ucs Revista - JUNHO

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revistaUCS Junho.2014 . Ano 2 . Nº 12

JUNHO, UM ANO DEPOIS COMO AS REIVINDICAÇÕES POR DIREITOS AFETARAM A CIDADE E O PAÍS

FUTEBOL O FUNCIONAMENTO DO CORPO HUMANO

CASO BERNARDO OPINIÃO PÚBLICA AFETA AÇÃO DA JUSTIÇA

LITERATURA O LEGADO DA VIÚVA DE JORGE LUIS BORGES 1


Fotos: Claudia Velho

AS REFLEXÕES A PARTIR DA PASSEATA QUE REUNIU 35 MIL PESSOAS EM CAXIAS DO SUL 4

Breno Dallas

A MAIOR DIVULGADORA DA OBRA DE BORGES 16 CASO BERNANDO MOBILIZA OPINIÃO PÚBLICA 10

ORION, CENTAURO, CARAVELA E MAIS CONSTELAÇÕES QUE PODEM SER VISTAS NO CÉU DA REGIÃO 13

UCS ESTIMULA A INOVAÇÃO 19

UMA RARA FLOR SURGE NA CIDADE UNIVERSITÁRIA 18 FÉ E REDES SOCIAIS 8

Universidade de Caxias do Sul Reitor: Evaldo Antonio Kuiava Vice-Reitor: Odacir Deonisio Graciolli Pró-Reitor Acadêmico: Marcelo Rossato Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: José Carlos Köche Pró-Reitor de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico: Odacir Deonisio Graciolli Chefe de Gabinete: Gelson Leonardo Rech Diretor Administrativo: Cesar Augusto Bernardi 2

Expediente: Assessoria de Comunicação da UCS/Área de Mídias Digitais (Edição: Paula Sperb; Redação: Ana Carolina Vivan, Vagner Espeiorin, Wagner Júnior de Oliveira, Fotos: Claudia Velho) | Tiragem: 6.000 exemplares Contato: (54) 3218.2116, @ucs_oficial, www.facebook.com/ucsoficial Leia também no site www.ucs.br Foto de Capa: Hugo Araújo


Patrick Moore, sxc

AS ARMADILHAS DO FRIO PARA MANTER A BOA FORMA No inverno, o metabolismo é mais intenso para manter a temperatura do corpo. Como se perdem mais calorias para preservar o organismo aquecido, seria mais fácil emagrecer. Mas por que afinal a estação é conhecida por ser o terror de quem deseja manter o peso? Simples: “Esse menor consumo de energia não é suficiente para permitir exageros alimentares. Além disso, no inverno, temos a tendência de diminuirmos a atividade física. O resultado é o aumento de peso devido ao excesso alimentar e à diminuição do gasto calórico”, alerta a coordenadora do curso de Nutrição da UCS, professora Karina Giane Mendes. Ela também deixa algumas dicas para quem não quer fazer feio na balança ao final da estação que começa em junho. “É importante ter uma alimentação variada e colorida. Muitas vezes, deixamos de comer verduras e frutas por causa do frio, o que é contraindicado, já que nesse período precisamos de um grande aporte de vitaminas e minerais para aumentar nossa imunidade”.

EM RITMO DE COPA O verde e amarelo estarão em alta na UCS em junho. Durante os jogos do Brasil na Copa, a Universidade vai contar com telões espalhados pela Cidade Universitária. Eles ficarão localizados em três pontos: no UCS Cinema, no Centro de Convivência e no Salão de Atos do Bloco A. Além disso, televisores serão colocados nos blocos dos campi e núcleos para facilitar a torcida para Seleção – e aquela secadinha para o time adversário, é claro. Durante os jogos do Brasil, não haverá aulas. E a liberação dos alunos ocorre meia hora antes da partida e se estende até meia hora depois do encerramento do jogo. Traga sua torcida e vista seu uniforme.

Recomenda-se também um casaco. Sabe como é: Copa em junho + UCS = grandes chances de estar frio! Brasil x Croácia Data: 12 de junho – quinta-feira Horário do jogo: 17h Liberação: 16h30 Brasil x México Data: 17 de junho – terça-feira Horário do jogo: 16h Liberação: 15h30 Brasil x Camarões Data: 23 de junho – segunda-feira Horário do jogo: 17h Liberação: 16h30

CASOS DE LINCHAMENTO SÃO ALERTA Só há democracia quando existe participação. Esse foi um dos recados que o professor Paulo César Carbonari, do Movimento Nacional de Direitos Humanos, deixou aos alunos do curso de especialização em Educação em Direitos Humanos, durante aula aberta realizada no final de maio. Para ele, a democracia brasileira ainda precisa avançar especialmente nos aspectos que envolvem a diminuição das desigualdades sociais e a democratização dos meios de comunicação. Ele aproveitou ainda para condenar

os casos de linchamento que se destacaram negativamente pelo país. “A sociedade não é capaz de acreditar nos próprios meios de participação que ela criou”, constatou ao lembrar do caso de uma mulher que foi espancada por populares na cidade de Guarujá, em São Paulo, após ser confundida com uma imagem de retrato falado. “Espero que isso sirva de alerta para as pessoas que promovem um discurso de violência, que só leva a mais violência, mais medo e destruição”, finalizou.

MÍDIAS DIGITAIS Use seu leitor de QR Code para ver mais fotos do Campus 8 da UCS e curta nossa página do Facebook (www. facebook.com/ucsoficial)

FOI MAL Na edição 11 da Revista UCS, na matéria A Copa é nossa (p.15), faltou a informação de que a Alemanha também foi sede do campeonato mundial de 2006. 3


REBELDES COM CAUSAS DE DIFÍCIL COMPREENSÃO, AS RAZÕES DOS PROTESTOS DE JUNHO DE 2013 REVERBERAM UM ANO APÓS A MOBILIZAÇÃO DE MILHARES DE PESSOAS

PAULA SPERB | psperb@ucs.br

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de de emprego e, consequentemente, aumento do consumo”, opina Winkler. Para o professor, a ascensão econômica também elevou o nível de exigência sobre os serviços públicos. “Houve uma relativa melhora social, mas as pessoas querem mais”, diz Winkler, lembrando que, além da saúde e segurança, a educação de qualidade também foi uma bandeira.

