Nova Em Folha | Edição de Abril

Page 1


NOVA em FOLHA

Abril 2025

Confirma-seao leitorqueesta ediçãodojornal NovaemFolhada Faculdadede CiênciasSociaise Humanasda UniversidadeNova deLisboafoivisada pelaComissãode ExamePrévio,pelo queasualeitura pelosestudantes dessainstituiçãoé segura Trata-sede umapublicação frequentemente dadaàperversão, peloquea Comissãopermitiu asuapublicação apósrigoroso escrutínio,em defesadaverdade daqualosseus leitoressão merecedores

PISAR O RISCO

06 O povo não é quem mais ordena

Alberto Rivas Paniagua relata o impacto da Revolução dos Cravos na vizinha Espanha franquista O texto ilustra o contraste entre o florescimento da democracia em Portugal, onde o povo passou a ser soberano, e o receio do regime espanhol em perder o controlo, adiando as aspirações de liberdade e democracia

10 Abandono militar e trauma geracional: que nação foi protegida?

Clara Figueiredo aborda o abandono dos veteranos portugueses da Guerra Colonial e o trauma geracional resultante da falta de apoio psicológico após o seu regresso O texto foca-se nas dificuldades de reinserção social, nos problemas de saúde mental e no impacto negativo destes fatores nas relações familiares destes homens

14 Eleições outra vez?

Vamos a eleições... outra vez. Mas, desta vez, a Carolina Gonçalves não só responde às questões que pairam nas nossas cabeças (o que é uma moção de confiança? Quais as implicações práticas no futuro do nosso país?), como procura ainda responder à maior pergunta de todas: "o que se passou em Portugal?". Lê o artigo para descobrires as grandes respostas.

18 Uma arma, Um Cravo

No seu texto, Ricardo Dias reflete sobre a liberdade conquistada pelo 25 de abril, da qual faz parte a primeira geração nascida depois de 1974. Através das suas memórias pessoais, como o primeiro concerto a que assistiu dos Xutos, o autor analisa também as contradições e ironias do pós-revolução, onde a democracia ainda mantinha elementos do passado.

O povo não é quem mais ordena

O 25 de Abril: A Liberdade cantada Ontem e Hoje

21 O 25 de Abril: A Liberdade cantada Ontem e Hoje

Paulo Antunes reflete sobre a importância da música na Revolução de Abril, destacando-a como uma poderosa forma de resistência. De Woody Guthrie a Zeca Afonso, Antunes revela como a música sempre foi uma arma política, e explora a forma como os artistas contemporâneos estão a lidar com os desafios ainda presentes.

23 No Other Land

O filme que carrega o Óscar de melhor documentário carrega consigo também o peso de expor ao mundo a destruição de comunidades beduínas na Cisjordânia pelo exército israelita. Cyndelle Ferreira apresenta-nos uma análise profunda da situação na Palestina, tal como exposta em "No Other Land", compreendendo-o como uma visão clara do conflito israel-palestino.

30 Vendem-nos sonhos, mas cobram-nos rendas

O texto de Helena Gregório analisa a natureza paradoxal da liberdade contemporânea, contrastando os sonhos de possibilidades ilimitadas a uma juventude que nasce a acreditar que a liberdade vem com um guia. Desde altos custos de vida a precariedade laboral, é uma análise que coincide com o pensamento coletivo de uma geração. 6 21

novaemfolha@fcsh.unl.pt @novaemfolha.ae @novaemfolha.aefcsh

AE em Folha

Editorial: A Revolução de Abril: entre

História e Memória

Notícias recentes...

O povo não é quem mais ordena/ Cravada de Vermelho

Usos Políticos da Memória do 25 de Abril: Políticas de Identidade - Por quem e para quem?/ Abandono militar e trauma geracional: que nação foi protegida?

A Manteiga Faz Mal aos Ossos

A Revolta da Maria da Fonte: uma insurreição popular no feminino

Saber Ser

Eleições outra vez?

Antropologia ao desencontro do PREC Ó cravos de abril

Uma arma, Um Cravo /Cornucópia de abril

Revolução à portuguesa

Blackout

O 25 de Abril: A Liberdade cantada

Ontem e Hoje

A precariedade em cena

Fahrenheit 451 e como resistir ao fogo/ No Other Land

Street Kids – “Trauma” (1982): A

Pérola Esquecida do Synthpop Português/ [para eles e por mim]

Para teres Liberdade/ Manifestação de Vigor

Os Anjicidas

Sabes quando é que surgiu o Dia

Mundial da Terra?

As Descobertas de Nuno Folha: O Amor em Tempos de Guerra

Vendem-nos Sonhos, mas Cobram-nos

Renda/ Abril aos Olhos de uma Criança

Livros censurados pela ditadura

Filmes censurados pela ditadura

Agenda Cultural

Galeria de fotos: 50 anos do 25 de abril

Passatempos e patinho!

Abril segue e, com ele, uma aragem de primavera e de mudança. Da parte da AEFCSH, resta desejar uma boa época de frequências a todos, uma interrupção letiva alegre e junto da família. Decerto nos encontraremos, ou na faculdade, ou na Avenida da Liberdade, ao dia 25 de Abril!

Sempre de portas abertas, de manhã à noite, e com muitas atividades planeadas, o mês de março é sempre sinónimo de muito trabalho na AEFCSH Afinal,équandoes-

tamos nos últimos preparativos para as comemorações do Dia Nacional do Estudante!

Começámos o mês com o primeiro torneio de matraquilhos e, na semana seguinte, organizámos um torneio de Ping-Pong, ambos no nosso espaço Transmitimos ainda jogos do campeonato português de Futebol, assim como o jogo da equipa feminina de Voleibol da AEFCSH. Acompanhámos, também, a equipa masculina de Futsal em todos os seus jogos e treinos.

Estivemos presentes na grande manifestação do Dia da Mulher, convocada pelo Movimento Democrático de Mulheres, com o mote “Luta que une, força que transforma” e marcámos presença no Encontro Nacional da Juventude, organizado pelo CNJ, em Vila Franca de Xira, onde jovens de todo o país discutiram propostas sobre o seu futuro, como o aumento dos salários, o fim da propina, o fim de todas as discriminações nas escolas, faculdades e locais de trabalho e o fim dos exames nacionais Este fim de semana projetou para o futuro a ideia de que os jovens unidos, de facto, fazem a mudança

dia-a-dia de estudantes, já disponível no Spotify. Também no plano da cultura, o Cineclube da Nova continuou o seu trabalho, dinamizando sessões de Cinema, todas as terças-feiras, às 18 horas, no Auditório A2 do campus de Berna e anunciando o ciclo de Abril, dedicado ao Cinema português, que celebrará realizadores como Pedro Costa, Miguel Gomes, João César Monteiro e Rita Azevedo Gomes.

Por fim, mas nunca menos importante, celebrámos em força, nas ruas, o Dia Nacional do Estudante, um momento de união entre várias direções associativas que deixou bem claro as perspetivas dos estudantes para o futuro do Ensino Superior em Portugal – o ensino sem propinas, com residências públicas e bolsas suficientes, mais democrático e inclusivo, com mais psicólogas e onde ninguém fica para trás! Uma saudação a todos os colegas que dele fizeram parte, direta ou indiretamente, que foram para as ruas elevar a voz, do Rossio à Assembleia da República, por si e pelos colegas que não se matricularam, por não conseguirem pagar um quarto em Lisboa, ou a propina. Cá estivemos e cá continuaremos, a mostrar que não tem de ser assim. O Ensino Superior é um direito de todos, consagrado na Constituição da República Portuguesa.

FOLHA AEEM

Lançámos o Podcast “Ai é?”, ideia que tinha surgido há muito e finalmente se materializou, onde os nossos locutores vos vão levar em conversas sobre o seu

Abril segue e, com ele, uma aragem de primavera e de mudança. Da parte da AEFCSH, resta desejar uma boa época de frequências a todos, uma interrupção letiva alegre e junto da família. Decerto nos encontraremos, ou na faculdade, ou na Avenida da Liberdade, ao dia 25 de Abril!

Foto: Adriana Caramelo

A Revolução de Abril: entre História e Memória

O cultivo de uma justa memória histórica é também um ingrediente indispensável para que uma revolução possa triunfar, para que não se esgote e depereça, para que se mantenha vivo o horizonte de onde retira a sua razão de ser.

Ao assumir que a memória do 25 de Abril de 1974 está presente e viva no espaço público português, comprometemo-nos aqui a refletir sobre este diálogo entre memória e História, assim como a ce-

lebrar os 51 anos da data que marcou o início da Revolução de 1974-1975, e tudo o que ela significou para o país: o cooperativismo; a paz; a solidariedade; a democracia; o Estado Social; a luta e emancipação das mulheres; o sindicalismo; a luta de classes; a participação popular; o antifascismo; a liberdade.

Em Portugal, o imaginário coletivo da Revolução é estimulado por um esforço incansável de variadas instituições e associações num sentido de constante rememoração do 25 de Abril e da Revolução de 1974-1975 como momentos de devida comemoração e contínua importância. A construção deste imaginário acerca do 25 de Abril pode ser enquadrada nos moldes de Enzo Traverso, que fala numa reificação do passado, ou seja, numa transformação da Revolução de Abril em objeto de consumo, estetizado e naturalizado no seio português. Nas palavras de Eric Hobsbawm, podemos mesmo falar numa “invenção da tradição”: um passado real em torno do qual se constroem práticas ritualizadas que visam reforçar a coesão de uma comunidade e inculcar valores na sociedade.

Desde o Grândola Vila Morena de Zeca Afonso, ao cravo vermelho, às

palavras de ordem ‘25 de Abril Sempre, Fascismo Nunca Mais’ ou ‘O Povo Unido Jamais Será Vencido’, estamos perante um cenário de rituais e símbolos que marcam o nosso espaço público em mais do que uma circunstância ao longo do ano, e não só no 25 de Abril (no 8 de março, no 24 de março ou no 1º de maio, por exemplo). Os valores a este cenário associados, desde a democracia e o antifascismo à liberdade e à luta, importam estar presentes na sociedade portuguesa –sempre em risco de amnésia.

Como nos lembra Traverso, ao nascerem de uma mesma preocupação, a História e a memória partilham também o mesmo objeto: a elaboração de um passado. Quando elaboramos a Revolução de Abril há um objetivo claro de criar meios através dos quais preservamos o seu quadro de valores e objetivos, e estamos em constante rememoração do seu significado histórico – e atual.

Tudo isto não é alheio a uma lógica de combater não só o discurso reacionário e regressista, da (extrema)-direita, apologético com o nosso passado fascista, mas também as retóricas neoliberais de Fim da História, que querem fazer crer a luta como terminada.

Num objetivo comum de ataque a Abril, as políticas de direita subscrevem todas às recentes manobras de elaboração e celebração do 25 de novembro enquanto passado ‘equiparável’ ao 25 de Abril –contribuindo para a ideia deste último enquanto fenómeno terminado e atomizado e participando de uma narrativa esgotada que quer a Revolução como excessiva, agitada,

injusta, confusa. Reforça-se a importância de lutar contra tais preconceitos e artimanhas e defender a racionalidade histórica e contemporânea de Abril:

Abril, projeto entre o passado e o futuro

O projeto de Abril, enquanto aspiração revolucionária a uma transformação qualitativa na estrutura que rege a produção e reprodução do viver, como o define Barata-Moura, continua a existir na prática e na memória coletiva de muitos portugueses. Esta memória, e a sua articulação com o presente, é de suma importância para evitar a cristalização no tempo de um evento histórico. Ao passar a ter lugar somente enquanto lembrança do acontecido, como apenas memória, Abril torna-se uma peça de museu, cuja beleza é apenas possível verificar à distância. É, deste modo, indispensável para a construção de um futuro mais justo e de progresso que se retire a revolução da gaveta, dando-lhe condições de marcha com os olhos postos num outro futuro Assim, ao invés de uma memória dócil e reminiscente de outros tempos, a memória deve colaborar para o entendimento do processo ou tarefa que um projeto revolucionário impõe, pois é preciso saber com que linhas de tradição se cosem, retomam e desenvolvem os projectos de transformação.

