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TEMPOS DE

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

INOVAÇÃO STARTUPS TRANSFORMAM JOVENS EM PROTAGONISTAS DO EMPREENDEDORISMO

Setembro e Outubro/2015 . Ano 3 . Nº 18

RUMO DA EXCELÊNCIA RANKING NACIONAL CONFIRMA UCS ENTRE MELHORES UNIVERSIDADES DO PAÍS

NUTRIÇÃO SAUDÁVEL ORGÂNICOS GANHAM ESPAÇO NA REEDUCAÇÃO ALIMENTAR


Fotos Claudia Velho

STARTUPS: CULTURA DIGITAL PROJETA JOVENS AO PROTAGONISMO EMPREENDEDOR

5A9 REEDUCAÇÃO ALIMENTAR: A SAÚDE COMEÇA PELO PRATO

10 E 11

REDE DE OLHARES, DA UCSTV, INTEGRA

PROGRAMAÇÃO NACIONAL DO CANAL FUTURA

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LEONARDO BOFF: FUTURO ESTÁ NA ECOLOGIA INTEGRAL

Aldo Toniazzo e Ary Trentin/ECIRS/IMHC

16 E 17

ESCOLHA PROFISSIONAL: FASE DE CONHECER A SI E AO MUNDO

12 E 13

ENCONTRO DEJOVENS PESQUISADORES

ITALIANIDADE: A CONSTRUÇÃO DE UM MITO DE IDENTIDADE

14 E 15

Universidade de Caxias do Sul Reitor: Evaldo Antonio Kuiava Vice-Reitor: Odacir Deonisio Graciolli Pró-Reitor Acadêmico: Marcelo Rossato Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: José Carlos Köche Pró-Reitor de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico: Odacir Deonisio Graciolli Chefe de Gabinete: Gelson Leonardo Rech Diretor Administrativo e Financeiro: Cesar Augusto Bernardi

facebook.com.br/ucsoficial 2

twitter.com/ucs_oficial

REÚNE 336 TRABALHOS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

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Produção: Assessoria de Comunicação da UCS/ Setor de Imprensa e Mídias Digitais Edição: Ariel Rossi Griffante Redação e revisão: Ariel Rossi Griffante, Cristina Beatriz Boff, Franciele Lorenzett, Josmari Pavan e Vagner Espeiorin Supervisão: Dimas Augusto Felippi Foto de capa: Claudia Velho Tiragem: 6.000 exemplares Contato: 54.3218.2116 imprensa@ucs.br Versão digital: www.ucs.br/site/revista-ucs/

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ENTRE AS MELHORES DO BRASIL UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL MANTEVE SEGUNDO LUGAR NACIONAL EM INOVAÇÃO E SUBIU EM TODAS AS DEMAIS POSIÇÕES NA MAIS CONCEITUADA CLASSIFICAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR DO PAÍS ARIEL ROSSI GRIFFANTE - argriffante@ucs.br A 2ª melhor instituição de Educação Superior do Brasil em Inovação e a 7ª em Pesquisa entre as universidades comunitárias e privadas. No mesmo segmento, a 2ª melhor do RS e a 5ª do Brasil. Se contabilizadas também as universidades públicas, as classificações destacadas se mantêm: 5ª posição estadual e a 40ª nacional entre 192 avaliadas. As posições, obtidas no Ranking Universitário Folha (RUF) 2015, o mais conceituado levantamento sobre o ensino superior do país, divulgado em 14 de setembro, confirmam a Universidade de Caxias do Sul (UCS) como uma das mais qualificadas universidades brasileiras. A análise, elaborada pelo jornal Folha de S. Paulo, pesquisa anualmente instituições públicas, privadas e comunitárias a partir de cinco critérios: Ensino, Pesquisa, Mercado, Inovação e Internacionalização. À exceção da manutenção do 2º lugar nacional em Inovação, a UCS subiu em todas as demais classificações do ranking. “Esses resultados coroam as ações da reitoria, professores, alunos e funcionários em prol das diretrizes institucionais de excelência, inovação, desenvolvimento, inserção social e sustentabilidade, além

Claudia Velho

A UCS no Ranking Universitário Folha

2

ª

melhor do Brasil em Inovação

7 ª 2 ª 5 e

ª

em Pesquisa

melhor do RS

ESSES RESULTADOS COROAM AS DIRETRIZES DE EXCELÊNCIA, INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO EVALDO ANTONIO KUIAVA, Reitor de reforçar nossa responsabilidade em alcançar ainda mais qualificação”, avalia o reitor Evaldo Antonio Kuiava. A UCS é a única instituição da região a oferecer cursos nas nove áreas do conhecimento reconhecidas pelo Ministério da

Educação (MEC), em 84 graduações com 97 habilitações distribuídas em nove unidades (em Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha, Canela, Guaporé, Nova Prata, São Sebastião do Caí, Vacaria e Veranópolis), atendendo 70 municípios.

e

do Brasil

entre as universidades comunitárias e privadas

5 ª melhor do RS e 40ª do Brasil

entre 192 universidades, incluindo as públicas Os dados completos estão disponíveis no link www.ruf.folha.uol.com.br/2015/ 3


Fotos Claudia Velho

REDE DE OLHARES LEVA

A SERRA À TV NACIONAL As cores da Serra estão na tela do Brasil. O

Rede de Olhares, programa-âncora da UCSTV, in-

tegra, desde 2 de setembro, a programação nacional do Canal Futura. Com duração de 30 minutos, o Rede de Olhares – Janela Futura é exibido todas as quartas, às 23h30, com reprises em três horários alternativos na semana e sinal acessível a 94 milhões de telespectadores. Com a inédita migração de um programa regional para um canal nacional, a emissora educativa da UCS passa a ter a audiência potencial de 46 milhões de pessoas que regularmente assistem ao Futura, sendo 2 milhões de educadores, conforme pesquisa Datafolha. “O Rede de Olhares em edição nacional mostra o êxito de uma proposta inovadora, que surgiu para apresentar a diversidade e promover a inclusão em seus aspectos mais amplos, com uma criação coletiva e comunitária”, destaca o diretor-geral do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel), responsável pela UCSTV, Jacob Hoffmann. Para o responsável pelas Relações Universitárias do Canal Futura, Acácio Jacinto, a parceria qualifica a proposta da emissora, que mantém vínculo com 45 instituições de ensino do Brasil e do exterior. “Pela excelência na educação, a UCS é muito representativa para a região, que agora vamos mostrar para todo o Brasil. A proposta do programa é maravilhosa e contagia a nossa rede de universidades a contribuir com esse grande mosaico cultural que surge através da TV”, comemora.

Edição comemorativa: quatro anos combinando diversidade e coletividade.

