Editorial Revista “ZACATRAZ”
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José António Madeira de Ataíde Banazol 631/1968 Vice-Presidente da Associação
Editorial “De espírito forte devem ser considerados, e com razão, os que, mesmo conhecendo claramente as dificuldades da situação e apreciando os prazeres da vida, justamente por isso não se retiram diante dos perigos.” Tucídides, in “História da Guerra do Peloponeso”
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m 9 de Outubro, no Regimento de Comandos, o 380 de 1952, Coronel Tirocinado de Infantaria “Comando” Raul Miguel Socorro Folques, recebeu das mãos de Sua Excelência o Senhor Presidente da República as insígnias de Oficial com Palma da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor Lealdade e Mérito e, como dispõe o Regulamento, em cerimónia militar perante as forças em parada que integravam uma Companhia de Alunos do Colégio Militar. Passou, assim, a pertencer a uma já longa lista de Antigos Alunos distinguidos com esta condecoração, a Ordem Militar da Torre e Espada. De acordo com um belo artigo da autoria do Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) com o título «O Colégio e a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito» , publicado na ZacatraZ 191, Abril/ Junho de 2013, ficamos a saber que Raul Folques é o 154º Aluno do Colégio Militar a receber tão elevada distinção. De todos eles, graças a Deus, desfrutamos da companhia de três: João de Almeida
Bruno (230/1945), António Joaquim Alves Ribeiro da Fonseca (4/1952) e Raul Miguel Socorro Folques (380/1952). Os outros, vivem na nossa memória. É motivo de orgulho para todos nós, Antigos e actuais Alunos do Colégio, pertencer a uma família que ao longo dos seus 212 anos de existência tantos e tão grandes Portugueses deu à Pátria que os viu nascer, e que a ela, sem nada regatear, se deram de forma tão elevada e nobre. No alvará de concessão da Torre e Espada ao 380 pode ler-se: “Considerando que estas acções configuram feitos que revelam elevado espírito de sacrifício, coragem e audácia, e demonstram inequívoco heroísmo…”. Das palavras proferidas, por Sua Excelência o Senhor Presidente da República, outros elementos relevantes se extraem: «Foram heróis que connosco partilharam o quotidiano das suas vidas. Afinal, homens simples capazes de feitos extraordinários.»; «Um líder que todos estimavam e admiravam.», e que continuamos a estimar e admirar;
«Condecorado por feitos extraordinários em campanha, dando provas de elevada coragem física e grandeza moral, o Coronel Folques é um homem de bem, de carácter impoluto e altamente prestigiado entre os seus pares. Serviu Portugal com distinção, total desprendimento e a simplicidade dos grandes.» Quis, no entanto, a má sorte ou a perfídia dos homens que a sua carreia terminasse em Coronel. Creio não existir em Portugal qualquer outra Escola que se possa orgulhar de tal. Creio, igualmente, que a formação que receberam no Colégio Militar significativamente contribuiu para serem os Homens que foram e são. Que o seu exemplo perdure, que continuem a ser a nossa Luz e sobretudo para as gerações vindouras que tão necessitadas estão de referenciais pelos quais vale a pena pautar a vida. Do silêncio do Claustro secular te gritamos, bem alto: ZacatraZ, ZacatraZ, Zacatraz! Honra e Glória aos Heróis de Portugal.
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Ficha Técnica
CORPOS SOCIAIS DA ASSOCIAÇÃO PARA O TRIÉNIO 2014-2016
Ficha Técnica PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL Fundada em 1965 Nº 201 Outubro/Dezembro - 2015 FUNDADOR Carlos Vieira da Rocha (189/1929)
DIRECÇÃO Presidente Vice-Presidente Secretário Tesoureiro 1º Vogal 2º Vogal 3º Vogal 4º Vogal 5º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente 3º Vogal Suplente
DIRECTOR Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949)
António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios - 529/1963 José António Madeira de Ataíde Banazol - 631/1968 Pedro Miguel Correia Vala Chagas - 357/1977 Vítor Manuel Galvão Rocha Novais Gonçalves - 666/1971 Carlos Francisco da Silva do Rio Carvalho - 307/1971 Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva - 53/1961 Luís Baptista Esteves Virtuoso - 72/1973 José Afonso Correia Lopes - 237/1976 José Nuno Castilho Ribeiro Pereira - 233/1973 Miguel Assis das Neves Carneiro de Góis - 188/1983 Gustavo André dos Santos Lima – 248/1994 Afonso Castelo dos Reis Lopez Scarpa - 222/2000
CHEFE DE REDACÇÃO Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) REDACÇÃO Nuno António Bravo Mira Vaz (277/1950) Pedro Manuel do Vale Garrido da Silva (53/1961) João Carlos Agostinho Alves (110/1996) CAPA Colar e Medalha da Ordem Militar da Torre e Espada ©Foto Leonel Tomaz ENTIDADE PROPRIETÁRIA E EDITOR Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar MORADA DO PROPRIETÁRIO e SEDE DA REDACÇÃO Quartel da Formação - Largo da Luz 1600-498 Lisboa Tel. 217 122 306/8 Fax. 217 122 307
ASSEMBLEIA GERAL Presidente Vice-Presidente 1º Secretário
António José Fonseca Cavaleiro de Ferreira - 332/1950 Duarte Manuel Silva da Costa Freitas - 199/1957 João Miguel Jardim de Abreu Ferreira Pinto - 261/1980
TIRAGEM - 1350 exemplares DEPÓSITO LEGAL Nº 79856/94 DESIGN E EXECUÇÃO GRÁFICA: Tm. (+351) 933 738 866 Tel. (+351) 213 937 020 info@smash.pt www.smash.pt
CONSELHO FISCAL Presidente 1º Vogal 2º Vogal 1º Vogal Suplente 2º Vogal Suplente
José Manuel Spínola Barreto Brito - 539/1963 Eurico Jorge Henriques Paes - 306/1957 José Francisco Machado Norton Brandão - 400/1961 António Emídio da Silva Salgueiro - 461/1972 João Luís de Mascarenhas e Silva Schoerder Coimbra - 54/1984
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOS DA AAACM Isenta de registo na Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), ao abrigo do nº 1 da alínea a), do Artigo 12º do Decreto Regulamentar nº 8/99, de 9 de Junho. Os artigos publicados são da responsabilidade dos seus autores. Esta publicação não segue o novo acordo ortográfico.
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Sumário
10 Ser Combatente ( Em louvor de Raul Folques) 17 Jantar Annual da Associação 18 Comemoração dos 112 Anos da Associação 21 Entrevista a Raul Folques
Do Zacatraz ao Mama Sumae
27 Curso de 1990/1998
Romagem dos 25 Anos de Entrada
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Raul Miguel Socorro Folques (380/1952) Condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada
28 Curso de 1995/2003 Romagem dos 20 Anos de Entrada
29 Antigos Alunos em Destaque 37
Luís Fernando Almada de Oliveira /125/1945)
38 Centenário do Moca 39 Imposição de Graduações Ano 2015/1016 42 Ainda, o Batalhão em números ou a obra acabada
11 Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses
44 Abertura Solene do Ano Lectivo 53 E agora, Colégio Militar? 55 A Enferma 58 Crónicas aos Simples 60 Antigos Alunos nas Artes e nas Letras 62 Aspectos da nossa administração colonial
31 Plácido de Abreu (138/1915) Um Ás da Aviação Mundial
65 Antigos Alunos pelo mundo 67 Duas Escolas de Vida 69 Os que nos deixaram
34 Luís Fernando Almada e Oliveira (125/1945) Um Bravo Esquecido
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Raul Miguel Socorro Folques Agraciado com Ordem Militar da Torre e Espada
Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949
Raul Miguel Socorro Folques Agraciado com o grau de Oficial com Palma da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Antigo Aluno 380/1952 Coronel Tirocinado de Infantaria "Comando"
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o passado dia 9 de Outubro do corrente ano de 2015, nas instalações do Regimento de Comandos, na Serra da Carregueira, teve lugar a cerimónia da imposição do grau de Oficial com Palma da Ordem Militar da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito, ao Coronel Tirocinado de Infantaria, «Comando», Raul Miguel Socorro Folques, Antigo Aluno 380/1952. Junto da Porta de Armas do Regimento as boas-vindas estavam a cargo do Comandante da Unidade, Coronel Luís Filipe Carvalho das Dores Moreira (480/1975), acompanhado de Oficiais da guarnição. Na cerimónia que foi presidida pelo Presidente da Republica encontravam-se o General António Ramalho Eanes, o Ministro da Defesa Nacional, o Presidente da Câmara Municipal
de Sintra, os Chefes dos Estado-Maior General das Forças Armadas, Estado-Maior do Exército, Estado-Maior da Armada, Vice-Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, Oficiais Generais, Oficiais dos três Ramos das Forças Armadas, Condecorados com a Ordem da Torre Espada, «Comandos», Antigos Alunos do Colégio Militar. As forças em parada eram constituídas pela Fanfarra e Banda do Exército, o Estandarte Nacional do Regimento de Comandos, uma Companhia de Alunos do Colégio Militar, uma Companhia de Cadetes da Academia Militar e por um Batalhão de «Comandos». Integrado o Estandarte Nacional nas forças em parada, foi prestada continência ao Senhor Presidente da Republica que em seguida passou a revista da “ordenança”.
Lido o «Código Comando», teve lugar a cerimónia evocativa dos «Comandos» mortos em combate, cerimónia simples mas de grande impacto. Após o toque de silêncio, um Oficial, um Sargento e uma Praça irrompem de entre as forças em parada, cada um deles levando uma G3 com uma boina de «Comando». Postados em frente da Bandeira Nacional, à voz de “Pelos Oficiais”, “Pelos Sargentos” e “Pelas Praças”, as G3 são sucessivamente espetadas com ímpeto no solo e secundadas em uníssono pelas forças em parada que respondem “Presentes”. Seguiu-se o toque de alvorada. Pelo Senhor Presidente da Republica foram então proferidas as seguintes palavras:
Raul Miguel Socorro Folques Agraciado com Ordem Militar da Torre e Espada
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Senhor General António Ramalho Eanes, Senhor Ministro da Defesa Nacional, Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra, Senhor General Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Senhores Convidados, Antigos Combatentes, Militares, Saúdo cada um dos presentes nesta cerimónia e, em particular, os antigos combatentes, a quem o País tanto deve. Ao longo da nossa História, muitos foram os exemplos de dedicação, altruísmo e coragem de militares que, no cumprimento do dever, sublimaram as suas capacidades ao serviço de Portugal. Foram heróis que connosco partilharam o quotidiano das suas vidas. Afinal, homens simples capazes de feitos extraordinários. Militares, Minhas Senhoras e meus Senhores, Hoje, aqui, a Pátria presta homenagem a um dos seus melhores: o Coronel Raul Miguel Socorro Folques, um Soldado de Portugal que por vocação escolheu a carreira das armas, onde se distinguiu pelo culto dos mais nobres ideais de serviço. Um exemplo de Valor, Lealdade e Mérito. Fazemo-lo em Parada militar, porque assim manda a “ordenança”, quando são agraciados aqueles que se destacaram por feitos heróicos em campanha. Fazemo-lo, acompanhando o sentimento de orgulho e admiração dos seus familiares e amigos; dos jovens alunos do Colégio Militar e da Academia Militar, Escolas que o viram crescer e o formaram como Homem, como Cidadão e como Militar; dos seus camaradas “Comandos”, em especial daqueles que com ele combateram e com ele criaram laços de amizade para a vida, forjados na dureza da campanha, no silêncio da perda e nos momentos de alegria. O Coronel Folques é um algarvio de Vila Real de Santo António, que deixou o liceu aos 13 anos para vir frequentar o 3.º ano do Colégio Militar, aí permanecendo até ingressar na Academia, onde concluiu, em 1961, o Curso de Infantaria. Fez parte dos militares que estiveram na origem e integraram as primeiras forças “Comando”, unidades de elite do Exército adaptadas à natureza e às exigências do ambiente operacional de África. Nas quatro comissões que cumpriu, três em Angola e uma na Guiné, demonstrou ser ©Foto Paulo Pedro - Contraste Fotografia
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Raul Miguel Socorro Folques Agraciado com Ordem Militar da Torre e Espada
um Soldado de excepção, exemplo maior de coragem, sangue-frio e serena energia debaixo de fogo. Um líder que todos estimavam e admiravam. Nas funções que posteriormente desempenhou, destacam-se as de Comandante do Regimento de Comandos, Professor do Instituto de Altos Estudos Militares e Chefe do Estado-Maior do Governo Militar de Lisboa. Integrou ainda a Comissão Mista de Verificação dos Acordos de Paz na República de Moçambique. Condecorado por feitos extraordinários em campanha, dando provas de elevada coragem física e grandeza moral, o Coronel Folques é um homem de bem, de carácter impoluto e altamente prestigiado entre os seus pares. Serviu Portugal com distinção, total desprendimento e a simplicidade dos grandes. Militares, Minhas Senhoras e meus Senhores, Manifestamos hoje o nosso reconhecimento a um Oficial de excepcional craveira cujo exemplo deverá constituir fonte de inspiração para as gerações futuras, porque a Pátria em que nos revemos foi e será sempre determinada pelo querer, pela dedicação e pela coragem dos Portugueses. Como Presidente da República, associo-me com todo o gosto a esta homenagem a quem, como o Coronel Raul Miguel Socorro Folques, pautou a sua vida pelo culto da Pátria, da honra e do dever. É este homem e este militar que o Comandante Supremo das Forças Armadas distingue com a mais alta condecoração do Estado, a da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Após a leitura do Alvará de Concessão, o Senhor Presidente da Republica procedeu à imposição do Colar da Torre e Espada do Valor Lealdade e Mérito ao Coronel Tirocinado de Infantaria «Comando» Raul Miguel Socorro Folques, momento de forte emoção para todos os que assistiram a esta cerimónia cheia de recordações de um passado ao serviço da Pátria, onde se distinguiu pela sua forma de estar simples mas sempre de grande valor. Terminada a cerimónia, as Forças em Parada desfilaram em continência em frente da tribuna onde se encontravam o Senhor Presidente da Republica, Entidades e Convidados, tendo à passagem da Companhia de Alunos do Colégio Militar sido bradado um forte Zacatraz que ecoou com frémito na Serra da Carregueira, saudação calorosa dos Antigos Alunos presentes.
O Homenageado foi saudado efusivamente por todos os presentes seguindo-se uma sessão de fotografias tendo como fundo o imponente monumento do «COMANDO» ao redor do qual se encontram as memórias de Todos aqueles com tombaram em defesa da Pátria, com sacrifício da própria vida. No refeitório das Praças teve lugar um agradável almoço de confraternização com a presença da maior parte das individualidades que neste dia acompanharam o Coronel Raul Miguel Socorro Folques.
NOTA FINAL - Registamos e agradecemos as valiosas contribuições, para a notícia da imposição da condecoração e para a entrevista ao agraciado, de José Alberto da Costa Matos (96/1950), de Jorge Eduardo da Cunha Galvão (291/1960), Oficial Miliciano «Comando» e de Paulo Pedro «Comando», que amavelmente cedeu à ZacatraZ o seu trabalho profissional fotográfico.
©Foto Paulo Pedro - Contraste Fotografia
Raul Miguel Socorro Folques Agraciado com Ordem Militar da Torre e Espada
©Foto José Gonçalves
O General António Ramalho Eanes felicitando Raul Folques
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©Fotos Paulo Pedro - Contraste Fotografia
O General Vasco Rocha Vieira (127/1950), Chanceler das Ordens Militares, entrega o diploma da condecoração. Vendo-se o General Pina Monteiro (CEMGFA) e o Coronel Luís Dores Moreira (480/1975), Comandante do Regimento de «Comandos».
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Raul Miguel Socorro Folques Agraciado com Ordem Militar da Torre e Espada
CÓDIGO COMANDO O COMANDO ama devotadamente a sua PÁTRIA, estando sempre pronto a fazer por ela todos os sacrifícios. Constante exemplo de energia, de amor ao trabalho, de dedicação e de lealdade aos chefes, não discute as ordens que recebe, não admite nem conhece embaraço ou resistências à sua integral execução. Remove todos os obstáculos ao fiel e exacto cumprimento dos seus deveres, sejam quais forem as dificuldades a que tenha de se sujeitar, sem procurar que outrem tome à sua conta o que lhe incumbe fazer. O COMANDO pratica a camaradagem e procura assegurar a solidariedade moral entre todos os seus irmãos de armas; mas não aceita a indignidade, nem a desobediência, nem o desrespeito pelas regras da
disciplina e da honra. Sempre disposto a auxiliar quem precisa do seu apoio material ou do seu amparo moral, quer na paz, quer na guerra, e em frente ao inimigo, afirma-se constantemente pessoa de carácter. O COMANDO ama as responsabilidades; sempre pronto a comandar e disposto a obedecer, não admite a suspeita de haver nos seus superiores a intenção de oprimi-lo ou de, por qualquer forma, o diminuir. Porque é sua constante preocupação agir como verdadeiro COMANDO tem nos seus chefes ou comandantes a mais segura confiança e a mais acrisolada fé. Sempre generoso na vitória e paciente na adversidade, o verdadeiro COMANDO trata com solicitude, acarinha e estimula aqueles que lutam e sabem vencer todos os obstá-
culos. Não admite a mentira mas respeita os estóicos e abnegados que servem sem preocupação de paga ou de satisfação de interesses de qualquer natureza. O carácter, a lealdade, a fidelidade, a obediência e a determinação são virtudes inalienáveis do COMANDO. Sejam quais forem os seus dotes de saber o COMANDO que as não possua ou as despreze deve ser inexoravelmente privado do seu título. O COMANDO não foge ao perigo, não evita as situações que possam acarretar-lhe incómodos. Incumbido de uma missão, põe no cumprimento dela todas as suas possibilidades de actuação, todas as suas forças físicas, intelectuais e morais.
FUNDAMENTOS DA PROPOSTA E ALVARÁ DE CONCESSÃO O Coronel Tirocinado de Infantaria, na Reforma, Raul Miguel Socorro Folques, revelou na sua carreira militar possuir elevadas virtudes militares e capacidade de liderança, aliadas a grandes dotes intelectuais e inquestionável coragem física e moral, qualidades que lhe granjearam enorme prestígio entre os seus pares e especialmente nas tropas “Comandos”. O Coronel Folques demonstrou amplamente estas qualidades em campanha, ao serviço de Portugal, comandando várias unidades em que, exibindo valentia e serenidade debaixo de fogo, liderou pelo exemplo, na vanguarda dos seus homens, chegando a ser ferido em combate. Enquanto capitão, em várias operações, debaixo de intenso fogo, mostrou indiferença perante o perigo, galvanizando o seu pessoal e por vezes tomando-lhe a dianteira. O Capitão Folques foi um exemplo de chefe destemido e resoluto mesmo quando ferido em combate, tendo por estes motivos sido agraciado com a CRUZ DE GUERRA de 2ª Classe e a CRUZ DE GUERRA de 3ª Classe. Já como major graduado, pelo seu valoroso comportamento durante uma operação em que o seu agrupamento foi duramente atacado, tendo sido ferido no início dessa acção, manteve-se no comando indiferente à dor e ao perigo dirigindo serenamente a reacção dos seus homens, sendo por esses feitos agraciado com a CRUZ DE GUERRA de 3ª Classe. Considerando, finalmente, que estas acções configuram feitos que revelam elevado espírito de sacrifício, coragem e audácia, e demonstram inequívoco heroísmo, como tal enquadrando-se no âmbito da alínea b) do art.º 8 da Lei das Ordens Honoríficas Portuguesas: Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República e Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas, faz saber que nos termos da respectiva Lei, confere ao Coronel Tirocinado de Infantaria Raul Miguel Socorro Folques, o grau de Oficial com palma da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, por firmeza do que se lavrou o presente Alvará, datado de 9 de Outubro de 2015.
Raul Miguel Socorro Folques Agraciado com Ordem Militar da Torre e Espada
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©Foto Paulo Pedro - Contraste Fotografia
©Foto Paulo Pedro - Contraste Fotografia
Da esquerda para a direita - 1ª linha - José Rodrigues da Costa (64/1966), José Fernandes Henriques (352/1956), Gonçalo Leal de Matos (371/1949), Vasco Rocha Vieira (127/1950), Raul Folques (380/1952), João de Almeida Bruno (230/1945), António Martins Barrento (40/1948), José Sanches Osório (210/1951), António Cavaleiro de Ferreira (332/1950), Jorge da Cunha Galvão (291/1960), 2ª linha - Luís Braamcamp Sobral (34/1948), Fernando Figueiredo do Couto (433/1972), José Ribeiro Pereira (233/1973), Carlos do Rio Carvalho (307/1971), António Ribeiro Valente (217/1978), Roberto Ferreira Durão (15/1942), António Ribeiro da Fonseca (4/1952), Nuno Lemos Pires (345/1975), João de Almeida Tété (383/1984), José Ataíde Banazol (631/1968), António Saraiva de Reffóios (529/1963), Martiniano Gonçalves (9/1958), José Cordeiro de Araújo (591/1973).
Da esquerda para a direita - 1ª linha - José Ataíde Banazol (631/1968), Luís Braamcamp Sobral (34/1948), José Fernandes Henriques (352/1956), António Martins Barrento (40/1948), Carlos Cardoso Perestrelo (329/1972), Francisco Carreira (681/2009), Ricardo Ferreira (184/2008), Raul Folques (380/1952), Manuel Vasconcelos (99/2008), Luís das Dores Moreira (480/1975), Gonçalo Leal de Matos (371/1949), José Sanches Osório (210/1951), Vasco Rocha Vieira (127/1950), 2ª linha - Fernando Figueiredo do Couto (433/1972), António Ribeiro da Fonseca (4/1952), Roberto Ferreira Durão (15/1942), Júlio Campos Gameiro (451/1998) António Saraiva de Reffóios (529/1963), Jorge da Cunha Galvão (291/1960), José Cordeiro de Araújo (591/1973), João de Almeida Tété (383/1984), José Ribeiro Pereira (233/1973), Carlos Algeos Ayres (102/1953), António Neves Correia (358/1977), António Ribeiro Valente (217/1978), Martiniano Gonçalves (9/1958), António de Faria Menezes (568/1969).
©Foto Paulo Pedro - Contraste Fotografia
Da esquerda para a direita - Coronel Piloto Aviador Orlando Gomes do Amaral, Tenente Coronel «Comando» Manuel Isaías Pires, Tenente Coronel «Comando» Marcelino da Mata, Coronel Tirocinado «Comando» Raul Folques (380/1952), Presidente da Republica Aníbal Cavaco Silva, General António Ramalho Eanes, General João de Almeida Bruno (230/1945), Coronel «Comando» António Ribeiro da Fonseca (4/1952), Coronel «Comando» Fernando Lobato Faria.
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Ser Combatente Em louvor de Raul Folques
Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950
Ser Combatente (Em louvor de Raul Folques)
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ombatente é quem vai à guerra, seja por mar, por terra ou pelo ar, quer se use pistola, espingarda ou metralhadora e independentemente de patentes e funções. Mas há combatentes e Combatentes. O que os distingue é a forma como se comportam dentro e fora do campo de batalha. Em especial se exercem funções de comando. Há os que, guiados por uma ambição ilegítima, não hesitam em arriscar a segurança e a vida dos subordinados para alcançarem o sucesso pessoal ou colectivo. E há os que, sem abdicarem do cumprimento do dever, ponderam com o rigor possível os custos humanos das suas decisões, o que não é pequena coisa numa época em que, aos olhos de muita gente, a obtenção do sucesso legitima todos os golpes. Ambos podem ser corajosos e eficazes na acção de comando. Mas os primeiros são combatentes; e os segundos, Combatentes. Há os que, para impressionarem favoravelmente os superiores, engendram relatórios de operações que não retratam com fidelidade as ocorrências: os aspectos positivos são pintados com cores excessivas, enquanto os menos conseguidos são desvalorizados, quando não mesmo escamoteados; alguns chegam a inventar factos que não ocorreram para insinuarem comportamentos honrosos onde os não houve. E há os que colocam a honra militar
acima de qualquer ânsia de promoção pessoal ou colectiva; e, ao respeitarem a verdade, respeitam-se acima de tudo a si próprios. Ambos podem ser corajosos e eficazes na acção de comando. Mas os primeiros são combatentes; e os segundos, Combatentes. Há os que encontram satisfação em vangloriar-se dos seus sucessos. Por onde passam, vão deixando escapar histórias de feitos militares nos quais desempenharam papéis de relevo. E há os que, por modéstia, por inteireza de carácter, preferem manter acerca dos acontecimentos uma reserva que só os dignifica. Ambos podem ser corajosos e eficazes na acção de comando. Mas os primeiros são combatentes; e os segundos, Combatentes. Há os que, nas horas difíceis, preferem conservar uma distância prudente relativamente ao local onde o combate é mais aceso, ainda que a situação exija, sem margem para dúvidas, a sua presença ali. E há os que comandam pelo exemplo, os que nunca deixarão de estar onde devem, sem cuidar dos riscos acrescidos que daí advenham. Todos são combatentes, mas só os segundos são Combatentes. Há os que bajulam sistematicamente as pessoas que possam influenciar de forma positiva a sua carreira, seja através de concessão de louvores e medalhas, seja por proposta de
promoção antecipada. E há os que se mantêm fiéis à dignidade da patente e da função, tratando todos os que consigo contactem com idêntica urbanidade. Todos são combatentes, mas só os segundos são Combatentes. Raul Folques representa a valentia, a inteireza de carácter, o sentido da honra e do dever, a modéstia do temperamento, o apreço pela camaradagem, o desprezo pela intriga e a inabalável vontade de cumprir a missão, que são apanágio dos verdadeiros Combatentes. A Comunidade Colegial orgulha-se de ti. E eu tenho muita honra em ser teu amigo.
Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses
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José Alberto da Costa Matos 96/1950
Colégio Militar
Berço de Grandes Portugueses Carlos Ernesto Arbués Moreira General do Exército e Engenheiro Militar
(23/1844)
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asceu em Valença a 7 de Agosto de 1814, filho de Francisco Pedro de Arbués Moreira, oficial de Engenharia, e de Maria Joana Cordony Moreira. Em 1824 entrou como aluno n.º 23 para o Colégio Militar onde, devido a doença, não chegou a concluir ali os seus estudos. Todavia, aos 14 anos, matriculou-se na Academia Real de Marinha, completando o Curso em 1831. De seguida, frequentou a Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho mas, com a eclosão do conflito armado entre liberais e absolutistas, interrompeu em 1832 os seus estudos para se juntar ao pai e aos dois irmãos que combatiam pelo Exército Libertador de D. Pedro. Para isso, embarcou em Lisboa num paquete inglês que o transportou até à barra do Douro. Transferiu-se então para um navio mercante que aguardava uma oportunidade para poder descarregar víveres destinados às tropas sitiadas. Teve que desembarcar sob fogo dos miguelistas e, a 27 de Março de 1833, conseguiu entrar na cercada cidade do Porto apresentando-se aí para combater. Mas nessa ocasião havia outros importantes trabalhos a realizar e as suas habilitações e a
carência de engenheiros para conceberem e dirigirem os trabalhos de defesa e fortificação, fizeram com que fosse nomeado responsável pela construção de várias obras de defesa do Exército Libertador Entre estas, o Reduto do Covelo, desde o momento em que esta importante posição foi conquistada nos combates de 9 e 10 de Abril desse ano, e a Bateria do Seminário do Bispo. Mais tarde, quando foi levantado o “Cerco do Porto”, passou a servir sob as ordens do pai, então encarregado do levantamento topográfico da área envolvente da cidade, no espaço que se situava entre as fortificações que os dois exércitos haviam construído. Promovido a 2.º tenente em Março de 1834, retomou os estudos, matriculando-se no 3.º ano da Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho, ao abrigo do perdão de concedido às escolas superiores. Serviu na Arma de Artilharia entre 1835 e 1837 mas, completado o último ano do curso, transitou para o quadro do Real Corpo de Engenheiros. Entretanto, em Setembro de 1837 ascendera a 1.º tenente; depois, e sucessivamente, foi
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Colégio Militar Berço de Grandes Portugueses
promovido a capitão em Abril de 1851, a major em Maio de 1865, a tenente-coronel em Abril do ano seguinte e a coronel em Janeiro de 1873. Decorridos cerca de seis anos era general de brigada e, em 1886, general de divisão, passando à situação de reforma dez anos depois, em 1896. A partir de 1842 passou a servir no âmbito do Ministério das Obras Públicas, na Comissão Geodésica, permanecendo nesta durante vários anos, no desempenho de importantes funções como as de chefe da Secção Geodésica da Direcção Geral dos Trabalhos Geodésicos, e de engenheiro geográfico e chefe de uma das secções do Instituto Geográfico. Em Novembro de 1879, sendo já general de brigada, foi nomeado Director Geral dos Trabalhos Geodésicos, Topográficos e Hidrográficos do Reino, funções que desempenhou mesmo após a sua passagem às situações de reserva e de reforma. Entre as importantes decisões tomadas à frente da Direcção Geral, destaca-se o planeamento, encomenda, instalação, aferição e funcionamento do Marégrafo de Cascais, importante equipamento na ligação de Portugal à correspondente rede geodésica europeia. É ainda de destacar a sua intervenção na dinamização do organismo, nomeadamente com os trabalhos da medição da Base Central em 1893 (com o equipamento alemão Repsold) e as respectivas observações astronómicas em 1894. Faleceu em 19 de Julho de 1899, no exercício das funções de Director Geral, contando quase 85 anos de idade e 68 de serviço activo. Pertencia ao Conselho de Sua Majestade, era Vogal da Comissão de Defesa do Reino.
Era agraciado com os graus de cavaleiro, comendador e grã-cruz da Ordem de Avis e comendador da Ordem de Cristo, e condecorado com as medalhas de prata de Valor Militar e de Bons Serviços, medalha de ouro de Comportamento Exemplar, medalha de D. Pedro e D. Maria (dita das “Campanhas da Liberdade”), com o algarismo 2, e também com a grã-cruz do Mérito Militar (Espanha). Seu irmão Francisco Pedro Arbués Moreira, foi também aluno do Colégio Militar.
Ordem de Avis
Ordem de Cristo
Campanha da Liberdade
Mérito Militar de Espanha
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Francisco António de Almeida Moreira Oficial do Exército, Professor, organizador e Director do Museu Grão Vasco de Viseu
(118/1885)
N
asceu em Viseu, a 25 de Novembro de 1873, filho de Francisco Sousa Moreira e de Ana Ermelinda de Almeida Moreira. Em 1885 foi admitido como aluno do Colégio Militar, sendo-lhe atribuído o n.º 118. Concluiu o curso em 1890 e, como colegial, foi premiado na disciplina de Desenho em 1886 e em 1887, tendo sido graduado em Comandante de Esquadra no último ano lectivo. Ainda em 1890 assentou praça no Regimento de Cavalaria n.º 2 indo, como 1.º sargento graduado aspirante a oficial, frequentar os estudos preparatórios na Escola Politécnica, seguindo-se-lhe o curso de Oficial de Infantaria na Escola do Exército, sendo depois promovido a alferes a 10 de Novembro de 1899. Ascendeu a tenente em Dezembro de 1904 e a capitão em Novembro de 1911. Serviu no Batalhão de Caçadores n.º 4 e nos Regimentos de Infantaria n.ºs 14 e 15. Em 1908 foi Ajudante de Campo do comandante da 2.ª Divisão Militar e, dois anos depois e até 1913, foi chefe da 2.ª Repartição daquela mesma Divisão. Por ocasião da sua promoção a capitão, ofereceu ao Hospital Civil de Mangualde 420 livros sobre ciências médicas, doação esta que veio a ser objecto de louvor público do então ministro do Interior.