Hugo Araújo

O sol já havia cedido seu lugar para a noite mais longa do ano quando 35 mil pessoas se reuniram no Centro de Caxias do Sul. Um dos momentos mais marcantes da história recente da cidade aconteceu em 21 de junho de 2013, durante o solstício de inverno. Naquele mês, centenas de manifestações ocorreram em todo o Brasil. Os 35 mil que protestaram em Caxias equivalem a 8% da população local. Proporcionalmente, os caxienses eram mais numerosos que os paulistas. Na véspera, 100 mil pessoas protestaram em São Paulo, pouco menos do que 1% da população daquela cidade. Somando todos os protestos de junho passado, estima-se que 2 milhões de brasileiros tenham saído de casa para clamar por mudanças. Um ano depois, ainda se procura entender o que mobilizou tantos brasileiros, que não estavam organizados como no caso de uma greve, por exemplo. “Em um primeiro momento, parecia tudo diluído”, lembra Carlos Roberto Winckler, mestre em Sociologia e professor da UCS. “As manifestações de junho foram um desaguadouro do que já vinha ocorrendo no mínimo há dois ou três anos, em vários locais. Elas estão ligadas principalmente ao transporte público”, relembra Winkler sobre o aumento da passagem de ônibus em diversas cidades, o estopim dos protestos. Entretanto, as reivindicações não foram apenas por um preço justo ou passagens gratuitas de ônibus. Movimentos gay, de igualdade de gênero e ambientalistas também aderiram aos protestos. Nesses casos, os motivos estão mais claros. O que intriga a muitos é justamente a participação de jovens sem ligação a nenhuma causa específica ou partido. “Havia um componente mais popular: jovens que ascenderam socialmente nos últimos anos a partir das políticas sociais como Bolsa Família, aumento do salário mínimo, oportunida-

REIVINDICAÇÕES MULTIFACETADAS Esferas vermelhas e redondas adornavam os narizes de muitos manifestantes que aguardavam o início da caminhada na rua Marquês do Herval. Por volta das 18:00, palhaços, mascarados como Guy Fawkes – soldado rebelde inglês, morto em 1606, que se popularizou na versão anarquista das histórias em quadrinhos – e encasacados (era a primeira noite de inverno, afinal) se deslocaram pela rua Pinheiro Machado em direção ao bairro São Pelegrino. De lá, retornaram pela Sinimbu, quando o grupo se dividiu entre os que foram à prefeitura, os que voltaram à praça Dante Alighieri e os que foram embora com receio de alguma ação violenta. “Ninguém sabia muito bem o que esperar. No Facebook tinha muita gente confirmada no evento, mas no fim acabou tendo mais gente na rua do que no Facebook”, conta Andressa Marques, 18 anos, estudante de Serviço Social da UCS e uma das coordenadoras do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade. A referência à rede social é obrigatória porque o encontro foi combinado pela internet, com 27 mil confirmações virtuais. No mundo real, 35 mil pessoas compareceram. “Apesar de as manifestações não terem foco, algumas pautas que levaram o pessoal para a

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VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL Se fosse uma pessoa, o semáforo da rua Alfredo Chaves com a rua Dom José Barea estaria falando sozinho. Segundos com a luz vermelha intercalada pela amarela – mais rápida –, seguida da verde, trabalhavam em vão. Não circulavam carros por ali, apenas os manifestantes tomavam a rua, outros ocupavam o pátio em frente à prefeitura. Dezenas chegaram a deitar no asfalto pedindo paz. Um garoto, sem adeptos, deitou sozinho segurando uma flor. Uma cena digna de protesto contra a Guerra do

Breno Dallas

baixo surge o convite: “vem pra rua!”. Por onde a marcha passava, palavras de ordem eram entoadas acompanhadas do som de apitos – exceto em frente ao Hospital Pompéia. Do alto dos edifícios ou ao lado dos manifestantes, era possível ler faixas com dizeres como “todo poder emana do povo” e “povo calado é povo roubado”. Entre tantas reivindicações, pedia-se inclusive “mais Brasil, menos impostos”. A maior parte dos manifestantes nasceu depois da ditadura militar, portanto em pleno regime democrático. “Lembro que desde os 15 anos eu escuto que os jovens não se mobilizavam por uma causa, o que é uma verdade. Mas há muito tempo não se via uma mobilização tão grande como a de junho. Tiveram bons resultados, sim. A gente sente que tem uma necessidade da juventude participar mais. Ficou uma grande vontade do pessoal de contribuir com o país”, defende a estudante Andressa, que participa de movimentos juvenis organizados. “O que eu acho mais fantástico é que tínhamos um jovem apolítico e agora temos um antipolítico, ou seja, ele faz política contra o modo tradicional de fazer política, luta pelo que é correto”, analisa a professora Ramone. Para ela, “a sociedade quer mais, quer participar e controlar as decisões. A população clama por mais participação”. Justamente por isso a Copa do Mundo virou um alvo em potencial a um ano da competição mundial. A sociedade se sentiu excluída da organização do evento por “não ter sido consultada sobre como os recursos deveriam ser utilizados. Provavelmente as pessoas decidiriam por outro investimento”, reflete a professora.

