RevistaUCS - maio e junho 2016

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

Maio e Junho /2016 . Ano 4 . Nº 20

POR QUE TANTA INTOLERÂNCIA? BULLYING TRANSPÕE AMBIENTE ESCOLAR E SE ESPALHA PELA SOCIEDADE, REVELANDO O DESPREPARO PARA A CONVIVÊNCIA COM O DIFERENTE


Anthony Tessari/acervo IMHC

BULLYING: INTOLERÂNCIA CULTIVADA NA INFÂNCIA SE ESTENDE PARA TODA A CONVIVÊNCIA SOCIAL. PG 6

JUNTOS NA DIVERSIDADE: INCENTIVO À PRESERVAÇÃO LINGUÍSTICA E CULTURAL. PG 5

MEDICINA SEM FRONTEIRAS: TRABALHO SOBRE GRIPE ‘A’ NO HG APRESENTADO AO MUNDO. PG 10 Fotos Claudia Velho

FOCO NOS DESAFIOS: LIÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO LEVADAS AO ATLETISMO. PG 12

UCS SÊNIOR: 25 ANOS PROMOVENDO QUALIDADE DE VIDA NA LONGEVIDADE. PG 15 Ariel R. Griffante

Fundação Universidade de Caxias do Sul Presidente do Conselho Diretor: Ambrósio Luiz Bonalume Universidade de Caxias do Sul Reitor: Evaldo Antonio Kuiava Vice-Reitor: Odacir Deonisio Graciolli Pró-Reitor Acadêmico: Marcelo Rossato Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação: Nilda Stecanela Pró-Reitor de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico: Odacir Deonisio Graciolli Chefe de Gabinete: Gelson Leonardo Rech Diretor Administrativo e Financeiro: Cesar Augusto Bernardi

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Produção: Assessoria de Comunicação UCS/ Setor de Imprensa e Mídias Digitais Edição: Ariel Rossi Griffante Revisão: Cristina Beatriz Boff, Josmari Pavan e Vagner Espeiorin Supervisão: Dimas Augusto Felippi Foto de capa: Claudia Velho Tiragem: 5.000 exemplares Contato: 54.3218.2116; argriffante@ucs.br; imprensa@ucs.br; Versão digital: www.ucs.br/revista-ucs

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TOCHA PERCORRERÁ CINCO CIDADES DA REGIÃO

ROTEIRO PELO BRASIL – A chama foi acesa cerimonialmente no dia 21 de abril, no local das competições da Antiguidade na cidade grega de Olímpia, com a captação e con-

versão de raios do Sol por espelhos côncavos, como ocorre em todos os Jogos. Após passagens pela Grécia e Suíça (nas sedes da ONU e do Comitê Olímpico Internacional - COI) a tocha chegou ao Brasil em 3 de maio, dando início, em Brasília (DF), ao transporte em território nacional. Ao todo, 12 mil pessoas conduzirão a chama por cerca de 20 mil quilômetros terrestres e 10 mil milhas aéreas em todas as unidades da federação. O revezamento com os condutores percorrerá 327 cidades, e outras 200 receberão a passagem de comboio motorizado com a chama exposta. Com isso, será alcançada em torno de 90% da população brasileira. O revezamento vai durar 95 dias, encerrando em 5 de agosto, no Rio de Janeiro (RJ), quando o último condutor procederá o acendimento da Pira Olímpica no Estádio do Maracanã. A Olimpíada prosseguirá até 21 de agosto, reunindo mais de 10 mil atletas de 206 países. Em 17 dias, serão disputadas 306 provas com medalhas.

Divulgação

Caxias do Sul está na rota de uma das mais simbólicas ações da integração mundial proposta pelos Jogos Olímpicos. No dia 8 de julho, a cidade será percurso da tocha com a chama que, tradicionalmente, percorre a nação onde ocorre a Olimpíada até chegar à cidade-sede. No ponto alto da cerimônia de abertura, o acendimento da Pira Olímpica demarca o período de confraternização dos povos por meio do esporte. Junto com Porto Alegre, Pelotas, Santa Maria e Passo Fundo, Caxias integra o grupo das ‘cidades-celebração’ – aquelas em que a chama ficará pernoitada – no Rio Grande do Sul. Bento Gonçalves, Gramado, Canela e Nova Petrópolis são os outros municípios da região no trajeto da tocha. Em um total de seis dias, a chama passará por 20 cidades gaúchas.

PERCURSO DA CHAMA OLÍMPICA INCLUI CAXIAS DO SUL, BENTO GONÇALVES, GRAMADO, CANELA E NOVA PETRÓPOLIS

O TRAJETO EM CAXIAS w Chegada no Monumento ao Imigrante w Partida, em direção à Prefeitura, pela BR-116, Rua Os 18 do Forte, Rua Humberto de Campos, Avenida Júlio de Castilhos e Rua Alfredo Chaves w Cerimônia na Prefeitura w Prossegue pelas ruas Tronca e Feijó Júnior

até o Largo da Estação Férrea. Continua pela Augusto Pestana e contorna o Shopping San Pelegrino até acessar a Rua La Salle, ingressando na Avenida Itália. Parada na Igreja São Pelegrino w Subida pela Sinimbu até a Praça Dante Alighieri

w Vai até a Casa de Pedra percorrendo as ruas Marques do Herval, Pinheiro Machado, Marechal Floriano, 20 de Setembro, Feijó Júnior e Matheo Gianella w Sobe a Rua Ludovico Cavinatto em direção aos Pavilhões da Festa da Uva, lugar do pernoite, onde haverá uma festividade. 3


REPRESENTANTES DA UCS VENCEM GRAND PRIX DE INOVAÇÃO Uma fita adesiva com sensores colocada na coluna cervical para monitorar os movimentos do paciente, com aplicação na área médica e na indústria. Com este projeto, denominado Cervical Wearable, o professor Alexandre Mesquita, do Centro de Ciências Exatas, da Natureza e de Tecnologia, e o estudante Augusto de Toni, de Engenharia Mecânica, ambos do Campus Universitário da Região dos Vinhedos (CARVI), integraram a equipe vencedora do Grand Prix Senai de Inovação, realizado em março, em Bento Gonçalves. A competição propõe soluções para problemas específicos da indústria criadas por equipes multidisciplinares. Ocorrido durante a feira internacional de móveis Movelsul, o Grand Prix deste ano foi voltado para a geração de ideias inovadoras para o mercado moveleiro. Participaram três equipes compostas por estudantes e professores de diferentes instituições de ensino. Cada uma teve 40 horas para trabalhar no desenvol-

Divulgação

Fita com sensores colocada na coluna cervical: aplicações na área médica e na indústria.

vimento de seus projetos seguindo a metodologia DIP Desenvolvimento Integrado de Produto, resultado de uma parceria entre o Senai, o Consorzio Politecnico Di Milano (Itália) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), com apoio do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT/EUA).