Em 28 de Outubro de 1916 passou à situação de reserva por incapacidade para o serviço activo declarada em Junta de Saúde. Todavia, por motivos de carências de pessoal decorrentes do empenhamento de Portugal na 1.ª Grande Guerra, veio a ser chamado ao serviço no ano imediato, situação esta em que se manteve até meados de 1919. Foi professar na antiga Escola Normal de Viseu, e de Educação Física no Liceu Central Alves Martins da mesma cidade. Fez também parte de várias comissões administrativas da Câmara Municipal viseense, chegando a exercer o cargo de vice-presidente. Foi encarregado da secção artística da Exposição Internacional que teve lugar no Rio de Janeiro, em 1922-1923; e tomou parte nos seguintes congressos: de Educação Física, em Paris (1913); Luso-Espanhol, no Porto (1921); de História de Arte, em Paris (1921); Luso-Espanhol, em Cádis (1927); de Antropologia, em Amsterdão (1927); Luso-espanhol, em Barcelona (1929); de História de Arte em Bruxelas (1930); e de Antropologia Colonial, no Porto (1934). A sua principal actividade desenvolveu-a, com muito empenho e dedicação, na organização do Museu Regional de Grão Vasco (Viseu),
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criado em Dezembro de 1915, do qual foi o primeiro director. Solteiro, sem encargos de família, passou a viver inteiramente para o Museu, consagrando-se à conservação e classificação das suas numerosas e ricas espécies artísticas e imprimindo-lhe uma feição estética que era fruto do seu requintado gosto pessoal. Mas não se ficou por aí, tendo também cuidado da sua divulgação através de obras literárias e também de conferências que realizou, não só no Museu, mas também em diversas cidades como Aveiro, Lisboa, Porto, Rio de Janeiro, entre outras. O seu raro interesse pela história e pela crítica de arte levaram-no ao estrangeiro em diversas viagens de estudo, designadamente à França, em 1925, e à Itália, em 1926. Colaborou no campo artístico com vários jornais e revistas de Lisboa e com os periódicos de Viseu A Pátria, Noticias de Viseu, Distrito de Viseu e Azorrague, e publicou: «Atitudes Escolares, quadros educativos» (de colaboração com o professor dr. Costa Sacadura), premiado com medalha de ouro na “Exposição de Arte na Escola”, realizada em Lisboa, em 1916, e com o Grande Prémio na “Exposição Internacional do Rio de Janeiro” em 1922-1923; «O pintor Vasco Fernandes» (apresentado no Congresso Luso-Espanhol, no Porto, em 1921); «Catálogo e Guia Sumário do Museu de Grão Vasco» (1921); «Un peintre régionaliste portugais ou XVI siècle», (apresentado no Congresso de História de Arte, em Paris, em 1921); «Os quadros da Sé de Viseu» (com 1.ª edição em 1916 e 2.ª em 1925); «La Catedral de Viseu» (apresentado no Congresso Luso-Espanhol, em Cádiz, em 1927); «L’Art populaire à Beira Alta» (apresentado no Congresso de Antropologia, em Amsterdão, em 1927); «Guia de Viseu» (1931); «A porta transversa
Ordem de Avis
Ordem de Santiago
românico-ogival da Sé de Viseu», «Columbano», «Brasões de edifícios da cidade de Viseu» e «Imagens de Viseu». Tendo transitado para a situação de reserva, foi director do Museu de Grão Vasco e professor de Educação Física no Liceu Alves Martins, e também vogal correspondente do Conselho Superior de Belas-Artes, membro correspondente da Academia de S. Fernando (Madrid) e da Academia de Santa Isabel da Hungria (Sevilha), e ainda membro titular da Associação de Arqueólogos (Lisboa). Na casa que foi residência do capitão Almeida Moreira, foi instalado um museu - biblioteca com o seu nome. A Casa do Solar de Cima era uma habitação tipo familiar que o fino gosto do seu proprietário conseguiu enobrecer da entrada até o sótão, recheando-a com porcelanas, mobiliário, quadros, esculturas, livros que doou à Câmara Municipal de Viseu para, tal como a deixou (com o seu quarto, a sala de jantar, o escritório, os seus livros e as suas colecções de arte) para ser patente ao público como museu-biblioteca. O estado do prédio obrigou porém a uma grande remodelação, que a transformou, melhorou e adaptou às necessidades actuais. Faleceu na sua cidade natal a 18 de Dezembro de 1939. Era agraciado com os graus de cavaleiro da Ordem de Avis e de comendador da Ordem de Santiago, e condecorado com as medalhas de cobre e de prata de Comportamento Exemplar.
Comportamento Exemplar
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Francisco Cunha Rego Chaves Oficial do Exército, engenheiro, professor, ministro e alto-comissário ultramarino.
(166/1891)
N
asceu em Lisboa a 19 de Setembro de 1881, filho de António Augusto Chaves (general de divisão) e de Mariana Angélica Correia da Cunha Rego Chaves. Fez os seus estudos no Colégio Militar, no qual foi admitido como aluno em 1891 com o n.º 166. Concluiu o curso colegial em 1897 e, enquanto aluno, foi premiado no ano lectivo de 1893/94 com as medalhas de prata de História e de Latim, no ano seguinte com a medalha de prata de Comportamento Exemplar e, em 1895/96, com igual medalha, mas de ouro. Ainda como aluno, foi graduado em comandante de Esquadra em 1895/96 e em comandante de Companhia no último ano lectivo. Saído do colégio da Luz, alistou-se de imediato no Regimento de Cavalaria n.º 2, obtendo licença para fazer os estudos preparatórios na Escola Politécnica como 1.º sargento cadete, com vista ao ingresso na Escola do Exército onde concluiu em 1905 o curso de oficial de Engenharia. Durante a frequência da Politécnica conquistou em 1898 o 2.º prémio pecuniário da 1.ª cadeira, em 1900 o 1.º prémio na 3.ª e um louvor na 2.ª, e em 1901 o 1.º prémio na 7.ª cadeira. Na Escola do Exército foi-lhe atribuído o 1.º prémio honorífico no 1.º ano comum da Artilharia e Engenharia (1902).
Concluído o curso da Escola do Exército, foi promovido a alferes em 1 de Novembro de 1905 e colocado no Regimento de Engenharia, de onde transitaria, no ano seguinte, para a Companhia de Torpedeiros. Foi promovido a tenente em Dezembro de 1906, sendo colocado como ajudante do Serviço de Torpedos Fixos, aí vindo a ascender ao posto de capitão em Junho de 1911. Dois anos depois pediu exoneração deste Serviço e, em fins de 1914, foi nomeado chefe interino da Repartição de Gabinete do Ministério da Guerra sendo, transitoriamente, lente adjunto das 13.ª e 14.ª Cadeiras da agora denominada Escola de Guerra. Decorrido pouco mais de um mês, pediu exoneração da Repartição de Gabinete, permanecendo na Escola de Guerra, mas agora como lente adjunto efectivo, funções docentes em que, durante a 1.ª Grande Guerra, teve intensa actividade na necessária preparação dos oficiais que foram empenhados no conflito. Pertenceu ao Partido Republicano Português (Partido Democrático) de cujo directório fez parte, foi deputado em várias legislaturas e tomou parte activa na revolução de 14 de Maio de 1915 contra a ditadura do general Pimenta de Castro, quando este dissolveu o parlamento.
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No final de Janeiro de 1919 foi promovido a major e, como adjunto do comandante da Engenharia das Forças em Operações contra os revoltosos monárquicos do Norte, integrou o Quartel-General do Comando-Chefe, permanecendo na zona de combate de 1 a 21 de Fevereiro. No mês de Março foi nomeado para fazer parte da Comissão encarregada de estudar e indicar as alterações a introduzir na organização do Instituto Feminino de Educação e Trabalho. A 29 de Junho de 1919 foi nomeado Ministro das Finanças do governo saído das eleições de 11 de Maio que era presidido pelo coronel Sá Cardoso (ex-aluno do Colégio Militar). Conservou-se no exercício deste cargo ministerial até Janeiro de 1920, quando entrou em funções um novo governo. Voltou então à docência como professor provisório da 28.ª Cadeira da agora Escola Militar e, em Abril de 1921, ascendeu a tenente-coronel. Em meados de Dezembro desse ano volta a ocupar um cargo ministerial, desta vez no Ministério das Colónias, de que veio a ser exonerado, a seu pedido, em Fevereiro de 1922. Enquanto ministro, destacou-se pela maneira eficaz como conseguiu debelar a grave crise económica que então afectava Cabo Verde. A reputação que adquiriu no desempenho deste cargo político valeu- lhe a nomeação, em Maio de 1925, para Alto-Comissário da República e Governador-Geral da Província de Angola, onde, nessa altura, se havia declarado
difícil crise económica. Realizou, mais uma vez, uma obra notável, tendo solucionado a questão monetária que ali embaraçava as actividades comerciais e industriais. Regressou à Metrópole em 21 de Janeiro de 1926 por ter pedido a exoneração do cargo, reassumindo então as funções de professor da Escola Militar, onde foi provido definitivamente na 26.ª Cadeira. Promovido a coronel em Fevereiro de 1927 dois anos depois foi nomeado para servir na Companhia do Niassa (Moçambique), para a qual foi contratado como Inspector-Geral dos Serviços e Director das Obras Públicas e Análogos, chegando mesmo a ser Governador, ainda que interinamente, dos chamados Territórios da Companhia do Niassa. Em Maio de 1930 regressou à Metrópole.
Avis
Ordem de Santiago
Desempenhou mais tarde, entre outros, os cargos de administrador do Porto de Lisboa e de director da Empresa Mineira Cabo Mondego. Passou à reserva em Abril de 1933, com o posto de coronel, por ter sido julgado incapaz para o serviço activo. Faleceu em Lisboa a 6 de Fevereiro de 1941. Era agraciado com o grau de comendador da Ordem de Avis e também da Ordem de Santiago, sendo ainda condecorado com a medalha de prata de Bons Serviços e com as medalhas de prata e ouro de Comportamento Exemplar.
Bons Serviços
Jantar Annual da Associação Pestana Palace Hotel
Jantar Anual da Associação
Pestana Palace Hotel R
ealizou-se no passado dia 27 de Novembro o Jantar Anual da Associação, encontro de Antigos Alunos que se vem verificando de alguns anos a esta parte, onde tem lugar a entrega dos Prémios Barretina e são dadas as boas-vindas aos novos Antigos Alunos que completaram o curso do Colégio no ano lectivo transacto, sendo-lhes entregues as Barretinas para usar na lapela. No próximo número será dada notícia pormenorizada do acontecimento e transcritas as palavras proferidas na altura pelo Presidente da Associação, António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios (529/1963).
Foram agraciados com os Prémios Barretina 2014 AMIGOS DO COLÉGIO MILITAR
Coronel Carlos Alves Cardoso Pimenta Mário da Nazaré Caixado Couzinho COLÉGIO MILITAR NO MUNDO
Nuno Eduardo Moura dos Santos da Costa Taveira (486/1974) AMOR AO COLÉGIO
José Eusébio Pereira Barata Cordeiro de Araújo (591/1973) DEDICAÇÃO
Vasco Maria Tavela de Sousa Santos Pinheiro (254/1982) DESPORTO
Nuno Bettencourt Sardinha Portela Ribeiro (396/1976) HOMENAGEM
João de Almeida Bruno (230/1945) António Joaquim Alves Ribeiro da Fonseca (4/1952) Raul Miguel Socorro Folques (380/1952)
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Comemoração dos 112 Anos da Associação Homenagem da Velha Guarda
Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949
Comemoração dos 112 Anos da Associação Homenagem da Velha Guarda
A
23 de Outubro de 2015, a Associação celebrou o 112º Aniversário. Neste dia realizou-se, no Colégio, a cerimónia da Abertura Solene do Ano Lectivo. Por tal motivo a tradicional Homenagem da Velha Guarda realizou-se no dia 28 (Quarta Feira), com o programa que vem sendo habitual desde há alguns anos: apresentação de cumprimentos ao Senhor Director do Colégio Militar, assinatura do Livro de Honra na Biblioteca e as boas-vindas do Director, homenagem ao Colégio Militar junto do Monumento no Largo da Luz, homenagem ao Marechal António Teixeira Rebello no Átrio do Fundador, o Acender da Chama Colegial com a presença da Escolta Colegial a pé, Missa na Capela do Colégio, encontro com os Alunos sucessores, fotografia na escadaria da Enfermaria, desfile do Batalhão Colegial e almoço no refeitório do Colégio. O dia correu de feição, a chuva não apareceu e a temperatura estava amena, factores muito importantes para gente que já ultrapassou os 70 anos de idade. Na Biblioteca, o Senhor Director Coronel Tirocinado de Artilharia José Domingos Sardinha Dias que estava acompanhado pelo Subdirector, Senhor Tenente Coronel de Artilharia António José Ruivo Grilo (338/1978), num breve
improviso congratulou-se com a presença da Velha Guarda referindo que, passados tantos anos, a vinda ao Colégio de quem nele viveu os tempos da sua mocidade, é sempre um aspecto positivo tanto para os que servem nesta Casa como para os Alunos. Terminou dizendo que esperava para todos um dia bem passado na recordação dos tempos vividos dentro das quatro paredes que englobam esta Instituição multissecular. Nas homenagens, os toques de silêncio e de alvorada foram executados por uma reduzida mas bem afinada charanga do Regimento de Artilharia Antiaéreas Fixa (RAAF) de Queluz. Nesta Romagem, com a presença de Ricardo Fernando Ferreira Durão (17/1938), José Joaquim Fragoso (26/1938), Luís Eduardo Almeida Soares de Oliveira (137/1939) e Fernando de Sousa de Brito e Abreu (330/1938), foi assinalada a passagem dos 70 Anos de Saída do Curso de 1938/1945. Na lápide onde se registam as diferentes romagens deste Curso, foi acrescentada mais uma placa alusiva. Na ocasião, José Joaquim Fragoso proferiu as seguintes palavras “Em nome do curso de 1938-45, começo por saudar o Senhor Director do Colégio Militar, Coronel Sardinha Dias, cuja presença muito nos honra.
©Foto Leonel Tomaz
Cabe-me a mim proferir algumas palavras sobre o significado desta cerimónia, em representação do nosso Curso. Essa representação radica no facto de, á data da nossa presença no Colégio, eu ocupar o posto de tenente na 1ª Companhia do Batalhão Colegial, tendo sido - então - o mais graduado dos camaradas de curso aqui presentes. Passaram já 70 anos sobre a conclusão do curso no Colégio Militar.
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©Foto Leonel Tomaz
Deixámos então o Colégio, logo que conhecido o resultado dos exames, saindo em pequenos grupos, como se nos custasse partir isoladamente, um a um. Saída por aquele portão que dá para o Largo da Luz. Mas partimos com entusiasmo e convicção, dispostos e preparados para enfrentar as dificuldades de um mundo novo para nós, na esperança de que conseguiríamos alcançar os nossos objectivos. Seríamos uns 40 nessa Época. Hoje, somos 11 sobreviventes, dos quais 4 estão aqui presentes. São eles: o 17, Ricardo Durão; o 137, Luís Soares de Oliveira; o 330, Brito e Abreu; e eu próprio, Fragoso. Os restantes, que foram todos contactados pessoalmente, acompanham-nos em espírito neste momento, como se estivessem presentes. E só aqui não estão por motivos de saúde ou de residência no estrangeiro. Para eles vai neste momento o nosso pensamento, com muita saudade. O Curso de 1938-45 está de volta ao Colégio. Para assinalar esse facto vamos, dentro de momentos descerrar uma placa, para que fique gravado em pedra, nas paredes dos claustros, este nosso saudoso retorno. Pretendemos assim, por um lado, homenagear o Colégio Militar, a escola onde nos formá-
mos, e, por outro lado, honrar a memória dos camaradas já falecidos. Infelizmente, são muitos”. Seguiu um vibrante ZacatraZ bradado pelo Ricardo Durão. O Batalhão Colegial desfilou perante a Direcção do Colégio e perante os Antigos Alunos, desta vez com uma percentagem bastante elevada de Alunas, mas o garbo e a determinação como marchou estão bem enquadrados na velha tradição como sempre o fez. Seguiu-se o almoço no Refeitório do Corpo de Alunos, não sendo como é habitual o “Amarelo”. A razão está na programação das refeições do Colégio que determina os diferentes menus em função dos dias da semana. Desta vez foi servido o “Arroz à Generalíssimo” que, tanto quanto julgo saber, é actualmente mais apreciado do que o “Amarelo” que fez e ainda faz as delícias da Velha Guarda e de outros que ainda lá não chegaram mas para lá caminham. Em abono da verdade, quando o meu Neto que frequentou o Colégio me falava deste arroz com atum dizendo, com a vivacidade própria da sua idade, que era um verdadeiro pitéu, eu ficava sempre na dúvida de que assim seria.
Hoje, dou a mão à palmatória: o “Arroz à Generalíssimo” é de facto um muito agradável prato da Culinária Colegial. Os tempos vão mudando e os gostos vão-se adaptando à natural evolução das modificações do progresso. Como curiosidade, nesta Romagem da Velha Guarda, quatro Alunos do Colégio tiveram cada um deles 2 antecessores: o actual Aluno 371/2010 Martim Leote Cravo e Cunha (frequentando o 9º Ano no regime interno como manda a boa tradição) tinha nesta romagem da Velha Guarda dois antecessores - o 371/1939 Nuno Gomes de Lacerda Teixeira e o 371/1949 Gonçalo Salema Leal de Matos; o actual Aluno 94/2013 João Maria Simões Carneiro da Costa (no 7º Ano e também interno) com os antecessores 94/1942 José Villa de Freitas e 94/1950 José Eduardo Martinho Garcia Leandro; o actual Aluno 171/2013 Pedro Miguel Araújo da Silva Candeias Pimentel (3º Ano do 1º Ciclo – Escola Primária) com os antecessores 171/1936 Jorge Manuel Gago da Câmara Riley da Mota Faria e 171/1953 Bernardo Manuel Diniz de Ayala; a actual Aluna 160/2014 Carlota César Santos (2º Ano do 1º Ciclo – Escola Primária) com os antecessores 160/1943 Rui Ernesto Freire Lobo da Costa e 160/1950 Morris Artur de Almeida Lewes.
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Os 160, os 94 e os 371
©Fotos Leonel Tomaz
Aqui fica um registo fotográfico lamentando, apesar de todos os esforços desenvolvidos, não ter sido possível obter uma fotografia do conjunto 171. Participaram nesta jornada os seguintes Antigos Alunos: Dom Agostinho de Sousa Coutinho (15/1934), Jorge Manuel Gago da Câmara Riley da Mota Faria (171/1936), Ricardo Fernando Ferreira Durão (17/1938), José Joaquim Fragoso (26/1938), Fernando de Sousa de Brito e Abreu (330/1938), Luís Eduardo Almeida Soares de Oliveira (137/1939), Nuno Gomes de Lacerda Teixeira (371/1939), Rogério Fernando Sequeira Taborda e Silva (92/1940), Rubi José Alfredo Mourão Marques (233/1940), Nuno Vilares Cepeda (310/1941), José Villa de Freitas (94/1942), Pedro Júlio de Pezarat Correia (10/1943), Rui Ernesto Freire Lobo da Cos-
ta (160/1943), António Francisco Martins Marquilhas (67/1944), João Martins Ribeiro Mateus (169/1944), António José Brites Leitão Ritto (120/1945), João Goulão de Melo (265/1945), Isaías Augusto Pinto Gomes Teixeira (235/1946), José Alberto Lopes Carvalheira (301/1946), Carlos José Sanches Vaz Pardal (100/1947), João Manuel Soares de Almeida Viana (107/1947), Francisco Manuel Alcântara Mota Ferreira (307/1947), José Baptista Pereira (318/1947), António Eduardo Queiroz Martins Barrento (40/1948), João Augusto Oliveira de Ayala Botto (254/1948), António Maria de Almeida Bívar de Sousa (325/1948), José Eduardo de Almeida Barata Correia (28/1949), Alfredo da Piedade Sério Lopes Rêgo (224/1949), Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949), José Eduardo Martinho Garcia Leandro (94/1950), Morris Artur de Almeida Lewes
(160/1950), Fernando Cândido de Antas Furtado Coelho (274/1950), Carlos Manuel da Silva Monteiro (154/1951), Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves (190/1951), José Henrique Rola Pata (191/1951), José Mário Fidalgo dos Santos (253/1951), Carlos Manuel Querido Baptista (303/1951), Francisco José Gomes de Sousa Lobo (95/1952), José Francisco Latino Tavares (197/1952), Manuel Nuno da Costa Estorninho (207/1952), João Carlos de Azevedo de Araújo Geraldes (245/1952), José Manuel Marques Pacífico dos Reis (363/1952), António João Martins de Abreu (85/1953), Afonso Paulo Ferreira Epifânio Franca (104/1953), Bernardo Manuel Diniz de Ayala (171/1953), Mário Quintanilha Sampaio Nunes (110/1954), Pedro Manuel Almeida Serradas Duarte (192/1954) e Francisco Eduardo Moreira da Silva Alves (392/1954).
Entrevista Do Zacatraz ao Mama Sumae
Entrevista conduzida por
Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949
Entrevista
Do Zacatraz ao Mama Sumae Raul Miguel Socorro Folques (380/1952) Oficial com Palma da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito
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aul Miguel Socorro Folques, Coronel Tirocinado de Infantaria, «Comando», foi admitido no Colégio no ano de 1952, tendo-lhe sido atribuído o número 380. No seu 7º Ano foi graduado de uma estrela da 4ª Companhia. Agraciado a 9 de Outubro de 2015 com o grau de Oficial com Palma da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, para além de vinte e dois louvores tinha sido já distinguido com as seguintes condecorações individuais: Grande Oficial da Ordem Militar de Avis, Cruz de Guerra de 2ª classe, duas Cruzes de Guerra de 3ª classe, Medalhas de Ouro e de Prata de Serviços Distintos, 3 Medalhas de Mérito Militar (1ª, 2ª e 3ª Classes), Medalhas de Ouro e de Prata de Comportamento Exemplar, quatro Medalhas Comemorativas das Campanhas, sendo uma da Guiné e três de Angola, e a Medalha Comemorativa da Comissão de Serviço Especial das FA em Macau. Possui ainda as insígnias das seguintes condecorações colectivas: Ordem Militar da Torre e Espada, Medalha de Ouro de Valor Militar e 2 Cruzes de Guerra de 1ª classe.
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Entrevista Do Zacatraz ao Mama Sumae
Em Angola como Capitão.
GSLM - O teu ingresso no Colégio foi motivado por antecedentes familiares de Antigos Alunos e de Militares ou, tal como eu, foste na tua Família o primeiro que o frequentou? Raul Miguel Socorro Folques - O meu Pai, era médico em Vila Real de Santo António e na altura achou que a melhor maneira de garantir uma educação de qualidade seria no Colégio Militar. Na realidade, na minha família não existe qualquer tradição de Antigos Alunos do Colégio ou de antigos Militares de carreira. GSLM - Que recordações tens do Colégio e dos anos inesquecíveis da vivência no internato?
1ª Companhia de Comandos no Norte de Angola
Raul Miguel Socorro Folques - No Colégio aprendi dois conceitos que me guiaram ao longo de toda a minha vida: a camaradagem e a solidariedade. No meu primeiro ano do Colégio tive a sorte de conhecer e ser marcado pelo exemplo de dois graduados excepcionais que me muito me orientaram e ajudaram, refiro-me ao meu Comandante de Companhia, José Alberto Lopes Carvalheira (301/1946) e ao Dois Estrelas, José Eduardo Carvalho de Paiva Morão (256/1946), que ainda são meus Camaradas e Amigos. No Colégio, no sistema de internato que então vivemos, no dia a dia exigente e árduo, tornou-se evidente o valor da entreajuda, do espírito de corpo, do trabalho apoiado e em conjunto, da coesão e da disciplina interiorizada no respeito pelo outro e pelas normas sãs que compartilhávamos e estão contempladas no nosso «Código de Honra».
Raul Miguel Socorro Folques - A educação e a instrução ministradas no Colégio, no meu tempo, rigorosa e multifacetada, valorizando o patriotismo e o amor pátrio, o exemplo dos nossos maiores, a heroicidade e a pertinácia que nos permitiram vingar como país independente e exemplar ao longo dos séculos e o papel do soldado sempre presente e actuante, foram determinantes para a escolha que mais de metade do meu Curso fez ingressando na carreira das Armas. Pessoalmente quero expressar a minha homenagem de gratidão recordando com saudade, respeito e consideração os professores excepcionais que tive e que foram muito importantes na minha educação e formação, em que saliento: o Capelão Padre Braula Reis e os professores Mário Saraiva “o Bisnau”, o Boavida, o Montenegro Miguel e o Capitão Nuno Cordeiro Simões.
GSLM - Recordo-me da tua exigência na preparação física e das prolongadas sessões de sucessivas flexões? Era já um prenúncio da futura carreira integrado num Corpo Militar de elite como são os «Comandos»?
GSLM - Consideras que o Colégio era uma mais-valia para as Forças Armadas e a preparação dos seus Alunos sobressaía no desempenho nos diferentes cursos militares?
Raul Miguel Socorro Folques - Sempre tive gosto numa preparação física rigorosa, o que, ainda agora me acompanha. Acredito no velho aforismo de Juvenal “Mens sana in corpore sano”. GSLM - Teve o Colégio, com a educação militar nele ministrada, influência na decisão do teu ingresso na Carreira das Armas?
Raul Miguel Socorro Folques - Sou de opinião que o nosso Colégio é uma Instituição preciosa para as FFAA, nomeadamente para o Exército. Criar motivação forte nos Alunos para seguirem a carreira das armas é, no entanto e nos dias que vivemos, uma tarefa difícil que obrigaria a um esforço deliberado a desempenhar por professores ou instrutores preparados para esse fim o que não sei se será possível.
Entrevista Do Zacatraz ao Mama Sumae
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1ª Companhia de Comandos a bordo de Nord Atlas rumo ao Leste de Angola e a bordo de LGD rumo a Cabinda
No meu tempo, reportando-me à minha experiência, a melhor preparação dos Antigos Alunos na Escola do Exército/Academia Militar, na área militar e nas disciplinas físicas era evidente. GSLM - Concluída a tua licenciatura em Ciências Militares (Academia Militar), segues como Alferes para Angola onde concluis o Curso de «Comandos». Os anos de 1961 a 1974, com um breve interregno em 1971, foram passados à frente de diversas Unidades de «Caçadores» e de «Comandos» cumprindo quatro comissões de serviço nos Teatros de Guerra do Ultramar, três em Angola e uma na Guiné onde foste ferido em combate. Terá sido um período difícil cheio de recordações tristes mas, seguramente, também de momentos enaltecedores da grandeza humana. Gostaria que nos relatasses alguns desses episódios mais relevantes. Raul Miguel Socorro Folques - Desembarquei em Luanda no dia 19/04/1961. Era alferes da Companhia de Caçadores 89 que depois de um breve tempo a assegurar a defesa de Luanda foi enviada para os Dembos, zona de Quitexe. Ainda nessa comissão ofereci-me e fui voluntário para frequentar o curso de Comandos em Zemba. Esta comissão terminou em Abril de 1963. Depois disso cumpri mais três comissões no Ultramar, duas em Angola e uma na Guiné, em que comandei a Companhia de Caçadores 476, a 1ª Companhia de Comandos e a 19ª Companhia de Comandos em Ango-
la e na Guiné fui 2º Comandante e depois Comandante do Batalhão de Comandos da Guiné. Ao longo destes 9 anos tive episódios que me marcaram profundamente. Logo em 1961, lembro-me que ao chegarmos a Aldeia Viçosa, povoação que tinha sido destruída pelos terroristas, os militares que estavam a ração de combate há uns dias quiseram fazer pão, pois encontraram um forno de padeiro que estava atulhado, e ao retirarem as cinzas e a terra que lá se encontravam começaram a surgir ossos de crianças. Soubemos depois que tinham ali sido mortas algumas crianças bailundas e brancas. Depois, ao abrirmos o itinerário para o Cólua, fomos encontrar um pequeno barril
19ª CCmds na mata do leste Angola
cheio de banha extraída a um sargento do grupo do Capitão Castelo e Silva que tinha sido ali massacrado, nos primeiros dias da guerra. Marcou-me igualmente e profundamente um episódio que vivi, acompanhando um primeiro cabo gravemente ferido e que ao morrer me pediu que lhe apertasse a mão para se sentir acompanhado. Foi para mim ainda muito marcante a posição tomada pelo Soldado Lázaro da Conceição Neto quando em combate foi gravemente ferido. Na emboscada sofrida por um grupo de combate da 19ª Companhia de Comandos, composto por 20 homens, no Leste de Angola, tivemos um morto e dois feridos graves. Na circunstância, o alferes mandou
19ª Companhia de Comandos
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Entrevista Do Zacatraz ao Mama Sumae
Com Gilberto Santos e Castro
fazer 3 padiolas para o transporte das baixas para uma zona onde seria possível a heli-recuperação, sendo que, empenhando 12 homens no seu transporte ficava com 5 homens válidos para garantir a defesa. É então que o Soldado Lázaro pede ao alferes que o deixe no terreno com o morto e que vá evacuar o outro camarada ferido que considerava ter mais hipóteses de sobrevivência do que ele, que tinha sido atingido com mais gravidade. Como é óbvio o seu pedido não foi aceite e, num curto espaço de tempo, o grupo de combate tinha sido reforçado e a evacuação das baixas feita em boas condições. O Soldado Lázaro faleceu poucos dias depois no Hospital Militar de Luanda. É um exemplo inexcedível de abnegação e espírito de sacrifício.
Nos anos 90, com a guerra há muito terminada, cumpri uma comissão de serviço na República Popular de Moçambique, na COMIVE (Comissão mista de verificação dos Acordos de Paz). Portugal tinha enviado 2 militares (sendo eu o mais antigo). Éramos árbitros e analisávamos, conjuntamente, com vários camaradas de outras nacionalidades os incidentes que ocorriam em zona estabelecida pelas partes em confronto, a FRELIMO e a RENAMO que procuravam pôr fim às hostilidade. Neste contexto fomos chamados a avaliar uma ocorrência havida em Casa Banana, uma povoação da Gorongosa duma certa importância que era defendida por uma guarnição a nível de brigada.
A questão levantada pela FRELIMO consistia na acusação de que o aldeamento tinha sido atacado por uma força da RENAMO o que era contra o já acordado. A RENAMO contrapunha que o ataque, se efectuado, teria sido feito ou pela própria tropa da FRELIMO ou por elementos do ZIMBABWE conluiados com o Governo moçambicano. Enquanto nos demorávamos na povoação ouvindo depoimentos, procurando impactos de balas (não tinha havido baixas) ou outros indícios, verifiquei que havia uma movimentação estranha na população a que correspondia uma certa agitação e desconforto entre os maiorais da FRELIMO. Finalmente fui abordado pelo seu representante máximo que me informou que os «cocuanas» (anciãos) tinham reconhecido entre os militares presentes (1 inglês, 1 francês, 2 italianos, 1 norte-americano, 1 russo, 1 malaviano, 1 zambiano, etc) 2 portugueses e faziam questão de os cumprimentar. Expressei o meu assentimento e fomos conduzidos para um anfiteatro onde cerca duns 50 «cocuanas» nos saudaram com um aperto de mão, alguns com um abraço. Ainda agora não consigo recordar este episódio sem me comover, emoção entranhada de orgulho e mágoa. GSLM - Em 1967 fizeste um Curso de Pára-quedismo em Luanda e, mais tarde em 1987, um outro nas Forças Armadas da Republica Federal da Alemanha (em Bundeswehr). Esta apetência pelo pára-quedismo era uma necessidade para as tuas missões como militar ou entendia-la como mais um desafio pessoal que achavas dever ultrapassar? Raul Miguel Socorro Folques - Frequentei o curso de pára-quedismo no Aero Clube de Luanda por desporto. Mais tarde uma equipa de cinco elementos do Regimento de Comandos deslocou-se à Alemanha onde saltámos. Tínhamos alguma experiencia de salto, pois éramos brevetados com o brevet civil à excepção do agora coronel Horácio Santos que era instrutor de pára-quedismo pela RAF. Foi ele que nos preparou.
