Motivados pelo bicentenário de Camilo, fechamos o calendário com o ofegante sentimento de que o pior não ficou para trás Reunimos estes apontamentos a pensar nisso, numa edição que serve de consolo para os desapontados que não queriam acabar o ano em festa
A Queda de um Ano
Foto da capa
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As Tuas Propostas
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Após a revisão completa do material recolhido pela equipa editorial, o seu conteúdo e versão final são da responsabilidade e exprimem somente o ponto de vista d@s respectiv@s autor@s
Este jornal é impresso em papel 100% reciclado notas
06 A parvoíce presidencial
Uma análise conduzida por Afonso Noronha sobre o que a figura do Presidente da República efetivamente representa no sistema político português e as possíveis consequências das eleições que se aproximam
08 (Des)Ilusões de Liberdade, O Caso Angolano
09 Quem quer ser trilionário?
11 Guerra? Espera aí, que há jogo!
13 Grande Entrevista à professora Raquel Varela
E o que é Casa?
Filmes de Natal
Hanoi
Nov/Dez2025
Direção Carolina Ramos
Madalena Grilo Teles
Miguel Martins
Redação Afonso Noronha
Alexandra Gil
Alice Couto
Bárbara Soares
Beatriz Martins
Carolina Ramos
Clara Figueiredo
Diogo D’Alessandro
Francisco Machado
Helena Gregório
Inês Fonseca
Revisão Bárbara Soares
Carolina Ramos
Clara Figueiredo
Inês Fonseca
Madalena Grilo Teles
Madalena Nunes
Mariana Salviano
Mar Ferreira
Nicoleta Manoli
Safir Eizner
Ficha Técnica
Edição Gráfica Clara Figueiredo
Eva Vieira
Madalena Grilo Teles
Mariana Sousa
Matilde Brito
Natali Gonçalves
Victoria Leite
Isabel Mendes
Iúri Soares
Joana Lourenço
João Correia
João Tomás Pereira
José Miguel Perfeito
Letícia Caetano
Madalena Andaluz
Madalena Grilo Teles
Madalena Nunes
Mar Ferreira
Colaboradores
Maria Beatriz Silva
Matilde Brito
Matilde Paquete
Mercedes Basílio de Oliveira
Miguel Martins
Miguel Neves Cruz
Rúben Rosa
Rui Jorge Cabral
Sofia Diniz
Victoria Leite
Gonçalo Santos
José Rego
Paulo Antunes (LabCC)
Raquel Varela
Índice
“Mas tenho um quadro”
AE em Folha
A parvoíce presidencial
Rememorando: história e memória do 25 de Novembro de 1975 ocupam a Gulbenkian
(Des)Ilusões de Liberdade, O Caso Angolano
Os tolos não têm vertigens
Quem quer ser trilionário?
Espelho de um País
Guerra? Espera aí, que há jogo!
“O profissional é para burros”
Entrevista exclusiva NeF: Raquel Varela
E o que é Casa?
Comemore-se quem puder
A Harmonia e Angústia de Não Expectar
Uma análise do expectar
Quanto pesam as expectativas?
Quando o tempo para e a nostalgia acelera:
Take 2
Sala de Espera
Querido Pai Natal fizeste tudo mal
Rumo ao Abismo
Mercados
A
Filmes de Natal
Hotel Monte Palace & Fotografia Analógica
duas expectativas; duas frustrações
Estrela Cadente
“Apaz” do lado de lá do vidro
Mas o que é um ano novo?
Novo Ano, Novo Tu
O Que Queres Ser Quando Fores Grande?
Tim Bernardes e a beleza invisível de recomeçar
Embarcar
The rise and fall of the “performative listening: Jeff Buckey e a nova linguagem digital no TikTok
The Beginner's Mind
Spotify Wrapped: Diz-me o que ouves, dirte-ei quem és
É tempo de tudo e mais alguma coisa, porque há tempo, férias e dinheiro (voltamos a falar em janeiro )
Trabalhar para viver… ou viver para trabalhar?
Pho Hanoi
Receita (barata) para o teu natal
Passatempos!
