Zimbro Março 2014

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Zimbro Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela | Março 2014

ASE

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Director José Maria Serra Saraiva (presidente da ASE) Corpo redactorial Tiago Pais José Amoreira Rómulo Machado

Sede e redacção: Rua General Póvoas, 7 - 1º 6260 - 173 MANTEIGAS www.asestrela.org ASE: asestrela@gmail.com Redacção: info@asestrela.org

Composição Paulo Silva Grafismo Bruno Veiga Fotografia de capa Ricardo Costa www.rcosta.pt Colaboraram neste número Alexandre Nieuwendam António Duarte Hugo Figueiredo João Noronha Jorge Marcelino José Conde Jorge Marcelino José Maria Saraiva Mónica Sousa Pedro Esteves Pedro Rocha Liliana Barosa Vasco Freitas

A “ZIMBRO” é editada pela Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela, em formato digital e com distribuição trimestral gratuita. Os artigos de opinião são da responsabilidade dos seus autores.

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4 | Editorial 10 | ASESTRELA 2014, Uma estrela desconhecida 12 | Somos um dos países mais ricos do mundo 14 | Asestrela 18 | Os estudos dos periodos frios do Quaternário na Serra da Estrela com base em depósitos de vertente

26 | O gafanhoto Prionotropis flexuosa (Serville, 1838) no Parque Natural da Serra da Estrela

32 | Dissonâncias 36 | Conservação da natureza: a importância de integrar as populações locais 46 | Presença de lontra num habitat potencialmente favorável 50 | As Diversas Realidades dos Pequenos Produtores 58 | Montanhas de imagens, Pedro Esteves 62 | Satyrus actaea 64 | Barragem das Cortes

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EDITORIAL

José Maria Serra Saraiva

Em cada inverno que passa é frequente a estrada do planalto superior, entre a Nave de Santo António e a Lagoa comprida, estar encerrada por causa da neve. Tal facto leva muita gente a questionar os serviços de limpeza da neve e a fazer comparações com o que se passa no estrangeiro em condições análogas. Os responsáveis pelo tráfego e pela segurança de quem circula na referida estrada tem limitado a informação aos automobilistas, através da sinalização dos painéis colocados nas principais vias de acesso à Torre. Nunca se prestou a um esclarecimento, pedagógico, que elucidasse os cidadãos sobre as razões que levam ao constante encerramento da estrada, das condições, singulares, naturais da Serra da Estrela, comparativamente a estradas de montanha de outros países. Uma das razões para que isso suceda tem a ver com a pouca afinidade que os seus intervenientes têm com as montanhas, particularmente com esta Serra, são pessoas que foram destacadas para um ambiente que não era o seu! Penso não errar se afirmar que a Serra da Estrela é única ao ter uma via nacional que a atravessa no seu ponto mais elevado. As dezenas de estradas que ligam Espanha a França, através dos Pirenéus, passam por portelas ( Cols) tal como se fez por aqui antes da abertura da estrada da Torre. A estrada mais alta na cordilheira pirenaica fica na fronteira de Portalet, a 1800m, e é ladeada por duas encostas com mais de 2.200m. É assim nas montanhas por esse mundo fora! Enquanto a generalidade das estâncias de esqui estão localizadas em vales, a “nossa” está na “careca” da serra, exposta a tudo! A Serra da Estrela encontra-se a 100 quilómetros do atlântico, sem qualquer barreira montanhosa que a salvaguarde dos ventos húmidos e ciclónicos do oceano, enquanto a generalidade das montanhas da restante europa têm um clima mais continental. Excepção para os Picos da Europa mas onde as estradas se encontram a altitudes muito baixas e não há pistas de esqui. Quem convive desde há muitos anos com o trabalho do Centro de Limpeza da Neve, situado a 1.600 metros, sabe das dificuldades que os seus trabalhadores têm para manter limpa a estrada, nalguns casos com risco para a própria vida. Há situações em que se torna complicado sair das instalações com as viaturas por causa

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do vento gelado que não deixa funcionar os limpa-vidros, nem permite visibilidade para circular. Imagine-se como será 400 metros mais acima! Tudo isto pelas características particulares que distingue a Serra da Estrela de outras serras, para não falar do tipo de neve que torna a sua remoção mais difícil, que não se confunde com os flocos, a chamada neve polvo, de ambientes mais continentais. É verdade que todos os anos surgem uns dias maravilhosos que para quem nos visita ou anda a esquiar imagina estar nas melhores estâncias de esqui! Mas isso não deve tolher-nos a inteligência para perceber que o anúncio, recente, de aumentar as pistas de esqui e ter mais dias de abertura da estância ser uma miragem e um completo disparate, para além de mais um atentado a juntar aos muitos que têm vindo a ser cometidos, ao meio natural do ponto mais elevado do continente português. Já vamos tarde, mas não deixa de ser imprescindível, porque quanto mais disparates maior o prejuízo, parar para refletir e começar por questionar tudo o que tem vindo a ser feito ao nível do turismo na Serra da Estrela. Não é normal, que todos desejemos ter a serra coberta de neve, estarmos a pagar a um organismo para a fundir como acontece com o Centro de Limpeza da Neve. Só no Planalto Superior, entre a Nave de Santo António e a Lagoa Comprida, calcula-se que possam, todos os anos, ser fundidos perto de 200.000m3 de neve (que fazem falta à serra, ao turismo, às nascentes), para por a estrada circulável. Por outro lado estamos a suportar a presença de um corpo da GNR que não

seria necessário se se optasse por encontrar outra solução para levar as pessoas ao ponto mais elevado da Serra da Estrela. Seria interessante, por exemplo, saber quanto nos custa, anualmente, ter um Centro de Limpeza da Neve, localizado estrategicamente para manter limpos 15 quilómetros de estrada quando os seus meios podiam ser deslocalizados para vias estratégicas de acesso ao país e à região. Um estudo do Laboratório Nacional de Geologia e Energia IP (http://www.lneg. pt/iedt/unidades/16/paginas/26/30/125) veio confirmar as preocupações da nossa Associação, ao revelar a “contaminação de água subterrânea por substâncias de limpeza da neve em estradas…” verificada em diversos pontos do Planalto Superior. Sobre o turismo desconhecem-se quaisquer estudos que nos digam qual a preferência dos visitantes que procuram as unidades hoteleiras. Num curto inquérito que a ASE fez, há mais de duas décadas, às principais unidades hoteleiras, não era o esqui a principal motivação, bem pelo contrário, mas a neve, enquanto atracção. Admite-se que alguma coisa possa ter mudado desde então, mas só o inquérito nos permitirá apurar quais as actuais preferências dos visitantes dado que a entrada da Vodafone deu uma maior visibilidade à Estância de Esqui. O que distingue a Área Protegida da Serra da Estrela das demais áreas montanhosas e protegidas do país é o Planalto Superior, acima da cota dos 1.500 metros. Se a questão da estrada que o rasga não for equacionada e encontrada uma melhor solução o Parque Natural da Serra da Estrela está condenado!