Propomos uma memória de Abril que a História deve elaborar hoje e que terá de ser uma visão dinâmica da memória que abre a via a uma com-

preensão histórica processual da revolução, retirando-a do campo da estéril comemoração e colocando-a como inspiração para as lutas e tarefas do porvir.

Para esse efeito é importante entender o excepcionalismo da nossa Revolução, repensando-a através da sua originalidade e sentido históricos, rejeitando as comparações amorfas que pretendem enquadrá-la em vazias “vagas de democratização” de inspiração neoliberal. Ao pretender enquadrar a Revolução portuguesa nestes processos globais de “democratização” o cientista social procura domesticar uma realidade cuja complexidade não permite generalizações vãs. Aliás, a Revolução portuguesa, ao contrário das transições do quadro da “terceira vaga”, não se processou por negociação elitista, como na Grécia, na Espanha ou no leste da Europa, mas sim por um rompimento brusco protagonizado pela ação coletiva de um povo. A Revolução portuguesa deve ser entendida enquanto momento seminal da nossa História, que termina o mais longo ciclo imperial europeu e o mais duradouro regime fascista na Europa.

A movimentação vivida, como reparou o historiador Kenneth Maxwell, surge apenas comparável a Espanha na década de 30, Alemanha em 1918-19 e a Rússia de 1905 e de

de 1917. Por seu lado, o sociólogo

Hermínio Martins descreve a nossa Revolução enquanto um misto de 1945 com 1968, datas perdidas em Portugal nas suas edições originais. Assim, compreendemos como o obscurantismo fascista atrasou o país, remetendo para o tardio ano de 1974 uma complexa mistura de tensões na sociedade portuguesa: a luta de classes da Europa entre guerras, a queda dos fascismos com o fim da 2ª Guerra Mundial e a massificação da política de rua do Maio de 1968. A originalidade do processo revolucionário português passa, portanto, pelo protagonismo de oficiais intermédios do exército –o MFA, o primeiro movimento militar golpista chefiado por oficiais subalternos da nossa história –naquilo que foi o último ímpeto descolonizador e o último processo revolucionário socialista da Europa, o que torna por demais evidente o atraso português face às dinâmicas continentais. Essencialmente, é necessário entender Abril enquanto missão histórica, e não enquanto episódio conturbado ou excessivo. Apelamos a uma memória de Abril que se exige atual, em diálogo permanente com a realidade que nos envolve, contribuindo para o nosso entendimento do presente e que

Referências do texto: [1] Traverso, Enzo. O Passado, Modos de UsarBarata; [2] Moura, José. Memória histórica e projecto revolucionário; [3] Maxwell, K. Construção da Democracia em Portugal
Foto: Primeiro de Maio de 1974
Foto: Foto da Marcha dos 50 anos do 25 de Abril, 2024; Fonte: RTP

NOTÍCIAS RECENTES...

Todos os estudantes deslocados passam a ter direito a alojamento gratuito!

TRANSPORTES

O Metropolitano de Lisboa acaba de anunciar o fim do ruído ensurdecedor dos carris do metro!

Anuncia também uma nova linha, a Branca, que vai ligar a Buraca ao Casal Ventoso.

SOCIEDADE

Antropólogos conseguem emprego!

ESTUDANTES

Bolsas de Erasmus duplicam o valor para os estudantes portugueses!

Jornal NOVA em Folha passa a ser gratuito para todos os alunos!

(Esperem…já é!)

Tuna NeOlisipo obtém

sala de ensaios com arrecadação na Torre B!

INFORMÁTICA

Pela primeira vez na história da FCSH, o Inforestudante não foi abaixo no dia das inscrições!

UNIVERSIDADE NOVA

Reitoria da NOVA FCSH anuncia que adotou oficialmente Pipoca, gatinha da faculdade!

Geografia sai do currículo de licenciaturas da FCSH!

A cadeira de História do Cinema abre o dobro das vagas para o ano letivo de 25/26!

Universidade NOVA anuncia que a FCSH vai oficialmente para o campus de Carcavelos

FCSH concede um kit de material de gravação a cada aluno de Comunicação!

...QUE GOSTÁVAMOS QUE FOSSEM VERDADE...

No calendário, o dia das mentiras é a 1 de abril, mas, nas redes, nos bares, nas escolas, nas assembleias, nas televisões e no meio da rua, as mentiras vão além desta data. A desinformação é um vírus que se propaga rápido. Não o deixes passar, protege-te e confirma sempre as tuas fontes.

A PROPINA ACABA PARA SEMPRE!

Alberto Rivas Paniagua e Matilde Varela (Submissões Externas)

Imagem:JornalArriba;Fonte:LaHemerotecadeBuitre

O povo não é quem mais ordena

Alberto Rivas Paniagua

“Golpe de Estado en Portugal” fue el titular que redactaron la mayoría de diarios aquella mañana del 26 de abril de 1974, en la España que caminaba bajo el lema del “Espíritu del 12 de Febrero”. Evitando profundizar por la censura sobre el tema, los periódicos se hacen eco de lo sucedido en el país vecino, que dejaba atrás la dictadura más larga de toda Europa, poniendo sobre los ciudadanos españoles una de las semillas sociales para caminar en libertad en un país de todos en democracia.

España, bajo el gobierno franquista de Arias Navarro, emprendió signos aperturistas como la aceptación de que la población debía tener vías de participación en el estrecho y totalitario pensamiento del Movimiento Nacional (MN), incluso llegando a aceptar el término “guerra civil” pero sin eliminar la idea fundacional del régimen de “Cruzada Nacional”, la guerra que enfrentó a España en las vísperas de la Segunda Guerra Mundial. Aún con esas mínimas ráfagas de luz, el sector más radical del MN puso la voz de alarma entre otras cuestiones por lo acontecido el 25 de Abril.

Los periódicos hablaban de un golpe de estado dando ligeros detalles de lo

sucedido, evitando hablar sobre el régimen del Estado Novo como dictatorial, bajo pena de ser censurados por la policía y llegando a ser secuestrada la edición extraordinaria de Cuadernos para el Diálogo, que hablaba de manera extensa sobre lo ocurrido en el país luso. Periodistas y activistas españoles cruzaron la frontera clandestinamente con cámaras de vídeo para rodar lo acontecido, filmando el cambio social y político que necesitaba España para avanzar a la democracia. Algo se estaba gestando en el seno de las organizaciones clandestinas estudiantiles y sindicales, que se reunían en capillas e iglesias por toda la geografía española cuestionando el “status quo” franquista.

Para Portugal es el florecimiento de ese clavel sobre el arma, la idea que se mantiene en la República: El pueblo es el que manda. Como democracia, como ciudadanos iguales y como seres humanos libres que son. Gobernantes y gobernados, siendo estos primeros los ciudadanos, soberanos de su destino. En cambio en España, el terror que invade a parte del Gobierno y del MN es mayor de lo esperado, viendo en la “Revolución de los Claveles” la idea de que el régimen nacional-católico podía caer en tan solo 12 horas si no se abandonan esas ideas aperturistas que pretendían acometer. El Ministro de Información y Turismo, Pío Cabanillas, mandó con orden expresa a un equipo de Televisión Española (TVE) recoger todo lo ocurrido de manera confidencial. Posteriormente, compartió dichas grabaciones a los miembros del Gobierno para que sacaran sus propias conclusiones.

Tras esto, el diario Arriba, periódico oficial del régimen, publica una entrevista de José Antonio Girón de Velasco. Hombre de peso del sector más radical del MN, también conocido dicho sector como “Búnker”. En ella, hace muy dura crítica a las ideas aperturistas de Arias, quedando de inmediato aparcadas todas esas medidas que anunció el Gobierno ese febrero ante las Cortes. Siendo denominado este acto rectificativo por la opinión pública como “Gironazo”. El pequeño sueño aperturista se marchita.

El pueblo no es el que más ordena y los rayos de luz se pierden en el más oscuro anochecer, aplazando para la mañana siguiente el sueño más grande que nos podíamos imaginar. Libertad y democracia.

Y cuando despertó, el pueblo por fin ordenó.

Cravada de Vermelho

Matilde Varela

Se fosse eu, liberdade, seria um sentimento palpável ou uma alma colorida que te passa pela mente quando sorris para um estranho ao passar a passadeira de uma rua movimentada.

Se fosse eu, livre, levaria a cabo a maior das danças, que acabassem com a dor de sentir que perdia o encanto ao ter a minha voz levada por aquele a que chamo pensamento opressor.

Se fosse eu, ditada, permanecia acordada, mesmo de alma adormecida, ao ser pintada de azul.

Quando for eu, cravada, pintarei muros e paredes, casas e alpendres, lojas e saletas, da cor daquele que foi derramado, cravado nas alianças da liberdade.

uma das maiores dificuldades destes soldados, que voltavam a um país mudado, a uma família saudosa e a um Estado que fechava os olhos à sua chegada. A reabilitação física e psicológica era escassa. A reinserção no mercado de trabalho dependia somente destes jovens traumatizados. As cicatrizes sararam eles mesmos, deixando marcas intemporais, por gerações, cujas consequências ainda hoje são sentidas.

O primeiro português a pensar aprofundadamente as consequências da guerra no comportamento emocional de combatentes foi Egas Moniz, em 1917, com o livro “A Neurologia na Guerra”o primeiro grande estudo sobre o que hoje se designa de stress póstraumático (PTSD). O médico apontou uma relação, por exemplo, entre o contacto indireto com explosivos e um quadro de alterações nervosas e emocionais. Nos anos 60, a guerra não era a mesma, mas os impactos sociais foram igualados. Estima-se que, hoje, existam entre 120 mil a 140 mil veteranos em Portugal com PTSD, tendo já sido realizados dezenas de estudos que pretendem analisar estes valores nos ex-combatentes. Devido à sua complexidade, o PTSD nem sempre é facilmente diagnosticado e raramente se manifesta de forma isolada. Também as perturbações de personalidade se manifestam nestes homens, sendo as mais comuns a perturbação obsessiva compulsiva, a perturbação de personalidade paranoide, evitante e borderline. Nos anos 90, Albuquerque e Lopes (1997) concluíram que, dos 120 veteranos com PTSD entrevistados, 84,2% apresentavam PTSD crónico e 98,2% patologias associadas a este. Já em 2006, num estudo com 350 veteranos, 39% apresentavam PTSD e 56% morbilidade psicológica (depressão e ansiedade). Todos estes diagnósticos são fatores com efeito negativo nas relações interpessoais e, especialmente, familiares destes homens. Assim, não é uma surpresa que a maioria destes soldados tenha pertencido - e pertença - a famílias com elevado grau de disfuncionamento familiar.

Os comportamentos comuns destes excombatentes perante a sua família consistem em atitudes de evitamento, como “não falar, não pensar, não sentir e não confiar” (Pereira et al., p. 214). Estes são homens com tendência à alienação e isolamento social, aparentando muitas vezes estarem desligados do ambiente à sua volta, e sentindo dificuldade em expressar emoções ou sentimentos positivos. Tudo isto se enrola num agregado de problemas de intimidade, de comunicação e de sociabilização que acabam por gerar stress e conflito nas

famílias em que se inserem, deixando marcas geracionais pelos seus sucessores (aliás, até estudos focados somente nos filhos destes combatentes têm vindo a ser realizados, mostrando níveis alarmantes de PTSD nos próprios filhos).