Para o professor Alexandre Mesquita, a experiência “estimulou a criatividade em espírito colaborativo para propor soluções em importantes temas atuais”. Também fizeram parte da equipe vencedora Ricardo Dal Piva, Eduardo Luis Bianchi, Jean Cettolin, Juliano Tremea e Augusto Crespi.

A equipe que ficou com o segundo lugar contou com a participação de outro acadêmico do CARVI, Giordano Cechet Moro, de Engenharia Eletrônica, apresentando uma metodologia que determina a aptidão de um funcionário para atuar com maquinário em seu dia de trabalho.

EVENTOS ENFOCAM QUALIDADE DA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL Qualidade alimentar e sustentabilidade social e ambiental estarão em debate de 1º a 3 de agosto, na IV Reunião Sul-Brasileira sobre Agricultura Sustentável e no VI Encontro Caxiense para o Desenvolvimento da Agricultura Orgânica e Sustentável. Ambas as atividades, no UCS Teatro (Bloco M do Campus-sede), propõem a reflexão para uma produção de alimentos ética, qualificada e sustentável, avaliando-se modelos alternativos de manejo do solo 4

Claudia Velho

e de controle de pragas e doenças, além de atitudes para o equilíbrio ambiental. A promoção é do Núcleo de Inovação e Desenvolvimento em Agricultura Sustentável do Instituto de Biotecnologia da UCS, da Comissão da Produção Orgânica do Estado do Rio Grande do Sul (CPORg) e da Secretaria do Meio Ambiente de Caxias do Sul (SEMMA). São instituições parceiras o Centro Ecológico Serra, a Emater-Ascar, a Embrapa Uva e Vinho, a Rede

Ecovida de Agroecologia, a Cooperativa de Agricultores Ecologistas de Ipê (Econativa), a Associação de Agricultores Ecologistas de Caxias do Sul (EcoCaxias), a Cooperativa de Agricultores Ecologistas de Garibaldi (Coopeg), a Fepagro Serra, o STR e a Secretaria da Agricultura de Caxias do Sul. As inscrições devem ser feitas até 10 de julho pelo site www.ucs.br/site/ eventos/agricultura-sustentavel-2016. O investimento é de R$ 40.


EM RESPEITO À

DIVERSIDADE PROGRAMA ESTADUAL GERIDO PELA UCS VISA À PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO LINGUÍSTICO ESTIMULANDO COMUNIDADES A AÇÕES EDUCATIVAS E CULTURAIS ‘Toda representação de uma vida melhor e toda aspiração ao desenvolvimento se expressa na língua, com palavras precisas para lhes dar vida e transmiti-las. Os idiomas são quem nós somos. Protegê -los significa nos protegermos’. A análise da diretorageral da UNESCO, Irina Bokova, fundamenta a importância do Programa de Incentivo à Preservação da Diversidade Linguística e Cultural, concebido pela Secretaria de Estado da Cultura e gerido pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), por meio do Instituto Memória Histórica e Cultural (IMHC) e da Assessoria de Desenvolvimento Regional (ADRE). A articulação institucional coube ao professor Isidoro Zorzi. Denominada Juntos na Diversidade, a iniciativa visa promover a preservação de línguas de imigração, como o talian, o polonês e o alemão, e a

nativa kaingang, por meio de atividades culturais e educativas. O projeto-piloto direciona-se às regiões da Serra, Hortênsias e Campos de Cima da Serra, abrangendo 49 municípios nos quais os quatro idiomas compõem o patrimônio cultural, caracterizando uma diversidade linguística única. Para o diretor do IMHC, Anthony Beux Tessari, o programa trata de ampliar a compreensão sobre a transformação da cultura dos imigrantes no Brasil, observando como a língua ou dialetos foram importantes para a sua identidade e para as trocas com outras culturas. “Através dos idiomas, das línguas ou dos dialetos, uma variedade muito grande de costumes, expressões, saberes e tradições populares são transferidos. Nesse sentido, sua preservação é fundamental para assegurarmos nossa identidade cultural”, considera.

Fotos Aldo Toniazzo/acervo IMHC

Anthony Tessari/acervo IMHC

EXPRESSÃO ARTÍSTICA O Juntos na Diversidade pretende estimular escolas, entidades e comunidades, principalmente formadas por crianças e jovens, a desenvolver ações artísticas em música, canto coral, teatro, vídeos e outros, trabalhando a preservação da me-

mória comunitária. Ao final do projeto, previsto para novembro, será distribuída uma premiação total de R$ 50 mil, patrocinada pelo Banrisul, aos trabalhos que se destacarem. “Apostamos na formação de uma

consciência preservacionista, com relação ao patrimônio cultural, e de respeito à diversidade cultural”, diz Tessari. “Entre os jovens e as crianças, conhecer essa diversidade certamente ampliará o respeito a culturas diferentes”, complementa. 5