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Polistes aka vespa foto6de Vasco Freitas


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A proliferação de torres eólicas em áreas protegidas ameaça a paisagem, e não só...

- MARÇO 2014 fotografia de JorgeZIMBRO Marcelino


Numa Europa onde parece que tudo se reduz

a cifrões, Portugal tem sete regiões entre as dez mais pobres economias da moeda única. A Serra da Estrela é a mais pobre de Portugal com um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de 8 300 €. A Grande Lisboa tem um PIB de 32 000 €, muito longe dos 109 000 € de Wolfsburg, a zona alemã que lidera o escalonamento das regiões mais ricas… Só o meu masoquismo me faz passar o Entrudo de 2014 numa zona tão pobre…e quando digo aos amigos que vou acampar…eles têm mesmo muita pena de mim. Trocar pernas ao léu por pedras à chuva, não é de muito bom senso. Já no ano passado, em Junho, tinha subido a garganta de Loriga e me tinha espantado com a descida da ribeira de Beijames, uma joia! Este ano 2014, o ASESTRELA propôs como base o Covão da Ponte, mesmo à beira do Mondego. Vieram-me à cabeça memórias de há 30 anos e duma célebre Marcha de Montanha feita com a família e os amigos. Fomos convidados pela Ester e pelo Alberto Serrão. Os meus filhotes estiveram presentes e não consegui apanhá-los na subida para Videmonte… coisas que agora se fazem por estrada asfaltada… bem perto da Sra. D’Assedasse, bela invocação de Maria, não é!?... No domingo de Carnaval tivemos o grande cortejo: uma caminhada de mais de 16 Km,

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circular, com o coração sempre a bombear e os ‘foles’ a ventilar… numa descompressão entre os 1100 e os 1300 metros de altitude! Tempo húmido, ventoso e ameaçador. Coisa que os viriatos(as) não temem com as suas três peles e as botas goretex. Partimos da casa do guarda do Gorgulhão, perfeitamente disponível sem fechaduras nem janelas, mas com lareira. Próximo avistámos um circuito de manutenção, em ruína, penso que do tempo dos romanos… Fomos em direção à Quinta do Fragusto acompanhando a ribeira de Quécer, o maior afluente do Mondego na Serra da Estrela. Terrenos de xisto, vegetação livre e indomada, caminhos largos sem dificuldades. Atravessámos belas e cerradas monoculturas de Pseudotsuga, uma Pinaceae de crescimento rápido e de boa madeira, também conhecida por Pinheiro-do-Oregon dado que é originária da costa oeste da América do Norte. Estas grandes resinosas pareceram-nos perfeitamente indefesas aquando da ocorrência do próximo incêndio… Virámos a norte ladeando o Cerro do Gato, e quando demos por isso estávamos em cima do Mondego com a Quinta da Taberna mais ao longe. O rio mostra um belo meandro, um ómega perfeito com águas estreitas e apressadas… e foi com esta prenda nos olhos que subimos mais um pouco e abrimos as mochilas para o almoço. Subimos ladeando pelo poente a Serra do Boi e caímos docemente no Gorgulhão fechando o nosso percurso. Boa caminhada, muitas fotografias, excelentes comentários


Rio Mondego fotografia de Pedro ACS

do nosso guia e muitas conversas calorosas ponte Cabaço, a Estrela conhecida, e ouvir refrescadas por aquela chuva molha-tolos que os gritos estridentes das crianças enceboladas nos segredou: - Quando voltarem vêem resto! supervisionadas por avós enregelados. Descida algo deslizante para o Sabugueiro e almoço Depois de mudar de roupa e já no Covão da em seia, perdão Seia. Piloto automático para Ponte, uma boa lareira e umas saborosas… Lisboa… feijocas. A rematar o animado serão uma ida de carro até Manteigas para ver a Feira e Porque é que o PIB não avalia certas coisas?!... exercitar o consumismo. Ao ZIMBRO e à ASE os meus Na 2ª feira, depois das despedidas, nova agradecimentos. subida à Serra para ver nevar e fazer sku na

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Temos potencialidades enormes desde a água

ao sol, não esquecendo o nosso mar imenso e o nosso solo que tudo tem. Mas, somos o que somos por não sabermos explorar o que temos e o nosso país… é o nosso retrato! Tentamos encontrar desculpas para o indesculpável, mas a culpa é nossa! Este raciocínio não é meu, embora esteja de acordo com ele. Vem isto a propósito da Serra da Estrela e do seu desenvolvimento por vezes agressivo e desenquadrado. A ASE sempre defendeu a tese de que todo o apoio ao turismo, falo de infraestruturas de grande dimensão como a Hotelaria, deveriam estar sempre em torno da serra, na cota dos 600/700 metros e daí os turistas partirem para a aventura. Os investimentos feitos no alto da serra, para além de caros e de logística difícil, são também agressivos para a paisagem. Ficam pois desenquadrados. Um exemplo gritante, indo ao encontro do pensamento da ASE, foi a construção em Unhais da Serra de um empreendimento ímpar, na serra e no país. O H2otel! Desde que me conheço, já com as termas antigas, sempre ouvi falar da necessidade de se construir um hotel termal em Unhais da Serra. As potencialidades da então aldeia deveriam ser aproveitadas, deveriam ser exploradas as suas condições naturais. Mas, nem a autarquia local se via com possibilidades de conseguir um investimento, nem a Câmara da Covilhã,