PROGRAMA-CAMALEÃO Desde sua origem, em outubro de 2011, o Rede de Olhares se propõe a ser uma produção aberta à diversidade de visões sobre os temas que debate. Nesse tempo, teve mais de 500 edições inéditas e levou 15 mil participantes ao estúdio da UCSTV, entre convidados e plateias. O camaleão, símbolo do programa, traduz também a multiplicidade da equipe que compõe o Rede (que se reveza desde a produção até a apresentação) e a própria filosofia de trabalho – de um processo criativo surgido das diferentes percepções da realidade de cada integrante, em um exercício de jornalismo coletivo. A exibição em âmbito nacional, novidade nos 18 anos de existência da UCSTV, faz parte de um projeto de reorientação de toda a programação do canal regional.

PROGRAME-SE REDE DE OLHARES – JANELA FUTURA w Onde: Canal Futura (30min) w Quando: inéditos às quartas (23h30) e reprises aos domingos (18h30); segundas (meia-noite) e quintas (3h30)

REDE DE OLHARES DIÁRIO w Onde: UCSTV (60min) w Quando: inéditos, de segunda a sexta, às 18h30min. Reprises às 22h30min e 11h30min.

JOVENS PESQUISADORES APRESENTA 336 TRABALHOS CIENTÍFICOS Pesquisa e Inovação como Fatores de Competitividade, na área das Ciências Exatas; Ações da UCS quanto à Sustentabilidade Ambiental de Caxias do Sul e Região, no campo das Ciências da Vida; e Contextos Urbanos na Contemporaneidade, nas Ciên-

cias Humanas, foram as temáticas desenvolvidas na XXIII edição do Encontro de Jovens Pesquisadores e na V Mostra Acadêmica de Inovação e Tecnologia, promovidos pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) de 15 a 17 de setembro. Os eventos reuniram 336 trabalhos resultantes de atividades 4

de iniciação científica (123 em Exatas, 113 em Ciências da Vida e 100 em Humanas) realizados por acadêmicos da UCS e de outras instituições de Educação Superior e por estudantes do Ensino Médio. As pesquisas destacadas

em cada área, pela UCS, Simecs (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul) e Simplás (Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho) receberam premiação.

CORREÇÃO - O curso de Direito do Campus Universitário de Nova Prata também conta com o Serviço de Assistência Jurídica (SAJU), pelo qual alunos estagiários e professores atendem gratuitamente à população de baixa renda dos sete municípios que integram a Comarca de Nova Prata. A informação não constou na matéria ‘Formação Humanizada’ (pg 11) da edição 17 da Revista UCS. O SAJU é disponibilizado ainda nos demais campi (Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha, Guaporé, Vacaria, São Sebastião do Caí e Canela) da universidade.


START PROFISSIONAL RESULTANTES DA REVOLUÇÃO CULTURAL DA ERA DIGITAL, STARTUPS RESSIGNIFICAM CONCEITOS, ALTERAM DINÂMICA E TRANSFORMAM JOVENS EM PROTAGONISTAS DO EMPREENDEDORISMO ARIEL ROSSI GRIFFANTE - argriffante@ucs.br Arquivo pessoal/Divulgação

Ezequiel Vedana da Rosa, Ariane Pelicioli e Bruno Rafael de Souza, criadores da Piipee: cinco anos e meio de pesquisa, testes, desenvolvimento e negociações de investimento até a prontidão para lançar-se ao mercado em escala industrial. 5


Claudia Velho

Ezequiel estava dormindo. Despertou, sentou-se na cama, e percebeu uma pergunta em mente: por que se consome tanta água potável no vaso sanitário? Chegou a formulá-la ao pai, que jogava videogame no quarto – e apenas anuiu brevemente sem desprender-se do entretenimento. Era março de 2010 e o então estudante de Comércio Internacional de imediato passou a pensar em uma solução química – em ambos sentidos – para a economia de pelo menos 80% da água (o correspondente ao descarte da urina) utilizada nas descargas de banheiros Brasil afora. Cinco anos depois, a inquietação pessoal que gerou propósito social está prestes a se consolidar como empreendimento profissional. A pretensão de criar uma solução para um problema real e relevante; desenvolvida a partir de uma tecnologia

inovadora e com alto grau de incerteza sobre a receptividade do mercado; a possibilidade de reprodução do modelo em qualquer lugar sem grandes customizações (repetibilidade); e a perspectiva de, uma vez consolidado o produto, obter crescimento exponencial com manutenção de baixo custo (escalabilidade), acabariam por dar à iniciativa do bentogonçalvense Ezequiel Vedana da Rosa, 27 anos, a caracterização de uma startup (veja quadro abaixo). O termo surgiu nos Estados Unidos no final dos anos 1990, com a expansão os negócios ‘pontocom’ no Vale do Silício, Califórnia, e entrou no Brasil na virada do século. Embora empregado desde o surgimento dos empreendimentos com base tecnológica para definir o ‘dar início’ àqueles desencadeados com pouco capital e muita inventividade, o conceito

ganhou força com a indústria da informática – sendo exemplo mais emblemático a Apple, surgida em 1976. Consolidouse como modelo de negócio, contudo, com a massificação da Internet. Por aqui, o formato startup intensificou-se nos últimos cinco anos, alavancado por jovens como Ezequiel, sua esposa, Ariane Pelicioli, 24, e o amigo Bruno Rafael de Souza, 29, (à época acadêmicos iniciantes de Psicologia e de Publicidade e Propaganda, respectivamente), a quem convocou para a empreitada que resultaria na criação do Piipee – produto composto por um dispositivo de acionamento e uma solução química bactericida e biodegradável, capaz de atuar nas características físico-químicas da urina, alterando sua coloração e eliminando o odor, dispensando, assim, o uso da descarga sanitária (leia mais na página 9).

Características das Startups w INOVAÇÃO: é a introdução, com êxito – representado pela viabilidade comercial –, no mercado, de novos (ou com características diferentes dos já existentes) produtos, serviços, processos, métodos e sistemas. O segredo é se colocar no lugar do consumidor e buscar oferecer uma saída simples e de impacto na rotina das pessoas, para um problema real e relevante. w BASE TECNOLÓGICA: os projetos, de qualquer porte ou setor, devem ter na inovação tecnológica os fundamentos de sua estratégia competitiva, propondo novos ou melhorados 6

produtos ou processos. O termo produto se aplica a bens e serviços, podendo ser softwares, aplicativos, hardwares ou outro tipo de equipamento, método ou procedimento. w REPETIBILIDADE: ser repetível implica a reprodução do modelo produtivo em qualquer lugar, em escala potencialmente ilimitada, entregando o produto sem muitas customizações ou adaptações para cada cliente. Pode ocorrer tanto com a venda de uma mesma unidade várias vezes (caso de um software) ou mantendo o produto disponível independentemente da demanda.

w ESCALABILIDADE: trata do potencial do empreendimento de crescer rapidamente, com ampliação exponencial da receita e baixa elevação de custo, sem que isso influencie no modelo de negócio. Para alguns teóricos, quando se torna escalável, a startup deixa de existir, consolidando-se como empresa lucrativa. w ALTO RISCO: o propósito inovador traz consigo um cenário de incerteza – não se pode prever a reação do mercado ao produto ou serviço, havendo maior risco de rejeição ou de o projeto não se provar sustentável.


