revista UCS - JULHO

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revistaUCS Julho.2014 . Ano 2 . Nº 13

100 ANOS DA PRIMEIRA GRANDE GUERRA AVIÕES, TANQUES E GÁS CLORÍDRICO FORAM ALGUMAS DAS ARMAS USADAS NO CONFLITO QUE INICIOU EM JULHO DE 1914 E MUDOU O MUNDO

AMBIENTE PROJETO AJUDA PRESERVAR LAGOAS

SAÚDE FARMÁCIA ESCOLA ATENDE COMUNIDADE 1


A GUERRA QUE MUDOU O MUNDO, 100 ANOS DEPOIS 4

ESPAÇO DA UCS MANIPULA MEDICAMENTOS 14

REFLEXÕES SOBRE OS 50 ANOS DO GOLPE MILITAR 16

Divulgação

OSUCS TOCA MOZART, MAS TAMBÉM AC/DC 15

Fotos: Claudia Velho

SOPA QUENTE, MESA FARTA E TRAÇOS CULTURAIS 9

PRESERVAÇÃO DE LAGOAS BENEFICIARÁ COMUNIDADE LITORÂNEA 9

Universidade de Caxias do Sul Reitor: Evaldo Antonio Kuiava Vice-Reitor: Odacir Deonisio Graciolli Pró-Reitor Acadêmico: Marcelo Rossato Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: José Carlos Köche Pró-Reitor de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico: Odacir Deonisio Graciolli Chefe de Gabinete: Gelson Leonardo Rech Diretor Administrativo: Cesar Augusto Bernardi 2

ALUNOS E PROFESSORES DA UCS ENGAJADOS 19

Expediente: Assessoria de Comunicação da UCS/ Área de Mídias Digitais (Edição: Paula Sperb; Redação: Ana Carolina Vivan, Vagner Espeiorin, Wagner Júnior de Oliveira, Fotos: Claudia Velho) | Tiragem: 5.000 exemplares Contato: (54) 3218.2116, @ucs_oficial, www.facebook.com/ucsoficial Leia também no site www.ucs.br Foto de Capa: Batalha de Ypers, Frank Hurley


LEITURAS DE INVERNO

METSAVAHT E TSUI

As férias de Julho estão chegando e convidam para colocar a leitura em dia. Abaixo, obras publicadas pela EDUCS para esquentar o cérebro nos dias frios.

FOI MAL

Histórias de um bruxo velho - ensaios sobre Simões Lopes Neto R$ 28 João Claudio Arendt Biografia do célebre autor de Contos Gauchescos e Lendas do Sul a partir da recepção de seus livros.

Das ruas às urnas: partidos e eleições no Brasil contemporâneo R$ 30 Helcimara de Souza Telles e João Ignacio Lucas (org.) Coletânea para aguçar o senso crítico para as eleições de outubro.

Tropicália - gêneros, identidades, repertórios e linguagens R$ 38 Ana Mery Sehbe De Carli e Flávia Ramos (org.) O espírito de rebeldia do final dos anos 60 e 70 e suas diferentes influências.

O mistério do mal R$ 50 Everaldo Cescon Por que existe o mal? Pergunta difícil, reflexões instigantes de diversas áreas do conhecimento.

Na edição passada, na página 18, grafamos como Agave attenuata Salm-Dyck o nome da planta que fica na entrada do UCS Aquário. O correto é Agave attenuata Salm Dyck. O nome genérico e epíteto são em itálico ou sublinhado, seguido pelo nome da autoridade que descobriu a espécie.

“Moda e os paradigmas culturais contemporâneos” é o tema da palestra que o estilista brasileiro Oskar Metsavaht proprietário da Osklen - profere, no dia 31 de agosto, na abertura do 10º Colóquio de Moda, que a UCS sedia até o dia 3 de setembro, no Campus 8. Considerado o maior congresso científico de moda no Brasil, é um espaço de intercâmbio acadêmico entre estudantes, pesquisadores e professores de vários cursos de graduação e programas de pós-graduação. A palestra de encerramento fica por conta da professora Christine Tsui, da Faculdade de Ciências Sociais de Hong Kong. Ela discorre sobre “Moda, Cultura, Educação e Negócios”. Os interessados em participar podem se inscrever até o dia 20 de agosto em www.coloquiomoda.com.br.

Alunos de 24 escolas de Ensino Médio da região participaram do V Rally Científico “Despertar para a Ciência e Tecnologia”, promovido pela UCS, no final de maio. O coordenador da atividade, professor José Arthur Martins, avalia os grupos como competentes e maduros. “O resultado foi muito positivo. Eles se comportaram e se mostraram responsáveis”, comemora Martins. Ao lado, uma amostra das provas do Rally:

Fotos: Claudia Velho

INVENÇÕES NO RALLY CIENTÍFICO

THE ARCHITECTURA Um aqueduto é um canal ou galeria, subterrâneo ou à superfície, que tem como finalidade conduzir a água. No Rally, os participantes deveriam criar um projeto feito de jornal e fita crepe que transportasse água de uma extremidade à outra.

BARCO VIKING Os navios dos vikings viajavam do oriente ao ocidente. Os barcos podiam realizar manobras de ataque e fuga, além de atacar rápida e inesperadamente. No Rally, as equipes deveriam construir um barco com palitos de churrasco e barbante nas medidas determinadas.

CATAPULTA As catapultas são mecanismos de cerco que utilizam uma espécie de braço para lançar um objeto a uma grande distância. No Rally, os participantes precisavam construir um experimento que lançasse o objeto mais longe ganhava. 3


100 ANOS

APÓS O PRIMEIRO

GRANDE

CONFLITO EM 1914, A GUERRA COLOCOU FRENTE A FRENTE POTÊNCIAS ECONÔMICAS NO INÍCIO DO SÉCULO XX E MODIFICOU PARA SEMPRE OS ENFRENTAMENTOS BÉLICOS VAGNER ESPEIORIN | vaespeio@ucs.br