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dona das termas de Unhais da Serra, facto para mim incompreensível, avançava com algo que resolvesse o problema. Depois de alguns malabarismos, talvez ingénuos, porque a forma em que a água estava a ser explorada, à superfície, não tinha as condições necessárias de qualidade e quantidade, a Câmara da Covilhã fez furos artesianos e conseguiu água em qualidade e quantidade e ainda mais quente. Avançou com um concurso nacional para a construção de um hotel termal na agora vila, e conseguiu que uma firma da Covilhã, finalmente, arrancasse com a obra que hoje todos conhecemos, ou pelo menos que anda nas bocas do mundo, pelas melhores razões! Um edifício plenamente enquadrado na natureza, com uma exploração de águas no seu interior de fazer inveja, piscinas naturais e termais, para além dos tratamentos associados, massagens, etc. Por isso a ASE e muito bem, entregou ao empreendimento o Cristal de Gelo, porque a obra veio dar razão à associação. A sua beleza e a sua lotação como a maior no país em hotéis de quatro estrelas, vêm reforçar a ideia de que a ASE tinha razão. Depois vieram os efeitos colaterais positivos. Por um lado o emprego que criou, cerca de uma centena de postos de trabalho diretos, depois os consumíveis que o hotel absorve, através dos fornecedores de serviços e depois o que Unhais da Serra cresceu. Mais pessoas ficaram na vila, foi das terras que mais cresceu na Covilhã, segundo os últimos Sensos. Foram feitos cursos de formação, que tinham por finalidade preparar a população da vila, à receção e tratamento de turistas ou


H2Otel em Unhais da Serra viajantes. A vila sofreu obras no valor de cerca de cinco milhões de euros, foram melhoradas as infraestruturas rodoviárias, todo o mobiliário urbano foi beneficiado, fez-se a praia fluvial, e parece que não, na vila entram e saem diariamente mais de quinhentas pessoas, desde o turismo aos lanifícios e outros serviços. De uma forma proporcional, só a Covilhã e Tortosendo, pelos seus parques industriais, têm maior movimento. O município da Covilhã concedeu durante cinco anos, isenção de taxas a todas as obras em Unhais. O conceito de Unhais da Serra vila termal, abrange uma área que vai desde Seia a Espanha, da Guarda a Castelo Branco, pois os seus efeitos, de uma forma ou outra, são por ali sentidos. Muitos milhares de pessoas passam em Unhais da Serra anualmente. De facto, o H2otel está de tal forma bem equipado, que muitas pessoas não saem de lá durante a sua estadia, pois

ali têm tudo o necessário para o descanso e bem-estar. E Unhais da Serra recomenda-se pelas melhores razões. A braços com uma crise que é nacional, alguns comerciantes não conseguiram manter algum comércio, que era necessário ao turismo, pois as rendas dos espaços eram e são ainda caras. Infelizmente, nos últimos dois anos, muita gente emigrou e Unhais ficou mais pobre. O Hotel, pelo que parece, está a dar-se bem com a crise, pois apesar de a oferta ser cara, consegue vender. Em suma, o H2otel vai vendendo, também porque a paisagem é maravilhosa impressiona quem a visita. Faltam-nos ainda algumas infraestruturas importantes para que a vila se complete, entre elas, a conclusão da estrada da serra e os caminhos pedonais, que fazem muita falta aos turistas que decidem visitarnos, para desfrutarem do magnífico ambiente natural.

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durante alguns anos, a pedido da ASE, para ter a oportunidade de falar sobre a importância da Área Protegida aos participantes. Estávamos no tempo em que o director do PNSE dava e, se dava a conhecer às populações. Convém também recordar que o NEVESTRELA foi uma verdadeira escola para muitos portugueses, inclusive para a maioria dos que andam hoje com o nome de Portugal nos cumes dos 8.000 metros.

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uem tem vivido ou assistido a este “desencontro” da ASE com o PNSE, a propósito da realização do NEVESTRELA e mais recentemente do ASESTRELA, é muito bem capaz de pensar que, a ASE, se está a achar no direito a algum privilégio ou anda a usar a Serra da Estrela para actividades que possam estar a por em causa a conservação da natureza. Nada disso. Convém, começar por lembrar que o NEVESTRELA iniciou-se com o apoio do PNSE e até o seu director chegou a participar,

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Quando, pela birra de uma única pessoa, se começou a por em causa a realização do NEVESTRELA, no Covão d’Ametade, com o pretexto de se estar a por em causa, o local (se pagarmos já podemos organizálo e os problemas ambientais ficam de lado) achávamos, continuamos a achar, que não era verdade e a questão foi colocada, publicamente, ao Parque para que explicasse o que se estava a por em causa ao nível da conservação para sermos mais rigorosos, já que nos era impensável que uma associação com a projecção conquistada pusesse em causa questões de ordem ambiental. Fomos mais longe e quisemos colaborar procurando transmitirlhes, sem sucesso, quais os problemas de que aquele local enferma, que tinham e têm a ver com a gestão, o tipo de obras ali edificadas e os princípios que nortearam a criação de uma área de recreio, nos moldes em que o foi para o Covão d’Ametade. Daí os problemas


porque tem passado este espaço em que, pelas razões atrás expostas se têm vindo a agravar, ao ponto de, não sabendo o que fazer pura e simplesmente se deixa entregue a uma empresa privada que começou por fazer pequenas obras clandestinas mas na mira estaria a edificação de yurts “escondidas” lá para trás do arvoredo como se o Covão d’Ametade passasse a fazer parte de uma área protegida da Mongólia! Que é o que passa já no Vale do Rossim! Enquanto o NEVESTRELA era organizado no inverno, numa temporada em que a natureza se encontra num período de hibernação e quase sempre se acampava em cima de neve, daí o nome do evento (NEVESTRELA), não encontrávamos explicação para esta birra. Sabendo que quando vinha no verão chegavam a estar muito mais de mil pessoas, na sua maioria merendeiros a fazer lume por tudo quanto era sítio, caravanas que já tinham local marcado, estacionamento de veículos com cobrança dentro do Covão d’Ametade, lixo espalhado por tudo quanto era canto, com a natureza em pujança, que moral tinham para impedir a organização do NEVESTRELA que sempre teve o cuidado de deixar o espaço limpo? A ASE não desiste, acha que tem a razão do seu lado, e espera, com serenidade, voltar ao Covão d’Ametade para proporcionar a centenas de montanhistas, avós, filhos e netos (já há netos que descendem de montanhistas que por ali se iniciaram), a continuação do contacto solidário com a natureza e na magnitude daquele imponente cenário. Por não querermos transgredir com os princípios que têm sido a bússola da ASE, fizemos questão de não voltar mais ao Covão d’Ametade enquanto a gestão do espaço se mantiver tal como está. Diga-se, em abono da verdade, que tínhamos todo o direito em ir

para lá e acampar, já que gozamos do direito de poder usufruir de um espaço comunitário de que somos compartes e, também, porque o regulamento do PNSE o permite. Em resultado dessa posição quisemos, este ano dar a conhecer uma outra “Estrela”, a vertente do Mondego. Envolvemos a Junta de Freguesia de Sameiro, que administra territorialmente esta área. A resposta do Parque a um ofício daquela Junta só veio depois de alguns, e-mails e telefonemas. Mesmo assim, e pela primeira vez, assinamos um termo de responsabilidade e um código de boas práticas! Veja-se bem a ASE, uma associação que tem dado provas mais que suficientes do seu trabalho desde 1982, que já fez parte do Conselho Geral do PNSE, por convite do próprio Parque, ao “vexame” a que chegou de ter de assinar tais documentos e mesmo assim não houve deferimento. Não nos deixaram acampar no Gorgulão, um local interessante, onde nasce o maior afluente do rio Mondego, na Serra da Estrela, a ribeira

