode esclarecê-lo.

TRANSFORMAR A AGRICULTURA COM UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA

Inovação tecnológica e apoio técnico ao serviço dos agricultores

A agricultura enfrenta desafios cada vez mais complexos, desde as mudanças climáticas até à crescente necessidade de produção alimentar sustentável. Para enfrentar estas dificuldades, não basta apenas inovar tecnologicamente — é fundamental oferecer aos agricultores um suporte abrangente, que inclua tanto soluções tecnológicas avançadas como assistência técnica no campo. É neste contexto que empresas com uma abordagem holística, como a DXAS Agricultural Technology, se destacam. Fundada em 2022, a DXAS Agricultural Technology provém de uma joint venture entre duas gigantes nipónicas, a Kagome CO., Ltd e a NEC Corporation. O serviço CropScope teve início em 2015 e tem vindo a ser desenvolvido ano após ano para melhor servir os seus clientes. Para além de fornecer ferramentas tecnológicas, como plataformas integradas baseadas em inteligência artificial, oferece ainda apoio técnico aos agricultores, preenchendo uma lacuna significativa no sector agrícola em Portugal. Este suporte prático no terreno complementa a tecnologia, garantindo que os agricultores possam aplicar da melhor forma as inovações e maximizar os benefícios das mesmas.

CROPSCOPE E ACOMPANHAMENTO TÉCNICO ESPECIALIZADO: A COMBINAÇÃO PERFEITA

A principal ferramenta é o sistema de gestão agrícola CropScope, desenhado para facilitar a vida dos agricultores, tornando a tomada de decisões mais fácil e eficiente, concentrando todas as ferramentas necessárias para a gestão da exploração agrícola numa só aplicação. A combinação da tecnologia com o apoio de campo é o que diferencia a DXAS Agricultural Technology, que ao contrário de outras soluções, desenvolveu uma abordagem integrada, onde a tecnologia e o suporte técnico andam de mãos dadas.

CROPSCOPE: FERRAMENTA HOLÍSTICA PARA UMA GESTÃO AGRÍCOLA COMPLETA

O CropScope oferece uma monitorização detalhada das culturas, permitindo aos agricultores manter um olhar atento sobre o estado de saúde das suas plantas. Com dados em tempo real sobre a humidade e temperatura do solo, crescimento das plantas, condições meteorológicas e imagens de satélite, os agricultores podem atuar rapidamente em caso de qualquer alteração

que possa comprometer a produção. Esta visão integrada é fundamental, mas o que realmente distingue o CropScope é a incorporação da inteligência artificial (IA), a análise de dados e a apresentação dos mesmos de uma forma intuitiva na app, que atuam com um papel preponderante para o auxílio na tomada de decisões dos agricultores.

AI GUIDE: A ORIENTAÇÃO INTELIGENTE

O AI Guide é uma funcionalidade inovadora que fornece recomendações de rega e fertilização personalizadas com base em dados específicos do campo e nas melhores práticas agrícolas. Esta ferramenta auxilia os agricultores na tomada de decisões informadas sobre a gestão das suas culturas, assegurando que as intervenções sejam adequadas às condições particulares de cada exploração.

Vânia Alcobia
Tiago Caetano

AI SMART PULSE: INTEGRAÇÃO E FREQUÊNCIA

Outro destaque do CropScope é o sistema AI Smart Pulse, que faz a gestão das recomendações do AI Guide, onde ao conectar o CropScope ao programador de rega, são criados automaticamente os horários de rega e fertilização diários. Adicionalmente, este sistema inteligente aplica a rega em ciclos curtos, várias vezes ao dia com pequenas quantidades de fertilização. Ao otimizar a forma como se aplicam os inputs, o AI Smart Pulse não só aumenta a eficiência, mas também contribui para a sustentabilidade, reduzindo o desperdício e evitando a lixiviação de nutrientes.

GESTÃO DO RISCO DE PRAGAS E DOENÇAS

Uma das características mais valiosas do CropScope é a sua capacidade de monitorizar e prever o risco de pragas e doenças. Utilizando algoritmos avançados de inteligência artificial, a plataforma analisa dados em tempo real, incluindo condições climáticas e padrões de cultivo, para identificar potenciais ameaças. Com essas informações, os agricultores podem agir proativamente, implementando medidas de controle antes que as pragas ou doenças se espalhem, protegendo assim a saúde das suas culturas.

ESTIMATIVA DE PRODUTIVIDADE

Além da monitorização de pragas e do controlo da fertirrigação, o CropScope fornece estimativas de produtividade e maturação. Com base em dados históricos, um novo algoritmo e uma fotografia, a plataforma ajuda os agricultores não só a prever a produção esperada mas também a obter o nível de maturação do campo, permitindo-lhes planear melhor as colheitas e a gestão dos recursos. Essa capacidade de antecipação é fundamental para a tomada de decisões estratégicas e para maximizar os rendimentos.