Norte de Angola num quartel conquistado à UPA
GSLM - Regressado do Ultramar em 1974, prosseguiste a tua carreira concluindo o Curso Geral de Comando e Estado-Maior (CGCEM) no Instituto de Altos Estudos Militares para, um ano mais tarde, rumares à Alemanha, frequentares um «Curso de Língua Alemã» no
Entrevista Do Zacatraz ao Mama Sumae
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Em operação no Leste de Angola e nos Dembos, vendo-se no chão uma Mauser apreendida ao inimigo
Bundesspracheamt e em seguida concluíres o Curso de Estado-Maior do Exército Federal Alemão (CEMEFA) na Fuhrungs Academie der Bundeswehr. Conta-nos essa experiência nomeadamente na aprendizagem da língua alemã (nada fácil) e na vertente da vivência dos dois anos que passaste no seio da Alemanha e do Exército Alemão. Raul Miguel Socorro Folques - Fui nomeado para frequentar o CEMEFA face aos resultados obtidos no CGCEM. Como preparação para esse curso, durante cerca de um ano lectivo, estudei alemão num Instituto Federal especializado, o Bundesspracheamt. O Curso de Estado Maior era de dois anos lectivos e dava uma formação cabal e de grande rigor. Como corolário deste curso desempenhei no Instituto de Altos Estudos Militares, nos anos seguintes, as funções de professor de táctica. GSLM - Entre 1974 e 1989, no percurso de uma vida militar, exerceste os cargos de Comandante do Batalhão de Alunos da Academia Militar, de 2º Comandante do Batalhão de Infantaria de Portalegre, 2º Comandante do Regimento de Comandos, Comandante da PSP de Macau e Comandante do Regimento de Comandos, funções muito diferentes mas com algumas analogias. Quais as que te deixaram melhores recordações e quais as que tiveram aspectos menos agradáveis. Relata-nos alguns episódios nesses exercícios que te mereceram realce. Raul Miguel Socorro Folques - Estas funções têm todas um denominador comum,
o comando. Comandar tropa foi dentro das diferentes funções que se oferecem a um oficial aquela que sempre mais me motivou, interessar-me pelos homens, poder responder às necessidades do dia a dia, ocorrer com serenidade aos diferentes circunstancialismos, ser exemplo, guia, actuar com justiça, rectidão e rigor, foram exigências que procurei cumprir em permanência. A mais complexa foi o comando exercido em Macau, onde grande percentagem dos polícias eram chineses e não falavam português, o que dava acrescida importância aos macaenses, naturalmente bilingues que desempenhavam cargos intermédios na hierarquia. À excepção de alguns elementos menos fiáveis, eram elementos de confiança, responsáveis, prestimosos e de mérito. Foi para mim muito gratificante ter sido nomeado comandante do Regimento de Comandos, cargo que acima de todos almejava desempenhar. GSLM - Durante toda uma vida a tua situação militar determinou muitas e variadas missões em que estiveste envolvido, missões que desempenhaste com uma notável entrega e empenho. De tal situação não é difícil entender o forte impacto exercido na tua vida pessoal, com prolongadas ausências do convívio com os teus Familiares, muito especialmente dos mais próximos e chegados. Como é que se enfrenta tal situação. Poderás partilhar connosco essa experiência que terá tido momentos de grande tristeza e algum desespero e também de enorme felicidade.
Raul Miguel Socorro Folques - Como é fácil de depreender a minha Família foi muito sacrificada ao longo da minha carreira militar, pontuada de deslocamentos e missões frequentes, muitas vezes e refiro-me especialmente ao vivido até 1974, em situações de perigo que lhe causavam preocupação e sofrimento. O seu apoio incondicional deu-me motivação e força para ultrapassar os momentos muito difíceis que tive de suportar. GSLM - Após teres exercido o cargo de Chefe do Estado-Maior do Comando da Região Militar de Lisboa e de Inspector Director e Subinspector Geral na Inspecção Geral das Forças Armadas do Ministério da Defesa Nacional, entras na situação de reforma. Depois de uma vida cheia e de intensa actividade, como é actualmente o teu dia-a-dia e como aproveitas o tempo de que dispões. Raul Miguel Socorro Folques - Como é natural, o reformado tem por definição uma maior disponibilidade de tempo. Assim, o tempo de que agora disponho permite-me viver mais para a família, especialmente para os netos, e também fazendo pequenas viagens em território nacional para visitar museus, castelos, fortes e outros locais de interesse. A leitura e ouvir música são outras das ocupações que me agradam e a que dedico algum do meu tempo. GSLM - Tanto quanto sabemos as condições para a concessão desta condecoração que agora te foi imposta, corolário de muitas
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Entrevista Do Zacatraz ao Mama Sumae
No leste de Angola operando o rádio TR28
Batalhão de Comandos na Guiné 1973
outras designadamente as Cruz de Guerra individuais e colectivas e o facto de teres sido ferido em combate, estão preenchidas há muitos anos. Este é, certamente, um momento muito importante na tua vida e gostaríamos de saber qual o teu sentimento ao ser-te conferida esta honraria concedida a muito poucos e só aos melhores de entre os melhores. Raul Miguel Socorro Folques - Feliz por finalmente me ter sido concedida. GSLM - Finalmente uma última questão: salvaguardadas as devidas proporções, que analogia encontras entre o «Menino da Luz» e o «Comando»? Raul Miguel Socorro Folques - O Colégio educa rapazes que entram meninos e saem homens e os Comandos preparam homens para missões difíceis. Em ambos, os respectivos Códigos exaltam o Amor à Pátria, a Disciplina, a Ética, a Solidariedade, a Camaradagem, a Generosidade, o Orgulho pela Farda que envergam.
BI Comando assinado por Gilberto Santos e Castro
Curso de 1990/1998 Romagem dos 25 Anos de Entrada
Curso de 1990/1998 Romagem dos 25 Anos de Entrada 9 de Outubro de 2015
Curso 1990/1998 – 25 Anos de Entrada – 9 de Outubro de 2015 ©Fotos Leonel Tomaz
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ecorridos vinte e cinco anos da entrada no Colégio, nesta Romagem de Saudade estiveram presentes os Antigos Alunos César Bruno Teixeira Tomás (3/1990), Nuno Miguel Alves e Silva (13/1990), Tiago Costa Freitas Pestana de Vasconcelos (17/1990), Hugo Gonçalo Elias Mortágua (29/1990), António Pedro Gomes Calado (55/1990), Diogo Costa Freitas Pestana de Vasconcelos (60/1989), João André Oliveira Esteves Vaz Antunes (65/1990), Manuel Luís Pimenta Quintanilha e Mendonça (80/1990), Nuno Miguel Taipa Leandro Domingues (87/1990), Ricardo Jorge de Almada Oliveira Pereira Dias (98/1990), Bernardo Miguel Dias Soares Coelho (99/1990), Tiago Rogério Romeiras Dias (109/1990), João Henrique Andrade Cardoso (112/1990), Pedro Miguel Chermont Bandeira Constâncio (113/1989), Gonçalo Casquiço Ricardo (137/1990),
Pedro Miguel Costa Santos (155/1990), Abel Alexandre Alves Tavares de Barbosa Mendonça (157/1989), António Manuel Figueiredo de Carvalho (160/1990), Luís Manuel Marques Cóias (190/1990), Bruno Alexandre Vaz Cardoso (204/1990), Hugo Noronha Botelho dos Santos Gaudêncio (209/1990), João Paulo Nunes Pereira de Figueiredo (223/1990), Telmo Diogo Cordeiro Filipe (228/1990), Bruno Francisco Anselmo Oliveira da Rosa (229/1990), Nuno Miguel Alves Mansilha (254/1990), Carlos Jorge Viana Beirão (266/1990), Luís Gonçalo Correia Martins Magalhães de Aguiar (287/1990), Gonçalo José Rosa Inácio Rodrigues (291/1990), Alexandre Vivien Barthelemi Azinhais (313/1989) e Rodrigo Miguel Vieira Dias (399/1990).
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Curso de 1995/2003 Romagem dos 20 Anos de Entrada
Curso de 1995/2003 Romagem dos 20 Anos de Entrada 25 de Setembro de 2015
Curso 1995/2003 – 20 Anos de Entrada – 9 de Outubro de 2015 ©Fotos Leonel Tomaz
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pós vinte anos da entrada no Colégio, nesta Romagem de Saudade estiveram presentes como convidados a Professora Maria da Graça Roberto Santos Paulo, a Professora Maria Isabel Barros de Oliveira, o Professor Manuel Joaquim Lopes Agostinho e os Antigos Alunos Ricardo Domingos Santos Nogueira (8/1995), Hélder Manuel Alves Salgueiro (10/1995), Luís de Carvalho Teixeira Ferraz (14/1995), Luís Manuel Cavaco Bismarck (51/1995), João José Meira Dantas (53/1995), Luís Filipe Pereira Gonçalves (86/1995), Pedro Nuno Grade Mendes de Carvalho (91/1995), Gonçalo José Falcão de Magalhães Venceslau Cardoso (177/1995),
Filipe Miguel Nascimento Pinto Teixeira (185/1995), André Salgado Paula Santos (192/1995), Nuno Manuel das Neves Camarate Ribeiro (200/1995), Fernando Jorge Pereira Tavares (225/1995), João Miguel Martins Sarmento Barreiros (238/1995), Diogo Manuel das Neves Camarate Ribeiro (271/1994), Filipe Migeal de Carvalho (324/19959, João Manuel da Silva Santos Botelho (374/1995), Fernando André Marques Valente Carreto (395/1995), João Carlos Briosa Antunes Baeta (426/1995), Ian Michael Couto (433/1995) e David Miguel Tavares da Costa Garcia (442/1994).
Antigos alunos em Destaque
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Antigos alunos
em Destaque
José da Silva Pracana Martins (80/1956) Condecorado no dia 10 de Junho de 2015 com a Ordem do Infante Dom Henrique (Comendador) e anteriormente distinguido com a Medalha de Mérito Municipal da Câmara Municipal de Ponta Delgada.
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osé Pracana foi condecorado com a Ordem do Infante Dom Henrique, condecoração que se destina a distinguir quem tenha prestado serviços relevantes a Portugal, no País e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores. A Medalha de Mérito Municipal com que foi distinguido pela Câmara Municipal de Ponta Delgada foi concedida em reconhecimento do papel de José Pracana na dinamização do Fado, da sua investigação e divulgação cultural, designadamente em todos os que sentem a alma
lusa e se encontram espalhados pelo Mundo. Na cerimónia de atribuição, foi referido também que a homenagem a José Pracana se faz não só por ser quem é, um açoriano de corpo e alma, mas também porque difunde, participa, aproxima e envolve a comunidade local e além fronteiras, através da melodia e dos seus acordes, numa dimensão expressiva e inspiradora. A sua obra fala por si. Como reputado especialista do fado e da guitarra, torna-se símbolo da verdadeira expressão cultural de um povo.
José António Benito e Bismarck de Melo (51/1964) Coordenador de Anestesiologia do Hospital da Luz
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osé Bismarck de Melo, Coordenador do Departamento de Anestesiologia do Hospital da Luz, foi homenageado, no passado dia 16 de Outubro, com uma Menção de Mérito pela Sociedade Portuguesa de Anestesiologia, no âmbito das comemorações dos 60 anos de existência desta sociedade. Esta distinção deve-se ao percurso profissional e á actividade do homenageado na Sociedade Portuguesa de Anestesiologia. José Bismarck de Melo integra os Corpos Sociais daquela Sociedade sendo seu Presidente desde há 14 anos.
Mantendo uma colaboração regular, foi um dos impulsionadores da criação da Secção de Anestesia Obstétrica desta Sociedade. Exercendo no Hospital da Luz desde a sua abertura, é actualmente Coordenador do Departamento de Anestesiologia, Adjunto da Direcção Clínica do hospital, Vogal da Comissão de Emergência Médica e Reanimação e Coordenador do Bloco Operatório do Hospital da Luz.
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Antigos alunos em Destaque
Vladimiro José das Neves Coelho (115/1972) Oficial de Marinha - Comodoro
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ladimiro José das Neves Coelho, por Decreto do Presidente da República n.º 94/2015 de 24 de Agosto, foi nomeado para o cargo de Representante Militar Nacional no Supreme Headquarters Allied Powers Europe (SHAPE), em Mons - Bélgica, com efeitos a partir de 16 de Setembro de 2015.
Mário Jorge Fidalgo Balas de Matos (28/1983) Director Comercial na Media Capital Digital
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©Foto Sérgio Garcia (326/1985)
ário Jorge de Matos, foi um dos Responsáveis pelo desenvolvimento do projecto App da TVI – TVI Player, distinguido pela ACEPI - Associação da Economia Digital com o prémio “Melhor widget/app de TV”, no âmbito dos Prémios Navegantes XXI. Os Prémios Navegantes XXI são uma iniciativa da ACEPI - Associação da Economia Digital criada em torno da missão que a fez nascer no ano 2000 - Promover e Desenvolver a Economia Digital em Portugal - e foram concebidos a partir de um conceito inovador que alia um vasto conjunto de Categorias de Prémios a Concurso. Anualmente premeia o que de melhor se faz na Economia Digital nas mais diversas vertentes em Portugal, havendo ainda uma
ANTIGO ALUNO USA A BARRETINA
Categoria Prémio Carreira, que distingue personalidade que se tenha destacado ao longo do seu percurso profissional na promoção e desenvolvimento da Sociedade do Conhecimento e da Economia Digital no nosso país. O TVI player é um site e aplicações em IOS e Android que permitem o visionamento directo dos canais TVI, conteúdos vídeo exclusivos, clipes de vídeo editados e curadoria dos melhores conteúdos audiovisuais. Mário Jorge de Matos faz parte da Media Capital desde Abril de 1999, onde actualmente exerce as funções de Director de Contas e Director Comercial da área digital. Quando finalista no Colégio, comandou a 1ª Companhia do Batalhão Colegial.
Plácido de Abreu (128/1915) Um Ás da Aviação Mundial
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Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957
Plácido de Abreu (128/1915)
Um Ás da Aviação Mundial
N
o número 199 desta nossa revista, na secção «Colégio Militar. Berço de Grandes Portugueses», da autoria do nosso historiador máximo, José Alberto da Costa Matos (96/1950), foi publicada uma biografia abreviada do General Carlos Sanches de Castro da Costa Macedo (394/1916), primo do «Mirolho», o Alberto Sanches de Castro (219/1898), o primeiro português a voar em Portugal (em 1912), de que vos falei em artigo também publicado no mesmo número da nossa revista. Carlos Costa Macedo foi um piloto-aviador de altíssima craveira, de excepcional aptidão aeronáutica, que veio a ser Chefe do Estado Maior da Força Aérea e de seguida Presidente do Supremo Tribunal Militar. Na referida biografia, descreve-se um episódio ilustrativo da grandeza de caracter e do elevado espirito desportivo de Costa Macedo, que passo a transcrever «no festival aeronáutico de 11 de Junho de 1933, que assinalava oficialmente a criação do Grupo Independente de Aviação e Bombardeamento, para disputa do troféu Diário de Noticias, Costa Macedo, seu vencedor por desclassificação de Plácido de Abreu, fez questão de entregar a este a taça que lhe havia sido entregue». Na realidade Costa Macedo pediu ao Júri para entregar a taça a quem, segundo ele disse, na sua opinião e na opinião do público, mais a merecia. Antes da descrição deste episódio
referia-se que Plácido de Abreu era igualmente «Menino da Luz» e que os dois pilotos tinham sido contemporâneos no Colégio Militar. Na sequência da publicação nesta revista do meu artigo «Os Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras» era minha intenção dar-lhe continuidade com outros artigos relativos a Antigos Alunos que se distinguiram na Aviação, tendo na minha lista de potenciais artigos a elaboração de um artigo relativo a Plácido de Abreu. A referência a Plácido de Abreu na biografia de Costa Macedo fez subir a prioridade desse potencial artigo. Por coincidência, o nosso camarada Roberto Ferreira Durão (15/1942) sugeriu ao Gonçalo Salema Leal de Matos (371/1949), Director da nossa revista, um artigo sobre Plácido de Abreu. O Gonçalo, por sua vez, voltou-se para mim e deu-me ordens nesse sentido. Sendo eu um disciplinado colaborador da revista, peguei na pluma e escrevi, «a pedido de várias famílias», o presente artigo. Plácido António Cunha de Abreu, ingressou com 11 anos de idade, em 1915, no Colégio Militar, tendo-lhe sido atribuído o número 128. Era filho de um oficial de Artilharia e neto de uma figura ilustre do liberalismo, com o nome exactamente igual ao seu, que se notabilizou em combate na luta contra o governo de D. Miguel I, tendo sido distinguido com o grau de cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, de «Valor, Lealdade e Mérito».
Concluído o seu curso no Colégio, Plácido de Abreu ingressa na Escola Militar, tendo sido promovido, em 1925, a alferes de Infantaria. Terminado o curso de aperfeiçoamento, então obrigatório, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, oferece-se imediatamente para a Aviação, onde no ano de 1926-27 faz o curso de observador aeronáutico. Após este curso, concorreu ao curso de pilotos aviadores, que iria ter lugar no ano lectivo seguinte, em que não conseguiu ingressar, por ter sido eliminado na inspecção médica, devido a um problema de origem laringológica. Imagina-se a
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Plácido de Abreu (128/1915) Um Ás da Aviação Mundial
O Coronel Ribeiro da Fonseca e Plácido de Abreu junto do Foguete, na Amadora
dimensão do seu desgosto, por esta contrariedade. Não era porém homem para se deixar abater e estava escrito nos astros que ainda iria ser piloto aviador. Foi colocado como observador aeronáutico, no Grupo de Esquadrilhas de Aviação Republica, na Amadora (actual Academia Militar), onde voava sempre que podia com os seus camaradas pilotos, a quem pedia para o deixarem voar, sempre que os aviões eram de duplo comando. Como era dotado de uma vocação extraordinária para a pilotagem, rapidamente apreendeu os princípios básicos da pilotagem e decidiu em segredo largar-se a si próprio, ou seja, a ir para o ar sozinho. A oportunidade surgiu num domingo, em que se encontrava de oficial de serviço à unidade, sem a presença do seu comandante ou de outros oficiais superiores. Com a aquiescência do mecânico de dia, que lhe aprontou um avião, subiu para o mesmo, rolou pista fora e descolou, imaginamos que eufórico, a caminho do seu destino de piloto. O voo correu impecavelmente, durou cerca de uma hora, sobrevoou Lisboa e a Costa do Sol, estendeu-se até Sintra, acabando com uma impecável aterragem na Amadora, onde o pessoal de serviço nos hangares, a par da «escapadela» do «nosso Tenente», o saudou com a maior alegria. Nasceu assim um «piloto clandestino». No dia seguinte, o feito do nosso herói foi naturalmente muito comentado em surdina, mas acabou, como seria expectável, por chegar ao conhecimento do comandante da unidade, o Tenente-Coronel Teófilo Ribeiro da Fonseca, também ele Antigo Aluno do Colégio Militar, onde ingressou no ano de 1897, com o número 205. Ribeiro da Fonseca era um piloto de reconhecidos méritos e um homem extremamente desemba-
raçado, que apreciava outros que também o fossem. Assim sendo, repreende Plácido de Abreu, mas decide ajudá-lo a tornar-se um piloto militar de pleno direito, o que requeria que Plácido de Abreu tirasse o curso de piloto na Escola Militar de Aviação, em Sintra. Segundo consta, Plácido de Abreu submete-se a uma intervenção cirurgia, para correcção do problema laringológico de que padecia. Apadrinhado por Ribeiro da Fonseca é admitido na instrução de pilotagem em Sintra, onde terá ido receber os conhecimentos teóricos ministrados no curso, pois a prática de pilotagem já ele a tinha. Em 22/2/1931, recebe o seu brevet de piloto, com 3 anos de atraso em relação aquilo que teria sido o seu desejo, e inicia uma fulgurante carreira de piloto, que passo a descrever socorrendo-me de descrições do Coronel Piloto-Aviador Edgar Pereira da Costa Cardoso (272/1919), na sua «História da Força Aérea Portuguesa». «Em 1932, o famoso aviador italiano coronel Mário de Bernardi, piloto de renome internacional e velha glória da 1ª Guerra Mundial, veio a Portugal, fazer, como representante da casa construtora de aviões, uma demonstração num aparelho Caproni, curiosidade para as ambições dos pilotos acrobatas, que viria a ser adquirido pela nossa aeronáutica militar e destinado à Escola Militar de Aeronáutica. Convidado a experimentar a potente e versátil aeronave (para a época evidentemente), Plácido de Abreu, com o seu indomável destemor, fez toda a gama de figuras acrobáticas, incluindo o difícil «looping» invertido, executados pelo mestre transalpino, deixando este verdadeiramente surpreendido com tanta perfeição e tal arrojo que causava espectacular emoção mesmo aos mais entendidos na matéria». Ainda segundo Edgar Cardoso, a por-
tentosa actuação de Plácido de Abreu valeu-lhe «o justo apreço de Bernardi, que vira nascer uma estrela nos céus de Portugal e para fazer parte da constelação fulgente dos ases mundiais». Impressionado com o que vira, Bernardi move as suas influências e faz com que Portugal seja convidado, na pessoa de Plácido de Abreu, para o «Meeting» Internacional de Aviação de Cleveland, o mais importante realizado anualmente nos Estados Unidos da América. Era uma honra para Portugal, tendo sido apenas convidados para o «Meeting» mais cinco países europeus. Recebido o convite, o Ministério da Guerra, face à tradicional penúria nacional, dá o despacho usual; «Autorizado sem prejuízo para a Fazenda Nacional». Plácido de Abreu não desistiu e com sacrifício pessoal e familiar, e com o empenho de alguns amigos, conseguiu prover à sua deslocação e às deslocações do seu mecânico António Lobato e do seu avião, tendo-se apresentado em Cleveland, para a competição. O que lá se passou é-nos descrito, como se segue, por Edgar Cardoso. «Nas provas de acrobacia, pelo seu arrojo, que raiava a temeridade, e pelo virtuosismo só concedido a predestinados, foi considerado o melhor estrangeiro que se apresentou na competição aérea, o que lhe valeu um prémio de 1200 dólares, para a época de certo modo compensador. E isto a despeito do seu avião «Junkers Júnior», o «Foguete», com motor Sidelley de 110Cv, não possuir dispositivo para realizar com segurança voo invertido. Tal facto não obstou a que Plácido o tivesse feito, rasando a multidão expectante - e emocionada com tanta audácia –que ocupava as bancadas do Aeródromo de Cleveland.» Edgar Cardoso cita um dos órgãos de imprensa presentes, que descreveu assim o que presenciara: «Tenente Abreu, de Portugal, ia provocando síncopes na assistência ao fazer algumas admiráveis voltas sobre as bancadas em voo invertido e com o motor parado. Também fez uma série de espirais ascendentes, pousando depois, ao aterrar, as rodas alternadamente no chão». E cita ainda o chefe da organização do «Meeting», que no banquete que encerrou as festas afirmou o seguinte: «Sem desprimor para os restantes, Plácido de Abreu foi o melhor elemento europeu que se exibiu nas provas, que hoje tiveram o seu termo». Em Cleveland, Plácido de Abreu ganhou o epíteto de «Sly Fox» e de lá trouxe uma taça que pode ainda hoje ser apreciada no Museu do Ar. Na sequência do «Meeting», Plácido de Abreu foi recebido em triunfo pela comunidade portuguesa local.
Plácido de Abreu (128/1915) Um Ás da Aviação Mundial
Regressado a Portugal, Plácido de Abreu retoma o serviço e a sã competição que mantinha com Costa Macedo, mencionada no início deste artigo. Estavam colocados em Unidades diferentes da Aeronáutica, tendo cada um a sua legião de admiradores. Edgar Cardoso comparava os dois rivais da seguinte forma: «Macedo era a serenidade olímpica, a execução clássica, impecável de correcção, mas sem exageros considerados temerários ou imprudentes para as possibilidades da máquina, que um treino metódico clarividente lhe dava a conhecer e a tornava obediente como poldro bravo amansado com arte. Abreu ao invés, era a impetuosidade desmedida, cheia de riscos arrebatadores mas não menos talentosa. Ele improvisava com génio, com uma inspiração fecunda que brotava com a turbulência duma torrente vinda das altas cordilheiras, para se despenhar em baixo tonitruante, num cenário deslumbrante». Em 1934 Plácido de Abreu e Costa Macedo seguem para França, para tomarem parte no «Meeting» Internacional de Vincennes, a realizar nos dias 20 e 21 de Maio e que precedia o Campeonato Mundial de Acrobacia. Os dois ases portugueses foram as grandes vedetas do encontro, competindo com nomes famosos com Cavalli, Novak e Marcel Doret ( ex-campeão mundial). No mês seguinte nos dias 9 e 10 de Junho, realizou-se o já referido Campeonato Mundial de Acrobacia, por todos aguardado com a maior expectativa. Previa-se um duelo tremendo entre dois pilotos fora de série, o francês Marcel Detroyat e o alemão Gerhart Fiesler, mas havia outros sérios candidatos ao titulo de grande valor, entre eles Plácido de Abreu, todos presentes por convite expresso da organização. O que se passou nesses dois dias foi assim descrito por Edgar Cardoso: «No primeiro dia cada acrobata devia efectuar dez figuras obrigatórias em oito minutos. No dia imediato fariam dez minutos de acrobacia livre. Plácido de Abreu deveria tripular um «Caproni» especial. Infelizmente, por atraso na entrega, teve de utilizar um «Avro Turbo» de 215Cv, à ultima hora obtido em Inglaterra, uma vez que o fiel «Foguete» não permitia a execução de manobras em que a potência do motor fosse imprescindível. Na primeira jornada a 9 de Junho, Plácido ficara colocado em quinto lugar, a 20 pontos de Fiesler, que viria a ser o triunfador, destronando Detroyat, por uma margem também de duas escassas dezenas na pontuação. Do Minho a Timor, aguardava-se com ansiedade que, no dia imediato, Plácido de Abreu se guin-
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Homenagem da Aviação Francesa a Plácido de Abreu, quando da sua morte, realizada no aeroporto Le Bourget
©Foto Leonel Tomaz
dasse a um posto mais alto, porque precisamente nas provas livres ele dava livre curso ao seu tecnicismo, apanágio dos virtuosos da acrobacia, aliado a um arrojo sem limites, desenhado a alturas incrivelmente baixas. Mas a sorte mofina não o permitiu! E quando a meio da sua magnífica exibição executava um «tonneau» rente ao chão, ou, por falha do motor, ou por deformação no plano inferior das asas, o avião descomandou-se, embatendo no solo e incendiou-se em seguida. Plácido de Abreu teve morte instantânea e não chegou a sentir que o seu corpo se calcinara na pira do martírio. Do avião em chamas vivas, foram os seus restos corajosamente retirados pelo nosso adido aeronáutico em Paris, capitão aviador Alberto Lelo Portela, um pioneiro ilustre da Aviação Militar Portuguesa. Após a tragédia e os primeiros momentos de natural confusão, foi tocado o hino nacional, que o público emocionado, respeitosamente ouviu de pé, em homenagem àquele bravo que morrera voando!» O corpo de Plácido de Abreu foi trazido de França para Portugal por um trimotor francês,
tendo-lhe sido prestada à partida uma honrosa homenagem, pela aviação militar francesa, no aeroporto de «Le Bourget». De Portugal seguiu então para França, pilotado pelo seu comandante e protector, Tenente-Coronel Ribeiro da Fonseca, um avião «Junkers W-34 L», para escoltar o avião francês que trazia Plácido de Abreu para junto dos seus. Estes dois homens, apesar das suas diferentes posições hierárquicas e diferença de idades, tinham desenvolvido uma grande amizade entre si. Durante muitos anos foi recordada na nossa aviação um célebre encosto de asas no ar, que protagonizaram com os seus «Foguete» e «Junker» atrás referidos e que ficou registado para a posteridade, em fotografia tirada do avião de Ribeiro da Fonseca. O Colégio Militar nunca esqueceu o seu filho Plácido de Abreu, que tragicamente pereceu nas condições atrás descritas. Quem entrar no átrio principal do Colégio, que dá acesso aos Claustros, e olhar para a esquerda e para cima, verá, acima do Quadro de Honra dos Alunos, uma lápide singela aí colocada em sua memória. Honra e Glória a Plácido de Abreu, cujo espirito estará pairando sobre nós, algures no céu azul de Portugal. NOTAS FINAIS O presente artigo baseou-se na «História da Força Aérea Portuguesa», nele referida, e no livro «Portugal na Aventura de Voar», da autoria de Lourenço Henriques-Mateus, edição de «Público - Comunicação Social, SA». O capitão Lelo Portela, que retirou o corpo de Plácido de Abreu do seu avião em chamas, foi piloto na 1ª Guerra Mundial, tendo sido condecorado com a Cruz de Guerra de 1ª classe, com a Cruz de Guerra francesa (com 3 palmas) e com a Legião de Honra de França.
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Um Bravo Esquecido Luis Fernando Almada de Olivera (125/1945)
Um Bravo
esquecido Luís Fernando Almada de Oliveira (125/1945) Tenente-Coronel Piloto Aviador Nasceu a 24 de Março de 1935- Faleceu a 13 de Agosto de 1980 Nota prévia O texto que se segue, da autoria do Senhor Major General Piloto Aviador José Augusto Barrigas Queiroga, foi publicado no Boletim da Associação da Força Aérea Portuguesa. Sugerida a publicação deste artigo pelo nosso Camarada José Baptista Pereira (318/1948), o Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa (71/1957) obteve autorização, tanto do autor do artigo como dos responsáveis do Boletim antes referido, para transcrevermos esta referência a um Antigo Aluno que se distinguiu pelas excepcionais qualidades reveladas e grande brio profissional no desempenho das missões em que esteve envolvido, numa carreira que vinha seguindo tragicamente interrompida com um brutal acidente que o vitimou. Manifestamos o nosso agradecimento ao Autor do texto e aos Responsáveis do Boletim.
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uís Fernando Almada de Oliveira nasceu em Lisboa, na freguesia de São Sebastião da Pedreira a 24 de Março de 1935. Em Outubro de 1952, ingressou como cadete na Escola do Exército onde frequentou o curso de Aeronáutica que concluiu em Abril de 1955. Colocado na Base Aérea nº 1 em Sintra, terminou o seu Tirocínio de pilotagem na Força Aérea Brasileira em Março de 1956. Em Abril é promovido a Alferes e colocado da BA2 para fazer curso complementar em aviões de caça no Republic P-47 Thunderbolt. Colocado sucessivamente na BA4 (Terceira), AB1 (Lisboa), BA6 (Montijo) e em 1964 novamente no AB1. Frequentou em 1965 o Curso de Promoção a Oficial Superior e foi promovido em Dezembro desse ano ao posto de Major. Em Maio de 1967 é colocado na BA9 (Luanda) para desempenhar as funções de Oficial de Segurança Militar e Oficial de Operações do Grupo Operacional 901. Em Janeiro de 1969 passou a comandar, em acumulação, a Esquadra 94 (ALIII). Nesta data o Major Almada totalizava 10.000 horas de voo em 13 anos como piloto. Promovido a Tenente-coronel em 30 de Abril
de 1970 é colocado administrativamente no AB 1 mas a 28 de Maio é de novo colocado na BA9 para em Agosto assumir o comando do Grupo Operacional 901. A 21 de Fevereiro de 1971 regressa ao continente e em Maio é colocado na BA1 onde foi piloto instrutor em T-37, comandante do GO 101 e 2° Comandante da Base. Em Agosto de 1973 pede a passagem à disponibilidade e à reserva em Abril de 1977. Pediu licença para se ausentar para o Brasil onde veio a falecer a 13 de Agosto de 1980 vítima de acidente em helicóptero. Num transporte de carga suspensa, embateu com o cabo da carga em fios eléctricos de alta tensão. Morreu como viveu. Sempre em acção! Morreu voando!