Apesar do nome, Gavrilo Princip não teve uma vida nobre. Pelo contrário. A infância pobre precedeu a adolescência de ativismo em uma facção terrorista da Sérvia conhecida como Mão Negra. Como uma ironia fonética, Princip tornou-se um personagem histórico por assassinar o príncipe do Império Austro-húngaro, em 28 de junho de 1914. O arquiduque Franz Ferdinand e sua esposa, a duquesa Sofia de Hohenberg, morreram atingidos pelos disparos enquanto andavam de carro aberto pelas ruas de Sarajevo, na Bósnia. Princip possivelmente não planejava que aqueles dois tiros resultariam em 4

uma disputa bélica sem precedentes até então. O assassinato foi o estopim para a Primeira Guerra Mundial, que completa em julho 100 anos. De 1914 a 1918, o confronto tomou proporções gigantescas e colocou em disputa os interesses das maiores potências europeias da época. A morte de Ferdinand, na prática, se transformou em uma grande desculpa dos países para guerrear e conquistar novos territórios. Julho foi o mês da crise. O Império Austro-húngaro decretou guerra à Sérvia exatamente trinta dias após o atentado contra o arquiduque. Depois disso, o que se viu foi um efeito dominó. No

dia 30 de julho, a Alemanha resolveu invadir a Bélgica para atacar a França e de lá partir para conquistar o território russo. Quando os alemães começaram a entrar em território belga acabaram mexendo com os interesses ingleses. O Reino Unido decretou guerra à Alemanha em 4 de agosto. “A guerra foi um enfrentamento bélico entre as potências industrializadas em busca de novos mercados. Praticamente todos os países foram direta ou indiretamente afetados pelo conflito”, explica o coordenador do Mestrado Profissional em História da UCS, professor Roberto Radünz.


Pegar em armas, seguir para o fronte de batalha e lidar com a morte de milhões de pessoas não passava pela cabeça de um cidadão europeu, no início do século XX. Por volta de 1900, Paris, por exemplo, era uma espécie de epicentro do mundo. Cafés, livrarias, óperas, alta costura movimentavam as elites do planeta em direção à cidade. Novas invenções, como telefone, automóvel e cinema, convergiam para que os europeus, e não somente os franceses, se sentissem modernos e civilizados. Essa modernidade toda exigia economias dinâmicas, capazes de vender para o maior número de pessoas e extrair grandes quantidades de matéria-prima. Acontece que longe desse “glamour”, as nações disputavam territórios na África e na Ásia. A Alemanha e a Itália, porém, se unificaram tarde e entraram no seleto grupo de países desenvolvidos muito depois de potências como Inglaterra e França. Resultado: passaram a cobiçar os territórios dos “irmãos” mais velhos. “A Grande Guerra foi fruto do desenvolvimento do capitalismo e da sua face imperialista. O capitalismo necessita de fontes de matéria-prima e de mercado consumidor. Não existe maneira mais fácil de garantir isso do que dominar outros países e explorá-los, forçando-os a comprar seus produtos”, explica a professora do curso de História da UCS, Eliane Cardoso. Se o assassinato de Ferdinand foi o estopim, a disputa por mercados foi a principal culpada por dar origem à Primeira Guerra Mundial. Depois disso, a Europa, antes conhecida por ser território atraente às elites, mudou seu status: passou a ser região de peregrinação de tropas militares. O conflito mostrou, porém, que se as invenções surgem para facilitar a vida, elas podem servir a interesses bélicos devastadores.

ENTRE A TECNOLOGIA E A LAMA A partir do segundo semestre de 1914, a música dos cabarés cedeu lugar ao som dos canhões. Os automóveis foram substituídos pelo transporte militar. A sensação de efervescência cultural foi consumida pelo sentimento que só uma guerra pode causar: uma espécie de depressão social.

Os conflitos ocorreram em duas frentes. No lado ocidental, forças alemãs avançavam sobre a Bélgica e enfrentavam a resistência da França. Do lado oriental, o Império Austro-húngaro tentava dominar a Sérvia e a Rússia. O continente tinha se transformado numa bomba relógio. Territorialmente pequena, mas com grande população, a Europa viu sua vida transformada em lama, literalmente. A Primeira Guerra Mundial foi um conflito nas trincheiras. A maior delas chegou a ultrapassar os 700 quilômetros e seguia da Suíça ao Canal da Mancha, nas proximidades do Oceano Atlântico. As fossas na terra tinham a altura de um homem. Serviam como uma espécie de proteção aos soldados, para evitar que fossem atingidos pelos disparos dos inimigos. Para Radünz, porém, as trincheiras evidenciavam o lado mais tenso do combate. Largamente utilizadas pelos franceses, essas escavações eram protegidas por sacos de areia e por arames farpados, para tentar manter a distância dos ataques externos. Com o uso da metralhadora, os soldados das trincheiras poderiam, além de se defender, atingir as forças adversárias. Aparentemente bem planejada, a tática passou a ser a vilã dos exércitos que a utilizavam. Com a modernização, a Primeira Guerra Mundial passou a contar com canhões mais eficientes em combate. A munição da artilharia pesada atingia as trincheiras dizimando os combatentes. Não raro, os projéteis vinham acompanhados de armas químicas, tática muito utilizada pelos alemães. O gás clorídrico matava em massa a população alojada nas escavações. Quando chovia, a terra se misturava à água gerando lama – muita lama. Ao cenário inóspito, se unia o cheiro de morte. Soldados em combate precisavam dividir espaços com os cadáveres de combatentes. As condições de guerra decretavam lutas mortíferas. Além disso, a necessidade de rastejar acabava cansando os próprios homens na zona de confronto. Se o terreno da Europa se transformou em lama, as nações em estado bélico acabaram se aproveitando de uma outra estratégia: o avião. “Sem dúvida, a introdução do avião

“A GUERRA FOI UM ENFRENTAMENTO BÉLICO ENTRE AS POTÊNCIAS INDUSTRIALIZADAS EM BUSCA DE NOVOS MERCADOS. PRATICAMENTE TODOS OS PAÍSES FORAM DIRETA OU INDIRETAMENTE AFETADOS PELO CONFLITO”, DIZ O COORDENADOR DO MESTRADO PROFISSIONAL EM HISTÓRIA DA UCS, PROFESSOR ROBERTO RADÜNZ

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NO FUNDO DA

LAMA

As escavações feitas pelos soldados podiam chegar a 2,5 metros de profundidade e alcançavam até 2 metros de largura. Eram nessas trincheiras que muitos dos combatentes se alimentavam e viviam. Funcionava como defesa do ataque adversário, mas podia ser bem perigoso. O ataque com bombas era desastroso para os entrincheirados. Ficava ainda pior com a chuva: a terra se transformava em lama. O espaço precisava ser compartilhado com os ratos e algumas fontes mencionam que nem todos os cadáveres podiam ser retirados do fosso. Soldados vivos precisavam dividir o local com os corpos dos colegas mortos.

BONITOS, MAS

PERIGOSOS Em janeiro de 1915, os céus de Londres foram invadidos por dirigíveis que bombardearam a capital inglesa e mostraram que todos – civis ou militares – podiam ser alvos. Criação do conde Ferdinand von Zeppelin – que inspiraria o nome da banda Led Zeppelin – o dirigível foi largamente usado no início do conflito. Apesar de grandes, somente depois de um tempo de guerra, os países desenvolveram munição capaz de alcançá-los no céu.

