Nova em Folha | Mai/Jun 2025

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N O V A e m F o l h a

Selinguagemsãotodasasformas imagináveisdecomunicação, nestaúltimaediçãoqueremos abriraconversasobreformas menosnormativasdelinguagem Dovídeoaoolhar,dosgestose expressõesàsartesplásticas, queremosabrangerodebate sobrealinguagem,esta capacidadehumanade sistematizaracomunicaçãoe torná-laeficiente Aversenos entendemosdevez!

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Todas as edições aceitamos propostas de textos, poemas, críticas, receitas, crónicas, bitaites, artigos desportivos, notícias e destaques, reportagens, peças humorísticas, de qualquer alun@ ou docente da FCSH, os quais são posteriormente revistos pela nossa equipa editorial

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Após a revisão completa do material recolhido pela equipa editorial, o seu conteúdo e versão final são da responsabilidade e exprimem somente o ponto de vista d@s respectiv@s autor@s.

Este jornal é impresso em papel 100% reciclado. notas

Conteúdos

08

06 Oúltimoeditorial

ADireçãodoNeFdespede-sedemaisumanoletivo,refletindo sobre o papel de cada departamento no funcionamento do jornal, e com uma mensagem especial a todos aqueles que leramoNovaemFolhanesteanode2024/2025

07 Sobreosresultadosdaseleições legislativas

Madalena Andaluz escreve-nos sobre as mais recentes eleições legislativas em Portugal, comparando a sua opinião acercadosresultadosaoestadodonossopaísemáreascomo asaúde,ostransportes,ahabitaçãoeacultura

07 Aeraassimétrica

À luz de vários acontecimentos recentes, Cyndelle Ferreira traz-nos uma análise da “guerra moderna”, destacando as assimetrias militares, políticas, económicas e psicológicas que têm existido nos conflitos do último século, desde a Queda do Muro de Berlin ao genocídio na faixa de Gaza

08 ApiorEurovisãodahistória

Clara Figueiredo e Mar Ferreira atualizam-nos sobre a última edição do Festival Eurovisão da Canção, realçando a predominância de controvérsias políticas neste que é considerado o maior palco da música de todo o planeta

11 Linguagem”feminina”napolítica:é possível?

Com um olhar atento sobre as mulheres na política, Alice Couto explica-nos de que forma é que a postura e linguagem das mesmas é adaptada ao ambiente político português, perguntando-se se há, de facto, uma forma “feminina” de fazer política em Portugal

16 Falandoem“futebol”

Desde a euforia do primeiro apito à desilusão, ou felicidade,, no apito final de um jogo de futebol, Diogo D’Alessandro estuda os gestos, movimentos e expressões que todo o adepto de futebol adota em cada partida, refletindo sobre a existência de uma “linguagem do futebol”

18 DicionárioNeFdoportuguêsregional

Com o contributo de todos os membros do jornal, preparámos um dicionário de expressões do português que são usadas no quotidiano de algumas regiões em Portugal e no Brasil, mas que são somente entendidas pelos habitantes dessas zonas 05 26

Omilagreda encenação

33 FinalistasNeF

Uma nova tradição que esperamos levar para frente a partir de agora Duas páginas dedicadas somente aos finalistas do Nova em Folha, num pequeno anuário daqueles que agora acabaram a licenciatura na FCSH

Mai/Jun2025

Direção Clara Figueiredo

Margarida Calado

Tália Moniz

Redação Afonso Noronha

Alice Couto

Bárbara Soares

Clara Figueiredo

Cyndelle Ferreira

Daria Rosa

Diogo D’Alessandro

Diogo Mota Duarte

Revisão Bárbara Soares

Clara Figueiredo

Inês Fonseca

Leonor Moreira

Mar Ferreira

Sofia Fernandes

Ficha Técnica

EdiçãoGráfica Clara Figueiredo

Madalena Grilo Teles

Matilde Brito

Natali Gonçalves

Helena Gregório

Inês Fonseca

Jéssica Marques

Madalena Andaluz

Mafalda Monteiro

Manuel Gorjão

Mar Ferreira

Margarida Calado

Maria Beatriz Silva

Mariana Aleixo

Martin

Miguel Martins

Natali Gonçalves

Pedro Lázaro

Raquel Francisco

Sofia Fernandes

Tália Moniz

Colaboradores Alberto Rivas

Ana Clara Cardoso

Beatriz Santos

João Marchão

Lara Guimarães

Pint of Science Portugal

Índice

AE em Folha

O último editorial

Sobre os resultados das Eleições

Legislativas/ A era assimétrica

A pior Eurovisão da história

Pint of Science

Uma palavra/ Falar/Viver

Como a linguagem leva a moralidade a dar uma volta/ Linguagem “feminina” na política: é possível?/ Emojis e violência:

há alguma relação?

A língua, o amor, e o autocorretor

Pet peeve: a mescla inglês-português/

Aibofobia

Raíces comunes, futuro partilhado

Sur personne (garanto-me)

Falando em “Futebol”/ Futebol,

Dicionário NeF do Português Regional

Passe sub-23/ O Mostrengo da Vulnerabilidade

Agenda Cultural Junho

Departure/ O olhar do desejo

O milagre da encenação

Linguagem de amor

Diálogo na mão/ Confissões de junho

Ferrete

As Descobertas de Nuno Folha: O Fim do Semestre

Um até já

21 formas de dizer adeus

Anuário de Finalistas do NeF

Passatempos!

FOLHA AEEM

Em junho, cá estaremos, de portas abertas, para vos receber e para preparar os desafios do próximo ano letivo!

Otrabalho e a luta continuaram na AEFCSH em Abril e continuarão no mês de Maio Celebrámos, no dia 22 de Abril, o serviço prestado pe-

la RTP ao nosso povo e ao nosso país, em conjunto com o núcleo de estudantes de Ciências da Comunicação. Convidámos um resistente antifascista, Armando Teixeira da Silva, para vir falar com a comunidade, na sequência da semana deAbril

Descemos, por fim, convicta e alegremente, a Avenida da Liberdade, firmesnalutapelosvaloresdeAbrilnas suas várias vertentes - o projecto mais bonito de Portugal que, infelizmente, continua por se cumprir na sua plenitude

O cineclube continuou, todas as semanas, com as suas sessões no Auditório A2 - terminou o ciclo de Abril dedicado ao Cinema Português e começou o ciclo de Maio, que celebra o diálogo entre a Música e o Cinema O Cineclube convida ainda todos os estudantes a participar e assistir ao “Ciergente”,eventodedicadoaoCine-

ma Emergente, com a exibição de dezenas de curtas-metragens, de estudantes e colegas, tanto da FCSH, como de outras instituições de Ensino Superior. O “Cinergente” irá decorrer na última semana de aulas, no campus de Berna, às 18 horas, nos dias 26, 27 e 28 de Maio, em auditórios a anunciar

Acompanhámos a equipa de Voleibol Feminino e Futsal Masculino nos seus jogos, torneios e treinos Apresentámos, ainda, pela primeira vez, o “Não tão Repentino”, festival que pretendeu dar voz a jovens músicos e estudantes da FCSH, que contou com três grandes concertos de “Rabbit Hole”, “Flor Girino” e “Lesma”, uma noite marcante e ansiada pelos estudantes!

Lutamos ainda pelo Ensino de Abril, lado a lado com outras associações de estudantes, na semana de Luta convocada pelo Movimento Associativo Estudantil, de 21 a 28 de maio!

Em junho, cá estaremos, de portas abertas, para vos receber e para preparar os desafios do próximo ano letivo!

Foto: José Perfeito
Foto: Clara Figueiredo

Oúltimoeditorial

Maio/Junho

Quase que a voar, mais um ano letivo chega ao fim Como o tempo passou tão rápido ninguém sabe Entre orais e frequências e festas e churrascos e esplanadas e

bares e aulas e longas sessões de estudo na biblioteca, estamos todos um ano mais velhos, um ano mais sábios Estamos mais perto da vida de adultos, e menos da vida de secundário Fizemos amigos, perdemos outros, aceitamos desafios e caímos muitas vezes. De alguma forma, levantamos a cabeça e ganhamos força para chegar até aqui. E agora que estamos na reta final, entre olheiras que contam histórias e cadernos que já viram dias melhores, fazemos um balanço do que correu bem e o que correu mal Para um jornal universitário, a última edição do ano significa o último sprint para a datalimite e os últimos textos a entregar Enquanto direção do Nova em Folha, cabe-nos expressar o nosso profundo orgulho e agradecimento a todos os que nos ajudaram a levar o jornal para a frente este ano. À Laura Abreu e à Inês Jorge, da AEFCSH, que responderam às nossas dúvidas e se envolveram em cada edição como se fossem parte da equipa há anos Aos departamentos de notícias e cultura, que, todas as semanas, encontraram um tempo para reunir as notícias mais marcantes dos dias que passaram, e os eventos culturais daqueles que aí vinham, para o nosso Instagram Ao departamento de política, que, com muita cautela, acompanhou o atribulado ano do nosso Governo e fez o seu melhor para informar a comunidade de leitores a ca-

DireçãodoNeF

da nova notícia. Ao departamento de desporto, que, ainda que com menos membros, fez um trabalho excecional a acompanhar o desporto em Portugal e no mundo, conseguindo sempre relacionar o seu conteúdo ao tema escolhido para cada edição Ao departamento de escrita criativa, que nos puxa para fora da caixa, e nos pede mais uma página, mais um poema, mais uma ideia para agradar os leitores; e nós, irrevogavelmente, aceitamos. Ao departamento de revisão, que leu, às tantas da noite, cada texto de cada edição, procurando aprimorar ao máximo a ortografia e a sintaxe de cada artigo Por fim, o nosso mais sentido agradecimento ao departamento de Design e Redes Sociais À Madalena, ao Eduardo, à Natali, à Matilde, à Catarina e à Victoria - aqueles que se escondem por detrás das stories, dos reels, das publicações, de cada uma das edições físicas do jornal Foram eles que, com muita paciência, tornaram possíveis os nossos pedidos, dedicando cada um dos seus dias deste ano ao Nova em Folha. Estes membros foram uma sub-direção quando os trabalhos apertavam e o stress se acumulava entre a direção

Não temos nada se não profundo orgulho por cada membro que se dedicou ao jornal e a este ano verdadeiramente especial, e pela confiança que em nós depositaram para sermos a proa deste barco Agradecemos também, de forma muito especial, a quem leu cada artigo, cada post, participou nos reels, submeteu textos, apontou gralhas e comprou autocolantes Sabemos que deixamos

Editorial

um projeto que honra os estudantes da nossa faculdade, e fizemo-lo com muito, muito amor Esta última edição procura dar voz às palavras que tentamos dizer, às linhas entre palavras que os olhos não enxergam, mas o coração sente

E, se podemos comunicar muito além das palavras, esta edição procura abrir as fronteiras da linguagem, no paradoxo das limitações de um jornal escrito

Desde o filme ao texto, passando pelas artes plásticas, queremos marcar a conclusão de mais um ano letivo com uma ode à liberdade dos meios de transmissão de conhecimento e aprendizagem Esperamos que as edições deste ano tenham deixado sementes para um futuro académico mais próximo da vida real, e que este jornal, mais do que antes, seja entendido pela comunidade de estudantes da FCSH como uma publicação de e para estudantes, baseada na seriedade, rigor e respeito, e onde podem participar livremente. Fica o desafio para a próxima redação de fazer com que nenhum(a) estudante chegue ao fim da licenciatura sem ler pelo menos um artigo do jornal

Para quem dizemos adeus, desejamos apenas o melhor, e, para quem fica, que continue a carregar às costas este nosso grande e próspero projeto - o Nova Em Folha - com o mesmo orgulho, amor e carinho que nós tentámos sempre transmitir Que muitas mais redações estejam para vir com a excelência, criatividade, rigor e boa disposição da redação de 2024/25! Um obrigada do tamanho do mundo, Clara, Margarida e Tália