"Mas tenho um quadro"
Novembro/Dezembro
Editorial
MiguelMartins
A parvoíce presidencial
O parco desenvolvimento intelectual dos debates cria, também e finalmente, um Estado de coisas prolífero à existência de André Ventura enquanto candidato eleitoral universal A falta de rigor na esfera pública, principalmente no que diz respeito à diferenciação dos órgãos de soberania, e, adicionalmente, discussões apressadas devido ao espaço televisivo limitado criam um fórum que cisma-se mais eficazmente no eleitor comum – as redes sociais A candidatura sucessiva de André Ventura a Primeiro-Ministro e, meses depois, a Presidente da República mostram precisamente isso: estão a votar para André Ventura mandar, e não no cargo per se
Rememorando: história e memória do 25 de Novembro de 1975 ocupam a Gulbenkian
A esquerda está quase eleitoralmente morta, com exceção de António José Seguro (cuja categorização, nem para o mesmo, é certa) Aborda-se por vezes a oportunidade falhada de uma coligação alargada, à semelhança da Nouveau Front Populaire francesa, contudo, questiono: pelo menos agora, coligar o quê?
Quantos votos existem à esquerda do Partido Socialista, e de que forma esse número irrisório a nível nacional competiria com o Chega ou com o PSD?
Termino com um cenário que deve assustar: se numa eventual segunda volta constarem somente dois nomes – Gouveia e Melo e André Ventura – a realidade política portuguesa será radicalmente alterada De forma marcadamente mais relevante do que nas últimas eleições legislativas, Portugal terá de se confrontar, pela primeira vez, com um panorama político que não é bipartidário.
Caso tal aconteça, contudo, saberei em quem votar Tomarei o conselho de Álvaro Cunhal relativo a Mário Soares em 1986, e, após tapar com a minha mão a sua foto no boletim, irei votar no Almirante
meses, o PREC como “risco a domesticar”
Alertou-nos para a inevitável perspetiva do 25 de Abril como “preâmbulo imperfeito” na perigosa equiparação Abril-Novembro Manuel
Loff advertiu sobre a “patologização” da Revolução por parte da direita inerente ao reconhecimento e comemoração de dois 25’s Lembra-nos que não é de agora, indo buscar esta “perspectiva fundacional do 25N” aos anos 1980, quando se inaugura o slogan “25N sempre, comunismo nunca mais”, há poucos anos recuperado pela IL e pelo Chega A exploração da data pela direita é tema pegado também por Iara Sobral, que nos levou a percorrer a narrativa dos jornais do CDS e do PPD (actual PSD) acerca do 25N, a partir de 1976 Em ambos os partidos predomina uma exposição contra-factual dos acontecimentos, associando a data a algum tipo de “resistência popular” ou “unidade nacional” contra as “derivas totalitárias” e a “manobra comunista”, num enredo que vitimiza a direita Para finalizar, resta-me falar das intervenções de Fernando Rosas e de Pezarat Correia O primeiro reforçou o carácter “revanchista” e “nostálgico” de se comemorar o 25N como data fundacional da democracia portuguesa, retratando-o como uma “contenção pactuada” do processo revolucionário O segundo partiu de um ponto de vista dialético, colocando a data em causa à luz de todo o PREC, em que convivem duas dinâmicas, a revolucionária e a contra-revolucionária De acordo com o Capitão de Abril, basta entender que a relação entre estas dinâmicas é sempre reactiva para se explicar o que aconteceu no dia 25N, em que a saída dos paraquedistas é uma “iniciativa pró-
(Des)Ilusões de Liberdade, O Caso Angolano
desigualdade extrema, do desemprego massivo e com a falta de serviços básicos Retomo a minha frase introdutória para pensar no porquê de Angola ser o que é hoje: uma nação que prometia muito e que a ganância dos líderes nacionais e estrangeiros fez com que pouco entregasse aos seus cidadãos Esta é uma nação que escreveu por imenso tempo a sua História usando como tinta o sangue do seu povo, e que se tem gradualmente mostrado capaz de superar os traumas da sua infância e projetar de forma mais promissora o seu futuro.
Quem quer ser trilionário ?
De forma ainda mais simples, considere-se o seguinte exemplo, apresentado por Jerry Pacheco, colunista da KRWG: se alguém com um trilião de dólares gastasse 40 dólares por segundo, 24 horas por dia, levaria 792,5 anos a ficar falido
ClaraFigueiredo
E, se quisermos simplificar ainda mais o valor em questão, ou explicá-lo “em pop terms” para quem ainda não consegue conceber o valor, digamos que, com um trilião de dólares, Musk conseguiria comprar conjuntamente a Toyota, a Volkswagen, a Stellantis, a Hyundai, a Ford e a GM; ou a Gucci, a Louis Vuitton, a Prada, a
Christian Dior, a Rolex, a Nike, a Hermès e toda a Inditex; ou todas as casas no Havai
Penso que o cerne da questão está entendido: um trilião de dólares é muito, muito, mas mesmo muito dinheiro
Como é que alguém chega ao ponto de não ter onde mais gastar o seu dinheiro, ao passo que nós continuamos a ir à cantina social ou a trazer a comida de casa, a andar de transportes públicos, porque não conseguimos comprar um carro, e a partilhar casa com três pessoas, porque não temos 1200€ para arrendar um T1 em Lisboa?