NA MIRA DO INIMIGO

O legado da Revolução Industrial – além das invenções, é claro – foi a divisão de trabalho. Durante as linhas de batalha, o canhão exigia uma sintonia entre os soldados. Carregar a munição, fechar o equipamento e incinerar o estopim eram ações que precisavam ser feitas quase com a marcação do tempo. O “Grande Bertha” foi o canhão mais potente da época. Sob o poder dos alemães, o equipamento de 70 toneladas era capaz de projetar munição de até 830 quilos. Pior para os franceses que viram os alemães usarem o aparelho para bombardear Paris. E os atiradores nem precisaram ficar perto. O “Grande Bertha” era capaz de atingir alvos a 120 quilômetros.

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MÁSCARAS

CONTRA O GÁS

Apesar de ser um símbolo de horror, a guerra foi responsável por vários avanços. O tanque de guerra foi um deles e o financiamento de sua criação parte de um político que anos depois controlaria a Inglaterra na Segunda Guerra Mundial: Winston Churchill. Os carros de combate costumavam aniquilar os adversários e vieram no final do conflito para mostrar que as batalhas nas trincheiras estavam obsoletas.

Gás de efeito lacrimogênio não chegava a ser novidade entre os europeus. Armas químicas já tinham sido utilizadas anteriormente, mas nunca o gás clorídrico. A primeira vez foi em 22 de abril de 1915 contra as tropas francesas, na batalha de Ypres, na Bélgica. Os alemães usaram 150 toneladas do produto contra as trincheiras inimigas. O efeito foi devastador: duas divisões de combatentes foram mortas. Foi tão assustador que os alemães sequer avançaram sobre o espaço adversário. Depois disso, os franceses desenvolveram máscaras para não morrerem em confronto com a poeira venenosa. Os alemães voltaram a usar armas químicas, mas ficaram apenas no gás de mostarda – que também matava, mas tinha um efeito menos devastador. Anos depois, os alemães utilizariam novamente os químicos nos campos de concentração nazistas.


DESENVOLVENDO A

INDÚSTRIA Com a Europa em guerra, o mundo ficou órfão de produtos industrializados. O Brasil se virou como pode e até ensaiou a criação de algumas empresas de tecelagem. O objetivo era amenizar a carência de tecidos, já que a importação dos produtos tinha ficado comprometida.

O Tratado de Versalhes foi um acordo entre os países participantes da guerra e que fez com que a Alemanha acabasse bancando os prejuízos pelo conflito, entregasse parte de seus territórios e ainda indenizasse as “vencedoras”. Essa “humilhação” foi um dos motivadores do revanchismo alemão na Segunda Guerra Mundial e ajudou a impulsionar o nazismo no país.

Grande sensação da Primeira Guerra Mundial, os aviões foram inicialmente utilizados para observar os territórios inimigos. Não demorou muito para se tornarem aparelhos de combate, lançando bombas para destruir as cidades. À época, os aviões ainda eram pouco desenvolvidos e a guerra serviu como um grande laboratório para aperfeiçoar a invenção. Os pilotos se transformaram em ído-

los das nações. Esse louvor aumentava na medida em que eles abatiam os aviões inimigos. O mais popular foi o alemão Manfred von Richthofen que derrubou 80 aeronaves. Experimentou o próprio veneno ao ser capturado em abril de 1918. Barão Vermelho era um dos apelidos do piloto. Não por acaso, foi o nome dado à banda brasileira que tinha Frejat como vocalista.

Em setembro de 1914, as tropas alemãs batiam à porta de Paris. A apenas 60 quilômetros da capital, o exército clamou por reforços e os combatentes pediram um táxi, literalmente. No final da noite, centenas de soldados usaram os carros de aluguel de Paris para seguir em direção ao fronte. Deu certo. Com o reforço, os franceses puderam controlar os inimigos e impediram os alemães de prosseguirem para conquistar a cidade.

No início da guerra, o exército francês estava despreparado para o combate. A começar pela roupa (sim, os franceses não estão livres de errar o look). Os soldados vestiam calças vermelhas e ficavam extremamente vulneráveis aos olhares do inimigo. Com o tempo, as vestes foram substituídas ou adotaram a cor da lama nas trincheiras: marrom.

Ilustração: Aramis Forma e Conteúdo

No oceano, a luta em torno do poderio do Mar do Norte foi feita entre os britânicos e os alemães e ficou conhecida como batalha da Jutlância. Começou no dia 31 de maio de 1916 e se estendeu até o dia seguinte. Dizem que foi a maior Batalha Naval que se tem notícia. As perdas também não foram pequenas. A esquadra inglesa perdeu 14 navios enquanto a alemã 11. Apesar das baixas mais acentuadas, o britânicos se sagraram vencedores, porque mantiveram o controle as águas.

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de guerra foi a grande novidade”, afirma Eliane. Inicialmente, o transporte aéreo era utilizado para observar o inimigo. Ao lado do dirigível, era muito útil para saber detalhes do território adversário. Com o tempo, eles ganharam características mais mortais. Foram adaptados para os combates e passaram a ser utilizados para bombardear cidades. Londres foi uma das mais atingidas. Em terra, artilharia pesada, como canhões e armas químicas, dizimava soldados. Nos céus, os aviões e dirigíveis mostravam uma faceta devastadora. No mar, a tecnologia de guerra também avançava. Os navios que foram responsáveis por batalhas memoráveis na história bélica pareciam dar pouca resistência aos modernos submarinos. Se no lado dos avanços da indústria armamentista, a Primeira Grande Guerra mostrou que a capacidade tecnológica do homem poderia ser devastadora. Ela alertou à humanidade sobre os riscos do poder. O confronto não se conteve apenas ao campo de batalha. “A Primeira Guerra Mundial trouxe como componente novo o envolvimento das pessoas que não eram combatentes e soldados. O conflito foi travado também na retaguarda com bombardeios generalizados de cidades”, explica Radünz.