“AS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO FORAM UM DESAGUADOURO DO QUE JÁ VINHA OCORRENDO NO MÍNIMO HÁ DOIS OU TRÊS ANOS, EM VÁRIOS LOCAIS. ELAS ESTÃO LIGADAS PRINCIPALMENTE AO TRANSPORTE PÚBLICO”, RELEMBRA CARLOS ROBERTO WINKLER, PROFESSOR DA UCS Hugo Araújo

rua foram justas. Não tinha por que eu não ir para a luta junto. A intenção era boa”, diz Andressa sobre sua razão para participar da marcha. Milhares de pessoas chegaram ao protesto através da divulgação no Facebook. E outras tantas se informaram sobre o desenrolar da manifestação através das redes, e não por meio da imprensa tradicional. Breno Dallas, de 28 anos, formado em Filosofia pela UCS e produtor cultural, participou do protesto para realizar uma cobertura multimídia alternativa divulgada no Facebook do grupo Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação). “A maior parte das pessoas presentes não sabia o que estava fazendo lá, parecia mais uma festa, uma comemoração. E não era. Estavam todos felizes cantando o hino do Brasil e do Rio Grande do Sul. Eu não conseguia sorrir e ver graça em nada daquilo. Parecia que estava diante de um bando de autômatos”, relembra Breno. Para ele, faltou consciência política aos atos. “A reivindicação genérica do ‘ser contra a corrupção’ não respondia mais ao que realmente se necessitava”, analisa. Com uma perspectiva mais otimista sobre os atos de junho, Ramone Mincato, doutora em Ciência Política e professora da UCS, percebe que “havia o receio de que o protesto fosse instrumentalizado pelos partidos”. A participação de órgãos políticos seria legítima, mas as próprias pessoas que foram às ruas rejeitaram a organização partidária, conforme a professora. Segundo ela, “também porque boa parte da população não se sente representada pelos partidos. Não foi o movimento de um partido, foi cívico. O indivíduo não se sente representado. Daí ele se autorrepresenta com a sua demanda”, contextualiza Ramone. “Não mudei quanto à concepção que eu tinha há um ano sobre o movimento. Considero um ato de cidadania justamente por não ter um líder ou organização. O foco da manifestação foi o sistema político brasileiro, que é fechado e não abre para as demandas da sociedade”, explica a professora, que ressalta que o protesto não era contra o governo em si, mas contra a forma tradicional de se fazer política. Do asfalto, um jovem acena para a sacada de um alto prédio no Centro de Caxias. A luz acesa indica que lá em cima alguém observa a passeata. De


Fotos: Breno Dallas

mais marcou Breno foram os momentos finais, “a correria, junto com aquela multidão, quando as bombas de gás explodiram na prefeitura. Eu estava com uma jaqueta que impedia tapar o nariz, o que irritou bastante minhas narinas”.

POR MAIS PARTICIPAÇÃO A violência policial foi uma constante durante os protestos de junho, assim como as críticas à mídia, que iniciou sua cobertura destacando os atos de vandalismo e não as reivindicações. Tanto para Winkler como para Ramone, a mídia não desempenhou seu papel de mediar discussões importantes como a reforma política, que agora está praticamente esquecida na esfera pública. Mesmo assim, os professores da UCS concordam que os protestos deixaram avanços. “Ficou um alerta de que as pessoas querem ter mais políticas sociais, mais presença do Estado, mas de modo que as pessoas tenham o direito a ter sua opinião”, destaca Winkler. Para Ramone, o desejo de uma maior participação popular também é um fruto colhido: “iniciamos uma fase importante da política brasileira. Junho foi o marco desse processo”.

“INICIAMOS UMA FASE IMPORTANTE DA POLÍTICA BRASILEIRA. JUNHO FOI O MARCO DESSE PROCESSO”, DIZ RAMONE MINCATO, PROFESSORA DA UCS

Hugo Araújo

Vietnã, mas que terminou com atos violentos, por parte de vândalos e também da polícia. Em um vídeo entre dezenas de registros amadores do protesto que estão disponíveis no YouTube, um rapaz de blusão está caminhando quando é atingido por um golpe de cassetete na barriga. A agressão gratuita partiu de um policial. Em outros vídeos, percebe-se claramente quando se soltam rojões entre os manifestantes, o que gerou repressão policial com bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e cavalaria. “A polícia atacou a todos quando viu necessidade, atingindo inclusive os que estavam ali por uma presença não politizada. É sempre um tanto covarde este tipo de posicionamento, de provocar a dispersão através de bombas de efeito moral e de gás. Mas há outra maneira? Não sei. A imprensa tradicional, como de costume, tachou de ‘baderneiros’ os que atrapalharam a ‘passeata’, ‘bonita do jeito que estava’”, relata Breno. A estudante Andressa também foi testemunha de atos violentos: “no final, indo para casa de ônibus, vi pessoas correndo e os policias atirando bombas de gás. Lembro também que algumas pessoas depredaram um banco e banquinhas (de revista)”. Em aproximadamente 4 horas de manifestação, o que

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AUDIÊNCIA FIEL PROFESSOR DA UCS, FREI JAIME BETTEGA AMPLIA O ALCANCE DE SUAS MENSAGENS DE ESTIMULO À POSITIVIDADE ATRAVÉS DAS REDES SOCIAIS WAGNER JÚNIOR DE OLIVEIRA | wagner.oliveira@ucs.br