BULLYING

NÃO É BRINCADEIRA NAS ESCOLAS, A FALTA DE HABILIDADE PARA LIDAR COM DIFERENÇAS PODE SE TRANSFORMAR EM MOTIVAÇÃO PARA UMA VIOLÊNCIA INTENCIONAL E REPETIDA. NA SOCIEDADE, DA CONVIVÊNCIA ÀS REDES SOCIAIS, O PASSO É MUITO CURTO PARA A HOSTILIZAÇÃO DO OUTRO. AFINAL, POR QUE NOS TORNAMOS TÃO INTOLERANTES? VAGNER ESPEIORIN – vaespeio@ucs.br

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Em outubro de 2007, um norte-americano de 13 anos cometeu suicídio após sofrer, sistematicamente, agressões na escola que frequentava em Essex Junction, no estado de Vermont. Em 2013, na saída da aula, uma aluna de 12 anos foi agredida por cinco meninas enquanto era chamada de “gorda”. A cena, que aconteceu em Piracicaba, no interior paulista, ficou marcada na memória da adolescente, mas foi também armazenada em vídeo pelas próprias agressoras. Apesar das diferenças de tempo e espaço, ambos casos se enquadram no conceito de bullying. De origem inglesa, o termo deriva de ‘bully’, que tem em ‘valentão’ uma tradução próxima e designa uma prática perversa que encontra espaço no ambiente escolar, mas não exclusivamente nele. “O bullying tem a característica de ser consciente, sistemático e repetitivo”, explica a professora do curso de Psicologia da UCS Raquel Furtado Conte. A agressão pode se dar de forma física ou psicológica e não apresenta motivação aparente, mas gera impactos marcantes sobre o agredido – e até mesmo para o agressor. Como toda forma de violência, analisa a especialista, ele se projeta como

uma relação de poder. A diferença se estabelece nos personagens que a reproduzem. Eles não estão em hierarquias distintas. “Em geral, o bullying acontece entre pares de colegas”, afirma Raquel. O agressor projeta seu poder contra alguém e, não raro, lidera um determinado grupo em torno da ação. Se a lógica de poder não se estabelece pelos papéis de cada indivíduo, ela se dá no âmbito da personalidade dos envolvidos. E aí está o desequilíbrio de forças. “O autor costuma apresentar traços como expansividade, arrogância, prepotência, onipotência, agressividade. As vítimas, geralmente, são mais submissas, têm autoestima mais baixa e uma autoimagem negativa. Submetem-se muitas vezes esperando aprovação do grupo”, avalia a professora. Repetição e intencionalidade são aspectos indissociáveis do bullying, mas não únicos. Estudos acadêmicos apontam que a baixa autoestima da vítima contribui para uma compactuação velada com o agressor, revelando-se uma concordância entre a autoimagem de quem sofre a violência e o pensamento de quem a pratica. Essa relação inviabiliza uma reação da vítima. Nesse jogo cruel, porém, há mais personagens.

OS PRINCÍPIOS QUE MOTIVAM O BULLYING ESTÃO NO COTIDIANO SOCIAL. ELE É UMA MANIFESTAÇÃO INDIVIDUAL DE UM FENÔMENO COLETIVO

RAFAEL DOS SANTOS, antropólogo e professor

Foto/Claudia Velho 7


O PAPEL DO ESPECTADOR

ESTAMOS NUMA CULTURA DA IMPUNIDADE, DA VIOLÊNCIA, EM QUE O SUJEITO NÃO TOLERA AS DIFERENÇAS, A FRUSTRAÇÃO

RAQUEL CONTE, professora de Psicologia

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Viralizou pela Internet, em 2011, um vídeo em que um garoto australiano era hostilizado por colegas na escola. Com 16 anos, Casey Heynes não esboçava, inicialmente, reação diante de um rapaz que o provocava com ameaças e socos. Contrariando as expectativas, porém, o jovem revidou agredindo o autor das provocações diante de outros estudantes no pátio da escola. As imagens espalharam-se pelo mundo, foram tema de debates televisivos e fomentaram a discussão sobre o bullying. Chama a atenção, porém, que o grupo de espectadores visualizava a cena sem apartar o conflito, e muitas vezes estimulando a ação agressiva – à qual tem o público como parte essencial, já que ele alimenta a ‘valentia’ do autor. “Com o passar dos anos, temos perdido as referências e a ordem social. O ser humano se sente mais compelido a agir segundo seus próprios impulsos e estamos esquecendo a noção e a fronteira do certo e do errado; daquilo que é possível ou não. O sujeito tem fracassado em sua tarefa de adiar suas necessidades e emoções, de aprimorar suas táticas para lidar com elas”, considera a psicóloga. Nesse estado irracional, a multidão projeta um discurso violento em que a discriminação e o ataque ao diferente se tornam parte de um cotidiano social conflituoso. “O bullying está focado no indivíduo justamente porque os princípios que o motivam estão no cotidiano social. Ele é uma manifestação individual de um fenômeno coletivo”, diz o

antropólogo e professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da UCS, Rafael José dos Santos. No ambiente escolar, no seio da sociedade ou em espaços digitais – o cyberbulliyng é um exemplo de violência sistemática na Internet – as práticas de agressão se retroalimentam numa realidade cada vez mais caótica. Para Rafael, as redes sociais potencializam as formas de violência não por serem redes tecnológicas, mas por serem, antes de mais nada, sociais. Em sua amplitude e alcance, dão maior visibilidade às manifestações de violência. Apesar disso, elas também se constituem em espaços de combate às discriminações. Num jogo de conflitos gerais e consensos parciais que não permite enxergar com clareza as angústias e as necessidades do outro. A VIOLÊNCIA QUE SE PROLIFERA “Hoje, sem dúvida, enfrentamos a violência de todas as ordens na sociedade. Não só com o bullying, como um fenômeno da decadência da ordem e aumento do caos social. Estamos numa cultura da impunidade, numa cultura da violência, em que o sujeito não tolera as diferenças, a frustração”, analisa Raquel Conte. A proliferação de pesquisas em relação ao bullying tem ajudado a demonstrar o potencial de agressividade de um ser sobre o outro. Se na infância, as agressões repetidas e intencionais se dão no âmbito físico, na medida em que se avança em idade se modificam as formas de poder. Exemplo disso são as estratégias de exclusão dos adolescen-