O tratamento destas patologias não pode ser feito 50 anos depois do fim da guerra. O estado deixou para trás quem voltava, olhando em frente, para aqueles que ainda estavam por ir. Estes homens tiveram de se levantar uns aos outros e somente graças a instituições como a ADFA (Associação dos Deficientes das Forças Armadas), criada em 1974, é que encontraram lugar para si na sociedade pela qual lutaram. É difícil encontrar palavras que tão bem descrevam a situação de abandono dos soldados como as de Calafate-Ribeiro (2004, p. 26): “a ocultação da guerra, feita após o 25 de Abril, não era um artifício de vontade autoritária, mas antes uma incapacidade de avaliação para lidar com tão dolorosa e explosiva herança, deixando o ex-combatente num ambíguo e desconfortável lugar entre a vítima [...] e a imagem de um antigo poder que se queria esquecer”. Hoje, milhares de portugueses limpam as feridas deixadas na sua pele e na dos seus antecessores por um governo imprudente, que acreditava que o verdadeiro militar seria aquele que é impermeável, implacável e espartano. No último fim de ano, o meu avô apareceu - para minha grande surpresa. Não quis ir connosco até à rua, ver o espetáculo da varanda. Em vez disso, preferiu ver os oito minutos de cores da janela da cozinha. Dei-lhe um grande abraço e um beijo na face antes de ir para a rua com o resto da família. “Divirta-se”, disse, sabendo a hipocrisia das palavras que saíam da minha boca. A minha irmã ficou a fazer-lhe companhia e, quando voltei a descer, ele disse-me que foi dos anos mais bonitos de pirotecnia de dia de ano novo a que já assistiu. O meu coração desapertou o grande nó, que nem reparei que lá estava, e o meu corpo relaxou. O meu avô demorou décadas para conseguir ver um espetáculo de fogo de artifício sem fugir para um lugar silencioso, sem relembrar os seus melhores amigos sem vida, à sua frente, sem, inconscientemente, saltar para a trincheira imaginária que via no chão, tentando lutar pela própria vida. Quantas décadas de vida teria ele de volta se quem o mandou para a guerra o tivesse recebido em casa com a mesma vontade de proteger a nação?

1 2Maiaetal.,2006

Oliveira Cunha, D., Lousada Fernandes, P. J., PousaRodrigues,B.M.,DelgadoRibeiro,J.M., Batista Soares, J. H., & Pascoal Rosado, D. (2020). A reinserção social de combatentes. Proelium,VIII(5),17–38.

A Manteiga Faz Mal aos

Ossos:

Marta Loureiro

A minha avó nasceu num tempo em que a escola durava até ao quarto ano. Um tempo em que as mulheres eram sobretudo mães e esposas. Trabalhou a vida toda como empregada doméstica e, uma vez, ouviu a sua patroa dizer-lhe que a manteiga fazia mal aos ossos.

A minha avó chamava-se Bebiana e, com treze anos, começou a cuidar da casa da (Dona?) Júlia. Sei pouco sobre esta mulher. Apenas que tinha este nome e era patroa da minha avó

A Bebiana fazia o que faz qualquer doméstica: limpava a casa, tratava da comida, cuidava das crianças (se existissem). Nesta casa, existiam crianças. Era a menina de treze anos que as alimentava.

Um dia, a patroa Júlia avisou a minha avó.

-Não ponha manteiga nas torradas. A manteiga faz mal aos ossos.

Foi a minha mãe que me contou esta história. Nunca lhe perguntei o que é que a minha avó lhe respondeu. Pensei que não era preciso. Obedeceu, pois claro. Pelo menos em casa da (Senhora?) Júlia.

Digo isto porque em casa da minha avó comia muita manteiga. Comia-se muita manteiga, todos os dias.

Ela limpava janelas, salas, casas de banho, quartos, cozinhava para as filhas e marido (os seus e os dos outros), carregava as filhas de um lado para o outro, dava-lhes banho, andava sempre rápido, cumprimentava toda a gente do bairro na rua (era quase sempre simpática), passava tempo com os irmãos (e cozinhava), ia ao café, ia às compras, às vezes à igreja e lia livros à noite.

Não me parece possível que fosse capaz de fazer isto tudo se não tivesse ossos fortes. Extraordinariamente fortes. A minha avó era dona de uma resiliência fora do comum.

A verdade é que não existia nenhma diferença palpável entre a minha avó e a sua patroa. Só que a Júlia sabia que a manteiga fazia mal aos ossos, e a minha avó não. E alguém sabe se faz mesmo?

Abril

beçada por D. Miguel. Após duas tentativas de golpe e a sua proclamação como monarca absolutista, D. Miguel é exilado e afastado das possessões portuguesas. Pelo meio, dáse a independência do Brasil (1822), encabeçada por D. Pedro IV de Portugal, e, ainda, a morte de D. João VI (1826), que faz deflagrar uma crise de sucessão na Coroa portuguesa.

Após dois anos de Guerra Civil (1832 – 1834), ganha a fação liberal, protagonizada por D. Pedro IV e pela recém-promulgada Carta Constitucional de 1826. Mais moderada e conciliadora dos interesses da aristocracia portuguesa, afastando-se do progressismo vintista, o novo documento constitucional foi mal recebido pelas fações mais radicais do Liberalismo português, que, em setembro de 1836, promulgaram uma nova constituição e constituíram novo governo. Foi «sol de pouca dura»: em 1838, o Setembrismo finda com a reposição da Carta Constitucional e a instituição de um novo governo, encabeçado por Costa Cabral, que, curiosamente, terá sido deputado da fação mais «esquerdista» desta legislatura.

Costa Cabral não tardou a afirmar o seu poder despótico, repressivo e, até, antiliberal, atentando contra todos os pressupostos do constitucionalismo português. Concedendo, por várias vezes, «poderes extraordinários e discricionários» ao governo, encerrando o Parlamento, perseguindo a imprensa e fuzilando opositores, Costa Cabral assumiu-se como líder da fação mais ortodoxa do Cartismo, sem medo de recorrer a métodos violentos e punitivos para restabelecer a ordem político-social. Este «ordeirismo» cabralista passou ainda pelo reforço do poder executivo e pela centralização da administração concelhia, retirando autonomia e liberdades aos municípios e reforçando os poderes de controlo do governo central.

A somar a este desequilíbrio de poder na administração pública e judicial, está a reforma fiscal e sanitária realizada pelo chefe de governo, materializada no aumento dos impostos tributados aos camponeses e na proibição do enterramento de corpos no interior das igrejas («Leis da Saúde»). Tudo isto sucedia ao mesmo tempo que Costa Cabral, enriquecido e nobilitado à custa de um governo corrupto e envolto numa rede de favorecimentos, concedia monopólios a grandes empresários em troca de empréstimos, agravando cada vez mais a dívida pública.

Cada vez mais descontentes com estas imposições e intrometimento coercivo do Cabralismo nos seus modos de vida, as populações locais começaram por rasgar

MatildeMarqueseMatildeBrito Cultura/EscritaCriativa

e queimar os registos tributários, aos quais chamavam «papeletas da ladroada». Foram, contudo, as Leis da Saúde e o rompimento com a tradição funerária que estiveram por detrás dos tumultos mais significativos deste período, que vieram a constituir a Revolta da Maria da Fonte e, em consequência desta, a Patuleia, uma guerra civil de 8 meses.

A História diz-nos que as primeiras sublevações se desenrolaram na freguesia da Fontarcada, na Póvoa do Lanhoso, protagonizadas por grupos de dezenas de mulheres camponesas. Ao toque dos sinos da igreja paroquial, juntavam-se várias mulheres que, ignorando as autoridades locais, o comissário de saúde e os «boletins de enterramento», gritavam e clamavam pelo fim destas imposições, tentando sepultar, ilegalmente, vários corpos nas igrejas. Rapidamente este movimento se espalhou por outros municípios do Baixo Minho, tendo o seu auge em março de 1846, novamente em Fontarcada – em causa estava o enterramento de «Custódia Teresa», que levou à prisão de quatro mulheres no cárcere municipal.

Não é certo que a Maria da Fonte seja uma figura individualizada, mas poderá ter sido Maria Angelina, a única mulher que terá usado armas de fogo para fazer ouvir o tom da sua revolta – foi esta a iconografia que passou para a História e que vemos representada na escultura de Costa Mota (1920), no Jardim de Campo de Ourique.

A questão dos enterramentos acabou por ser secundarizada pelos manifestantes, sobrepondo-se temas políticos que transformaram as sublevações num movimento mais organizado e menos feminino, em parte apoiado pelos setores conservadores e partidários do Antigo Regime. Formaram-se guerrilhas e juntas governativas, que se espalharam do Minho para a região Centro e Sul do país, como a célebre Junta de Santarém, chefiada pelo setembrista Passos Manuel. Tudo isto levou o país a uma Guerra Civil e, em consequência, à derrota do Cabralismo e subsequente exílio dos «Cabrais» – António Bernardo Costa Cabral e o seu irmão e braço-direito, José Bernardo da Silva Cabral. Apesar do seu regresso e governação em 1849, o seu legado termina finalmente em 1851, com o golpe político do Marechal Saldanha que deu início ao longo período da Regeneração: o Liberalismo português conhece agora, 30 anos depois da sua implantação, alguma estabilidade. Acima de todas as camadas históricas descritas, está, como referido introdutoriamente, uma camada sociológica fundamental: o facto de ter sido uma revolução feminina, minhota e

popular, concebida em pleno contexto oitocentista. Como é descrito no hino adotado para a revolta, «Lá raiou a Liberdade / Que a Nação há-de aditar! / Glória ao Minho que primeiro / O seu grito fez soar! / Segue, ó Povo, o belo exemplo / De tamanha heroicidade: / Nunca mais deixes tiranos /Ameaçar a Liberdade» Assim o fizeram o povo e, em particular, as mulheres portuguesas, a 25 de abril de 1974, que celebramos hoje.

25deabrilde1974

EstúdioHorácioNovais

Saber Ser

Tempo de ser e de fazer

Sobretudo tempo de me encontrar

Tempo que bateu à porta

E me fez o silêncio abraçar

Na incerteza do caminho

A voz ecoa no vazio

Não deixo o meu eu se perder

E procuro saber Ser

Matilde Brito

O que se passou em Portugal?:

A crise política que conduziu à queda do Governo da Aliança Democrática (AD), liderado por Luís Montenegro, teve como origem imediata alegações de conflito de interesses envolvendo a empresa familiar do Primeiro-Ministro, a Spinumviva.

Primeiramente, é necessário perceber que, como Primeiro-Ministro, Luís Montenegro tem a obrigação de exercer funções políticas em regime de exclusividade, o que significa que não pode receber rendimentos além do salário correspondente ao cargo (cf. artigo 2.º, n.º 1, alínea c, e artigo 6.º, n.º 1, da Lei n.º 52/2019, de 31 de julho).

A incompatibilidade surge do facto de uma empresa pertencente à esposa do PrimeiroMinistro — com quem este está casado em regime de comunhão de bens — ter recebido pagamentos mensais da Solverde no valor de 4.500 euros desde 2021, incluindo já durante o mandato de Montenegro como chefe do executivo, empresa com contratos com o Estado. Esta situação configura um conflito de interesses, uma vez que o chefe do Governo tem, ainda que de forma indireta, beneficiado de uma entidade com interesses junto do poder público, dado que o Primeiro-Ministro tem a responsabilidade de negociar a concessão de licenças aos casinos, como a Solverde.

Montenegro tentou ainda alienar as suas participações na empresa. No entanto, a venda de quotas entre cônjuges não tem validade legal em Portugal, mantendo-se assim, formalmente, o vínculo de Montenegro à empresa. Dado isto, a contestação dos partidos da oposição e dos portugueses cresceu, o que levou à decisão do Governo de apresentar uma moção de confiança. A moção foi debatida a 11 de março de 2025, e acabou rejeitada com 137 votos contra e 87 a favor, ditando, nos termos constitucionais, a queda do executivo. PS, Chega, Bloco de Esquerda (BE), PCP, Livre e PAN votaram contra. Já a Iniciativa Liberal (IL) foi o único partido da oposição a votar a favor, ao lado das bancadas parlamentares do PSD e CDS-PP que suportam o executivo português. Como resultado, Marcelo Rebelo de Sousa dissolveu a assembleia e convocou eleições antecipadas para 18 de maio de 2025, as terceiras eleições legislativas (antecipadas) no espaço de apenas 3 anos.

A instabilidade tem marcado a política portuguesa dos últimos anos, refletindo-se em crises governamentais e na perda de confiança nas instituições. Com novas eleições à porta, é necessário que os cidadãos votem com consciência, exigindo transparência e responsabilidade dos seus representantes, para que situações como estas sejam mitigadas. Mantém-te informad@, analisa os programas eleitorais de cada partido e, no dia 18 de maio, dirige-te às urnas!