O Homem O T/C Almada foi ao longo da sua vida uma personalidade enigmática junto dos seus subordinados. De poucas palavras na sua vida profissional, não comentava a sua vida privada.
... Dotado de excepcional espírito de luta, participou em todas as missões cuja execução se revestisse de maior dificuldade e risco, batendo-se sempre com extraordinário desprezo pelo perigo, determinação e serena energia debaixo de fogo. Agressivo e audaz... (MDN in Diário do Governo de 7 Julho de 1972)
Soube apenas que teve três filhos de um primeiro casamento e sofreu o desgosto de perder o filho primogénito muito novo. Havia nesse tempo uma distância muito grande entre um T/Coronel e um Tenente. Embora juntos durante grande parte das 24 horas do dia, não havia grande oportunidade para falar da vida privada. Pode acontecer porém que o seu comportamento como militar e combatente possa ter sido muito influenciado pela infelicidade que o atingiu.
O líder Dos cerca de três anos que servi em Angola e convivi de perto com o T/C Almada, habituei-me a ver nele a personificação das qualidades que os manuais dizem ser um “líder”. Tinha a capacidade de motivar e influenciar os subordinados para que conseguissem alcançar com entusiasmo os objectivos que se propunha. Com um estilo de liderança naturalmente autocrático, assumia não poucas vezes, uma pos-
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tura democrática ou mesmo liberal, de acordo com a situação que o momento permitisse. Era este estilo de liderança que reforçava os laços que uniam a maioria dos elementos da Esquadra 94, levando-os a aceitar naturalmente a influência que o seu líder exercia sobre eles e que se baseava não só no seu poder como comandante de esquadra, mas também como referência pela sua coragem e exemplo e confiança transmitida pela sua experiência de aviador. Disciplinado, impunha-se a todos com quem convivia pelo exemplo, quer no trabalho (muito), quer no lazer (todo o possível). Era intransigente na defesa dos interesses dos seus “maçaricos” como designava de forma paternal todos, pilotos e mecânicos, da ESQ 94.
O Militar Com uma formação muito consistente, característica Escola que frequentou foi sempre muito disciplinado. Exigia igual postura dos seus subordinados. Nas andanças por todas as unidades militares de Angola, ficava perturbado com a forma menos rigorosa com que militares de algumas unidades de quadrícula do Exército usavam os artigos do fardamento. Calções, sem camisa ou esta com botões desapertados, sapatilhas de meter no dedo, “quico” (chapéu) no bolso e a arma ao ombro agarrada pelo cano tipo cajado, eram posturas que o faziam perder a calma. Em oposição, os elementos da sua Esquadra usavam sempre uniforme em qualquer local em que se encontrassem: casaco e calças camuflados, camisa interior branca, lenço verde ao pescoço, bivaque na cabeça barba feita e botas a “brilhar”! A arma G3, que também usávamos, quando transportada era agarrada pelo punho encostada ao peito e cruzando da esquerda para a direita. Excepções: 1.Podia-se tirar o casaco se a T-shirt fosse apresentável. 2. As botas engraxadas e a barba, quando a actividade aérea começasse ao romper do dia. Nesta situação havia tolerância. Após a aterragem aparecer ataviado era procedimento. Bem elucidativo desta situação, foi o dia em que alguém tentava justificar o não se ter barbeado porque não havia água. Pergunta pronta do “Chefe”;
- Já acabou a 7up? Tinha perfeita consciência de ter a amizade de muitos, mas odiado por outros. Ouvi-o dizer numa ocasião: Os ”coiros” não gostam de mim!
O Combatente Poderíamos enumerar diversas situações nas quais comprovou as suas qualidades raras de combatente destemido. Adepto do principio que a guerrilha se combate com guerrilha, abominava os grandes e intermináveis planeamentos dos Estados-Maior. Por esse facto, em acção, nem sempre seguia as normas, se daí adviessem vantagens para a missão. A eficácia não podia ser comprometida pela eficiência. A exploração imediata, ou tão breve quanto possível, das informações obtidas na sequência de uma operação, era característica sua. Assumia a responsabilidade de agir por sua conta quando a consulta ou decisão da cadeia de comando só serviria para impedir novos êxitos. Procedimentos que não agradavam aos que apostavam em “fazer a sua guerra” no conforto do ar condicionado das Salas de Operações dos diversos Comandos Militares. Admirador incondicional do modo de operar dos Comandos, e fazendo jus das suas características de combatente, mais do que uma vez, no Leste de Angola, tomou parte como um dos 10 elementos da equipa de comandos, em Heliassaltos a objectivos. Das muitas operações em que participou, uma houve que lhe granjeou os maiores louvores tendo sido condecorado com a Medalha de Ouro de Serviços Distintos, com Palma (a palma só é concedida em combate), grau ouro só raramente era atribuída no posto de Tenente/ Coronel. Foi essa operação despoletada no maior segredo bem ao gosto do seu modo de operar, no dia 4 de Fevereiro de 1970 (Dia do MPLA). Transcreve-se uma passagem da acção da qual resultou a destruição da Operação Bomboko, projecto e grande sonho de Agostinho Neto para abastecer a 1ª Região do MPLA nos Dembos a partir da Zâmbia. “No dia 3 de Fevereiro o Major Almada chamou por volta das 16h00 à sala de operações da Esquadra 94, dois pilotos, três mecânicos e o “chefe da linha da frente” para fazer um curto “briefing”.
1 Designação dada aos militares que chegavam de fresco. Proferida pelo Major Almada era um tratamento carinhoso. Dada a sua versatilidade era designado por Major Alvega entre os subordinados 2
Saco de lona para a bagagem.
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Utilizando o estilo preciso e conciso que lhe era peculiar, “atirou”: - Maçaricos1 amanhã descolamos com um canhão e dois transportes. - Destino: Algures em Angola...! - Mínimo de vinte e cinco horas disponíveis para cada máquina. Era uma situação a que já íamos estando habituados com o novo comandante de esquadra. Sair sem saber mais do que necessário para o momento. Dando alguns segundos para digerir as três frases, continuou: - Tempo de permanência não definido...! Normalmente esse tempo podia ser calculado pelo seu indicador habitual; a “lingerie” que aconselhava a meter no “kit-bag”2 e variava pouco! - Três pares de cuecas! Aí estava o indicador determinando o tempo da saída! Seriam pelo menos duas semanas. De facto regressámos 13 dias depois! Havia que usar de alguma parcimónia quanto à utilização da roupa lavada em operações e devo confessar que nunca me faltou uma muda de roupa! Usava para o efeito o método da “rotação”. Ou seja, a peça usada hoje, vestida oito dias depois até parece lavada! - “Rodas no ar” às 06h00! - Assunto... Confidencial! O “briefing” estava a chegar ao fim. E já em direcção à saída, rematou com a afirmação: - E como não há dúvidas... até amanhã! Havia que começar já a preparar a missão pelo que estas instruções tinham que ser descodificadas. Como mais graduado, iria definir os pormenores. Os mecânicos pernoitavam na Base. Os dois pilotos e o chefe da linha iriam estar na Base às 5h00! A descolagem seria às 6h00 e permaneceríamos fora por um período de pelo menos duas semanas. Confidencial quer dizer que aquele “briefing” não existiu! Não podíamos fazer qualquer comentário, família incluída! Na manhã seguinte, frente a um café no bar da esquadra e enquanto os mecânicos faziam os últimos preparativos, o chefe deu uma ideia do que ia ser a nossa missão! Íamos interceptar uma coluna de guerrilheiros na região de Malange acrescentando que a informação era da máxima segurança e credibilidade.
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Não tinha por agora mais pormenores para nos fornecer. Até entrarmos em acção, o assunto continuava a ser confidencial. Queria dizer com isto que não faríamos comentários com ninguém, mecânicos da esquadra incluídos. - Mas, atenção! Se os guerrilheiros não forem encontrados, o assunto ficará confidencial para sempre! - E então, quando e se necessário, darei uma explicação plausível. Só mais tarde entendi esta última determinação. Protegia a origem da informação e a pouca ortodoxia que tinha sido posta no despoletar da missão! Se houvesse sucesso, como veio a acontecer, ninguém faria perguntas sobre o procedimento. Uma vez aterrados (no quartel de Quitapa 90 km a leste de Malange) e enquanto os mecânicos ajustavam o reabastecimento para 250 litros, (quantidade de combustível que permitia o melhor compromisso entre raio de acção e carga disponível) reunimos com o comandante de companhia para coordenar pormenores da nossa missão. Sem entrar em grandes detalhes pediu que disponibilizasse 10 homens com equipamento aligeirado para uma primeira vaga e que mantivesse um grupo de combate preparado para eventual intervenção. Era assim que as coisas aconteciam normalmente com ele. Simplicidade, eficácia e um certo gosto pelo perigo. A disponibilidade do comandante de Companhia foi total e nem sequer lhe ocorreu perguntar porque razão não tinha sido avisado pelo seu escalão superior. O Major Almada também não deu azo a isso porque disse a verdade: ninguém foi avisado para manter o segredo da acção. Só não lhe disse que a estrutura do Exército também não tinha sido informado. Ficámos nesse momento a saber que iríamos fazer um RVIS/ATIR (reconhecimento armado) voando em formação aberta e transportando dez militares armados apenas com G-3 Em linguagem comum, iríamos procurar uma coluna de guerrilheiros e que o local provável seria a nordeste da Quitapa nas margens do rio Cuango. Esta última informação era necessária para determinar um rumo inverso para eventual segunda vaga. O frenesim da tropa era bem visível à espera a todo o momento da ordem de embarque. Mas o seu papel haveria de estar guardado para mais tarde. Havia que localizar os “turras” primeiro! E assim descolámos com dez militares, cerca de uma hora depois da chegada. Voámos para norte numa formação larga para maior segurança
e ampliando a área coberta de reconhecimento visual. A ligação rádio garantia a proximidade entre os três. Depois de passarmos na garganta de uma pequena cordilheira atravessada pelo rio Cuango, o terreno abria-se num imenso vale muito plano com tufos de árvores de onde em onde, completamente inundado pelas águas do rio que tinha saltado das suas margens. Nalgumas ilhotas conseguíamos ver grupos de antílopes refugiando-se da cheia. Cerca de vinte minutos após a descolagem a voz do chefe soou pelo rádio: - Há aqui gajos debaixo das árvores! Circulem! Este reporte dava-me a certeza de que o chefe conhecia a localização provável do grupo. Ao fim de vinte minutos de voo, sem qualquer mudança de rumo, avisou pelo rádio ter avistado pessoal. Eram seguramente as coordenadas fornecidas pela DGS! Quando localizei o nº 1, já as incendiárias tracejantes do canhão indicavam que tinham sido abertas as hostilidades! Aproximámo-nos do local, iniciando um círculo largo para garantir alguma segurança pois não estávamos armados. E fomos tendo um retrato falado do que ia acontecendo, com aquela voz aparentemente calma que o chefe “vestia” quando em situações de tensão. Durante cerca de longos dez minutos não consegui visualizar o que se estava a passar dada a distância a que circulávamos. As árvores escondiam o local da acção, mas o chefe ia referindo que eram muita gente. O fogo do canhão era intenso e visível. Foi então que, para amenizar a tensão e como era seu costume, saiu a primeira “graça” do chefe. - Estes gajos têm tendência para mergulhadores! O fogo do canhão continuava e só a dada altura reparei que a corrente do rio arrastava já gente que tentava manter-se à superfície. Aquele pessoal fugia para dentro da corrente forte do rio numa tentativa de escapar aos tiros. Optavam por um possível afogamento ou serem comidos pelos crocodilos para evitar a humilhação da prisão. Foi quando vi o pessoal a tentar flutuar que entendi a ironia do chefe acerca da “tendência para mergulhadores”. Ao fim de mais alguns minutos ouviu-se pelo rádio: - Fui atingido! Disse-o no mesmo tom de voz com que teria dito: “Está calor”. Não pude deixar de quebrar a disciplina rádio para perguntar: - Tudo bem, com o “Mosca um”? Percebendo
a nossa angústia, no mesmo tom, respondeu! - Tudo bem maçaricos! Foi só a máquina! Foi com algum alívio que ouvi esta resposta e não a tradicional frase: “em voo, o asa só fala quando é chamado ou está em emergência”! Era esta a disciplina e assim tinha que ser no desempenho de uma actividade onde toda a atenção era necessária e o supérfluo apenas servia para distrair! Mas desta vez tinha compreendido a quebra da disciplina rádio. - Já há gajos de braços no ar! Vamos ver se conseguimos um local para largar o pessoal, sem os afogar. Embora houvesse preocupação na comunicação não deixava de estar presente mais uma pequena ironia. Servia para descontrair! - Preparem-se para colocar e trazer mais uma vaga. - Mosca dois! Dei o “entendido” àquela ordem. Aproximei-me cauteloso do local e pude ver uma quantidade razoável de indivíduos de braços no ar. Teria agora que manobrar para a escolha da melhor local e preparei mentalmente as instruções que iria dar ao chefe do grupo. Havia espaço para os dois helis e a colocação não era difícil não fosse a incerteza da profundidade da água. Não podia colocar os nossos homens muito próximo dos agora já visíveis guerrilheiros. Podia não ser seguro para eles e para mim. Tinha que ser uma decisão tomada perto do local de largada. Havia que assegurar que os homens só saltariam quando eu gritasse para o fazerem! Decidi por isso manter as portas do heli fechadas até que pudesse tomar uma decisão. Quando na final, premi o botão do rádio para que o nº 3 ouvisse enquanto falava com o chefe do grupo e puxando-lhe pelo ombro para que se aproximasse a sua orelha de mim, gritei-lhe: - Só abrem as portas depois de eu gritar “saltar”! O objectivo é fazer prisioneiros e nada de tiros! Só em defesa! - Há necessidade de informações e este pessoal está a render-se! Foi dizendo que sim com a cabeça em sinal de assentimento! Tenho porém que admitir que era mais fácil eu dizer do que ele fazer! E para o outro piloto: - Mosca três dá para os dois. Cinco segundo de separação. Mantém as portas fechadas até mandares saltar! - Mosca três. A três ou quatro metros do ponto de largada, com a certeza que teriam pé, mandei saltar! E de imediato ouvi o deslizar das portas a abrir.
Luís Fernando Almada de Oliveira (125/1945)
Era um salto de dois metros, altura confortável e que evitava que as pás do rotor de cauda entrassem na água com as graves consequências que daí podiam advir. Não dei mais instruções ao Mosca 3. Ouviu o que dissera e deu seguramente as mesmas indicações ao seu grupo!
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Joaquim Manuel Trigo Mira Mensurado (252/1946
Iriam ficar apenas com a protecção do heli canhão. E eu livre da muito alta tensão que vivi durante a mais “longa final”3 da minha carreira de aviador. Só um líder como ele conseguia que nos tivéssemos exposto a guerrilheiros armados a uma distância inferior a 10 metros, sem ter pensado nas consequências. ..../.... Esta acção traduziu-se, sob o ponto de vista disciplinar, num louvor concedido pelo Ministro da Defesa Nacional e a consequente condecoração: A Medalha de Serviços Distintos, com Palma, Grau ouro, normalmente só atribuída a oficiais generais. .... “Agressivo e audaz, o seu exemplo, pleno de decisão e tenacidade, não só conseguiu galvanizar os homens sob o seu comando, como também as próprias forças terrestres, resultando daí o aniquilamento de elevado número de inimigo e a captura de apreciáveis quantidades de material de guerra. Por tudo isto o Tenente Coronel Almada de Oliveira confirmou de forma inequívoca as suas brilhantes qualidades de combatente e de condutor de homens em campanha, prestigiando as forças armadas e tornando-se credor do agradecimento da Pátria, pelo que os seus serviços devem ser considerados extraordinários, relevantes e distintos. ln Diário Governo de 07 Junho 1972
Luís Fernando Almada de Oliveira (125/1945)
O
Luís Fernando Almada de Oliveira andou comigo no Colégio Militar, onde não se adivinhava o grande militar que demonstraria ser, ainda que fosse um bom camarada. Era o 125/1945, por alcunha o “pão”. Voltei a encontrá-lo na guerra de África. O Almada era um exímio piloto de helicóptero (Allouette III e Puma), aliás pilotava todos os aviões com mestria, desde os mais ligeiros DO-27 e Cessna, passando pelos Jactos F-16, e mais tarde comandante da TAP. Quando chegou a Angola foi logo até ao Leste, Ninda, à minha procura, pois queria participar numa operação terrestre para saber como era a guerra no chão. Assim foi, e fê-lo com um desembaraço igual a qualquer pára. Participou, também, em todas as operações que a minha Companhia realizou naquela região e, ainda, no Norte de Angola; igualmente com a companhia de comandos do CAPITÃO Raul Folques (380/1952), a quem não poupava elogios (e todos nós, sempre com a cooperação preciosa das informações do Major Piloto, Alcino Roque). Depois disso, fui promovido a MAJOR e oficial de operações do BCP 211 e o Almada, sendo TENENTE-CORONEL, era o comandante de grupo operacional da BA 9.2 Passámos a ser inseparáveis em operações, quer no Norte quer no Leste, em especial nas denominadas de “saltos de rã”, com óptimos resultados operacionais, sendo além disso bons companheiros e verdadeiros amigos. Começávamos o dia operacional ao raiar da aurora, chegando a navegar sem luz solar para aterrarmos, já noite escura, sem as mínimas condições de segurança. Posso afirmar, com toda a verdade, que ele foi o melhor oficial da guerra em Angola, brilhante comandante, exemplar em todas as vertentes e de uma coragem sem limites. Foi uma época aurea para a Força Aérea na cooperação entre o BCP 21 e a BA9, com resultados que se podem considerar excelentes. Acabadas as comissões em Angola continuámos muito amigos, até durante o PREC, e tenho muito apreço pelos livros “Os samurais” que me ofereceu, em especial nas dedicatórias que guardo com orgulho, antes do 11 Março 75, quando da sua partida para o Brasil, onde viria a morrer, prematuramente, ao serviço da sua profissão. Perdi um grande amigo e Portugal um HOMEM de grande valor. O Coronel Luís Fernando Almada de Oliveira ficou para a história não conhecida dos Verdadeiros Heróis e as condecorações que recebeu não representam, em nada, o seu enorme Valor Militar. 1
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Segmento do voo desde o início da descida até aterrar.
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Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 21 Base Aérea n.º 9
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Centenário do Moca
Centenário do Moca E
stá a acabar o ano em que se comemorou o Centenário do Nascimento de Cândido Gomes Alves, o «Moca» como carinhosamente e com saudade é recordado por todos aqueles que o conheceram e tiveram o privilégio da sua amizade, durante a sua estadia no Colégio e para lá desta enquanto esteve connosco já na situação de uma muito merecida reforma. O «Moca» personificou tudo o que de bom pode ter o relacionamento, de um adulto no desempenho de tarefas simples mas essenciais, com os Alunos de idades entre os dez e os dezoito anos que frequentaram o Colégio. Será sempre recordado como um Homem Bom que apoiava incondicionalmente os Alunos mas que de igual modo não transigia sempre que estes “punham pé em ramo verde”. Os Fâmulos como oficialmente eram designados sem qualquer desprimor, antes pelo contrário, tendo uma origem modesta, genericamente pelo seu procedimento e conduta eram exemplos de dignidade e de carácter que eram assimilados pelos Alunos. O «Moca» era um expoente muito elevado do que antes se referiu. Pena é que, actualmente, já não se verifiquem tais condições por força das alterações que o chamado “progresso” vem impondo, muitas vezes atribulada e desajustadamente e sem os cuidados e preparação que se impunham a certas mudanças. Recordando mais uma vez a figura ímpar de Cândido Gomes Alves que acompanhou tantas gerações de «Meninos da Luz», ao longo das muitas dezenas de anos em que SERVIU o Colégio, transcrevemos o texto de um dos seus Filhos, bem evidente da dignidade e bondade da sua faceta familiar, publicado em 1976 na Revista da AAACM, bem como a transcrição de alguns louvores que lhe foram concedidos e que revelam a sua estrutura moral e seu modo de procedimento. Estou convencido de que o «Moca», onde quer que esteja continua preocupado com os seus Alunos e também com o Colégio que Serviu com grande dignidade e empenho ao longo de uma vida. Que descanse em paz. Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949
Um amigo
Cândido Gomes Alves Sendo também servidor desta Casa é, no entanto, como filho mais velho que, com imensa honra e orgulho, falo da vida familiar de um homem bom. Seu nome é Cândido Gomes Alves, tem 61 anos, quase quarenta de Colégio Militar, é casado e tem três rapazes de 28, 27 e 21 anos. Marido extremoso, pai incansável, ele é sobretudo o grande companheiro de todos nós. Sempre com um sorriso nos lábios, mesmo nas horas mais difíceis, à custa do seu esforço e de quantas e quantas dificuldades vencidas, o «Moca» conseguiu licenciar um dos seus filhos, estando também para breve a formatura do mais novo. Não, a sua vida não foram rosas. Férias, praticamente nunca lhas conheci, sendo o mês de descanso aproveitado em qualquer ocupação que aparecesse a fim de poder colmatar algumas brechas no orçamento familiar. Sim, o que mais lhe admiro são a alegria de viver, o optimismo consciente, a actividade constante quer em casa quer no Colégio (a sua «amante» para a família) que fazem dele o grande companheiro e, salvo melhor opinião, um PROFISSIONAL. Luís Miguel Conceição Alves (Ao tempo Professor no Colégio)
Nota
Em Junho acompanhado por vários alunos, o nosso MOCA foi vivamente homenageado pelos «ex» presentes num dos clássicos almoços de quinta-feira no Jardim Zoológico.
Louvores Louvado pelo Exmo Coronel Director interino do Colégio Militar por proposta do Sr. Comandante da 2ª Companhia porque sendo o mais antigo dos serventes da Companhia desempenha a sua missão com um interesse que anda ligado à sua dedicação pela casa que serve há muitos anos e que já serviu como soldado (Ordem de Serviço do CM Nº 195 de 1956). Louvado pelo Exmo Tenente Coronel Subdirector do Colégio Militar por proposta do Sr. Comandante da 3ª Companhia porque durante os quatro anos que serviu sob o seu comando, se distinguiu por uma invulgar dedicação ao serviço, energia, eficiência e notável espírito de colaboração. Sempre pronto para acudir às necessidades mais inesperadas, tantas e tantas vezes além do seu horário normal de serviço deu sempre e em todas as circunstâncias, um alto exemplo de dever, amor ao trabalho e dedicação ao Colégio, sendo por isso estimado e considerado por camaradas, alunos e superiores. E porque se trata de um humilde servidor desta casa, cuja acção, plena de merecimento possa ser menos observada, importa pô-la em relevo (Ordem de Serviço do CM Nº 143 de 1961). Louvado pelo Exmo Tenente Coronel Subdirector, pelo muito brio, espírito de sacrifício e verdadeira abnegação demonstrados no desempenho das suas funções de servente da 3ª Companhia, qualidades que o tornam merecedor da estima e consideração dos seus superiores e da muita amizade com que os alunos o distinguem (Ordem de Serviço do CM Nº 263 de 1964). Louvado pelo Exmo Coronel Subdirector, e por proposta do Exmo Comandante do Corpo de Alunos, pela sua excepcional dedicação posta totalmente aos serviço da sua companhia há já longo tempo, onde tem revelado sempre uma permanente vontade de bem servir caracterizada por uma rara noção do dever e uma grande simpatia, natural bondade e humanidade que o tornaram credor da amizade quer dos alunos quer dos seus superiores, neste Colégio e merecedor de ser apontado como exemplo (Ordem de Serviço do CM Nº 249 de 25-10-1973). Louvado por Sua Exª o Brigadeiro Director do Colégio Militar pelas muito boas qualidades de dedicação, sentido do dever e da responsabilidade que tem posto no desempenho do serviço que lhe compete na 3ª Companhia. Demonstrando ainda um grande espírito de sacrifício (porque apesar da idade não se poupa a esforços) e um equilibrado espírito de humanidade e de convivência que levam a que os alunos o aceitem muito bem e o respeitem, é de inteira justiça que seja apontado como exemplo a seguir pelos seus camaradas (Ordem de Serviço do CM Nº 278 de 02-12-1974).
Imposição de Graduações Ano 2015/2016
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Imposição de Graduações Ano 2015/2016
Os futuros Graduados antes da Imposição das Graduações - ©Foto Leonel Tomaz
C
om a presença de Servidores do Colégio, de Representantes das Associações de Antigos Alunos e de Pais e Encarregados de Educação e de Familiares, teve lugar, no passado dia 9 de Setembro, a Cerimónia da Imposição de Graduações aos Alunos que irão desempenhar essas funções no Ano Lectivo 2015/2016. Com os futuros graduados em formatura nos Claustros e após a continência, pelo Director Senhor Coronel Tirocinado de Artilharia José Domingos Sardinha Dias foram proferidas as seguintes palavras:
Exmo. Sr. Engenheiro Pedro Chagas, Representante da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar. Exmo. Sr. Coronel João Quadros, Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar. Exmo. Sr. Engenheiro Martiniano Gonçalves, Presidente do Conselho Supremo da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar. Exmo. Sr. Professor Pedro Ferreira, Coordenador Pedagógico do Colégio Militar. Estimados Professores, Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis que servem no Colégio Militar.
Exmos. Pais, familiares e Convidados dos Alunos que hoje vão ser graduados. Antes de tudo quero agradecer a presença de V.Exas. nesta Cerimónia. Caros Alunos Este evento, que é o primeiro de cada ano lectivo, representa um dos momentos altos e mais desejados do vosso percurso escolar, que vos vai exigir, nesta última etapa, um compromisso e um esforço adicional em prol do Colégio Militar. A partir de hoje ireis assumir responsabilidades acrescidas na estrutura do Batalhão Colegial, nomeadamente as relacionadas com o enquadramento e a formação dos Alunos mais novos,
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Imposição de Graduações Ano 2015/2016
Os Graduados no dia da Imposição das Graduações - ©Foto Renato Oliveira
no que se refere à transmissão dos princípios e valores que emanam do Código de Honra do Aluno do Colégio Militar. A presença de todos os que aqui se encontram constitui o público testemunho de que este compromisso distingue de modo decisivo o modelo formativo deste Colégio. Ser graduado, sendo uma tradição consolidada no tempo e consubstanciado no projecto educativo do CM significa, como já referi, assumir responsabilidades relacionadas com o acompanhamento e a integração dos Alunos mais novos, o que implicará: ● Cumprir e fazer cumprir o Código de Honra do Aluno do Colégio Militar; ● Ser um exemplo e ser um líder; ● Ser justo, ser respeitado e ser respeitador; ● Constituírem-se como um irmão mais velho, e para além de tudo isto, saberem conciliar
ainda os estudos e o sucesso académico com o exercício destas competências. Este é um momento que devem sentir com particular orgulho pois é o reconhecimento de uma tarefa nobre, que tem caracterizado a vida e funcionamento interno do Colégio Militar ao longo da sua história, e é nestas funções que reside muita da especificidade e identidade deste Colégio. Acompanhar e ajudar os vossos camaradas mais novos nas suas dificuldades escolares e na inserção nos demais aspetos da vida interna do Colégio é mais um esforço que vos será solicitado. Cuidado, será sobre vós que eles irão dirigir toda a sua atenção. É, pois, crucial aplicarem os bons exemplos e abolir tudo o que vos marcou negativamente. A vossa conduta, a coerência das vossas atitudes, a determinação inequívoca quanto aos aspetos essenciais na formação comportamental,
garantindo a sua segurança e gerindo as suas expectativas, marcará e contribuirá inequivocamente para que os mais novos possam aqui ser felizes. Esta é uma oportunidade única que está agora ao vosso alcance. Dignifiquem o Batalhão Colegial honrando assim igualmente os 212 anos de história deste Colégio. Isto é o que esperamos dos Alunos Graduados. E não se esqueçam dos atributos base da Liderança que vos foram transmitidos com insistência ao longo dos anos e fortemente reiterados neste estágio: ● Exemplo ● Sentido de Responsabilidade ● Lealdade ● Disciplina
Imposição de Graduações Ano 2015/2016
Caros Alunos, Termino dando-vos os meus sinceros parabéns pelas insígnias que agora vos irão ser impostas e que representam a confiança que depositamos em vós para esta nobre missão: Ser Graduado do Colégio Militar. Sejam exemplares na exigência mas igualmente na camaradagem para com os mais novos, para que mais tarde, sejam por estes recordados com alegria. Vai ter início um período único das vossas vidas. Já sabem o que esperamos de vós. Boa sorte e todo o sucesso que o Colégio Militar merece. Tenho dito. Pelo Adjunto do Comandante do Corpo de Alunos foi lido o Artigo da Ordem de Serviço respeitante às graduações, seguindo-se a respectiva imposição aos Alunos: Comandante do Batalhão Colegial Aluno 99, Manuel Vasconcelos Comandante da 4ª Companhia Aluno 184, Ricardo Ferreira Comandante da 3ª Companhia Aluno 415, Francisco Vicente Comandante da 2ª Companhia Aluno 31, Ruben Garcia Comandante da 1ª Companhia Aluno 209, Matias Weigl Porta-Estandarte Nacional Aluno 261, Rafael Onofre Comandante da Escolta Aluno 93, Vasco Pereira Porta-Guião do Colégio Militar Aluno 170, Leonel Lima Cerra-fila da Escolta Aluno 150, António Carvalho Adjunto Comandante da 4ª Companhia Aluno 342, Gonçalo Maia Adjunto Comandante da 3ª Companhia Aluno 324, Eduardo Esteves Adjunto Comandante da 2ª Companhia Aluno 204, Rodrigo Fernandes Adjunto Comandante da 1ª Companhia Aluno 289, Pedro Fortes Comandante de Pelotão da 4ª Companhia Aluno 251, Pedro Coutinho Comandante de Pelotão da 4ª Companhia Aluno 511, Rui Domingues
Comandante de Pelotão da 4ª Companhia Aluno 130, Francisco Lopes Comandante de Pelotão da 3ª Companhia Aluno 312, Bernardo Laranjeira Comandante de Pelotão da 3ª Companhia Aluno 121, João Costa Comandante de Pelotão da 3ª Companhia Aluno 272, Henrique Pinto Comandante de Pelotão da 2ª Companhia Aluno 142, António Rouxinol Comandante de Pelotão da 2ª Companhia Aluno 222, Lourenço Meess Comandante de Pelotão da 2ª Companhia Aluno 377, Bernardo Carvalho Comandante de Pelotão da 1ª Companhia Aluno 105, Francisco Sousa Comandante de Pelotão da 1ª Companhia Aluno 328, Gonçalo António Comandante de Pelotão da 1ª Companhia Aluno 226, David Santos Comandante de Secção da 4ª Companhia Aluno 398, Henrique Calado Comandante de Secção da 4ª Companhia Aluno 365, João Ferreira Comandante de Secção da 4ª Companhia Aluno 54, Henrique Melo Comandante de Secção da 4ª Companhia Aluna 630, Vitória Coimbra Comandante de Secção da 3ª Companhia Aluno 51, Tiago Abreu Comandante de Secção da 3ª Companhia Aluno 25, José Ferreira Comandante de Secção da 3ª Companhia Aluno 332, João Pereira Comandante de Secção da 3ª Companhia Aluna 27, Miriam Sardinha Comandante de Secção da 2ª Companhia Aluno 457, Georgy Chernobay Comandante de Secção da 2ª Companhia Aluno 270, Gonçalo Alves Comandante de Secção da 2ª Companhia Aluna 661, Inês Constâncio Comandante de Secção da 2ª Companhia Aluno 192, Tomás Bastos Comandante de Secção da 1ª Companhia Aluno 32, Pedro Martins
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Comandante de Secção da 1ª Companhia Aluna 628, Maria Santos Comandante de Secção da 1ª Companhia Aluno 193, João Inácio Comandante de Secção da 1ª Companhia Aluno 252, Pedro Pereira Comandante de Secção da 1ª Companhia Aluna 618, Maria Santos Comandante de Secção da 1ª Companhia Aluno 590, António Silva Graduada em Furriel Aluna 436, Ana Bento Graduada em Furriel Aluna 578, Carolina Marreiros Graduada em Furriel Aluna 579, Beatriz Bandeira Graduada em Furriel Aluna 635, Cristiana Oliveira Graduada em Furriel Aluna 663, Kamia Lourenço Graduada em Furriel Aluna 669, Ana Jesus Os Alunos recém-graduados assumiram o seu Compromisso de Honra, repetindo a fórmula lida pelo Comandante do Corpo de Alunos, Major de Cavalaria Bernardo Luís da Silveira e Lorena Lopes da Ponte (80/1980): “Assumo, com perfeita consciência e sentido das responsabilidades, as funções de graduado que me são confiadas, comprometendo-me a exercê-las no respeito por mim próprio e pelos outros, com inteira lealdade e de forma digna, honrando o Colégio Militar.” Após o encerramento da cerimónia, pelo Aluno Comandante do Batalhão foi bradado o ZacatraZ que ecoou profundamente nos Velhos Claustros desta multissecular Instituição, verdadeiro ex-líbris e onde ao longo dos tempos se realizaram as mais nobres cerimónias de grande relevo e de verdadeira e nobre tradição.