tes, capazes de planejar consequências mais subjetivas. Do concreto ao abstrato, a violência identificada no bullying pode ser percebida em toda a sociedade, nas hostilizações às minorias ou a comportamentos que fogem da lógica padrão. Do preconceito à discriminação, a linha é muito tênue. “O preconceito é algo subjetivo, mas a partir do momento em que ele se materializa em ação, temos a discriminação. Esse processo está relacionado à incapacidade social de conviver com as diferenças, com o desconhecido, que pode dizer respeito a gênero, cor de pele, religiosidade, posição política, estilo de vida, enfim, tudo que escapa ao quadro de referências que uma pessoa tem e que lhe dá uma sensação de conforto. O diferente nos desacomoda”, define o professor Rafael dos Santos. É o que se percebe, por exemplo, na tensão oriunda do contexto político brasileiro. Da dimensão social os conflitos passaram a permear as relações pessoais, gerando estigmas em torno de preferências ideológicas. Apelidos pejorativos para definir posicionamentos e pessoas se tornaram comuns e fomentam uma inter-relação preconceituosa. Nas redes sociais, fóruns de comentários se transformam em ringues de discussão. Memes e notícias – forjadas, inclusive – camuflam intencionalidades violentas. Enquanto muitos entram no conflito, parcela significativa observa essa dinâmica caótica, mas com pouco a fazer para diminuir o atrito da rivalidade. “As posições antagônicas resultam de polarizações que, no limite, são os

extremos dos posicionamentos político-ideológicos das diferentes classes e frações de classes sociais. Entre os polos antagônicos há gradações, mas elas têm pouca visibilidade no cenário de embates”, alerta Rafael. CRIMINALIZAÇÃO E EDUCAÇÃO Fugir da lógica de espectador da violência para a de protagonista da diversidade, porém, exige uma mudança de mentalidade. O antropólogo elenca, ainda, esforços nos campos jurídico e educacional como possibilidades para um caminho de maior tolerância às diferenças. Na ordem jurídica, aponta Rafael, deve-se trabalhar na perspectiva da criminalização das ações de discriminação e, claro, de violência. O caráter educacional consiste em promover a discussão e o trabalho efetivos sobre questões de discriminação e intolerância nas salas de aula. Medidas para amenizar as formas de violência são indispensáveis para o convívio social e a saúde individual. No caso do bullying, a vítima pode ter uma baixa de rendimento no trabalho ou na escola, desmotivar-se a ir ao local onde sofre a violência e tender a se tornar agressor. O autor não passa imune, podendo se tornar mais agressivo e cometer atos mais delituosos. “Ele tem dificuldades em lidar com relacionamentos, tem problemas com poder e em relação ao respeito ao outro”, observa Raquel, deixando o entendimento de que violência só gera mais violência, independente da forma como se manifesta.

O PRECONCEITO É SUBJETIVO, AO SE MATERIALIZAR EM AÇÃO, TEMOS A DISCRIMINAÇÃO. O DIFERENTE NOS DESACOMODA

RAFAEL DOS SANTOS, antropólogo e professor

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CRISTINA BEATRIZ BOFF – cbboff@ucs.br Em 2009 e 2010, o mundo viveu uma pandemia de Gripe A, uma variação da gripe comum provocada pelo vírus Influenza conhecida também como gripe H1N1, gripe Influenza ou, popularmente, como gripe suína. Os primeiros casos entre humanos foram registrados nos Estados Unidos, em 2009, ano em que foram infectadas 1,5 milhão de pessoas em todo o mundo. No Brasil, houve 58 mil casos confirmados e mais de 2 mil mortes no período de dois anos. Nascia ali a necessidade de se fazer algo, e rápido, para conter a expansão da doença. Na região, o Hospital Geral (HG) de Caxias do Sul, que atende a 49 municípios abrangidos pela 5ª Coordenadoria Regional da Saúde do Estado, intensificou o treinamento de 100% de seus funcionários e dos acadêmicos dos cursos da área da Saúde da Universidade de Caxias do Sul que atuam no estabelecimento, para dar assistência à comunidade. Também foi utilizada uma unidade móvel para efetuar a triagem de pacientes, desafogando o Setor de Emergência, onde apenas casos clínicos graves continuaram sendo atendidos. REFERÊNCIA NACIONAL – Estas foram algumas das ações orientadas pela infectologista e professora de Doenças Infecciosas e Parasitárias da UCS, coordenadora do Controle de Infecção do HG, Lessandra Michelin, que tornaram o hospital um dos primeiros do Brasil a ser referência no atendimento à Gripe A. A partir dessa experiência, Lessandra foi chamada para auxiliar no controle da pandemia no Rio Grande do Sul e a atuar no Ministério da Saúde, segundo ela, pela forma de planejamento estratégico e didático no treinamento das pessoas. “O Hospital Geral foi um case de sucesso apresentado na Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e na Sociedade Europeia de Infectologia, em Viena, Áustria”, relata a especialista, que tem participado frequentemente de congressos internacionais. “Fui convidada a fazer parte da Sociedade Europeia de Infectologia Pediátrica, para integrar o grupo de estudos de antimicrobianos e vacinas. Em 2012, ganhei uma bolsa para fazer o curso de Vacinologia, oferecido pela Universidade de Genebra, na Suíça”, conta. 10

Coordenadora do Controle de Infecção do HG, Lessandra Michelin orienta acadêmicas da área da Saúde: e

MÉDICA SEM FRO

AÇÕES NO TRATO DA GRIPE ‘A’ NO HOSPITAL GER A DISSEMINAR MUNDIALMENTE CONHECIMENTO

AGRESSÃO AMBIENTAL AUMENTA Com pós-graduação em Auditoria em Saúde pela Universidade Gama Filho, do Rio de Janeiro, mestrado e doutorado em Biotecnologia/Microbiologia pela UCS, a infectologista Lessandra Michelin alerta sobre o crescente número de epidemias e surtos em todo o mundo nos últimos anos. “O desmatamento, a agressão ao meio ambiente e as mudanças de ecossistemas têm auxiliado na propagação de microorganismos pouco vistos anteriormente, como

ocorreu com o vírus Ebola. Além disso, a gl feito com que as doenças infectocontagios rapidamente, e, com a baixa adesão a camp vacinação, doenças controladas como a pó estão ressurgindo”, aponta. A especialista c o uso indiscriminado de antibióticos para o doenças humanas e animais, ou de pragas em auxiliado na seleção de superbactérias. “Ter