Fontes

[1]https://www.parlamento.pt/Fiscalizacao/Paginas/Mocoes-sobre.aspx; [2]https://expresso.pt/politica/2025-03-05-mocao-de-censura-de-confianca-e-de-rejeicao-conheca-asdiferencas-27e0e00f;[3]https://cnnportugal.iol.pt/mocao-de-censura/mocao-de-confianca/quais-asdiferencas-entre-uma-mocao-de-censura-e-de confianca/20250305/67c85b3ed34ef72ee4430e53[4]https://www.rtp.pt/noticias/politica/perguntas-erespostas-o-que-e-uma-mocao-de-censura_n1035909;[5]https://expresso.pt/politica/governo/2025-02-27solverde-paga-4500-por-mes-a-empresa-familiar-de-luis-montenegro-17e2205b

Antropologia ao desencontro do PREC

Os esforços de historização da Antropologia portuguesa destacam o contexto político de afirmação da disciplina, ao longo das décadas, e das implicações no conhecimento produzido. João Leal (2000) traça a principal problemática da disciplina (1870-1970) na construção de nação, em grande medida a partir da procura e categorização de uma “cultura popular”. Rui Pereira, no seu livro Conhecer Para Dominar, demonstra como a produção antropológica portuguesa, nos territórios colonizados, estava intimamente ligada à administração colonial.

O golpe militar do 25 de Abril e as guerras de libertação nacional acabaram por transformar e recompor tanto estes eixos como o campo de pesquisa. A consumação da democracia trouxe à Antropologia consolidação institucional, abertura temática, teórica e metodológica, em grande medida inspirada pela pesquisa que se realizava nos centros de produção intelectual europeus e norteamericanos, cuja influência já se fazia sentir de forma latente nos estrangeiros e estrangeirados que cá realizavam trabalho de campo. Por outro lado, esta abertura não se traduziu numa ruptura imediata com a antropologia que vinha a ser produzida durante o Estado Novo. Muito pelo contrário, grande parte da produção continuou em seguimento (crítico) do que vinha a ser feito pelo grupo à volta de Jorge Dias, em que a pequena “comunidade” rural, como a aldeia, era o objeto de estudo por excelência. O que uniu, no entanto, desde logo, estas tendências nos anos 70 e 80 foi o seu desencontro com as actualidades do chamado Período Revolucionário em Curso, marcado pela agitação e transformação social - por um conjunto de experiências de formas embrionárias de uma revolução que não se concretizou. De forma a pensar esta “inibição antropológica”, no segundo capítulo do seu livro Camponeses, Cultura e Revolução, Sónia Vespeira de Almeida reúne os escassos e “envergonhados” comentários que esta geração dedicou ao PREC. Em 1975 e 1976, José Cutileiro, ao revisitar “Vila Velha”, onde havia realizado trabalho de campo até 1970, assinala, com bastante surpresa, que o “sistema de posse de terra e as relações soci-

ais dele emergentes estavam substancialmente alterados”. O oposto é registado sobre o nordeste transmontano por Brian O’Neill (1984) e Joaquim Pais de Brito (1996), onde a Reforma Agrária não teve impacto e em que o “facto de mais radical importância” foram as campanhas de dinamização cultural do MFA. Pierre Sanchis (1983) e Joyce Riegelhaupt (1984) relembram este período em termos folclóricos, como “uma das mais intensas festas que o mundo contemporâneo já conheceu” e como “a revolução portuguesa, a revolução das flores, dos cravos que trouxe euforia e sorrisos às caras dos Portugueses”. Para além disto, há pouco mais a ser escrito na antropologia sobre este período.

Nesta análise histórica de Almeida, a primeira abordagem antropológica a encontrar o PREC é o estudo de Branco e Oliveira (1993), sobre o Serviço Cívico Estudantil (1975). (É de destacar também o “olhar estrangeiro” de Robert Roy Reed (1995) que retrata este processo ao nível local em termos de “revolução social”.) No final dos anos 90 surgem abordagens sobre resistência, movimentos sociais e memória em contexto rural (Fonseca 1997) (Godinho 1998) que começam a promover uma transformação temática e conceptual que torna inteligível o tipo de experiências, formas de organização e movimentos proletários que surgem durante o PREC. Margarida Fernandes (1997) trabalha precisamente isso no contexto de Baleizão, contrariando a ideia de Cutileiro (1977) de que haveria na sociedade portuguesa uma “extrema dificuldade” de desenvolver “associações de qualquer espécie”. É, portanto, na viragem do século que se dá a “inversão desta tendência” de “subexposição” do PREC na Antropologia portuguesa, com o trabalho, já nos a-

nos 2000, de Tiago Matos Silva (2002) e João Baía (2013) relacionado ao estudo da memória e o trabalho da própria Sónia Vespeira de Almeida (2009).

Aldeiatípicaruralportuguesadécadade70; Fonte:Sapo

É relevante o facto destes trabalhos conterem uma dimensão histórica. Para além da temática de pendor ruralista, outro factor relevante para entender este desencontro é o vício da antropologia com o “presente etnográfico” Sem a história entrar na figura, a antropologia congela o presente e torna-se “avessa ao estudo da mudança social e cujo discurso se desenvolve como antídoto da revolução e da desordem”, como aponta Sónia Vespeira de Almeida No entanto, é importante enquadrarmos também a Antropologia e as ciências sociais no período de consolidação da democracia e nas implicações que essa posição possa ter na produção de conhecimento No capítulo aqui em análise, Almeida cita Luís Trindade de forma a criticar os “resumos fáceis” que tratam o 25 de Abril como “ í t d dil i dit d

CooperativaAntigaTorreBela;Fonte:ArquivosRTP

encerra o destino da democracia”. Qual a relação entre o desinteresse da antropologia e as perspectivas “ofuscantes” sobre este período de outras ciências sociais? Um famoso sociólogo português (cujo nome não vale a pena ser mencionado) afirmava em 1984 que era cedo para proceder a uma análise detalhada e objetiva deste “complexo processo social e político”; ainda para mais dado que os “analistas” estiveram de alguma forma envolvidos no processo. Mas será esta confissão honesta da falta de distanciamento crítico capaz de explicar o desencontro?

Numa contribuição para a revista Punkto, Luhuna de Carvalho explora no desenvolvimento do capitalismo em Portugal as razões para, ao contrário de outros contextos deste ciclo global de lutas - os vários maios de 68 - o português não ter desenvolvido uma teoria, uma linguagem sua e um conjunto de ideias próprias - um PREC’ismo. O contexto português é aqui específico porque só com o fim da ditadura surge a possibilidade de institucionalização de uma “especificidade intelectual” criativa, progressista, moderada que sintetize e incorpore em si os “interesses da nação”. Esta classe intelectual, subserviente ao Estado e ao serviço da consolidação democrática, assume assim uma função de “educadora do povo”. Nessa posição, a academia não poderia tornar inteligível as experiências revolucionárias do PREC senão como excessos da transição democrática“senão como uma ameaça, pondo em causa o pacto social que assegurava o seu lugar”. É a consolidação de uma Antropologia (até então débil) no pós25 de Abril que subjaz as limitações epistemológicas e temáticas que levaram a este desencontro. E por mais “progressista” que se apresente, só uma auto-reflexividade da posição da disciplina no tecido social pode fazer com que não tenha um papel ofuscador nas explosões que virão.

Ó cravos de abril, lindos e formosos, Que tingidos são como a nossa bandeira: Vossa verde pintura é da esperança padroeira, E nela residem os esforços valorosos Daqueles que lutaram por dias calorosos. E essas pétalas, cor de sangue, encarnadas, Que a infinitas vitórias estão destinadas, Foram por todos nesse dia honradas.

São o timbre da nossa abnegação verdadeira, Da nossa alma que já não prisioneira.

É eterna essa madrugada de abril, Que num grande frenesim militar, Veio ao povo da tirania libertar.

Foram corridos o poderoso e o vil, E no seu lugar tratou-se de instituir Algo capaz de a alegria restituir.

Juntou-se a arraia em Lisboa celebrando:

Nos canos das armas os cravos se erguiam, E gritos de vitória pelas ruas se ouviam. Clamavam todos com grande emoção, Que estava na hora de fazer a revolução.

Em toda a parte os belos cravos floresceram, E infinitas bondades ao povo prometeram.

Dali até hoje a democracia imperou, E ninguém nunca mais a derrotou.

Ricardo Dias (Submissão Externa) e Mar Ferreira

Uma arma,

Um Cravo

Faço parte da primeira geração livre de Abril. A que nasceu durante um sonho lindo

Como tantos outros, a primeira banda que vi ao vivo foi Xutos e Pontapés, mas com uma pequena particularidade: foi durante as celebrações do 1º de Maio de 1986 no Parque Eduardo VII, onde nunca mais aconteceu. Nessa altura ainda não entendia nada de política Não me parece que hoje já entenda alguma coisa. Pelo sim, pelo não, resolvi ir aos arquivos da RTP antes de dizer grandes disparates do alto de uma memória fantasiosa O que por lá encontrei foi, no mínimo, revelador das

idiossincrasias da Revolução

A festa do trabalhador foi celebrada pela classe média com a presença de um grupo folclórico e “[ ] alguns grupos musicais que fazem honras ao rock português animaram a gente nova[...]”. Estaria a ver o vídeo certo? A narração parecia saída da Emissora Nacional

Pelos vistos, Vítor Constâncio era candidato à presidência do PS e aproveitava a festa organizada pelo seu camarada Torres Couto, na época Secretário-Geral da UGT, que congratulava a Assembleia da República pela aprovação da Lei de Salários em Atraso

“O Governo [de Cavaco Silva] não foi elogiado nem criticado”, prosseguiu a voz da jornalista Que expressão curiosa no novo Portugal democrático.

Doze anos depois da Revolução e na vanguarda do progressismo, ao povo continuou a dar-se folclore e, na loucura, algum rock. A reportagem, essa, parecia dar uma no Cravo, outra na ferradura

Nos anos que se seguiram, os salários na administração pública deixaram de estar em atraso. Construíram-se estradas para desenvolver o interior, que o desertificaram Construiu-se um setor terciário, que fez acreditar que terra era coisa de pobre. Construíram-se centros comerciais e prédios residenciais No verão passámos a ter incêndios durante as novelas em que se tornaram as transferências de jogadores de futebol A inflação está controlada e ninguém ousa colocar em causa uma União Europeia em que a extrema-direita é cada vez mais protagonista, refletindo as tendências em cada Estado-Membro. E como parece que a História do Século XX português se faz de retornos, tive o prazer de ver regressar algumas das mais ilustres famílias de poder do Estado Novo ao seu business as usual Perderam a indústria química e a banca, é certo, mas estão fortes no futebol, na saúde, no imobiliário, e mais num sem fim de negócios a que damos tanta importância quanto à stock music. Tudo são verdades com as quais alguns cidadãos se desculpam para justificar o voto nas varejeiras

Mas também é verdade que hoje o lugar da criança é na escola até aos 18 anos. Vi o zinco desaparecer da cidade e dos seus subúrbios Sinto-me protegido de pandemias e não vejo as crianças deste país desaparecerem com doenças tolas. Vi filhos de pescadores tornarem-se médicos, advogados, arquitetos, biólogos, empresários, ..., e a cunha, embora não totalmente coisa do passado, deixou de ser dívida para gerações futuras Só tenho receio de quem mantém o poder financeiro, mas não do Estado, que ainda é de Direito

A opressão continua, sim, e tem de ser combatida. As desigualdades aumentam e as margens ainda nem sequer ganharam a dignidade que devia ser natural Sou tentado muitas vezes a pensar, do conforto de ter nascido em 1980, que é uma pena não terem rolado cabeças em 1974 Mas aí Abril teria sido diferente, já não teria sido um sonho lindo, quase acordado E eu sinto-me mais Celeste, porque acredito que melhor do que uma bala fica um Cravo no cano duma G3

A Luta continua SEMPRE!

Cornucópia de abril

Que todos eles recebam nas suas mãos as sementes dos cravos que estão por plantar. Que estas lhes sejam enfiadas pela boca a dentro, sobrevivendo ao fel venenoso que jaz no interior. Que lhes nasçam raízes pelos pés. Que estas lhes rasguem a carne e os amarrem ao chão, sem possibilidade de desviar o olhar. Que os façam beber do alcatrão que se encontra sob as solas. Que os rebentos que estão por desabrochar naveguem pelas suas artérias e lhes purifiquem o sangue amargo. Que se dirijam ao coração e o bombeiem, que o façam bater ao ritmo do cronómetro da paz. Que lhes imobilizem os membros, os atem como os prisioneiros e mortos que os antecederam. Que as flores lhes tapem a garganta, que os calem para todo o sempre. Que tussam eles pétalas por entre insultos intemporais. Que lhes rompam pelo ventre o típico vermelho, mas também o rosa e branco. Que os estames lhes adornem a raiva. Que sejam eles os cravos desta revolução.