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do Quécere! Pois bem, o impacte da alteração do Gorgulão para o Covão da Ponte foi, do nosso ponto de vista muito maior já que foi necessário proceder ao transporte das pessoas e desenvolver lá as actividades que estavam programadas. Entretanto fomos observando algumas práticas que parecem não estar a preocupar os responsáveis do Parque Natural da Serra da Estrela. As imagens são bem elucidativas do estado em que se encontram os recipientes do lixo que ali foram colocados, cujo cheiro não deixou dúvidas quanto ao tempo em que se encontra ali!

o Plano de Ordenamento para não podermos acampar no Gorgulão mas, por outro, permite que se crie uma área de recreio quando o mesmo plano é muito claro quanto às definições dos núcleos de recreio. Terá o Parque Natural da Serra da Estrela conhecimento da Área de Lazer do Gorgulão? Se tem qual foi a sua atitude tendo como referência o Plano que esmera por fazer cumprir? Que parecer emitiu? Que medidas pensam tomar se não foi ouvido nem achado?

O que pensa o Parque Natural do fogo-deartifício noturno deitado sobre as pistas de esqui, que a televisão levou ao conhecimento dos portugueses? Pode-se fazer à luz do Plano de Ordenamento? O Parque foi ouvido? Será que no Parque Natural da Serra da Estrela a aplicação dos regulamentos se vão suavizando à medida que vamos estando a maior altitude? Entre os milhares de esquiadores, o fogo-deartifício a alegrar as noites de quem não tem a mínima noção dos valores naturais à sua volta, a música em alto som e os milhares de automóveis que dominam em plena reserva Um outro aspecto curioso que nos foi dado biogenética, a 1.950 metros de altitude, são observar naquele local é o estado deplorável em que se encontra o edifício da antiga casa do guarda-florestal e anexos, ao mesmo tempo que houve um investimento de raiz com a criação de uma Área de Lazer do Gorgulão cujo estado dos equipamentos dá pena e é bem o exemplo de como se gastam, sem o mínimo sentido de objectividade os dinheiros públicos. Parece-nos que existem dualidades de critério por parte do PNSE. Por um lado invoca

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toleráveis e, a pernoita por uma noite, a 1.150 metros, para mais de meia centena de pessoas, num local onde o Parque Natural não tem um valor, sequer, referido em termos de conservação, um acto não consentido!

veículos motorizados a conseguir o que seria inimaginável há uns anos!

Consideramos que é no terreno que se deve privilegiar a vigilância e o contacto com as populações residentes e com os visitantes, e A ASE irá ser sempre amiga da Serra da não, como temos vindo a sentir, na perseguição Estrela. Do Parque Natural também, mas é dissimulada e da caça à taxa, na comodidade necessário que o diálogo seja franco, a prática da secretária visualizando as páginas online da conservação, um exemplo e, quem anda a de quem promove iniciativas que deviam ser pé, alcance o privilégio de ser beneficiário do acarinhadas em vez de perseguidas. espaço natural do qual faz parte e não sejam os

Asestrela 2014 fotografia de Pedro ACS

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A análise dos depósitos de vertente é um

Por exemplo, para os taludes e cones de detritos (Fig. 2), um período que parece ter tema clássico nos estudos de geomorfologia sido fundamental na sua geração foi a fase das montanhas portuguesas. Trata-se de dita paraglaciária, iniciada com a deglaciação acumulações de sedimentos (por ex.: areia dos vales. Os depósitos reflectem assim a e cascalho) em situação de vertente ou resposta das vertentes à fusão dos glaciares próximo da sua base, cuja origem é controlada essencialmente pela acção da gravidade, que pode, ou não, ser, assistida pela água, gelo ou vento. Os processos geomorfológicos nas vertentes estão frequentemente relacionados com mudanças na vegetação, precipitação e temperatura, resultando em processos de erosão do solo, originando a produção e transporte de sedimentos. Estes podem ficar preservados em sequências estratigráficas que servem como registos dos ambientes do passado. Na Serra da Estrela ocorrem vários tipos de depósito de vertente entre os 600 m e os 1500 m de altitude (Fig. 1), os quais se formaram em diferentes períodos. Figura 1 - Localização dos depósitos de vertente. 1 – São Gabriel (680 m); 2 – Souto do Concelho (700 m); 3 – São Sebastião (1010 m); 4 – Vale do Rossim (1516 m); 5 – Chão das Barcas (1300 m); 6 - Sítio das Pessoltas (1300 m); 7 – Penas da Saúde (1520 m); 8 – Vila Belo Horizonte (1260 m); 9 - Unhais da Serra (620 m).

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Figura 2 - Cones de detritos no Vale do Zêzere. de vale, que causou a descompressão do substrato, e consequentemente uma intensa actividade ligada a movimentos de vertente. Existem também vários depósitos de vertente formados em condições ditas periglaciárias, caracterizadas por intenso frio (por ex.: depósitos de solifluxão - Fig. 3); outros

ligados a um frio menos intenso, e que se enquadra na designação de crionival (por ex.: depósitos estratificados de vertente - Fig. 4); e finalmente, casos de depósitos azonais, como as escoadas de detritos e os leques aluviais, que permitem inferir que a sedimentação esteve provavelmente ligada a eventos de precipitação

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Figura 3 - Aspecto do corte no Vale do Rossim (1516 m), sendo de notar os blocos achatados, angulosos a subangulosos tendencialmente com o eixo maior inclinando no sentido do declive da vertente.