Ele cativa pessoas por onde passa. Suas turmas de “Ética Organizacional” e “Empreendedorismo Cristão”, do curso de Administração da Universidade de Caxias do Sul, estão sempre repletas de alunos matriculados. Seu programa nas rádios São Francisco e Mais Nova tem público garantido e suas colunas publicadas nos jornais Correio Riograndense e Pioneiro levam palavras de otimismo periodicamente aos seus leitores. Seja através da fala ou da escrita, frei Jaime Bettega consegue fidelizar multidões que buscam conforto e respostas para situações do dia a dia. Frei Jaime Bettega tem a rara capacidade de conquistar pessoas em diferentes situações que não ficam restritas às missas na Igreja Imaculada Conceição. Nos últimos anos, ele também se faz presente nas redes sociais, um fenômeno de audiência. A sua página no Facebook (facebook.com/freijaime) tem mais de 45 mil curtidas – já alcançou 200 mil visualizações – e o perfil no Twitter (@freijaime) conta com cerca de três mil seguidores. Suas publicações geram comentários como “sua mensagem nos faz refletir que realmente não precisamos de muito para sermos felizes. Obrigada!”. “Realmente não precisamos de muito quando temos paz no coração”, comentou outra leitora na página do frei. Em resposta à postagem “Ontem eu era inteligente, queria mudar o mundo. Hoje eu sou sábio, estou mudando a mim mesmo”, um seguidor comentou que há 20 anos havia andado de ônibus em direção à UCS junto ao frei e que também gostaria de ser sábio. Bet8

tega respondeu ao comentário: “gostei de ler a sua postagem. Obrigado! Juntos, em busca da sabedoria de cada dia. Forte abraço! Paz e Bem!”. Aliás, “paz e bem” é praticamente a assinatura registrada do frei, que já é adotada pelos seus seguidores virtuais nas postagens. A saudação tem origem nos ensinamentos de São Francisco de Assis. No último dia 13 de maio, frei Jaime levou o seu carisma online para o mundo offline. Ele palestrou para os funcionários da UCS na abertura da XXXII Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho. Leia a entrevista com o professor: Como o senhor explica o sucesso nas redes sociais? Cheguei a ter três perfis no Facebook, depois migrei para uma página. Existe uma lacuna onde as pessoas estariam buscando uma palavra com mais significado, com mais profundidade e talvez algo mais sobre o cotidiano. Porque o grande desafio das pessoas hoje é viver bem neste cenário, que depende muito mais da interioridade do que daquilo que se sucede fora da pessoa. Me assusto com tantas pessoas seguindo e multiplicando isso. Existia essa lacuna, a falta de uma palavra que tivesse um significado e que fosse uma palavra muito simples e que relatasse o cotidiano das pessoas na sua normalidade. Na hora de escrever para os perfis online, quais são as suas preocupações? O contato com as pessoas permite que a gente vá entendendo essa dinâmi-

“QUANDO NÃO ESTOU ESCREVENDO, ESTOU PENSANDO NAQUILO QUE PODERIA ESCREVER. NA FRENTE DO MEU COMPUTADOR TEM UM MONTE DE BILHETINHOS QUE VOU FAZENDO DURANTE A SEMANA. CADA PALAVRA ALI VAI INSPIRANDO UM CAMINHO”, CONTA O FREI ca da vida. Temos endereços diversificados, mas temos a mesma questão existencial: a busca pelo sentido da vida. Sou muito livre para escrever, mas com a preocupação de dar o entendimento muito simples para que a vida no dia a dia tenha um significado. Gosto de encostar as palavras na vida e, necessariamente, elas precisam ter um conteúdo vivencial. Minha preocupação não é com a teoria, não é com o escrever bonito, mas é conseguir fazer com que as palavras deem um significado novo à vida. A tecnologia afasta as pessoas? As tecnologias, por si só, não causam


Claudia Velho

Claudia Velho

tudo isso. As tecnologias têm encontrado pessoas defasadas no sentido antropológico, isto é, nem sempre a gente sabe o que é a vida. Nem sempre a gente tem claro as metas, as buscas, os sonhos. Então esbarramos em problemas, não sabemos lidar com as nossas carências. Para alguns, as novas tecnologias te tiram do cotidiano. Eu já penso que muitas pessoas estão ampliando os horizontes também através das tecnologias, sem desmerecer ou deixar em segundo plano aquilo que é próprio: família, amigos, local de trabalho, etc.. As tecnologias dependem muito das pessoas e elas estão defasadas no quesito antropológico, humano e até filosófico. Quando bem utilizadas, as tecnologias sempre vão permitir novos horizontes, novos entrelaçamentos e também vão confirmar que não existe distância: o que está perto tem valor, mas o que está longe também tem valor. Com tantas atividades, como o senhor organiza o tempo para escrever? Tento buscar os momentos de maior silêncio para escrever. No dia a dia de exigências maiores, como atendimento a pessoas, planejamento de aulas, eu não consigo. Mas eu me programo e tento, por exemplo, em um domingo à tarde, dar conta daquilo que vai acontecer durante a semana e o que eu preciso deixar escrito. Hoje, o tempo é muito precioso, valorizo os minutos. Quando não estou escrevendo, estou pensando naquilo que poderia escrever. Na frente do meu computador tem um monte de bilhetinhos que vou fazendo durante a semana. Cada palavra ali vai inspirando um caminho. De vez em quando, tiro um tempo para pesquisa de frases, de ideias, de jeitos de pensar. Tu tens que ser muito organizado. Quando tu gostas de escrever, te identifica na escrita e sabe que isso tem impactado na vida das pessoas, tu te motivas ainda mais. Se tu não podes ajudar materialmente, se tu não podes ajudar com a tua presença, se não podes aliviar a dor de alguém, podes escrever. Isso se torna uma forma de ajudar muitas pessoas. Essa leitura nas redes sociais faz com que as pessoas expressem sentimentos pouco explorados? Depois de um tempo, percebi e tive retorno de que os escritos têm proporcionado o aprendizado para a maturidade. As pessoas dizem “tu estás me ensinando a viver” ou “estou olhando a vida diferente”. Vejo que nós temos espaços em aberto. As redes sociais te pedem disciplina. São textos rápidos, pois as pessoas não têm tanto tempo. Tu tens que ser muito fiel. Também aprende a não tratar de assuntos muito polêmicos. Convém utilizar esse espaço para falar sobre vida no cotidiano.