BRASIL NÃO VAI, MAS PARTICIPA Além do aspecto militar, os embates movimentaram estruturas econômicas e políticas. No Brasil, também foram sentidos os reflexos do conflito. Com os olhos voltados para a Europa, todo o planeta sofria com a situação bélica do continente. A economia mundial também sentiu os estilhaços. O café, à época, era o principal produto das exportações brasileiras. Por não ser uma especiaria de primeira necessidade, a queda na comercialização foi intensamente sentida. “O Brasil teve dificuldades de exportar café para a Europa e em contrapartida comprar manufaturas do Velho Mundo”, contextualiza Radünz. Na tentativa de manter uma boa relação internacional, a neutralidade brasileira havia sido decretada ainda em agosto de 1914. Nos últimos anos da 8

guerra, porém, o país largou o silêncio e se colocou contrário à Tríplice Aliança (Alemanha, Itália e o Império Austro-húngaro). Em 5 de abril de 1917, o navio Paraná – que era um dos maiores da Marinha do Brasil – foi bombardeado por um submarino alemão próximo ao Canal da Mancha. Três brasileiros morreram. “O ataque às embarcações brasileiras na Europa gerou um clamor da opinião pública nacional para que o Brasil reagisse e quebrasse sua neutralidade”, destaca Eliane. Seis dias após ter a embarcação alvejada, o Brasil cortou relações diplomáticas com a Alemanha e abriu os portos para as nações da Tríplice Entente (França, Estados Unidos e Reino Unido). “O Brasil enviou na parte final da guerra em torno de dois mil profissionais entre médicos e enfermeiros”, estima Radünz. Mas não parou por aí, coube ao Brasil proteger e dar assistência na região oceânica do Atlântico Sul.

QUATRO ANOS DE HORROR Com a entrada dos Estados Unidos no confronto em 1917, os franceses e ingleses ganharam fôlego e conseguiram derrotar as forças alemãs. Apesar disso, não se pode dizer que eles ganharam. Não. Todos perderam. No encerrar da guerra, em 11 de novembro de 1918, a Europa estava destruída e pelo menos dez milhões de pessoas perderam a vida vítimas dos combates. O número de mortes chegou a 65 milhões se contabilizadas as baixas causadas pela gripe espanhola, doença que se disseminou e atingiu também os campos de concentração de soldados. Em 1919, a Alemanha teve que assinar o Tratado de Versalhes, assumiu uma dívida monstruosa e perdeu territórios. Os Estados Unidos se transformariam numa potência mundial. O mundo tinha levado uma lição. Não foi suficiente. Para Eric Hobsbawm, um dos maiores historiadores do século XX, o confronto de 1914 era apenas a primeira etapa de um conflito que só acabaria em 1945, com o encerramento da Segunda Guerra Mundial.

“O ATAQUE ÀS EMBARCAÇÕES BRASILEIRAS NA EUROPA GEROU UM CLAMOR DA OPINIÃO PÚBLICA NACIONAL PARA QUE O BRASIL REAGISSE E QUEBRASSE SUA NEUTRALIDADE”, DESTACA ELIANE.


AGNOLINI PARA TODOS OS GOSTOS

TRADIÇÃO CULINÁRIA TRAZIDA DA ITÁLIA PELOS IMIGRANTES PERMANECE NA CULTURA DA REGIÃO

WAGNER JÚNIOR DE OLIVIERA | wagner.oliveira@ucs.br

Claudia Velho

Com o frio intenso que predomina na Serra Gaúcha nesta época do ano, a mesa farta é o tempero principal dos encontros familiares. O cardápio popular nos dias frios é típico: sopa de agnolini, macarrão ao molho de frango, polenta brustolada e carne assada. Dessas opções, o agnolini é normalmente o primeiro prato a ser consumido. Diferentemente de como era feito quando os imigrantes italianos chegaram ao Nordeste gaúcho, a massa do agnolini já não é mais feita à mão. Hoje, as máquinas realizam a mistura do ovo e da farinha de trigo, dois ingredientes básicos que resultarão em um produto de qualidade. “Tem que desmanchar a farinha só no ovo. Também coloco um fio de azeite para a mistura”, explica Ramonita Menegotto, de 53 anos, que não usa água na receita. Ramonita é proprietária de uma fábrica de biscoitos e massas no Distrito de Vila Oliva. Há sete anos, ela produz semanalmente mais de 100kg do alimento, num processo que envolve cerca de 20 pessoas, entre família e funcionários contratados para fechar cada “chapeuzinho”. São 50 dúzias de ovos só para a massa

do agnolini e mais 20 dúzias para o recheio. Ramonita aprendeu a receita com a sua mãe. “Quando criança, eu e meus dois irmãos sentávamos à mesa, na sexta ou no sábado, para fechar a massa com o recheio. Essa era a preparação para o almoço de domingo ou para alguma festa da família.” Segundo a mestre em Turismo pela UCS, Franciele Bandeira, adaptações e mudanças na receita ocorreram com o tempo. Para o trabalho “Patrimônio imaterial e turismo: a cultura gastronômica do agnolini”, Franciele utilizou o método de pesquisa proposto pelo IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para investigar o agnolini como patrimônio imaterial. Segundo Franciele, “o prato era uma sopa religiosa, a qual os italianos a saboreavam em momentos especiais como Páscoa e Natal - esse foi um ponto frisado pelos entrevistados -, e hoje tornou-se uma sopa normal, que saboreamos conforme nossa vontade”. A pesquisa de Franciele reitera o pensamento do antropólogo Roberto Da Matta. Para o estudioso brasileiro, a comida é o alimento transformado pela cultura.

Transformação que ocorre na região de colonização intaliana. É fato, o sabor é inigualável, mas o nome é dúvida: agnolini ou capelletti? Segundo Franciele, não existe diferença. Ela explica que as duas nomenclaturas são utilizadas pelos descendentes de imigrantes italianos vindos, especificamente de Bolonha, onde é chamada de tortelloni. O nome também tem relação com a variação do formato do corte da massa. O professor da Escola de Gastronomia UCS-ICIF, o chef italiano Franco Gioelli, conta que a junção da pequena quantidade de água ou azeite é normal na Itália. “(A adição) não é vista como uma maneira de poupar, mas de dar leveza e elasticidade à massa. Para um paladar comum, não é perceptível”, explica. Segundo a professora do curso de Tecnologia em Gastronomia, da UCS, Sarah de Almeida, o ovo é o ingrediente responsável pela umidade que o amido e o glúten da farinha necessitam para se desenvolver. “Além disso, na etapa do amassamento, as proteínas presentes no ovo coagulam e auxiliam na formação da estrutura da massa”, detalha. 9


Lagoa do Peixoto, em Os贸rio 10


LAGOAS DE COSTA A COSTA DO SUL AO NORTE DO ESTADO, PROJETO DA UCS ENTRA NA TERCEIRA FASE PARA BENEFICIAR 41 MIL MORADORES DO LITORAL