Fonte:Expresso

Sobreos

resultadosdas eleições legislativas

MadalenaAndaluz

No passado domingo, dia 18 de maio, o país foi a eleições na sequência da crise política gerada pelo vir a público de alguns negócios da empresa Spinumviva, da família do primeiro-ministro Luís Montenegro (AD), os quais o chefe de governo não quis esclarecer satisfatoriamente

Dos resultados destas eleições há três grandes conclusões: o discurso mediático e a direita não falharam em promover continuamente a normalização do poder político ao serviço do capital, numa lógica neoliberal que quer acabar com o Estado Social; como de costume, as dinâmicas globais atrasam a chegar a Portugal, assistindo-se ao crescimento agressivo da extrema-direita, do discurso reacionário, antidemocrático e de ódio, em sintonia com o que se está a passar pela segunda vez nos EUA; finalmente, podemos concluir que, à esquerda, a resistência dos resultados da CDU se destaca, contrariamente ao que se diz todas as vezes que vamos a eleições Importa notar ainda outros dois aspetos: a derrota do PS, que pode ser explicada pelo insucesso de Pedro Nuno Santos em fazer uma verdadeira oposição, tendo viabilizado e cooperado com a política de direita, e o crescimento do Livre, que parece ter ficado com algum eleitorado tanto do PS, como do Bloco de Esquerda, e que representa uma preferência por um modelo social-democrata mais à esquerda, al-

ternativo, mas que não faz frente ao sistema capitalista-neoliberal (como também não faz o Chega)

É preciso olhar para estes resultados à luz das linhas de força que têm marcado o contexto político nacional nos últimos tempos: a saída ‘vitoriosa’ do Chega não é alheia à sua instrumentalização do tema da corrupção, face às últimas duas eleições (2024 e 2025) terem decorrido de escândalos políticos que puseram em causa a estabilidade dos governos Isto dá espaço de manobra a André Ventura para continuar a alimentar a sua retórica pensada de anti bipartidarismo fortemente associada a um anti-25 de Abril Essa retórica, aliás muito acesa no seu discurso da noite eleitoral, não só reforça perigosamente variados preconceitos inscritos na memória sobre a Revolução e o seu papel para o fim do fascismo estado-novista, mas também tenta o apagamento histórico do obscurantismo deste último, num tom saudosista que é necessário combater

A falta de esclarecimento social anda de mãos dadas com a obsessão mediática por estes escândalos políticos, que ocupam grande parte dos horários ‘dignos’ dos principais canais É preciso refletir sobre as prioridades do jornalismo português, a quem é que servem, e questionarmonos se os verdadeiros escândalos não são os benefícios fiscais às grandes empresas; os ataques aos direitos das mulheres; a privatização e desmantelamento em curso do SNS; a normalização do trabalho precário em setores como o turismo; o desinvestimento crónico do Ensino Superior e dos centros de investigação; os ataques à Segurança Social; a habitação ser entregue ao mercado e a banca a lucrar milhões com a situação, entre tantos outros problemas, esses sim escandalosos, que se refletem nas batalhas da vida de quem trabalha todos os dias A correlação entre estas questões e o escândalo em volta de Luís Montenegro é óbvia: estamos a falar em (quase) todos os casos de promiscuidade entre interesses privados e atividade política, que emúltimocenárioacabanasprivatizações

A verdade é que o assunto não é tratado desta forma, dada a conjuntura neoliberal contemporânea, em que a cultura políticoeconómica hegemónica é marcada pela ausência de setores-estratégicos e pelo contínuo estímulo, nestas eleições reforçado pelo crescimento do grupo parlamentar da IL, a fazer de tudo o que são direitos, negócios Neste sentido, faz-se política para acionistas e especuladores, oprimindo e/ou alienando deliberadamente a agência política e os interesses dos trabalhadores, de quem trabalhou umavidainteira,dosjovens

Com isto, basta dizer que se avizinham tempos difíceis, mas que na base de todos os retrocessos vive a resistência de quem acredita num país mais justoequenãodeixaAbrilficarpelocaminho

Aera assimétrica

CyndelleFerreira

“Naguerra,omoralestáparao materialcomotrêsestáparaum" Napoleão

A assimetria num conflito expressa uma situação em que as forças opostas não dispõem dos mesmos recursos, capacidades, estratégias ou estatuto Ela manifesta-se portanto por um desequilíbrio significativo entre as partes presentes e pode assumir diferentes formas: a assimetria pode verificarse economicamente, politicamente, militarmente ou ainda psicologicamente

A queda do muro de Berlim em 1989 marcou o fim de uma era bipolar que permitiu, após um período unipolar dominado pelos EUA (década de 90), a emergência progressiva de dinâmicas multipolares que marcam e definem o sistema internacional de hoje Efetivamente, a ordem mundial atual caracteriza-se por uma multipolaridade instável em que diversos centros de potências competem estrategicamente entre si Destacam-se obviamente os EUA enquanto potência global que, de novo sob a administração Trump cuja doutrina central é a primazia dos interesses americanos sobre os compromissos internacionais (“America First”), empreende uma política de rejeição do multilateralismo e corte ao financiamento de organizações internacionais (retração dos Acordos de Paris, extinção da USAID, ameaça de saída da NATO ou de não proteger países em dívida em caso de ataque Em 2024, afirmou que incentivaria a Rússia a fazer “o que quiser” com membros da NATO que não gastem o suficiente com defesa) Os EUA suportam sozinhos cerca de dois terços das despesas militares da NATO, o que lhes confere um papel central em termos de estratégia, comando e capacidade de projeção militar Os países europeus têm vindo a aumentar gradualmente o seu esforço (sobretudo desde 2022), mas continuam coletivamente dependentes do apoio militar americano (sobretudo na dissuasão nuclear, defesa aérea e logística) Para além do prenúncio da isolação dos EUA em relação às questões de segurança provocando assim um clima de desconfiança entre aliados da NATO, a Europa enfrenta as ameaças militares de uma Rússia expansionista que se concretiza na invasão do território ucraniano desde 2022 mas também pela crescente infiltração da Rússia na região dos Balcãs (Sérvia e Bósnia Herzegovina) recorrendo a estratégias de soft

CyndelleFerreirae

power como a cooperação militar ou ainda o apoio político a partidos nacionalistas anti-UE O uso crescente da ameaça híbrida por potências como a Rússia visando enfraquecer, dividir ou ainda perturbar a opinião pública dos ocidentais através da desinformação ou ainda de ataques cibernéticos é outro tipo de ameaça que a Europa enfrenta No mês passado, Paris denunciava:

"Atividades desestabilizadoras inaceitáveis eindignasdeummembropermanentedo ConselhodeSegurançadasNaçõesUnidas"

Concretamente,aFrançadenunciaousode um procedimento de ataque russo bem identificado, designado pelo codinome "APT28", usado contra os países da União Europeia,nosEstadosUnidosenaUcrânia

Consiste,porexemplo,emquebrarsenhas, controlar caixas de correio usando ferramentas de periférico de consumo, comoservidoresoufirewalls

De acordo com a França, uma dúzia de empresas foram visadas nos últimos quatro anos, tanto serviços públicos quanto empresas privadas e até mesmo organizaçõesdesportivasligadasaosJogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris Este procedimentojáhaviasidousadoem2015, contraocanaldetelevisãoTV5Monde,ou duranteaseleiçõespresidenciaisde2017.”

Conclui-se, portanto, que a abertura das democracias sobre o mundo torna-as vulneráveis à uma nova forma de guerra assimétrica baseada no sharp power (um “poder afiado") que penetra nos ambientes políticos e informativos dos regimes ocidentais com o objetivo de minar a ideia democrática e enfraquecer o regime de liberdades O recurso ao sharp power demonstra perfeitamente como a guerra hoje em dia assume diversas formas e não se faz apenas recorrendo à força militar Para além disso, o recurso ao sharp power por regimes fechados como a Rússia e a China funciona precisamente graças a uma assimetria: por um lado, as potências abertas vulneráveis às manipulações informacionais, e, por outro, os regimes fechados impenetráveis à influência democrática vinda do exterior A assimetria, no contexto do sharp power, procura explorar uma assimetria psicológica Embora seja, em regra, menos dispendiosa do que a assimetria material (militar, tecnológica ou económica), é também mais difícil de sustentar a longo prazo (as percepções, a opinião e o moral são fatores voláteis e instáveis) A assimetria psicológica alicerça-se, portanto, na manipulação das perceções, das emoções, da confiança pública e torna-se vulnerável face a populações conscientes on-

de são promovidos valores humanos universais tal como a cooperação e a dignidade, onde a educação está centrada no pensamento crítico e onde os media são responsáveis, informando sem manipular Deste modo, a guerra moderna é tão informacional como militar, tão psicológica como territorial A sua assimetria favorece os regimes que sabem explorar as fragilidades das democracias, exigindo destas uma resposta estratégica firme mas fiel aos seus valores Hoje mais do que nunca, num mundo onde putinismo e trumpismo se alinham numa visão da civilização baseada na força, na transação/interesse e numa ideologia ultraconservadora, mais do que afirmar a sua soberania económica, tecnológica ou militar, cabe à Europa superar as suas divisões internas incentivadas pela extrema-direita, defendendo e sustentando de forma una os valores que moldam a sua identidade: a liberdade, a democracia, o universalismo, o humanismo e respeito pela diversidade cultural Cabe à Europa assumir-se, não como uma potência competidora, mas como uma potência capaz de equilibrar e mediar tensões, promover o multilateralismo e preservar uma ordem internacional baseada em regras Num mundo multipolar instável, em que a rivalidade entre potências hegemónicas ameaça a segurança coletiva (EUA, Rússia, BRICS ), a Europa tem a responsabilidade moral e estratégica de funcionar como um polo de estabilidade, diálogo e regulação, ou seja, afirmar-se como polo democrático 1

1- PIRONON, Virginie La France visée à plusieurs reprises par des cyberattaques russes, Paris les condamne "avec la plus grande fermeté" Artigo da FranceinfoPublicadoem25/04/25

APior Eurovisãoda História

O mais conhecido “evento-não-político” do mundo da música voltou a gerar controvérsia No sábado, dia 17 de maio, a cidade de Basileia, na Suíça, acolheu a final do Festival Eurovisão da Canção, do qual saiu vencedora a Áustria, com Wasted Love, do austríaco-filipino JJ

A vitória deste país foi apoiada pela maioria dos eurofãs, unidos por mais do que a música no momento final do evento: a repulsa por um primeiro lugar atribuído ao estado genocida de Israel O país, que bombeia diariamente a Palestina, tendo já morto mais de 50 mil palestinianos desde 2023, continua a participar naquele que é o maior evento musical do mundo,

apesar dos contínuos apelos à sua expulsão do festival Que razões podem estar por detrás desta resistência, por parte da EBU (Eurovision Broadcasting Union), em impedir Israel de participar no concurso?