Existem várias respostas a esta pergunta, mas poucas delas incluem ações éticas, e ainda menos envolvem atos legais Novembro/Dezembro
“No capitalismo, as coisas funcionam mais ou menos ao contrário. Quanto mais tem excelência, é porque tem menos excelência. Quanto mais tem autonomia, é porque tem menos autonomia.”
EntrevistaexclusivadoNeFà professoraRaquelVarela
consegue lá estar três ou quatro vezes por semana, nem dominar três ou quatro assuntos por semana Isso não existe
Eu, curiosamente, até acho que Portugal [teve um bom momento], por força da Revolução, porque a RTP esteve sob a autogestão dos trabalhadores em 1974 -75, durante o PREC que o 25 de novembro odeia , quando os jornais eram públicos e estavam sob o controlo dos trabalhadores, dos gráficos, etc Quer-se fazer crer que esse momento foi terrível quando, na verdade, esse momento foi um período de grande pujança do jornalismo português Tanto que esses jornalistas, incluindo os jornalistas partidários, foram recrutados para o Público e parte do Expresso para tentar um consenso à esquerda, num país que era muito de esquerda Quando esses jornalistas se esgotaram, quando se reformaram, ou quando foram expulsos - a maioriadurante um ataque da direita mais dura, que já não queria consensos, sobrou muito pouco A grande formação dos jornalistas, portanto, foi feita no período revolucionário, quando tinham uma liberdade, uma segurança e uma confiança para trabalhar, que lhes permitiu imaginar o mundo e recriar completamente o jornalismo Ou seja, temos uma subversão completa, estamos todos a pagar assessores de comunicação e, então, vejam bem, [as pessoas dizem] : “Ai, o jornalismo público é um jornalismo controlado pelo Estado na Revolução, que terrível!”, [e não se trata disso] Outra coisa é o jornalismo estatal, que é hoje, em grande medida, o que se passa na RTP - um controlo governamental da televisão Não é disso que estou a falar, e isso eu condeno veementemente
Mas isso só se pode impedir não mudando a direção - claro, pode-se ter um diretor com mais bom senso, que tem noção de que têm que existir os mínimos de pluralismo para garantir, e de qualidade - mas garante-se com a autogestão democrática dos seus profissionais, foi assim que a RTP funcionou bem Não se garante isso apenas porque, um dia, temos uma mente mais séria ou não
Hoje, não conseguimos ter jornais públicos onde os jornalistas ganhem bem, tenham confiança, liberdade e sejam protegidos, e é isso que lhes dá a capacidade de criar E temos carradas de jornalistas que vão para assessores de comunicação inclusive de instituições públicas, pagos por nós para nos dar a versão do Estado, e é essa versão que é despejada como comunicado para o pobre do estagiário que está lá a verter aquilo, que é dado como informação
E o que é Casa?
Como muitos que já leram algo escrito por mim sabem, não sou exatamente de Portugal, mesmo que tenha o passaporte e uma grande influência lusitana ao longo da minha vida vinda do meu avô que é nascido em Vilarinho do Bairro, na região de Coimbra jamais tomaria como meu o título de “português”, pelo menos de maneira integral E não me entenda errado, não digo isso por ter aversão ou algo assim, mas sim por ter muito orgulho da minha identidade como brasileiro, e respeito demais à identidade portuguesa para me apoderar dela sem acreditar que é, de facto, minha também.