Revolução à Portuguesa

O vento de março sopra, traz a febre primaveril. As gentes ouvem-no, inquieto, a anunciar que vem abril.

Quando chega, águas mil escorrem sem parar. Por entre pedras, aos canteiros, os cravos vão regar.

Se chove, que chova revolta, que faça estremecer Portugal com passos que marcham firmes na calçada tão nacional

Não há mês mais irritado do que abril zangado e, no furor despertado, força o seu legado

A vontade celeste, que nomeia a insurreição, impulsionada pelo clima agreste, não se verga à oposição.

Cai o silêncio, ruge a cidade, o povo corre nas ruas molhadas, sabendo que história foi criada, ecoa, numa só voz, “Liberdade!”

E dos cravos há-de florir o maio, de renovado vigor, fruto da luta deste mês, filho da revolução em flor.

Que reste a tempestade, a memória imortal, de que no peito da nação abril será sempre temporal.

Sexta questão, e mais recente, 50 anos passaram, o mundo, a Europa e Portugal mudaram. Aquilo tudo que foi sumariamente invocado não ficou ultrapassado?

Os mais novos desconhecem parte destes 50 anos. Muitos dos menos novos dele têm recordações distantes. Apareceram novas ideias, novos movimentos, novos partidos, novos parceiros, novos fenómenos mediáticos, novos problemas sociais, a somar aos antigos, desafios externos a agravar-os no foro doméstico.

No que correu bem, ou muito bem, no após 25 de Abril, na saúde, na educação, nos direitos fundamentais, no papel da mulher, na atenção aos excluídos, na solidariedade social, na mobilidade, na abertura, na tolerância e, tanto mais, muito parece ser já de outros tempos ou precisado o impulso de novas gerações, ideias e pessoas, é inevitável e é bom que assim seja.

Antes que abril, que os estudos recentes de opinião mostram que é partilhado como um marco histórico único na nossa vivência coletiva, em percentagens esmagadoras, fique ou acabe purificando saudosismo, nostalgia, mais passado do que futuro. O que fazer, como fazer? Tomar aquilo que de mais forte, mais duradouro, mais redentor, mais promissor, tem Abril e com isso ir recriando Portugal. E esse valor único, singular, que nunca morreu, nunca se apagou, nunca se enfraqueceu, chama-se liberdade, democracia e vontade do povo. Então reconheçamos essa força vital da democracia e tenhamos a humildade e a inteligência de preferir sempre a democracia, mesmo imperfeita à ditadura São democracias, mesmo inacabadas, as sociedades mais fortes e criativas do mundo. Como são as humanamente melhores, como são as ambientalmente mais avançadas, como são as mais livres, mais plurais, mais abertas, menos repressivas, menos persecutórias, menos intolerantes, menos aversas à diferença, mais abertas a todos, mesmo a todos, incluindo aqueles que contestam em todo ou em parte a essa democracia. Há na qualidade mais democráticas e menos democráticas? Sim, consoante a qualidade política ser acompanhada pela qualidade económica, social e cultural, no fundo a igualdade Mas ninguém quer trocar uma democracia menos perfeita por uma ditadura, ainda que sedutora ou escondida por detrás de tiques iliberais. Nós, em Portugal, não queremos. Queremos é maior qualidade económica, social e cultural para dar força a melhor qualidade política Excelências, Portugueses, comecei as minhas palavras recordando o constituinte de vinte e poucos anos que eu era a votar há 48, levantado na última fila do hemiciclo, além, entre o centro e a direita, a Constituição da República Portuguesa em liberdade, com uns a maioria esmagadora a aprovar, com outros em liberdade a rejeitar Termino com uma memória uns anos mais antiga, no final dos anos 60, sentado na terceira fila da galeria, ironicamente, por detrás da futura bancada de 76, acompanhado de colegas estudantes universitários, olhando para os que falavam, e todos eles escolhidos um a um, por uma pessoa e só ela: líder vitalício ou líder sem prazo do partido único não assumido, aqui chegados por vontade do chefe, não pela vontade do povo. Um hemiciclo tão diferente, tão oposto ao de 76, ao dos últimos 50 anos, ao de hoje, um hemiciclo de escolha popular seria impossível de encontrar, em 35, em 45, em 55, em 65, em 24 de abril de 74, definitivamente o caminho que queremos não é esse, o da ditadura, é outro da democracia, mas o de cada vez melhor, muito melhor democracia, pelo futuro de Portugal Viva o 25 de abril, viva a liberdade, viva a democracia, viva Portugal

Excerto do discurso do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa na Sessão Solene Comemorativa do Aniversário de 50 anos do 25 de abril, a 25/04/2024 Fonte: Público

A PRECARIEDADE EM CENA

“Cinquenta e um anos passados, a cultura, livre, acessível e democrática, continua por se concretizar plenamente.”

É certo que o lápis azul foi abolido, mas será que, cinquenta e um anos depois do final da noite fascista, a produção e fruição cultural são realmente livres e democráticas? Não será a precariedade do setor da cultura uma reinvenção do distanciamento entre o povo e a Arte?

Não contornando a liberdade de pensamento e de criação cultural que Abril, o seu projeto e seus defensores abraçam, é certo e sabido que os sucessivos governos e respetivos orçamentos do Estado não correspondem àquela que é a referência emancipadora de Abril, esplanada na Constituição da República Portuguesa de 1976, na qual se lê: “Incumbe ao Estado, em colaboração com todos os agentes culturais- Incentivar e assegurar o acesso de todos os cidadãos aos meios e instrumentos de acção cultural, bem como corrigir as assimetrias existentes no país em tal domínio;”

Ora, em Portugal, ouve-se o povo a gritar, há anos, pela concretização do um por cento para a cultura Será pedir muito? O que será de um país sem cultura? Porque nos calam? Que se compare o nosso orçamento para a Cultura com outros países da Europa Resume-se, enfim, numa elitização da Cultura e na debilidade do Ensino Artístico português, mal gerido, mal pago e sem equipamentos suficientes Estamos ainda muito atrás na corrida, mas isto vai, meus amigos, isto vai

Há alguns avanços feitos, como é o caso da aprovação do estatuto do trabalhador da Cultura, em que se destaca o trabalho do Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (CENASTE) para que este se faça, efetivamente, cumprir Mas há, também, muito por fazer Nos mais variados setores da cultura sente-se o cansaço e o mês a mais para o salário Porque muitos dos trabalhadores trabalham fora de horas, como, por exemplo, os atores, que são vistos como “freelancers”,vi

vendo toda a vida a recibos-verdes

Se obrigados a cumprir horários, seja na rotina de ensaios ou espetáculos, porque não beneficiam eles de um contrato efetivo de trabalho? São escolhas e má vontade política, muito resumidamente. Faltam-nos, também, as casas do Teatro, insuficientes e a fechar constantemente Afinal, as companhias de Teatro ensaiam exaustivamente e acabam por estar em cena por escassos dias, por não terem uma casa para chamar de sua Não têm onde se fixar e, consequentemente, não conseguem criar e acarinhar um público Com os elevados preços dos bilhetes, o constante frenesim de troca de sala de espetáculos, a vida precária dos atores, fruto dos recibos-verdes, tem-se um Portugal onde ir ao Teatro, infelizmente, é uma exceção à rotina. Não tem de ser assim! A Cultura não tem de ser um luxo!

sídios” públicos, que nem sempre abarcam as despesas de equipamento e os salários, o que resulta em horas de trabalho não pagas, para que os filmes se materializem. Também os produtores são obrigados a criar uma empresa para fazer filmes, indo contra a ideia de que a Arte serve para um povo se expressar e estimular intelectualmente, alimentado, ao invés, a ideia de que tudo serve para gerar lucro.

As liberdades estéticas, técnicas e temáticas que Abril defende e trouxe ao de cima são postas em causa quando os júris do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), que decidem quais filmes são financiados, são quase sempre os mesmos, sem renovação e em vários concursos A democracia, onde está? Quem são estes iluminados que acabam por decidir, ano após ano, a expressão audiovisual de um país? Não será isto uma censura disfarçada?

As bases do Cinema Português têm, objetivamente, de passar pela garantia de uma vida digna aos seus trabalhadores; pela realização do potencial e da expressão artística individual e coletiva; por uma indústria não virada para o lucro e por um maior financiamento e democratização do ICA

Cinquenta e um anos passados, a cultura, livre, acessível e democrática, continua por se concretizar plenamente O que vemos hoje é um setor cultural asfixiado pela precariedade, pelo subfinanciamento e por uma elitização da arte Pelas cidades, alfarrabistas são obrigados a fechar para dar lugar a Fnac’s e outras grandes empresas que tais; um trabalhador não tem dinheiro para frequentar o Teatro ou o Cinema; o Ensino Artístico português é deficitário; os trabalhadores da cultura vivem dependentes de subsídios ou de recibos-verdes Não há estímulos em Portugal para se viver, respirar e abraçar a Cultura que é nossa por direito. Cabe a todos nós a defesa da Cultura, a luta por um maior investimento público nas suas diversas vertentes e, por fim, mergulhar nela profunda e inteiramente

“sub-

Analisando, agora, o Cinema Português sobre o qual, à primeira vista, pouco se tem a acrescentar: bons filmes, de facto, têm sido feitos; a liberdade temática e criativa parece inegável; as nomeações e premiações são nacionais, mas também mundiais. Mas não será o glamour das galas uma forma enganosa de esconder a precariedade dos trabalhadores do Cinema em Portugal? Factualmente, a falta de verba faz com que estes trabalhadores vivam à espera de

Carolina Ramos e Cyndelle Ferreira

FAHRENHEIT 451 E COMO RESISTIR AO FOGO

Assistimos, de variadas formas, ao apagar das luzes. A censura volta a ser uma preocupação corrente no mundo ocidental. Deparamo-nos, em choque, com os livros, as imagens e as palavras proibidas. No entanto, os métodos mais escancarados de silenciamento talvez não sejam os que geram as feridas mais profundas.

Alguém não quer que pensemos, isso torna-se cada vez mais claro na forma como passamos a consumir informação, através da alimentação ininterrupta por algoritmos destinados a raptar a nossa atenção. Tudo é transformado em entretenimento e distração. Os debates tornam-se cada vez mais rasos, são poucos os argumentos que podem ser desenvolvidos através de headlines lidas numa história do Instagram, entre o anúncio da gravidez da influencer x e a foto do amigo de um amigo na Praia das Maçãs.

São diversas as obras que retratam futuros autoritários distópicos, muitas delas demonstram diretamente

de que forma o controlo da informação é um pilar para a manutenção do autoritarismo. Recentemente, num reencontro com Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, a linha entre distopia e realidade transformou-se num traço muito claro. No livro, os bombeiros não precisam mais de apagar fogos, têm uma nova função, queimar e destruir, impedir que o pensamento perturbe a paz. Os livros têm de ser incinerados, considerados impulsionadores do conflito e do sofrimento. O que pode ser consumido é aquilo que não levanta questões, apenas produz satisfação e alienação de um mundo em chamas.

Em Fahrenheit 451, o clímax da história dá-se no confronto entre Guy Montag, a personagem principal, e Beatty, o seu chefe no trabalho como bombeiro. Neste diálogo, Beatty revela que, antes mesmo dos livros começarem a ser queimados, eles deixaram de ser lidos, a manipulação da informação fez com que os livros fossem abandonados: “E, vê bem, Montag, o Governo nada teve que ver com isto. Nem um decreto, uma declaração ou censura, a princípio. Não! A tecnologia, a exploração do fator massa, a pressão exercida sobre as minorias e, aí estamos, a coisa estava lançada.” O trabalho da censura não partiu da proibição, mas sim do afastamento da população da sua capacidade de pensar, questionar e discordar, o afastamento de tudo que poderia gerar faísca que ilumina ao invés de destruir:

“Encham os homens de informações inofensivas, incombustíveis, que eles se sintam a rebentar de "factos", informados acerca de tudo. Em seguida, eles imaginarão que pensam e terão o sentimento do movimento, enquanto realmente apenas se arrastam”.