O Conselho Executivo da EBU nem sempre teve problemas em tomar posições inegavelmente políticas quanto aos participantes da Eurovisão Em 2022, com a invasão da Ucrânia por parte da Rússia, a organização deixou de permitir a participação desta última no evento Do mesmo modo, no ano anterior, impediu a Bielorrússia de entrar na competição com uma música de propaganda ao seu regime Quase numa volta de 180º, permitiu que a cantora a s

Mas, se foi tão fácil expulsar a Rússia e a Bielorrúsia do evento, por que razão se permite a entrada de Israel? A resposta não é simples e vários fatores entram em jogo Nomeadamente, a MoroccanOil, um dos maiores patrocinadores da Eurovisão A parceria com a empresa israelita já ocorre desde 2020, associando o país à beleza e ao luxo, em vez de criminalidade e ocupação Mesmo depois de esta empresa ser criticada pelo seu envolvimento no deslocamento da população indígena do país e fazer negócio em assentamentos ilegais, que violam o direito internacional, mas também apoiam o regime de apartheid de Israel, a parceria mantém-se A EBU defende que Israel não deve ser expulso do concurso, pois o canal de televisão israelita que transmite o programa (KAN), e com quem a EBU tem um contrato, é distinto e independente do Governo de Israel No entanto, tanto este ano como no anterior, foi esse mesmo Governo quem financiou a publicidade de ambas as canções em concurso por Israel Falamos de uma jogada de marketing fortíssima, com vídeos de propaganda em anúncios do Youtube, Instagram e Twitter em várias línguas europeias, e até com billboards no Times Square Estes vídeos não eram apenas uma promoção do single em

ClaraFigueiredo&MarFerreira/JéssicaMarques

questão, mas um guia 1-1 de como votar até 20 vezes na canção deste país o que visivelmente quebra o código de conduta do Festival Eurovisão da Canção, nomeadamente no que toca à promoção governamental das canções e do apelo explícito ao voto, comprometendo a imparcialidade do evento

Este ano, as controvérsias da participação deste país no festival foram ainda maiores do que no ano passado Viram-se protestos na Turquoise Carpet em Basileia, Yuval Raphael foi vaiada em todas as suas atuações (tendo-se instalado, aliás, um sistema anti-booing, utilizado durante estas performances), um dos seus ensaios teve de ser interrompido devido a protestos audíveis com apitos, bandeiras palestinianas e gritos própalestina, e dois ativistas tentaram ainda invadir o palco após a última atuação de Raphael, na final de dia 17 de maio

São muitos aqueles que se opõem à participação de Israel neste e noutros grandes eventos internacionais O presidente espanhol, Pedro Sánchez, já pediu publicamente a exclusão de Israel da Eurovisão, afirmando que “Não podemos permitir padrões duplos, incluindo na cultura” O chefe de Estado fez o seu apelo no seguimento da mensagem passada pela RTVE (Radiotelevisión Española) antes da final do concurso, na qual se podia ler “No que toca a direitos humanos, o silêncio não é uma opção Paz e justiça para a Palestina” O canal levará a cabo, ainda, uma auditoria aos cálculos do televoto espanhol, em que, alegadamente, a canção de Israel recebeu a pontuação máxima A televisão Belga VRT solicitou um debate sobre o sistema de televoto da Eurovisão, tendo também sido um dos únicos canais a passar uma mensagem própalestina antes do início do evento, apelando à assinatura de uma carta aberta pela paz na Palestina Apesar de rumores de que a RTP se expressaria em relação ao assunto, Gonçalo Madaíl, coordenador-geral do Festival da Canção, esclareceu que estes surgiram de uma falta de comunicação, afirmando que “o processo de votação do público no Eurovision Song Contest é da exclusiva responsabilidade da EBU” Por outro lado, mais de setenta ex-participantes da Eurovisão (como Salvador Sobral, Mae Muller e Bianca Nicholas) pediram por escrito a imediata expulsão do KAN do festival, defendendo que, “ao continuar a dar palco à representação do Estado de Israel, a EBU está a normalizar e a cobrir os seus crimes”

para uma música por uma instituição governamental desse país, a Eurovisão assume os seus padrões enviesados Ao escolher ignorar os contínuos protestos de fãs, Estados e participantes do concurso, a Eurovisão demonstra a sua fraqueza institucional

Algo desconhecido por muitos, contudo, é que a doença pode alastrar-se pelo corpo do paciente, culminando em doenças crónicas, como inflamações renais e pulmonares, e em doenças neurodegenerativas, das quais destacamos o Alzheimer

Fonte:picturealliance/ANP/SanderKoning

PintOf Science

JéssicaMarques

“Umbar,umcopodecervejanamãoe umaconversasobreciência.”

É este o lema do Pint Of Science, o maior Festival Internacional de Ciência que visa descomplicar alguns termos científicos Começou no Reino Unido em 2013 e viajou até Portugal há quase dez anos onde, no dia 19 de maio, no acolhedor espaço do Fab Lab Lisboa, arrancou o primeiro de três eventos

A primeira convidada a discursar foi a estudante de doutoramento da Nova Medical School Adriana Capucho, que abordou a questão “Pode o consumo de cafeína melhorar a diminuição de memória associada à Diabetes?”enquanto João Duarte, engenheiro biomédico da Champalimaud Foundation, explorou se “Podemos medir e alterar a atividade do cérebro”

Pacientes com Diabetes estão propensos a desenvolver problemas de memória, uma vez que a sua plasticidade cerebral é drasticamente reduzida, causando uma diminuição do córtex e do hipocampo, o que por sua vez cria placas beta-amiloide É aqui que Adriana introduz os efeitos de ingerir cafeína É comprovado que tomar 3 a 5 chávenas de café por dia pode reduzir até 65% o risco de demência, uma vez que, enquanto antagonista não seletiva dos receptores de adenosina, a cafeína impede a criação das placas beta

Assim, são executados uma série de testes em ratos onde, por 26 semanas, estes são submetidos a uma dieta de 60% lípidos, 35% açúcar e 1 g de cafeína Um dos testes em particular, o titulado Y maze, passou por testar a memória dos animais consoante a dieta ingerida

Deste modo, Adriana e a sua equipa comprovaram que a dieta hipercalórica promove alterações na memória espacial, sendo capaz de modificar significativamente a capacidade de aprendizagem Foi ainda comprovado que a cafeína reverte esta mudança ao se revelar um factor essencial no controlo da memória Depois de um pequeno intervalo e um jogo de Kahoot, é a vez de João Duarte subir ao palco para nos explicar mais um pouco sobre como o cérebro atua Surpreendentemente, o cérebro humano ocupa 2% do peso do corpo; tornando possível o acesso direto à sua estrutura através de uma ressonância magnética (RM)

Não há dúvida que a participação de Israel na Eurovisão não é apolítica Ao permitir a entrada de um país genocida que comete crimes de guerra debaixo dos nossos olhos todos os dias incluindo a 9 de maio, o dia em que o país participou na segunda semifinal da Eurovisão 2025, assassinando pelo menos 60 palestinianos a Eurovisão assume-se como política Ao permitir o financiamento de propaganda de voto

Adriana arrancou a sessão com algumas estimativas preocupantes A doutoranda partilhou com o público presente que, atualmente, 62% da população está diagnosticada com Diabetes Mellitus, sendo que o Tipo 1, onde não existe possibilidade de insulina ser produzida, e o Tipo 2, onde os níveis de açúcar são demasiado altos, constituem 90% dos casos

A RM funcional, explica João, foi desenvolvida nos anos 90, mas baseada no princípio de Angelo Mosso, o responsável pelo estudo da “Human Circulation Balance” Dependente da oxigenação do sangue, a RM funcional tem um papel crucial em detectar, precocemente, condições como a esquizofrenia (SCHZ) e a doença bipolar (BPLD) Difíceis de serem diagnosticadas de outra forma, este procedimento assume 88% de precisão

Por sua vez, a Transcranial Magnetic Stimulation (TMS) é uma técnica não invasiva que utiliza campos magnéticos para criar pequenas correntes elétricas que estimulam o cérebro Ao alterar a neuroplasticidade, a TMS revela-se importante no tratamento de casos extremos de depressão onde os fármacos não funcionam

O engenheiro concluiu, assim, que através de práticas de neuromodulação ecológica é possível aprender a controlar, voluntariamente a atividade cerebral com base em feedback sobre a atividade cerebral em tempo real

A sessão encerrou com aplausos e gargalhadas, sons que convocaram os participantes a discutir os tópicos abordados num clima que alude à boa disposição É com um copo de cerveja na mão que a Pint O Science nos convida para passarmos mais um ano a descomplicar a ciência

Fonte:AgendaCulturalLisboa

Falar/Viver

SofiaFernandes

Uma

palavra

ManuelGorjão

Uma palavra valada e velada e colada e calada e falada e falida e fodida.

Fala

Nãotedeixescalarpelomedo

Escreve

Nãohesitesempegarnacaneta

Comunica

Comosoutros,contigo,comovazio

Existe

Deixamarcas,fazmemórias,chora,ri

Ésdemais,demasiado,espalha-brasas

Sim?

Deixaser

Experimentacalar

Experimentanãoescrever

Experimentaabdicardalinguagem

Aindaexistes?

Pois

Escreveoutravez,gritaseprecisares

Para

Respira

Recomeça

Oqueéviver,senãoisto?

Comoa linguagem levaa moralidadea daruma volta

HelenaGregório

Em 2023, no verão em que terminei o 12º ano, fui viver para a Finlândia com uma família com dois filhos pequenos As nossas conversas diárias eram em inglês, mas um dia inventámos um jogo: adivinhar se certas palavras eram femininas ou masculinas em português “Mesa é ela, livro é ele”, dizia eu E eles riam-se riam-se como quem está a ouvir uma piada absurda “Mas como é que uma mesa pode ser ela?”, perguntavam, de olhos arregalados Para crianças cuja língua materna não atribui género às palavras, a ideia parecia um erro do sistema E talvez fosse

Se a língua é o espelho da cultura, será também o molde da consciência? Mais do que nomear o mundo, a língua molda a forma como nos sentimos em relação a ele e até como o julgamos A psicologia chama-lhe teoria do duplo processo: por vezes, decidimos por instinto emocional, outras vezes por razão calculada Curiosamente, os estudos mostram que, quando falamos uma língua estrangeira, tendemos a ser mais racionais, mais utilitários É como se o esforço de pensar noutra língua nos afastasse do coração por um momento

Falar outra língua é como pensar fora da caixa Um estudo da Universidade de Chicago concluiu que, quando usamos uma língua estrangeira, tomamos decisões mais utilitárias sacrificamos mais facilmente o que é único para o bem de muitos A explicação? Distância emocional A língua materna fala-nos a partir de dentro, com memórias, afetos e impulsos Uma língua estrangeira exige uma pausa, traduz o mundo antes de o sentirmos E, nesse intervalo, talvez a razão fale mais alto

Quando a língua nos obriga a escolher entre “o” e “a”, onde fica o espaço para “eles”, que não são nem uma coisa nem outra? Em português, cada palavra tem uma identidade até os objetos inanimados têm um género Crescemos com uma língua que nos ensina a ver o mundo em pares opostos: masculino e feminino, certo e errado, sim e não, nós e os outros Talvez por isso muitas conversas sobre identidade, sobretudo com pessoas não tão expostas a realidades ou culturas estrangeiras, ainda pareçam estranhas, quase ilegítimas como se fossem erros gramaticais antes de serem realidades humanas

Em finlandês, por outro lado, onde a neutralidade é a regra e não a exceção, a língua parece naturalmente abrir espaço para a dúvida, para o meio-termo para a liberdade de não se encaixar Uma liberdade que, em português, ainda soa como um erro de concordância

Não sei bem em que língua penso quando estou a pensar no que está certo, mas sei que, sempre que mudo de língua, levo a minha moralidade a passear e, por vezes, ela volta ou exprime-se de forma diferente Em inglês, tenho tendência a ser mais direta; em português, mais íntima Cada língua empresta-me outra pele, outra forma de sentir e de escolher Talvez a moral não mude, mas o caminho que percorremos até ela, sim E, se a língua não dita o que é correto, talvez dite a forma como o dizemos e, com isso, como o vivemos

Linguagem "feminina"na política:é possível?

AliceCouto

Vários têm sido os estudos focados em como a linguagem das mulheres se altera e se torna mais “masculina” à medida que vão tendo cargos mais importantes na política Segundo os autores, isto é resultado de um alinhamento com as normas e as expectativas do ambiente político, geralmente dominado por homens, mas não é apenas uma imitação do discurso dito masculino; é também uma resposta aos padrões de comunicação que, no ambiente político, tendem a legitimar a autoridade e a competência através de posturas mais diretas e assertivas

Mas o que é isto de uma linguagem mais “masculina”? Podemos pensar que se refere a uma atitude mais firme e confiante, falar de forma convincente e defender ferozmente as suas ideias e as suas políticas Mas não haverá uma maneira “feminina” de fazer isso?