Mas esse relato não é sobre identidade, aqui conto como foi, após dois anos vivendo em terras lusitanas, visitar o Brasil
Durante o verão de 2024 recebi a notícia que havia ganhado passagens para voltar para casa por um tempo, ou pelo menos era assim que eu entendia Passei meses ansioso, organizando férias no trabalho, contando para todo mundo que eu ia viajar, me preparando para o verão brasileiro e sem esconder, de todo, minha felicidade, sabendo que ia voltar para visitar os amigos
“ Eu não tinha percebido que era impossível voltar para casa — aquela casa não existe mais”
que ficaram e a família que não veio
Avançando um pouco no tempo, finalmente o dia chegou, lá ia eu, com minha malinha, a caminho do aeroporto, ansioso para estar de volta e já fazendo meus planos para todos os dias dos próximos dois meses
Chegando ao Brasil, e após uma pequena revista da Polícia Federal mas isso é história pra outro dia finalmente encontrei com meus pais, e seguimos a caminho da cidade em que cresci, no interior do estado de São Paulo
Aquelas duas horas de estrada causaram um sentimento estranho, ao mesmo tempo que estava feliz de estar ali, existia uma certa indiferença, da qual eu demorei muito pra entender a causa Naquele caminho todo eu fui vivendo essa dualidade sem perceber o que era realmente aquilo Depois de chegar na cidade, meu melhor amigo de mais de uma década me buscou para irmos a um bar, e, no caminho até lá, caminho que eu conhecia muito bem, fui reparando muitas diferenças nos prédios, nas casas, lojas, até
mesmo nas ruas em si Esse foi o primeiro momento de choque, eu estava em casa, mas não era o mesmo lugar, não era o lugar que eu deixei para trás
E durante toda a viagem, a cada novo-antigo lugar que eu visitava eu sentia um novo estranhamento Aqueles dois meses foram assim, eu dizia que estava em casa, mas me sentia um turista
A compreensão só veio quando voltei para Lisboa, enquanto conversava com amigos de cá sobre a viagem, veio a realização de algo muito óbvio: o tempo passa independente de estarmos lá para vê-lo Normalmente não pensamos em como o mundo segue acontecendo de formas que não conseguimos acompanhar
Eu não tinha percebido que era impossível voltar para casa aquela casa não existe mais Foi um processo confuso e demorado até entender a ideia de que aquela casa, que eu considerava ser um porto seguro, não existe mais, que eu não tinha mais um lugar pra chamar de casa
Ainda não me sinto totalmente em casa vivendo aqui, sigo tendo dias e dias, mas confesso que a realização de que já não é mais lar o que um dia considerei ser, facilita o processo de tornar isso que vivo em uma nova casa – ou algo parecido com isso
Comemore-se quem puder
A Harmonia e Angústia de Não Expectar
Não tenho capacidade para criar expectativas Escrevo esta afirmação caluniosa não com intuito de aparentar ser o alguém que padece de procurar demonstrar ser mais deprimente que o leitor, do género “olhem para mim, sou tão tristinho”, antes pelo contrário, acredito que a inexistência deste conceito na minha vida torna-a simultaneamente harmoniosa e angustiante Para entender isto, creio ser necessário explicar de onde é que tirei esta ideia estapafúrdia De maneira a aprendermos a expectar temos primeiro de ter quem nos incuta expectativas em nós, que nos ensine o conceito não por definição semântica, mas por imposição emocional À semelhança de todo o conhecimento que adquirimos para tomarmos decisões, a única forma de sabermos o que é uma expectativa é sentindo-a, afinal, se o contrário fosse verdade, e o que imperasse fosse a racionalidade independente da sentimentalidade, não veríamos tantas pessoas a aceitarem reatar relacionamentos com quem as encornou sadicamente Escuso de reiterar que este ato é ilógico e autodescritivo do leitor pioneiro desta crónica
Tendo estes critérios definidores para termos expectativas presentes em nós, evidencia-se que não se aplicam à minha vivência, ou seja, nunca os meus pais ou outras figuras de autoridade similares criaram em mim expectativas, desde as mais comuns, como as académicas ou desportivas, a outras mais específicas, como uma determinada carreira profissional ou até gostar de Muse como o meu pai Assim, o potencial da minha trajetória de vida tornou-se infinito, o que me levou a concluir que não há algo que nos faça sentir mais presos do que liberdade a mais e indiscriminada, ou seja, o problema não é ter de escolher uma opção em específico, mas encontrar motivação que me leve a querer sentir optar por algum caminho, o que se torna perto do utópico quando não possuo expectativas pelo que posso vir a fazer Como é que vou sentir a gratificação de alcançar uma conquista da qual nunca expectei? Como vou sentir a desilusão de falhar em algo que nunca senti a necessidade de acertar?