“A Terra é azul”, definiu Yuri Gagarin, o primeiro homem no espaço que completou uma órbita terrestre, em 1961. A Terra é o “Planeta Água”, cantou Guilherme Arantes, em canção finalista do Festival MPB Shell, em 1981. Alfonso Cuarón, diretor do filme de ficção científica “Gravidade”, em 2013, evidenciou na sua produção imagens que demonstrassem a Terra azul na imensidão do cosmos. Azul é como retratamos a cor da água, que, no Planeta Terra, está distribuída em diferentes reservatórios: 97,25% nos oceanos, 2,1% na forma de calotas polares, 0,61% compõe as águas subterrâneas, 0,001% está na atmosfera. O restante está distribuído nas águas superficiais, isto é, os rios, os lagos e as lagoas. E são as lagoas o objeto de estudo de uma pesquisa desenvolvida pela UCS. Denominada “Lagoas Costeiras – LaCos”, o projeto é realizado no Litoral do Rio Grande do Sul, desde 2007, com apoio da Petrobras. A primeira edição foi realizada no Litoral Sul (em Mostardas, Tavares, São José do Norte e Santa Vitória do Palmar); e a segunda fase, no Litoral Médio (em Cidreira, Balneário Pinhal e Palmares do Sul). Nas duas primeiras fases do projeto LaCos, foram estudadas 32 lagoas. Agora, o ciclo desenvolvido por pesquisadores da Serra irá fechar com o LaCos 3, em Osório, com o estudo de 10 lagoas.

CRISTINA BEATRIZ BOFF | cbboff@ucs.br Fotos: CLAUDIA VELHO 11


As ações do LaCos 3 buscam diagnosticar a situação dos recursos hídricos daquela microrregião. Segundo o coordenador da pesquisa, professor Alois Eduard Schäfer, “esse material irá servir de base para a criação e socialização de ferramentas voltadas para promover a sensibilização e valorização dos ecossistemas costeiros, disseminando o conhecimento sobre suas características e fragilidades. Os estudos incluem a caracterização ecológica de lagoas e de seu uso, a qualidade da água subterrânea e de poços domiciliares, o mapeamento do uso e ocupação do solo e a caracterização do uso turístico real e potencial”. Além do professor Schäfer, LaCos 3 conta com a coordenação da professora Rosane Lanzer, do Centro de Ciências Agrárias e Biológicas da UCS e com uma equipe de dez pessoas, entre professores, técnicos e estudantes de graduação e de pós-graduação. A terceira etapa do LaCos será desenvolvida com os recursos aportados pela Petrobras. São cerca de R$ 2 milhões que viabilizarão, inclusive, os produtos finais do projeto: um Atlas Socioambiental; um caderno de Atividades ambientais; materiais didáticos como pôsteres, cartilhas e material audiovisual de cunho didático sobre os ecossistemas do Litoral Norte para serem utilizados nas salas de aula e nos meios de comunicação do município.

COMUNIDADE LITORÂNEA Alunos de três escolas municipais de Ensino Fundamental em

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Osório – Osvaldo Amaral, José Paulo da Silva e Osmany Martins Véras – participam desta edição do projeto. No município, o LaCos é realizado em parceria com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí, do COREDE Litoral Norte e da prefeitura de Osório. Durante dois anos, as atividades beneficiarão 4,1 mil habitantes e indiretamente os 41 mil moradores da região. O objetivo, segundo o professor Schäfer, “é criar e socializar conhecimentos socioambientais para a gestão sustentável dos recursos hídricos de Osório”. Das 23 lagoas da área, 10 serão estudadas. A conscientização para preservação se dará pelo programa de educação ambiental. Quatrocentos professores receberão formação para multiplicar o conhecimento junto a seus alunos, e esses às suas famílias. O Projeto LaCos 3 também irá diagnosticar a água subterrânea de poços artesianos, irá caracterizar o uso real e o potencial turístico das lagoas costeiras, além de elaborar e divulgar as bases para a gestão dos recursos hídricos. Para o gestor de projetos da Petrobras, Marcos Vinícius Almeida, que acompanha o Projeto desde a sua primeira fase, os resultados obtidos na pesquisa em relação à educação de base e educação ambiental levaram à renovação do patrocínio. “Agora fechamos um ciclo de lagoas no litoral do Rio Grande do Sul e o importante é o envolvimento da academia com a comunidade.” Ele lembrou que os resultados desta parceria fez com que o Projeto LaCos II vencesse, em 2012, o prêmio ANA – Agência Nacional das Águas, na categoria Ensino.


“OS ESTUDOS INCLUEM A CARACTERIZAÇÃO ECOLÓGICA DE LAGOAS E DE SEU USO E A CARACTERIZAÇÃO DO USO TURÍSTICO REAL E POTENCIAL”, EXPLICA SCHÄFER, PROFESSOR DA UCS

Do Morro da Borússia é possível visualizar algumas das lagoas do projeto

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UMA FARMÁCIA QUE CURA, MAS TAMBÉM ENSINA

MANIPULAÇÃO DE REMÉDIOS, FORMULAÇÃO DE HOMEOPÁTICOS E COMERCIALIZAÇÃO DE INDUSTRIALIZADOS SÃO ALGUNS DOS SERVIÇOS À DISPOSIÇÃO DA COMUNIDADE VAGNER ESPEIORIN | vaespeio@ucs.br Claudia Velho

A aparência lembra uma farmácia comum, daquelas que existem aos montes no centro da cidade. Mas não é apenas isso. Localizada no bloco S, na Cidade Universitária, a Farmácia Escola vai além da comercialização de medicamentos a qualquer um que necessite, não apenas à comunidade acadêmica. Atrás das gôndolas e das paredes, o espaço de 300m² abriga laboratórios responsáveis por produzir remédios e cosméticos manipulados. A infraestrutura, que completa 10 anos em novembro, tem a missão de auxiliar os alunos durante a realização dos estágios curriculares e de outras ações de ensino. “Aqui, adquiri experiência na manipulação de medicamentos”, afirma a estudante do curso de Farmácia Fernanda Grandi, de 29 anos. Em estágio curricular, Fernanda iniciou as atividades em outubro do ano passado. Gostou e permanece até hoje. No final do ano, deve concluir o curso e além da teoria levará 14

para o mercado os conhecimentos práticos. Apesar das ações de ensino, a Farmácia Escola tem ainda outros objetivos, como o de desenvolver parcerias com instituições públicas no cuidado à saúde. É assim com o Hospital Geral, por exemplo. “Temos nossa própria formulação e fornecemos alguns medicamentos para o Hospital Geral, principalmente, soluções orais para o setor neonatal”, explica Camila Romana Dalpiccoli, que é a farmacêutica responsável pela unidade. Cabe à Camila auxiliar os alunos que passam pela Farmácia Escola. E com ela, os jovens aprendem que todo cuidado é precioso na hora de dar vida a um produto. A começar pela entrada. Há uma preparação para quem pretende seguir pelos corredores que levam aos laboratórios de manipulação. Touca, avental, calça, máscara e propé (tecido que envolve os calçados) são alguns dos aparatos exigidos para a entrada.

