2 minute read

Ondina Pereira, Enfermeira

Às vezes, a nossa missão como enfermeiros ultrapassa as paredes do hospital

ONDINA PEREIRA

Advertisement

ENFERMEIRA - Centro Hospitalar do Baixo Vouga

Um coração que bate sem preconceitos

Quando questionada sobre o que é um herói, Ondina enaltece os “heróis das coisas pequenas”. Se cada um fizer a sua parte, se cumprir com excelência a sua missão, então “cada um é um pequeno herói naquilo que faz”.

Enfermeira há 25 anos, Ondina Pereira trabalha no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental (DPSM) do Centro Hospitalar do Baixo Vouga. Apesar de ter estado alguns anos no serviço de ortopedia, há 10 anos que integra a Unidade de Intervenção Comunitária, um dos serviços do DPSM. Aqui faz parte de uma equipa multidisciplinar que realiza visitas domiciliárias e presta apoio a utentes referenciados pela Unidade Hospitalar. “É um cuidado de proximidade”, refere sobre o seu trabalho, onde faz o acompanhamento e reabilitação de doentes mentais, visando a sua autonomia e integração na comunidade.

“Queria fazer algo que me permitisse estar perto das pessoas”, explica sobre o que a levou a escolher enfermagem. O gosto por esta profissão fez com que nunca se tenha arrependido ou duvidado da carreira que escolheu e afirma ser “enfermeira por vocação, na psiquiatria por paixão”. Contudo, não é apenas o interesse por esta área que faz de Ondina uma boa profissional, mas também o facto de valorizar cada utente como uma pessoa individual que vai para além do rótulo da doença que enfrenta. “O cuidado de tratar os outros como pessoas, independentemente de terem uma doença mental, seja ela qual for”, é o mais importante para a enfermeira. Neste ponto, denuncia o estigma ainda existente na sociedade perante os doentes mentais e psiquiátricos, reforçando a necessidade da sua desmistificação. Defende que todos “vivemos numa balança entre a saúde e a doença mental”, e apesar de “encontrarmos mecanismos de defesa”, todos podem ter os seus momentos de desequilíbrio, pois “a doença mental é de todos”.

O cuidado de tratar os outros como pessoas, independentemente de terem uma doença mental, seja ela qual for

Por trabalhar e viver em Aveiro, é natural deparar-se com alguns destes antigos utentes na rua, depois de regressarem à vida em comunidade. É nestes encontros ocasionais e despropositados que, por vezes, se depara com utentes que se encontram instáveis. É sua responsabilidade sinalizá-los e encaminhá-los novamente para os serviços de psiquiatria. “Às vezes, a nossa missão como enfermeiros ultrapassa as paredes do hospital”.

Outra ideia que pretende desmontar é a imagem de uma “psiquiatria agressiva” com utentes violentos. Afirma que “a nossa maior arma é a comunicação”, realçando a importância de tratar com dignidade cada utente, de lhes prestar atenção, de os compreender e, com isso, acalmá-los. Para o conseguir fazer, não se deixa influenciar pela opinião que outros têm sobre os seus pacientes, independentemente de os considerarem violentos ou agressivos. “Somos nós que estamos ali naquele momento, não são os outros, somos nós”.