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NO TRIBUNAL DA OPINIÃO PÚBLICA OS HOLOFOTES MIDIÁTICOS SOBRE O CASO BERNARDO OPORTUNIZAM DEBATE SOBRE A INFLUÊNCIA DA IMPRENSA NAS DECISÕES JURÍDICAS E NA ATUAÇÃO DA POLÍCIA VAGNER ESPEIORIN | vaspeio@ucs.br

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Entrevistas coletivas dia sim, outro também. Coberturas minuto a minuto na internet e ampla repercussão no rádio, na televisão e no jornal. Três Passos, ao norte do Estado, ganhou o centro da atenção do público. O motivo: Bernardo. Com apenas 11 anos, o corpo de Bernardo Uglione Boldrini foi encontrado no dia 14 de abril, enterrado em um matagal na cidade de Frederico Westphalen, distante 80km de Três Passos. As principais suspeitas do homicídio recaem sobre o pai da criança, o médico Leandro Boldrini, a madrasta do menino, a enfermeira Graciele Ugulini, e a amiga do casal e assistente social Edelvânia Wirganovicz. O caso chocou o público e mobilizou a imprensa em busca de informações sobre a morte do garoto. O caso Bernardo ilustra uma situação que tem se tornado comum: as grandes coberturas jornalísticas de tragédias. Foi assim com o incêndio da Boate Kiss, quando 242 jovens morreram após uma casa noturna em Santa Maria pegar fogo. Igualmente noticiado, o Caso Eliza Samudio ganhou a atenção do país e do mundo pelo desaparecimento da modelo que namorava o goleiro do Flamengo, Bruno Fernandes de Souza. O jogador foi condenado como um dos autores do crime. Além de ganharem os noticiários, esses casos foram acompanhados de perto por Jader Marques, advogado criminalista que faz a defesa do pai de Bernardo, Leandro Boldrini, representa o sócio-proprietário da Boate Kiss, Elis-

sandro Spohr, e ajudou na acusação de Bruno. Marques esteve na Universidade de Caxias do Sul em maio para palestrar aos alunos do curso de Direito. No debate, um tema com que convive no seu dia a dia: processo penal e imprensa.

UM PALCO TRANSFORMADO EM JÚRI Voz potente para um UCS Teatro lotado. Em qualquer sinal de distração, batidas fortes do pé na madeira do palco faziam com que o público retornasse o foco para ele. Mas, Jader Marques não precisou recorrer ao artifício muitas vezes. O assunto atrativo bastou, somado ao excesso de gestos, para que os acadêmicos – normalmente apaixonados por direito penal – mantivessem os olhares atentos. Falou das influências da imprensa no processo penal e da importância que instituições como Ministério Público e Polícia Civil atribuem aos noticiários. Questionou os programas sensacionalistas da tevê. Não poupou críticas. “Se a autoridade policial não tomar cuidado de preservar o inquérito, corre o risco do interesse midiático se sobrepor à busca da prova, à elucidação dos fatos. Isso é muito perigoso”, disse Marques na UCS. A preocupação do advogado não se dá apenas por defender o principal suspeito de cometer um crime que chocou o país. Tem relação com alguns

institutos jurídicos que alicerçam a democracia: a ampla garantia de defesa e o direito ao contraditório – sem eles, viveríamos numa ditadura. Mas assim como essas garantias se baseiam em princípios constitucionais, a liberdade de expressão também. E é justamente aí que surgem jornais, rádios e emissoras de televisão com seu potencial noticiador. O criminalista depara-se diariamente com a influência da imprensa. Exceto pelo Caso Eliza Samudio, em que foi acusação, o criminalista está sempre no lado contrário à opinião pública. Na época da Boate Kiss, aparecia quase que diariamente na televisão. Mais recentemente, ele respondeu pelo Facebook uma crônica do escritor Fabrício Carpinejar. No jornal Zero Hora, Carpinejar escreveu um texto para Leandro Boldrini: “Você nem pai foi. Nem homem foi. Você foi o que restou”. Marques retrucou pelo seu cliente: “Fabricio sujou de sangue as mãos de Leandro, antes de a própria Polícia fazer qualquer afirmação”.

EMOÇÃO X RACIONALIDADE: ENTRE A TÉCNICA E O PÚBLICO Por trás do debate travado entre os dois está o confronto entre a emoção – estampada nas palavras de Carpinejar – e a racionalidade no discurso de Marques, afinal, só há criminalização após o julgamento. Parecem ser esses os aspectos que envolvem as grandes 11


coberturas jornalísticas. De um lado, a opinião pública alimentada pelas notícias. De outro a defesa dos suspeitos, quase sempre acuada. “Os fatos de grande impacto emocional são comuns na imprensa. As coberturas acabam ganhando essa dimensão porque nós, humanos, somos movidos pela emoção”, explica a professora do Centro de Ciências da Comunicação e do Mestrado em Turismo, Maria Luiza Cardinale Baptista. E a emoção tomou os jornais ainda no século XIX. Foi na França que notícias colocadas nos rodapés passaram a fazer sucesso. Casos familiares, tragédias e fatos relacionados às pessoas começaram a atrair a atenção do público. Em substituição às páginas oficiosas, os textos fizeram sucesso e até mesmo deram algum retorno financeiro a jornais que viviam num período de crise e conviviam com um população quase que totalmente analfabeta. Desde aquela época, a notícias se transformaram em produto. “Se a imprensa é uma indústria, a notícia é o seu produto. Eu parto da ideia que a informação é também um bem simbólico”, afirma Maria Luiza, que coordena o grupo de pesquisa Amorcom (Comunicação, Amorosidade e Autopoiese). Além disso, a informação tornou-se poder. Empoderada, a mídia tem uma capacidade mobilizante. Ela trabalha em paralelo com outras instituições e, por vezes, influencia a atuação delas. “O jornalismo ocupa um espaço que é alternativa de jurisdição. Ele tem posicionamentos que interferem não só no público, mas na opinião de pessoas que diretamente estão envolvidas nas decisões técnicas”, analisa Maria Luiza. A pesquisadora da UCS alerta para alguns cuidados que envolvem a crítica e que costumam generalizar a atuação profissional: “A comunicação social tem sido o bode expiatório de uma sociedade em que tudo está em crise. Parece que o problema social se resolve criticando a mídia”. Noticiar com ética e respeitar a história das pessoas são elementos básicos de uma cobertura jornalística. Ambas características podem guiar a apuração das informações e o modo como elas são levadas ao público. Apesar disso, a relação entre imprensa e direito está longe do consenso. Seja no campo jurídico ou na Mídia, por enquanto só há um veredicto: a opinião pública, cada dia mais, dita as regras. 12