Claudia Velho

ATUAÇÃO INTERNACIONAL Lessandra passou a integrar o Grupo de Estudos em Vacinologia da Sociedade Europeia de Infectologia e tem dado aulas em várias universidades da Europa e em congressos de Infectologia e Vacinologia. “É gratificante poder levar o nome da UCS em apresentações em Londres, Madrid, Barcelona, Atenas, Milão, Roma, Berlim, Lübeck, Leipzig, Sitges, Genebra e Copenhague”, ressalta. Desde 2014 a professora também auxilia a Organização Mundial de Saúde em estratégias para controle de antimicrobianos e controle de infecção, incluindo o uso em agricultura e pecuária. No ano passado, ela presidiu o XIX Congresso Brasileiro de Infectologia, em Gramado, e os convites internacionais só aumentaram. “Em novembro fui apresentar a experiência de tratamento

de endocardite fúngica na Duke University, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos e, em abril deste ano, a experiência com vacinas contra meningite em Amsterdã, na Holanda, sendo convidada para escrever, junto com outros experts, o Guideline Europeu de Vacinas em Gestantes”, conta. Atualmente, Lessandra preside a Sociedade Riograndense de Infectologia e é membro de diversos comitês na área da infectologia. A experiência faz a porto -alegrense de 42 anos – há 15 residindo em Caxias do Sul – acreditar que o mundo não irá enfrentar algo semelhante à epidemia de 2009. “Hoje temos vacinas para bloqueio de transmissão em massa, recursos para diagnósticos e tratamentos à disposição. Podemos encarar a Influenza com outra atitude”, enfatiza.

experiência local tornou-se case em eventos de Medicina nos EUA e Europa.

ONTEIRAS

RAL LEVARAM PROFESSORA DA UCS O SOBRE CONTROLE DE EPIDEMIAS

A RISCO DE EPIDEMIAS

lobalização tem sas se disseminem panhas de ólio e o sarampo cita ainda que o controle de m plantas, tem remos poucos

recursos terapêuticos para tratar futuras infecções se a sociedade não mudar sua atitude”, ressalta. Há, contudo, como prevenir essas epidemias e surtos com ações simples, conforme aconselha a infectologista: “verificar se estamos com as vacinas em dia, evitar a automedicação e higienizar as mãos com frequência, evitando adquirir e disseminar doenças na comunidade”. Palavra de doutora!

MESTRADO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE Direcionado a graduados em Ciências da Saúde, Ciências Biológicas, Ciências Econômicas e Ciências Exatas, está em funcionamento, desde o início de 2016, o Mestrado Acadêmico em Ciências da Saúde da UCS. Na área das Ciências Biomédicas o programa é voltado ao estudo da fisiopatologia e patogenia das doenças e à investigação da exposição e da resposta molecular e celular às substâncias ativas, agressões, estímulos e biomateriais, tendo como linhas de pesquisa Farmacologia e Biomarcadores e Engenharia e Terapia Celular. Na área das Ciências Clínicas – centrada no ensino das bases conceituais dos diferentes tipos de estudos clínicos e epidemiológicos para testar, desenvolver ou aperfeiçoar métodos diagnósticos, procedimentos, instrumentos de medida, educação, informação e sistemas tutoriais inteligentes em saúde – as linhas são Investigação Clínica e Epidemiológica e Saúde Materno-Infantil. Mais informações podem ser obtidas no site www.ucs. br/site/pos-graduacao/formacao-stricto-sensu/cienciasda-saude ou por meio do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (54.3218.2122). 11


FOCO NOS DESAFIOS MARCELO DE JESUS DOS SANTOS, 20 ANOS, LEVA PARA O ATLETISMO OS APRENDIZADOS DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO, E DO ESPORTE RETIRA LIÇÕES APLICÁVEIS AO MUNDO CORPORATIVO ARIEL ROSSI GRIFFANTE - argriffante@ucs.br

A semana de Marcelo de Jesus dos Santos, 20 anos, acadêmico do curso de Administração da Universidade de Caxias do Sul, é similar à de inúmeros universitários, exigindo a conciliação dos estudos com o trabalho – no caso dele, manhãs e tardes são dedicadas à atividade profissional na RGE, e as noites às salas de aula. No entanto, entre estes compromissos, o jovem acrescentou uma intensa rotina de dez horas de treino de atletismo visando a competições, para as quais são reservados os domingos. A fórmula para dar conta disso tudo acabou por se revelar um incremento para os três cenários - trabalho, estudos e esporte -, tornando as pistas espaços de prática do conhecimento adquirido na formação superior, e delas retirando lições que ampliam a compreensão do mundo corporativo. Marcelo relaciona os temas da Administração e o cotidiano do atletismo procurando melhoria de performance. Os resultados têm sido uma compreensão mais abrangente das teorias acadêmicas e um desempenho expressivo nas corridas – até o momento, são 68 pódios em 80 provas na carreira. A importância da motivação, trabalho em equipe, planejamento estratégico, superação, liderança e autoconfiança, abordadas nas disciplinas de Gestão de Pessoas, Comportamento Organizacional e Gestão Estratégica, são exemplos concretos. “Os treinos mais longos, de 20km, duram uma hora e meia. Passei a usar esse tempo para pensar em coisas que tinham me chamado a atenção em aula, e ver como eles se relacionavam tanto com a realidade de uma empresa como com o atletismo”, relata. 12


MOTIVAÇÃO E TRABALHO EM EQUIPE Um dos insights mais significativos deu-se com a motivação, essencial para um atleta como para qualquer profissional. “Corrida e trabalho estão no mesmo patamar. Nos dois casos, sem motivação, o desempenho não será bom, nem o resultado”, aponta. A mesma analogia acontece com o trabalho em equipe. “No treino em grupo, por mais difícil que seja, se consegue melhores resultados do que quando sozinho. As pessoas que correm sabem que todos ali têm um mesmo objetivo e estão procurando se superar, por isso se ajudam”, conta. Essa comparação foi intensificada nas aulas que enfocam a importância da combinação entre diferentes perfis em uma equipe dentro de uma empresa, reforçando o ensinamento de que modelo de gestão, liderança e relações de grupo também fundamentam a motivação de cada integrante. “No atletismo ou numa empresa uma equipe focada e unida pode produzir um resultado excelente. Se for mediana, o resultado também será”, sintetiza Marcelo.