Infelizmente, parece que não Se mulheres na política e a terem opiniões próprias já afeta alguns, então quando essas opiniões são defendidas com unhas e dentes, as mulheres são consideradas agressivas Enquanto um homem pode gritar para expressar as suas ideias e ser considerado assertivo, uma mulher a fazer o mesmo é considerada agressiva Enquanto os homens são avaliados pelas suas habilidades políticas, as mulheres são avaliadas pela aparência física, e são criticadas

por calçarem All Star num debate televisivo Ainda que façam a mesma coisa da mesma maneira, um homem vai ser apreciado e, caso erre, desculpado; uma mulher vai ser julgada e, caso erre, esse erro irá segui-la até ao fim da sua carreira política

É impossível falar de uma linguagem “feminina” se não se dá às mulheres na política a oportunidade de a ter; e se caso a única maneira de subirem ao poder é sendo mais masculinas, por mais críticas que recebam a essa conduta Pressuponho aqui que uma linguagem dita feminina incluiria uma atitude dócil ao falar, calma e racionalidade em momentos tensos, e a representação de uma ideia de feminilidade criada pelo patriarcado, tudo coisas que não são pedidas aos homens e que não os afeta na sua atividade política O duplo padrão que considera os homens assertivos e carismáticos, mas que considera as mulheres com os mesmos comportamentos histéricas e violentas, acaba por minar a legitimidade das ações políticas das mulheres Sofrem também uma dupla pressão: tanto da arena política, que as força a ser mais “masculinas” de modo a serem ouvidas, e dos media e das redes sociais, que as demonizam por tomarem esta atitude

Dito isto, coloco uma última questão Esta alteração da linguagem e dos modos das mulheres é propositada e apenas derivada da vontade de alcançar mais poder, ou é uma resposta inconsciente a uma sociedade machista que condiciona as mulheres em todos os aspetos da sua vida? Independentemente da resposta, é visível o tratamento diferente entre homens e mulheres, tanto na vida política, como em todos os demais aspectos da vida

Emojise violência:há alguma relação?

A Internet e as redes sociais alteraram vários aspetos do nosso dia-a-dia, mas também trouxeram outro tipo de linguagem A partir do momento em que começamos a conversar uns com os outros pelos telemóveis, começámos também a utilizar emojis E, hoje, existem dezenas, se não centenas, de emojis pelo mundo fora Os emojis podem ser utilizados para dizer muita coisa

Se na grande maioria das vezes, utilizamo-los no bom sentido, para brincar e fazer piadas, hoje, a situação já não é bem assim A nova minissérie da

Netflix, Adolescência, trouxe para debate este assunto, que envolve os adolescentes Qual é realmente o perigo dos emojis? Porque é que este assunto está a ser tão falado?

No mês de março, estreou na plataforma de streaming, Netflix, a minissérie “Adolescência” Em apenas quatro episódios, com mais ou menos uma hora cada um, esta série conta a história de um rapaz adolescente de 13 anos, Jamie Miller, que é acusado de ter assassinado uma colega de escola, no Reino Unido, mostrando um retrato sombrio da violência juvenil Enquanto procuramos perceber as motivações do crime, juntamente com os investigadores da polícia, começamos a depararmo-nos com formas de violência que antes não se imaginavam Os emojis, algo que aparenta ser tão inocente e que milhares de pessoas utilizam como forma de reação nas conversas ou nos comentários que fazem diariamente, começam a ser utilizados, pelos jovens, com outros significados Muitos destes significados ocultos dos emojis, para além de transmitirem ideias misóginas, passaram a ser utilizados com o intuito de iniciar conversas de cariz sexual, mas também relacionadas com o consumo/tráfico de drogas Claro que existem alguns que não são novidade, que atravessam gerações, como a utilização da beringela ou banana como sinónimo do órgão sexual masculino ou da flor para representar o órgão sexual feminino Contudo, existem muitos outros que, aparentemente inocentes, são usados para representar conteúdo sexual sugestivo O mesmo acontece com as drogas e aqui existem ainda mais emojis que parecem não fazer sentido Corações de cores diferentes, antes usados para demonstrar afeto por alguém, são agora utilizados para o consumo e tráfico de certas drogas Falar sobre estes assuntos torna-se essencial, pois os últimos dados do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) mostram que a violência

entre os jovens dos 12 aos 16 anos aumentou mais de 12% face ao anterior Este relatório conclui que uma das razões que mais contribui para este aumento é, precisamente, o uso da internet e das redes sociais Também as equipas da Escola Segura da PSP apontam que tem existido um aumento constante de ocorrências relacionadas com a violência dentro e junto de escolas Em 2024, registaram-se mais de sete mil ocorrências

Se a série traz o tema da violência entre os jovens para cima da mesa, alertando para os perigos que as redes sociais têm juntos dos mais novos, torna-se, essencial, que, enquanto sociedade que se preocupa com as novas gerações, se debata esta temática, principalmente dentro daquelas instituições que maior poder têm para conseguir solucionar este problema Os autores de “Adolescência”, Jack Thorne e Stephen Graham, procuraram precisamente isso: fazer com que a série seja debatida e visualizada no Parlamento britânico Algo que conseguiram

Imagemdasérie“Adolescência”

Fonte:Renascença

Alíngua,o amor,eo autocorretor.

AfonsoNoronha

Num mundo indescritível, tornou-se necessário descrevermos certas coisas A língua surge nesse sentido, mas a que custo?

A língua é um fator de ternura, de amor, e de conforto Isto parece-me, de certa forma, evidente A língua evoca casa, um porto seguro só nosso, a existência enquanto ser coletivo, integrado num só corpo comunal – a nossa terra, ou, se apreciarem Fernando Pessoa, a nossa pátria

Aminhamãe,nascidaem1963naoutrorape-

quena terra (atual cidade) de Santa Comba Dão, encontra, corroborando esta ideia, refúgio dentro de pequenas palavras, expressões e costumes – diz, ainda com orgulho, teimosia, e obstinação - coelho, em vez de “coalho”, apesar de viver na capital há quase 50 anos Vai para lá de uma eventual pretensão sobre o “português correto”, mas de uma memória e saudade materializada, que acolchoa a queda livre da vida urbana

Este colchão aparentemente suave, contudo, tem arestas rígidas e duras A língua, na sua beleza, oprime tiranicamente Estrutura com mão de ferro, demonstrando parca misericórdia para com os seus opositores, sem deixar sobreviventes ou críticos nas suas barreiras Dentro da sua liberdade venusta, esconde-se um carácter draconiano implacável – é uma cativa que nos tem cativos

Esta característica totalitária deriva da herança conjunta que é a língua De forma antidemocrática, inconstitucional, e, até digo, fascista, são-nos impostas regras sem possibilidade de contestar – sem a possibilidade de ser refratário, de ser objetor de consciência Nasce-se já com o dicionário escrito, com as regras criadas, e com a língua falada pensada e a ser utilizada

Isto contrasta, paradoxalmente, com o caráter popular da língua Engana-se quem considera que a Academia das Ciências de Lisboa, dentro do seu papel indubitavelmente importante na nossa democracia, define as normas que regem a nossa comunicação Essa prerrogativa não pertence à Assembleia da República, à intelligentsia, ou mesmo à profusa classe alfabetizada do Estado Pertence, de forma absoluta e inequívoca, a todos nós O papel descritivo de todas as organizações soberanas empalidece com o carácter prescritivo do povo Se a língua, e as pessoas, nos ensinam a amar com a pompa e circunstância exigida, ensinam, também, que há normas inquebrantáveis de como o fazer –só existe, em todos os casos, uma maneira de o fazer, e, se preferires outra expressão, és um herege que merece o ostracismo

A língua não é, aliás, um fator homogéneo congruente pelo país A ideia de que o português correto é o de Coimbra é uma conceção que, francamente, irrita-me de modo categórico – ou, subsequentemente, que Lisboa não possui sotaque algum O amor dos sotaques, dos termos regionais não dicionarizados, das pessoas que criam termos através das suas experiências pessoais – é tão correto como a escrita de qualquer professor catedrático O elitismo referente à língua portuguesa é uma realidade que, infelizmente,

ainda está veementemente presente no nosso panorama social

Numa nota de esperança, onde existem regras, existe, também, quem as quebra Quando, amiúde, ouvimos “quaisqueres palavras”, que um casaco “assenta” bem, que é imperativo “destrocar” uma nota de 5 euros – questiono-me se isso não será equivalente, a nível prático, aos jogos de palavras dos nossos grandes escritores Estes termos, derivados de supostos erros, mostram-nos que é possível viver e comunicar fora da língua, sem ter em preocupação as estruturas pré-impostas

A língua, portanto, não é um monólito, mas uma manta de retalhos O coelho da minha mãe nunca será dicionarizado A nossa língua é individual, pessoal, e que nos restringe Nunca foi neutra Nunca foi alheia e acrítica ao ser humano – pertence ao mesmo como o coração pertence ao peito Utilizem-na da vossa forma, seja como Saramago ou como Eça de Queirós Aliás, esqueçam esses escritores de outrora Utilizem-na, da maneira mais absoluta possível, à vossa forma Ó meu cárcere eterno com barras feitas de versos, como poderei escapar das tuas paredes frias? Certamente, não será com o autocorretor Pois quem utiliza o autocorretor, não sabe amar verdadeiramente

Petpeeve: amesclainglêsportuguês

E começa bem, constando na crítica a incorporação do fenómeno que é objeto da mesma: a praga das casuais conversas com amigos, com familiares, e, por vezes, em trocas de palavras formais com professores Crazy!

E não, não falo apenas do recurso pontual a anglicismos, como “hey”, “spoiler”, “story”, “dar like”, já tão usados que quase se poderia dizer terem estatuto honorífico no léxico português, mas sim duma fusão bárbara, género pote XXL

de gelado de nata e chocolate de marca branca, entre inglês e português

E, enquanto os dois sabores que, individualmente aceitáveis, juntos se tornam um demérito à classe nobre das sobremesas que é o simples gelado, também o português avançado de quem é nativo, misturado com o inglês ok de quem com a língua contacta diariamente, se torna uma mescla de fraqueza linguística Um constante vaivém entre um português inglesado e um inglês aportuguesado, no mínimo, cringe Até aqueles para quem a mistura de línguas faz confusão se metem nos mesmos malabarismos Nesses “aqueles” também me incluo, é certo, ainda que, por razões que desconheço, me cause mais comichão quando os outros viram bilíngues do que quando sou eu, casualmente, a proferir um “Tás buéda different” ou, e em tom de fecho, “Daqui a duas semanas acabo a licenciatura That´s so wild”

BárbaraSoares

Nãotenho sentido de orientação, vivo a correrparatrás O meu destino está em contramão e isso não me satisfaz.

Tenho medo de sero que jáfui, medo do que retorna sem mudar independentemente da direção, de que o ciclo seja o que me constitui.

Sou prisioneira do prefácio que nunca chega a acabar. Quero partir, masvolto, sempre ao mesmo lugar

As palavras repetem-se, não as consigo alterar, não importa quanto escreva, permaneço num impasse.

O eco de ontem persegue-me, repito caminho como um ritual. E se o meufuturofora reviver, quando o meu desejo é o desigual?

No cativeiro das capicuas, sigo linhas contínuas

As horas caem sem cessar e eu aqui a desesperar

Estou presa ao que me devora, ao que me impede de desabrochar

Ofim regressa ao ponto inicial, lê-me no meu serde outrora.

Fonte:Observador

Raícescomunes,futuro partilhado

“Falamos de duas pessoas, que criaram uma forte ligação entre si, porém uma tem como língua nativa o português europeu e a outra o castelhano. Línguas que são pontes? Muros? Ou que poderão ser uma abertura para algo mais?”

Como podem duas pessoas que falam um idioma diferente conviver e estabelecer algum tipo de ligação? Será que aquilo que nos separa é mais forte do que aquilo que nos une?

Falamos de duas pessoas, que criaram uma forte ligação entre si, porém uma tem como língua nativa o português europeu e a outra o castelhano Línguas que são pontes? Muros? Ou que poderão ser uma abertura para algo mais?