Os bombeiros viriam depois, para eliminar as possibilidades daqueles que, mesmo diante de tantos esforços, persistiam em movimento, para incinerar as bibliotecas daqueles que, mesmo diante de todo o risco, compreendiam o desperdício de uma vida cedida à alienação.

Verdadeiramente, é preciso pensar, é preciso retornar aos livros, ao debate e ao desconforto. O estado do mundo torna esta atitude cada vez mais difícil, oferecem-nos facilitadores - as tecnologias que teoricamente servem para poupar o nosso tempo. Porém, cada reflexão delegada à inteligência artificial é um passo em direção ao arrastamento, é um passo em direção à inércia do fogo.

De que vale o tempo que o ChatGPT nos poupa se vamos utilizá-lo para acelerar a transformação das nossas comunidades em massas disformes consumidoras de conteúdos rápidos, sedentas por satisfação imediata?

Na confusão em que nos encontramos, para resistir ao fogo - que se alastra de forma desgovernada - é preciso persistir em movimento.

NO OTHER LAND

“A arte da vida assemelha-se à arte da luta”

Marco Aurélio

A injustiça, a guerra, o genocídio, a calamidade que atinge a Palestina há mais de 70 anos nos apavora tanto quanto nos desespera. Sentimo-nos impotentes, não entendemos como é possível que, num mundo onde se homenageia todos os anos as vítimas do Holocausto, também se censure conteúdos que expressam a urgência da paz no território palestino. Como analisar, mas, sobretudo, que conclusões tirar de tal situação?

"No Other Land", um documentário co-dirigido por Basel Adra, ativista, jornalista e advogado palestino, e Yuval Abraham, jornalista israelense, ao longo de 5 anos, expõe a aniquilação de Massafer Yatta, uma comunidade de cerca de vinte aldeias beduínas na Cisjordânia, um território declarado “ilegítimo” pelo Estado de Israel e disputado pelo exército contra os habitantes sob o pretexto de transformá-lo numa

Fonte: Goodreads
Carolina Ramos
Cyndelle Ferreira

zona de treinamento militar. Este documentário oferece uma visão concreta do “conflito israelo-palestino”. Vemos casas e escolas sendo evacuadas e destruídas, crianças assustadas, famílias desnorteadas, a morte repentina de um palestiniano executado por protestar contra a destruição de sua casa, uma mãe devastada pela morte de seu filho, vilarejos sem acesso à água: uma população perseguida impunemente por homens armados. Uma tentativa de extermínio lenta e esmagadora.

"Eles fizeram de nós estrangeiros no nosso próprio país“

O filme expõe a realidade injusta e dolorosa de uma região onde uma parte da população é segregada, privada de sua liberdade de circulação, onde os carros com placas verdes (dos palestinos) não podem circular fora da Cisjordânia, ao contrário dos carros com placas amarelas (dos israelenses), que têm liberdade para circular por todo o país. “Israel controla um mundo construído sobre a divisão: os homens verdes e os homens amarelos.” Árabes e judeus representam realmente uma ameaça existencial um para o outro? Trata-se mesmo de um conflito religioso? Seria ilusório e simplista pensar desta forma. O Estado de Israel foi construído sobre uma necessidade de unificação tão forte que o impulsiona há 70 anos a querer criar uma fissura irreparável entre judeus e árabes. Mas é importante notar que o povo não é o ator deste conflito, ele é a vítima. Judeu não significa sionista, e muçulmano não significa terrorista. O codiretor do documentário, Yuval Abraham, diz algo muito importante: “Como israelense, é muito importante para mim me preocupar, porque não acredito que possamos ter segurança sem a liberdade dos palestinos, que vivem sem direitos de voto sob ocupação militar.” A questão identitária é um subterfúgio usado para não revelar a verdadeira razão do massacre, que nada mais é do que uma busca por poder. Essa guerra é a concretização de uma teoria,

1 de uma visão das relações internacionais que defende a violência e o poder militar, o expansionismo estratégico e a rejeição da cooperação: o realismo ofensivo. A concretização de tal massacre é possível graças à existência (em massa) do que Joseph Gabel chama de “falsas consciências”. A ruptura com a realidade provocada por essa falsa consciência congela o pensamento e leva o indivíduo a uma perda do senso do concreto. A ideologia transforma conceitos vivos em abstrações rígidas (como não ser mais capaz de reconhecer o ser humano à sua frente, ver os indivíduos apenas como membros de uma classe social ou de uma etnia). Esse modo de pensamento impede a consideração das nuances e da complexidade da realidade e, como na esquizofrenia, cria uma lógica circular onde tudo é interpretado dentro de um quadro ideológico inatacável, empurrando à destruição tudo o que poderia questioná-lo. O homem, despojado de sua consciência, deixa de ser um homem e transforma-se num autômato. Um autômato que aterroriza uma criança inocente, destrói o lar de uma família, mata um semelhante. Hobbes diz que “O homem é um lobo para o homem”, ou seja, que os homens são, por natureza, seres egoístas e cruéis. Se esta for realmente a nossa essência, então talvez não seja possível escapar desta condição humana. Podemos acreditar nisso? É desejável acreditar nisso? Certamente não. A humanidade é um processo inacabado e em constante evolução, através do qual aconteceu – e continua a acontecer – a criação de uma nova humanidade. O Homo sapiens, ao longo de sua história, não nasceu humano: ele aprendeu a ser humano. A aceitação da diversidade identitária na Palestina é um desafio, uma luta, não uma impossibilidade, e o conflito, o massacre, não são inevitáveis.

O que mais choca neste documentário é a resiliência do povo palestino. A luta é constante e exaustiva, mas continua incansavelmente, porque é a força da causa que a motiva.

As casas e escolas que construíram com as próprias mãos são demolidas todos os dias, seus direitos lhes são retirados, até mesmo o acesso à água lhes é negado – mas eles permanecem, resistem, reconstroem à noite, porque aquela é sua terra. Na dor, na miséria e no perigo, ainda se vê união, humanismo e resistência: dignidade humana. A própria realização deste documentário é prova disso. Revoltar-se é informar-se, votar, falar, escrever, compartilhar: é não deixar a humanidade afundar, é não renunciar aos princípios de liberdade, dignidade e fraternidade.

“Pode-se, eternamente, recusar a injustiça sem deixar de saudar a natureza do Homem e a beleza do mundo? Nossa resposta é sim. Essa moral, ao mesmo tempo insubmissa e fiel, é, em todo caso, a única que ilumina o caminho de uma revolução verdadeiramente realista. Mantendo a beleza, preparamos o dia do renascimento em que a civilização colocará no centro de sua reflexão, longe dos princípios formais e dos valores degradados da história, essa virtude viva que fundamenta a dignidade comum do mundo e do homem, e que agora devemos definir diante de um mundo que a insulta.”

(O Homem Revoltado, Albert Camus) “NoOtherLand”,Documentário;Fonte:IMDb

STREET KIDS – TRAUMA (1982): A PÉROLA ESQUECIDA

DO SYNTHPOP PORTUGUÊS

Quando pensamos em Synthpop em Portugal, é possível que alguns destes nomes surjam na nossa cabeça, sejamos conhecedores do estilo ou não: Heróis do Mar, Sétima Legião, Rádio Macau, Da Vinci, Ban, GNR, THC, Kris Kopke, Poke, Ágata (sim, essa mesma, do “Perfume de Mulher” e da “Comunhão de Bens”, mas, para perceberem, ouçam “Mexe-te Mais Um Pouco”), e, no cenário mais atual, Os Capitães da Areia ou Margarida Campelo. O “incrível” desta história é que se esquece de um grupo que é, provavelmente, o responsável pelo Melhor Álbum do género em Portugal, os Street Kids, com o seu único LP, intitulado Trauma O grupo surgiu em Cascais no ano de 1980, tendo como membros Nuno Rebelo, Nuno Canavarro, Luís Ventura, Emanuel Ramalho (mais conhecido por Flash Gordon) e Eduardo Pimentel. Lançaram dois singles 7’’ em inglês (“Let Me Do It” e “Hospital Report”), produzidos por Luís Filipe Barros e Mike Sergeant na VDC, editora ligada à Valentim de Carvalho, até ao ano de 1981. Em 1982, surge a oportunidade de gravarem o seu único LP, sendo este totalmente em português: Trauma Trauma é um álbum semiconceptual, com nove faixas sobre as contradições e problemas da sociedade capitalista e de consumo, que as critica e mostra, de forma muito bem conseguida, que vivemos numa realidade extremamente cyberpunk (low-life and high tech). Apesar deste LP fazer os seus 43 anos, é urgente uma audição atenta deste, nem que seja pelo menos uma vez, pois permanece extremamente atual, mencionando vários problemas como a sociedade de consumo (“Propaganda”); a guerra, seja a posição da participação do indivíduo em guerras sem sentido (“Tropa Não”) ou os conflitos atuais, como a guerra contra a Palestina pelas ações terroristas do Estado de Israel, através de uma música somente instrumental (“Israel”); a poluição atmosférica (“Tóquio Ano 82”); a estandardização e “zumbificação” conformista do indivíduo devido à

sua exploração (“Tóquio Ano 82” e “Nunca Pensei Que Te Anulasses Tão Bem!”); a falsa sensação de liberdade (“Tubo D'Ensaio”); a falta de condições de vida em detrimento da evolução científica e tecnológica (“Progresso”); entre outros assuntos.

O álbum apresenta uma sonoridade com maior destaque nos sintetizadores em relação aos singles anteriores, apesar da formação clássica do Pop/Rock de guitarras, baixo e bateria, e muito graças a Manuel Cardoso (mais conhecido por Frodo, dos Tantra) estar encarregado da produção do álbum, que, além de Lenda Viva do Rock Progressivo Nacional, também era, nos anos 80, um grande entusiasta do Synthpop com álbuns a solo do género, fazendo com que os Street Kids se afastassem da sonoridade mais próxima do Post-Punk, audível nos dois singles anteriores, para abraçarem o Synthpop como um todo, sendo uma obra incomparável aos restantes contemporâneos nacionais, nos quais os sintetizadores não ganham tanta expressão como neste álbum, tornando-o algo bem à frente do seu tempo.

Infelizmente, Trauma não se encontra disponível nas plataformas digitais como Spotify (exceto a faixa “Propaganda”) nem nunca chegou a ser editado em CD, levando-o a ser um álbum esquecido pelo tempo. Mesmo assim, a sua digitalização através do vinil está disponível na íntegra no YouTube.

[para eles e por mim]

Raquel Francisco

Em terra calma

Longe do mar Ninguém notou nada.

A Revolução não veio

O trigo mal chegava

Os dias não encurtaram

E ninguém cantou:

Liberdade! Liberdade!

Porque longe do centro

Nunca soube a verdade...

A vida seguiu

E como brisa breve

A mudança tornou-se norma,

Da democracia fez-se casa

E os filhos dos filhos cresceram

Sem conhecer a época onde palavra

Era a mais perigosa e sagrada

A mim,

Deixaram de fazer tranças

Já não tinha idade; Eu queria ser grande

Mas não gostei de crescer

Ainda estou à espera da liberdade.

Em pés de lã percorro o mundo

Em roupa larga me escondo e fujo

Vou com cuidado

Como me ensinaram

Porque todo o cuidado é pouco

Pode acontecer em qualquer lado

Preciso de água benta

Para purgar os olhares de mim.

Compro flores e rego plantas

Tento que não acabe em mim a herança

De uma vida campestre

Onde ignorância era chave…

O mundo rebobinou, Tento adaptar-me.

Uso tranças todos os dias. Não ajuda.

Para teres Liberdade

Beatriz F. Santos

Quem sabe hoje viver em liberdade

Para ela, não há idade

Mas os nossos avós nada ou pouco podiam fazer

Não se fala de lazer

Mas da luta que foi para o 25 de abril acontecer.

Para se ultrapassar a guerra

Tiveram de existir guerreiros Corajosos

Para teres liberdade

Na luta, fizeram-se companheiros

Viveram-se anos de fúria, raiva, desprezo

Por algo que não tem preço

Corajosos, dormiam ao espreitar

Da lealdade com o povo português

Viva o cravo, embora não respeites o teu próximo

Viva a livre expressão, embora não o respeites

Vivam as mulheres, que são abusadas

Vivam as crianças; e as crianças?