ESTRATÉGIA E MARKETING Aprendizados sobre estrutura e processos empresariais, perspectivas de mercado e aplicação de recursos - obtidos nas aulas de Gestão Estratégica - também auxiliaram Marcelo como atleta, uma vez que o universo das corridas exige planejamento e estratégias minuciosas. “Tudo depende de definir metas e traçar um plano para chegar lá”, pontua. Para este ano, por exemplo, o jovem recebeu do treinador o desafio de baixar em 55 segundos o tempo de prova de 3 km até dezembro. Com isso, ambos estabeleceram um conjunto de ações em treinamento, suplementação e motivação para balizar a busca do objetivo. Até mesmo as aulas de Marketing são transferidas para as pistas. Cuidar da imagem pessoal e saber como se apresentar ao mercado são definidos por Marcelo como métodos para usar o desempenho nas corridas a seu favor. A identificação com a área direcionou também os próximos passos da formação profissional. Uma vez graduado, Marcelo almeja um período de intercâmbio na Espanha e, no retorno, especializarse para atuar com Marketing Esportivo. “Amo correr, mas sempre pensando também em estudar”, sinaliza. 13


Fotos Ariel R. Griffante

70 KM POR SEMANA Nascido em Palmas, no Sul paranaense, Marcelo veio para Caxias há 11 anos, quando o pai conseguiu um emprego na cidade. Mora com a família – os pais e dois irmãos menores. Há quatro anos trabalha na RGE, onde iniciou como aprendiz e passou a assistente administrativo, mesmo período de tempo em que estuda Administração na UCS, onde se forma em um ano. O interesse pelas corridas surgiu cedo. Aos 12 anos, começou a participar de competições escolares. “Ao ver que conseguia chegar ao pódio competindo contra atletas da UCS, que sempre foi uma referência no atletismo, percebi que podia investir nisso”, recorda. Motivado pela possibilidade de superar metas e desafios, há dois anos investiu pessoalmente na contratação de um treinador – Daniel da Silva, que por cinco anos competiu representando a UCS – e de uma nutricionista. Com os bons resultados obtidos, conquistou patrocínios um ano depois. A rotina de treinos é intensa, ocupando seis dias

por semana. Começa com uma rodagem leve, às segundas. Terças e quintas são dedicadas aos treinos de ‘tiro’ (arrancadas e corridas de explosão, na pista do Estádio Municipal). Quartas e sextas são dias de circuitos de rua e em áreas verdes da cidade. O domingo, quando não é data de competição, serve para a prática do ‘longão’ de até 20km. Marcelo também faz reforço muscular em academia quatro vezes por semana. Folgas, apenas aos sábados. Independente de calor, chuva ou frio, o ritmo é mantido. Ao todo, são dez horas de treino e 70 km de corrida no período. As competições ocorrem de fevereiro a dezembro, em duas provas por mês. A conquista do vicecampeonato do Circuito Sesc de Corridas na distância de 3 km em 2015 indicou a possibilidade de avançar, em 2016, para as corridas de 5 e 10 km. Para o futuro, a meta é a profissionalização, qualificando-se para provas internacionais.

‘TUDO É APRENDIZADO’ Marcelo atribui à combinação família/trabalho/ curso superior/esporte a consolidação de valores que lhe conferem uma postura assertiva perante desafios, e que sustentam dois aprendizados que considera fundamentais: “Primeiro, ter o objetivo, ir em busca, arriscar. Segundo, nunca perder a motivação”. Contudo, como isso em si não garante as conquistas pretendidas, é necessário também saber lidar com as frustrações. “A corrida me ajudou a entender que às vezes se ganha, às vezes se perde, e que as coisas não são como a gente espera. Ao perder, procuro refletir sobre o desempenho e tirar o aprendizado, sabendo que sempre é possí14

vel melhorar”, descreve. As compreensões adquiridas no contexto esportivo se estendem para uma aplicação universal. “Às vezes, a pessoa pensa que as coisas têm que dar certo da maneira que ela quer, mas há diversas maneiras de algo acontecer. Pode não ser o momento daquilo. Nessas horas, é importante aceitar opiniões, não ficar retraído na própria forma de pensar”, avalia. Com a experiência de atleta, o jovem assegura que, mesmo na derrota, não há perdas: “Tudo que acontece de ruim, de algum modo, é aprendizado para melhorar. Pode-se tirar lições de tudo o que se faz”.