España y Portugal comparten más cosas que una simple frontera y espacio económico europeo Comparte culturas, tradiciones, formas de habla, pero sobre todo una comunidad social denominada “La Raya” Comunicarnos de forma escrita como oral no es un problema para una frontera tan abierta y acogedora como las nuestras Sin necesidad de llegar a aprender el otro idioma, conectamos para poder compartir pasado, presente y futuro en todos los ámbitos de nuestras vidas

O que caracteriza esta forma de comunicação tanto tem um passado que a influencia, como também um presente que a potencia e um futuro que a motiva Partilhar as mesmas raízes etimológicas facilita falar portunhol, o que conhecemos como uma mistura de português e espanhol Uma opção viável? Não o sabemos Ainda que haja a possibilidade de falar uma mis-

tura destes idiomas, que tanto se assemelham, existe concomitantemente a eventualidade de um dos interlocutores dominar ambas as línguas E se não? Pois, o Duolingo existe para alguma coisa Mas será que facilitaria assim tanto este contexto, uma vez que o único que ensina é português do Brasil e espanhol da América Latina?

El portuñol es la forma más recurrente de comunicarse entre las personas de ambos países, pero a veces los sentimientos impiden poder expresarse en esa jerga lingüística ya que es limitante si no es para una comunicación básica y se necesitan explorar otras vías de comunicación entre dichas lenguas ¿Aprender el idioma es la opción más correcta? Podría ser la más acertada, no así la más rápida y más cuando hay sentimientos en el medio de esa historia transfronteriza Respondiendo a la primera pregunta del texto: principalmente hablando el idioma del amor

Finalmente, creio que podemos afirmar que uma comunicação eficiente não se faz somente de palavras, faz-se também de sentimentos Por mais barreiras que a linguística pareça impor, a realidade mostra-nos precisamente que um mero gesto, do mais simples que possa existir, pode derrubar todos esses obstáculos Idiomas

há milhares (mais de 7000, para ser exato), no entanto, isso não contribui para que certas relações não se vivam, é somente necessário encontrar algo comum, algo que una os envolvidos No nosso caso em específico, o amor mostrou explicitamente que nenhuma barreira, nem mesmo a linguística, pode existir

Si tienen algo en común aquellos 7000 idiomas, es la necesidad de entenderse las personas, la necesidad de ser “seres sociales” y poder transmitir sentimientos y expresiones propias de la metafísica El amor y su formación, por mucho que se estudie en las mejores universidades científicas, es algo más lírico y mágico de lo que se piensa, no como un deseo sino como la capacidad de entender idiomas sin necesidad de aprender Entender sentimientos sin necesidad de poder utilizar esos idiomas Los puentes no son las lenguas, los puentes son las personas que hacen de sueños, realidades

Este texto não tem como objetivo ser um guia sobre como manter uma relação sentimental entre duas pessoas que falam idiomas distintos

Sino ser un testigo fiel de todo aquello que nos une y de lo poco que nos separa Y que lo más importante no es compartir una misma lengua, sino un mismo sentimiento

(Surpersonne garanto-me)

Sentaste-te ao sol, etoda a gente

Ignorou a meia sombra quete cobria

Não é admiração, é romance Sentei-me

Àtuafrente, ainda não estavas – dava um Concerto só paratermos assunto

Nãote possover, é umaforça da Natureza – banhada em beleza – com O poderde atmosfera dasferas mais

Etéreas Escrevo para me agarrarao

Tangível deti Soluço nasfrases mais

Simples – és-me o que procuro no clima

Saio de casa, à espera de me irembora

Quando sobes o elevador Anseio pelo dia em

Que o Governo permita que me contornes Com oteutoque (pela noite) Era um prazer Enclausurar-me contigo numa auto-estrada

(Ficámo-nos poresta avenida, Entre otolerável, o mau, e otemível)

Arima não se justifica parate Escrever– não produzum ritmotão Melódico, quanto oteu andar O belo não

Está na orquestra que se predispõe àtua Vontade

Pára de mefugir– pára de ir– não Batas mais com a porta, não

Apagues estefogo com atuaforma – só O acendes Foste efiquei em silêncio, Se não me ouves, não querofalar

Podias saberdos litros de sangue que Queroverterporti – se já não os Vês quando os nossos olhos se beijam

Cura-me a cegueira – já não me

Vejo – já sótevejo – que desejo Mastigo Chicletes, para não iratrás de Nós Já só como maçãsverdes Já só coso

Tecidos brancos Já só passeio porflorestas negras

Porque nãotentar, se só nosvamos Lembrarumavez; e asfolhas caducas Não são suficientes Estás enquadrada No meu sistema cognitivo

Não pode serreal, a alienação

Datua ausência Mas, sefor, Quero cairviolentamente deste céu Cinzento Olha-me outravez Como é

Que éstão real? – bebo absinto

Para consumiro soro datua íris

Anjo apolíneo – quebraram-te as articulações

Já nãote conheço Já nãote mereço

(Se a nossa promessaforeterna, Nunca morreremos)

Dois pássaros (outrora loucos) – já não são

Virtuosos – a resolverum cubo mágico (que já não

Se resolve sobre si) – já nãotêm graciosidade para Darevender, quanto mais paraflutuarno ar

Evencera gravidade

Viva aos cavalos no prado

Efémero – nemtodos deixam de serburros

Viva à inocência dos infantes – quetanto

Invejo – não sabem o que é esta Solidão de Kant

Deixa-metatuaroteu nome

Com um erro de ortografia, para Me modularsob atua

Ontologia e queimaro que Me rodeia – enforma – enquanto

Te mantenho enquadrada no Meu sistema linfático

És-me incessante,verde de desejo, Pálido detoque, preto de podridão

Situacional Se oteutoque cessasse este Fogo, rompia os meus ligamentos Em

Nome datua líbido –testava os meus ossos

Numa batalha com umferro escaldante Dava

Avida parate poderromanizarperpetuamente

Eratão simples ao luar

Perde-te na minha noite – prometo

Quetentofalaratua língua

Tornar-se-átão minha, como

Anoitetua Não posso largaroteuventre,

É o único lugaronde o real não me repugna

(Sê a minha praia – Ser-te-ei areia

Pisa-me – engolir-te-ei)

Somosfolhas brancas – produtos

De páginas cheias de Histórias que não mevais cantar

(Não deixes que a nossa promessa

Se realize O que não começa não pode

Serefémero Talvezassim sejamos eternos)

Ajuventude segura-me, a idade

Liberta-me –totalmente desarmado

E esfomeado peloteu amor– sou

Um barco pensante no ártico

Desnorteado – navego com a luzquente

Doteu olharem mente

Anjo Dionisíaco –trituraram-te à nascença

Leva-me contigo Beija-me neste lago

Aguardo pacientemente que me ateies

Em chamas Setefizesse reparar, Trocava o bagaço peloteu suco gástrico

Queima-me, engole as minhas cinzas

Satisfaz-me,faz-me arder

Falandoem “Futebol”

Do beijo ao pisão no escudo Das mãos na cabeça aos braços erguidos aos céus O futebol nos diz muitas coisas sem, necessariamente, as dizer Os fãs do esporte possuem hábitos em comum que acabam por formar uma comunicação própria Fazem dos adeptos interlocutores Mesmo que não percebam, estão constantemente se comunicando

Quando um torcedor se encontra nas arquibancadas não é difícil olhar para o lado e ver centenas, talvez milhares de pessoas, a balançar os braços em direção ao gramado enquanto entoam os cânticos e músicas da torcida Isso é um código Tanto o torcedor recém-chegado, quanto o veterano, sabem o que significa Nesse caso, inclusive, é bem possível que até mesmo os jogadores entendam a mensagem

Esses mesmos braços que se direcionam à relva, ao transportarem a energia da torcida para os que no campo jogam, em um instante podem estar parados, apoiados na cabeça das mesmas milhares de pessoas

Todas elas com uma expressão parecida e com um sentimento em comum, a sensação de “quase gol” O que se ouve das bancadas nesse momento é sempre idêntico, não importa o time, a competição ou, sequer, o país Será entoado em uníssono um “UUUH!” Até de fora dos estádios é possível reconhecer quando acontece

No momento do gol, além do clássico grito, o gesto que mais me chama atenção, pelo menos dentre os vistos nas arquibancadas, é o abraço em desconhecidos Durante aquele breve momento, a emoção é tão forte, que abraçamos estranhos como se fossem família e eles o fazem também Ao mesmo tempo, aqueles mesmos braços que transmitiam a energia da torcida, ou lamentavam o gol perdido, agora se levantam o mais alto possível, quase que de forma a agradecer, os socos no ar, saltos e rodar de camisolas completam a festa que une os milhares de torcedores na celebração do momento mais aguardado do esporte

Mas a comunicação interna do futebol vai muito além da reação dos adeptos, passa até mesmo pelos jogadores É muito comum times terem seus escudos estampados no chão do corredor de acesso aos balneários ou então na beira do relvado, e é ainda

mais comum ver atletas adversários desviando o andar para não pisar no brasão, visto que é entendido como imensa falta de respeito Contudo, não é sempre que acontece Casos como o de Diego comemorando em cima do escudo do São Paulo viraram marcas registradas e motivos de piadas até os dias de hoje

Acredito que as comemorações servem um papel importante na criação desses códigos internos, entre os torcedores do mesmo time Quem nunca se viu torcendo para a seleção portuguesa e imitou o famoso “SIIIU” do Cristiano, ou então fez um gol no jogo com os amigos e balançou os dedos tal qual Ronaldo Fenômeno?

No universo do futebol, a linguagem interna dos que ali se inserem nos faz pertencer muito mais profundamente do que achamos Nos faz encontrar proximidade numa interação com alguém que nunca vimos antes Nos faz entender que ali, naquele grupo, naquele momento, existem outros que nos entendem, e que fazem com que todos nos tornemos uma grande unidade

Futebol, Taberneirose Classismo

JoãoMarchão

No futebol português há, e sempre houve, um problema com a arbitragem E sempre haverá O futebol é um desporto de erro, e não há nada mais natural do que um árbitro falhar, tal como um guarda-redes ou um ponta de lança Também não há nada mais comum do que, depois de ver esses erros, um adepto insultar quem comete estes erros e dizer "vou-me matar" quinze vezes seguidas É parte do ritual

O que tenho notado nos últimos tempos, no entanto, é que se tornou quase mal visto reclamar da arbitragem Quem o faz é visto como ignorante, um "bêbedo de café", alguém que não percebe nada disto A ideia implícita é clara: o adepto inteligente, civilizado, desconstruído, analisa o jogo com rigor académico: fala da linha defensiva, da ocupação dos espaços, do posicionamento do lateral no lance do segundo golo Já o labrego berra com o árbitro, não sabe mais que isso

Sendo eu o amigo demasiado woke, não demoro a chamar a isto o que é: classismo O que se está a desvalorizar não são apenas os protestos, é quem os faz É o adepto que vê o jogo no café, que não sabe o nome do extremo-

esquerdo da sua equipa e que grita com os outros enquanto bebe quantidades normais de cerveja Este adepto é real e, quer se queira quer não, é ele que representa a maioria Porque a average pessoa que vê futebol é, também, a average pessoa portuguesa A rejeição do “adepto de café” é, no fundo, uma forma de vergonha de classe Uma vergonha que não vem só de cima para baixo, mas que muitas vezes é interiorizada pelas próprias classes populares, como se a maneira certa de se ver futebol fosse como fazem os senhores de gravata na televisão Esta alienação cultural convence-nos de que a nossa forma de viver e sentir é inferior, e que devemos aspirar a outra qualquer, mais limpa, mais fria, mais próxima da lógica de mercado O protesto só é legítimo se for comedido O resto é coisa de labrego

A recente polémica com o treinador do Sporting ilustra um pouco desta tensão Depois de um jogo pouco conseguido, Rui Borges fez declarações que foram, sinceramente, burras, e as críticas que se seguiram foram merecidas, mas o surgimento de expressões como “animal de taberna” é algo reveladora, como se a mera aproximação ao registo de um adepto tornasse alguém automaticamente indigno, ridículo ou menor Como se houvesse algo de profundamente errado num treinador ter um momento mais emocional, mais "popular", mais taberneiro, como se isso o colocasse abaixo do nível aceitável para o debate público É perfeitamente possível e até necessário falar da arbitragem e, ao mesmo tempo, discutir tácticas, dinâmicas de jogo ou opções estratégicas Essas dimensões não se excluem, complementam-se Uma equipa pode ter jogado mal, tomado más decisões ou ter sido dominada em campo e ainda assim ter sido prejudicada pela arbitragem Reconhecer isso não é desculpar a exibição: é aceitar que o futebol é um fenómeno complexo, onde múltiplos fatores coexistem e influenciam o resultado Reduzir a análise a uma coisa ou outra ou se fala de futebol “a sério” ou se protesta contra o árbitro é uma falsa escolha que empobrece o debate e desumaniza a experiência do adepto Porque o futebol, tal como é vivido por milhões, tem espaço para o pensamento e para o protesto, para a análise fria e para a indignação

Aqui não tento santificar o “adepto de café”; o problema do average português nunca foi ser pobre, barulhento ou taberneiro O problema é quando é racista, machista e odeia tudo o que foge à sua norma Sofia Oliveira, que chamou “animal de taberna” a Rui Borges, foi, como infelizmente tem sido hábito, alvo de ataques homofóbicos e misóginos E isso sim, tal como o racismo e outras formas de ódio, são os verdadeiros problemas do futebol e da sociedade portuguesa Esses sim, não podem ter lugar no futebol Nem em lado nenhum

Corpo

Cantar-te-ia uma canção.