LIÇÕES INOVADORAS

Claudia Velho

Embora, como evidencia a Piipee, startups não signifiquem, necessariamente, desenvolvimento de produtos, serviços, processos, métodos ou sistemas ligados ao ambiente digital, o conceito se consagra no universo dos softwares. A razão é simples: eles são mais repetíveis e escaláveis (características fundamentais do modelo) do que outras soluções. Nesse contexto, amparado no acesso cada vez mais universalizado à interconectividade – atualmente são 81,5 milhões os usuários com acesso à Internet por smartphone no Brasil – o grande filão são os aplicativos. É o caso do PéBaixo, que mostra informações sobre ofertas de calçados em lojas próximas de onde o consumidor pesquisa, criado pelo acadêmico de Engenharia de Controle e Automação Walter Sengik Cruz, 24 anos. Desenvolvido na disciplina de Empreendedorismo da UCS, no primeiro semestre de 2014, o trabalho tornou-se, desde então, mais do que negócio, condição para valiosas lições profissionais a seu idealizador. “Uma startup precisa estar constantemente se remodelando, conferindo se o mercado está preparado para receber novo produto; se a solução oferecida é madura o suficiente; e se o usuário estará

interessado naquela solução”, ensina. Segundo ele, o aprendizado veio logo nas primeiras explorações dos potenciais do negócio. O retorno colhido trouxe muito mais reconsiderações do que aprovações à ideia inicial (um software que mostrava produtos em geral das lojas de determinado entorno), obrigando a uma nova formatação. Na linguagem das startups, ocorreu uma ‘’pivotagem’ – redirecionamento de estratégia quando a experimentada não dá resultado. “Nesse teste de validação da hipótese vi que não tinha jeito. Seria impossível manter um banco de imagens de todos os produtos, o que se propunha a ser um diferencial”, conta Walter, explicando a decisão de deter-se aos calçados. “A melhor forma de conhecer a viabilidade é ir pra rua, contatar potenciais clientes e usuários”, destaca. Ele valoriza, ainda, a troca de informações também entre empreendedores como uma necessidade que se impõe – e se opõe – a um dos maiores dogmas do meio corporativo: “É preciso esquecer o medo de falar achando que vão roubar a ideia. Uma startup necessita de uma rede de contatos muito forte. Críticas geram muita construção para o negócio”, enfatiza.

ACREDITAR QUE BASTA UMA IDEIA E TRABALHAR NA GARAGEM PARA FICAR MILIONÁRIO É DOCE ILUSÃO. DEDICAÇÃO É O QUE VAI FAZER A DIFERENÇA ENTRE UM EMPREENDEDOR E ALGUÉM APENAS IDEALISTA WALTER SENGIK CRUZ, desenvolvedor do aplicativo PéBaixo

Walter Sengik Cruz, acadêmico de Engenharia de Controle e Automação: remodelação constante, rede de contatos e muita relação com clientes e usuários.

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FRACASSO PRA QUE TE QUERO Da relação com a crítica e a contrariedade, aliás, emerge do meio das startups um dos aspectos mais transformadores trazidos pela cultura digital: a ressignificação do conceito fracasso. “A frustração é característica desse ambiente, e a resiliência uma condição necessária. É comum a ideia ser rejeitada, adaptada e aperfeiçoada. O aparente fracasso dá experiência para se constituir algo mais sólido”, esclarece o doutor em Administração e mestre em Engenharia de Produção Enor Tonolli, professor do Programa de Empreendedorismo da UCS. “Nos Estados Unidos é de 100 vezes a média de participações em pitch-days (eventos de apresentação de projetos no tempo de um a três minutos) até uma startup conquistar um investidor”, ilustra.

Esse movimento traz embutida uma mudança de abrangência sociocultural. “No Brasil o fracasso tem uma conotação social terrível. Para evitá-lo não se ousa, não se inova. Somos vistos como criativos, mas o país é um dos menos inovadores do mundo”, aponta Tonolli. “Nos Estados Unidos fracasso é currículo; é como o empreendedor aprende o que precisa para consolidar uma ideia”, completa. Desse modo, ao salientar que empreender está muito mais relacionado a comportamento – dependendo de autoconfiança, autonomia e criatividade – do que conhecimento técnico, o professor o que as startups se estabelecem como espaços de competência, conhecimento e foco. Aluno que levou a teoria à prática e nela reuniu experiência, o criador do PéBaixo,

atesta: “A maturidade para aprender com os erros e ver onde melhorar é muito importante. O fundamental para empreender é foco e persistência; a inteligência do negócio vem com o tempo”, defende Walter Sengik, confirmando que houve relativo abatimento perante a – embora esperada, ainda impactante – rejeição do mercado à primeira versão lançada do aplicativo. Para não sucumbir ao desânimo, o acadêmico buscou amparo em especialistas, participando de nada menos que 12 programas de mentoria e qualificação. “Acreditar que basta uma ideia e trabalhar na garagem para ficar milionário é doce ilusão. Criar um aplicativo é como criar qualquer produto final. Dedicação é o que vai fazer a diferença entre um empreendedor e alguém apenas idealista”, define.

PROGRAMA DA UCS INCENTIVA O MODELO Alinhada à posição de vanguarda no incentivo ao desenvolvimento regional, a Universidade de Caxias do Sul realiza, até dezembro, a primeira edição do StartUCS – Transformando Ideias em Negócios, projeto de fomento a startups objetivando o desenvolvimento e a inserção de novas empresas no mercado de forma sustentável e competitiva. Vinculada ao Programa de Empreendedorismo, a iniciativa é dirigida a estudantes de graduação e pós-graduação, professores e funcionários, sendo limitada a dez empreendimentos. A execução do StartUCS se dará em duas fases. A primeira, destinada ao aperfeiçoamento da ideia e estruturação do modelo de negócio, é composta por 20 encontros semanais de 3 horas, com mentoria de especialistas das áreas de tecnologia, investimento, 8

contabilidade, finanças, psicologia, jurídica e da Incubadora Tecnológica da UCS. Ao final do cronograma será realizado um pitch-day de 3 a 5 minutos para exposição dos projetos a potenciais investidores. A segunda fase será voltada à consolidação efetiva da empresa, com a elaboração de um plano de negócio envolvendo a criação de um protótipo testável e a busca de clientes. “Nesse momento há um produto físico, validação técnica e comercial, qualificando a empresa a receber aporte financeiro”, explica o professor Enor Tonolli. Mesmo os projetos que não ingressarem no mercado terão oportunidade de seguir sendo aperfeiçoados na Incubadora Tecnológica, que disponibilizará espaço físico, infraestrutura, secretaria e busca de fomento para a startup.