O local segue uma legislação rigorosa estabelecida por órgãos reguladores, além de se manter fiel às Boas Práticas de Manipulação em Farmácias. A cautela se estende além dos procedimentos. Os produtos utilizados para a criação de medicação passam por exames de controle de qualidade, em que são avaliados as propriedades dos princípios ativos e dos demais compostos. “Tratamos de medicação. Todo cuidado é necessário”, afirma Camila. “A farmácia manipula medicamentos, cria homeopáticos e ainda comercializa industrializados”, ressalta o coordenador do curso de Farmácia, professor Diego Gnatta. Ao lado das atividades de ensino e das parcerias públicas, a Farmácia Escola também presta serviços externos à comunidade, mas o público universitário é o maior beneficiado. Alunos, docentes e funcionários ganham descontos na compra de medicamentos industrializados e até mesmo nos manipulados.


DA BOSSA NOVA AO ROCK BEM BRASILEIRO

nia número 40, de Mozart. A segunda parte foi um pouco mais descontraída, ao som da gaita de Renato Borghetti. A mistura da música erudita com o ritmo gaúcho tinha como objetivo principal formar um público fiel para a Osucs. Deu certo.

EM MAIS DE UMA DÉCADA DE HISTÓRIA, ORQUESTRA DA UCS AMPLIA PÚBLICO COM REPERTÓRIO DIVERSIFICADO

Tropicália foi o tema da primeira edição do Concerto da Primavera, em 2007. A proposta surgiu no Centro de Artes e Arquitetura (Campus 8), junto com a segunda edição do projeto Brasil Pop – a primeira foi em 2004, com o tema Chico Buarque. Depois de pesquisa na área, mais de 80 músicas foram selecionadas. A versão final do repertório foi baseada na questão histórica e o espetáculo tentou privilegiar o maior número possível de artistas.

DIA DE ROCK, BEBÊ Instrumentos de cordas, madeiras, metais e percussão embalam as apresentações da Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul (Osucs). Atualmente com 40 músicos efetivos, a Osucs carrega uma bagagem de mais de 800 espetáculos. E a especialidade do grupo não é apenas música clássica. Da bossa nova ao rock, da música tradicionalista aos clássicos do cinema, a Orquestra adapta-se para formar um público fiel. “Um dos maiores públicos é do espetáculo Rock in Concert. A aceitação do repertório é grande. Também pensamos em músicas novas para atualizar os repertórios, como nos temas de filmes”, explica Moacir Lazzari, coordenador do setor de Desenvolvimento Cultural da UCS. Confira algumas curiosidades das apresentações da Orquestra:

VIOLINO E BOMBACHA

UCS Teatro, dia 22 de novembro de 2001. Ocorria a primeira apresentação da Orquestra. Em um primeiro momento, o público ouviu a Sinfo-

Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Nova Prata, Paraí, São Sebastião do Caí, Vacaria e Veranópolis já sediaram o espetáculo Rock in Concert, parceria da Orquestra com a banda HardRockers. Clássicos da história do rock nacional e internacional, como AC/DC, Metallica, Guns n’ Roses, Aerosmith, Legião Urbana e Skank, embalaram mais de 25 mil pessoas em 17 apresentações. Atrair o público apaixonado pelo som da guitarra para a linguagem clássica da orquestra é um dos maiores desafios do espetáculo. Para escolher o repertório, é preciso pensar na qualidade da música e se ela é adequada para a orquestra.

MORCEGO, ARANHA E CRIANÇAS Os super-heróis entraram em ação na Quinta Sinfônica de outubro de 2004. Em comemoração ao Dia das

Crianças, naquela noite, os pequenos espectadores viram o Batman sobrevoar os músicos e o Homem-Aranha escalar uma parede do UCS Teatro. O tema da apresentação era os clássicos desenhos animados. E, é claro, que os heróis das telas do cinema não poderiam ficar de fora. Esta não foi a primeira vez que a Orquestra apresentou temas de filmes. A apresentação mais recente foi em outubro de 2013, no 7º Concerto da Primavera. Superman, Jurassic Park, Indiana Jones, O Gladiador, Star Wars e O Senhor dos Anéis foram alguns dos filmes lembrados.

DANÇA E FIGURINO

Os quatro elementos (fogo, ar, água e terra) foram representados no espetáculo Quadressencias, apresentado em junho, em parceria com a Cia. Municipal de Dança. Mais de 2 mil pessoas assistiram à peça em quatro dias de exibição. A construção do espetáculo durou cerca de 10 meses e a apresentação envolveu mais de 100 pessoas – entre produção, bailarinos e músicos. Para ilustrar os quatro elementos, mais de 30 diferentes figurinos foram produzidos pelos alunos do curso de Design de Moda. Os músicos, por sua vez, foram discretos e usaram roupas pretas.

LEÕES E CULTURA

O Lions Clube Caxias do Sul Educação e Cultura (LionsEduC) surgiu em 2010 para dar suporte a atividades do setor cultural. Ações da Orquestra Sinfônica da UCS, como os Concertos ao Entardecer, emergiram da iniciativa do Lions. As arrecadações de livros realizadas durante alguns espetáculos também estão vinculadas ao grupo, que promove o Encontro dos Contos. A atividade é feita em escolas municipais de Educação Infantil. Além da entrega de livros doados, a ação também promove contação de histórias e distribuição de brinquedos.

ANA CAROLINA VIVAN, especial | acmvivan@ucs.br 15


Março de 1964 se tornou o destino final de um caminho que começou a ser trilhado ainda em 1889, com a Proclamação da República. Em entrevista, a professora de História do Brasil na UCS, Eliana Gasparini Xerri, afirma que o desejo de tomar o poder pelos militares já havia despontado durante o governo de Getúlio Vargas e que esse objetivo só se concretizou com a deposição de João Goulart, o Jango. Depois de uma sequência de governos democráticos, o país passava a viver uma ditadura que, no período mais duro, chegou a ser chamado de “Anos de Chumbo”.