E sem língua, ecoaria as palavras através da garganta. Que se danasse o sentido em favor de notas melódicas.

E sem cordas vocais, usaria as mãos. Aprenderia mil variantes da comunicação gestual, só no caso de uma te chegar desconhecida.

E sem mãos, chegar-me-iam os pés. Para aprender a segurar uma caneta entre os dedos e te escrever quais prosas e poesias que cobiças.

E sem escrita, usaria desenhos. De todas as formas e feitios, para te aliciar a visão Para os poderes ordenar e desconstruir, completamente à mercê dos teus caprichos

E sem caneta ou lápis ou tinta, os pés ainda servem para bater no chão Jogo rítmico de sinais de acasalamento incessante por todo o tempo que desejares

E sem pés, teríamos nós a pele. Pele que toca, esfrega, sua. Pele sensível, beijada, queimada. Pele suja, quente, desidratada. Com todos e quaisquer sabores à disposição.

E sem pele correr-me-ia o sangue. Para manipular em várias formas, derramando enquanto assim quisesse a tua vontade, jorrando pelas veias com percurso deliberado até ti.

E sem sangue, teria eu ainda o corpo. Órgãos de plasticina em teu controlo. Para esborrachar, morder, abraçar ou vender. Ossos para partir entre os dedos e cortar a carne. Artérias para estender e saltar à corda.

Seria assim que te cantaria uma canção.

DicionárioNeFdo PortuguêsRegional

a.di.a.fa

Origem: Alentejo

Gratificação dada no fim de um trabalho agrícola

dia.do.bolinho

Origem: Leiria 1 de novembro, Dia de Todos-os-Santos

Origem: Alentejo

Alguém que já não sabe o que diz

a.par.da.la.do bah

Origem: Rio Grande do Sul, Brasil

Interjeição usada para quase tudo: surpresa, aprovação, empolgação, desaprovação

bro.ca.do

Origem: Brasil, Região Norte Estar com muita fome

can.dis

Origem: Açores Doces Variação do inglês “Candies”

Origem: Madeira Peste, traquina es.te.pi.lha eu.fecho

Origem: São Paulo, Brasil Eu alinho, eu topo

ga.ma len.tris.ca

Origem: Açores Chiclete Variação do inglês “Gum”

Origem: Leiria Entremeada

mag.nó.ri.os

Origem: Norte de Portugal Café

cim.ba.li.no chá-de-bico

Origem: Porto Clister; Lavagem intestinal

Origem: Madeira Pessoa de Portugal continental, mais propriamente de Lisboa cu.ba.no

Origem: Norte de Portugal Nêsperas

não.estou.temperado

Origem: Évora Estar confuso

Origem: Rio Grande do Sul Brasil Prefixo para muito tri

PasseSub-23

Sou do tempo em que, até se atingirem os 18 anos, os passes rodoviários eram brancos na parte de trás Do tempo em que se ansiava por crescer para que o branco passasse a ser preto - o sub-23 O sub-23 da festa, da vida universitária; o sub-23 de se ser crescido Aliás, de se ser sub-crescido, sub-adulto, de se ser jovem e de gostar de o ser

Quando o meu passe era branco, ansiava que o tempo o manchasse para ser crescida; quando ele passou a ser preto, a vontade que eu tinha era a de parar um pouco a magia da coloração que a passagem do tempo acarreta Queria manter, ficar, ainda que não num lugar ideal

Agora o meu passe é amarelo na parte de trás - aliás, o meu e o de toda a gente Não há cá preto e branco para ninguém, e aflige-me, um bocadinho discreto, a ideia de as crianças não poderem mais sonhar com o cartãozinho preto onde se destacavam belas linhas coloridas e onde, a azul, letras de meio tamanho gritavam “sub-23”

Agora ser sub-23 não deve significar assim tanto Todos os cartões são amarelos e o tempo pode passar, mas a sua passagem nada significa Já não há pequenos sonhos para as crianças; pequenas ambições; agora é tudo grande Elas próprias são grandes antes de sequer terem passe - é difícil não se ser grande quando se tem o mundo inteiro em vídeos de 15 segundos, desde sempre. Desde sempre multiplicado por 15 segundos é muito, é o mundo.

Como há-de a simples transição de um passe branco para um preto competir com o mundo inteiro? Não pode, não é espetacular como quase nada no mundo o é Nem os cartões, nem os brinquedos, nem as formigas, nem os lápis, nem o papel - o papel onde também podia estar o mundo inteiro, um que demora mais do que 15 segundos multiplicado vezes desde sempre para lá chegar Quando pensei no tópico da linguagem pensei em coisas que não falam Um passe que não impressiona, fala Um ecrã que não fala, grita até ensurdecer

Já não se fala, mostra-se Mostra-se e vê-se antes de se ser Não há palavras que possam competir com o mundo inteiro em 15 segundos, desde sempre

VOMostrengoda ulnerabilidade

Bem-vindos ao novo normal, onde o que verdadeiramente sentimos se tornou inaudível Nos processos sociais atuais, os cidadãos sentem-se muitas vezes incapazes de se manifestarem oralmente, com receio do julgamento exterior, escondendo-se atrás de palavras ostensivas. Assim, a questão fulcral que se coloca é a seguinte: Porque é que, mesmo falando a mesma língua, não nos conseguimos entender?

Primeiramente, falamos de coisas banais, só para não quebrar certos limites e manter sentimentos numa caixinha fechada a sete chaves A razão? Medo da vulnerabilidade Num movimento egoísta, tentamo-nos proteger num baile de máscaras, o ambiente mais leve possível, de modo a não ferir suscetibilidades com a arma de “verdades que não devem ser ditas” Sair à rua e expôr os meus pensamentos? Nunca, jamais Sentimos pudor da nudez mental, bem como das suas consequências, aniquilando a transparência, um dos mais nobres princípios da linguagem

No entanto, tudo o que não é falado é expresso num incorpóreo subtexto, indomável por quaisquer regras Esse, cada vez mais, assombra os nossos dias com o perigo da ilusão e de expectativas erróneas Será que o outro vai perceber o que estou a tentar dizer? Ou, por outro lado, será que percebi a mensagem do meu interlocutor? Os equívocos nascem da linha ténue entre a realidade e a suposição

Em segundo lugar, com a crescente falta de escuta, o valor da palavra encontra-se a cair a pique Numa sociedade cada vez mais fraturada, a polarização ameaça com barreiras erguidas pelo medo da diferença e da divergência de opiniões Essa falta de tolerância leva não só à exclusão, mas também a um paleio desmesurado Estamos tão focados em defender o nosso ponto de vista e em provar que estamos certos (quando nem sequer é esse o ponto da maior parte das conversas), que deixamos de lado a empatia

Por fim, dado que o binómio razão/emoção não existe verdadeiramente, os sentimentos distorcem sempre o que falamos e ouvimos, logo a linguagem depende do estado emocional de ambos os intervenientes e a presença do arrependimento é constante, quer algo seja dito ou mantido dentro de nós Além disso, crescemos em ambientes diferentes, com códigos, hábitos e referências distintas, o que molda a forma como entendemos (ou não) o outro Tal exige mais do que uma língua em comum: curiosidade genuína, paciência, coragem para partilhar as nossas opiniões e humildade para reconhecer os nossos erros Não deixemos que a aparente inutilidade da sinceridade apague o espírito basilar da convivência social

Agenda cultural verão

Exposições.

12- jun

29 jun

ExposiçãocoletivaArteno Jardim

PaláciodosAciprestes,Linda-a-Velha,2ª a6ªentreas14h30eas18h Entrada Livre

14

atéjulho

ExposiçãoOEstadodas Coisas

NOTE TravessaCara 32(BairroAlto)

5

Qua-Sáb1500-2000 Até5Jul Entrada livre

atéjul

13

ExposiçãoPÓS-MUSEU:‘A’de Ausência

24

ExposiçãoVenhamMaisCinco OOlharEstrangeirosobrea RevoluçãoPortuguesa atéago

AvenidadaAliançaPovo-MFA(Almada) QuiDom1100-1900 Até24Ago Entradalivre

22

Narrativa,RuaDr GamaBarros,60(Roma) Qua-Sex1400-1900,Sáb1400-1700 Entradalivre atéjun

ExposiçãoAndTheyLaughed atMe

atéjun

22

ExposiçãoDedicadoao Desconhecido

Culturgest,(CampoPequeno) Ter-Dom 1100-1800 4€,(gratuitoaodomingo)

MuseuNacionaldeEtnologia,ResteloTer 1400-1800,Qua-Dom1000-1800 5€, (grátisaoabrigodas52entradaslivres anuaispararesidentesemPortugal)

ExposiçãoPaulaRegoeAdriana Varejão-Entreosvossosdentes atéset

CentrodeArteModernaGulbenkian,10:00–18:00 sáb,10:00–21:00 EncerraàTerça 8,00 €–14,00€

Cinema.Festivais

maio

22-

VentosdeLeste:UmCiclo deCinemaChinês ContemporâneoeClássico emLisboa 8 jun

CinemaNimas,Avenida5deOutubro, sessõesvariadasBilhete8€

06- jun.

08 jun

Festival

FestivalGiacometti:música,artes, antropologia,cinema,dançae gastronomia

FerreiradoAlentejo,Beja EntradaLivre

19- jun

FestivalMEOKalorama 21 jun

ParquedaBelaVista,sessõesvariadas Bilhetediário 55€

24 jun

29 ago

CinemanoVerão-aoar livre

PalcoTicketlineParqueMayer Sex:21h; sáb:21h Entradaégratuitaelimitadaaos lugaresexistentes

5- jun

CiclodeCinemaJaponês 7 jun

CinemaSãoJorge,sessõesvariadas,a partirdas17h 2€porsessão

FestadoJapão

JardimVascodaGama,Belém,das10h22h Entradalivre jun

28

18- jul

Festival 26 jul

FMMSines–FestivalMúsicasdo Mundo

PortoCovoeCidadedeSines Váriosconcertos grátis,concertospagosentre15€a25€

14- ago

Festival 17 ago

Andanças:FestivalInternacional deMúsicaeDançaTradicional

AldeiadeCampinho,noconcelhodeReguengosde MonsarazPassediáriode20€a40€,passegeral 110€

26

CinemaaoarlivreemLisboa: CineSociety atéout

CarmoRooftopTerraçosdoCarmo(Chiado) 14,5

Concertos

jun

Concerto

6

WorldNewMusicDays

GrandeAuditóriodaFundaçãoCalouste Gulbenkian,19h Entradalivre,consoante levantamentodebilhetes,sujeitaàlotação dasala(máx 2bilhetesporpessoa)

7

Concerto

QuintetoAstorPiazzolla

TeatroTivoliBBVA,21h Bilhetesentre20€ e30€ jun

7

Concerto

Calema-EstádiodaLuz

EstádiodaLuz,21h Bilhetesentre40€e 65€ jun

jun

Concerto

TonyAnn

13

TeatroTivoliBBVA,21h Bilhetesentre20€ e35€

jun Concerto

18

JorgePalmaeJúlioResendeUmEncontroÚnicodePianoe MúsicaPortuguesa AuditórioEmílioRuiVilarnaCulturgest 21h Bilhete35€

Concerto

TheLemonTwigs 21h,Lav-LisboaaoVivosala2,Lisboa,25€ a35€ jun

25

28

Concerto

Concerto:ZBDapresenta WilliamBasinski

21:30,Reitoria-CampusdeCampolide 25 jul

Conferências. Feiras.Teatro.