APOIO TÉCNICO DA DXAS:

UM PILAR DE SUPORTE

AO AGRICULTOR

O serviço de apoio técnico da DXAS Agricultural Technology é uma com-

ponente essencial na maximização do sucesso agrícola. Este serviço oferece aos agricultores uma equipa qualificada disponível para fornecer orientação e suporte personalizado.

Os técnicos da DXAS Agricultural Technology trabalham em estreita colaboração com os agricultores, avaliando as necessidades específicas de cada exploração e desenvolvendo estratégias adaptadas a essas exigências. Este acompanhamento técnico não só facilita a utilização eficaz das tecnologias, mas também contribui para a resolução de problemas e a melhoria contínua das práticas agrícolas.

COMO A ABORDAGEM HOLÍSTICA IMPACTA

A PRODUTIVIDADE

E A SUSTENTABILIDADE

O verdadeiro impacto da DXAS Agricultural Technology vai muito além da tecnologia. A sua abordagem holística — que integra plataformas digitais com apoio técnico no campo — garante que os agricultores estão plenamente equipados para maximizar a produtividade e reduzir o impacto ambiental.

Estudo de Caso: Projeto AI Smart Pulse

Um exemplo claro desta abordagem holística é o projeto AI Smart Pulse,

IMAGENS DA APP CROPSCOPE
AI SMART PULSE

que combina inteligência artificial com práticas agrícolas sustentáveis. O AI Smart Pulse permite que os agricultores aumentem o rendimento das suas culturas, enquanto reduzem significativamente o uso de água e fertilizantes. No entanto, a verdadeira chave para o sucesso do AI Smart Pulse não reside apenas na tecnologia. O acompanhamento técnico personalizado é o que realmente diferencia esta solução, através de visitas regulares ao campo.

Em estudos recentes realizados em parceria com agricultores em Portugal, Espanha e Itália, verificou-se que, com o apoio técnico oferecido pela DXAS Agricultural Technology e a adoção do

serviço CropScope, foi possível reduzir o uso de água e fertilizante em até 20% e aumentar o rendimento das culturas em cerca de 20%. Este sucesso só foi possível graças à combinação da tecnologia avançada com o acompanhamento no terreno, que permitiu uma adaptação perfeita das práticas às necessidades específicas de cada exploração agrícola.

DESAFIOS E O FUTURO

DA AGRICULTURA

DIGITAL

COM SUPORTE HUMANO

Apesar da revolução das plataformas digitais e da inteligência artificial no sector agrícola, o apoio técnico continua a ser vital. Muitos agricultores en-

GRÁFICOS

DE ACOMPANHAMENTO

frentam desafios na interpretação dos dados e na utilização eficaz das ferramentas digitais. A DXAS Agricultural Technology destaca-se ao fornecer tecnologia de ponta e suporte técnico especializado, garantindo que os agricultores saibam aplicar as soluções adequadamente.

Nas regiões da Lezíria do Tejo e Ribatejo, onde muitas vezes falta um apoio técnico eficaz, a DXAS Agricultural Technology oferece uma solução completa, capacitando os agricultores com as melhores ferramentas tecnológicas e o acompanhamento prático necessário para que possam crescer de forma sustentável e competitiva. O futuro da agricultura passa, sem dúvida, por esta abordagem holística — e a DXAS Agricultural Technology está na vanguarda desta transformação.

QUADRO DE SERVIÇOS
SERVIÇO

MÁXIMA EFICIÊNCIA, MÁXIMA PRODUÇÃO

Máxima rentabilidade para a sua exploração agrícola

A rentabilidade é um indicador fundamental e transversal em qualquer tipo de negócio. Mede face ao investimento inicial, o retorno que dele resulta e avalia de forma clara o seu grau de sucesso.

Na agricultura essa rentabilidade depende de inúmeros fatores como são exemplos o clima, solo, cultura escolhida, água e fertilização.

A fertilização é um fator de grande peso e com uma enorme preponderância no resultado que queremos alcançar. Dela depende também a produção e a forma como é feita e escolhida traduz-se em eficiência.

As soluções que existem atualmente no mercado estão desenhadas para corresponder a todas as exigências, quer sejam por tema de legislação e metas a cumprir, quer até pelos próprios agricultores e produtores, conscientes de que as adubações de há 20 anos não são nos dias de hoje uma opção.

A Fertinagro Biotech tem desenvolvido um trabalho de investigação que permite dar ao seu cliente final tudo o que

precisa na sua exploração agrícola: eficiência dos nutrientes aplicados, mais produção e maior rentabilidade. Para responder a estas necessidades surge a linha de produtos granulados RENOVATION FUERZA MÁXIMA (COM SUPERBIA).

