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Micaela Oliveira, Médica de Família

Um herói é alguém que consegue fazer a diferença na vida dos outros

MICAELA OLIVEIRA

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MÉDICA DE FAMÍLIA - Extensão de Saúde de Oiã

O peso de um ombro amigo

No meio de uma crise pandémica, “médico” e “herói” são termos quase sinónimos. Apesar de concordar, Micaela Oliveira, médica de família, defende que “não é preciso ser médico para se ser um herói”. Para si, um herói é “alguém que consegue fazer a diferença na vida dos outros. Pessoas que, com gestos maiores ou menores, conseguem melhorar o dia de alguém”. Acredita que qualquer um pode ser um herói, “quer na sua profissão, quer com o vizinho do lado”, o importante é “perceber que alguém está a precisar de nós” e ajudar.

Com o seu dia a dia “virado do avesso”, Micaela refere as mudanças sentidas no trabalho, despoletadas pela pandemia. “Para além das consultas presenciais, temos também as consultas por telefone e email”. É ainda da sua responsabilidade o acompanhamento telefónico de doentes COVID-19, tanto confirmados como suspeitos. “O trabalho aumentou para o dobro”, explica a médica. A situação atual trouxe ainda outras mudanças no seu quotidiano a um nível mais emocional. Não acredita que “o trabalho acaba na porta do centro de saúde”, por isso, inevitavelmente, as emoções de um dia de trabalho permanecem no seu pensamento. Afirma que agora é mais difícil, “estamos continuamente em risco. Venho para casa a pensar: será que eu estou a contaminar a minha família?”.

Temos de tudo, pais que quando o filho nasce nos mandam fotografias a dizer que correu tudo bem, e filhos a lamentar “infelizmente o meu pai acabou de falecer”

Micaela refere existir ainda alguma disparidade de opiniões no que diz respeito ao trabalho dos médicos de família, nomeadamente no reconhecimento da importância desta especialidade. “Quem tem uma boa relação com o seu médico de família, reconhece a importância do nosso trabalho, mas infelizmente há ainda a perspetiva de que só os médicos do hospital é que resolvem os problemas”. Sobre o que a levou a escolher a sua especialidade, revela que procurava algo “generalista e abrangente”, no qual tivesse a oportunidade de contactar com crianças. Mas refere que a escolheu principalmente pelo facto de poder interagir com diferentes gerações de uma família e acompanhar a sua construção e crescimento. No entanto, existe ainda o outro lado, o dos idosos que começam a estar sozinhos. “Temos de tudo, pais que quando o filho nasce nos mandam fotografias a dizer que correu tudo bem, e filhos a lamentar “infelizmente o meu pai acabou de falecer””. “É um trabalho de extremos”, conclui.

Apesar de acompanhar várias famílias, Micaela confidencia “não guardo uma família em especial, vou guardando histórias”.