6

Espetaculo

Crente-LuanadoBem

TeatroTivoliBBVA,21hBilhetesentre12€e 20€ jun

4- jun

22 jun

Feira

FeiradoLivrodeLisboa2025

Parque EduardoVII,12h-22h(diasúteis)e10h22h(fimdesemanaeferiados) Fechasóàs23hà6ª, vésperadeferiadoesábado EntradaLivre

jun

Conferência

18

Antropologia,Reparaçõese Futuro-Encontroanualdo grupodeinvestigaçãoprática epolíticasdacultura

AuditórioA306,Edifício4,ISCTE,das10h18h EntradaLivre-

jun

Conferência

24

HomenagemaNunoJúdice

Auditório2daFundaçãoCalouste Gulbenkian 18hEntradalivre sujeitaà lotação

24- jun

Teatro 25 jun

PeçaOCéudaLínguadeGREGÓRIO DUVIVIER

GrandeAuditóriodoCentroCulturaldeBelém,20h Bilhetesentre20€e32€

28- jun

Feira jul

6

FeiraInternacionaldoArtesanato (FIA)

FIL,ParquedaNações,15h-23h(24hà6ªe sábados) Bilhetesde6€paradiaútile8€aofimde semana

7- jun

8 jun

Feira

Art&FleaMarketIntendentePop Up

HedenCoworking-RuaMaria10B,12h-19h EntradaLivre

19- jun

29 jun

Teatro

PeçaHeddaGablerdeHenrikIbsen

TeatroVariedades,20h(quartaasexta),21h (sábado),16h(domingo) Bilhetesentre12€e17€

DariaRosaeJéssicaMarques EscritaCriativa/Cultura

Departure Oolhardodesejo

Flowers buzzing to the sound of a bee’s bzzz and I’m humming the song of the earth I used to call home

It goes something like this humm hummmm hummmmm but in other words and other letters letters unknown to you and to me I laughed

You did get the reference when I told you that Caddy smelled like trees but when we walked home unaware that the sun wouldn’t rise once again as it always did you told me how smelling like trees could never be an honest-to-goodness symbol for purity or innocence or something like that because trees can be rotten inside even without anyone noticing

And how for you that was the reason why the bees didn’t speak our language anymore but still, the earth shattering beneath our feet as we lay there smothered by the dripping nectar of our love at the brink of goodbye and goodbying we were when the sun didn’t rise the next morning and life wasn’t ours anymore

Yet, still the bee’s bzzz buzzing in my ear rendering me further into the moist earth

O filósofo grego Aristóteles escreveu: “It is of the nature of desire not to be satisfied, and most men live only for the gratification of it” Parece um paradoxo irreversível; a ideia de que aquilo que desejamos não passa de uma mera ilusão, de uma fantasia inalcançável Eduardo Geada, professor e cineasta português explora este tema ao selecionar alguns dos mais icónicos filmes para o ciclo “Eduardo Geada: O Olhar Do Desejo”, disponível durante o mês de maio na Cinemateca Portuguesa Algumas das obras selecionadas, como Gentlemen Prefer Blondes (1953), Nights of Cabiria (1957) e Scarlet Street (1945), abordam o aspecto sexual do desejo Scarlet Street, em particular, explora a cariz obsessiva de Chris, um homem que se apaixona por Kitty Sem se aperceber de que esta não partilha do mesmo sentimento, Chris acaba preso numa teia de mentiras que o levam a cometer um crime Um desejo inicialmente inofensivo, projetado por um homem dócil, culmina num caos que se alastra até arruinar a vida de todas as personagens envolvidas O reconhecido Gentlemen Prefer Blondes explora um dos temas prediletos de Eduardo: o voyeurism Traduzido para a noção de que nós, enquanto espectadores, nutrimos de uma particular satisfação ao ver a sexualidade representada no grande ecrã

O estereótipo de “dumb blonde” e “gold digger” atribuídos a Lorelei e Dorothy, interpretados por Marilyn Monroe e Jane Russell, provam exatamente isso Por último, vale a pena destacar a escolha de submeter um dos filmes mais esquecidos de Hitchcock, Strangers on a Train (1951). Aqui, o desejo é enunciado aos olhos de Bruno, protagonizado por Robert Walker, um psicopata sem limites que força o popular tenista Guy Haines a executar o cruel pacto: Bruno mata a insuportável mulher de Guy enquanto o segundo tem a tarefa de assassinar o pai de Bruno

A arrepiante noção de que o desejo pode estar, facilmente, associado a atos de violência é algo explorado amplamente ao longo da filmografia de Hitchcock Eduardo Geada apresenta, assim, o desejo humano como um impulso natural que sem ser controlado pode assumir proporções extremas

MiguelMartins

Omilagredaencenação

<A única claridade naquele momento, naquele sítio em particular, vinha da vela carregada por uma das duas silhuetas por trás da porta vidrada Depois de aberta, dando entrada no corredor brumado, a partir do qual as observávamos até então, uma delas exclama:

Procura o quarto dela

Irmã Fallon, Privado É aqui

No lado direito do enquadramento, ou seja, no lado direito do corredor, esta mesma porta reflete a luz da mesma vela aquando a entrada dos mesmos sujeitos no quarto da Irmã Fallon uma senhora e um homem mais jovem, agora percebemos mais nitidamente Quando já se encontram dentro do quarto, o corredor retoma à bruma e a montagem segue a iluminação da vela, colocando-nos no quarto, acompanhados dos sujeitos que neste entraram, sorrateiramente A cena tem um ar trapaceiro São horas tardias, as primeiras da manhã

O que é que vamos roubar? diz a senhora

Nada Eu só quero que sejas os meus olhos

Quero conhecer os quatro cantos deste quarto

Mas para quê?

Para fingir que consigo ver

Agora, o que é que vês? pergunta o homem

Bem, duas poltronas e um sofá E uma penteadeira

Quão longe está a penteadeira?

A seis passos

O homem traça o caminho

Não Pela esquerda um reparo por parte da senhora

O homem choca contra a mesa

Porque é que quer fingir que consegue ver?

Para que a Irmã Fallon acredite que me fez ver

E assim ponderará ficar Eu quero fabricar um milagre

O homem recua alguns passos até sentir uma peça de mobília por contabilizar

O que é isto?

É uma mesinha esclarece a senhora Mas ela só se ia aperceber da próxima vez que o visse

Isto aqui não serve de muito

O homem vai passando a sua mão por cima da mesa, à procura de identificar algum objeto familiar ao toque

Tem uns cigarros antecipa-se a senhora

Não vai haver próxima vez Eu vou-me embora

Deste lado, há o quê?

Uma mesa maior

Quantos passos?

Cerca de três Mas se te vais embora, porque é que queres que ela fique?

Dados os três passos, o homem dá a mão a um dos objetos sobre a mesa

Isto, o que é?

Um retrato Com uma coisa escrita, também

Lê-me o que diz

“Para Florence, com amor do seu pai” Ah Não é bonito?

Deixa-o onde estava, por favor Agora, senta-te e diz-me se percebi bem

Enquanto a senhora se senta, o homem retorna à porta por onde entraram Vai começar o número do princípio Apontando, diz:

Penteadeira

E caminha em direção à mesma

É isso confirma a senhora

Cigarro

E desloca-se à mesa pequena

Retrato

E faz o mesmo com a mesa maior

Isso mesmo>

Uma grande ideia de mise-en-scène. Um David Manners simultaneamente cineasta e espetador, que é cego e faz ver, a si mesmo e ao outro. Evidente em The Miracle Woman (1931) de Frank Capra.

LinguagemdeAmor

Eu sei o teu nome. Conheço-te bem, sei quando fazes anos e qual é o teu filme favorito. Passámos muito tempo juntos, é natural que saiba A minha mente é como um cofre Cofre que guarda tudo isso Cofre cheio de pedras preciosas, do qual só eu sei o código Às vezes abro-o para polir a minha preciosa coleção. Eu sei com que frequência devo fazê-lo, cada uma das pedras, eu sei, tenho-as sempre em mente Com quanta gentileza, e em que condições guardar. Tenho sempre imenso cuidado, jamais suportaria se uma pedra se partisse. Elas brilham tão lindamente quando abro o cofre e a luz nelas se reflete, gosto tanto! Cada uma delas é tão única, tão essencial para a minha coleção Confesso que raramente a expando, por norma, as que escolho são um gosto adquirido. Não me apaixono por qualquer brilho Mas assim certifico-me de que realmente gosto de todas Tu és uma delas Uma pedrinha bem guardada, tinhas até um lugar especial, só teu Expressei o meu gosto e fascínio por ti de todas as maneiras que soube. Criei experiências para nós, criei memórias, criei obras de arte Lembrei-me sempre de todos os pormenores Poli a pedra. Sou assim, amo assim. É a minha linguagem de amor. Será que eu também sou uma pedra preciosa? Guardas-me no teu cofre? Ou já lá vão os tempos em que tinha lugar na tua coleção?

Diálogonamão

Se começa com a troca de olhares

Com respirações controladas

São formas de diálogo, de comunicação

Já não há quem só escreva em cartas

Já não há quem acredite apenas nas palavras

Acredito eu em quê? E tu? Ensinas-me as tuas maneiras de falar sem dizer uma palavra?

Eu ensino-te a escrever uma carta

Que não é falada

Mas gera diálogo

Um diálogo que se sente de olho fechado

Cartas, sorrisos, abraços, mensagens,

Postais, papagaios, voz trémula, olhares que se cruzam qual escolhes?

Pago-te um café e sabes o que quero de ti?

Percebes este diálogo mudo?

Fico feliz por ti

Há diálogos que não me dizem nada

Mas também há outros que me pegam na mão e me abraçam!

Sem o toque, sem a fala,

Existe comunicação e eu aprecio-os..