As expectativas são então uma ferramenta, uma bússola que nos orienta no que almejamos ser e querer, porém, quando não estão presentes apenas somos, não existe um ímpeto que nos faça tornar e fazer algo, por um lado não sofremos por que algo se sucedeu, mas por outro não conseguimos aproveitar plenamente o que nos acontece Contudo, ser um rio que apenas flui sem propósito não condiz com a natureza emocional humana e, da falta de paixão e rumo que se tem pela vida, surge o desdém por quem tem e angústia por não ter, originando-se a nossa única expectativa de ter a capacidade de as sentir, em contraste com quem as possui e expecta apenas perder a sua capacidade de as criar
Uma análise do expectar
Importa entender porque expectas; o que expectas da palavra que segue a outra e faz sentido assim; importa entender porque faz isso sentido; qual foi a estrela que te disse assim ser
As coisas acontecem sempre duas vezes: uma imediatamente antes da outra e nunca ao contrário; e faz isso sentido; imediatamente antes da luz já o vejo e imediatamente antes de o pensar já lá o está nebuloso; antes de acordar bocejo e antes de o falares já o ouço e quando aprendo aprendo que já o sabia; expecto sempre o dia antes da noite e a sorte na lotaria; pergunta-me a estrela que mo indicou assim e não vou saber qual
É bizarro crer que esta crença vem do além, mas vale a pena questioná-la mais; querer que a crença venha de lá; pergunta-te o que te deu o universo que se deu achas que te deve mais senão a sede; se te cedeu algo foi temporário e fez-te julgar quereres mais; que mereces mais;
crê apenas porque se pedes respondemte as estrelas e essas conheces melhor; pedes e passas a querer tê-las nas mãos mesmo quando já as sabes de cor e na alma; exatamente como expectavas, também isso já sabias imediatamente antes de as teres sentido entre as palmas Importa entender porque embalamos o texto no jeito da rima – que é só palavra –que só é letra – que é só som – que só é melodia; eu sugiro expectar porque é o belo antes dele mesmo (imediatamente assim, imediatamente), mas vale a pena questioná-lo mais; apaixona-te sem a expectativa e procura o sentido nisso; procura a estrela que mais te atrai senão a mais bela; trata-a como se não te devesse esse compromisso e como se a pudesses apreciar sem esperar nada dela; como se não fosse injusto pregá-la à cama do quarto, ao ecrã do computador ou às paredes do julgamento; e não consegues. uma vez, Shakespeare disse “Olá!” sor-
ridente mas ninguém o assentou em papel; mesmo bonito ninguém se lembra e, do mesmo modo, ninguém
E quando a estrela te mostra os dentes e são também amarelos aos olhos; deixas-te enganar porque danças tonto do bonito; um passo pequenino em direção a nada; deixa-te frustrada porque esperas parado; danças apaixonado sem sair do sítio; não a ofendes se atenderes o Teu; deixa-a escorrer-se das tuas mãos em água que é bela por fluir, leve e livre sem remorsos ou desculpas; a luz nos teus olhos surpreende e o imaginar é claro; acordar é uma graça e ouvir é um novo e não sabes mais senão isso; o dia não segue a noite porque a tarde não segue a manhã, o serão a madrugada ou o pôr o nascer do sol; e a lotaria está toda ela nisso; e nenhuma estrela mo indicou assim; e a estrela vai sê-lo no dia e na noite.
Quanto pesam as expectativas?
Quando o tempo para e a nostalgia acelera: Take 2 Sala de
Querido Pai Natal, fizeste tudo mal
Rumo ao Abismo
Mercados de Natal
Águeda é Natal
Óbidos
Vila Natal
Mercado de Natal da Assoc.
Vale Grande
Leiria Natal
Desenterra a tua arte!
A Princesa Do Que Podia Ter Sido
Na primeira parte de O Conto da Princesa Kaguya o mundo é um que se abre pela primeira vez a uma criança, um que reflete tudo o que há de bom que a Terra tem para oferecer numa vida: a floresta é vibrante e confortável Cada dia traz a possibilidade de uma nova descoberta e todos os simples momentos têm a maravilha da aventura na simplicidade, mas este cenário é precedido por uma introdução de carácter fantástico, que é interpretada como divina pelas personagens É um contraste que se tece de forma enganadoramente gentil, mas que apresenta a tensão interna do filme: uma história que vive no conflito entre uma vida imaginada para Kaguya, e aquela a que ela tenta desesperadamente agarrarse
Kaguya vive uma infância de pura energia, com os pés sujos, o espírito livre e o ritmo natural da vida rural Não é nenhum semblante de perfeição, mas tudo à sua volta parece respirar com um espírito próprio
Quando o pai (adotivo) realiza finalmente o seu sonho de dar a Kaguya uma “vida melhor”, a transição não lhe pesa imediatamente: roupas e acessórios luxuosos, servos, um palácio, uma expectativa de cerimónia Mas rapidamente este mundo cuidadosamente construído revela as suas infelicidades, e um destino prometido entregue com as melhores das intenções mais começa a parecer um fútil sonho que não pertence a
ninguém
No ambiente de tecido e porcelana da nobreza, o próprio visual do filme parece construir-se como demasiado perfeito, em contraste com as singelas aguarelas dos cenários de natureza As paredes são tão polidas como a etiqueta exigida é opressora. Tudo é lindo da mesma maneira que um museu é lindo: tão cuidadosamente arranjado e tão indescritivelmente distante Kaguya é vestida, maquilhada, treinada e exposta para ser apreciada, e toda a beleza da perfeição é como um peso nos seus ombros, que a segura para ela ficar quieta
Os momentos em que se vê uma quebra no método de animação - em que as linhas ficam menos precisas, mais soltas, mais expressivas - são as sequências da “fantasia”: Kaguya foge à sua situação pela imaginação, correndo até à neve enquanto remove as infindáveis camadas de roupa cerimonial, ou levantando voo de mãos dadas com Sutemaru Pela fuga no inconcebível, em algumas das cenas mais lindas do filme, o espírito dela liberta-se do confinamento das suas circunstâncias, de
“Contigo, Sutemaru, poderiater sidofeliz.”