O que fazemos delas..?

Manifestação de Vigor

Inês Fonseca

arrancaste a sutura do que restou lembrando a queda sem recordar a dor lendo atos por quem cegou por entre cicatrizes de autor

não precisaste de beijos na ferida só de uma noite bem dormida sempre soubeste quanto valia a força no mercado da apatia

nunca abriste a carteira a tal café gentrificado fizeste questão de passar na passadeira com sinal vermelho, fechado

tu não, enquanto eu anui, ganhaste medos de ti. nunca te vi cruzar os braços em casacos apertados

vives como és, lutas com pesadelos e se não der certo, desfrutas do embaraço dos teus cabelos menina de cravo ardente, ora grite pela gente! quem sabe se a resposta não vem com a brisa se um dia a liberdade não se eterniza.

José Miguel Perfeito

OS ANJICIDAS

São oito e meia da manhã e a merda do meu comboio está parado na Gare do Oriente há meia-hora. Ou quinze minutos. Não tenho a certeza. Hoje não dormi. Quando não durmo, perco a noção do tempo, como se o meu corpo inconscientemente ignorasse tudo o que é humano. Até andar parece-me a mim, nestas alturas, algo extremamente pensado. Tenho de falar com as minhas pernas e esperar que elas me ouçam, como uma máquina numa fábrica abandonada, cujo responsável já cerrou os olhos há muito. Fico completamente desligado. Às vezes pergunto-me se tudo isso, essa falta de dormida, é-me imposta por mim próprio, um castigo. Castigo por me permitir entrar em estados depressivos, sem fazer nada, sem sentir nada. A minha alma não funciona e por isso não permito também que o meu corpo funcione. E depois quero matar-me. Quero matar-me pois sou realmente apenas um saco de cabedal com coisas molhadas lá dentro. Como um almoço velho de que nos esquecemos na nossa mala durante um mês Como um almoço, ninguém se lembra de mim

Sempre detestei o meu nome tanto quanto o amei e exactamente pela mesma razão: é reconhecível, ofusca-me Todos sabem o meu nome, como ecos que se multiplicam E eu, onde me encaixo? Sinto-me embriagado pelos reflexos de quem eu sou nos olhos dos outros

Estão sempre a dizer-me que estou nos melhores anos da minha vida, mas, se assim for, devo acabar com ela aos trinta. De que me serve uma vida cuja melhor parte é esta palhaçada de merda em que me encontro agora? Acho que talvez sinta que não tenho o direito a ser feliz, porque olho em volta e vejo raparigas de quinze anos a ser violadas em vídeo por bestas da minha idade e vejo os meus vizinhos a compartilhar esse vídeo. Porque há pessoas a ser feitas em carne picada a três países do meu e eu não faço nada porque convenci-me a mim mesmo de que não posso fazer nada para os ajudar. Aconcheguei-me no meu privilégio.

A verdade é que tenho medo. Medo de tentar a sério e perceber que realmente sou inútil. É assim desde que andava na rua com a minha irmã e um homem que eu não conhecia nos seguia de perto, apenas porque ela era bonita. Lembro-me de querer virar-me para trás e espezinhar a cara dele até que fosse Nestum. Lembro-me de pensar que um dia seria capaz de protegê-la, de pensar no que é que teria acontecido se eu não estivesse lá naquele dia. Não compreendi o que se passava, mas percebi que ele era mau. Que aquilo era injusto. Lembro-me de pensar no que é que faria se fosse a minha irmã aquela rapariga em Loures.

Sou o mais novo de sete irmãos e, se o monstro do tempo correr como deve correr, vou ter de os ver a todos morrer. E não vou poder fazer nada. Sou inútil. Sou um covarde. Mas vocês o que são? Com os vossos stories de luta e posts de resistência? Enfiem-se no meio da lama a levar com bombas na tromba e aí acredito que são mesmo anjos da guarda. O ser-humano não sabe porra nenhuma sobre anjos da guarda, já os mataram a todos. Nós somos o animal mais desnecessário, o mais violento Nós somos os anjicidas

E para vocês, pequenos grandes senhores que se escondem nos vossos gabinetes a delegar palavras genocidas: se querem assim tanto ver sangue escorrer, façam-nos um favor e matem-se uns aos outros

Sabes quando é que surgiu o Dia Mundial da Terra?

22 de abril. Dia Mundial da Terra. Há 16 anos foi considerado pela Organização das Nações Unidas como uma data a celebrar. E porquê? Porque é necessário sensibilizar para temas como a sobrepopulação do nosso planeta, a poluição e a importância da conservação da biodiversidade.

Ao contrário do Dia da Floresta (21 de março) e do Dia da Água (22 de março), que surgiram após conferências, o Dia Mundial da Terra nasceu de um grande movimento estudantil. A primeira manifestação a favor desta causa aconteceu no dia 22 de abril de 1970. Promovida pelo senador e ativista norteamericano Gayrold Nelson, esta manifestação juntou mais de 2 mil universidades, 10 mil escolas primárias e secundárias, entre centenas de comunidades diferentes. Nelson acabou por propor a criação de uma agência ambiental que estivesse exclusivamente direcionada para o problema da sustentabilidade e da natureza.

A escolha do dia 22 de abril pelo senador Gayrold Nelson não foi mera coincidência. Nelson pretendia maximizar a participação de professores e de estudantes e, por isso, sabia que tinha de ser uma data em que não existisse nem férias, nem exames. Para além disso, teria de ser um dia que não tivesse a si associado qualquer compromisso religioso, como a Páscoa. Ser um dia de primavera, com sol e sem risco de chuva foi também algo pensado pelo senador. Nesse sentido, o dia 22 de abril acabou por ser escolhido

A partir desse ano que este dia é celebrado globalmente, com várias iniciativas que procuram consciencializar para a importância de preservar o nosso planeta. Hoje, este tipo de datas e de celebrações acaba por ter um outro papel. A emergência climática que o nosso planeta atravessa aumenta, ainda mais, a relevância deste dia. Há que consciencializar a populaçãoe, principalmente, os grandes atores políticos - para a necessidade de proteger o planeta Terra, especialmente se quisermos continuar a viver

Este movimento foi organizado durante dois anos, após o Simpósio de Ecologia Humana, organizado, em 1968, pelo Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos. Nesta conferência ambiental, que deu mote para a data que viria a ser celebrada todos os anos, o professor Morton Hilbert reuniu cientistas e especialistas para que falassem a estudantes sobre os efeitos da deterioração da biodiversidade na saúde humana.

Foto: Freepik

Manifestaçãoambientalde1970emNovaIorque,EUA

As Descobertas de Nuno Folha

O Amor em Tempos de Guerra

Estamos na semana de férias de Páscoa. está uma tarde solarenga de abril (um fenómeno pouco habitual), e Nuno Folha decide ir visitar os seus avós. Ao chegar, depara-se com o cenário que comumente encontra: a sua avó sentada num cadeirão a ler um livro, enquanto o seu avô está numa pequena escrivaninha a fazer palavras-cruzadas e ouve música no seu gira-discos.

- Olha, que visita mais boa! Como está o meu neto mais curioso? – pergunta a avó de Nuno.

- Estou bem, avó. E vocês?

- Cá estamos; a aproveitar mais um dia. E tu, que fazes por aqui, meu amor?

- Estava um pouco aborrecido e queria ouvir uma das vossas histórias. E já que estamos em abril...

- Pois, que seja. Que queres saber ao certo?

- Na verdade, gostava de recuar um pouco mais. Tu e o avô sempre falaram de como o 25 de abril foi importante para vocês. Contudo, como é que foi a tua ida para Angola, avô, e como é que tu e a avó se conheceram?

- Para isso, teremos de recuar até 1968, meu rapaz. Nesse ano, eu tinha terminado aquilo a que vocês chamam agora de 12.º ano. O que foi, na verdade, uma grande conquista para mim. Jamais imaginaria que fosse chegar tão longe, porque os meus pais viviam em condições bastante precárias. Mas, infelizmente, isso não foi suficiente para que não me enviassem para a guerra. Três meses depois de terminar a escola, já

estava a caminho – faz uma pausa no discurso, como se estivesse a fazer um grande esforço para pensar, sendo que esta procura, ao mesmo tempo, provocava-lhe grande dor. – Foi muito difícil deixar a minha casa, o meu bairro, a minha cidade. Deixei os meus amigos para trás, os meus pais desfeitos em lágrimas e a alegria de viver ficou em Portugal.

Nuno Folha olha para o avô com preocupação. Seguidamente, repara que a avó agarra a mão do marido, como se o estivesse a amparar.

- A verdade, Nuno, é que ninguém imagina a dor e o sofrimento que se sentem num cenário como este. Vês inocentes a serem perseguidos, vidas a desaparecer à frente dos teus olhos. E foi assim durante 6 anos. –Desvia o olhar para a mulher e prossegue: - A única coisa boa que esses 6 anos me trouxeram foi o amor da minha vida. Eu e a tua avó conhecemo-nos a 13 de junho de 1970. Estava numa fase de extremo esgotamento. Quando a vi, algo me puxou para ela, e, à medida que nos fomos conhecendo melhor, partilhando as nossas inquietações e frustrações, creio que, de alguma forma, nos salvámos um ao outro. Começámos a namorar, mas só conseguimos casar depois do 25 de abril, por isso foi uma data tão importante para nós e que fazemos questão de celebrar todos os anos. O nosso amor nasceu no meio do horror, mas só depois de esse horror terminar é que foi vivido na sua plenitude. Demorámos uns quantos dias a saber da Revolução, mas foi uma alegria enorme quando soubemos. Voltámos para Portugal um mês depois, decidimos que queríamos viver a nossa vida aqui, prosseguir os nossos estudos e criar a nossa família.

- As pessoas da minha idade não têm mesmo consciência do que é viver no meio de uma guerra e de como é ser governado por um ditador fascista. – é evidente um tom de abalo na voz de Nuno.

- Não têm, meu filho. A verdade é que não têm mesmo. – afirma o avô de Nuno enquanto lhe escorre uma lágrima para cara.

ilustrações por victoria leite - @ivileg7

Vendem-nos Sonhos, mas Cobram-nos Renda

Helena Gregório

Hoje, mais do que nunca, as crianças estão a crescer a ouvir (e, esperamos, a sentir) que são livres. Que podem ser quem quiserem, dizer o que quiserem, amar quem quiserem. Mas não é sempre que somos avisados de que a liberdade vem com um peso que nem sempre sabemos como carregar. É como olhar para um documento em branco do Word, afogado em infinitas possibilidades. Um amigo a agonizar sobre um menu de restaurante porque “tudo parece bom”. O temido “E agora?” depois da licenciatura. A revolução deu-nos a liberdade. Mas nunca nos deu um manual de instruções.

Os nossos avós lutaram por coisas concretas - o fim da ditadura, direitos laborais justos, uma democracia. Em teoria, temos tudo aquilo com que eles sonharam; porque é que nos sentimos tão perdidos? A liberdade era suposto ser um poder, mas às vezes parece que fomos atirados para um labirinto sem mapa. Os nossos avós sonhavam com um país onde ninguém fosse preso por pensar de forma diferente, e agora estamos presos no medo de fazer a escolha errada.

Podemos dizer o que quisermos, mas temos medo de ser mal interpretados. Podemos ser o que quisermos, mas a maioria de nós não faz ideia do que isso seja Dizem-nos para sonhar em grande, mas os preços da habitação não nos deixam descansar. A liberdade deu-nos a promessa da possibilidade. Mas ninguém nos disse que a possibilidade não vem com garantias. A liberdade nem sempre é sinónimo de poder. Não paga a renda. Não garante um futuro.

O ensino básico público é gratuito, mas será que o ensino superior público é acessível? Podemos votar - mas quantas vezes ouvimos as pessoas perguntarem-se em voz alta se isso muda alguma coisa? Dizem-nos que temos “todas as oportunidades”, por isso (pelo menos subconscientemente), se falharmos, só nos podemos culpar a nós próprios. Os nossos avós lutaram pelo direito de falar; nós lutamos para sermos ouvidos. Eles marcharam por uma vida digna; nós tentamos convencer-nos de que a dignidade não é um luxo.