NO BRASIL, PARA EVITAR O FRACASSO, NÃO SE OUSA, NÃO SE INOVA. NOS ESTADOS UNIDOS FRACASSO É CURRÍCULO; É COMO O EMPREENDEDOR APRENDE O QUE PRECISA PARA CONSOLIDAR UMA IDEIA

ENOR TONOLLI, professor do Programa de Empreendedorismo


SOLUÇÃO REAL E RELEVANTE

Reprodução

Cinco anos e meio depois do inusitado despertar questionando o uso da água potável em uma manhã qualquer, o Piipee está às vésperas de ser lançado comercialmente. Segundo o idealizador Ezequiel Vedana da Rosa, egresso da UCS, o dispenser (entre R$ 40 e R$ 50) e refis (R$ 25 o litro, que garante 500 acionamentos) devem ingressar no mercado em até 90 dias, a partir de uma produção de mil unidades/mês. O impulso para a escala industrial – linha de chegada de uma startup e ponto de partida de uma empresa – será dado pelo fechamento de acordos de investimento (cujos valores só serão divulgados na finalização dos contratos) construídos depois de muita pesquisa e experimentação. “Passei um ano urinando em copinhos e fazendo misturas para testar o efeito”, brinca Ezequiel, que desde a metade de 2014

dedica-se exclusivamente ao empreendimento. O processo levou ao desenvolvimento de uma solução biodegradável e bactericida composta por essência de pinho e eucalipto (agora há mais três opções de fragrância) formando o princípio ativo, que, com pouco mais de 1ml por aplicação em spray, atua na eliminação do odor e alteração da cor da urina – responsável por 80% das descargas em vaso sanitário, ao qual o dispositivo é acoplado. Instalada em Bento Gonçalves, a empresa teve 30 mil unidades pré-vendidas até abril deste ano, e, desde então, outras 15 mil encomendadas, estima Ezequiel. Repercutido na mídia nacional, o produto chamou a atenção desde empresas com milhares de funcionários até de famílias com vários filhos, tendo em comum o interesse em testar a eficácia da solução.

FOCO, PERSISTÊNCIA E APERFEIÇOAMENTO “A principal característica de uma startup é procurar solucionar um problema do mercado”. Com esta premissa (uma das várias a partir das quais exibe domínio de argumentação sobre o modelo de empreendimento), o estudante Walter Sengik Cruz explica a inspiração para a criação do PéBaixo. O aplicativo para smartphone possibilita consultar a disponibilidade de calçados por tipo, preço e visualização de imagens, com indicações de lojas próximas e promoções. “O e-commerce faturou R$ 35,8 bilhões no Brasil em 2014. Se não crescerem no online, as lojas físicas vão perder muito mercado”, justifica. A facilidade de pesquisa e compra é

decisiva para o sucesso das vendas pela Internet. Por outro lado, a maioria dos consumidores ainda prefere provar as peças antes de adquiri-las. Com isso, o PéBaixo se encaixa no espaço que combina as vantagens dos dois sistemas. O produto é disponibilizado aos comerciantes mediante uma mensalidade entre R$ 60 e R$ 100. “A ideia é oferecer uma ferramenta de comunicação, com o foco de levar o cliente até a loja”, define o idealizador. Em virtude disso, pontua Walter, novas funcionalidades estão sendo implementadas, como a concessão de descontos para quem escolher um estabelecimento por meio do software e

a divulgação das redes sociais das lojas cadastradas. Em paralelo à procura de investidores e ao trabalho de colocar o produto no mercado, o jovem segue buscando aperfeiçoamento. Após a formação em Engenharia de Controle e Automação pela UCS, Walter pretende especializar-se em Gestão de Marketing visando habilitarse à promoção do aplicativo. Os maiores desafios, enquanto isso, também são tipicamente ‘startupeiros’: as limitações financeiras e o tempo parcial, razão e decorrência da manutenção do emprego como projetista elétrico em uma grande empresa de Caxias.

Conceitos w Modelo de negócios: descreve a lógica de criação, entrega e captura de valor por parte de uma empresa. É como a startup apresenta-se como capaz de transformar sua ideia em resultado financeiro. w ‘Pivotar’: derivado do inglês to pivot (girar sobre um eixo, mudando de direção), refere ao redirecionamento do negócio depois de uma estratégia testada não ter levado a resultados esperados. Como as startups são empresas novas ou em fase de consolidação, a pivotagem serve, essencialmente, para formatar o negócio. w Investidor-Anjo: pessoa física que investe capital próprio em startups em troca de participação no negócio e assumindo papel de mentor ou conselheiro, sem posição executiva na empresa. O termo ‘anjo’ é conferido pela concessão de apoio ao novo empreendedor por meio do repasse

de know-how, experiência e orientação em rede de relacionamento, não ficando, portanto, a participação restrita ao aporte financeiro ao negócio. w Gestão de recursos: é um modelo complementar e subsequente ao investimento-anjo, realizado a partir de recursos de terceiros geridos por fundos de investimento e similares. Segundo a organização Anjos do Brasil, o aporte total por empresa no país tem variado, em média, entre R$ 200 mil a R$ 500 mil, podendo chegar a R$ 1 milhão. w Aceleradoras: são organizações que impulsionam as startups oferecendo capital, espaço físico, mentoria e networking, assim denominadas por, com este método, acelerarem o ingresso dos empreendimentos no mercado – em geral no período de três a seis meses. Em contrapartida, recebem a designação, normalmente, de 10% a 20% das ações da nova empresa. 9


SAÚDE À MESA

PRIORIZAR O CONSUMO DE PRODUTOS NATURAIS, CULTIVADOS SEM O USO DE FERTILIZANTES, É UM CAMINHO EFETIVO PARA A REEDUCAÇÃO ALIMENTAR JOSMARI PAVAN – jpavan@ucs.br Com o estilo de vida frenético que dá o tom da sociedade contemporânea, é cada vez maior o número de pessoas que procura na alimentação equilibrada um modo de compensar o estresse e os danos causados à saúde. Em contraponto ao desejo coletivo de comer melhor, muitas informações incorretas chegam aos consumidores entre uma refeição e outra. O principal mito nesse aspecto, aponta a professora Heloísa Theodoro, do curso de Nutrição da Universidade de Caxias do Sul (UCS), está na dificuldade de se chegar a um estilo de vida equilibrado, o que, para muitos, é impraticável. “Através da criação de metas e de pequenas mudanças nos hábitos alimentares, alcançamos uma alimentação saudável”, indica. O acompanhamento médico, muitas vezes colocado em segundo plano ou até mesmo 10

dispensado, é fundamental nesse processo. Segundo Heloísa, a reeducação alimentar deve ser orientada por um profissional nutricionista que irá auxiliar o paciente em suas escolhas.