Figura 4 - Depósito estratificado de vertente de São Sebastião (1010 m).

intensa e concentrada, mas que podem ocorrer em diferentes climas. A Serra da Estrela representa um marco nos estudos de geomorfologia periglaciária em Portugal, no entanto, existe ainda um importante caminho a percorrer no âmbito do estudo detalhado dos depósitos de vertente. Nesse sentido, estamos a realizar no Centro de Estudos Geográficos (IGOT – ULisboa) um estudo que pretende contribuir para a clarificação dos processos morfogenéticos que estiveram activos na Serra da Estrela nos períodos frios, explorando as possibilidades de os enquadrar cronologicamente e investindo na avaliação do seu significado palegeográfico. Este projecto, assente numa dissertação de doutoramento que estou a desenvolver, tem como objectivo o aprofundamento do conhecimento da paleodinâmica das vertentes da Estrela. Esta, pela sua posição geográfica, entre os domínios Atlântico e Mediterrâneo, e pelas características morfológicas e

sensibilidade climática, é uma montanha muito importante para melhor compreender a evolução paleoambiental da Península Ibérica. Estamos, por isso, a aplicar técnicas de análise sedimentológica detalhadas e de datação, enquadradas num trabalho de geomorfologia de campo sistemático, apoiado pela análise espacial em ambiente SIG. Como exemplos da componente sedimentológica, a análise da estrutura clástica tem sido uma ferramenta útil na interpretação dos ambientes de deposição, principalmente quando utilizada em conjunto com outras técnicas. A direcção, ângulo de inclinação e a forma dos detritos, são quantificados a partir de dezenas de clastos de cada unidade sedimentar, revelado orientações preferenciais dos elementos do depósito. Estas podem ser relacionadas com os processos geomorfológicos que estiveram na sua origem, como o escoamento hídrico (Fig-5 A), os fluxos de ZIMBRO - MARÇO 2014


detritos (Fig-5 B), ou a solifluxão (Fig-5 C). Uma outra técnica que estamos a usar, é a micromorfologia, que abrange a identificação e descrição microscópica sistemática de componentes e estruturas de sedimentos. Os resultados fornecem informações complementares à análise macroscópica, ajudando a clarificar as modalidade e os processos geomorfológicos sedimentares e póssedimentares. A análise micromorfológica é feita a partir de lâminas delgadas que permitem uma descrição sistemática das características físicas dos sedimentos. No caso da serra da Estrela, identificámos diferentes microestruturas, das quais apresentamos aqui alguns exemplos: estruturas com laminação que testemunham escoamento hídrico (Fig.

6-A); estruturas com origem no gelo no solo (criogénicas) frequentes em depósitos resultantes de solifluxão (Fig. 6-B); e estruturas que indicam que os fluxos de detritos foram responsáveis pela formação do depósito (Fig. 6-C). Os trabalhos realizados na serra da Estrela enquadram-se na investigação do CEG/ IGOT-ULisboa realizada em diversas regiões de montanha e polares. Atualmente, a equipa trabalha na serra da Estrela, Sserra Nevada, Pirenéus, Svalbard e Península Antártica, prevendo-se também extender as nossas atividades ao Alto Atlas e Andes. Vem estudar a geomorfologia das montanhas do Mundo conosco!

Figura 5 - Análise da estrutura clástica: direcção, ângulo de inclinação e a forma dos detritos. A- São Gabriel; B – Souto do Concelho; C – Penhas da Saúde.

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Figura 6 – Imagem vertical das lâminas delgadas. A - São Gabriel; B – Vale do Rossim; C – Souto do Concelho.

http://www.antecc.org ZIMBRO - MARÇO 2014


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Fêmea de Prionotropis flexuosa ZIMBRO - MARÇO 2014


Prionotropis flexuosa (Serville, 1838), gafanhoto braquíptero da família Pam-

phagidae, é uma espécie exclusiva da Península Ibérica de ocorrência rara e distribuição fragmentada (imagem da página anterior). As suas populações estão associadas, normalmente, a zonas de montanha, sendo em Portugal conhecido no Parque Natural da Serra da Estrela, e em Espanha, em algumas regiões nas províncias de Albacete, Ávila, Burgos, Huesca, Leão, Lérida, Madrid, Segóvia e Teruel, (Llorente & Presa, 1997).

Na serra da Estrela, a população foi descoberta apenas recentemente, em 2007, o que não deixa de espantar pois P. flexuosa é um gafanhoto de tamanho grande, conspícuo e de fácil identificação, e nos últimos 100 anos a região foi visitada por numerosos entomólogos, nacionais e estrangeiros. O gafanhoto foi encontrado a sul dos Piornos, numa encosta pedregosa de exposição a leste situada a uma altitude superior a 1600 metros (Bivar-deSousa et al, 2008). A raridade desta espécie, aliada ao facto de ser uma primeira ocorrência em Portugal, determinou um estudo por forma a conhecer melhor a sua distribuição espacial na serra da Estrela, as características do seu habitat e identificar ameaças e factores de perturbação da população, de modo a antever a sua situação no futuro.

no Piornal, e no Terroeiro, numa área de 17 Km2. A metodologia de campo consistiu em dividir a área selecciondada em quadrículas UTM de 1x1 Km, realizando-se em cada uma delas um transecto para identificação visual, percorrido de forma aleatória durante um período de aproximadamente uma hora. Os registos foram efectuados com um aparelho GPS Magellan Meridian Color, considerando-se como área de ocorrência o espaço definido por uma linha que contorna as observações efectuadas.

A ocorrência de P. flexuosa foi confirmada apenas no Alto da Pedrice numa área com uma superfície de aproximadamente 20 hectares, correspondente a três quadrículas UTM 1x1 km, situada a uma altitude compreendida entre os 1600 e os 1740 metros (mapa da página 23). Na área de distribuição de P. flexuosa o habitat caracteriza-se por uma vegetação constituída Entre Maio e Agosto de 2008, prospectando por um coberto arbustivo dominado por a zona onde a espécie já era conhecida e outras piorno (Cytisus oromediterraneus) intercalados áreas de potencial ocorrência, tendo em conta por prados das gramíneas Avenula sulcata, parâmetros como a altitude, exposição solar e Arrhenatherum elatius e Anthoxanthum a composição e estrutura da vegetação do seu aristatum (Poacea) (imagem da página 24). habitat, procurou-se obter a melhor estimativa possível da distribuição da espécie. O estudo No Espinhaço do Cão, no Piornal e no incidiu nas áreas do planalto das Penhas da Terroeiro, a espécie não foi encontrada, apesar Saúde/Alto da Pedrice, no Espinhaço do Cão, do esforço aí realizado. Este facto poderá

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Distribuição de P. flexuosa no PNSE resultar de nestes locais a população apresentar níveis de abundância não detectáveis com base na metodologia adoptada, não traduzindo, necessariamente, a ausência do gafanhoto. A ocorrência de P. flexuosa numa área extremamente reduzida, bem como o isolamento da população parecem constituir as principais ameaças à preservação da espécie na serra da Estrela. A estes factores acresce a proximidade do aldeamento das Penhas da

Saúde e os vários projectos que se propõem para o local, de que se salienta a instalação de um teleférico, prevendo-se que a população a médio prazo possa estar sujeita a uma forte pressão antrópica. Também o desaparecimento da actividade agro-pastoril tradicional poderá ameaçar a sua sobrevivência uma vez que a manutenção do seu habitat depende do pastoreio.