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Ainda o Batalhão em números ou a obra acabada
Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957
Ainda o Batalhão em números ou a obra acabada H
á um ano atrás, no número 197 da ZacatraZ, correspondente aos meses de Outubro a Dezembro de 2014, apresentei um artigo denominado «O Batalhão em Números», com o subtítulo «A anatomia de um crime», em que historiei as mudanças introduzidas no Batalhão Colegial, decorrentes das reformas de iniciativa ministerial, que em má hora atingiram o Colégio. Apresentei então a composição do Batalhão no ano lectivo de 2013/2014 e no início do ano lectivo de 2014/2015 e analisei as mudanças profundas então ocorridas, tendo chegado às seguintes conclusões:
Ano 2013/2014
Ano de 2014/2015
Alunos Internos
313 (86%)
286 (58%)
Alunos Externos
16 (4%)
38 (8%)
Alunas Externas
36 (10%)
170 (34%)
365
494
Totais
Num ápice, a percentagem de Alunos Internos, que muitos consideram o «núcleo duro» do Batalhão, diminuiu drasticamente, já não atingindo no início do ano de 2014/2015 os dois terços do efectivo total. A percentagem de Alunas subiu em flecha, passando as Alunas a constituir praticamente um terço do Batalhão. Estas alterações profundas e repentinas e ao arrepio do que o bom senso aconselharia, que teria sido no mínimo uma transição mais suave, trouxeram consigo um conjunto de novas situações, que poderiam ter tido graves consequências. Tal não veio a acontecer, por mérito da Direcção do Colégio e do Comando do Corpo de Alunos, que tiveram uma acção diária empenhada, por não menor mérito dos Alunos Gra-
duados, que admito que possam ter tido o seu aproveitamento escolar afectado pela acção de comando, de aconselhamento e de vigilância permanentes a que as novas circunstâncias os obrigaram, pela acção de seguimento continuada da Associação de Pais e Encarregados de Educação, cujo Presidente, Antigo Aluno, só lhe faltou dormir no Colégio, e também pela acção da Associação dos Antigos Alunos, que nunca faltou com o seu apoio e aconselhamento, sempre que tal lhe foi solicitado, ou sempre que julgou que as circunstâncias o impunham. No ano lectivo passado ainda funcionou o Instituto de Odivelas, ministrando apenas os 9º e 12º anos, funcionando também como dormitório para as suas Alunas que tinham transitado para os restantes anos do Colégio, onde não podiam pernoitar, por falta de instalações para tal fim. Essas Alunas tiveram um ano atribulado, em vai vem permanente entre Odivelas e a Luz, com as inerentes fadiga e perda de tempo para estudar, sendo estas questões seguramente de menor importância no douto critério de quem engendrou esta situação bizarra. Findo o ano lectivo em Odivelas, terá havido certamente um toque de finados, na mente das que lá foram Alunas e de todos aqueles que conheciam o que foi a obra daquele notável e centenário Instituto. As portas do Instituto encerraram, o que foi um crime de lesa Pátria. As Alunas que concluíram o 12º ano terão ido frequentar as Universidades, para poderem assim adiar por uns anos um provável ingresso nas fileiras do desemprego ou da emigração e as Alunas que concluíram o 9º ano e assim o desejaram, rumaram à Luz, para ingressarem no Colégio, como Alunas internas ou externas, consoante a opção dos seus pais. Chegamos assim ao início do ano lectivo em curso, que nos propomos analisar, por meio dos dados que a seguir apresentamos.
Ainda o Batalhão em números ou a obra acabada
Admissões no Batalhão Colegial Ano
Alunos
Alunos
Alunas
Alunas
Internos
Externos
Internas
Externas
Totais
5º
26
29
7
27
89
6º
6
1
3
1
11
7º
7
5
3
7
22
8º
3
2
2
0
7
9º
0
1
0
1
2
10º
0
0
16
5
21
11º
0
0
0
0
0
12º
0
0
0
0
0
Total
42
38
31
41
152
Verifica-se que nos anos normais de ingresso no Colégio, ou seja, nos 5º, 6º e 7ºanos, ingressaram 122 Alunos. Nos 8º e 9º anos, em que o ingresso é só aceite a título excepcional, houve 9 ingressos. No 10º ano ingressaram 21 Alunas, todas elas provenientes do Instituto de Odivelas. Os totais de ingressos foram de 80 Alunos e de 72 Alunas, sendo o total de Alunas fortemente influenciado pelas Alunas provenientes de Odivelas, que ingressaram no 10º ano. No total foram admitidos em regime de internato 42 Alunos e 31 Alunas, sendo que mais de 50% destas últimas foram as já referidas Alunas provenientes de Odivelas que ingressaram no 10º ano. A situação do Batalhão, depois deste conjunto de admissões, passou a ser a seguinte:
Batalhão no início do Ano Lectivo 2015/2016 Ano
Alunos
Alunos
Alunas
Alunas
Internos
Externos
Internas
Externas
Totais
5º
28
30
7
28
6º
36
13
11
20
93 80
7º
41
12
14
33
100
8º
41
4
22
23
90 58
9º
38
3
8
9
10º
27
1
18
5
51
11º
31
0
9
3
43
12º
33
0
10
1
44
Total
275
63
99
122
559
O primeiro facto que se pode constatar é a constante redução do número de Alunos internos, que passou de 313 em 2013/14, para 286 em 2014/2015 e para 275 no ano em curso. Este conjunto de Alunos, que, como já referi, se considera o «núcleo duro» do Colégio, já não chega a 50% do total do Batalhão Colegial. O conjunto de Alunos e Alunas Externos monta a um total de 185, ou seja, já representam 33% do Batalhão Colegial. Não maço o leitor com mais números e percentagens e deixo ao critério de cada um tirar as suas próprias conclusões. Admito que essas conclusões sejam as mais desencontradas, de acordo com os pontos de vista de cada um, pois é costume dizer-se que «os números, quando bem torturados, acabam sempre por confessar tudo aquilo que se quiser».
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A minha conclusão é simples, o Colégio foi completamente descaracterizado. Segundo o que nesta revista já escrevi, a identidade do «meu» Colégio baseava-se, em três pilares: MILITAR, MASCULINO e INTERNO. A situação referente a estes três pilares é a seguinte: O internato masculino está em continuada redução. Quanto ao internato feminino ainda é cedo para tirar conclusões, pois este ano está fortemente influenciado pela entrada das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas. As Alunas já representam cerca de 40% do Batalhão, estando esta percentagem em ascensão. Dentro de pouco tempo poderemos ter uma maioria de Alunas no Batalhão. Quanto ao carácter militar do Colégio, o mesmo tem vindo paulatinamente a perder importância com o decorrer dos anos. Actualmente o número de Oficiais em serviço no Colégio é diminuto face ao número de Professoras e outras Senhoras que trabalham no Colégio, o que não contribui para a preservação de um «ambiente» militar. Admito que dentro de breves anos não haverá Oficiais do Exército disponíveis para servir no Colégio, face à drástica redução do número de cadetes admitidos para o Exército na Academia Militar. Esse número está a um nível absolutamente inimaginável ainda há poucos anos atrás. Será que existe alguma solução alternativa, cujo conhecimento nos está a ser sonegado? Bem gostaríamos de conhecer essa solução, se é que a mesma está pensada, facto de que duvidamos. Temos pois perante nós a obra acabada a que foram sujeitas duas Instituições, que em qualquer país civilizado e com governantes com visão seriam respeitadas, apoiadas e acarinhadas. O Instituto de Odivelas foi assassinado a sangue frio. O Colégio foi completamente descaracterizado, podendo essa descaracterização ser o prenúncio da sua morte. Face a esta situação, resta-me repetir o que aqui disse há um ano atrás: É obra senhor ministro. Seria difícil fazer pior! NOTA FINAL - O presente artigo é de minha exclusiva iniciativa e responsabilidade, não representando a posição de qualquer Órgão da nossa Associação.
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Abertura Solene do Ano Lectivo
Gonçalo Salema Leal de Matos 371/1949
Abertura Solene do Ano Lectivo A
23 de Outubro, por coincidência dia em que a Associação dos Antigos Alunos comemora 112 anos de existência, realizaram-se as cerimónias da Abertura Solene do Ano Lectivo no nosso Colégio. O programa enquadra-se numa matriz que vem sendo seguida desde alguns anos onde, se incluem os aspectos fundamentais desta cerimónia e do seu objectivo. O Batalhão Colegial começa a ocupar quase integralmente o espaço dos Velhos Claustros que, ao longo dos anos, tem testemunhado inúmeras cerimónias de grande significado. Com a presença de muitos Oficias Generais, do Tenente-General Fernando Perry da Câmara (143/1940), antigo Director do Colégio, do Presidente da Junta de Freguesia de Carnide, do Vice-Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, do Director de Educação do Exército Major-General Cóias Ferreira, do Director do Instituto dos Pupilos do Exército, Presidente da Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar, António Saraiva de Reffóios (529/1963), do Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar, João Vasco de Sousa de Castro e Quadros (444/1972), de Adidos Militares acreditados em Portugal, de Oficiais dos três Ramos das Forças Armadas e Militarizadas, Oficiais, Professores e Servidores do Colégio, Pais, Encarregados de Educação e Familiares dos Alunos, Convidados e Antigos Alunos, foi assumido o comando dos Alunos em parada pelo Aluno 99, Manuel Maria Batalha Graça de Almeida e Vasconcelos, tendo sido prestada
continência ao Senhor Tenente General António Noé Pereira Agostinho, Vice-Chefe do Estado Maior do Exército, que presidiu à cerimónia. Integrado o Estandarte Nacional, fez-se a apresentação dos novos Alunos que, como é habitual e natural, ainda têm um marchar incipiente mas já denotando uma vontade de o fazer com garra e talento. O Artigo da Ordem de Serviço que aumenta os Novos Alunos ao efectivo do Batalhão Colegial foi lida pelo Sargento Chefe Aretino Mota. Um aspecto muito negativo é o corte de algumas fardas que mais parecem um “saco de batatas” e com dimensões extremamente exageradas, muitas delas a darem pelos joelhos. Também se verifica a existência de dólman com 7 e 8 botões. No tempo em que fui aluno tal era impensável. As fardas eram feitas por alfaiates, da Cooperativa Militar e da firma Loureiro & Antunes, obedecendo a regras bem definidas. Os mestres alfaiates deslocavam-se ao Colégio para fazer as provas que fossem necessárias com vista a que as fardas tivessem o acabamento e a dignidade estabelecidas. Nos dias de hoje tal procedimento não seria viável, mas o cumprimento de padrões estabelecidos parece ser possível. As fotografias disponíveis confirmam a situação antes referida. O seu aspecto fortemente chocante, é razão determinante para não serem publicadas. Seguramente, esta situação irá ser corrigida e ultrapassada. A entrega da réplica da Espada do Rei Dom Carlos, Símbolo do Comando do Batalhão Colegial, foi entregue pelo «Batalhãozinho»,
Aluno Eduardo Marques Manso Pereira Sérgio (745/2015), ao Aluno Manuel Almeida e Vasconcelos (99/2008), sendo assim formalizada a sua tomada de posse. Seguiu-se o tradicional abraço que simboliza o acolhimento fraterno a todos os que ingressam na Família Colegial.
Abertura Solene do Ano Lectivo
O Comandante do Batalhão usou então da palavra tendo dito: “Vossa Excelência General Vice-chefe do Estado Maior do Exército Exmos. Oficiais Generais Exmo. Coronel Tirocinado Director do Colégio Militar Oficiais, Docentes, Sargentos, Praças e Funcionários Civis, Exmos. Convidados Antigos Alunos, Alunos Dirijo-me a vós nestes seculares e prestigiados Claustros com dois sentimentos: felicidade e esperança. Sentimentos que não pareciam possíveis até há relativamente pouco tempo. Porém, continuo consciente dos obstáculos que ainda temos de ultrapassar e vencer. Vivemos, actualmente, num Colégio diferente. Diferente, mas igual. Diferente, porque as recentes alterações implicaram mudanças nas estruturas internas, nos regimes de frequência e na mentalidade. O nosso Colégio sentiu o impacto, mas unido e apoiado nos seus seculares
©Foto Leonel Tomaz
princípios e valores resistiu, venceu preconceitos e medos, e hoje já é possível dizer que a nossa essência, os nossos princípios e aquilo que nos caracteriza não morreram. O Colégio não morreu. Os Claustros continuam erguidos e fortes. O nosso desejo de servir o nosso país e a nossa comunidade, também. Aquilo que nos caracteriza verdadeiramente foi, é e sempre será intemporal. E sobre esta temática não podemos ter dúvidas nem incertezas. Está na altura de, como família, encarar a nova realidade de frente, está na hora de, todos juntos, nos focarmos nos objectivos e nos meios para os atingirmos. A união da Família Colegial nunca foi uma utopia. Todos devemos assumir com gosto, a responsabilidade de colocar esta casa nos mais altos patamares de educação e formação moral. Quero deixar algumas palavras aos Pais e Encarregados de Educação. Saúdo-vos pela
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vossa escolha. Pela vossa coragem e por terdes confiado no Colégio e no seu projecto educativo singular para vos ajudar a educar os vossos filhos. Acreditem quando vos digo: o Colégio será, na vida dos vossos filhos, muito mais do que uma simples escola. Será uma preparação para a vida. Isso não implica, contudo, que deixem de apoiar os vossos, agora, turistas. A Família é a base de qualquer cidadão válido e um Menino da Luz também precisa de a sentir e saber perto. Lembro aqui as sábias palavras de Ramalho Ortigão, “O modo mais eficaz de seres útil à tua Pátria é educares o teu filho”. Esta proximidade entre o Colégio e as Famílias é uma constante da nossa história. Relembro que entre as razões que levaram à formação do nosso Colégio se encontram a necessidade de salvaguardar a educação dos filhos dos militares que partiam para a guerra e que, por vezes, já não regressavam.
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Abertura Solene do Ano Lectivo
©Fotos Leonel Tomaz
Aqueles que tiveram a infelicidade de perder os seus Pais e já não têm todo o apoio familiar, lembrem-se que o Colégio Militar é também uma casa para vós. A união e a camaradagem não são palavras gastas pelo tempo e continuam bem vivas na essência dos nossos princípios. Por isso mesmo, depois de entrarem nesta Casa nunca mais estarão sozinhos. Pretendo só fazer mais um pedido aos Pais: acompanhem os vossos filhos, estejam próximos, mas deixem-nos ser autónomos. A autonomia é uma aptidão valorosa e muito útil não só no Colégio mas também ao longo da vida. Saibam deixa-los vencer e perder sozinhos, saibam deixá-los aprender com os próprios erros e saibam deixá-los viver o Colégio, pois só assim se pode ter a certeza que eles aprenderam e compreenderam o que a aqui se transmite. Dirijo-me agora aos Professores, sei que têm a consciência da grande responsabilidade que recai sobre vós. Para além de terem que leccionar os conteúdos e os programas de cada disciplina, também sois um modelo para muitos Alunos. Tendes de ser uma inspiração e um exemplo, pois só assim os Alunos conseguirão mudar as suas atitudes por vezes ociosas e displicentes. A vossa postura reflectirse-á na postura dos vossos discípulos e estes - nunca podemos esquecê-lo têm de ser Meninos da Luz.
A vossa missão é difícil, tem muitas contrariedades, mas é crucial para a formação dos aqui estudam. Nunca sejam permissivos, porque só assim ganharão o respeito dos vossos Alunos. O respeito é um pilar base da educação e formação de um jovem. Dirijo-me agora aos Alunos, dirijo-me a vós, não como Comandante do Batalhão, mas, principalmente, como irmão mais velho. Aproveitem cada momento dentro desta Casa, pois, parecendo longo, o percurso irá revelar-se muito breve. É verdade que somos nós, Alunos, que fazemos o Colégio, mas isso não nos torna privilegiados, pelo contrário, é fonte de grande responsabilidade. O presente e o futuro do Colégio dependem da dedicação, do esforço, do empenho e do Amor que lhe dedicarmos. Não podemos viver à sombra da História do Colégio. Os nossos antecessores nunca nos perdoariam isso. Temos de dar continuidade a essa história. São as nossas acções e as nossas atitudes que irão fazer a história do Colégio. Por isso, História é aquilo que estamos a fazer agora. História é manter a chama acesa e preservar os nossos valores e os nossos princípios. História é um Colégio, que se diz de Excelên-
cia, atingir resultados escolares brilhantes que demonstrem a qualidade do seu ensino. A verdade é muito simples: o prestígio do Colégio Militar está nas nossas mãos. Temos que nos esforçar mais, temos que trabalhar mais, temos que obter melhores resultados escolares. É verdade que os rankings, em todos os ciclos de ensino, não espelham tudo o que somos, não captam a formação integral de um Menino da Luz, mas, nesse campo, podemos, devemos e temos que fazer mais e melhor. É importante encontrar um equilíbrio entre a vivência Colegial e a parte escolar e académica. Viver o Colégio é importante, mas isso nunca foi incompatível com a obtenção de resultados de excelência. Não foi no passado e não pode sê-lo agora. Quem pensar o contrário, esquece a história do Colégio. Finalistas, irmãos, chegámos ao auge do nosso percurso colegial, o que assinala também o último ano que vivemos nesta Casa. Estou certo de que todos estão conscientes do trabalho que temos pela frente e que este não será fácil. Estou certo de que liderarão com Respeito, Dignidade e Exemplo. Norteando a vossa liderança pelo Código de Honra. Nada é impossível, porque essa palavra não existe no nosso dicionário.
Abertura Solene do Ano Lectivo
Por tudo isto, confio em vós para dar continuidade ao Espírito do Colégio, sempre Unidos como Curso e como Colégio com o objectivo de Servir. Futuros “Ratas”, relembro com saudade a cerimónia onde enverguei pela primeira vez a farda cor de pinhão, com o brio e a honra com que vocês estão hoje. Todas as atenções estão postas sobre vós, que iniciais agora um percurso único de oito anos. Esse percurso não será fácil e exigirá o máximo de vós, testando-vos muitas vezes de diferentes formas. Acreditem que as coisas nunca acontecem duas vezes da mesma maneira. Por isso, desfrutem de todos os momentos que podem viver no Colégio. Aquilo que irão aprender marcar-vos-á para sempre. Aqueles que estão formados ao vosso lado tornar-se-ão vossos irmãos, darão tudo por vós e ficarão a vosso lado toda a vida, nos bons e maus momentos. É claro que esta irmandade, esta partilha, esta camaradagem são potenciadas pelo internato. Compreendam que o Colégio é mais do que uma escola, porque faculta aos seus alunos uma vivência única que só acontece no internato. O internato não é uma dificuldade acrescida para vós mas sim uma ajuda valiosa ao longo do vosso percurso colegial.
Não espero que se lembrem exactamente destas minhas palavras daqui a oito anos, nem que as compreendam no seu todo, hoje, mas espero que quando chegarem ao final do vosso percurso colegial, as sintam e dêem valor ao seu significado. Aprendam a Nunca desistir! E Nunca desperdicem uma oportunidade ou ensinamento! Desde o início, aprendam a dar valor ao que têm e ao privilégio de estudar neste Colégio, que é, sem dúvida, uma experiência única. Concluo, citando Winston Churchill: “É inútil dizer que estamos a fazer o possível. Precisamos de fazer o que é necessário”. Nos tempos de hoje só há um caminho certo para o Colégio e esse é fazer o que é necessário, que pode ser muito para além do possível. Tenho dito” Concluída a cerimónia nos Claustros, o Batalhão Colegial desfilou na Parada Marechal António Teixeira Rebello, acompanhado pela Banda do Exército que mais uma vez evidenciou a sua excelência de execução. A Cerimónia Académica realizou-se no Ginásio Professor Dario Fernandes sendo a Mesa de Honra constituída pelo Vice-Chefe do Estado Maior do Exército, Tenente General António Agostinho, pelo Comandante das Forças Ter-
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restres Tenente General António Xavier Lobato de Faria Menezes (568/1969), pelo Antigo Director do Colégio, Tenente General Fernando Edgard Collet-Meygret de Mendonça Perry da Câmara (143/1940), pelo Director de Educação, Major General Fernando Joaquim Alves Cóias Ferreira, pelo Major General Jorge Manuel Nunes dos Reis, pelo Presidente da AAACM, Dr. António José Sousa Valles e Saraiva de Reffóios, pela Presidente da Associação das Antigas Alunas de Odivelas, Dra. Joaquina Maria Seara Marques Cadete Philimore, pelo Director do Colégio, Coronel Tirocinado de Artilharia, José Domingos Sardinha Dias, e pelo Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar, Coronel João Vasco de Sousa de Castro e Quadros. Entoado o Hino Nacional por todos os presentes, usou da palavra o Director do Colégio que disse: “Excelentíssimo Senhor Tenente-General António Noé Pereira Agostinho, Vice-Chefe do Estado-Maior do Exército, Meu General Comandante. Permita que me dirija a VExa para expressar a satisfação do Colégio Militar e de toda a comunidade Colegial pela sua presença, que muito
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Abertura Solene do Ano Lectivo
- Caros Pais, Encarregados de Educação, Ex-alunos e Comunidade Colegial em geral, - Entidades instituidoras de prémios, a quem agradecemos desde já o vosso contributo para galardoar o mérito dos nossos alunos, - Exmas. Entidades convidadas, Minhas Senhoras e Meus Senhores, Caros Alunos, Antes de tudo, gostaria de começar por agradecer a todos quantos nos quiseram honrar com a sua comparência nesta cerimónia, que marca o início de um novo ano lectivo, facto que interpretamos como sinal evidente da estima que vos merece esta Instituição Educativa.
©Foto Leonel Tomaz
nos honra e sensibiliza e por se dignar presidir à nossa Abertura Solene. Num momento em que continuamos sob o escrutínio público e social, a presença e o apoio do meu General constitui, por si só, um forte estímulo para todos quantos servem e estudam no Colégio Militar e simboliza o apreço e consideração que VExa. dedica a este seu Estabelecimento Militar de Ensino, bem como ao cumprimento da sua nobre missão. - Exmos. Senhores Oficiais Generais, - Exmo. Senhor Tenente-General Perry da Câmara; permita-me que na pessoa do Meu General dirija uma palavra de reconhecimento e consideração a todos os que me antecederam no cargo de Director deste Colégio, - Exmo. Senhor Presidente da Junta de Freguesia de Carnide, - Exmo. Senhor Vice-Presidente da Câmara Municipal de Odivelas - Exmo. Senhor Major-General, Cóias Ferreira, Director de Educação, Exmo. Senhor Director do Instituto dos Pupilos do Exército, - Exmo. Senhor Presidente da Associação de Antigos Alunos do Colégio Militar, - Exmo. Senhor Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos do Colégio Militar, - Exmos. Senhores Adidos militares de países amigos. - Exmos. Senhores Professores, Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis
Aproveito igualmente para saudar com particular destaque os novos alunos e respectivas famílias, que acreditaram no projecto educativo do Colégio Militar e que hoje aqui se encontram pela primeira vez. Antes de me referir à realidade do que foi e do que perspectivamos que venha a ser o próximo ano lectivo, importa destacar que o formalismo e a solenidade com que encaramos esta cerimónia advêm do cuidado e da importância que continuamos a dar à educação, ao ensino e à formação comportamental dos nossos jovens educandos. Neste âmbito, recordo aqui as palavras de Nelson Mandela, proferidas em 2003, durante a sua participação no lançamento da rede Mindset, uma organização para alunos e professores de economia, matemática, física e tecnologia e orientação para a vida. Na ocasião, referiu, e cito: "A educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo”, e mais disse: “Vou aproveitar o resto dos meus dias para ajudar a África do Sul a tornar-se mais segura, saudável e educada”. Esta é apenas uma, de entre dezenas de citações de entidades e personalidades famosas que nos fazem reflectir. Efectivamente, torna-se fundamental que a educação e o ensino sejam de alta qualidade, fiáveis e consistentes. Dependentes do sucesso do ensino estão a evolução da força de trabalho, o desenvolvimento dum país e o enriquecimento da sociedade em geral, uma vez que aquilo que os alunos aprendem hoje afectará não só o seu futuro, mas também o dos seus concidadãos. Em Portugal, o Colégio Militar, que continua a ser uma mais-valia no campo da educação e do ensino, vem dotando, ano após ano, a sociedade de melhores cidadãos nas diferentes áreas de actividade profissional. O CM assume-se simultaneamente como o testemunho vivo da dedicação daqueles que
aqui serviram e estudaram ao longo dos tempos, e que lhe conferiram uma identidade única no nosso panorama de ensino, a qual, não só é merecedora de respeito e admiração, como nos responsabiliza pela sua continuação e incremento constante dos seus valores. Conceitos como Qualidade, Exigência e Responsabilidade associados a Princípios, Valores e Tradições distinguem-nos dos demais sistemas educativos em Portugal, e caracterizam-nos como uma escola de referência. Meu General, Ilustres Convidados, Minhas Senhoras e meus Senhores, O ano lectivo que hoje formalmente se inicia, coincide com a conclusão do designado processo de reestruturação dos Estabelecimentos Militares de Ensino. Como alterações mais significativas relevam-se: - A implementação do 1º Ciclo do Ensino Básico, este ano já a funcionar na sua plenitude; - A Introdução do ensino misto, com a opção de frequência entre o regime de internato ou externato e; - Finalmente, e também no presente ano, a admissão de alunas em regime de internato. Salientamos no entanto que apesar destas transformações estruturais, quer nos regimes de frequência, quer no campo das mentalidades, o Colégio Militar tem-se sabido adaptar, numa lógica evolutiva, ao contexto social e à realidade educacional sem nunca perder a sua identidade, nem esquecer a sua essência. Um corpo discente mais heterogéneo não deve constituir motivo de preocupação, mas antes um desafio que, ancorado num Projecto Educativo comum e na adequação dos modelos pedagógicos e de vivência interna, estamos seguros, permitirá preservar a identidade e o espírito colegial como marca distintiva do Colégio Militar. Este projecto educativo, alicerçado no rigor, nos seus valores próprios, na exigência e na qualidade do ensino, responsabiliza-nos a todos: alunos, docentes, pais e EE, militares e pessoal não docente. A motivação e a garantia da formação integral dos nossos jovens é essencial, de modo a prepará-los para a vida como exemplos e como cidadãos responsáveis. Neste momento, como Director, cumpre-me publicamente transmitir uma palavra de reconhecimento a todos aqueles que servem no Colégio Miliar, em especial ao seu Corpo Docente, aos Militares e Funcionários Civis, mas sobretudo aos nossos alunos, que tiveram a capacidade de se adaptar à nova realidade. Este ano lectivo iniciou-se com 701 alunos,
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145 dos quais pertencendo ao 1º Ciclo do Ensino Básico, e que embora não integrem o Batalhão Colegial, não deixam de assumir em pleno a condição de alunos do Colégio Militar. No plano académico e em termos de balanço, apraz-me realçar os bons resultados nos diferentes níveis de escolaridade com excepção dos alcançados pelo 12º ano, sobretudo na disciplina de matemática em que a média obtida foi inferior à média nacional. Assim, e tendo em consideração que os resultados escolares são a nossa maior preocupação e um objectivo estratégico deste Colégio, para além da necessidade de contarmos com um corpo docente forte, crucial na inspiração, na motivação e na determinação dos resultados educacionais dos nossos alunos, no caso particular da matemática já foram tomadas algumas acções que passo a enunciar: - A Revisão do Projecto Curricular; - A Libertação no 3º período, de actividades não lectivas; - O Reforço das horas semanais no ensino da matemática, acrescido de tempos de apoio para Estudo Especifico; - O Reforço do corpo docente para esta disciplina; - A previsão de Semanas de preparação especifica para os exames nacionais e; - O incremento do exercício de supervisão pedagógica. É neste quadro educativo que iremos conduzir o presente ano lectivo. Estamos confiantes que a aposta na qualidade do ensino nas salas de aulas, associada a uma cultura de rigor junto do corpo discente, que se deve pautar pela exigência e pelo sentido de responsabilidade traduzir-se-á numa maior eficiência e estou seguro, numa melhoria muito significativa do aproveitamento escolar. Para além da componente académica, durante o último ano lectivo, como é tradição, o Colégio Militar participou e fez-se representar em múltiplas e variadas cerimónias militares, em palestras, em visitas de estudo, em concursos e eventos culturais. Colaborámos também na protecção do ambiente e em projectos de solidariedade social e estivemos presentes em diversos Convívios, Torneios, Saraus e Encontros Desportivos tanto a nível nacional como internacional, obtendo resultados de relevo que contribuíram de forma muito assinalável para enaltecer o prestígio e a imagem do nosso Colégio. No que concerne às Infra-estruturas podemos afirmar que este é outro factor diferenciador no âmbito do parque escolar nacional, ao
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nível do ensino público e privado destacando-se o elevado número de salas de aula equipadas com tecnologias de apoio, laboratórios e um complexo desportivo de elevada qualidade. No entanto, importa alertar, de que os principais edifícios, para além da sua idade, apresentam alguns problemas de conservação, que obrigam anualmente a intervenções profundas e dispendiosas. A título de exemplo, refira-se que em 2015, neste âmbito, foram investidos cerca de 215.000,00 € em reparações e beneficiações, designadamente: - No Tratamento acústico do pátio do 1.º Ciclo Ensino Básico; - Na Recuperação e beneficiação do edifício da enfermaria; - Na Reabilitação de salas de aula e instalações sanitárias; - E na Reabilitação de uma das camaratas masculinas; entre outras pequenas melhorias. De referir ainda a conclusão da 1ª fase de construção do internato feminino, cuja capacidade se esgotou de imediato, existindo já uma lista de espera de alunas que pretendem optar por este regime. Fazer nascer um espaço físico destinado ao universo dos alunos do 1º Ciclo, mediante a construção de um novo edifício destinado a ampliar os espaços de apoio e de recreio coberto para este universo de alunos seria igualmente desejável. Associado ao nosso processo de crescimento
enquanto escola é ainda indispensável que se dê início à construção do novo pavilhão gimnodesportivo. Dirigindo-me agora aos Novos Alunos, gostaria de alertá-los de que o “caminho” que agora iniciam não é tarefa fácil. As regras são muitas e exigentes, o tempo é sempre escasso, as distâncias complicam, a cama nunca está perfeita, as saudades de casa confundem e não há ninguém que faça as coisas por vós. Mas lembrem-se, a partir de agora, é “Um por Todos e Todos por Um”. Nunca mais estarão sós, dia após dia, as amizades e a camaradagem vão-se construindo e irão contribuir de forma definitiva para o vosso crescimento. É neste ambiente que, pouco a pouco, aprenderão a estudar e a assumir os princípios e valores que emanam do Código de Honra do Aluno do Colégio Militar, para mais tarde poderem também vir a ser líderes. Novos ”Meninos da Luz” saibam que é um privilégio pertencer e estudar neste Colégio. Façam tudo por saber merecê-lo. Nós cá estaremos para vos apoiar, contando com a vossa vontade e o vosso trabalho. Aos alunos mais antigos dizer-vos que contamos convosco para que assumam as vossas responsabilidades e que saibam trabalhar em prol dos vossos objectivos. Nunca desistam, nem se acomodem, pois sois vós, com a vossa determinação, o esforço diário e o empenho constante, que darão continuidade à gloriosa história deste Colégio, mas também, com estes
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valores traduzidos em acções, que decidirão o caminho do vosso próprio futuro. Aos finalistas, endereço as maiores felicidades fazendo votos de que este ano seja recordado como um dos momentos mais altos do vosso percurso formativo enquanto alunos graduados, sem no entanto descurarem a componente escolar, essencial na preparação dos desafios do ensino superior, que se aproxima a passos largos. Hoje sois os Líderes e o Exemplo, amanhã os futuros embaixadores desta casa que vos formou. O Prestígio e o Espírito do Colégio está nas vossas mãos. Usem os instrumentos académicos e comportamentais para se afirmarem na Sociedade que está pronta a receber-vos, e assim podeis continuar a dignificar e elevar ainda mais alto o nome deste Colégio, que vos fez homens e cidadãos. Meu General, Ilustres Convidados, Minhas Senhoras e meus Senhores, Temos a noção do muito que há a fazer e do caminho árduo a percorrer, mas nesta fase cumpre-me reconhecer à comunidade colegial em geral, o empenho e a dedicação, para se ter chegado até aqui com a consciência de que tudo tem sido feito, para que o Colégio Militar continue a dignificar a sua História e o seu Fundador. Cabe-nos a nós hoje, o dever de continuar a entender o Colégio Militar como uma instituição de referência, alicerçada na qualidade do
ensino, na exigência, e nos valores e princípios tendo como principal propósito, servir Portugal através da sua excelência. No início deste ano lectivo, vamos seguramente encontrar as respostas para as dificuldades, que juntos seremos capazes de ultrapassar. O nosso compromisso passa por preservar o Colégio Militar como uma Instituição Educativa, assente num projecto forte e singular, há muito definido. Os resultados escolares são, repetimos, um objectivo estratégico mas não o único. O Colégio Militar continuará, seguramente, a Servir Portugal sabendo encontrar nos “princípios” o seu principal factor diferenciador, nomeadamente, nos valores da ética, do carácter, da honra, da lealdade, da camaradagem, do espírito de bem servir e do amor à Pátria. Termino com a confiança no trabalho e na motivação de todos para enfrentarmos o futuro e os desafios que nos sejam colocados, continuando a praticar um ensino ecléctico nas vertentes académicas, comportamental, desportiva e cultural, vocacionado para a formação de integral de futuros cidadãos, com capacidade de iniciativa e liderança em diferentes áreas de actividade na nossa sociedade, e com a convicção de que podemos e queremos continuar a ser uma instituição de referência, da qual o Exército e o País se orgulhem. Àqueles que terminaram a sua formação no Colégio Militar no último ano lectivo, desejo-lhes as maiores felicidades na condição de antigos alunos e, designadamente, na frequência do ensino superior. Uma vez mais, um excelente e profícuo ano lectivo para todos. Bem Hajam.”
