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Rosa Gadanho, Professora

Estamos cá para fazer coisas!

ROSA GADANHO

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PROFESSORA - Centro Escolar de Santiago

O saber transforma o lugar

Rosa não se considera um herói, mas admite que conheceu vários. “Com alguns deles aprendi muito”.

Rosa Gadanho, recentemente aposentada, foi durante mais de quatro décadas professora. Esteve ainda envolvida na criação das bibliotecas escolares no Município de Aveiro e foi bombeira, em tempos em que só homens exerciam a atividade. “Não queremos cá saias!”, foi a mentalidade que enfrentou e superou. Atualmente, Rosa faz voluntariado no Estabelecimento Prisional de Aveiro. Sempre preocupada com problemas sociais na comunidade, realça “estamos cá para fazer coisas!”.

Começou a sua carreira na educação especial, área em que trabalhou durante 36 anos. Acompanhou de perto a transição das crianças das CERCI’s (Cooperativa para a Educação, Reabilitação, Capacitação e Inclusão) para as escolas regulares. Rosa defende que “o lugar dos miúdos é ao pé de outros miúdos. A forma das pessoas se aceitarem umas às outras é viverem em comunidade”. Foi árduo, as escolas não estavam preparadas para estas crianças. “Algumas ficavam fechadas, sozinhas e isoladas enquanto os pais trabalhavam. Estamos melhor, mas ainda nos falta muito (...) ainda estamos muito longe de um lugar digno para elas”.

Foi na Escola Básica de Santiago que durante mais tempo trabalhou e se dedicou. “Foi uma batalha”, relembra. Uma escola, criada para responder às necessidades de um bairro “problemático” aos olhos de muitos. Um bairro preenchido com famílias com dificuldades, económicas e não só. “No início, as crianças do bairro foram frequentar a Escola da Glória e o impacto foi muito perturbador. Então os poderes instituídos juntaram-se e rapidamente criaram a Escola de Santiago. Toda a gente nos perguntava “porque querem ir para essa escola?””. A luta contra o estigma e a imagem negativa atribuída ao estabelecimento foi algo que se mostrou frutífero. A criação do jardim de infância e da biblioteca, o foco nas questões ambientais e o esforço coletivo, ajudaram a fortalecer a ligação entre a escola e as famílias. Hoje, a Escola de Santiago nem consegue dar resposta a tanta procura.

Os verdadeiros heróis são aqueles que, apesar das dificuldades, do desprezo e do preconceito, conseguem levantar a cabeça e ter uma vida digna

E o que é um herói aos olhos de quem já viu muitos? “Para mim, os verdadeiros heróis são aqueles que, apesar das dificuldades, do desprezo e do preconceito, conseguem levantar a cabeça e ter uma vida digna. É muito difícil”.

Rosa guarda consigo imensos momentos marcantes ao longo de tantos anos de trabalho. Relembra episódios atrozes que ninguém espera confrontar, mas foi nesses momentos que sentiu as “sinergias da comunidade” a intervir. “Nunca vi tanta gente a tentar encontrar resposta sem comprometer as crianças”, afirma acerca de um desses episódios.