Jader Marques, advogado criminalista

“SE A AUTORIDADE POLICIAL NÃO TOMAR CUIDADO DE PRESERVAR O INQUÉRITO, CORRE O RISCO DO INTERESSE MIDIÁTICO SE SOBREPOR À BUSCA DA PROVA, À ELUCIDAÇÃO DOS FATOS. ISSO É MUITO PERIGOSO”, DISSE MARQUES, ADVOGADO DO PAI DE BERNARDO


O ZODÍACO NO CÉU DE CAXIAS PLANETÁRIO DA UCS PROJETA CONSTELAÇÕES MUITO ALÉM DAS TRÊS MARIAS E DO CRUZEIRO DO SUL ANA CAROLINA VIVAN, especial | acmvivan@ucs.br

As estrelas que enxergamos ao olhar o céu são diferentes das percebidas nos países ao Norte da linha do Equador. A explicação é simples: a Terra é redonda, o que gera diferentes pontos de vista para quem observa o infinito. Isso significa de Caxias do Sul se tem uma visão muito particular do céu. Aqui, a popular constelação Cruzeiro do Sul é facilmente vista, mas não seria visualizada nos Estados Unidos, por exemplo. A explicação é do professor do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Odilon Giovannini, que também coordena o Planetário da UCS. Conforme o professor, as estrelas estão organizadas em 88 constelações. Além dos conjuntos do Zodíaco, em Caxias do Sul enxergamos Orion, Centauro e Caravela. Além das estrelas, eventualmente é possível enxergar os planetas. A olho nu, podemos ver Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Os demais só podem ser vistos por meio de telescópios ou lunetas. As estrelas possuem um ciclo de evolução e a unidade de distância utilizada é anos-luz, que equivale a centenas de milhões de quilômetros. “Usamos essa unidade de medida porque a distância entre as estrelas é muito grande. Então, nos referimos a quanto tempo a luz leva para sair daquela estrela e chegar até nós. As galáxias mais próximas, como a Andrômeda, estão a centenas de milhões de anos-luz. A luz que estamos vendo hoje, provavelmente saiu da estrela quando ainda existiam os dinossauros na Terra ” explica Giovannini. No inverno, a constelação que conseguimos identificar mais facilmente é a de Escorpião – Antares é a principal estrela do grupo com sua cor vermelha. No verão, é possível visualizar a constelação de Orion e das Três Marias. “Para identificar as constelações, só precisa ter um pouco de vontade e um céu bem escuro sem estar afetado pela poluição luminosa”, afirma. O Planetário da UCS , junto Museu de Ciências Naturais, é aberto ao público às terças e quartas-feiras pela manhã e nas quintas-feiras pela manhã e tarde.

Projeção mostra o céu de Caxias do Sul | Foto: Claudia Velho

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O ESQUEMA TÁTICO DO CORPO HUMANO O ORGANISMO DE UM JOGADOR DE FUTEBOL FUNCIONA COMO UM SISTEMA DE INFORMAÇÕES SIMULTÂNEAS WAGNER JÚNIOR DE OLIVEIRA | wagner.oliveira@ucs.br Assim como os 11 titulares da Seleção Brasileira que estarão em campo durante a Copa do Mundo, os órgãos do corpo humano desempenham funções específicas para trabalhar em conjunto. Do cérebro que dispara os estímulos ao músculo que responde, o corpo é uma máquina que funciona como um time: de forma complexa e muito bem esquematizada. Três professores da UCS explicam como alguns órgãos atuam quando acionados para uma partida de futebol.

CÉREBRO

O FELIPÃO DO CORPO HUMANO

No instante em que um jogador vê a bola sendo lançada, seu sistema neurológico entra em ação. Automaticamente o cerebelo (responsável pela precisão dos movimentos) e o lobo paretal (parte do cérebro responsável pela atenção) concentram-se no objeto. Estas partes do cérebro já estão atuando junto com o lobo temporal, calculando o momento em que essa bola vai chegar para o jogador. Ao mesmo tempo, a informação de como deverá ser realizado o movimento de parada de bola e o que deve fazer depois já chegou até as pernas. “É um processo extremamente complexo. Isso tudo é atenção. Por isso que é correto afirmar que, se o jogador se distrair um pouco, o time perde”, explica o professor Asdrubal Falavigna, neurocirurgião, coordenador do curso de Medicina da UCS. Inúmeras áreas do cérebro funcionam simultaneamente quando a ação exige resposta motora rápida.

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POR QUE TREINAR É TÃO IMPORTANTE O treinamento é indispensável para o bom desempenho de um jogador porque os dois períodos de 45 minutos em campo são de estresse intenso. “Além de todas as condições físicas, é necessário ter um controle neurológico de comando muito bem treinado. O treinamento faz com que os atletas tenham reflexos involuntários, que a gente também chama de movimentos automáticos, feitos sem pensar. É tão automático que o cérebro não os registra”, detalha o professor Falavigna.

CRAQUES DA MENTE A precisão dos movimentos e a capacidade de realizá-los de forma rápida e involuntária é facilmente adquirida durante a infância e a adolescência. Falavigna conta que os times de futebol não costumam apenas exercitar o físico de crianças e jovens com o intuito de desenvolver os talentos precoces. Os times também testam o modo como as promessas do futebol respondem a todas as táticas dos treinamentos. “Eles passam tarefas de execução e analisam a resposta do cérebro, aí definem quem será um bom jogador no futuro. O atleta não é bom com 15 ou 16 anos, ele já é bom aos sete”, enfatiza o neurocirurgião.


ração também, já que existe a necessidade do aumento da quantidade de sangue que está circulando pelo corpo. “A musculatura precisa contrair e relaxar numa velocidade mais alta. Por conta disso, a quantidade de sangue levada para os músculos é muito maior.”