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Habitat de P. flexuosa no PNSE

Embora não tenha sido efectuado qualquer trabalho no sentido de quantificar a abundância da população, o baixo número de registos efectuado sugere que a espécie terá um efectivo reduzido na área de ocorrência. Considera-se, assim, que esta espécie constitui uma das populações de insectos mais ameaçadas do território nacional, devendo merecer das entidades responsáveis pela conservação da natureza uma atenção particular que permita assegurar a sua manutenção.

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Referências bibliográficas Llorente, V. & J. J. Presa, 1997. Los Pamphagidae de la Península Ibérica (Insecta: Orthoptera: Caelifera). Universidad de Murcia. 248 pp. Bivar-de Sousa, A., J. Conde, & L.F. Mendes, 2008. Reconfirmação da presença de Prionoptropis flexuosa (Serville, 1838) em Portugal, nota sobre a espécie na Península Ibérica e sinonimização das subespécies descritas (Orthoptera, Pamphagidae, Prionotropisinae). Boletín Sociedad Entomológica Aragonesa, nº 42: da


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ecentemente, em Espanha, na província de Cáceres, bastante perto da Serra da Estrela por sinal, um Tribunal Supremo confirmou a decisão do Tribunal Superior de Justiça sobre a ilegalidade de uma decisão política que permitiu a construção de um mega projeto imobiliário, em plena Área Protegida que faz parte da Red Natura 2000 – o complexo “Turístico, de Salud, Paisajístico y de Servicios Maria Isla de Valdecañas”. O projeto, que se encontra numa fase muito avançada, situa-se numa ilha do rio Tejo, a montante da barragem de Valdecañas; incluí unidades hoteleiras bem como 200 casas particulares de luxo, um campo de golf e porto náutico desportivo.

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A nível do Governo Regional da Extremadura, decretou-se o projecto como de interesse público permitindo assim ultrapassar as condicionantes constantes do regulamento da Área Protegida e da Rede Natura 2000 que, ironicamente, o próprio governo tinha aprovado no momento da sua criação. A decisão do tribunal vem dar razão à queixa apresentada por dois movimentos ecologistas espanhóis (Asociación para la Protección de los Recursos Naturales de Extremadura (Adenex), e Ecologistas en Acción (CODA), reconhecendo deste modo que não tinham sido apresentadas justificações que permitissem classificar aquele projecto como de interesse verdadeiramente público. O interesse público é algo que deve interessar a todos, ou pelo menos a uma grande maioria dos cidadãos e não a um grupo reduzido com determinadas características a que lhe são atribuídos direitos especiais e processos de legalização duvidosos. O projeto concretizou-se, saltando das folhas de papel vegetal e maquetas para a realidade tridimensional desta Área Protegida da Extremadura Espanhola. A política do ato consumado é uma arma forte e geralmente eficaz. Mas não neste caso. O tribunal de

recurso ordenou que seja reposto o estado inicial da área em questão o que significa a demolição dos edifícios e infraestruturas, construídos. Tirando a parte da setença do tribunal, a situação descrita não parece novidade em Portugal, dando azo a nomes específicos como os Projetos de Interesse Nacional (PIN) e outras siglas modernas que tal. Na Serra da Estrela lembro-me de um caso onde, também, decisões políticas aprovaram leis à, posteriori

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Área de intervenção na albufeira de Valdecañas em pleno rio Tejo, tendo como fundo a serra de Gredos

para legitimar determinadas atos específicos que não se coadunavam com a regulamentaçao em vigor, sem que para isso existisse, na minha opinião, qualquer justificação válida e muito menos uma que fosse do interesse público. Um caso que me vem à mente é o das casas de madeira, turisticamente divulgados como chalés de montanha, construídos em formato de bairro social urbano, nos terrenos a sul do Hotel Serra da Estrela, nas Penhas da Saúde. São terrenos que estão dentro do Parque Natural da Serra da Estrela e para os quais havia fortes condicionantes de edificação naturalmente devido aos impactes previstos. Este foi um caso que me marcou particularmente, e por isso o refiro, devido a vários absurdos. Por um lado a sua densidade - mais de 60 chalés separados por poucos metros uns dos outros – por outro porque o projecto foi aprovado à posteriori em conselho de ministros (RCM 88/2004) e por último (ou talvez não) por ser em total desacordo com um plano de pormenor de requalificação das Penhas da Saúde, que andava há anos para

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ser concretizado e que recentemente (à data da construção dos chalés), tinha reunido parecer favoravel de diversas entidades com responsabilidade de gestão do respectivo territorio e aprovado também em conselho de ministros (RCM 110/2002). Tudo isto num Parque Natural, num território único do nosso país. Mas tudo isto, legalizado com justificações que, a mim, como exposto anteriormente, me deixam longe de convencer. Aparentemente, estas justificações como as de interesse publico ou do ato consomado não convencem outros e, num caso em particular, um grupo de cidadãos espanhois da Extremadura que não ficaram convencidos com as justificações de legalidade que permitiram a construção de um gigantesco empreendimento em plena área protegida e em desafio de todos os regulamentos que regiam a gestão da respectiva área. Este grupo acreditou na validade das suas convicções, acreditou na eficácia da justiça do seu país e levou a questão a tribunal. Seis anos depois de publicado o decreto aprovado em Conselho de Governo da Junta de Extremadura que


permitiu a desafectação dos terrenos de Rede Natura 2000, o Supremo Tribunal impugna o referido decreto e ordena a restauração dos terrenos ao seu estado original.

Verde, e por aí em diante. Não posso então evitar perguntar, o que sucederia com uma ação semelhante no nosso país, na nossa Serra, e com a nossa justiça?