“SE A DITADURA DUROU 21 ANOS, FOI PORQUE TEVE O APOIO DA POPULAÇÃO “

Golpe Militar ou Golpe Civil-Militar: qual o correto? Quando se fala em Golpe Civil-Militar dá uma conotação. Se falar Golpe Militar traz outra. Como historiadora, eu prefiro dar caminhos para que os alunos leiam e optem pela denominação que será dada. Alguém que foi favorável aos 21 anos de Ditadura vai chamar de Revolução, “a gloriosa Revolução de 1964”. Para essas pessoas, é gloriosa e vitoriosa porque evitou o comunismo no Brasil. Eles defendem que pairava uma ameaça comunista no país e que era necessário evitar que isso se proliferasse na sociedade brasileira. Para outros, que viveram as amarguras do perigo e que chegaram a ser torturadas, elas vão chamar de Golpe.

ao modelo de Cuba. É importante frisar que o presidente João Goulart (Jango), que foi deposto, era um estancieiro, um latifundiário. Estava num partido trabalhista, mas dizer que ele era um comunista é um pouco de exagero.

E havia uma ameça comunista no Brasil de 1964? Havia partidos comunistas e pessoas que simpatizavam com a ideologia. Mas não tinha ameaça de uma Revolução Comunista ao modelo da China,

Então, por que os militares acabaram dando o Golpe? Se buscarmos mais de 30 anos antes, em 1930, quando Getúlio Vargas chega ao poder, já havia o interesse muito forte de setores militares de as-

CINCO DÉCADAS DEPOIS, O BRASIL RECORDA UM DOS MOMENTOS MAIS TENSOS DE SUA HISTÓRIA: A TOMADA DO PODER PELOS MILITARES

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VAGNER ESPEIORIN | vaespeio@ucs.br

sumirem a presidência. E isso vai remeter à proclamação que, em 1889, deu poder a um grupo de militares. Logo na terceira gestão republicana, porém, esse grupo é substituído por latifundiários. Entre 1910 a 1930, vamos ter uma série de revoltas, inclusive patrocinadas por membros das Forças Armadas, e que pregavam que era necessário a República voltar aos militares para ser ética e para acabar com a corrupção. Há referências históricas que afirmam que Getúlio Vargas acabou afastando essa possibilidade. Mas o próprio Vargas não tinha um pé no militarismo? Vargas estudou na escola militar, mas era um latifundiário que se formou em Direito. Ele tinha uma visão de mundo diferenciada numa época em que poucos eram alfabetizados.

E quando os membros das Forças Armadas passaram a querer voltar ao poder? Entre 1946 a 1964, há a primeira experiência de eleições no Brasil. E vamos ter uma sequência de presidentes com Eurico Gaspar Dutra, o retorno de Getúlio Vargas, Café Filho, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros. Todos eles escolhidos de forma democrática. Em 1961, Jânio Quadros, mesmo tendo ficado apenas sete meses como presidente, desenvolveu uma política antagônica. Ele acabou tomando medidas moralizantes, como o de proibir as corridas de cavalo em dias de semana e o biquíni de duas peças. Em nível político, ele tomou medidas con-


traditórias. Homenageou Che Guevara, convidou o líder revolucionário cubano para vir ao Brasil e o condecorou com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Só que para chegar ao poder, Jânio foi apoiado pela direita. Por que o Jânio renuncia? Ele deu dez razões em sua biografia e algumas bem esdrúxulas, como por exemplo, a de que ele não gostava da comida do Palácio do Planalto. Na verdade, ele teve uma carreira política muito rápida e assumiu posições contraditórias. Ele disse anos depois que o objetivo principal não era renunciar, mas ameaçar uma renúncia para que a população pedisse que ele permanecesse. Com as medidas antipopulares e com a condecoração do Che, ele tinha perdido o apoio do povo e da UDN, que era o partido conservador de sustentação. Jânio estava sem base e ninguém pediu para ele ficar. O João Goulart, o Jango, era seu vice-presidente. Como um estancieiro, trazia a memória do Getúlio Vargas, de quem tinha sido ministro do Trabalho. Ele assume a presidência, mas com poderes limitados. De 1961 a 1963, há o parlamentarismo. Quem governa é o parlamento sob as ordens do militares. Em setembro de 1963, ocorre um plebiscito e a população acaba optando pelo presidencialismo. Mas como era possível os militares atuarem no Conselho Parlamentar se os deputados foram eleitos pelo voto popular? Os militares não eram parlamentares, mas agiam junto à Câmara. Na época, o plebiscito foi tão marcante que nas cédulas as pessoas, além de marcarem a opção presidencialismo, escreviam “com Jango”. Isso deu um poder muito grande ao estancieiro. Em 1963, Jango assume e chama muitos dos intelectuais da época para compor seu governo. Esse grupo de pessoas elabora um plano de reforma de bases, que é divulgado à população em 13 de março de 1964, num comício na Central do Brasil. Era um plano audacioso para a época. Previa a reforma cambial, a reforma administrativa, reforma urbana e a mais contundente delas: a reforma agrária. As terras que seriam utilizadas deveriam ter mais de 180 hectares, improdutivas, e que poderiam ser de particulares, da Igreja e das Forças Armadas.

Por que um estancieiro como Jango acabou propondo uma reforma agrária tão forte? Na prática, foi o conjunto de intelectuais que propôs. Mas uma reforma agrária séria era um desejo antigo da população. Jango tinha um visão mais social. Ele fez o anúncio num comício que durou horas e para cerca de 200 mil pessoas. Há interpretações de que ele foi ingênuo. Outros afirmaram que ele foi contestador e até inconsequente, mesmo sabendo de toda a vigilância sobre o seu governo e da tentativa dos militares em retornar ao poder.

“AS PESSOAS NÃO SE ARTICULARAM DE IMEDIATO. HOJE, SE TEM NOTÍCIAS DE MAIS DE CINQUENTA GRUPOS DE RESISTÊNCIA. MAS VEIO DEPOIS. AINDA NOS FALTAM ELEMENTOS QUE POSSIBILITEM COMPREENDER POR QUE NÃO HOUVE RESISTÊNCIA”