INSPIRAR E EXPIRAR

O jogo de futebol nada mais é do que um exercício físico de alto rendimento, que exige respostas de todo o organismo. Durante o período em que os jogadores estão em campo, diversas transformações ocorrem, como a sobrecarga do sistema respiratório. “Há um aumento da frequência respiratória. A respiração passa das 12 incursões por minuto (normalmente, em repouso, é essa a quantidade de vezes que inspiramos e expiramos), para um número muito maior, pois as células precisam de mais oxigênio. Esse volume maior de oxigênio vai chegar nas células e vai gerar a energia que vai manter as contrações musculares”, descreve o professor Colombo.

METABOLISMO

CORAÇÃO

O CAPITÃO DOS ÓRGÃOS

O ARTILHEIRO DA PARTIDA

Metabolismo, o artilheiro da partida Durante os 90 minutos que os jogadores da Seleção Brasileira permanecerão em campo, o corpo passará por alterações cardíacas, musculares e respiratórias. As alterações provocadas pela prática esportiva têm predominância no metabolismo, que é o caminho que o nosso corpo faz para produzir e utilizar energia. O professor de Fisiologia do Centro de Ciências da Saúde da UCS, Rafael Colombo, explica que na prática do futebol predomina o metabolismo aeróbio, que ocorre na presença de oxigênio, com picos de metabolismo anaeróbio, sem a presença de oxigênio. “Uma das suas características é, primeiro, aumentar a frequência cardíaca. O coração bate mais vezes por minuto e a quantidade de sangue que gira pelo corpo passa dos cerca de 5 para 30 litros por minuto”, explica Colombo. Segundo o professor, quando o jogador realiza um chute que atinge uma distância entre cinco e 10 metros, a frequência cardíaca aumenta e a força de contração do co-

Os jogadores profissionais vivem um paradoxo interessante: possuem uma frequência cardíaca baixa, na faixa dos 45 batimentos por minuto. Isso se deve ao treinamento pelo qual eles são submetidos. “Uma pessoa que não é atleta e tem essa frequência cardíaca merece atenção redobrada”, ressalta a diretora do Instituto de Medicina do Esporte da UCS (IME-UCS) e cardiologista, professora Olga Tairova. A médica explica que o ser humano é portador de um sistema nervoso autônomo que regula também a frequência cardíaca. Ele é importante para o rendimento do jogador, já que é necessário que entre em campo com um alto número de batimentos cardíacos. Este sistema tem duas partes: simpática, que está ligada ao emocional, por aumentar a frequência cardíaca, e a parte parassimpática, responsável pela economia de energia e diminui a frequência cardíaca. O treinamento físico aumenta a atividade parassimpática. O organismo treinado conserva muito bem a energia e sabe usá-la de modo econômico. “Por isso os atletas têm baixa frequência cardíaca”, ilustra Tairova.

MOTIVAÇÃO, A CHAVE DA VITÓRIA Quando um jogo está prestes a iniciar, os técnicos estimulam seus atletas para que alcancem o objetivo maior da competição: vencer. E isso tem tudo a ver com o coração. “É uma estratégia fisiológica para que a frequência cardíaca aumente. Isso é bom, porque um coração treinado vai bombear uma grande quantidade de sangue para os músculos. Dessa forma, o jogador vai correr mais rápido. Vai render mais em campo”, destaca a diretora do IME-UCS. Ela ainda reforça que a motivação é essencial: “se não tem um bom clima na equipe, isso reflete no sistema nervoso autônomo e os atletas não terão um bom rendimento”. 15


HERDEIRA DO LEGADO LITERÁRIO

MARÍA KODAMA, QUE FOI COMPANHEIRA DO ESCRITOR JORGE LUIS BORGES, PERSISTE NA MISSÃO DE DIFUNDIR A OBRA DO ESCRITOR ARGENTINO VAGNER ESPEIORIN | vaespeio@ucs.br 16


Seja pelo cabelo parcialmente branco, parcialmente escuro, María Kodama pode ser percebida de longe. O semblante tranquilamente simpático anuncia que, sim, é permitido perguntar à vontade sobre o tema de interesse da maioria dos que assistiram à sua palestra de encerramento do II Seminário Internacional de Língua, Literatura e Processos Culturais (SILLPRO) na UCS: Jorge Luis Borges, seu falecido marido. Famosa por sua intimidade com um dos escritores latino-americanos mais célebres, María Kodama palestrou na Universidade de Caxias do Sul, em 21 de maio. A viúva de Borges desembarcou em Caxias após partir de Tel-Aviv, com escala em Frankfurt e Rio de Janeiro, até chegar a Porto Alegre e, finalmente, à UCS. Após tantas milhas, os olhos puxados de Kodama – herança do pai japonês – pareciam ainda mais fechados, mas não menos sagazes. Na cidade israelense, Kodama divulgou a obra de Borges. Tarefa que assumiu após a morte do autor, em 1986. Professora e tradutora, ela responde por todos os direitos autorais do ex-marido. Mesmo com o trajeto longo e cansativo, Kodama falou ao público presente no UCS Teatro ao estilo de uma conversa. O tema do encontro acadêmico era o espaço e cenários de alguns contos do autor. Kodama preferiu responder aos questionamentos da plateia. Deixou algumas oportunidades para que todos conhecessem Borges de um lugar mais próximo. “Borges era sensível e tímido, mas não deixava de ser comunicativo. Dizia que sem livros, não poderia imaginar a própria vida”, recorda. A colocação da viúva procede. A infância do argentino foi cercada por brochuras. O pai, advogado, tinha uma grande biblioteca particular. Mais velho, o célebre escritor se tornou diretor da Biblioteca Nacional da