Independentemente das diferentes dimensões dos dois projetos, os princípios em que se basearam os decisores políticos para proceder às alterações legais que legitimaram a construção dos projectos são muito semelhantes e, de novo, em minha opinião carecem de igual justificação de interesse público. Exemplos semelhantes que me recordo são os da ampliação da estância de esqui, da Barragem da Ribeira de Cortes, do troço Loriga-Portela do Arão, da Estrada

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Acção de educação ambiental com grupo de escuteiros durante a devolução à natureza de dois mochos-galegos recuperados no- MARÇO CERVAS. ZIMBRO 2014


Poderão ler na minha última intervenção na

Zimbro de Janeiro que “um controlo e uma vigilância apertados, associados a um crescente aumento da sensibilização e educação ambiental que visem o desenvolvimento de atitudes com vista à diminuição destas problemáticas [perseguição directa a espécies selvagens] são essenciais”, e o mesmo se aplica a todas as outras problemáticas relacionadas com a conservação da natureza na generalidade. Mas porquê? E como? A resposta à primeira interrogação é tão simples como: conservar a natureza sem integrar a população local é impossível! Independentemente dos investimentos feitos em projectos direccionados, com medidas específicas e com intervenções directas no terreno, se não se investir também na formação, sensibilização, interacção e troca de experiências, divulgação e aproximação das populações locais às temáticas da conservação, não será possível garantir o sucesso das intervenções no momento nem a sua continuidade a longo-prazo. E como podemos então integrar as populações locais, independentemente da sua idade, formação de base ou ocupação profissional? Talvez a faceta mais conhecida quando se fala em integrar as populações locais nos projectos de conservação, a Educação, Sensibilização ou “Sedução” Ambiental é a acção que, pela sua dimensão dinâmica e abrangente, permite transmitir conhecimentos e ensinamentos das mais diversas formas, apesar da mais familiar serem as acções com escolas ou outros grupos de crianças e jovens. Trabalhar com crianças e jovens tem tanto de compensador como de desafiante, e sendo este um grupo normalmente interessado nos temas da natureza, e também os “Homens” do futuro, para além do seu entusiasmo ao partilhar o que aprenderam (que nem sempre se verifica nos adultos…),

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as acções com escolas funcionam como um excelente meio de integração da população local mais jovem. Depois, temos as acções com grupos-chave na gestão do território e dos seus valores (pastores, caçadores, SEPNA-GNR, ICNF, etc.): é essencial actuar directamente com grupos localmente interventivos e decisores que funcionem como facilitadores e difusores muito eficientes da informação. Por outro lado, tratam-se normalmente de pessoas com um conhecimento muito abrangente do que se passa no terreno e que podem ajudar a melhorar as informações tidas e transmitidas nessas mesmas acções. Uma outra faceta da educação ambiental que vos será familiar por terras da Serra da Estrela, particularmente através do CERVAS/ ALDEIA, são as devoluções à natureza de animais recuperados. Estes momentos de libertação de animais recuperados nos centros de recuperação de fauna selvagem são o agradável culminar de um processo de recuperação muitas vezes moroso, sendo então momentos privilegiados para contacto com as populações locais, de modo a dar a conhecer o trabalho desenvolvido pelos centros e também as espécies que ocorrem localmente e são nossas “vizinhas”, através de uma proximidade aos animais libertados e da participação num momento inesquecível. Costumo dizer – correndo o risco de soar parcial – que estes momentos são dos momentos mais marcantes na vida de um apaixonado por fauna selvagem: ver sair em liberdade um animal recuperado é uma imagem intensa e inesquecível, que retém com ela toda a informação transmitida nesse momento (num método algo “oposto” ao normalmente conhecido para contacto com espécies selvagens, em que essas se encontram em cativeiro…). Apesar da Educação Ambiental andar sempre “de mãos dadas” com a Formação, porque há que “conhecer para proteger”, quando falamos de temas muito específicos, a formação sobre os mesmos é outro modo muito importante de


integração da população local. A transmissão do conhecimento técnico-científico permite a quem detém o conhecimento empírico e “de vida” compreender melhor a ciência da dinâmica, necessidades e benefícios da natureza que os rodeia. Os Workshops, Cursos, Jornadas e Seminários são os meios mais comuns para a formação das pessoas, através da participação de especialistas em determinadas áreas, e que podem ou não ser acções com grupos-chave, de sensibilização específica para a sua área de actuação, de modo a alcançar públicos específicos e a intervir sobre os temas mais indicados para a realidade local. Mas podemos sair da formação em contexto mais formal e entrar no mundo das conversas informais, pois nem sempre é necessária

a imagem típica do formador Vs. plateia. Também em conversas informais, passeios, convívios, é possível contribuir para a formação das populações locais. Neste tipo de ambiente, mais descontraído, torna-se mesmo mais fácil a discussão de assuntos mais “sensíveis” e a intervenção de todos, por mais tímidos que sejam, o que é particularmente importante quando estamos a falar de temáticas mais delicadas em que o “ambiente de auditório” poderia ser um pouco intimidatório, como são, por exemplo, os temas da caça e da conservação de espécies de predadores. Um outro meio de formação, mesmo que por vezes não seja visto desse modo, é o voluntariado. Este modo de vida escolhido por tantas pessoas é um óptimo meio de formação,

Workshop de recuperação de fauna selvagem direccionado a estudantes de biologia e veterinária, técnicos do ICNF e SEPNA e população em geral

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através da aprendizagem pela prática e pela intervenção directa. Sendo uma opção pessoal, e não um meio de formação formal/ obrigatório, o conhecimento é adquirido de um modo agradável e eficaz, em que não só apenas a entidade que depende de voluntários para funcionar fica a ganhar, mas também o voluntário tem este retorno para o seu próprio

como “professora“: o conhecimento empírico e de “experiência de vida” das populações locais, adquiridos ao longo de vários anos partilhados com as circunstâncias que se pretendem conservar, podem contribuir grandemente para complementar o conhecimento técnicocientífico. Esta formação, com um cariz integrador, pode ser realizada pela população

Formação em contexto informal (Festi

local através da partilha de experiências em contexto formal ou informal e mesmo Continuando na Formação, mas mudando incluindo membros das comunidades locais de formador, temos a própria população local como formadores em actividades (algo que enriquecimento pessoal e/ou profissional.

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a ALDEIA tem procurado privilegiar), transmitindo o seu saber e proporcionando uma troca de informação essencial à conservação da natureza.