Mas o Jango se tivesse utilizado a base militar que ele tinha, poderia ter evitado? Depende. Ele afirmou que não resistiu para evitar o derramamento de sangue. Tem algo que ainda precisa ser investigado, que é porque a resistência interna na sociedade brasileira não ocorreu de imediato. Quando acontece o golpe no Chile, o presidente Salvador Allende cai durante o embate e a população resiste imediatamente ao general Augusto Pinochet. No Brasil, há uma demora para isso acontecer. Foram semanas. As pessoas não se articularam de imediato. Hoje, se tem notícias de mais de cinquenta grupos de resistência. Mas veio depois. Ainda nos faltam elementos que possibilitem compreender por que não houve resistência. Por muito anos, a gente falou em golpe militar. Atualmente, o mais correto é dizer o Golpe Civil-Militar, porque foi apoiado

por setores da população. Se durou 21 anos, não foi apenas pela força das armas, pela tortura, pela violação dos direitos humanos, foi por que teve importância para a sociedade civil, seja por ignorância ou por acreditar mesmo que aquele governo era bom. As pessoas tinham noção que estavam passando por uma ditadura? Talvez, muitos não soubessem e outros não quisessem saber. Mas os que sabiam tinham medo do que poderia acontecer. Acredito que foi por falta de comunicação, pela surpresa dos acontecimentos e por medo também. É importante lembrar que de 1968 a 1978, a gente teve o AI5 (Ato Institucional nº 5), que é o período duro da ditadura. Durante a vigência dele, as pessoas até sabiam o que estava acontecendo, mas não se manifestavam, porque se você estivesse em três pessoas na rua já era considerado um grupo suspeito. Esse medo fez com que a população se calasse. De outro lado, a gente tem uma produção de mídia em que o país parecia maravilhoso, com novela, futebol, Copa de 1970. Do ponto de vista do poder, como foram os governos militares? O governo Castelo Branco, que é o primeiro deles, foi arrumando o caminho com os Atos Institucionais. Inicialmente, se acreditava que três ou quatro atos seriam suficientes. Não foram. Quando Artur Costa e Silva o substitui, a resistência é grande e é preciso censurar. Ele extingue o direito de defesa aos presos políticos e acaba com o Habeas Corpus. O Emílio Garrastazu Médici instaura o período mais linha dura. E só não foi mais difícil porque, em 1973, tem a crise do petróleo e os militares perdem o apoio econômico dos Estados Unidos. Depois, com o Ernesto Geisel, há muita pressão interna e externa motivada pelos exilados políticos que denunciam junto à imprensa internacional o que está acontecendo no Brasil. Há aí o relaxamento da Ditadura. Não foi menos cruel. Ele apenas começou a relaxar. O Geisel proíbe a tortura, mas é desobedecido pelos militares. Esse momento de descumprimento de ordens mostra bem a desconexão e as rachaduras dos militares. Vai se encaminhar para o Governo Figueredo que vai dar início ao período de distensão: lenta, gradual e segura. 17


PAISAGEM EXÓTICA

É comum passarmos pelas proximidades da Biblioteca Central, na Cidade Universitária, e nos admirarmos com a quantidade de árvores ao seu redor. Ali a espécie predominante é a Castanea sativa, popularmente conhecida como castanheira, árvore nativa da região do Cáucaso, da Península Balcânica e da Ásia Menor. Ao longo do tempo, essa castanheira foi amplamente cultivada na região do Mediterrâneo, da Europa, das Ilhas Canárias, da Ilha da Madeira e dos Açores. Aqui no Brasil é uma planta exótica, introduzida há mais de 100 anos para cultivo. Nesta época do ano, as paisagens destacam-se com a grande quantidade de folhas caídas no chão, aspecto natural, já que a árvore floresce na primavera, dá frutos no verão e perde as folhas no inverno. =De acordo com o biológo Felipe Gonzatti, curador do Herbário UCS, a castanheira pode viver muito tempo e alcançar até 30m de altura. Fotos: Claudia Velho

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ARTIGO

FOCO NA QUALIDADE E EXCELÊNCIA científicos. Só mudamos o mundo para melhor com pessoas qualificadas. A Pró-Reitoria Acadêmica articulada com a Reitoria e as demais Pró-Reitorias está se estruturando dentro de uma metodologia de gestão altamente profissional, competitiva e integrada. Para poder assessorar as unidades frente aos desafios, a PRAC organizou-se em quatro coordenadorias: Extensão, com o professor Marcelo Faoro; Programação, com o professor Roberto Mandelli; Lato Sensu, com a professora Juliana Luchese; e a Pedagógica, com a professora Flávia Costa. Cada coordenadoria tem uma série de objetivos a serem realizados, mas todos em função de um objetivo maior: “Qualidade e Excelência”. Como Pró-reitor acadêmico, aceito o desafio de termos projetos pedagógicos e curriculares contemporâneos para o ensino superior em sintonia com o mercado e, portanto, resolutivos, mas que ao mesmo tempo não descuidam da formação humana. Aliás, insistimos nesse ponto em meio a um mar de pragmatismo e imediatismo. Aceito também o desafio de, junto com os professores e coordenadores de cursos, focarmos na aprendizagem dos alunos e criarmos processos inovadores para tal. Nesse sentido, entendo que a sala de aula é onde ocorre o “momento da verdade” e é aí que devemos investir, qualificar, acompanhar com indicadores e com metodologia. Saibamos nos reinventar na sala de aula! Temos todas as condições para continuarmos sendo uma universidade de referência.

SAIBAMOS NOS REINVENTAR NA SALA DE AULA! TEMOS TODAS AS CONDIÇÕES PARA CONTINUARMOS SENDO UMA UNIVERSIDADE DE REFERÊNCIA.

Claudia Velho

A Universidade de Caxias do Sul está próxima de comemorar meio século de existência. Os desafios propostos pela instituição mudam constantemente, acompanhando as atualizações que ocorrem no país e no mundo. Neste contexto, a Pró-Reitoria Acadêmica (PRAC) está se estruturando para poder atender às demandas atuais e para os próximos 50 anos da UCS. Não se discute a importância da Universidade na região de atuação, mas discute-se, sim, como a Universidade vai auxiliar e influenciar o desempenho regional nos próximos anos. Com certeza, esse processo de planejamento é fundamental para uma organização articulada entre a comunidade, meio político, meio acadêmico e o meio empresarial. Uma região que cresce constantemente exige uma mão de obra qualificada, com acesso à cultura e incorporação tecnológica na vida diária. Como a UCS pode promover novas metodologias de ensino que possibilitem formar o profissional do futuro? Talvez este seja o maior desafio no atual momento. Repensar a Universidade para os próximos anos. Isso só é possível através de um grande projeto, onde o aluno deve compreender que tem papel fundamental neste processo, e que o professor deve inovar. É um momento em que a sociedade deve ser chamada para discutir que tipo de cidadãos quer no mundo. A Universidade não prepara apenas profissionais, a Universidade tem por missão formar uma pessoa com princípios culturais, humanos, técnicos e

Professor

Marcelo Rossato

Pró-Reitor Acadêmico

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Universidade de Caxias do Sul Caixa Postal 1313 95020-972 - Caxias do Sul - RS

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