maneira que não pode na realidade material de acordo com as expectativas da sua posição
O desenlace melancólico, quase trágico, dos acontecimentos possui esse carácter precisamente porque nenhuma das personagens participantes tem intenções malignas nas suas ações. A vida levada por Kaguya até ao fim da história é progressivamente mais sufocante e infeliz, mas as decisões que conduzem o enredo ao desfecho provêm todas de um genuíno lugar de amor A constante tentativa é a de cumprir um sonho idealizado, e, na cegueira perante a erosão provocada pela concretização desse mesmo sonho é que encontramos um trágico reflexo da realidade
Quando a história se conclui, com o retorno às origens místicas de Kaguya, o filme recusa-se a explicar como nos devemos sentir Não há uma clareza específica de triunfo ou tragédia As emoções existem, pairam no ar Da maneira mais realista possível, a conclusão não é a solução de um problema, não é resolução nem derrota, é apenas sentida Ao regressar à suavidade do começo, o filme não nos deixa com respostas, mas sim com uma espécie de fôlego Convida-nos a compreender que aquilo que é complexo o suficiente para nos fazer importar não pode ser simplesmente consertado, e a apreciar os momentos, porque nos apercebemos que eles estão, lentamente, a escapar-nos.
1 - Remember the Night de Mitchell Leisen (1939)
2 - The Miracle of Morgan’s Creek de Reston Sturges (1943)
6 - A Christmas Story de Bob Clark (1983)
7 - The Store de Frederick Wiseman (1983)
3 - Meet me in St. Louis de Vincente Minnelli (1944)
8 - The Dead de John Hustoniseman (1987)
4 - Il tempo si è fermato de Ermanno Olmi (1959)
9 - Conte d’hiver de Éric Rohmer (1992)
5 - Le père Noël est une ordure de Jean-Marie Poiré (1982)
10 - ‘R Xmas de Abel Ferrara (2001)
JoséRego
BárbaraSoares
“Apaz” do lado de lá do vidro
potência do criador Na “Ode Triunfal” (1914), Álvaro de Campos revela a sede custosa de acompanhamento ao galope frenético dos tempos, de fusão às máquinas que, na nossa era, cabem na palma das nossas mãos Quando é que a expetativa direcionada para a eficácia e força humanas, inspiradas nos softwares, mudou de rumo para uma expetativa com vista à humanização do virtual?