Dizem-nos que podemos ser tudo, mas quantos de nós sentem que têm escolha? Quantos de nós conhecem pelo menos um aspirante a artista que trocou os seus sonhos por uma carreira “segura”? Um licenciado que se espera que esteja grato por um estágio não remunerado que, por vezes, não lhe acrescenta mais nada enquanto pessoa do que uma linha no seu currículo. A pressão vertiginosa para fazer algo significativo, que muitas vezes leva ao esgotamento. Dizem-nos que podemos escolher o nosso futuro. Mas, na maior parte das vezes, ele já foi escolhido por nós.

Imagine dizer a alguém em 1974 que, em 2024, os estudantes mal poderão pagar um quarto enquanto os bilionários fazem turismo espacial? Parece ficção científica, mas é apenas capitalismo. Que podemos estudar em qualquer parte da Europa (mesmo sem propinas em alguns países) mas que não podemos pagar a renda nas nossas cidades. Que podemos tweetar o que quisermos, mas falar na aula ainda parece arriscado. Gritamos “25 de abril, sempre!” Mas, por vezes, parece que abril é tudo o que resta. O “sempre” foi posto em espera.

A nossa luta não é contra armas ou polícias políticas secretas. É contra os estágios não remunerados que dizem ser oportunidades, contra a exaustão mental disfarçada de produtividade, contra um mundo onde tudo é possível mas nada parece correto.

Talvez a liberdade não seja sobre o que podemos fazer, mas sobre o que nos atrevemos a fazer.

Talvez a revolução não nos tenha falhado - só que ainda não aprendemos a ser verdadeiramente livres. Talvez sejamos a primeira geração que tem de inventar a sua própria luta a partir do zero. As grades desapareceram, mas sem um manual, será que sabemos como abrir a porta?

Abril aos Olhos de uma Criança

Letícia Caetano

Para todas as crianças que acordaram no dia 25 de Abril de 1974, nada seria diferente do dia anterior, ou pelo menos é assim que a minha mãe começa sempre a história desse dia tão distinto dos outros.

Em Alhandra, Vila Franca de Xira, enquanto se preparava para mais um dia de aulas, a Lurdes de doze anos observava a sua mãe e irmã mais velha num estado de preocupação, enquanto ouviam o rádio numa tentativa de decifrar a agitação de que se ouvia falar. Apesar de se ter deslocado para as aulas, rapidamente o seu percurso viu-se invertido quando todos os alunos regressaram para casa, em termos de segurança. Contudo, a professora pediu-lhe que entregasse um bilhete com uma mensagem a uma amiga que com ela vivia - 51 anos depois, a mensagem que lá constava nunca foi revelada, mas a curiosidade não falta.

Aquando do seu regresso a casa, Lurdes sabia que algo importante se estava a desenrolar, mas, com doze anos, a compreensão e entendimento completo era difícil. Foi apenas no fim da tarde de dia 25 que a notícia de uma revolução acabou por chegar a essa até então tranquila vila. A ansiedade e apreensão encheram o ar e o medo de qualquer tipo de manifestação levar a um destino inoportuno criou uma preocupação na população.

Quando se confirmou a queda do governo, acabando com mais de quarenta anos de censura, opressão e ditadura, a população saiu à rua - beijos e abraços foram partilhados, sorrisos encheram a cara de qualquer um, deram-se gritos de liberdade e o sentimento de que História estava a ser feita encheu o coração de todos. A libertação dos presos políticos e a identificação de agentes da PIDE, alguns dos quais habitavam no mesmo prédio que a minha mãe, acabou por confirmar o que ainda era um grande impasse - a liberdade chegou.

Seis dias depois, no dia 1 de maio de 1974, a energia mostrava-se delicada com receio e desassossego no ar, já que a quebra dos ideais do Estado Novo se tornara  algo difícil de aceitar sem medos. Ainda assim, a adesão tornou-se algo especial com milhares a celebrar o que há muito se esperava!

No entanto, a complexidade que esta situação implicava fez com que as mudanças não se dessem de imediato. Apenas semanas depois é que a abertura de sedes de partidos políticos, adesão a juventudes associadas a tais e conversas abertas sobre assuntos da atualidade tornaram-se numa nova normalidade, vista antes como impossível.

Quando Lurdes regressou à escola e se juntou aos seus colegas do sexo masculino pela primeira vez, as imagens de Américo Tomás e Marcello Caetano, que todos os dias eram vistas pelos alunos, tinham sido retiradas das paredes, e assim se começava uma vida depois do Adeus.

Helena Gregório e Letícia Caetano (Submissão Externa)

ivros

c e n s u r a d o s

p

e l a d i t a d u r a

As Novas Cartas Portuguesas (1972)

Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa

Escrito por três autoras feministas portuguesa, é uma obra que mistura poesia, prosa, cartas, ensaios e denúncias sociais. As Novas Cartas Portuguesas foram censuradas e proibidas porque falavam abertamente sobre sexualidade feminina, prazer e corpo da mulher; denunciavam o machismo, a opressão das mulheres e a hipocrisia da sociedade patriarcal; eram vistas como subversivas e uma ameaça à moral e aos bons costumes e traziam críticas veladas ao regime

Os Bairros Elegantes (1936)

Louis Aragon

Foi censurado em Portugal devido à sua crítica incisiva à burguesia, ao capitalismo e às desigualdades sociais. Militante comunista, Aragon representava uma ameaça ideológica ao regime do Estado Novo, defendendo valores incompatíveis com os valores conservadores e autoritários do regime.

A Idade da Razão (1946)

Jean Paul Sartre

Foi censurada em Portugal pelo seu conteúdo filosófico existencialista, considerado contrário à moral tradicional e aos valores conservadores do regime. A obra abordava temas como liberdade, responsabilidade individual e crítica à autoridade, o que, aliado à postura política de esquerda do autor, levou à sua proibição. O controlo ideológico exercido pela censura salazarista vetava sistematicamente qualquer obra vista como subversiva, ateia ou imoral.

Amanhecer (1968)

Joan Baez

Publicado em 1968 nos EUA com o título Daybreak, só seria editado em Portugal pela editora Moraes em 1973. Escrito por uma das vozes norte-americanas mais fortes da música de protesto das décadas de 60/70, trata-se de uma autobiografia com uma perspetiva pacifista e anti Guerra do Vietname. Assim, divergindo da ideologia militarista e colonial do regime fascista, em plena “Guerra Colonial”, a Comissão de Exame prévio proibiu tanto o livro como a autora em Portugal.

Agenda cultural abril

Cinema. Teatro.

16- abr. 20 abr.

Peça NORA HELMER

Vários Horários, Teatro Aberto. 17€ (inteiro), 14,45€ (Cartão Bertrand).

Teatro 21- abr.

28 abr.

Cinema

Curdistão: Território de Resistência (4 sessões)

Casa da Achada - Centro Mário Dionísio, Lisboa. Entrada Livre.

22- abr.

30 abr.

Cinema

Ciclo "PORTUGAL 1974 – UM SÍTIO QUE NÃO EXISTE, UM TEMPO QUE

VERDADEIRAMENTE EXISTIU"

Cinemateca Portuguesa, Lisboa.2,15€ (estudante) 3,20€ (inteiro)

22 abril

Cinema

CineClubNova exibe A Comédia de Deus (1995) de João César Monteiro

18h, FCSH Auditório A2, Av. Berna. Entrada Livre.

23 abril

Cinema

Sessão Especial Comemoração 25 Abril do CineClubNova

A anunciar (ver instagram CINECLUBNOVA).

Entrada Livre.

23- abr.

04 maio

Teatro

Se não és lésbica, como é que te chamas? de Alice Azevedo

Vários horários. Black Box, CCB.15€ (inteiro), 12€ (<30).

24- abr.

03 maio

Teatro

50 Madrugadas Companhia da Esquina

Museu do Fado, Lisboa. Récitas a 24, 25, 26 e 30 de abril, 2 e 3 de maio, às 19h.5€

27 até abr

Teatro

Odisseia. Companhia do Chapitô

Chapitô, Lisboa. Quinta, sexta e sábado às 21h; domingo às 17h.12€ sem desconto, 2€ com desconto.

29 abril

Cinema

CineClubNova exibe Frágil Como o Mundo (2001) de Rita Azevedo Gomes

18h, FCSH Auditório A2, Av. Berna. Entrada Livre.

07- maio

11 maio

Teatro

24- abr.

Teatro Fonte: Teatro do Bairro Alto

04 maio

Peça O Monte

Qua-Sex 21:30, Sab e Dom 18h. Teatro do Bairro. 10€ (<25), 8€ (Quarta-Feira - Dia do espectador).

Peça ARUS FEMIA

Qua a Sáb 21h30, Dom 18h00, Teatro do Bairro. 5€ (por bilhete para grupo + 10 pax - Mediante Reserva), 7,5€ (<25), 10€ (inteiro).

2026 até fev.

Cinema

Luz & Sombra: Retratos do Trabalho no Cinema Contemporâneo

Cinema Fernando Lopes. Entrada Livre.

Exposições.

05- abr. 30 abr.

Diálogos Visuais: Diogo Navarro e Gustavo Fernandes

Segunda a sábado: 11h - 19h. CNAP (Clube Nacional de Artes Plásticas), Lisboa. Entrada Livre.

19 até abr.

PREC - Parlamento Revisito em Caricatura

Diariamente das 10h às 18h. Biblioteca Camões, Lisboa. Gratuito.

Fonte: Assembleia da República

15 desde

abr.

O Palácio da Cidade de Keil do Amaral

Terça a domingo: 10h - 18h. Palácio Pimenta (Museu de Lisboa), Lisboa. 3€ (bilhete integral para o museu).

28 24- abr. abr.

Cartazes sem Censura: 25 de Abril e a Revolução do «Verão Quente»

10h-18:30, Museu de Arte Contemporânea/Centro Cultural de Belém. 3,50€ (estudantes), Entrada livre domingos até às 14h.

03 até mai.

Ali Kazma Lisboa - Istambul Dois retratos na orla

Terça a sexta, das 12h às 19h, sábado, das 14h às 19h. Galeria Francisco Fino, Lisboa. Entrada Livre.

Urbano No mar não nascem flores

Terça a Sábado 10h - 19h. Galeria 111, Lisboa. Entrada Livre.

Fonte: Guia da Cidade

até mai.

04

MAGICA: Ciência e Espetáculo no Século XIX

Terça a domingo, das 10h às 17h. Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Lisboa. 3€ (entrada museu).

05

Segunda a quinta, as 10h às 14h, sexta, das 10h às 12h. Instituto Cultural Romeno, Lisboa. até mai.

Distopias não Lineares – O Neoexpressionismo Romeno

17

Onde vamos livres. Onde vamos presos

Terça a sábado, das 15h às 19h. Kubikgallery, Lisboa. Entrada Livre. até mai.

até jan.

31

2026

Antes de ser independência foi luta de libertação curadoria de Rita Rato

Museu do Aljube - Resistência e Liberdade, Lisboa

As Flores do Mar #19, 2025. Fonte: Galeria 111

PARA PASSARES O TEMPO...

Vertical Horizontal

3. Nome popular dado à carrinha preta da PIDE.

7. Rei que continua atrasado para salvar o país da ruína.

8. Tipo de moção que derrubou o governo de Montenegro em março deste ano.

11. A vila morena do Zeca.

12. Três D's do MFA. Democratizar, Descolonizar e...

13 Primeiro nome da florista que deu os cravos a abril.

1. Grupo dos…/Conjunto de oficiais das Forças Armadas unidos na contestação ao poder.

2. Local de tentativa de revolução a 16 março de 1974.

4. Portugueses que chegaram a Portugal vindos das ex-colónias, após o 25 de abril.

5. Rádio onde foi transmitida a segunda senha da revolução.

6. Verruga que podes ter no pé. Flor de abril.

7. Maia que não cometeu incesto com a irmã. Capitão de abril.

9. Cor que impedia a liberdade de imprensa.

10. Antiga prisão política. Museu da ditadura.

Faz scan do código QR para teres acesso à nossa lista do Letterboxd comquase80filmesproibidosem Portugalduranteaditadura!

@novaemfilmes

Verifica as soluções na nossa página do instagram

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.