Juntamente com a UNESCO, um grande número de organismos científicos participam nesta iniciativa, que, durante 2015, vai reunir diversas partes interessadas, inclusive sociedades e associações científicas, instituições de ensino, plataformas de tecnologia, organizações sem fins lucrativos e parceiros do sector privado. Com a proclamação de um Ano Internacional dedicado ao tema da ciência da luz e das suas aplicações, as Nações Unidas reconhecem a importância da crescente consciência global sobre como as tecnologias baseadas na luz promovem o desenvolvimento sustentável e possibilitam soluções para os desafios globais na energia, educação, agricultura e saúde, entre muitas outras áreas. A Luz desempenha um papel central na nossa vida e é um tema transversal no século XXI, abrangendo a Física, a Química, a Biologia, a Medicina, as Telecomunicações, e também as Artes, a Cultura e a Economia. Também, segundo a Unesco, o Ano Internacional da Luz vai comemorar as descobertas de vários cientistas da área da Física, que abriram o caminho para que a humanidade compreendesse melhor o assunto. Entre esses trabalhos estão o Livro de Óptica, de Ibn Al-Haytham, de 1015; a onda natural da luz de Augustin-Jean Fresnel, de 1815 e as ondas eletromagnéticas de James Clerk Maxwell, de 1865. Ainda na lista estão a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, de 1915, a descoberta da radiação cósmica de fundo dos cientistas Arno Penzias e Robert Wilson e o trabalho pioneiro de Charles Kao sobre fibra óptica, ambos em 1965.
A Lição Inaugural foi proferida pelo Dr. Rui Manuel Nunes de Oliveira Marreiros, subordinada ao tema «A invariância da velocidade da luz».
Um dos maiores desafios da Física moderna é desenvolver uma teoria que descreva de forma unificada todos os fenómenos do Universo. O grande obstáculo é a incompatibilidade entre duas das principais teorias físicas do século XX, a Teoria da Relatividade Geral e a Mecânica Quântica. Cada uma destas teorias desempenha perfeitamente o seu papel quando é aplicada no contexto em que foi criada. Mas cada uma fracassa ao ser aplicada aos fenómenos descritos pela outra. Ambas as teorias muito devem ao estudo realizado na compreensão da natureza da luz nos últimos 150 anos. Devido à brevidade desta lição, só irei descrever como esse caminho nos levou à Teoria da Relatividade Geral, que faz 100 anos, e como a natureza da luz nos ilumi-
Ano Internacional da Luz No dia 20 de Dezembro de 2013, a 68ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o ano de 2015 como o Ano Internacional da Luz e das Tecnologias baseadas em Luz (International Year of Light and Light-based Technologies – IYL 2015). O Ano Internacional da Luz é uma iniciativa mundial que procura destacar a importância da luz e das tecnologias óticas na vida dos cidadãos, assim como no futuro e no desenvolvimento das sociedades de todo o mundo.
As duas grandes teorias do Século XX
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nou na construção de uma teoria bem-sucedida na explicação do Universo.
Maxwell e o fim do modelo mecânico da luz Em 1865, um trabalho revolucionário de James Clerk Maxwell irá mudar para sempre o modo como era vista a luz. Este trabalho é fruto de muitas questões levantadas por descobertas experimentais na área da electricidade e magnetismo. Maxwell foi mais além, ao desenvolver os seus próprios modelos para a indução eléctrica e magnética e ao exprimir o funcionamento do modelo por um sistema de equações que relaciona os campos eléctrico e magnético. As potencialidades deste sistema de equações eram tais que lhe permitiam abandonar completamente o modelo mecânico (newtoniano). Maxwell demonstrou que os campos eléctricos e magnéticos se propagam com a velocidade da luz e apresentou a luz como sendo de natureza electromagnética. Não foi possível testar logo as conclusões de Maxwell sobre o sistema de relações entre campos eléctricos e magnéticos. A previsão de existência de ondas propagando-se como campos eléctricos e magnéticos interligados, ondas electromagnéticas, só foi comprovada após a sua morte , em 1888, por Heinrich Hertz. A teoria de Maxwell e o trabalho experimental de Hertz abriram um importante campo de estudos que proporcionou grandes avanços tecnológicos: o estudo da radiação electromagnética na banda das ondas de rádio e microondas. Ainda hoje, a formulação matemática de Maxwell é considerada a maneira mais correcta de apresentar a teoria dos fenómenos electromagnéticos.
A Teoria da Relatividade Especial Diante dos grandes sucessos científicos que haviam ocorrido durante o séc. XIX, em 1900 alguns físicos pensavam que o edifício teórico da Física estava praticamente completo. Lord Kelvin - um dos cientistas que havia ajudado a transformar essa área - recomendou que os jovens não se dedicassem à Física, pois faltavam apenas alguns detalhes pouco interessantes a serem desenvolvidos, como o refinamento de medidas e a solução de problemas secundários. Foi um desses problemas secundários no horizonte da Física, os resultados negativos da experiência de Michelson e Morley (medir a velocidade da Terra através do éter – meio necessário para a propagação das ondas electro-
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magnéticas) que desencadeou o surgimento da teoria da relatividade. No final do século XIX, eram dois os grandes pilares da Física sobre os quais tudo assentava, o princípio de relatividade de Galileu, onde se encontrava assente a Física de Newton, e o electromagnetismo de Maxwell, mas eram incompatíveis. Quando se aplicava a transformação de Galileu às equações de Maxwell estas adquiriam novas formas dependentes do referencial. As leis da Física dependiam do referencial escolhido e isto não era aceitável para Einstein. No ano de 1905, o ano maravilhoso da Física, Albert Einstein publicou cinco trabalhos, qualquer deles altamente revolucionário. Um dos trabalhos, Sobre a Electrodinâmica dos Corpos em Movimento, chamou imediatamente a atenção dos principais físicos da época. Este trabalho veio também resolver um enigma que perseguia Einstein há uma década. Seria possível “apanhar” um raio de luz? Encontrou a solução nas equações de Maxwell: a velocidade da luz era a mesma em todos os sistemas inerciais (isto é, sistemas que se movem a uma velocidade constante). Quer estejamos parados, quer estejamos em movimento, um raio de luz corre à nossa frente com a mesma velocidade - este é o Princípio da invariância da luz. Einstein acrescentou à sua Teoria da Relatividade Especial um outro, o Princípio da relatividade, que diz-nos que as leis da Física são as mesmas em todos os referenciais de inércia.
Nem Tudo é relativo Como consequência da velocidade finita da luz e da invariância da velocidade da luz, o nosso entendimento sobre a simultaneidade de acontecimentos deixou de ser absoluto e tornou-se relativo, passou a depender do referencial. Se o observador no solo disser que dois raios caíram simultaneamente, isso significa que dois relâmpagos o atingiram no mesmo instante. Por outro lado, o observador dentro do comboio observará os raios caírem em momentos diferentes. Podemos ver que se os dois raios são simultâneos para o observador em terra não o são para o observador no comboio. Assim, também o tempo deixa de ser absoluto, o tempo decorre com ritmos diferentes que dependem da velocidade do movimento do objecto que se desloca. Um dos casos mais conhecido é o do paradoxo dos gémeos – dilatação do tempo. Suponhamos dois gémeos: um ficava na Terra enquanto o outro fazia uma viagem de ida e volta, à velocidade de 99% da velocidade da luz no vácuo, durante, por exemplo, 10 anos do seu tempo (próprio), isto é, o tempo medido no referencial do viajante. Quando volta à Terra verifica que o seu gémeo está quase 58 anos mais velho. É interessante notar que de acordo com o gémeo que ficou na Terra o gémeo viajante afastou-se até uma distância de aproximadamente 5 anos-luz e depois regressou. De acordo com
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o gémeo viajante, o espaço percorrido na ida é menor que um ano-luz, o que corresponde a uma contracção da distância na direcção do movimento. Percebemos que os dois efeitos, o da dilatação do tempo e contracção de comprimento, andam sempre associados, como não podia deixar de ser para que a velocidade da luz se mantenha invariante. Do mesmo modo que Newton tinha unificado a Física da terra com a Física dos céus, ou seja, unido o trabalho de Galileu com o trabalho de Kepler, Einstein unificou o espaço com o tempo.
As falhas da Teoria de Gravitação de Newton A partir de 1905, a Teoria da Relatividade Especial e algumas observações astronómicas tornaram questionáveis certos aspectos da Teoria de Gravitação de Newton. Uma delas é a questão que todas as crianças colocam “o que é que acontece se o Sol desaparecer.” Para Newton, o universo assistiria instantaneamente e simultaneamente ao desaparecimento do Sol, mas de acordo com a Teoria da Relatividade Especial tal é impossível, uma vez que o conhecimento do desaparecimento está limitado pela velocidade da luz. A outra questão era a ligeira oscilação da orbita do planeta Mercúrio, uma oscilação de 43” por século, que era um completo mistério.
A Teoria da Relatividade Geral Tendo sido dado o primeiro passo, a modificação do Princípio de Relatividade de Galileu, Einstein sabe que é preciso ir mais além, pois a sua teoria da relatividade especial só se aplica a referenciais inerciais e o campo gravítico é um referencial não inercial, um referencial acelerado. Desde 1905 um conjunto de físicos e matemáticos, incluindo Einstein, começaram a trabalhar em prol de uma nova teoria. Assim, Einstein, nos finais de 1915, irá propor a Teoria da Relatividade Geral, assente em dois princípios fundamentais que são: 1) Todas as interacções (inclusive a gravitacional) se propagam com uma velocidade máxima igual à da luz no vácuo. Não existe acção instantânea à distância. (Este princípio é também da relatividade especial). 2) Princípio da equivalência: não é possível distinguir entre um campo gravitacional e um referencial acelerado. Para nos explicar este último princípio, Einstein recorre a um pequeno exercício mental.
Imagine-se o Sr. Einstein fechado num elevador com a mesma aceleração que a da gravidade na Terra (9,8 ms-2); ele não poderia descobrir se a força que o prende ao chão tem origem no campo gravitacional terrestre ou se é devida à aceleração do próprio elevador. A sua teoria era tão poderosa e bela como fora a de Newton, e podia ser resumida numa equação. O lado direito da equação descreve o conteúdo de energia do nosso universo, incluindo a energia escura que descreve a aceleração cósmica, e o lado esquerdo descreve a geometria do espaço-tempo. A igualdade reflecte o facto que na relatividade geral de Einstein, a massa e energia determinam a geometria, e ao mesmo tempo a curvatura do espaço, que é uma manifestação do que chamamos gravidade. Na Teoria da Relatividade Geral o espaço-tempo é uma espécie de tecido em que um corpo massivo altera o tecido circundante de modo que qualquer coisa que passe na sua vizinhança não segue uma linha recta.
Testes à Teoria da Relatividade Geral Toda a teoria científica é sustentada em factos e a teoria da relatividade rapidamente mostrou o seu valor. Um dos primeiros resultados da teoria da relatividade geral foi de que o fenómeno da oscilação na órbita de Mercúrio passou a ser verdadeiramente compreendido. Einstein aplicou a sua teoria da relatividade geral e descobriu que as modificações do espaço-tempo que ela previa resultavam precisamente num avanço de 43” por século. Os outros testes à sua nova teoria tiveram de esperar pelo fim da Primeira Guerra Mundial, 1914 a 1918, quando em 1919 um grupo de astrofísicos liderados pelo britânico Arthur Eddington se deslocaram para a ilha do Príncipe, em São Tomé e Príncipe, e para Sobral, no norte do Brasil, para registar a curvatura da luz das estrelas em redor do Sol durante o eclipse solar de 29 de Maio de 1919. Os dados confirmaram a previsão de Einstein. A luz das estrelas curva-se em redor do Sol de uma maneira precisa e calculável semelhante ao modo como o vidro curva a luz. A geometria do espaço é não-Euclidiana, o espaço é curvo em torno de corpos massivos. A Teoria da Relatividade Geral prevê, para além dos já mencionados, uma série de fenómenos, os quais só foram possíveis confirmar nas últimas décadas: ● Arrastamento do espaço-tempo em torno da rotação de corpos ● Deslocamento para o vermelho da luz emi-
tida por corpos massivos devido a efeitos gravitacionais; ● Buracos negros ● Aceleração nos períodos de rotação de estrelas binárias e pulsares.
Ondas gravitacionais Outras previsões desta teoria estão por confirmar, uma das quais é a existência de ondas gravitacionais. Contudo, existem boas indicações, pois em 1974 foi descoberto um pulsar binário que perdia energia mais depressa do que o previsto. Os astrofísicos acreditam que esta perda de energia adicional seja devido às ondas gravitacionais geradas pelo sistema. Esta detecção indirecta de ondas gravitacionais não foi considerada suficiente. Mas porque é importante descobrir as ondas gravitacionais? ● As ondas gravitacionais fornecem a única maneira de observar directamente um buraco negro. ● Outra razão resulta do facto de a sua integração com a matéria ser tão fraca, ou seja, as ondas gravitacionais não são dispersas ou atenuadas durante a sua viagem até ao observador. Assim, processos que ocorreram no interior de sistemas astrofísicos ou no Universo imediatamente após o Big Bang, e que não são acessíveis por nenhum outro método, poderão vir a ser observados através das ondas gravitacionais por eles produzidas.
A Teoria da Relatividade e a ficção Seja na literatura seja no cinema, com frequência se encontra referências à teoria da relatividade. Três bons exemplos são: ● Banda desenhada – Calvin & Hobbes; ● Livros - A Fórmula de Deus – José Rodrigues dos Santos; ● Cinema - no ano de 2014, o filme Interstellar, dirigido por Christopher Nolan, tem como base o trabalho do físico teórico Kip Thorne, especialista em gravitação e astrofísica. Algumas das previsões da Teoria Geral da Relatividade foram exploradas, apesar de algumas delas apresentadas no filme serem pouco realistas. Certas partes nestes trabalhos são resultados bem consolidados na comunidade científica, apesar de irem contra o nosso senso comum, não porque a teoria da relatividade esteja errada, mas pelo facto do nosso senso comum não representar a realidade.
E agora, Colégio Militar?
A teoria da relatividade parece ser como um cavalo de Troia. Dentro dela encontram-se algumas das possibilidades mais bizarras, buracos negros, buracos brancos, buracos de verme e até a máquina do tempo, que desafiam o senso comum. Durante muitos anos Einstein rejeitou estas soluções estranhas, acabando por aceitar mais tarde algumas delas. Mas talvez a mais estranha delas seja a existência de universos múltiplos, multiverso. O conceito de Multiverso tem as suas raízes em extrapolações até o momento não científicas da Teoria da Relatividade e da Mecânica Quântica. Os universos seriam semelhantes a bolhas de sabão flutuando num espaço maior capaz de abrigá-las. Alguns estariam ligados entre si por buracos negros ou por buracos de verme. Mas isso será uma outra aventura para as gerações do século XXI e vindouros. Ao contrário do que dizia Lord Kelvin, o fim da Física está muito longe, pelo que deixo aqui aos Meninos da Luz uma citação de Albert Einstein, «Tem em mente que tudo o que aprendes na escola é trabalho de muitas gerações. Recebe essa herança, honra-a, e acrescenta-lhe algo …. e um dia, fielmente, deposita-a nas mãos dos teus filhos.» Seguiu-se a entrega de medalhas e de prémios aos Alunos que mais se distinguiram no Ano Lectivo transacto. Foram entregues 219 Medalhas, 15 Prémios diversos e 32 Diplomas aos Alunos finalistas que concluíram o curso em 2015. A cerimónia foi encerrada com o Hino Nacional. Ao final da tarde procedeu-se ao arriar da Bandeira Nacional na fachada principal do edifício do Colégio.
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Roberto Ferreira Durão (15/1942)
E agora, Colégio Militar? É tempo das grandes migrações com todas as consequências que daí advêm. Não vou pronunciar-me sobre esta questão tão complexa e grave, fruto do excesso demográfico e heterogeneidade dos refugiados, segregados, manipulados, mulheres e crianças, mas também extremistas psicopatas ou dos baixos interesses de alguns sem qualquer espécie de humanismo. É um terrível problema que todo o mundo enfrenta em especial a Europa pela sua abertura de raiz cristã mas também, de certo modo impotente, dividida e dependente...Todas as nações, assim penso, face a tão elevado e crescente número de imigrantes (legais ou ilegais) devem tomar as devidas precauções para distinguir o “trigo do joio” embora sempre animados do mais elevado sentido humanitário para com os mais fracos e indefesos e que, efectivamente, mais necessitam de ajuda. É um assunto deveras delicado e complicado (não sabemos, ao certo, o que o futuro nos reserva). De forma bastante figurada e mesmo metaforicamente falando, parece-me que o nosso Colégio Militar e sublinho o termo Militar que é o que ele sempre foi, é e será nas reais virtudes e valores que sempre defendeu, está também sofrendo de um certo “surto migratório” de “refugiados”mais especificamente, de jovens estudantes femininas, isto é, raparigas, espero bem que voluntárias, determinadas e promissoras, (em numero porventura ainda pequeno, por enquanto...) mas agora em regime de internato (externas já se aceitava sem problemas) para ficarem no tal edifício dentro do espaço do Colégio Militar, decisão, quanto a mim, sem “pés nem cabeça” e da qual sempre discordei. Tudo isto por teimosia e qualquer estranho complexo não democrático dos autores desta “genial ideia” pois não se dignaram ouvir a opinião e sugestões dos que conhecem bem as características do nosso Colégio. Os autores (ou autor) desta obra, por certo dispendiosa, assim julgo e sem qualquer necessidade, como é costume noutros casos, tiveram o grande prazer de inaugurar esse tal edifício – in Colégio, e ouvi até, na TV, alguém importante proferir esta frase, quanto a mim algo arrogante e até bombástica: «Este é um momento histórico, ou uma nova etapa que se abre para o Colégio Militar!». No coments. Uma coisa me anima e disso estou certo: “Eles passam ou passarão” mas o Colégio Militar ficará, incólume e indestrutível (com ou sem raparigas externas ou internas). Se algum luto há a fazer é por eles, nunca pelo nosso Colégio de mais de 200 anos, que permanecerá sempre fiel aos princípios expressos e consignados no seu Código de Honra. “Eles” apenas conseguiram manchar ou destruir uma Instituição mais que secular, com serviços e provas dadas à nossa Nação e Pátria, o Instituto de Odivelas e isso é bastante grave, direi mesmo imperdoável. (Ainda ninguém me explicou ao certo o que vão fazer com o Convento de Odivelas, Casa mãe desse prestigiado Instituto, Hotel de 6 estrelas? Universidade? Quem vai beneficiar disso?).
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E agora, Colégio Militar?
O NOSSO COLÉGIO JAMAIS O CONSEGUIRÃO MATAR (Espírito e Mística) pois isso é quase o mesmo que matar os mais altos VALORES da PÁTRIA PORTUGUESA. Seu lema SERVIR se manterá sempre bem assente na nossa sólida divisa de Solidariedade: UM POR TODOS, TODOS POR UM. Só desejo realçar a importâncias de uma permanente união (fora com todos os estéreis divisionismos ou anónimos “profetas da desgraça”) entre CM, AAACM e APEECM. A toda uma geração de rapazes ou raparigas que pelo Colégio Militar passem, compete-nos relembrar-lhes sempre a nossa missão patriótica, humana e universal. Um Hino à CLARIDADE e à LUZ, valerá sempre mais do que um Cântico Negro de José Régio por muito belo que seja. E aqui fica , a terminar, este poema que fiz e li, há largos anos, numa festa na Feitoria, (berço do Colégio) adaptado do velho “canto-poético” que João Villaret tão bem dizia, “Passa por mim no Rossio”. Nessa festa me acompanharam o Gonçalo de Lucena (357/1951) e José da Silva Pracana Martins (80/1956). Julgo que é adequado ao momento que vivemos, em especial se todos lerem bem nas entrelinhas... é aí que está a verdadeira Poesia.
Colégio, meu avozinho Sempre jovem e sagrado Recebe todo o carinho desta carta E o meu recado: Que Deus te ajude, Colégio, A seguir tua Viagem... E de um filho que está triste, Ouve esta simples mensagem: Volta sempre à FEITORIA que é tão bela que é tão boa Vai por mim ver o desfile, descendo a marchar Lisboa. Vai por mim beijar os Claustros, Rever a Enferma e o jardim. Leva contigo a minha alma, nesse passeio sem fim. E mesmo que faça frio E os Alunos no Rossio Pararem de desfilar... Passa por mim lá na Luz Beija as colunas, a Cruz e leva-lhe o meu olhar Se for dia 3 de Março, Desde o Marquês ao Rossio, Acende o meu coração Com o teu sangue e o teu brio. Depois... depois leva-o p´la cidade, Marchando ardente e convicto Para matar as saudades, Desta Saudade em que fico. Volta sempre à Feitoria que é tão bela que é tão boa, Vai por mim ver o desfile, descendo a marchar Lisboa. E mesmo que faça frio E os Alunos no Rossio, Pararem de desfilar... Passa por mim lá na Luz Beija as colunas, a Cruz e leva-lhe o meu olhar.
Esclarecimento «Do Senhor General Luís Valença Pinto recebemos uma carta onde se transcreve parte do texto constante da ZacatraZ 200 (página 28, 1ª coluna, linha 25) “... antes do final do ano lectivo 2005/2006 a AAA foi surpreendida com a informação que o CEME tinha decidido que futuramente todos os alunos passariam a ser externos, ...”. Para além do autor do texto já ter tido oportunidade de esclarecer o assunto pessoalmente, registamos que se tratou de uma falha involuntária e que tal decisão nunca existiu. A decisão então tomada viabilizava, quanto aos futuros Alunos do Colégio, a opção entre o regime de internamento ou a frequência em regime de externato. Aqui fica o devido esclarecimento, apresentando as nossas desculpas por tal lapso.»
Corrigenda relativa ao número 200 da ZacatraZ Na página 22 - 1ª coluna - linha 50 - em vez de Barroso deverá ler-se Cardoso. Na página 22 - 3ª coluna - linha 24 - em vez de 29-5-2009 deverá ler-se 29-5-2003.
A Enferma
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Luís Filipe Ribeiro Ferreira Barbosa 71/1957
A Enferma M
ilhares de Meninos da Luz foram fotografados, quer como Alunos, quer como Antigos Alunos, nas escadarias exteriores da fachada Sul do edifício da Enferma. Quando entrei para o Colégio, havia o hábito de fotografar as diversas Companhias todos os anos nessas escadarias. Recordo-me bem de o ter feito no 3º ano, quando estava na 2ª Companhia. Para que não haja dúvidas acerca desse facto, apresento aqui a fotografia tirada no ano lectivo de 1957/58, sendo Comandantes de Companhia o Capitão Valentim Galhardo (395/1939) e o Aluno Sanches Osório (210/1951). Como naquela altura eu tinha a mania de me salientar, apareço na fotografia na fila da frente, no primeiro lugar do lado esquerdo. Nessa mesma zona da fotografia registam-se duas particularidades a assinalar. A primeira corresponde a uma cena habitual nas fotografias colegiais, em que há um engraçadinho que «enfeita» a cabeça do parceiro do lado, pondo os dedos indicador e mínimo em riste. Neste caso foi o 421, o Viegas, o autor da partida e a vítima foi o 245, o Caldeira, que sorri candidamente, sem se aperceber do que lhe está a acontecer. A segunda particularidade da fotografia consiste no pouco ortodoxo assento escolhido, em situação de recurso, pelo primeiro graduado sentado no extremo esquerdo da fila de graduados. O graduado em causa era o 163, o Alcide de Oliveira, então no seu 6º ano, graduado em «sorja» da 2ª. Como os bancos em que se sentavam os graduados e os oficiais eram curtos, ele não tinha lugar para se sentar, sendo condenado a ficar de pé, ao nível da
2ª Comp na Enferma 1957
restante malta da Companhia. Não aceitando esta aparente «desgraduação», resolveu de forma radical o assunto. Chamou um «voluntário», que estava a observar a cena, mandou-o agachar-se, de costas para a fotografia, e sentou-se pacatamente nos seus ombros, não imaginando que passados quase 60 anos sobre o episódio alguém o viesse aqui relembrar. Para que fique para a posteridade, revelo aqui a identidade do «voluntário à força». Era o 198, o Patrocínio, anos mais tarde combatente como oficial dos Comandos em Moçambique, que infelizmente já nos deixou. Todos achámos graça à situação, Patrocínio incluído, pois a solução encontrada para o problema
enquadrava-se bem no «desenrascanço» militar, que regia e ainda hoje rege a conduta da malta. No meu tempo a Enferma era o nosso sétimo céu. Todos sonhávamos com uma estadia na mesma, que era sinónimo de termos uma cama num quarto aquecido e não numa camarata gélida, de não termos aulas nem estudos, podendo passar todo o tempo na sorna, e com comida em geral melhor do que a que se comia no refeitório. O alçado sul do Palácio Mesquitela (Enferma), mostra a beleza da sua traça e a magnifica azulejaria da sua decoração Sendo o sétimo céu a imagem que tínhamos
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A Enferma
O alçado sul do Palácio Mesquitela (Enferma), mostra a beleza da sua traça e a magnifica azulejaria da sua decoração
da Enferma, havia permanentemente candidatos à admissão na mesma. Todos os dias, após o final da última aula da manhã, o corneteiro de dia tocava a doentes. Os pseudo-doentes formavam de imediato no geral das suas companhias e marchavam, à ordem do graduado de dia à companhia, directos para a Enferma. Aí chegados, o graduado apresentava ao oficial médico a lista dos pseudo-doentes, que eram chamados um a um, para lhe apresentarem o rol das suas maleitas. O aluno ao ser interrogado, dizia logo ao médico que se sentia muito mal, que tinha passado a noite sem conseguir pregar olho, com uma febre elevadíssima e para tornar as suas queixas mais verosímeis, eram as mesmas acompanhadas de brutais ataques de tosse, o mais cavernosa possível, para que o médico pudesse bem perceber, que estava em presença, ou de um forte ataque de gripe, ou de uma tuberculose em estado avançado. Dada a tarimba do clinico, com anos e anos a aturar cenas destas, a sua primeira reacção era não acreditar em nada e, para se ver livre do aluno, receitar uma colher de xarope colegial, mistela de que até hoje se mantem a composição química em segredo. A simples colher de xarope colegial já representava uma vitória para o pseudo-doente, pois o xarope era
açucarado, o que era uma delicia para quem sobrevivia tendo apenas como doces um prato de leite creme ou de arroz doce às quintas feiras ao almoço. Quando o clinico considerava que talvez houvesse doença, mandava o enfermeiro colocar o termómetro no aluno, para esclarecer a situação no que a febre se referia. Aqui chegado, o aluno já se podia considerar a meio caminho do sétimo céu, tendo apenas que fazer subir o nível do mercúrio no termómetro, de forma expedita e sem que enfermeiro o visse. O meio mais usado era esfregar o termómetro com vigor na manga do blusão, o que produzia um salto do nível do mercúrio para os 38 graus, que era a marca mínima a atingir para que o sucesso do expediente fosse garantido. Sendo a baixa simulada à Enferma uma tarefa difícil, havia alguns que recorriam a métodos radicais. Houve um que não esteve com meias medidas, para faltar a um ponto para o qual não estava preparado, deu a si próprio uma martelada na cabeça, rachou a cabeça, e em vez de ir fazer o ponto seguiu directo para a Enferma, para lhe ser feito o curativo. Lembro-me ainda de um graduado da minha companhia que também se quis furtar a
um ponto, mas que não conseguiu convencer o médico. Como represália contra o médico, no primeiro dia a seguir à recusa da sua pretensão de baixar à Enferma, em que ficou de serviço à companhia, «arrebanhou» meia companhia para ir a doentes e com ela marchou, impante e sorridente, para a Enferma, onde apresentou candidamente ao médico uma lista de cerca de quarenta doentes para observação. O médico não se deu por achado, saiu para o jardim onde se encontrava a formatura e deu uma consulta colectiva expedita, resolvendo cada caso em questão de segundos. No meu caso queixei-me de dores de cabeça, de pé atrás, sem saber qual seria a reacção do médico. A reacção não foi nenhuma, seguiu caminho com se eu nada tivesse dito. Conclusão, em cinco minutos a formatura foi despachada de volta para a companhia e o graduado safou-se por pouco de uma participação do médico para a Direcção. Uma coisa importante quando se baixava à Enferma era a dieta a que se ficava sujeito. Havia 5 dietas diferentes, da 1ª à 5ª, tendo esta última uma variante, que era a 5ª reforçada. A 1ª era um misero caldinho, que era a prescrita àqueles de que o médico se queria livrar com urgência, a 5ª era a mais ambicionada, era para os que estavam fraquinhos e que precisavam de se robustecer, chegava a ter bife com batatas fritas e ovo estrelado e ao lanche tinha pão com marmelada. A 5ª reforçada ainda metia uns complementos, de que já não me consigo lembrar. Escusado será dizer que quando tínhamos um parceiro a 5ª ou a 5ª reforçada, íamos logo visitá-lo à hora do recreio, para ver se sobrava algo onde pudéssemos meter o dente. Em Outubro de 1957, quando entrei para o Colégio, a Enferma, durante uns dias, rebentou pelas costuras. Ocorreu uma epidemia da então chamada «gripe asiática», que levou meio Batalhão de baixa à Enferma, onde evidentemente não cabia. O resultado foi a transformação do ginásio pequeno, no 1º andar do edifício do ginásio, em enfermaria de recurso, com os médicos e enfermeiros em regime de vai vem entre a Enferma e o ginásio. Na altura, a situação «sui generis» criada não deu grande gozo à malta, por a dita gripe asiática deixar derreados os atingidos pela mesma. Não me inclui nesse número, tendo baixado apenas uma vez à Enferma durante a minha carreira colegial, trauma de que ainda hoje não recuperei totalmente. Bem me podia ter esforçado um pouco mais, para ir lá parar mais vezes.