República Argentina. Foi num mundo de livros – onde a imaginação é matéria principal – que Borges foi criado. Não por acaso, ele se tornou um ícone do realismo fantástico, estilo marcado por agregar ao cotidiano, fatos mágicos como se fossem naturais. Kodama e Borges se conheceram na faculdade. Ela foi aluna do mestre da escrita durante a graduação na Universidade de Buenos Aires, onde ele lecionou por um bom tempo. “Não sabia se havia me aprovado porque eu sabia (o conteúdo), ou porque me queria”, brinca ela. No intervalo entre as posições de aluna e mulher, surgiu a função de secretária literária. Durante os últimos anos de vida de Borges, Kodama ajudou o escritor principalmente quando a visão já não lhe era tão boa e a cegueira o acometia. Após se casar, além de ser a herdeira intelectual, Kodama se transformou numa ferrenha defensora da obra do autor de “Aleph”. Hoje, preside o Instituto que leva o nome do ex-companheiro. Logo após a morte de Borges, ela se deparou com um poema cuja autoria era a ele atribuída. Uma observação do texto já demonstrava: não poderia ser. Durante oito anos, ela foi irredutível ao não desistir da tarefa de descobrir a verdadeira fonte do texto literário atribuído ao marido. Ela conseguiu desvendar a autoria real do texto. “O poema, que se chamava Instantes ou Momentos, era um disparate atômico. Era um absurdo atribuir a Borges aqueles versos. Era diferente da forma como escrevia”, relata. Apesar do jeito aparentemente tímido, Kodama demonstrou na UCS saber ser indômita quando o assunto é o legado de Borges. Provou, não que fosse necessário, que pode ser mais do que apenas a viúva de um dos maiores escritores que o mundo já conheceu.

“BORGES ERA SENSÍVEL E TÍMIDO, MAS NÃO DEIXAVA DE SER COMUNICATIVO. DIZIA QUE SEM LIVROS, NÃO PODERIA IMAGINAR A PRÓPRIA VIDA”, RECORDA KODAMA

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PRIMEIRA FLOR EM DÉCADAS

Na entrada do UCS Aquário, uma planta chama atenção. Seu nome científico é Agave attenuata Salm-Dyck e pela primeira – e última – vez ela floresceu. Isso porque as agaves florescem uma única vez durante sua vida após pelo menos 10 anos, podendo chegar a 30. Depois a floração, a planta morre. Nativa do México, é mais cultivada como ornamental pela sua beleza paisagística. Conforme o biólogo Felipe Gonzatti, curador do Herbário UCS, ela é uma planta suculenta que atinge até 1,5 metros de altura com suas folhas. Quando em floração, pode atingir até 5m de altura. Suas flores ficam reunidas verticalmente ao centro e desabrocham gradativamente da base até o ápice. É uma planta cultivada ao sol, que normalmente não resiste ao frio intenso. A agave da UCS parece ser uma exceção.

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ARTIGO

INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO A UCS tem como missão gerar e disseminar o conhecimento. A atual Reitoria propõe uma universidade de qualidade e excelência, uma universidade contemporânea e inovadora. A Pró-Reitoria de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico – PIDT tem um papel fundamental nesta construção como um elo articulador/agregador entre as demandas do mundo empresarial e setor público com a pesquisa desenvolvida na universidade. A PIDT está estruturada em três grandes alicerces: projetos de inovação e pesquisa aplicada, o parque científico e tecnológico e a prestação de serviços com alto valor agregado. De forma planejada e coletiva esta Pró-reitoria tem como objetivo propor ações que visam incrementar a inovação e o empreendedorismo tanto no ensino quanto na pesquisa de forma a contribuir para o desenvolvimento tecnológico da sociedade, além de ampliar a geração de ambientes de transferência de tecnologia e de conhecimento que propiciem a inovação e geração do desenvolvimento de toda a região. Cabe à PIDT fortalecer a capacidade de inovação e empreendedorismo através da articulação e consolidação de uma plataforma de desenvolvimento científico e tecnológico através de um fortemente relacionamento com a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação juntamente com os núcleos de pesquisa, núcleos de inovação e da infraestrutura

instalada na universidade além da rede de relacionamento com outras instituições de pesquisa e inovação no Brasil e no exterior. A UCS já atende às condições básicas para fomentar empresas inovadoras: conhecimento gerado pela pesquisa consolidada em várias áreas, incubadoras em funcionamento e programas de empreendedorismo institucional. Ainda precisamos avançar na articulação junto às empresas. Outro ponto forte da instituição está na infraestrutura de laboratórios tecnológicos e institutos reconhecidos nacionalmente que prestam serviços diferenciados com credenciamento junto a órgãos certificadores a nível nacional. Entretanto, ainda podemos avançar na utilização destes recursos de forma obter melhores resultados tanto na questão de sustentabilidade quando na questão da qualidade na prestação do serviço. Com o Parque Científico e Tecnológico (TECNOUCS) vamos buscar soluções conjuntas para o desenvolvimento científico e tecnológico, através de parcerias com as entidades governamentais, com os setores produtivos e com a classe empresarial. Com o TECNOUCS caberá mais ainda à Universidade estimular o processo de inovação, facilitar a transferência de tecnologia e articular as relações entre a academia e a sociedade, bem como promover o desenvolvimento.

COM O TECNOUCS CABERÁ À UNIVERSIDADE ESTIMULAR O PROCESSO DE INOVAÇÃO, FACILITAR A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E ARTICULAR AS RELAÇÕES ENTRE A ACADEMIA E A SOCIEDADE, BEM COMO PROMOVER O DESENVOLVIMENTO.

Professor

Odacir Deonisio Graciolli

Vice-Reitor e Pró-Reitor de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico

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Universidade de Caxias do Sul Caixa Postal 1313 95020-972 - Caxias do Sul - RS

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