Ele está de volta Depois de ter feito o público “rebentar pelas costuras” com a sua performance no Festival da Canção (2024), merecedora dos 12 pontos, João Borsch volta Com um pontapé na entrada, apresenta-nos “Armagedão”, o afrodisíaco necessário para que haja sede pelo seu terceiro álbum de estúdio Foi-nos dado, alguns dias antes, um mero cheiro para que, a 18 de novembro, tenha sido empratada e servida a música, fazendo-se acompanhar pelo seu videoclipe oficial e pela respetiva letra Numa aparição via Instagram, João Diogo Santos Borges revelou que o seu trabalho para o produto final se iniciou pela repetição mental da “ponte” da música Foi igualmente descrito o processo até ao alcance da rima que, de verso de poema próprio, passou a “teu toque é o meu armagedão”, para sonoridade musical. Além disso, o mesmo responsabilizou os videojogos (e a própria nomenclatura virtual) pelo ritmo encontrado no seu trance e eurodance Este, sim, seria um bom som para clubbing, graças aos arranjos do próprio cantor e produtor A verdade é que foram dois anos em torno do single, dois anos que, passados com a ajuda de João Mesquita e Pedro Joaquim Borges, se adiantaram à passagem do tempo
Concretizou-se uma viagem ao futuro, e tal avizinha-se risonho para Borsch Envolto em trabalhos de luz e câmara, surge o músico, embebido em emoção e poder, convidando
todos aqueles que arrumaram os seus gorros peludos (dito corretamente, ushankas) no fundo do armário a aceitarem o inverno
Torna-se impossível resistir nós a dançar; sujeito poético a pedir por mais, mesmo que isso signifique a batalha final da sua vida O armagedão, cristão ou não, simboliza a colisão de duas forças supremas, sendo elas (aqui) o físico e o digital Num mundo real que não acompanha o ritmo do mundo virtual, questionamo-nos se o primeiro se pode efetivamente denominar “real” e se, em campo aberto, seria o segundo o destruído
Acordamos e abrimos o Instagram Vemos uns quantos stories, levantamo-nos Connosco levantou-se a nossa dopamina, e só assim conseguimos começar o dia Vamos saciando a nossa sede de “felicidade” com pequenos scrolls ao longo dos minutos que temos, até cairmos com a noite, desta vez, no TikTok É desde que as pestanas se erguem até que as pálpebras se vergam A procura por contentamento iniciou-se, usurpando o espaço de outros sentimentos, colocando o ecrã em funções de espelho do ser Corajosos são os que desafiam estas novas leis da gravidade; vencedores os que derrotam a prepotência virtual sem que haja confronto entre bem e mal Os limites eletrónicos esbatem-se, as margens humanas perdem saturação Tudo se desvanece nesta que é a potência e im-
Ao que tudo indica, esta conjetura será explorada no próximo lançamento do cantor madeirense Por enquanto, tentamos ultrapassar barreiras entre ser e ecrã, entre estar perto e longe daquilo que verdadeiramente queremos O próprio afirma, em tom de explicação da produção: “Como é que obtemos prazer através de um ecrã e até que ponto não procuramos esse prazer do próprio ecrã? Este prazer é menos real? Enquanto a autenticidade do prazer é repetidamente posta em causa, a dor que ele nos causa não é menor que a de uma relação de carne É nesta dor que inexoravelmente volta a solidão”
A profundidade borschiana torna-se hábito para quem o acompanha, aliando-se à sua disposição natural, livre de camuflagem, no respeitante à produção do seu conteúdo Aproximamo-nos e entendedores da matéria podem captar, nos vídeos publicados nas suas redes sociais, como se alcançou esta música e outras (até a “ Pelas Costuras”) Segundo consta, “Armagedão” fez-se ouvir em alguns concertos antes de se tornar público, pelo que acredito que o videoclipe tenha sido inspirado pela reação da plateia Ainda assim, dia 27 de novembro, há a possibilidade de testemunhar tais emoções no Lux Frágil
Novembro/Dezembro
Mas o que é um ano
AliceCouto
novo?
ama a ponto de se acreditarmerecedorde mudar a sua vida”, etc Também não sei quem tem vontade de mudar a vida num mês tão cinzento e aborrecido como janeiro; neste aspeto estou mais inclinada para as concepções temporais etíopes e prefiro celebrar a passagem do ano em setembro, um mês muito mais agradável para mim
Esta altura é perfeita para estes especialistas também relembrarem a população de que têm de mudar, têm de ser a melhor versão de si mesmos, que têm de crescer espiritualmente Gostam de nos impingir estas ideias de que o que somos não basta, há sempre espaço para melhorar, e 2026 é OAno em quevocêvaitrans-
The rise and fall of the “performative listening: Jeff Buckey e a nova linguagem digital no TikTok
A figura de Jeff Buckley torna-se, deste modo, não um objeto de afinidade estética e musical, mas uma âncora afetiva para uma comunidade refugiada no meio digital; um catalisador para práticas culturais de autoprojeção, performatividade e construção afetiva e narrativa.”
Abdicar da Presunção Intelectual e das Preconcepções:
Spotify Wrapped:
Diz-me o que ouves, dir-te-ei quem és.
LetíciaCaetano
É tempo de tudo e mais alguma coisa, porque há tempo, férias e dinheiro (voltamos a falar em janeiro...)