Esta gama de fertilizantes tem inúmeras vantagens: são fertilizantes complexos, mini granulados (maior higroscopia e cobertura, uniformidade na aplicação), em base sulfato, com incorporação de pelo menos 2% de aminoácidos livres (melhora a resposta da cultura em situações de stress)

e ainda um conjunto de tecnologias como são exemplo:

DURAMON® - o nosso inibidor Nº1 na Europa, que tem um efeito regulador sobre a enzima urease, e que atrasa a transformação do azoto ureico em amoniacal, promovendo uma distribuição adequada de azoto no solo, minimizando as suas perdas. Graças a esta tecnologia, conseguimos reduzir entre 15% e 40% das perdas de azoto ureico que se emitem em forma de amoníaco para a atmosfera;

NOVOPHOS-PLB® - combina diferentes tipos de fósforo que se adicionam ao fósforo tradicional, e que serão disponibilizados a diferentes velocidades no solo, garantindo que este nutriente está disponível ao longo de todo o ciclo da cultura;

ACTIBIÓN® - estimula a produção de fito hormonas que incidem no enraizamento e desenvolvimento vegetativo da cultura ao mesmo tempo que assegura a solubilidade dos nutrientes fornecidos: PROLIFE® - pacote de microelementos edáficos que promovem e desenvolvem o trabalho das populações microbianas do solo, aumentando a sua fertilidade potencial.

Por último e não menos importante, o seu conteúdo em SUPERBIA atua ativando os microrganismos benéficos do solo, aumentando a sua fertilidade e bioestimulando o crescimento da cultura nas suas fases iniciais, garantindo um melhor enraizamento e desenvolvimento vegetativo.

Reunimos tudo isto num só produto, que lhe garante máxima eficiência, máxima produção e máxima rentabilidade, a gama de produtos Renovation Fuerza Máxima.

AZON

Nutrição natural infinita

FERTINAGRO PORTUGAL

São vários os desafios que temos pela frente: alimentar uma população mundial em crescimento, cumprir com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável definidos pela União Europeia ao mesmo tempo que procuramos desmistificar e clarificar um conjunto de perceções erradas na sociedade sobre a agricultura e o setor onde se insere. No âmbito do Pacto Ecológico Europeu, a União Europeia lançou a “Estratégia do Prado ao Prato” para travar a perda de biodiversidade e reforçar a sustentabilidade da cadeia alimentar. Entre os objetivos apresentados temos a diminuição da utilização de fertilizantes e pesticidas em 20% e 50%, respetivamente, até 2030.

A preocupação com este tipo de medidas e ações é crescente e está bem presente em todos os intervenientes da cadeia. O cumprimento destes objetivos tem vindo a ser trabalhado e promovido dentro dos próprios operadores e com alguma antecipação relativamente às metas definidas.

A Fertinagro Biotech é uma empresa que na sua génese tem como objetivo apresentar soluções fertilizantes que correspondam por um lado às necessidades do agricultor e cultura e por

outro às necessidades de mercado em matérias de sustentabilidade e promoção da fertilidade do solo.

A redução de unidades fertilizantes quer para a Fertinagro dizer que as que podemos aplicar terão obrigatoriamente de ser mais eficientes. Quer também dizer que teremos de encontrar uma forma de disponibilizar aquelas que existem no solo e que não estão assimiláveis.

Todos estes pressupostos levam-nos ao desenvolvimento de uma tecnologia –tecnologia AZON®, que fornece conjunto de probióticos e pré-bióticos indutores da vida capazes de estimular os microrganismos presentes no solo e planta para que trabalhem e consigam fixar e solubilizar os nutrientes que se encontram de forma natural no nosso ambiente. Como principais vantagens temos:

- ATIVAÇÃO DA MICROBIOTA - O fornecimento de pré e probióticos ativa as populações de microrganismos Azotobacter, Pseudomonas e Bacillus, tanto

a nível foliar como edáfico, e aumenta a sua diversidade.

- FIXAÇÃO DE AZOTO ATMOSFÉRICO - A ativação e fornecimento dos Azotobacter promove um efeito de fixação e estimulação do azoto atmosférico, tanto a nível foliar como radicular.

- MOBILIZAÇÃO DE FÓSFORO E POTÁSSIO BLOQUEADOS - A estimulação de Pseudomonas e Bacillus consegue de forma natural desbloquear e solubilizar grandes quantidades de fósforo e potássio presentes no solo, transformando estas unidades em assimiláveis para a cultura.

- PROTEÇÃO CONTRA STRESSAs fitoalexinas geradas pelos microrganismos atuam como defesa natural da planta em situações de stress, enquanto os exsudatos gerados pela atividade bacteriana têm efeitos fungistáticos e nematostáticos.

Os produtos com AZO-N® permitem-nos reduzir a aplicação de fertilizantes minerais, melhorando a sustentabilidade e a eficiência da fertilização. Poderá encontrar esta tecnologia na nossa gama de produtos orgânicos e ainda em alguns dos nossos bioestimulantes.

AZO-N®, milhares de milhões de microrganismos a trabalhar para si.

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.