JOSMARI PAVAN jpavan@ucs.br

Claudia Velho

É PRECISO SABER

ENVELHECER

COM 25 ANOS DE ATUAÇÃO FOCADA NO BEM-ESTAR NA LONGEVIDADE, PROGRAMA UCS SÊNIOR CONTRIBUI COM O PREPARO SOCIAL PARA O AUMENTO DA POPULAÇÃO IDOSA

“Veja se saio bonita”, avisou, risonha, à fotógrafa da revistaUCS no momento da produção de imagens para a entrevista. A beleza de dona Gemma Mazzuco é impressa nos traços que denotam sua experiência de vida. Em julho, mesmo mês em que o programa UCS Sênior – Educação e Longevidade, completa bodas da prata, ela chegará aos 85 anos. Dona Gemma é uma veterana na iniciativa – é aluna desde que ficou viúva, há 23 anos. O UCS Sênior trouxe à aposentada a possibilidade de fazer algo que ama: cantar. Ela sempre cantou, desde pequenina nas missas do colégio de freiras que frequentava. “Soube por uma amiga da existência de um coral. A exigência para os interessados, além do interesse em música, era que tivessem mais de 60 anos”, explica. Em mais de duas décadas, a atuação no coral possibilitou que Dona Gemma viajasse bastante pela região, com apresentações em eventos de diversas cidades. “Houve uma época em que não parava em casa. Cantávamos onde nos chamassem”, recorda. Ela utiliza o transporte público para se deslocar até a UCS. Até hoje, mantém participação assídua nos ensaios, sempre às segundas-feiras. Há mais de 20 anos também é presença certa nas aulas de hidroginástica da Vila Poliesportiva, duas vezes por semana. Vitalidade e independência que impressionam, mas que nem por isso refletem em desatenção da família. “Tenho quatro filhos e sete netos e eles estão sempre por perto, me visitando e cuidando de mim”, relata. 15


UM EM CADA QUATRO BRASILEIROS FORMARÁ GRUPO DE 58,4 MILHÕES DE IDOSOS QUE O PAÍS TERÁ EM 2060

COMO PARTICIPAR

Claudia Velho

w O UCS Sênior é ofertado nos campi da UCS em Caxias do Sul, Canela e Vacaria w A etapa de rematrículas ocorre entre 4 a 8 de julho w Matrículas novas serão feitas de 11 a 15 de julho w Horário: das 8h às 18h w Local: Central de Atendimento - Galeria Universitária

Informações w Coordenador Delcio Antonio Agliardi – d.agliardi@terra.com.br w Deise Tisott – dtisot2 @ucs.br w Karina de Almeida Kalnin – kalmeida@ucs.br Telefones: 54.3218-2355 / 3218.2271

Dona Gemma Mazzuco no coral do programa: possibilidade de fazer o que ama deste a infância.

PRIORIDADE GLOBAL O perfil de Dona Gemma sintoniza com a realidade contemporânea. De fato, em outros tempos, o avanço da idade era tido, predominantemente, como fator de limitação da existência. Hoje, as mudanças dos perfis demográficos brasileiro e mundial mostram que é urgente rever o papel do idoso no meio social. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a população com mais de 60 anos vai chegar a 2 bilhões até 2050 em todo o mundo – e, por isso, alerta: envelhecer bem deve ser prioridade 16

global. No Brasil, essa parcela chegará a 58,4 milhões (26,7% do total) de pessoas até 2060. Neste período, a expectativa média de vida do brasileiro deve aumentar dos atuais 75 para 81 anos (dados do Censo 2013). CUIDADO HUMANO Ainda no início da década de 1990, percebendo a ascensão dessa nova realidade social, a UCS começou a instituir ações de estímulo ao envelhecimento ativo, ampliando sua vocação de desenvolver a cultura do cuidado humano.

A realização de pesquisas científicas na área e articulações com a sociedade civil foram fatores de influência. Inicialmente, surgiu a ARATI, Associação Regional de Apoio à Terceira Idade. Posteriormente, o programa estruturou-se como a Universidade da Terceira Idade (UNTI), passando a chamarse, em 2014, UCS Sênior – Educação e Longevidade. Em julho, a iniciativa completa 25 anos de existência, sendo disponibilizada, atualmente, nos campi de Caxias do Sul, Canela e Vacaria.

Site: www.ucs.br/site/ extensao/programaucs-senior

5,5 MIL ALUNOS EM 25 ANOS w O UCS Sênior tem, aproximadamente, 1.460 pessoas matriculadas no Campus-sede, em Caxias do Sul; 50 no Campus Universitário da Região das Hortênsias, em Canela; e outros 20 no Campus Universitário de Vacaria. w Em 25 anos de atividades somam-se cerca de 5,5 mil alunos matriculados. Somente no período de 2000 a 2016, passaram pelo programa 4.427 alunos.


RESSIGNIFICAÇÃO DA FORMAÇÃO HUMANA O Programa UCS Sênior adota a concepção da Pedagogia Social, com ênfase na socialização e aprendizagem social do indivíduo. Para isso, propõe atividades nas seguintes áreas: Estudos e Pesquisas; Formação de Recursos Humanos; Saúde, Movimento e Lazer; Atualização e Aquisição de Novos Conhecimentos; Arte e Cultura; Eventos; Serviços e Assessorias. O requisito para ingressar é ter mais de 50 anos. Não há limite de tempo para permanência. O professor Delcio Agliardi, coordenador do UCS Sênior, acredita que o maior mérito da iniciativa trata-se da hospitalidade e do acolhimento, na medida em que o en-

velhecimento é encarado na perspectiva da humanização e da construção de histórias de vida singulares. APRENDER A CONVIVER “Quando a sociedade compreende a importância de cuidar das crianças e dos velhos, ela se revela em evolução nos diferentes aspectos da vida contemporânea. Os pioneiros do programa souberam cuidar deste aspecto desde a gênese das primeiras ações voltadas ao envelhecer humano”, considera. Ainda segundo o coordenador, o UCS Sênior construiu um grande legado no âmbito do ‘aprender a conviver’, um dos pilares da educação para

o século XXI. “A partir do estímulo à convivência saudável, das relações entre alunos e do conhecimento, foi possível desenvolver formação continuada e ao longo da vida para um expressivo número de pessoas”, destaca. O perfil das pessoas que buscam o programa é heterogêneo – os participantes são homens e mulheres entre 50 e 95 anos de idade, de diferentes níveis de escolaridade e variadas condições econômicas e socioculturais. “Os alunos possuem em comum o desejo de adquirir novos conhecimentos, estabelecer novos projetos e, sobretudo, ressignificar a formação humana”, define Agliardi. Reprodução

DOCUMENTÁRIO NA UCS TV Uma das ações em comemoração aos 25 anos do UCS Sênior foi o lançamento, em junho, do documentário EnvelheSer, produzido pela UCS TV e exibido nacionalmente pelo Canal Futura. O trabalho aborda as etapas que envolvem o processo do envelhecimento humano e propõe questionamentos sobre a preparação para esse mo-

mento da vida. Idosos e especialistas na área falam sobre suas experiências, dificuldades, ganhos e perdas e sobre a constatação de que a sociedade brasileira que não pensa em seu próprio envelhecer. Os assuntos se desdobram em dez episódios de 13 minutos cada. O documentário estará disponível no site da UCS TV (www.ucstv.com.br).