A Enferma
Há muito Antigo Aluno que desconhece, que o belo edifício da Enferma foi ao longo dos anos conhecido por Palácio Mesquitela. A razão dessa designação pode ser encontrada no livro «Os Jardins do Colégio Militar», publicado por ocasião do bicentenário do Colégio, da autoria de José de Almada Negreiros (144/1945), arquitecto e amador de Jazz, que foi professor do Colégio, como Alferes miliciano no meu ano de finalista. No intróito do referido livro menciona-se a construção do Santuário da Luz, de um dos lados de um grande terreiro, a que foi mais tarde dada a designação de Largo da Luz, e indica-se que a Infanta Dona Maria, filha de El-Rei Dom Manuel e da Rainha dona Leonor… «das mais ricas herdeiras da Europa, possuidora duma vasta cultura, relacionou-se com os maiores humanistas do seu tempo e incumbiu o Arquitecto Jerónimo de Ruão de fazer a traça desse Santuário e recomendou que Fosse das Melhores Cousas da Europa». Lança a primeira pedra da construção em 1575 e ordena que começassem o Hospital (hoje Colégio Militar) no topo do Largo e fosse entregue também à Ordem de Cristo, o que veio a acontecer. A população na zona vai aumentando e vão instalando as suas casas nesta área agrícola, incluindo famílias nobres, entre outros os Duques de Aveiro, os Marqueses de Ravara, os Condes de Carnide, os Condes de Mesquitela… com terrenos de cultivo, com hortas, pomares e jardins, alguns acabaram por ser comprados pela necessidade de espaço para o funcionamento do Colégio. O palácio dos Condes de Mesquitela atrás referido viria a tornar-se mais tarde, como veremos, na enfermaria do Colégio Militar. De acordo com informação contida no Anuário de 1899-1900 do Colégio Militar, no inicio da década de 20 do século XIX, as instalações do Hospital na Luz, que o Colégio, vindo da Feitoria fora ocupar, tornaram-se exíguas, devido ao aumento do número de Alunos, o que levou ao arrendamento, em 1923, do palácio e quinta limítrofe àquele edifício, pertencente ao conde de Mesquitela. Desconhece-se qual o aproveitamento que então foi dado à quinta e ao palácio. Poucos anos passados, as admissões ao Colégio descem abruptamente durante a guerra civil, nomeadamente entre os anos de 1828 e 1832, no reinado de D. Miguel, o que levou a que o arrendamento fosse interrompido. Finda a guerra civil, com a Convenção de Évora-Monte, e face à extinção das ordens
religiosas masculinas, levantou-se a hipótese da transferência do Colégio para o convento de S. Vicente de Fora. Essa hipótese não se concretizou, o que levou de novo, em 1834, ao aluguer do Palácio e da quinta do conde de Mesquitela. Também este aluguer foi de curta duração, dado o Colégio se ter transferido em 1835 para Rilhafoles. Quando se dá o regresso definitivo do Colégio à Luz, em 1873, a enfermaria terá ficado numa instalação designada por «Hospital Barraca», situada na zona da antiga 1ª Companhia, no local onde no meu tempo estavam as aulas do 1º ano. Baseio esta suposição no facto de na Ordem de Serviço nº 83, de 24/3/1877, se indicar que «uma comissão presidida pelo Director deverá dar o seu parecer acerca da solidez de construção e das condições higiénicas do Hospital Barraca anexo ao edifício do Colégio». Alguns anos mais tarde, o Hospital-Barraca deixou de ter essas funções, passando a ficar instalada no palácio Mesquitela. De acordo com o que se encontra na «História do Colégio Militar» de José Alberto da Costa Matos (96/1950), em 1883, o Director do Colégio, Coronel Francisco Maria da Cunha (39/1842), «Constatando que o Hospital Barraca não satisfazia às condições precisas para o destino que lhe era dado consegue a anuência do Ministro da Guerra para voltar a arrendar o Palácio Mesquitela, como já acontecera até ao Colégio ter sido transferido em 1835 para Rilhafoles. Este arrendamento permitiu mudar para ali a enfermaria e ainda libertar aposentos que facilitaram a divisão do Batalhão em seis Companhias, conforme foi determinado no começo do ano lectivo de 1883/1884». O arrendamento foi feito em 1883, por períodos sucessivos de 6 anos, tendo sido renovado em 1889 e 1895. Em 1898, o Director do Colégio, General Morais Sarmento, com receio que os descendentes do conde de Mesquitela decidissem, no termo do contrato de arrendamento do palácio e da quinta, proceder à sua venda, propôs que o Estado procedesse à sua aquisição. A proposta do Director foi aceite, tendo a compra ocorrido em Agosto de 1899. Em 1898 encontra-se ainda numa Ordem de Serviço Colegial uma referência ao Hospital-Barraca. Trata-se da Ordem de Serviço nº204, de 23/7/1898, que informa que o 1º Tenente do Estado-Maior de Engenharia, Luis Augusto Leitão, professor do Colégio tinha «elaborado um Projecto de ampliação do edifício e outro de adaptação do Hospital
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Pormenor do nicho e das estatuetas do alçado sul do Palácio Mesquitela
Barraca a alojamento de uma Companhia de Alunos, dos quais este último, já foi mandado aprovar e executar pelo Ministro da Guerra». A Enferma terá pois ficado instalada no Palácio dos Condes de Mesquitela provavelmente a partir de 1883. É natural que ao longo dos anos a Enferma, bem como o formoso jardim anexo à mesma, tenham sofrido remodelações várias. No início do século XX o jardim foi sacrificado e deu lugar a um recinto destinado à prática desportiva. O muro do jardim do lado da estrada da Luz foi revestido com espaldares, para a prática de ginástica, sendo o recinto também utilizado para aulas de esgrima e de prática de velocípedia. Há fotografias e até um filme que atestam estas utilizações. É por fim curioso referir que a Ordem de Serviço nº 73, de 14/3/1946, informa que «no dia 16, o Presidente da República, General António Óscar de Fragoso Carmona (24/1882) inaugura oficialmente a Enfermaria Colegial». Presumo que naquele tempo a Enferma tenha sido objecto de obras de beneficiação, podendo ter-se dado então a reconstrução do belo jardim que hoje podemos admirar. É uma questão cujo esclarecimento deixo ao cuidado dos mais curiosos.
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Crónicas aos Simples
Durante o meu tempo de aluno, a partir de 1958, quando o internato foi transferido para o «Colégio Novo», passei marchando, no mínimo quatro vezes ao dia, por diante da fachada Sul do edifício da Enferma. A habituação decorrente desta prática, fez com que eu ficasse com a visão embotada e olhasse indiferente para o edifício, não me apercebendo da beleza das suas linhas arquitectónicas. Mais tarde, já fora do Colégio, fui-me apercebendo da minha distracção e apreciando cada vez mais, em cada visita ao Colégio, essa beleza a que eu era indiferente. Para aqueles que não vão habitualmente ao Colégio apresento aqui uma bela fotografia da referida fachada Sul, bem como a sua descrição, tal como nos são apresentadas na obra «Os Jardins do Colégio Militar», já atrás referida. «A fachada Sul do Palacete tem ao centro dois lances de escadaria que descem da varanda decorada com motivos das quatro estações do ano pintados em azulejo, bem com os florões com cabeças de Imperadores Romanos penduradas que encimam as paredes e um cilhar que acompanha os degraus. Dão acesso directo a um terreiro em meia laranja rodeado por um conjunto de estátuas de pedra branca, um belo conjunto escultórico erudito atribuível ao século XVIII, que estabelecem o limite e se abre ao meio com dois umbrais mais altos que ladeiam a antiga alameda central que atravessa a Quinta». Para os Antigos Alunos que não têm acompanhado nos anos mais recentes a vida do Colégio, posso informar que o edifício da Enferma já tem pouco de enfermaria. Parece que os alunos que agora adoecem são recambiados para casa. Até há três anos atrás chegou a ser usado parcialmente como alojamento de sargentos, passando depois a ser usado como vestiário das alunas externas. Quanto ao futuro do edifício, ouvi dizer recentemente que tencionam aí instalar o Museu Colegial, situação com a qual não concordo, pois acho que o Museu está muito bem instalado no antigo refeitório e salas anexas, em local contiguo ao da nossa sala de visitas, os Claustros, onde pulsa o coração do Colégio. Para já fico de pé atrás. O mal é começar-se a falar das coisas.
Roberto Ferreira Durão (15/1942)
Crónicas aos Simples
L
embro-me que, há tempos, na revista da Associação dirigida pelo nosso saudoso Mário Falcão (314/1936) houve uma página ou espaço do António Collares Pereira (300/1946). Nesse espaço ele saía um pouco do aspecto formal de referencia aos nomes dos grandes vultos do nosso Colégio (e são muitos) aos quais o País bastante deve pelos serviços prestados. Esses nomes têm sido realçados nos últimos números da ZacatraZ e bem, por 4 ou 5 “carolas” da sua redacção, com extremo rigor e poder de investigação. São nomes, já históricos, na sua maioria bem conhecidos de todos, salvo os de memória curta e tacanha. Nessa antiga página do TÓ-TÓ (assim era tratado por nós o bom amigo António Collares Pereira) onde escrevia com o pseudónimo SOLÍPEDES, ele mostrava bem o seu elevado sentido de ironia, grande originalidade e poder descritivo e analítico. Abordava todos os temas sem referir nomes, normalmente. O seu objectivo era, mais propriamente, o de puxar pela nossa imaginação, reflexão e criatividade, desafiando-nos e levando-nos até por vezes para um campo de certo debate sobre a cultura, filosofia e mesmo espiritualidade, animado tantas vezes por um sentido irónico e algo rebelde mas sempre impregnado por uma preocupação ética e estética. Curiosamente, numa escrita bem clara e profunda, era mais inclinado, no entanto, a falar mais dos simples e de certas coisas que parecem pequenas ou de menos valor neste vida mas são, muitas vezes bem importantes.
Era também um apaixonado pelos cavalos (oficial miliciano de Cavalaria). Eu estranhava o seu pseudónimo Solípedes e um dia permiti-me até desafiá-lo com um artigo meu mas com o pseudónimo EQUUS, (sou também de Cavalaria) a que ele respondeu com o seu habitual humor, generosidade e perspicácia. Isto me deu uma ideia de “criar” uma nova página na revista agora com novo formato e título bem apropriado ZacatraZ (nosso “grito de alma” contra o que achamos injusto ou errado, como o acordo ortográfico e outras coisas mais...). Nessa página, comprometo-me, o melhor que sei e posso, a corresponder quando não houver “quorum”, pois a minha ideia, é de certo modo como a do Tó-Tó, a desafiar todos os que nela queiram colaborar, Antigos Alunos, Alunos e até Familiares. Nesta página onde tudo cabe desde que, por qualquer forma, o mais ligado ao Colégio (histórias relevantes e até cómicas do tempo de quem escreve, opiniões, reflexões, etc) e nela haverá também um cantinho de Poesia para quem ama a beleza das palavras e, sobretudo, dos sentidos e sentimentos. Mas, atenção, poemas nunca muito longos pois penso sinceramente e digo-o numa curta frase: “Poesia é Esperança, tudo abraça, mas se é longa demais, cansa e maça.” Já foi posto este projecto à Assembleia Geral que deu o seu aval pois esta poderá trazer à ZacatraZ uma certa alegria, colorido e criatividade.
Crónicas aos Simples
E mais não digo; vamos ver o que isto vai dar e, esperemos, que não morra pelo caminho. Começo pois, hoje, eu próprio, com 3 ou 4 pequenos episódios reais, passados no Colégio a que assisti e em que participei até em 2, mas não digo quais. 1 - Um aluno do segundo ano, jovem de 12 anos, viu certa noite, um grupo de 3 alunos mais velhos, saltarem o muro para irem dar uma voltinha breve, lá por fora. O oficial de dia soube e logo no dia seguinte perguntou ao miúdo: “Eu sei bem que tu ontem viste 3 camaradas mais velhos a saltarem o muro. Tu não és mentiroso, pois não?” “Não, não minto.” “Muito bem, então vais responder-me: Quem eram eles? Eu sei bem que tu sabes”. Houve uma breve pausa na qual o jovem pensou um pouco. Por fim, resolutamente respondeu: “Eu, na verdade sei quem eles eram, não minto, mas não digo.” 2 - Numa aula de Filosofia, o professor perguntou a um aluno, algo reguila: “Ora define-me lá o que é a Filosofia.” O aluno pensou e, um pouco a medo, mas com um leve sorriso respondeu: “É a ciência ou arte, pela qual, com a qual e sem a qual, ficamos tal e qual.” Este professor, bem conhecido de todos nós, não deixava de ser, ainda que bastante culto e inteligente, um pouco distraído, ou como melhor dizemos, “despistado”. Ao dar as aulas, entusiasmava-se a tal ponto com a matéria e os nomes dos filósofos que citava que um dia lhe aconteceu bater, quando gesticulava, com o cotovelo no quadro preto que tinha atrás. Imediatamente voltou-se e com toda a correcção disse:”Ai, desculpe.” Noutra aula, esse mesmo professor, disse que conhecia os nomes de todos (ou quase todos) os filósofos antigos ou modernos e desafiou-nos a darmos-lhe o nome de algum. Acontece que nessa altura decorria o campeonato do mundo de hokey em patins e nós conhecíamos os nomes de muitos deles. Um aluno mais descarado perguntou-lhe então, citando dois jogadores da equipe italiana. “Meu capitão, diga-me lá quem foram ou de que corrente filosófica são estes dois filósofos italianos que, por acaso eu vi num livro antigo: Bertuzi e Fernandini.” O professor coçou a cabeça e olhou para o tecto, como a querer recordar-se. “Olha, tenho de te confessar que nunca ouvi falar desses, mas prometo-te que amanhã depois de ver to-
dos os muitos tratados de Filosofia que tenho te trarei a resposta.” 3 - O professor de Português repetia-nos, várias vezes, que numa oração tem de haver um sujeito, predicado (que é o verbo), complemento directo e, por vezes, outros complementos além do indirecto, que tomam o nome de complementos circunstanciais como há diversos : por exemplo o de modo, de tempo, de lugar, etc . Um dia escreveu no quadro esta frase: “Os foguetes estralejam no ar”. Esta é uma frase do grande escritor Aquilino Ribeiro que gostava de criar neologismos, certos termos novos que dão mais realismo e certa sonoridade à frase. É o caso deste verbo “estralejam”, a gente até parece ouvir os foguetes. Voltando-se para um aluno que estava quase a “passar pelas brasas” disse-lhe “Ora classifica-me os termos desta oração.” O aluno devagar foi dizendo: “Bem, sujeito só pode ser os foguetes... estralejam é o predicado...” “Muito bem” disse o professor “Continua rapaz. E que nome dás tu ao “no ar”, vamos lá.” O aluno pensou, repensou e respondeu finalmente “No ar, só pode ser o complemento circunstancial de festa.” Risada geral de toda a turma, perante o espanto do professor.
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Antigos Alunos nas Artes e nas Letras Manuel Paulo Lalande Vieira Pinto (382/1949)
Antigos Alunos
nas Artes e nas Letras Manuel Paulo Lalande Vieira Pinto (382/1949)
O General Ramalho Eanes e a Historia recente de Portugal (I volume) Colecção “Fim do Império”, n.º 15 tos mais melindrosos ou controversos, o livro ocupa-se sobretudo de «registar, analisar e apreciar a vida pública de um cidadão, nas suas actividades de natureza militar, político-militar e política (incluindo as que desenvolveu depois de ter cessado funções como Presidente da República), bem como das respectivas motivações e objectivos». Para a referida compreensão contribuem, e muito, os depoimentos de alguns dos camaradas de armas do General.
E
ntrou em 1949, para o 2º ano, e saiu em 1953, completado o 5º ano, em virtude de o Colégio não ministrar o 6º e 7º de letras e por isso não dar acesso á Faculdade de Direito, para onde desejava seguir. Factos salientes: ganhou sempre os prémios do adido militar francês, para o melhor aluno da disciplina, e nos primeiros anos registou sempre a nota de Muito Bom em comportamento. Só não ganhou a Me-
dalha de Comportamento Exemplar – o que não ocorria há muitos anos no Colégio – por causa de um “pronunciamento” colectivo ocorrido em 1952 com o seu curso. O autor faz questão de esclarecer, na Introdução, que o seu trabalho não é uma biografia. Embora nele se incluam alguns elementos biográficos, indispensáveis à compreensão de atitudes e comportamen-
Para a elaboração do livro, o autor prescindiu de inquirir o próprio General e as pessoas da sua família, recorrendo em exclusivo a pesquisa documental (imprensa, rádio, televisão, internet e literatura). Este I volume (está projectado um II) dá-nos a conhecer os aspectos mais marcantes da vida do General Eanes até ao fim do primeiro mandato presidencial. Na I PARTE – Um português como os outros, acompanhamos a infância e juventude do General, em Alcains, onde nasceu, e em Castelo Branco, onde completou o ensino liceal. Seguiu-se a Escola do Exército, onde o General, «hoje considerado um paradigma dos valores militares, completou a sua formação inicial de oficial de Infantaria, e onde se terá consolidado o seu carácter».
Antigos Alunos nas Artes e nas Letras Manuel Paulo Lalande Vieira Pinto (382/1949)
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A carreira militar do General Eanes é tratada sucintamente na II Parte – Um militar como poucos, tendo por base um único documento: a sua folha de matrícula. O autor sugere-nos uma abordagem em dois períodos: o primeiro, grosso modo, até à promoção a major, em Dezembro de 1970, o segundo daí até ao 25 de Abril de 1974. No decurso do primeiro período, Eanes presta serviço na Índia, em Macau, em Moçambique por duas vezes (em 1964 e depois entre 1966 e 1968) e finalmente na Guiné (de 1969 a 1971), sendo aqui que «o pensamento de Eanes em relação ao prosseguimento da guerra se modifica profundamente, mas sem interferir, de nenhuma forma, no cumprimento das suas obrigações militares». Na parte final da permanência na Guiné, face à conjuntura nacional e internacional, «começa a interrogar-se sobre se os sacrifícios suportados pelas Forças Armadas Portuguesas teriam sentido e utilidade» e acaba por entrar «em conflito com a hierarquia do Exército, que considera completamente identificada com o imobilismo e a incapacidade do poder político». E, embora continue a «cumprir exemplarmente as suas obrigações militares», acaba por se envolver na organização de reuniões de capitães onde se reflecte sobre o estado das relações entre o Exército e a Sociedade, mas dando conhecimento superior do seu envolvimento. Como se sabe, estas reuniões estão na origem do Movimento das Forças Armadas e do golpe militar de 25 de Abril de 1974, no qual Eanes não participou, pois na altura encontrava-se em serviço em Angola. Na III Parte – O 25 de Abril e o 25 de Novembro, descreve-se o essencial das movimentações ocorridas e realça-se o papel preponderante desempenhado por Eanes nos acontecimentos relacionados com a última data, perfeitamente justificado pela circunstância de nele concorrer um elevado número de características militares e cívicas: maturidade, carácter, aprumo, formação moral, valentia e desembaraço físico, para além de grande cultura e competência técnica, sobejamente demonstradas no decurso de diversificada carreira militar. A IV Parte – O novo regime, recorda de forma sucinta a génese da Constituição de 1976, bem como alguns aspectos relevantes dos 1.º e 2.º Pactos MFA-Partidos. Inclui um curioso depoimento do General Chito Rodrigues,
presidente da Liga dos Combatentes, que nos dá a conhecer o teor da proposta para Atribuição do título honorífico de Marechal ao General António dos Santos Ramalho Eanes, bem como a pronta reacção deste no sentido de recusar a dita honraria. A V Parte – O primeiro mandato presidencial, consiste basicamente no registo das principais ocorrências da candidatura e do mandato – incluindo frequentes transcrições das suas declarações públicas –, bem como dos difíceis relacionamentos que manteve com alguns dos principais protagonistas da cena política.
Ficamos aguardando a prometida continuação destas interessantes memórias, que retratam com isenção e acuidade um período muito conturbado da nossa História colectiva, enquanto por outro lado prestam merecida homenagem a um cidadão exemplar.
Nuno António Bravo Mira Vaz 277/1950
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Aspectos da nossa administração colonial
António Rafael Passarinho Franco Preto 67/1950
Aspectos da nossa administração colonial A
s reuniões familiares são fontes inesgotáveis de conversas que aquecem as nossas almas e de ideias novas por vezes provenientes de assuntos inesperados. Estavam dois dos meus filhos a conversar sobre as flutuações cambiais do Euro, Dólar Americano e Coroa Sueca, quando ouvi a minha mulher reclamar: Então vocês não consideram a “Libra Esterlina”, que era a moeda que “corria” na minha terra, quando eu nasci? 1 Não entrando especificamente na conversa, lembro-me de ter pensado que de facto os meus sogros (ela, nascida na Beira - Moçambique e ele, oriundo da “metrópole” - Beira Baixa, mas “emigrante” na Beira - Moçambique desde jovem) se referiam a preços e valores de objectos que possuíam, sempre em libras. O ignorante (por ter a consciência do pouco que sei) historiador amador que existe em mim, disse-me então: Vamos lá estudar o assunto, porque deve ser giro! E assim fiz. Pesquisei, li e reli, comparei artigos e autores, e sinto-me neste momento em condições de poder partilhar convosco um pouco do que aprendi (e que tem vários aspectos que considero serem – pelo menos – interessantes). Por razões óbvias, as minhas pesquisas restringiram-se a Moçambique, à província de Ma-
nica e Sofala, à cidade da Beira 2. Feita esta introdução explicativa, abordemos então o assunto. Não vou identificar os artigos e os autores donde colhi informações pois se o fizesse ocuparia mais de uma página que “ninguém lia”... mas tudo está na “internet”... basta procurar com paciência. Comecemos pelo “princípio”3 – Qual o aspecto da África Colonial em fins do século XIX, princípios do século XX? A Conferência Internacional de Berlim (19 de Novembro de 1884 a 26 de Fevereiro de 1885 4) foi organizada pelo Chanceler Alemão Otto von Bismarck e teve a participação da Grã-Bretanha, França, Espanha, Itália, Portugal, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Estados Unidos, Suécia, Austria-Hungria e Império Otomano. Teve como objectivo organizar a ocupação de África pelas “potências coloniais” e resultou numa divisão de territórios que não respeitou nem a história nem as relações étnicas dos povos desse continente. Face à impossibilidade real dos governos das nações coloniais administrarem e desenvolverem directamente os seus territórios “além-mar”, tinham desde o século XVII uma solução baseada na concessão desses direitos a empresas privadas a quem davam por umas dezenas de anos – mediante o pagamento de uma certa
percentagem dos lucros obtidos – um poder quase total relativamente a um determinado território geográfico. O poder dessas empresas privadas era tal que eram conhecidas pela designação de companhias majestáticas. Exemplos de companhias majestáticas: ● Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC) – explorando a actual Indonésia e a maior parte do comércio entre essa região e a Europa. Em 1669, a VOC era a mais rica companhia privada do mundo, com mais de 150 navios mercantes, 40 navios de guerra, 50 000 funcionários e um exército privado de 10.000 soldados. ● Companhia Francesa “des Iles de l’Amérique” – explorando territórios na zona geográfica das Caraíbas, igualmente no século XVII. ● Companhia de Moçambique – explorando a província moçambicana de Manica e Sofala, a Sul do rio Zambeze e a Norte do rio Save (com a cidade da Beira como sua sede e principal centro administrativo). Era delimitada a Oeste pelos territórios da BSAC (British South Africa Company) uma companhia majestática britânica que explorava a área ocupada actualmente pelo Zimbabwe. A Companhia de Moçambique (fundada verdadeiramente em 1891) com um capital social
A minha mulher nasceu na Beira – Moçambique. Onde tive oportunidade de passar as férias de Verão (num total de 5 meses) nos anos de 1956 e 59. Se começássemos verdadeiramente pelo princípio, teríamos pelo menos de ir até ao século XVI ... 4 Impensável a realização – hoje em dia – de uma conferência internacional com a duração de mais de 2 meses! ... o mundo era de facto diferente! 1 2 3
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de cerca de 5 milhões de dólares provenientes de financiadores privados de Portugal, da Alemanha, Reino Unido e África do Sul negociou com o governo português e obteve em 1893 a concessão do território acima referido, pelo prazo de 50 anos. A Companhia de Moçambique controlava a Administração Pública e os Correios, tinha o poder de emitir moeda5, explorava a totalidade dos recursos minerais, florestais e agrícolas do território (e nomeadamente a mão de obra indígena, através de coerção), criava e cobrava impostos, definia as regras para as exportações e importações, tendo ainda o poder para subconcessionar as áreas ou actividades que entendesse. Por isso a designação de companhia majestática. Pouco lhe faltava para a soberania total. O Estado Português recebia 7,5% dos lucros da Companhia de Moçambique. A construção da linha ferroviária entre a Beira e a cidade fronteiriça de Umtali (actual Mutare6) em terras da BSAC e a sua extensão até Salisbury (actual Harare) em 1900 possibilitou à BSAC o acesso ao porto da Beira, garantindo o fim dos conflitos militares na região entre as duas em-
presas e igualmente o final dos conflitos diplomáticos entre os governos de Portugal e o Reino Unido. A 20 de Agosto de 1907 por ocasião da visita do príncipe herdeiro de Portugal (Luís Filipe, Príncipe da Beira) foi a povoação até então designada como Chiveve7 elevada – por decreto real – ao estatuto de cidade, com o nome de Beira.
Como exemplo prático do quadro de actuação da Companhia de Moçambique tem o maior interesse reproduzir aqui um seu Edital, datado de 1909 e publicitando o seu território. “A Companhia de Moçambique chama a attenção dos commerciantes, industriaes e capitalistas para o Territorio de Manica e So-
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fala, collocado sob a sua administração, com uma superfície aproximada de 16.000.000 de hectares, onde as riquezas naturaes, conhecidas de ha seculos, teem sido confirmadas sobejamente pelas explorações ali realizadas nos tempos modernos. A cidade da Beira, já hoje uma das mais importantes de toda a costa oriental de Africa, capital do Territorio de Manica e Sofala, é testa do caminho de ferro directo para o Rhodesia, que se está tratando de prolongar até ás valiosas minas da Katanga, e dentro em pouco será também a estação terminus da nova linha de caminho de ferro da Beira ao Zambeze, cujos estudos estão concluidos e que atravessará regiões fertilissmas e de grande riqueza em madeiras e borracha. A cidade da Beira é servida ainda por um magnifico porto; frequentado pelos vapores das principaes empresas de navegação; está ligada com Quelimane pelo cabo submarino e assim em communição directa com a metropole; e num futuro proximo será uma das testas do primeiro caminho de ferro transcontinental africano, sendo a outra o porto do Lobito. A Companhia de Moçambique é administrada
Emitia Escudos e Libras Esterlinas (sendo a libra, a “moeda forte”). A minha mulher nunca esquecerá as férias anuais passadas no Vumba (na 2ª metade da década de 1940), a uns 20 km de Umtali (com o seu clima privilegiado devido a estar situado a 1.100 metros de altitude) e as viagens de vários dias de comboio, em cada direcção. 7 Nome do rio local. 5 6
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Reprodução de selos de correio emitidos pela Companhia de Moçambique
sob a fiscalização do Governo de Sua Majestade tanto na Europa como em Africa, mas tem uma legislação especial para o seu Territorio conducente a chamar para ali todos os que dispõem de elementos efficazes para se entregarem a todos os ramos da agricultura, do commercio e da industria. Sob este importante ponto de vista já a Companhia de Moçambique regulamentou o trabalho dos indigenas e o seu recru-
tamento, procurando assim assegurar aos seus concessionarios a mão de obra sem a qual os capitaes não podiam tornar-se productivos. Existem no Territorio da Companhia de Moçambique vastíssimos e uberrimos territorios proprios para as grandes culturas de quasi todos os productos vegetaes e extracção da borracha, tão apreciada nos mercados de Londres e Hamburgo, e para as plantações de palmeiras e de algodão. A cultura da canna saccharina e a fabricação do assucar e do alcool estão já em plena actividade no mesmo territorio, empregando milhares de braços. Para poder fornecer informações uteis e seguras aos que pretendem dedicar-se ali a quaesquer emprehendimentos agrícolas, fundou a Companhia de Moçambique dois jardins de ensaio, um a 36 kilometros da Beira, junto á linha ferrea no sitio denominado M’Zimbite, e o outro nas proximidades da estação do Revué, superiormente dirigidos por um profissional muito competente. A pesquisa e exploração do quartzo aurifero e dos minerios de cobre continua a fazer-se sob os melhores auspicios, nomeadamente depois da descoberta da mina Paradox, que veio certificar a incalculavel riqueza da região de Manica. É tambem muito notavel a riqueza pecuaria de todo o Territorio de Manica e Sofala, de que dão prova as grandes manadas de gado bovino pertencentes á Companhia de Moçambique. Na sede da Administração da Companhia de Moçambique - Rua do Alecrim 45, Lisboa - e nos escritorios dos seus Comités - Boulevard Haussmann, 17 - Paris - Aústin Friars 13 - Londres
- bem como na Secretaria-Geral do Governo do Territorio de Manica e Sofala - Beira, Africa Oriental - prestam-se todos os esclarecimentos relativos ás condições em que o trabalho e o capital podem encontrar proveitosa collocação no Território administrado pela Companhia de Moçambique.” A 18 de Julho de 1942 foram dados como terminados os poderes majestáticos da Companhia de Moçambique sobre a província de Manica e Sofala sendo esta incorporada na administração do Estado Português. Terminaram também os seus poderes emissores (de moeda e de selos de correio) e o BNU – Banco Nacional Ultramarino, começou a operar na cidade da Beira. A Companhia de Moçambique continuou a existir como empresa agro-industrial e comercial tendo evoluído ao longo dos tempos, passando a ser durante a década de 1960 a empresa “Entreposto Comercial – Veículos e Máquinas, SA” (empresa onde a minha sogra – actualmente com 98 anos de idade – trabalhou até se reformar como secretária da Administração). Para terminar – e unicamente a título de exemplo gráfico – adiciono a este artigo-resumo, imagens de papel moeda e selos de correio emitidos pela Companhia de Moçambique, na plenitude da utilização dos seus poderes como Companhia Majestática). A sua moeda e os seus selos deixaram de ser utilizáveis e convertíveis junto do Estado Português em 30 de Abril de 1943.