O SEGREDO É A DISCIPLINA Equilibrar a quantidade e a qualidade de alimentos consumidos é a chave para a reeducação alimentar. Dietas radicais, que diminuem demais ou eliminam determinados grupos alimentares do cardápio até podem trazer resultados a curto prazo, mas podem acarretar em problemas para a saúde de forma geral. Assim, é preciso observar: toda mudança na alimentação deve ser permanente e feita de forma gradual e específica para cada indivíduo. “A reeducação alimentar bem-sucedida depende de mudanças como, por exemplo, a redução no consumo de açúcar

e de sal. Isso deve ser gradativo, para que o paladar se readapte ao sabor dos alimentos”, ensina a especialista. Nesse sentido, a professora destaca, ainda, os exercícios físicos que, associados a mudanças na alimentação, impactam positivamente na saúde. “Os benefícios se dão pela regularidade da prática e pelo consumo diário de alimentos saudáveis, ou seja, os efeitos ocorrem graças à disciplina em relação à rotina alimentar e aos exercícios físicos”, destaca. De forma prática, os alimentos que devem estar presentes diariamente na mesa são os in natura e minimamente processados. Frutas, hortaliças, farinhas integrais, além de arroz, feijão, carne, leite e ovos são exemplos. O consumo de água, em torno de dois litros por dia, também é essencial para o bom funcionamento do organismo.

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GANHOS SOCIOAMBIENTAIS Quem deseja intensificar os cuidados com a alimentação pode acrescentar os itens orgânicos à dieta. O cultivo orgânico é a forma de plantio agrícola que abre mão de fertilizantes sintéticos e pesticidas. Rotação de culturas, adubos naturais e controle biológico de pragas são usados para manter a produtividade do solo, suprindo adequadamente os nutrientes necessários às plantas. Por isso, os alimentos podem conter mais vitaminas e minerais do que os cultivados de forma convencional. Além dos aspectos nutricionais, a professora Heloísa reforça a importância deste consumo também em razão de fatores socioambientais. “Além de os alimentos orgânicos serem superiores aos convencionais, quanto mais pessoas buscarem por produtos do tipo e de base agroecológica, maior será o apoio que os produtores da agroecologia familiar receberão e mais próximos estaremos de um sistema alimentar social e ambientalmente sustentável”, justifica. Fotos Claudia Velho

TODA QUINTA TEM FEIRA ORGÂNICA NO CAMPUS-SEDE O Campus-Sede da UCS é o novo espaço da agricultura orgânica da região. Desde o dia 17 de setembro ocorre semanalmente a comercialização de alimentos cultivados sem o uso de agrotóxicos por produtores ligados a seis associações da região: a EcoCaxias, de Caxias do Sul; a cooperativa Coopeg e a Associação Encosta da Serra, ambas de Garibaldi; a Associação Farroupilhense de Agroecologia; a Agronope, de Nova Petrópolis; e a cooperativa EcoNativa, de Ipê. A ideia surgiu em sintonia com a perspectiva de sustentabilidade defendida pela reitoria como um valor institucional. “Inicialmente, a intenção seria atender o grande número de visitantes que passam

pela UCS. Para contemplar também os alunos e funcionários, achamos melhor realizá-la durante a semana”, conta a coordenadora do Laboratório de Agricultura Orgânica (que integra o Núcleo de Inovação e Desenvolvimento da Agricultura Sustentável da universidade), professora Valdirene Camatti. Para o produtor João Ivandro Dalmas, da cooperativa Coopeg, a feira é uma oportunidade de desfazer possíveis equívocos sobre os produtos sem agrotóxicos. “É comum as pessoas pensarem que produtos orgânicos não têm um aspecto bonito, e aqui podemos mostrar que isso não é verdade. Sem falar que o consumidor pode conhecer quem plan-

ta o alimento, não há atravessadores”, destaca. A aprovação também acontece entre os consumidores. “Já costumo comprar alimentos orgânicos, mas com a feira tão perto, com certeza virei toda semana”, comemora Simone Donato, residente próximo à UCS. A feira orgânica é realizada às quintas-feiras, das 12h30min às 19h, no estacionamento da Casa Amarela (entre o Centro Cívico e o Bloco M, na entrada do campus), oferecendo frutas, verduras, sementes, brotos, biscoitos, pães, sucos e doces, entre outros. Dentro da proposição ecológica, os consumidores devem levar as próprias sacolas para o transporte dos alimentos.

10 passos para uma alimentação saudável Baseado no Guia Alimentar para a População Brasileira, de 2014, do Ministério da Saúde 1- Fazer de alimentos in natura ou minimamente de alimentos in natura ou minimamente processados processados a base da alimentação 2- Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos 3- Limitar o consumo de alimentos processados 4- Evitar o consumo e alimentos ultraprocessados 5- Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia 6- Fazer compras em locais que ofertem variedades

7- Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias 8- Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece 9- Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora 10- Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais 11


CONHECER PARA ESCOLHER “

BUSCAR INFORMAÇÕES SOBRE CARREIRAS, MERCADO E SI MESMO ATENUA MEDO DE NÃO FAZER A OPÇÃO CERTA, FRACASSAR OU NÃO CORRESPONDER ÀS EXPECTATIVAS DOS FAMILIARES NO MOMENTO DA DEFINIÇÃO PROFISSIONAL CRISTINA BEATRIZ BOFF - cbboff@ucs.br A escolha da profissão é um dos momentos mais importantes da vida do adolescente, que ao encerrar o Ensino Médio busca ingressar na Universidade. E esse momento – de definir que rumo tomar, que escolha fazer – é conflitivo. “O jovem se depara com um leque cada vez maior de cursos e possibilidades atrativas em relação ao mundo do trabalho, porém, o desejo de sucesso imediato e as pressões familiares e sociais que enfrenta para que a sua decisão seja assertiva, aumentam a sua insegurança e ansiedade frente à situação vivenciada”, ressalta a psicóloga e professora Sandra Maria Poloni, coordenadora do projeto de Orientação Vocacional da Universidade de Caxias do Sul (UCS). O momento da definição profissional, na opinião da psicóloga Renata Sassi, coordenadora do curso de Psicologia da UCS, “é sempre muito difícil pelas características da própria escolha. O adolescente precisa optar não só pela profissão que terá, mas por quem ele quer ser, qual o estilo de vida que ele quer levar, ter consciência do papel que irá desempenhar e da realização pessoal e econômica que poderá ter futuramente”.