Confissões dejunho

Por você, eu releria Clarice Lispector; Traduziria Chico Buarque; Leria em voz alta Machado de Assis; Procuraria sinónimos e gírias às expressões idiomáticas; Te explicava o significado dos dois esses e o uso do cê-cedilha; Dançava na chuva Marisa Monte;

Te mostrava que a alma lá de onde eu venho nunca foi básica; Acreditava no encanto de Caetano

Com a voz de Rubel cantarolando; Aprendia a cantar bossa-nova como Astrud Gilberto; Seria a sua garota de Ipanema

E assim, talvez, você entenderia o que me molda e o que me move

Ferrete

Há inúmeras variáveis na matemática do conhecimento de outrem Uma delas é o reconhecimento de x Reflexos de ti pendem sobre onde não estás, falas onde não abres a boca Todas as letras do abecedário reconhecem a omissão de x, se este se retirar. Trata-se de um lugar que ecoa, como uma sala de espera que chama repetidamente pela senha A303 para o gabinete 24 Onde quer que te faças sentir, far-te-ás ouvir, mesmo que saias da sala antes de seres chamado

Julgo ouvir batuques no meu coração sempre que um cheiro me é familiar Julgo reconhecer a omissão de x sempre que a máquina de café se esquece do meu pauzinho Julgo viver num álbum de nomes, preenchido por aqueles que tiraram senha em mim, saíram ou cá ficaram. A linguagem no silêncio ganha dimensões que os decibéis no som não atingem. O esquecimento pode ser uma bênção ou uma praga, depende do quão silencioso queres ser. A porta do prédio abre-se para uma rua estacionada no tempo por carros, e Violeta sabe que pertence a um conjunto de cores, mas que já tingiu avenidas pela sua presença Segue o seu dia, salta lombas com o autocarro, e lembra-se do ruído das viagens das visitas de estudo Carrega no botão para sair Na esquina, vislumbra um senhor com o seu cão, da mesma raça de um outro canídeo, de um outro dono que conheceu Desvia o olhar Na passadeira, repara nos pés que a acompanham. Pés de uma senhora de idade, acomodados nuns sapatos que já viu e não reviu. Ergue a cabeça para não verter lágrimas de saudade Senta-se, finalmente, para perpendicular o crânio ao teclado do computador À hora de almoço, é presenteada com uma sobremesa feita por um colega Prova e pergunta de imediato se usou farpas de limão Farpas pelo golpe na memória de um doce semelhante A resposta é negativa, pousa a colher Ao longo da tarde, vão-lhe chegando papéis numa caligrafia que, sobreposta àquela que tão bem sabe, poderá fazer parte de um jogo de jornal. “Encontre as diferenças”. Admite que não tem tempo para jogos, varre a ideia Dá o dia de escritório por encerrado, despede-se de quem conhece

Por mais que tente silenciar o que sabe, Violeta não consegue apagar o que foi escrito em si As suas vísceras estão marcadas a ferrete e, o ardor da dor que fora, ainda lhe queima os ouvidos Não precisa de cordas vocais em ação, da ativação do que ouve a ribombar no seu esqueleto, nem sequer de um sussurro externo Mal sabe ela as vezes que foi calcetada na calçada do cerebelo de outrem, os caminhos arroxeados que por aí se foram formando Mesmo que o Presidente da Câmara tente vetar a cor, nenhuma companhia de obras conseguirá pintar por cima dela Todas as cores que por lá passarão reconhecerão o falso primário utilizado, afinal, na matemática do conhecimento de outrem, reconhece-se primeiro o x “X do tesouro”, como diria-

As Descobertas de Nuno Folha

o fim do semestre

O fim do semestre chegou Nuno Folha está no Espaço

Aluno da Torre B, com o seu portátil aberto, um monte de sebentas e livros do seu lado direito e um copo de café do lado esquerdo A sua cara revela algum cansaço e também algum desespero

Ana Tesoura e Rafael Rocha entram e dirigem-se ao amigo para cumprimentá-lo

Então, jovem, não sabia que agora residias na Avenida de Berna, nº 26 C – diz Rafael em tom de gozo – Tens imensa piada, tu – responde Nuno, num tom seco

Desvia o olhar novamente para o computador – Este trabalho é que parece não ter fim e ainda me falta rever a matéria para as frequências de quarta e quinta-feira

Ana Tesoura baixa-lhe ligeiramente o ecrã do computador:

– Nuno, há quanto tempo estás na faculdade? – Desde setembro – responde sem fitar a amiga – Tu percebeste o que eu quis dizer!

– Desde as 8 da manhã – Anda, vamos apanhar um pouco de sol à esplanada –

Ana fecha-lhe o computador e junta todas as sebentas ( )

Ana e Rafael sentam-se em torno de uma mesa na esplanada da faculdade – Malta, a sério, isto era totalmente desnecessário –afirma Nuno Folha –

Senta-te e agradece-nos depois – Rafael puxa uma cadeira para o amigo se sentar

Começo a ficar preocupada contigo, Nuno Se continuas com este ritmo imparável, vais acabar por não aguentar – diz Ana Tesoura, revelando preocupação

A minha irmã também começou assim, como tu –começa Rafael Rocha – Sempre a estudar, super preocupada com as notas Até que chegou a um estado em que já não era ela Isolou-se, emagreceu imenso, estava sempre cansada Até que foi obrigada a fazer uma pausa, a desacelerar, caso contrário não sei que aconteceria

– Lamento imenso sabê-lo – responde Nuno Folha com empatia – E a verdade é que eu tento abrandar, mas é mais forte que eu Sou demasiado perfecionista para me

dar ao luxo de falhar no que quer que seja E acaba por ser tanta coisa ao mesmo tempo, que eu não sei para onde me devo virar – termina cabisbaixo

- Já partilhaste tudo isso que pensas e que estás a sentir com a tua psicóloga? – pergunta Ana Tesoura – Tenho estado a adiar as sessões, porque queria mesmo focar-me em terminar tudo o que fosse relacionado com a faculdade e em procurar estágios de verão

Nuno Folha começa a sentir-se com imenso calor, ao mesmo tempo que sente a sua respiração cada vez mais irregular Contudo, relembra os exercícios que a Drª Carolina Pincel lhe ensinou nas sessões, para quando passasse por situações semelhantes a esta – Nuno – a voz de Rafael Rocha trá-lo de volta à realidade

Nuno Folha fita os amigos com o olhar, mas não profere uma única palavra A comunicação através do olhar é suficiente – obrigado por estares aqui connosco – sorri de forma contida

– Estudamos aqui? Nós os três? Talvez seja mais fácil –sugere Ana Tesoura enquanto tira os materiais de estudo da sua mochila

– Pode ser, mas se me permitem – Nuno retira o telemóvel do bolso das calças e levanta-se – vou só ligar para o consultório da minha psicóloga e remarcar a sessão Volto já

Umatéjá

Com o fim dos fins a chegar, a areia esgotou-se e perdi o comboio do tempo por fazer greve demasiados dias.

Não senti o sol, nem o vento, apenas carreguei chuva dentro de mim Achei que mostrar apatia me iria proteger, mas agora a nostalgia sussurra tudo aquilo que nem cheguei a ter. Direi adeus aos que nunca falei, porque com orgulho me distanciei. Tudo o que fui irá permanecer memória fugaz, por me assombrar o ser incapaz Comprei as fitas e dei cinco; enervada por só se venderem 30 como se o problema fosse esse e não o facto de não ter amigos. Não estive na esplanada com faculdade, nem provei a sangria. Gostava de mentir e dizer que, se pudesse, fazia diferente, mas a verdade é que provavelmente não faria

Perco-me com facilidade

Dentro de mim ao invés de no mundo

Talvez este fim seja um começo

Mas por agora apenas sinto um vazio profundo

Porque acabou.

TáliaMoniz Crónica

21formasde dizeradeus

TáliaMoniz

No fim da licenciatura, não é só o calendário que muda Começa a emergir uma linguagem própria, uma marcada de despedidas Em Portugal, essa linguagem traduz-se nas fitas que nós, finalistas, entregamos aos nossos colegas, familiares e amigos São pedaços de pano, difíceis de escrever, que se transformam em espaço de memória Afinal, cada fita escrita é uma forma diferente de dizer adeus. Claro que nunca é um adeus verdadeiro, é sempre um “até já” disfarçado. Parabenizamos os nossos colegas e dizemos adeus a um ciclo nas nossas vidas, à inocência e à leveza de ser um jovem adulto

Este ano comprei 50 fitas Distribuí-as com cuidado Não queria dar uma fita apenas a quem dividiu um cigarro, ou cumprimentei na esplanada Queria poder rever parte de mim em cada pessoa que escolhi dar uma fita: porque conhece o meu Eu da biblioteca, o meu Eu da cantina, o meu Eu do Pato… . Em troca, recebi 20 fitas e carrego-as comigo numa lata por todo o lado, com profundo orgulho Afinal, estas vinte pessoas escolheram-me para eternizar estes três anos numa pequena fita, sentindo-me especial por ter sido considerada No meu primeiro ano, escrevi quatro; no meu segundo ano, sete, somando cerca de 31 formas de dizer adeus Trinta e uma formas de revisitar cada interação que já tive com cada uma destas pessoas, salientar o melhor, filtrar o pior, deixar um pequeno conselho para o futuro, ciente de que, daqui a dez anos, estas palavras poderão ser a única memória que muitos guardarão de mim

Escrever numa fita é muito mais do que deixar um recado É transformar o tempo partilhado em linguagem, já que numa fita não cabem apenas palavras, cabem afetos, gargalhadas sinceras, conselhos e muitas histórias Numa fita, o erro ortográfico tem graça, os desenhos mal feitos têm valor e uma simples menção a um momento engraçado deixa-nos emocionados. É uma forma de expressar intimidade, de provar como és querido e respeitado em 50 vidas diferentes. Quando escrevemos “boa sorte” ou “vou sentir saudades tuas”, não estamos apenas a descrever sentimentos Estamos a realizá-los e a prová-los Reconhecemos a importância de alguém na nossa vida e expressamos votos sinceros de uma boa vida A linguagem tem essa capacidade, transmite aquilo que sentimos, sendo capaz de marcar um final com presença. Ao longo de 20 fitas (e mais umas quantas), apercebi-me de que estava também a escrever a minha própria história na faculdade Cada palavra que ofereci devolve-me uma memória Confrontei-me com o meu percurso no curso, dia após dia, para reconhecer o progresso e crescimento dos meus colegas Relembrei-me de alguns momentos maus, mas uma infinidade de momentos que guardo com carinho no meu livro de memórias Fico feliz em poder guardar estas palavras, uma vez que mesmo quando as pessoas partem e o calendário não para, percebo como a linguagem constrói uma memória que sobrevive ao tempo e ao lugar.

Esta é a minha última fita A vigésima primeira, marcada de despedidas pessoais a quem fui ao longo destes três anos Esta fita não cabe num pedaço de pano, mas guarda todas as outras memórias Esta é a minha vigésima primeira forma de dizer adeus: a escrever um texto para o jornal que guardo com tanta afeição, enquanto organizo a saudade e o sentimento agridoce de acabar este ciclo. Celebro, acima de tudo, o que ficou, pois despedir-se não é esquecer. Dizer adeus é sublinhar tudo aquilo que foi importante Digo adeus a intermináveis almoços na cantina, horas na esplanada, churrascos caóticos, ao jornal e à FCSH, com um aperto no coração Obrigada

OsNossos Finalistas

Departamento de Cultura

“Amaremudarascoisasme interessamais”

CarolinaRamos MafaldaMonteiro MatildeMarques

CC

Crónicas/Escrita Criativa

“Aspalavras(…)écomoo abismoirresistível,vamoscaire avançamos-Anodamortede RicardoReis”

SofiaFernandes

LLC

Revisão/Escrita Criativa/Cultura

Departamento de Cultura

“Foidifícilsobreviver,mastudo setornamaisfácilquando podemosescreverparaoNeF! Vaideixarsaudades<3”

TáliaMoniz

CPRI

Direção

“Existirsempedirdesculpapor estarondemesintoEu”

“Nãotenhamospressa,masnão percamostempo -Saramago”

2022 /2025

MiguelPereira MartinRodrigues

CPRI

CC

Departamento de Política

“Oqueéprecisoécriar desassossego.-Zeca”

VictoriaLeite

Antropologia

Design e Redes/ Escrita Criativa

“ . ”

Crónicas/EscritaCriativa

“Odeioser-éincrível Ornitorrincos,1723.”

CarolinaGonçalves

RaquelFrancisco

CC

DepartamentodeEscrita Criativa

“Aprimaveradavidaé bonitadeviver"

CPRI

Departamento de Política

“Estaéamadrugadaqueeu esperava-SophiadeMello Breyner”

PARAPASSARES OTEMPO...

Horizontal

4 País vencedor da Eurovisão 2025

5 Material comumente utilizado na fabricação de lápis Origem dos NAPA

8 Se não saíres da esplanada para ir estudar, vais precisar de passar por ele

9 O item de fast food com um comeback inesperado em Portugal

10 Nome de origem do sporting; [ ] FC

11 O que falam as pessoas mudas; [ ] Gestual Portuguesa

Vertical

1 O que se celebra no dia 9 de maio de cada ano

2 Canal de televisão espanhol que pediu revisão ao televoto eurovisivo

3 O teu amigo deslocado pediu

6 Único distrito que não votou maioritariamente à direita

7 Instituto que se rumora juntar-se brevemente à Nova

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