Antigos Alunos pelo mundo David Arlindo Soares Gonçalves (104/1995)
João Carlos Agostinho Alves (110/1996)
Antigos Alunos
pelo mundo David Arlindo Soares Gonçalves (104/1995) Luanda, Angola
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início da minha experiência profissional no estrangeiro remonta ao ano 2008, não motivado pela necessidade de apanhar a onda de emigração agora vivida mas sim porque era consultor numa empresa multinacional e fui seleccionado para rumar a Angola, para liderar um projecto durante 5 meses. Ainda hoje me lembro do nervosismo que senti no momento em que me comunicaram, pois tudo o que ouvira até então apenas servira para me causar desconforto para embarcar nesta nova aventura. Movido pelo sentido de missão e ambição de crescimento que me foram incutidos, lá peguei nas malas e rumei a terras Africanas. À chegada, deparei-me com um cenário de vida um pouco diferente do nosso e passei a primeira noite com um nervoso miudinho que me fez lembrar a noite dos fantasmas, no entanto, todos os medos e desconfortos do afastamento da terra natal foram rapidamente desaparecendo e substituídos pela vontade de “servir” uma pátria irmã, que necessitava de apoio a reerguer-se de um longo período de guerra civil. Após esta curta experiência, retomei em Janeiro de 2012 para um novo desafio, o qual se transformou numa permanência prolongada até assentar arraiais. Tive o pri-
vilégio de conhecer inúmeras pessoas, Antigos Alunos, angolanos e de outras nacionalidades de toda a parte do mundo com uma multiplicidade de culturas e experiências. Hoje, conto ao todo cinco anos e meio de trabalho e vida em Angola e apesar de ter sido um caminho muitas vezes atribulado, olho para trás e vejo que acumulei mais do que experiência e/ou sucessos profissionais, ganhei novos amigos, agradecimentos, sorrisos, paixões. Se é fácil viver em Angola? É para todos? Não! África, tem pobreza e riqueza a conviver lado a lado, são os maiores musseques que alguma vez vi ao lado dos arranha-céus mais avançados do mundo, tem candongueiros, tem dias sem água e sem luz mas também tem sol, calor, praias, churrascos, “alambamentos”, quizomba, terra vermelha, beleza do mais natural que há mundo e principalmente, emoções e sorrisos movidos pelas pequenas conquistas de quem nada tem. Tudo isto e muito mais, conferem-lhe uma magia inexplicável que certamente me ficará marcada para toda a vida, a mim e a todos que tiverem, mente aberta, vontade, paixão espírito aventureiro e claro alguma capacidade de encaixe. Termino enviando um forte abraço e um grande Zacatraz para todos os Antigos Alunos que actualmente se encontram em Angola.
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Antigos Alunos pelo mundo Nuno José Lopes da Costa Alves Caetano (104/1995)
Nuno José Lopes da Costa Alves Caetano (104/1995) Rio de Janeiro, Nova Iorque, Londres
Jantar em Londres no mês de Junho de 2015
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eninos da Luz pelo Mundo não é uma ocorrência que nos remete apenas para os dias de hoje. Muitos são aqueles que passaram pelo nosso Colégio, ao longo de toda a sua história, que nalguma altura das suas vidas residiram fora de portas. No entanto, nos tempos que correm, o mundo tornou-se o objectivo para uma emigração qualificada sem precedente na história portuguesa. As primeiras experiências surgem naturalmente com os programas Erasmus e de Intercâmbio. Depois, algumas situações económicas e sociais aí do burgo, assim como o próprio bichinho pela aventura, pela descoberta e por novos desafios, trazem-nos a esta realidade que não dá mostras de abrandar. Neste momento estou na minha terceira experiencia internacional: Rio de Janeiro, Nova Iorque, e agora Londres. Cada uma delas teve – e tem – o seu propósito, e não estou certo que esta seja a última. O mercado procura cada vez mais profissionais e empreendedores flexíveis, multiculturais, e capazes de se adaptarem a diversos meios e situações. A experiência de morar num país estrangeiro e de conviver com diferentes culturas, tem o poder de proporcionar algumas das principais características exigidas pelo mundo actual. Curioso, ou não, é que em todas elas a família colegial tem estado sempre muito presente. Na Cidade Maravilhosa vive há mais de 30 anos o meu tio Manel (Joaquim Manuel Esparteiro Lopes da Costa 86/1973)
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Primeiro dia na Columbia University - Setembro de 2011
Concurso Hípico do Rio de Janeiro
e é comum a sua casa receber visitas de diversos antigos alunos, para além dos muitos que da minha geração têm passado por Terras de Vera-Cruz, para estudar e trabalhar, por isso a convivência com os nossos foi sempre uma constante. No período em que vivi em Nova Iorque fui recebido pelo Miguel Jorge Vieira Branco Ló (455/1972) em sua casa, que a viver também há três décadas nos EUA foi para mim uma ajuda fundamental no meio ano em que estive na Big Apple. Actualmente na City há uma comunidade com mais de 30 antigos alunos que se junta regularmente, não só na altura do 3 de Março, mas também ao longo do ano, o que nos faz sentir sempre mais perto das nossas raízes. Amyr Klink, viajante brasileiro, disse um dia que “Pior que não terminar uma viagem, é nunca partir”. É este o espírito que tem assolado a nossa geração e que faz com que cada vez mais partamos em busca de novas aventuras e desafios, mas também de certezas que por vezes não encontramos em casa. Se aglomerar só a malta do meu curso, já vivemos em mais de 10 países: Brasil, Angola, Estados Unidos, Chade, Austrália, Espanha, Namíbia, China, Eslováquia, Reino Unido, Gabão, e a lista continua. A tendência é esta e tenho a certeza que aumentará com o desenrolar dos anos. Estas serão sempre passagens que mostrarão ao Mundo de que fibra é que os Meninos da Luz são feitos. Que vivamos ao máximo e com máximo de experiências que formos capazes, mas que
os reencontros se continuem sempre a fazer nos Claustros da Casa que nos viu crescer. Nuno José Lopes da Costa Alves Caetano 99/1998
Jantar em Londres com Francisco da Rocha Xavier Rebelo Gonçalves (338/1971), João Gonçalo Leal Bravo da Costa (329/1985), Bruno Alexandre Esteves Afonso (215/1991), Paulo Jorge Ferreira Torres (414/1992) e João Pedro Pascoal Marvanejo Barreto (428/1994).
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Concurso Hípico do Rio de Janeiro em Agosto de 2010 com Joaquim Manuel Esparteiro Lopes da Costa (86/1973) e Guilherme Boulton Trigo Lopes da Costa (85/1999).
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Duas Escolas de Vida
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Duas Escolas de Vida É
bom, é mesmo tão bom haver Instituições assim! Que atravessam gerações e gerações mantendo-se actuais e fiéis aos mesmo princípios sobre as quais foram fundadas. É bom encontrar personalidades bem definidas, sabermos aquilo que esperar de algo ou alguém, numa sociedade em que por vezes negarmos os nossos valores é uma questão de preço. É intrigante olhar para histórias que já se podem medir aos séculos e questionar: como é possível? A vida há 100 ou 200 anos não tinha nada a ver com a de hoje em dia e tanto o Colégio Militar, como o Grupo de Forcados Amadores de Santarém bem o sabem. Foram fundados por dois grandes senhores: Marechal António Teixeira Rebello e António Abreu, respectivamente. Homens que tiveram a liberdade de sonhar e a coragem de concretizar os seus sonhos. E como qualquer coisa que nasce precisa de amor, o Colégio e o Grupo de Santarém não foram excepção. Amor assente em rocha firme e não areia, daquela rocha que mesmo quando vêm as ondas grandes ela está lá… serena e firme… umas vezes debaixo da espuma outras a brilhar à luz do sol, mas de uma coisa nós podemos ter a certeza: ela dali não sai!
O que estas duas Instituições têm em comum? Valores que começaram há 100 ou 200 anos e têm sido fielmente transmitidos de geração em geração, até aos dias de hoje. Valores que os elementos mais antigos fazem questão de transmitir aos mais novos da mesma forma que os receberam quando entraram. Valores como a amizade, entreajuda, sentido de responsabilidade, humildade, simplicidade, entrega, entre outros. Sim porque valores como estes não estão dependentes de modas e eram tão preciosos há dois séculos, como o são agora. São duas Instituições que é impossível, alguém que por elas tenha passado, dizer que não atravessou vários momentos difíceis… Tenham sido esses momentos provocados pela saída do conforto de casa e da segurança da família numa fase precoce da nossa vida, por ter de lidar todas as semanas com um graduado com quem se simpatiza menos, por aprender a pensar no curso como um todo antes de pensarmos em nós, ter de pegar um toiro mais complicado ou ver um amigo lesionar-se ao nosso lado… São dificuldades inerentes à sua própria essência e que sem dúvida moldam a personalidade de quem as supera. Duas Instituições que dão
tanto a quem por lá passa que é impossível retribuir na mesma moeda! Não sei se é por todos estes pontos comuns ou mera coincidência, mas o Grupo de Santarém tem, desde sempre, acolhido no seu seio vários Antigos Alunos do Colégio Militar. Carlos Manuel de Vasconcelos e Sá Grave (396/1968) foi Cabo do Grupo de Santarém de 1981 a 1996. Também não têm vindo a passar despercebidos todos os outros Antigos alunos do Colégio que têm passado pelo Grupo e por essa razão Maria João Lopo de Carvalho, a autora do livro editado recentemente por ocasião do centenário do Grupo, escreveu nesta sua obra um parágrafo a que dá o título “Zacatraz!”. Afinal ser Menino da Luz obriga-nos a crescer mais depressa. Cedo percebemos que
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Duas Escolas de Vida
sozinhos não vamos longe… As fraquezas de quem está ao nosso lado passam a ser nossas da mesma forma que as nossas fraquezas muitas vezes não têm consequência apenas em nós. Aprender a por em prática o lema “Servir” e a divisa “Um Por Todos E Todos Por Um” não são tarefa fácil para uma criança de 10 anos de idade. E porque nos primeiros anos recebemos sem medida, no final do Colégio somos chamados a dar tudo aquilo que aprendemos e de uma forma generosa e gratuita, com a enorme responsabilidade de saber que dessa dádiva depende tudo... Quanto mais dermos, mais as gerações futuras irão receber. Ser forcado algo que pode começar por alguma dose de vaidade, com o amadurecimento e com todas as lições que os toiros nos dão, essa vaidade dá lugar à humildade e simplicidade... Humildade essa que fortalece a amizade a todos os que estão ao nosso lado, assim como amor e respeito à jaqueta, que vestimos. Esse sentido de responsabilidade que carregamos predispõe-nos a uma entrega total ao desafio de forma a nunca defraudar os valores que todas as gerações antes de nós defenderam e ao desprendimento por nós mesmos em detrimento de quem está ao nosso lado e do Grupo. Sempre ouvi os antigos forcados que tenho como referências dizer que os “maiores toiros” se pegam na vida, da mesma forma que acho que todas as “firmezas” ou adversidades que atravessamos no Colégio são apenas uma pequeníssima preparação para aquelas que a vida futura nos reserva. Tenhamos a capacidade de ser sempre humildes e lutadores tal como aprendemos. Queria por fim agradecer a estas duas escolas de vida, tudo o que me deram que foi
determinante para me tornar aquilo que sou hoje em dia. Tentarei ter sempre presente tudo o que aprendi e ser fiel aos princípios que me ensinaram, com a noção de que nunca conseguirei retribuir tudo aquilo que recebi. Espero um dia conseguir ser para alguém aquilo que o Colégio Militar e o Grupo de Santarém foram para mim, ou seja, dar de graça aquilo que de graça recebi, sem esperar nada em troca. João Carlos de Barros Grave 45/1999
1 - João Carlos de Barros Grave (45/1999), Santarém, Outubro de 2014. 2 - AA no Grupo de Santarém - Nuno José Lopes da Costa Alves Caetano (99/1998), João Carlos de Barros Grave (45/1999), Salvador Teixeira Beirão Reynaud Ribeiro (43/1999), António Miguel Arnaut Pombeiro Taurino (239/2004), Lourenço Teixeira Beirão Reynaud Ribeiro (89/2001). 3 - Santarém Junho de 2014 - Pega de António Miguel Arnaut Pombeiro Taurino (239/2004), ajuda Nuno José Lopes da Costa Alves Caetano (99/1998). 4 - GFAS na década de 80, com o Cabo Carlos Manuel de Vasconcelos e Sá Grave (396/1968) e onde se encontra João Carlos de Barros Grave (45/1999), 5 - Campo Pequeno na década de 80, pega de António Vítor Reynaud da Fonseca Ribeiro (43/1968).
Os que nos deixaram
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Os que nos deixaram Luís António Pessoa Brandão (7/1951) Oficial de Marinha – Capitão-de-Fragata Nasceu a 16 de Setembro de 1941 - Faleceu a 24 de Maio de 2015
Chegou à ZacatraZ a notícia do falecimento deste nosso Camarada, ocorrência que muito lamentamos. A Todos os seus Familiares apresentamos as nossas mais sentidas condolências. Que descanse em paz.
Raul Manuel Tamagnini Mendes de Carvalho (87/1953) Gestor de Empresas Nasceu a 13 de Março de 1943 - Faleceu a 3 de Setembro de 2015
Chegou à ZacatraZ a notícia do falecimento deste nosso Camarada, ocorrência que muito lamentamos. A Todos os seus Familiares apresentamos as nossas mais sentidas condolências. Que descanse em paz.
Arménio João Marques Vicente (341/1957) Economista Nasceu a 4 de Julho de 1946 - Faleceu a 22 de Agosto de 2015
Nasceu a 4 de Julho de 1946 no Cubal, Benguela, Angola. Filho de José Ferreira Vicente e de Maria Marques Vicente, a família havia decidido estabelecer a sua vida, na década de 30, em Angola, tendo o pai, José Vicente, desenvolvido carreira de sucesso nos Caminhos de Ferro de Benguela. Depois de uma infância feliz, vivida em ambiente de grande liberdade e grandes espaços que a vida nas colonias proporcionava, ingressou em 1956 com 10 anos de idade no Colégio Militar em Lisboa. Não voltaria a Angola, mas sempre se revelou
orgulhoso da terra onde nasceu. Quando se cruzava, ocasionalmente, com algum africano, era frequente sair-lhe um “sou da tua terra”, seguido de algumas palavras incompreensíveis em Kimbundu. Os tempos de Colégio ficaram-lhe no sangue. Teve sempre um orgulho tremendo na Instituição. O maior elogio que podia fazer ao Colégio era a repetida ideia de que “deveria ter posto lá os filhos”. Mais respeito não se poderá pedir. Foi no Colégio que contactou com o melhor da elite Portuguesa, que aprendeu os costumes e tradições da vida urbana lisboeta. Vida essa que contrastava com as férias de verão na aldeia dos pais, o Carriço, concelho de Pombal. Nas palavras da Lourdes - futura companheira de uma vida - ”o Arménio não se identificava com a vida e com as pessoas da aldeia, ficava imenso
tempo trancado em casa, perdido nos seus livros, era um animal da cidade”. Mas foi lá que se conheceram e que se apaixonaram, entre passeios de bicicleta e encontros nas feiras e festas das aldeias, tendo começado aí uma relação de mais de 50 anos, que se manteria até ao dia em que nos deixou. Concluídos os tempos de Colégio de forma abrupta, expulso em consequência da greve de fome levada a cabo pelos Alunos em Fevereiro de 1962, veio a terminar o liceu no Colégio Marista de Lisboa, em 1964. Nesse ano ingressou em Engenharia Química no Técnico, não por vocação, essa manifestava-se no mundo da sociologia, do direito e da economia, mas por pressão do pai, que queria os filhos engenheiros, sonho que não pôde concretizar para si próprio. Mas o mundo da física e da química não era compatível com o Arménio Vicente que encontrava estímulos nas questões sociais e políticas da sociedade quer através da igreja, quer através da associação dos estudantes e outras instituições progressistas como o Tempo e o Modo e a PRAGMA. E assim foi chamado à Guerra Colo-
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Os que nos deixaram
nial, no final do Verão de 1967. Por esta altura já desenvolvera uma faceta político-intelectual, frequente em muitos estudantes insatisfeitos com o Regime vigente. Sentia vontade de fugir à Guerra, mas a ideia do exílio era incompatível com deixar a sua Mãe - que perdera o marido - e a Lourdes para trás. A guerra colonial fez-se na Guiné, teatro de operações dos mais agressivos, mas com direito a louvores do General Spínola, com quem trabalhou de perto. Regressado da Guerra, consolidou a sua relação com a Lourdes, assim como a participação mais activa em encontros de estudantes e movimentos clandestinos anti-regime. Era a fase revolucionária, vivida nas ruas de Campo de Ourique, com encontros frequentes na pastelaria Tentadora e reuniões nos bancos do Jardim da Estrela. Mas era uma “revolução” com uma vertente fortemente intelectualizada, que rapidamente não viria a ter lugar em qualquer espécie de agremiação política deste tipo. A Engenharia fica para trás e inicia uma carreira no Banco Português do Atlântico. Como em tudo na vida, seria leal ao Banco e por lá ficaria até à reforma. Casa com a Lourdes em 1973, estabelece residência no Estoril, deixando a Lisboa efervescente para uma vida mais calma e dedicada à família. Ingressa no curso de Economia do “Quelhas”, em 1976 nasce o João e em 1980 o Luís. Após a licenciatura em Economia, as décadas de 80 e 90 são as mais produtivas do ponto de vista da carreira. Com méritos reconhecidos, ocupa diversos lugares de Alta Direcção e de Administração de empresas subsidiárias do Banco. A austeridade da sua educação leva-o a abordar a vida, e a carreira, de forma conservadora. Voos mais altos poderão ter ficado no papel, mas o conforto e a união familiar mais do que compensaram. Pelo menos, este foi sempre o seu ponto de vista, até aos últimos dias. É também neste período que participa activamente na Direcção da Cooperativa de Habitação “Nova Morada”, que viria a desenvolver diversos bairros de habitação económica nos arredores de Lisboa. Em 2001 reforma-se da actividade bancária ainda novo, aproveitando sucessivas reestruturações que o sector sofria. Saído do Banco, com 55 anos de idade desenvolve consultoria de gestão, aproveitando a rede de contactos obtida em mais de 30 anos de banca. Desenvolve também diversas actividades sociais, nomeadamente na Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa e Corporativa dos Bancários.
Em 2011, com a reforma da Lourdes, e com 65 anos de idade, põe praticamente fim à actividade profissional. Com os filhos encaminhados nas suas vidas, dedica os “anos dourados” para fazer as viagens aos lugares de sonho e reformar uma casa em Tavira, lugar onde sempre foi feliz e onde deixou saudade. Em 2012 é-lhe diagnosticado um linfoma incurável. Lutou com as forças que tinha. Católico descrente, costumava dizer que “a minha fé ficou na guerra, na Guiné”. Nunca quis assumir que a vida estava a chegar ao fim. Viu nascer o primeiro neto, uma das maiores felicidades da sua vida, possivelmente a maior força contra a doença nos últimos meses. Morreu 15 dias depois, a 22 de Agosto de 2015, em paz, rodeado pela família. Maria de Lourdes Leal Pisco Não se poderia dizer que o Arménio fosse o mais sossegado, mas era discreto e não chamava muito a atenção. Nas formaturas era dos que estavam sempre nas posições da frente, naturalmente porque não era de grande estatura. Uma presença sempre agradável, não era estrela em ginástica ou equitação mas ia passando regularmente nos exames e cumpria bem as suas obrigações. Em Fevereiro de 1962 há grande agitação no Colégio, principalmente entre os Alunos mais velhos. A greve da fome e que tinha na gíria militar o nome de levantamento de rancho. Numa das refeições, já em greve, o Tenente Coronel Subdirector dirige-se ao Comandante do Batalhão e Comandantes de Companhia. Cada um deles se levanta e perfila na sua presença. Com todos os Alunos a assistirem no grande espaço do refeitório, ele dá uma ordem seca, de forma solene e imperativa: -- Coma! Impensável em tempos normais seria recusar a ordem e responder com a negativa, mas foi o que aconteceu, perante a surpresa e espanto de todos. Ensaiando o ridículo, o oficial superior ainda insistiu mais duas vezes com a mesma ordem para cada um deles, para obter sempre a mesma resposta. A retaliação não se fez esperar: todos os Alunos do sétimo ano foram suspensos, tendo de abandonar as instalações do Colégio. Um pandemónio para o que era habitual. A partir de agora eram os Alunos do sexto ano os mais velhos. Era o curso do Arménio, o nosso curso. Decidimos a continuação da greve para todo o Colégio, mesmo para os mais novos. Ao fim de alguns dias de resistência veio a resposta da Direcção: expulsos o Comandante do Batalhão, os
Comandantes de Companhia e mais sete Alunos do sexto ano. Desgraçadamente, o Arménio era um deles. Uma expulsão injusta e desadequada para quem continuava a ser o mesmo de sempre: pacato e tranquilo, sem nunca se exceder na ousadia e sem culpa acrescida em relação aos demais. Alguns mostraram-se dinâmicos e empenharam-se em prosseguir a greve e persistir na rebelião; outros escapavam-se à noite para contactar os Alunos suspensos e também para comprar pão e umas latas de conserva para enviar aos mais novos. A nada disto aderiu o Arménio, e a seu modo mantinha uma postura reservada. Ainda hoje é difícil encontrar explicação para que lhe tivesse sido aplicada uma punição tão dura. A sua vida foi muito afectada por este acontecimento, quando ainda não completara os 16 anos. Desprotegido, com os pais a viver em Angola, contava apenas com o apoio de um tio que era padre marista. Sofreu bastante com esta expulsão e de algum modo integrou um sentimento de proscrição que o conduziu ao afastamento do Colégio e dos camaradas de curso. Vencidas as primeiras dificuldades, matriculou-se na Faculdade de Economia da Universidade de Lisboa para prosseguir os estudos como trabalhador-estudante. Entre 1967 e 1970, faz o serviço militar obrigatório. No regresso obtém a licenciatura em Economia e firma a sua posição numa longa carreira na actividade bancária, que já havia iniciado enquanto estudante. Sempre em progressão, vem a ocupar um alto cargo na Direcção Central de uma grande instituição bancária, sendo responsável por dezenas de agências e centenas de funcionários que as integram no centro do país. Entretanto é nomeado Administrador de empresas do Banco, funções que cumpriu com a proficiência habitual. Era pai de dois filhos, agora com 39 e 35 anos. Gostava imenso de crianças e ansiava por um neto. Teve um neto de facto, e ainda o viu, mas veio a falecer quinze dias depois. O Arménio morreu no dia 22 de Agosto de 2015. Nasceu em Angola, na pequena povoação de Cubal, próxima da cidade de Benguela. Está sepultado na pequena aldeia do Carriço, perto de Pombal, junto da campa dos Pais, que daí são originários. À nossa tristeza pelo desaparecimento do Arménio, juntamos sentidas condolências à viúva, Dra. Lourdes Pisco, em representação da família, que dele guarda uma recordação amorosa e sem mácula. Joaquim da Costa Barradas 7/1956
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João de Lencastre de Mello Sampayo (486/1958) Engenheiro Químico Nasceu a 16 de Fevereiro de 1948- Faleceu a 3 de Abril de 2015
Conheci o João no Colégio; entrara um ano antes de mim, em 1958. Ainda assim, apenas comecei a privar mais de perto com ele depois da nossa saída, já no Instituto Superior Técnico, onde fomos permanentes colegas de curso em Engenharia Química entre finais de 1967 e inícios de 1974. Sempre convicto das suas ideias não deixava, porém e apesar do seu feitio determinado, de ouvir outras pessoas as quais soube sempre respeitar. Culto, gostando imenso de ler e de uma forma em geral bastante ecléctica, teve também a sorte de ter absorvido muito desta faceta cultural com o seu sogro, Professor Cid dos Santos, em casa de quem chegámos, na altura, a passar momentos interessantíssimos de cultura e de saber vindos de uma referência nacional, quer como médico insigne que foi, quer a nível cultural e social. Tendo evoluído profissionalmente entre Lisboa e, depois, no Porto, ao longo de algumas actividades, dedicara-se ultimamente à sua propriedade minhota, o Paço de Pombeiro de Riba Vizela, a qual foi sempre a “menina dos seus olhos”, nomeadamente em actividade associada ao turismo em espaço rural. Recordá-lo-emos sempre com saudade. António Carlos de Lemos Lepierre Tinoco 500/1959
Joaquim Artur da Costa Leite das Neves (626/1965) Economista, Funcionário Público, Docente Universitário, Auditor de Defesa Nacional Nasceu a 22 de Novembro de 1953- Faleceu a 16 de Setembro de 2015
O Menino da Luz de alcunha o “Matulão”, o 626/1965, partiu. O Joaquim Artur da Costa Leite das Neves, mais conhecido por QUIM pela família e amigos, deixou-nos muito cedo, aos 61 anos de idade. Faleceu a 16 de Setembro de 2015. Todos os que com ele privaram sabem bem como amava a vida e se orgulhava tanto do seu Colégio Militar onde, dizia repetidamente, ter absorvido os ensinamentos sábios e valores morais que o marcaram e nortearam toda a sua conduta, tais como a honra, a verdade, o respeito, a lealdade, a camaradagem...; citando-o, foi no Colégio
Militar que se fez o homem em que se tornou e foi lá que passou os melhores anos da sua vida. Sou a sua viúva, a Antiga Aluna 35/1965 do Instituto de Odivelas, por isso suspeita mas garantidamente verdadeira, quem vai transmitir um breve testemunho do perfil e da personalidade do “Matulão”. A acrescentar aos valores morais citados, o Quim era um homem intelectualmente superior e brilhante. Concluiu o seu curso superior de Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa em Lisboa, Pós -Graduação em Estudos Africanos no ISCTE (o Quim era natural de Luanda-Angola), Curso de Auditor de Defesa Nacional tendo defendido a sua tese no IDN - Instituto de Defesa Nacional. Se a saúde tivesse permitido teria continuado a estudar na incessante procura do conhecimento e saber.
É admitido em 1985 no INA - Instituto Nacional de Administração como funcionário público, ingressando nos quadros técnicos superiores e já como Chefe de Divisão coordenou a cooperação empresarial, internacional, relações internacionais, consultoria, naquele Instituto, onde se manteve até 2014, quando a falta de saúde impôs uma reforma antecipada. Foi no INA que teve a oportunidade de conceber, organizar, coordenar, realizar e pôr no terreno inúmeros e complexos projetos, sempre nas áreas da formação e da educação, em muitos locais do mundo: África, Ásia (China e Macau), Timor, Europa Central e de Leste, América Latina. Destas viagens e ações resultaram amizades entre ele e educandos e teve o grato prazer de conhecer pessoalmente entidades como D. Duarte de Bragança , o Sr. Governador de Macau General Rocha Vieira, entre outras. Trabalhou a nível governamental. Foi professor no ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão e na Universidade Internacional em Lisboa e Abrantes. Torna-se reconhecido internacionalmente como “uma Mente Brilhante”.
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A sua biografia foi selecionada para a 14ª Edição (página 1042) em 1997, da publicação centenária Who´s Who In The World (Quem é Quem no Mundo). É incluído numa lista de profissionais que se notabilizaram em vários domínios do Saber. Em 2002, é distinguido, com o reconhecimento internacional na área da Educação, como sendo uma das 500 Mentes Brilhantes do Início do Século XXI no livro “500 Great Minds of the Early 21st Century” (página 353), considerando o seu contributo na área da Educação de alto nível e importância para a melhoria da sociedade contemporânea, enquanto organizador de programas de educação formal e profissional, destinados não só a Portugal mas também a países estrangeiros. Neste Livro ganha um Estatuto que partilha com personalidades como Suas Santidades Papa João Paulo II e Dalai-Lama, José Saramago, Arthur C. Clarke, Jacques Delors.... O Quim foi um homem de personalidade forte, determinado, persistente e com objetivos bem definidos. Mas também era um homem simples, sensível e apaixonado pelos seus hobbies de que se ocupava nos seus tempos livres. Adorava aviões, edificava-os à escala: o F-16, o Spite Fire, o B-52, o F-14, o
F-15, o Space Shuttle, entre muitos outros. Por dificuldade de os colocar em “hangar” dentro de casa, doou quase todos à “Casa do Brincar” em Vagos (Distrito de Aveiro) que os aceitou para exibição no seu museu. Em simulador, treinou e voou horas a fio em aviões militares e civis, simulando bombardeamentos, guerras, derrubando porta-aviões, participando em salvamentos em mar e terra, viajando sobre o “globo”. Em jovem estudou música; tocava viola e piano. Fez parte de conjuntos musicais em Luanda-Angola nos anos 1970-1973, como puro entretenimento, com amigos Antigos Alunos do Colégio Militar, de realçar o vocalista Eduardo Augusto Vidigal Pinheiro (610/1962), meu saudoso irmão, seu futuro cunhado, também já falecido em 1986. Adorava o mar que o tranquilizava não dispensando a leitura de bons livros que tanta companhia lhe faziam. Recentemente, já reformado há um ano, frequentava o Colégio Militar mais assiduamente e começava a usufruir dos diversos debates-convívios como Auditor de Defesa Nacional. Preparava-se para viver uma vida diferente mais tranquila, revendo amigos de infância, matando saudades, con-
vivendo, viajando, estudando... mas o coração traiu-o durante uma longa e delicada intervenção cirúrgica de alto risco. Em momento algum da sua vida dispensou nas lapelas dos seus casacos os alfinetes das barretinas do Colégio Militar que ostentava orgulhosamente. Contava com enorme saudade e alegria histórias e aventuras vividas no seu Colégio enquanto Menino da Luz. Quim, deixaste uma forte marca da tua presença na Terra. Foste um exemplo a seguir, de persistência, de determinação, honestidade e amizade, os tais valores que aprendeste no teu Colégio Militar. Este Colégio que é um bocadinho meu também porque através de ti e do teu cunhado e meu irmão (610/1962), fui contagiada pelo carinho que nutriam pelo vosso Colégio. Joaquim Neves, Quim, “Matulão”: a tua família, os teu amigos, os teus colegas, o teu Colégio Militar orgulhar-se-ão com certeza muito de ti. Partiste prematuramente mas quem te conheceu nunca irá esquecer-te. Ficou muito por dizer sobre ti. Fazes falta a todos e ao mundo. Descansa em Paz. Maria Manuela Vidigal Pinheiro das Neves (35/1965-IO) Viúva do AA 626/1965
Pedro de Almeida Rainha Perry da Câmara (166/1975) Arquitecto de Interiores Nasceu a 17 de Janeiro de 1964- Faleceu a 30 de Março de 2015
Morreu o meu sucessor. Não é a ordem natural das coisas. Seria suposto eu preceder-te mas Deus assim não quis. E, como sempre foste tu a fazer os discursos nas reuniões de família, sou eu hoje que venho dar a triste notícia da tua partida. Partida após uma longa e terrível doença que começou por te incapacitar para a caça que tanto gostavas e, gradualmente, te foi tirando tudo, até a tua capacidade de falar connosco. Só não te tirou o brilho do olhar quando chegava junto a ti. Às vezes é muito difícil perceber os desígnios do Criador. O Pedro entrou para o Colégio em 1975 como rata para o 2º ano. Algo o marcou que o levou a afastar-se do convívio dos 3 de Março, mas deixou bons amigos. Fez de tudo um pouco. Foi construtor, pescador e caçador. Tinha umas mãos de onde tudo saía bem. Foi um óptimo irmão e um excelente pai, mas era acima de tudo um Homem bom. Adeus Pedro. Olha por nós e até um dia destes. António Perry da Câmara (166/1967)
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