FASE DE AFIRMAÇÃO E esse momento – da escolha profissional – coincide com outro vivenciado pelos adolescentes: o determinado por intensos

conflitos de identidade. “A adolescência é uma fase da vida que se expressa através da necessidade da afirmação, da insegurança e da esperança com o tornar-se adulto. Os jovens são envolvidos por uma sociedade que dita que a escolha profissional deve ocorrer ao fim do Ensino Médio, mas nem sempre essa etapa coincide com o momento que o jovem adquire a maturidade”, enfatiza Renata. “Na etapa em que está buscando sua identidade (quem sou eu?), o adolescente acaba precisando decidir sobre seu futuro profissional, escolhendo um curso e definindo uma profissão, sua identidade profissional: quem serei e qual minha missão e o meu papel na sociedade”, reforça Sandra. E é aí que surgem temores, dúvidas e incertezas que são próprias desse estágio de transição da adolescência para a vida adulta, mas que interferem no processo de escolha. Assim, é fundamental que o adolescente conheça o cenário, isto é, a realidade profissional, os cursos existentes e o mercado de trabalho, todos em constante flutuação e transformação. Atenta a esse contexto, a Universidade de Caxias do Sul promove, a cada ano, o Portas Abertas, evento que proporciona aos estudantes do Ensino Médio contato direto com a estrutura e detalhamento das várias opções de cursos oferecidos na instituição (veja box).

Portas Abertas ao conhecimento Neste ano, a UCS promove o Portas Abertas de 1º a 3 de outubro, no Campus-Sede, em Caxias do Sul. Nesses dias, os estudantes terão acesso aos laboratórios e à infraestrutura de ensino da universidade. Com uma programação variada para toda a família, o evento é completado pelo 1º Mix Portas Abertas, com shows, DJs, gastronomia, artesanato, entre outras atrações. Saiba mais no site www.ucs.br/portasabertas 12

QUE CURSO ESCOLHER? CONSEGUIREI SER APROVADO NO CURSO ESCOLHIDO? TEREI SUCESSO NA CARREIRA PROFISSIONAL? ESSAS INDAGAÇÕES POVOAM O IMAGINÁRIO E A REALIDADE DESSE ADOLESCENTE QUE BUSCA IDENTIDADE E AFIRMAÇÃO PESSOAL

SANDRA POLONI, coordenadora do projeto de Orientação Vocacional


‘NADA SE COMPARA À EXPERIÊNCIA’

Claudia Velho

O estudante do 3º ano do Ensino Médio Rafael Galiotto Thains, 17 anos, experimentou um período de indecisão e insegurança frente à realidade de estar concluindo o ciclo escolar e ter que decidir o que fazer depois. Para conhecer mais sobre sua possível escolha, o aluno da Escola São Rafael, de Flores da Cunha, buscou informações sobre a área pretendida, Ciências Biológicas. “A minha avó tinha várias plantas em casa e eu convivia muito com isso. Lia bastante sobre a área na internet, em revistas e jornais, e então descobri que tinha a ver com botânica”, conta, recordando o interesse inicial. Mais tarde, Rafael teve a oportunidade de trabalhar em laboratório como bolsista na UCS. “Nada se compara a ter uma experiência, sentir a expectativa para ver se um experimento dará certo, por exemplo”, aponta Rafael, sobre a certeza para a decisão pela graduação a partir do contato com a ciência. Já Gabriela dos Santos da Silva, 17, estudante do 3º ano do Ensino Médio no Centro Tecnológico (Cetec) da UCS, gosta da área da Saúde, mas ficou indecisa entre dois cursos. “Medicina Veterinária foi minha primeira opção desde criança. Depois pensei em Farmácia, mas com a possibilidade de Veterinária na UCS, me decidi”, descreve. Gabriela sempre teve interesse em ciências e também amor pelos animais, mas procurou estar bem-informada para se decidir. “Fiz um curso e um estágio, quando conheci uma colega que era da primeira turma de Veterinária. Com ela, pude saber sobre o curso e fiquei mais tranquila. Depois, procurei também com a coordenadora da graduação”, relata. (Franciele Lorenzett, especial)

CONSCIÊNCIA DE QUEM SE É E DE QUEM SE PRETENDE SER A escolha profissional não é algo pronto, mas um processo de construção “que vai se delineando a partir do próprio sujeito, da sua realidade interna, dos seus interesses, gostos, valores, motivações, potenciais e idealizações. Da tomada de consciência de quem é e de quem pretende ser, através do autoconhecimento, da informação e do processo de decisão”, explica Sandra Poloni. Por isso, a especialista defende a participação do adolescente em um processo de orientação vocacional, “para que a escolha seja feita de forma consciente, madura, autêntica e ajustada entre interesses e potencialidades, resul-

tando em grandes possibilidades de sucesso na profissão escolhida”. Em virtude da sensação de angústia provocada pela indecisão, Renata Sassi destaca a importância do suporte familiar para a definição de carreira pelo adolescente. “Vivemos tempos conflituosos, ocasionados pelas mudanças no mundo do trabalho, que exige indivíduos mais competitivos, adaptativos e competentes. A influência da família ocorre de diversas maneiras, e é positivo para os jovens receberem incentivos dos pais para seguirem seus próprios desejos”, ressalta a coordenadora do curso de Psicologia da UCS.

O PROCESSO DE ESCOLHA ENVOLVE UM TRIPÉ: AUTOCONHECIMENTO, CONHECIMENTO DA REALIDADE DA PROFISSÃO E TOMADA DE DECISÃO. É IMPORTANTE QUE O JOVEM CONHEÇA O MÍNIMO, PELO MENOS AS ATIVIDADES PRINCIPAIS, DE CADA UMA DELAS RENATA SASSI, coordenadora do curso de Psicologia da UCS