É tempo dos doces, das compras massivas e do frio
O Natal e o Ano Novo trazem consigo a união fabricada – não só do inflacionar de preços às escondidas para a black friday, das lantejoulas e cuecas azuis, mas também do voltar a ver aquele primo de quem não se gosta muito, do embaraçoso “e os namorados?” e das tensões familiares invisíveis aos olhos dos pequenos Claro que há sempre a reposição da conversa perdida ao longo do ano, não esquecendo as notinhas dos avós (para quem ainda os tiver fisicamente presentes) e a euforia em ser-se criança pelo Natal Nem tudo é mau, mas vai piorando
É tempo dos hauls infinitos de prendas, das wishlists (antigamente, cartas ao pai Natal – com direito a leite, bolachas e cenouras para o Rodolfo!), da Mariah Carey e do “Sozinho em Casa”. Dezembro determinístico do enfardar e janeiro traçado para pagar subscrição no ginásio Pior que esta estranha febre recente em assistir ao acender das luzes ainda em novembro – que uma pessoa que não liga nada a estas coisas andava a rezar para conseguir entrar no metro de S Sebastião – só mesmo a voz anti-natalícia de Carlos Moedas no fundo dos vídeos dos insta stories dos casais apaixonados, das famílias e amigos que puseram os pés no Terreiro do Paço Anti-natalício é também o espírito estranhamente católico dos que engenharam o pacote laboral, que ao invés de uma recompensa merecida para quem trabalha, um presentinho jeitoso – um rendimentozinho a mais, umas férias aqui, alguma compreensão ali Não Uma meia malcheirosa com buracos para quem não pode e um belo par de botas de couro para os grandes poderem pisar os do dedo grande do pé de fora Enfim, pensemos nisto em janeiro, que agora é tempo de guloseimas, festa e azáfama (da boa) Qual pensar em SNS’s, privatizações, descongelamentos (dos maus, das propinas), efémeros contratos, justas justas causas, sete dias de trabalho, shopping de férias (só pode
comprar dois dias e SEM DESCONTO!), prazos meticulosamente estipulados para a amamentação e fim do luto gestacional?
Está visto que 2026 será um novo ano que só trará bonança, ainda por cima sou balança com ascendente em caranguejo! Melhor ainda, o próximo ano é um ano 1, “novos começos, liderança, coragem e iniciativas No tarot, está relacionado com a Carta 10 da Roda da Fortuna, o que pode significar reviravoltas, ciclos e mudanças rápida”, disse sem qualquer aviso ou pedido, a Inteligência Artificial do Google, e eu acredito! É esperta ela! Assim, não podem haver mercúrios retrógrados, nem desVenturas ou Montenegros que passem a perna à numerologia e às minhas 12 passas (que, na verdade, ainda são smarties, daqueles coloridos).
É tempo de gargalhadas, da sueca e do bolo-rei – muito apesar de não conhecer ninguém abaixo dos trinta que o coma por vontade própria Na reta final, o ano pauta-se de amor, de lareira acesa e de dias lentos –indiscutivelmente necessários para quem precisa de viver e viver por inteiro, sem prefixações infelizes à palavra A ansiedade, poucas horas de sono e excesso de trabalho sabem a comida pré-feita e pouco tempo em família, despertando uma sensação de falhanço para com os que amamos São aliciantes os antidepressivos e as várias formas de alienação, para ocuparmos as horas a não pensar em nós e no raio de vida que nos havia de calhar na rifa (bem, o melhor a frustração em janeiro)
É, por fim, tempo da solidão, da saudade de quem partiu, de quem ocupava o cadeirão da sala de estar e de quem tinha lugar fixo à mesa e no nosso coração É tempo de lágrimas e de pesar por quem nos deixou sem rumo, aquelas ausências incontornáveis que cravam um vazio na alma É, por isso, tempo de agradecer aos nossos e agarrar-nos a eles –que a vida é curta e não dá margem para mesquinhices, aproveite-se, pois, enquanto se tem a mesa cheia de comida, família e amigos
Trabalhar para viver… ou viver para trabalhar?
Mas qual será o verdadeiro problema: o trabalho ou o relógio? A sensação constante de que o tempo nunca chega, de que a vida se escapa entre prazos, metas e notificações. Quando alguém nos pergunta “o que fazes da vida”, respondemos sempre como se a pergunta tivesse sido “o que fazes na vida”. Aparentemente, o verbo viver foi substituído por um verbo mais rentável.”
Pho Hanoi
...Foi num desses passeios que me deparei com Pho Hanoi, um restaurante vietnamita, especializado, como diz o próprio nome, em pho à moda da capital” “
comasmãosatéficarcomumaespessurade0,5a1cm Por cima,colocaumafatiadepresuntoe,deseguida,asfatiasde mozarela.Acrescentaorequeijãoemcolheradaseespalha. Nãoteesqueçasdedeixar1cmdeespaçonaslaterais