CUIDAR DAS CRIANÇAS E VELHOS REVELA EVOLUÇÃO EM DIFERENTES ASPECTOS DA VIDA CONTEMPORÂNEA

DELCIO AGLIARDI, Coordenador do UCS Sênior

ESPECIALIZAÇÃO EM ENVELHECIMENTO E SAÚDE DO IDOSO Interessados em capacitar-se para atuar com o público da terceira idade têm a possibilidade, na Universidade de Caxias do Sul, de cursar a especialização em Envelhecimento e Saúde do Idoso, ofertado no Campus-sede. O curso, de 375 horas, tem como objetivo desenvolver habilidades e competências em consonância com a política de envelhecimento ativo proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O público-alvo são profissionais graduados em Medicina, Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição, Farmácia, Odontologia, Psicologia, Serviço Social, Filosofia, Ciências Sociais, Arquitetura, Turismo, Educação Física, Direito, Pedagogia e áreas afins. Mais informações podem ser obtidas com a Coordenadoria de PósGraduação Lato Sensu ou na Central de Atendimento da Galeria Universitária (e-mail: posgrad@ucs.br; telefones: 54.3218.2145 e 54.3218.2001). 17


Claudia Velho

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Só queria que o inverno / Não fosse tão sozinho E queria que todas as folhas / Logo fossem flores Colorissem cada passo / E enfeitassem o caminho Pedro Guerra, escritor 18

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ARTIGO Vagner Espeiorin

O MILAGRE DO DIÁLOGO O DIÁLOGO, JUNTO À SIMPLICIDADE E À HUMILDADE, É O MELHOR CAMINHO PARA COMBATER A INTOLERÂNCIA E TORNAR A ORGANIZAÇÃO MAIS EFICAZ Ao analisarmos a evolução da ciência e da tecnologia, ficamos maravilhados com tantas inovações e descobertas. No entanto, quando analisamos o homem, na sua inteireza, e olhamos para a sua alma, percebemos que ele não acompanhou o ritmo do desenvolvimento tecnológico. Especificamente, a tecnologia de informação e de comunicação evoluiu de maneira rápida e substancial, caminhando contrariamente às velhas formas de se informar, que se caraterizavam pelo seu caráter restrito e pela sua baixa velocidade de propagação. Neste cenário que, a cada dia se apresenta mais distante, sem dúvidas, tudo era mais estável, previsível e de fácil controle. Com a gradual aceleração da tecnologia da comunicação, mais pessoas passaram a acessar informações, numa velocidade imensa, sentindo-se, a partir de então, participantes das decisões de diferentes esferas. Porém, como produto de uma “Era da informação”, conquistamos um mundo mais instável, rápido e imprevisível. Sob intensas mudanças tecnológicas, hoje, relacionamo-nos em rede e vivemos uma transformação profunda que, além de contemplar novas formas de conhecimento, faz surgir sentimentos de intolerância, já que os ambientes de trabalho e fora dele estão cada

PROF. ROBERTO VITORIO BONIATTI Coordenador da Assessoria de Planejamento e Orçamento da Universidade de Caxias do Sul

vez mais mutáveis e velozes. Esse panorama singular que vem se colocando tem gerado desentendimento entre as gerações e provocado a quebra de paradigmas, de crenças e de valores da sociedade. Um fator inerente a esse desentendimento é a falta de diálogo. Este, no decorrer de toda essa “evolução”, tem se perdido, gerando grande incompreensão, sendo a sua recuperação ou manutenção um grande desafio para a convivência organizacional. Moldadas por um sistema individualista, as pessoas tentam impor a sua própria maneira de ser e de fazer, tornando-se intolerantes diante das diferenças que as cercam. Todavia, sendo a liberdade um dom, é preciso reconhecê-la, fazendo-se compreender que a vida é feita de escolhas. O ambiente de trabalho, local que concentra pessoas de variadas personalidades, abarca um tempo considerável do nosso cotidiano, e é nele que construímos grande parte dos nossos projetos de vida. Certamente, é o lugar onde mais se vive e se convive, tornando-se fundamental e determinante para a qualidade de vida das pessoas. As organizações, de maneira geral, gastam mais tempo atendendo aos fatores estruturais por, obviamente, serem mais visíveis, e seus resultados, aparentemente, mais imediatos. Con-

tudo, esses fatores não garantem, de fato, a sobrevivência de uma organização. Para comprovar isso, basta que olhemos para as estatísticas que nos mostram a mortalidade de empresas e suas causas. Por outro lado, as organizações, especialmente as que apresentam os melhores resultados, há tempos, deram-se conta da importância do investimento nas pessoas. Tal investimento, diferente do que se possa pensar, exige menos recursos financeiros. Mas, em contrapartida, exige tempo de cuidado com o próximo, solicita afeto, compreensão, visando à justiça, à honestidade e à integridade do outro. Quando as pessoas se sentem valorizadas e têm a organização dentro de si, ou seja, os seus valores, as boas práticas e as normas, não são necessários muitos controles, pois o comportamento delas será de comprometimento. Para tanto, faz-se imprescindível a promoção de capacitação continuada, por parte das lideranças, pautada pela construção de um diálogo atencioso, sendo que é um dos caminhos mais relevantes para o aperfeiçoamento permanente das pessoas. O diálogo, junto à simplicidade e à humildade, é o melhor caminho para combater a intolerância e tornar a organização mais eficaz. 19


Universidade de Caxias do Sul Caixa Postal 1313 95020-972 - Caxias do Sul - RS


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