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O MITO DA ITALIANIDADE PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM TORNO DA INFLUÊNCIA CULTURAL TRAZIDA DA EUROPA ACENTUOU-SE A PARTIR DE 1975, COM AS COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO DA IMIGRAÇÃO. PASSADOS 40 ANOS, O FOCO SE VOLTA À MULTICULTURALIDADE. VAGNER ESPEIORIN – vaespeio@ucs.br O ano de 1975 foi marcado por momentos difíceis na política brasileira. Eram tempos de ditadura, anos de chumbo. O cenário na Serra gaúcha, porém, não flertava com o sentimento de tensão em escala nacional. Por aqui, era época de festa, de celebração do centenário da imigração italiana e, também, da ascensão de um novo olhar sobre as tradições trazidas pelos responsáveis pela ocupação territorial promovida no final do século XIX. Foi um período divisor de águas. “A noção de italianidade foi construída. Três agentes ajudaram a fomentar esse sentimento na década de 1970: os intelectuais, a Igreja e os empresários. Eles viriam a ter papel fundamental na manutenção do mito do italiano, que não estava lá no início”, sentencia a professora Vania Beatriz Merlotti Herédia, do Centro de Ciências Humanas e da Educação da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Ao se completarem 140 anos da chegada dos primeiros italianos, a fala da pesquisadora, reconhecida pelos trabalhos que envolvem a imigração e o processo de industrialização local, é emblemática. Em um de seus estudos, ela buscou mapear a historiografia regional em torno de uma linha conceitual para demonstrar as transformações sobre o modo de ver o italiano. Dentre as conclusões obtidas está a associação do sucesso do processo de colonização a um elemento típico do capital. “Criou-se um mito em relação ao italiano, porque a região teve todos os fatores para que o desenvolvimento desse certo. A começar pela propriedade privada na família. O italiano não estava abandonado. Ele tem uma referência: o lugar em que ele mora”, frisa a pesquisadora. 14

Acesse, via QRCode, mais fotos do acervo ECIRS/IMHC


Marcas antropológicas Apesar dos elementos sociológico e econômico terem peso considerável sobre o processo migratório, foram as marcas antropológicas que guiaram as primeiras pesquisas em torno das comunidades italianas. Os usos e costumes deixados pelos imigrantes constituíram-se em objetos de análise do Projeto ECIRS, criado em 1974 para o estudo da cultura da imigração e mantido até hoje pela UCS. À época, a intenção era documentar os hábitos que ficaram marcados no cotidiano de pessoas que habitavam especial-

mente a zona rural. O resultado está disponível para acesso público. As fotografias que ilustram essa reportagem são uma amostra (pequena, por sinal) de um acervo bem mais amplo, que, além das populações, capta os cenários da região colonial italiana. “Esses estudos têm papel importante. Eles ajudaram a mudar o conceito de colono na região, que estava vinculado à ideia do imigrante. Até então, o olhar para o imigrante não tinha tanto valor, não tinha esse elemento identitário”, explica Vania.

Fotos Aldo Toniazzo e Ary Trentin/ECIRS/IMHC

Triunfo do minifúndio Se para o Brasil o filme O Quatrilho ficou marcado como a obra representativa da retomada do cinema nacional, para a Serra gaúcha ele ilustra parte considerável da história da região. No livro escrito pelo professor José Clemente Pozenato – e que deu origem à obra cinematográfica –, há um traço importante para a contextualização da mitologia da imigração: a demonstração do italiano que deu certo. Apesar da traição da mulher, o personagem Angelo Gardone, um típico descendente de imigrante, foca sua vida no trabalho, arrisca ao comprar uma colônia de terra, cria um moinho de farinha, cresce financeiramente, vai morar na cidade e dá origem a um banco. Rico, vê sua família ampliar e ganha o reconhecimento da sociedade. Angelo ilustra o mito italiano da região. Apesar disso, a realidade esconde outro fator: nem todos tiveram a mesma sorte. “Se tem aquela ideia de que o italiano

tem uma propulsão para os negócios. Se a gente vai analisar, os empreendedores foram os que juntaram capital. A grande maioria continuou pequeno, na sua propriedade”, esclarece a professora Luiza Horn Iotti, do Mestrado Profissional em História da UCS e que estuda a imigração e relações de poder. A pesquisadora reforça o posicionamento de que a propriedade foi o grande diferencial em relação às outras etnias que ocuparam a região. Tal como no filme, a produção local lançou as bases para o acúmulo de capital, mas ele só veio de fato com a exploração do comércio. O que era cultivado aqui alimentava também outras cidades. “A nossa região deu certo porque nela foi implantada a única reforma agrária no país, com um sistema de minifúndio. Cada um teve seu pedaço de terra e deu conta do que era seu. Algum ou outro conseguiu se sobressair com o capital”, esclarece Luiza.

Participação multicultural Depois de 140 anos, cidade e região não são as mesmas. Elas cresceram, exibem pujança empreendedora e demonstram, inevitavelmente, a importância que a imigração teve. Mas outras etnias ajudaram a compor esse cenário de avanços. Novas pesquisas realizadas na Universidade se posicionam em torno da participação, no desenvolvimento regional, dos negros, dos índios e também dos tropeiros que levavam o gado da região dos Vales aos Campos de Cima da Serra. “Hoje, se você estudar a história de Caxias, já encontra a história dos negros, dos poloneses, e de outros povos. Agora, isso começa a ter um outro valor”, explica a professora Vania, demonstrando que a cidade – e a pesquisa – têm sim espaço para a multiculturalidade.

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CONSULTOR DA NOVA ENCÍCLICA SOBRE O MEIO AMBIENTE DO PAPA FRANCISCO, TEÓLOGO LEONARDO BOFF PERSISTE NA DEFESA DO PARADIGMA DA COLETIVIDADE JOSMARI PAVAN - jpavan@ucs.br Admirado e, na mesma medida, contestado por seus posicionamentos, o teólogo Leonardo Boff, 77 anos, é um homem inquieto. Suas ideias incisivas sobre temas como meio ambiente e política reverberam por trás de um semblante tranquilo e culminam naquela que talvez seja sua principal militância: para ele, é preciso que a humanidade transforme radicalmente o modo de encarar a vida, derrube paradigmas e substitua o individualismo pelo sentimento de coletividade. Em visita à Universidade de Caxias do Sul (UCS) no mês de julho, onde comandou a abertura do Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul (Semintur), Boff atraiu centenas de pessoas e investiu em chamar a plateia à reflexão. Ética, hospitalidade e turismo foram pon-

to de partida de uma abordagem que se estendeu para reflexões sociais e humanitárias, temáticas que desde os anos 1960 o colocam entre os mais destacados pensadores brasileiros. Ao discorrer sobre o prejuízo para a manutenção da vida das pessoas e do próprio planeta, que considera ser provocado pela globalização, o teólogo não se furtou de apresentar soluções possíveis, desde que aplicadas em escala global. “Nunca tivemos ameaças tão graves à vida humana na Terra. É um caminho sem retorno. Vivemos em estado de caos, mas é preciso investir no lado construtivo do caos e neutralizar o aspecto negativo. É do caos que surgem transformações”, defendeu.

