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Margarida Gonçalves, Psicóloga

É necessário sermos humildes, gratos, olhar para a pessoa no seu todo e termos compaixão

MARGARIDA GONÇALVES

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PSICÓLOGA - Unidade Clínica da Borralha

Ler as entrelinhas do silêncio

Para muitos, a ideia fantasiosa de um herói é a daquela pessoa que consegue fazer tudo e mais alguma coisa. Porém, Margarida Gonçalves pensa de outra forma. “Um herói, na vida real, não deve ser quem faz tudo, mas quem está presente naquilo que faz, com humildade, gratidão e compaixão”.

Margarida é psicóloga, com bastante experiência no contexto comunitário, social e com idosos. Atualmente, trabalha como psicóloga clínica, não perdendo, no entanto, o contacto com o ambiente social da psicologia, área que lhe interessa desde os tempos de faculdade. Afirma que o seu objetivo é “trazer a psicologia à rua, à comunidade”. Psicologia “sem estigmas e sem preconceitos, que tanto existem ainda hoje”, lamenta.

“Só quem é louco é que vai para o psicólogo”, continua a ser um dos principais preconceitos existentes. A desvalorização da doença mental e a dificuldade em pedir ajuda são fatores que dificultam o trabalho dos profissionais. A forma como a sociedade analisa e se comporta é também um fator determinante para a evolução dos comportamentos. “Todos nós somos agentes de mudança!”, afirma.

Todos nós temos algo de novo a aprender com todas as pessoas com quem nos cruzamos

Margarida acredita que “todos nós temos algo de novo a aprender com todas as pessoas com quem nos cruzamos”. Coleciona na memória valiosas lições, fruto da experiência e do contacto, da ligação e da empatia. “Nem todos têm de sentir o que estamos a sentir naquele momento, naquele contexto”, aprendeu num dos episódios mais marcantes do início da sua carreira. Era Natal no lar, época em que todos se reúnem, família e amigos, e o lar se enche de animação. Porém, nem todos se sentiam assim. Margarida recorda como se aproximou de um dos idosos, sozinho e desanimado, “doutora, a festa é exterior, não interior”. Para o homem, era mais um dia, Natal ou não, em que não tinha a família em seu redor. “O meu coração tem muita tristeza”, continuou ele, momentos antes de lhe virem as lágrimas ao olhos. “Foi um banho de humildade. É necessário sermos humildes, gratos, olhar para a pessoa no seu todo e termos compaixão”, algo que a psicóloga reconhece estar em falta na sociedade.

Porém, nem tudo corre como planeado e há casos em que não se consegue ajudar. Quem faz a mudança “é a própria pessoa e esta pode não querer mudar”. Aqui destaca a influência da sociedade, a crítica e os olhares. Ao início, Margarida sentia uma revolta interior, mas “a prioridade são as emoções da pessoa, dar espaço e ter noção que a mudança de comportamento não é imediata”. Mesmo não resultando como planeado, o importante é “chegar ao final do dia e pensar se fiz o melhor que podia fazer. Se a resposta for sim, ótimo. Se não, amanhã é outro dia”.

O que faz Margarida mais feliz? A resposta é simples: conseguir “fazer ver à pessoa que pode ser muito mais do que aquilo que acha que é” e ao final do dia, saber que “naquele momento, naquela situação, eu estive lá”.