POR MAIS SONHO E HUMANIDADE CASA COMUM – a alternativa da Ecologia Integral Vinte e dois anos depois de abandonar as atividades eclesiásticas por desentender-se com a cúpula da Igreja, tendo inclusive sido punido pelo Vaticano em virtude da militância pela Teologia da Libertação (leia mais na página ao lado) Leonardo Boff foi convidado pelo Papa Francisco a auxiliar na elaboração da Encíclica do Meio Ambiente. Diferentemente de documentos similares, a encíclica, lançada em junho deste ano, não se dirige apenas a católicos e defende que o futuro no planeta só será possível com uma mudança radical no trato dos recursos naturais. O enunciado traz o conceito de Ecologia Integral, cunhado por Boff, 16

que, ao propor uma ampla transformação nas relações com o meio ambiente, define o planeta como a ‘casa comum’, onde todos os seres vivos formam um ecossistema e são responsáveis por ele. “Por trás das crises, há seres humanos; por trás das estatísticas, há verdadeiras vias-sacras do sofrimento. Quem vai para a Itália, Espanha, fica espantado ao ver as paróquias abrindo comedores públicos porque os milhares de desempregados não têm onde comer. Isso não aparece na imprensa porque é antissistêmico. Acontece que esse sistema não funciona mais. As crises devem servir para a busca pelo bem comum”,

alertou. Para chegar a esse estágio, o teólogo aponta as universidades como espaços fundamentais de fomento à nova e necessária realidade, não podendo se resumir a ‘chocadoras do sistema’, como define. “Vejo nas universidades muitos jovens despolitizados e desinformados, que se preocupam em se formar para ter um bom emprego e ganhar dinheiro. Claro que dinheiro é importante, mas é preciso usar os conhecimentos adquiridos para o benefício das pessoas, para servir ao povo. Esse é o desafio ético”, ponderou, justificando com um contraponto: “Falta um pouco de sonho à humanidade”.


Campo Grande

POR TRÁS DAS CRISES, HÁ SERES HUMANOS. POR TRÁS DAS ESTATÍSTICAS HÁ VERDADEIRAS VIAS-SACRAS DO SOFRIMENTO. AS CRISES DEVEM SERVIR PARA A BUSCA PELO BEM COMUM

Contestação libertadora As ideias contestadoras transformaram a trajetória de Leonardo Boff. Membro da Ordem dos Frades Menores, na qual ingressou em 1959, teve papel ativo na criação da Teologia da Libertação – corrente teológica cristã surgida na América Latina nos anos 1960, depois do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medelín. Ao considerar que o Evangelho coloca os pobres como prioridade, a teologia propõe a religião como meio para resolução de problemas e desigualdades sociais. Após o doutorado em Teologia e Filosofia pela Universidade de Munique, Alemanha, em 1970, assinou diversas publicações sobre religião, direitos humanos, causas sociais, ecologia, espiritualidade e antropologia, tendo hoje mais de 60 livros lançados. Um dos mais importantes foi Igreja: Carisma e Poder que, em razão das teses em defesa da Teologia da Libertação, motivou um processo da Sagrada Congregação para a Defesa da Fé, do Vaticano, que condenou o autor a um ano de ‘silêncio obsequioso’ e o depôs das suas funções editoriais e de magistério no campo religioso. Segundo o site oficial de Boff, devido à repercussão mundial, a pena foi suspensa parcialmente em 1986. Porém, em 1992, ameaçado de uma segunda punição pelas autoridades de Roma, ele renunciou às atividades eclesiásticas e se autopromoveu ao estado leigo. No ano seguinte, ingressou na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) como professor de ética, filosofia e ecologia, mantendo também a atuação como teólogo da libertação, escritor e conferencista. Claudia Velho

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Vagner Espeiorin

Quando o horizonte está tão perto, o olhar esquece de alcançá-lo Vania Marta Espeiorin – Jornalista e mestre em Educação 18


ARTIGO

A PESQUISA COMO INSTRUMENTO DE QUALIFICAÇÃO INSTITUCIONAL Além da tradicional e relevante função relacionada ao ensino, a universidade, atualmente, tem também a importante função da pesquisa, motivada por dois fatores: a necessidade de qualificar permanentemente o ensino, adequando-o constantemente aos novos conhecimentos produzidos e desenvolvendo competências, junto ao aluno, relacionadas ao processo de construção de conhecimento – como a identificação e resolução de problemas e a capacidade crítica no uso responsável do conhecimento – e a de contribuir para o avanço científico e tecnológico e, assim, dar sustentação ao desenvolvimento local e regional. O mercado de trabalho em que as empresas atuam competitivamente está inserido em setores econômicos cada vez mais baseados na inovação. E esse mercado exige dos profissionais um perfil com um mínimo de habilidades e competências, para que possam contribuir significativamente com o crescimento sustentável e a inovação dessas organizações. Atualmente, a Universidade de Caxias do Sul tem 231 alunos de graduação e 222 de ensino médio que atuam como bolsistas de iniciação científica nos projetos de 206 pesquisadores integrantes dos 98 grupos de pesquisa da UCS cadastrados no CNPQ, e junto aos 17 Núcleos de Inovação e Desenvolvimento e 16 Núcleos de Pesquisa da instituição. Além disso, junto às linhas de pesquisa dos seis cursos de Doutorado e 14 de Mestrado, dos 598 alunos matriculados, 278 são bolsistas vinculados aos projetos de pesquisa desses programas. A coparticipação dos alunos

nessas pesquisas lhes proporciona aprendizagens como a de elaborar referenciais científicos que possam dar sustentação à identificação e à solução de novos problemas, bem como à construção de procedimentos críticos de testes e avaliação dessas soluções, que vão além das desenvolvidas em sala de aula. É nesses diferentes níveis que a UCS qualifica profissionais de graduação e de pós-graduação – bacharéis e licenciados, mestres, doutores e pós-doutores – com essas competências derivadas da vivência do processo de investigação científica durante suas trajetórias acadêmicas. Além desse ganho pedagógico, a pesquisa na Universidade, para cada área da pós-graduação, procura direcionar suas linhas de investigação para a produção de conhecimento científico e tecnológico que contribua, no mínimo, para a sustentabilidade social, econômica e ambiental do desenvolvimento do local e região em que está inserida. Hoje a UCS não apenas contribui junto à comunidade acadêmica e científica internacional, com publicações relevantes para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, como também se articula com as organizações empreendedoras locais, regionais e nacionais, desenvolvendo pesquisas científicas e tecnológicas que lhes permitam introduzir inovação em suas áreas de atuação. E é esta articulação, na UCS, da pesquisa com a qualificação do ensino e com a busca de soluções para os problemas da sociedade local e regional, que a coloca em uma posição de destaque no cumprimento de sua missão institucional.

A PESQUISA QUALIFICA O ENSINO, DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS RELACIONADAS À CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO, E CONTRIBUI PARA O AVANÇO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO, DANDO SUSTENTAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

Prof. Dr. José Carlos Köche Pró-Reitor de Pesquisa e de Pós-Graduação

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Universidade de Caxias do Sul Caixa Postal 1313 95020-972 - Caxias do Sul - RS


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