Um outro modo em que podemos verificar a integração das populações locais na conservação da natureza é quando temos a intervenção directa da população na conservação: são as pessoas que habitam nas circunstâncias que se pretendem conservar que poderão mais facilmente intervir para a sua preservação a longo-prazo, para além da sua essencial participação no desenvolvimento de medidas no presente. A gestão agrícola e cinegética e a actividade turística são três dos exemplos de acções que são desenvolvidas pelas populações locais e que têm um elevado peso na gestão do território. Garantir que estas actividades incluem medidas de preservação e boas-práticas torna-as importantes aliados na conservação da natureza, bem como as actividades próprias das associações locais, como ONGA’s, Associativas de Caça ou entidades oficiais (ICNF ou SEPNA, por exemplo) que devem incluir no seu plano de trabalho medidas de conservação da natureza. Depois, a título um pouco mais pessoal, e normalmente decorrente de acções de ival Tribal 2009) educação ambiental e de formação realizadas e do consequente desenvolvimento de atitudes sustentáveis, temos aquilo que cada um pode fazer por si só para contribuir para a preservação do meio comum. Um exemplo inserido no contexto da Estrela e

da presença do CERVAS em Gouveia é a detecção de animais feridos pelos populares e pelas entidades locais: são as pessoas que usam e vivem no terreno, particulares ou entidades oficiais, que desempenham este importante e essencial auxílio e que permitem aos centros de recuperação concretizar a sua tarefa de reabilitar os animais selvagens feridos. Um outro exemplo muito simples e mais geral são as tarefas diárias executadas de um modo sustentável: ao desenvolver as mais variadas actividades do quotidiano de um modo sustentável, as populações locais contribuem grandemente para a conservação da natureza. Um modo de conservação integrada que me é muito querido é a “conservação no dia-a-dia”, que se pode fazer durante as chamadas “conversas de café” (e a partilha de experiências associada a este contexto informal e descontraído), as acções de voluntariado e até mesmo nos passeios de domingo (quando é tão comum as pessoas encontrarem animais selvagens que necessitam de cuidados, por exemplo), em que é possível conservar a natureza, mantendo uma atitude respeitadora, sustentável e informada sobre as várias temáticas. Dificuldades e “pontos fortes” da integração da população local na conservação: Trabalhar com as populações locais, e com a diversidade de circunstâncias, opiniões, conhecimento e mentalidades que isso implica, pode apresentar algumas complexidades… Algo do qual já vos falei (na Zimbro de Setembro de 2013) e que muito me fascina são os mitos e as ideias pré-concebidas mas sei bem que é algo que tem dificultado um pouco esta tarefa. As histórias da infância (como a do Lobo mau…), os mitos ampla e intrinsecamente existentes (como os relacionados com as corujas e mochos) e todas as ideias pré-concebidas associadas tornam o trabalho de conservação mais complicado, já que muitas destas “informações” são dadas como certas desde sempre e contrariá-las

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Resgate cegonha por particular

pode ser um autêntico desafio. Utilizar dados e factos concretos pode ajudar nesta tarefa mas nem sempre as pessoas estão abertas a reconhecê-los como verdadeiros… Mas não são só os mitos que alimentam as ideias erradas, também acções ou conversas fora do contexto completo podem dar azo à criação de ideias incorrectas. Um dos exemplos tem a ver com a incorrecta percepção que é feita da devolução de animais recuperados à natureza, muitas vezes tomada como libertação de animais criados em cativeiro. Torna-se assim muito importante a correcta divulgação destas acções e o seu uso como acções de educação ambiental, de modo a evitar a criação de ideias

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imprecisas sobre o trabalho desenvolvido. Para além das ideias erradas, pode mesmo existir a “falta de ideias”, de informação, que a Educação Ambiental e a Formação constantemente procuram colmatar. Outra questão prende-se com as dificuldades sociais e uma definição de prioridades distinta: nem sempre é fácil fazer com que investimentos na conservação sejam aceites quando as populações locais se sentem de algum modo prejudicadas por eles. Compensá-las pelos danos causados (como o pagamento de indemnizações pelos prejuízos causados pelo lobo) e explicar, provando, a importância da co-existência podem ajudar a contrariar este


obstáculo. Por outro lado, muitas vezes as pessoas culpabilizam as várias entidades pela falta de informação ou por uma transmissão de informação ineficaz. É de extrema importância a proximidade das entidades oficiais às populações locais, e ONGA’s como a ALDEIA podem e devem ter um papel muito importante como pontes para esta aproximação. Algo que posso atestar por experiência própria nesta aproximação às comunidades locais é que muitas vezes é muito complicado não dizer o que não se pode fazer mas sim o que se deve fazer… As pessoas têm os seus hábitos e ritmos e nem sempre aceitam com facilidade que esses sejam quebrados. É assim de extrema importância apresentar alternativas equilibradas entre as necessidades das pessoas e a conservação da natureza.

aprender - melhorando o seu conhecimento científico - como em ensinar - aumentando o conhecimento empírico dos técnicos, através da troca de experiências. Por outro lado, a capacidade de difusão da informação entre as pessoas locais, pelas ligações pessoais existentes dentro das comunidades, funcionam como óptimos veículos de difusão de informação

Devolução à natureza da cegonha recuperada após resgate por um particular

Felizmente, e de um modo muito recompensador, existem uma série de facilitadores à integração das populações locais na conservação da natureza. Por um lado, a proximidade às temáticas e a presença “no terreno” tornam as populações locais, inseridas na natureza que se pretende proteger e que estão intimamente ligadas a ela, os principais aliados na sua conservação. Deste modo, é muito importante uma abertura das comunidades à aprendizagem e partilha, apresentando estas, muitas vezes, uma enorme disponibilidade e interesse tanto em

Diz-se na cultura popular que há uma tendência para se “Puxar a brasa à sua sardinha” e é também esta uma das “armas” que pode ajudar na conservação, se houver o cuidado de serem explorados temas de interesse local, bem como as necessidades das populações, procurando alcançar um equilíbrio entre as várias partes. Até porque a conservação da natureza não tem apenas repercussões positivas no que se dirige efectivamente, também as pessoas e os locais que acolhem estas medidas beneficiam da imagem cooperativa e empenhada que lhes

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Resgate cegonha por particular - Libertação após recuperação (educ amb)

do bem comum apresenta, e que permitem explorar todos os potenciais que a inclusão das comunidades locais cria. A Associação ALDEIA, localmente através do CERVAS, tem sido um exemplo do reconhecimento da importância da integração das populações locais na conservação da natureza mas mais exemplos existem. Sejam outras ONGA’s, sejam entidades oficiais ou mesmo particulares, a dinamização de atitudes cooperantes entre os vários agentes para a preservação da natureza está efectivamente ao alcance de todos. E dada a demonstrada relevância desta integração, englobar as populações locais nas medidas a realizar deverá sempre ser uma prioridade de todos Os vários meios de integrar a população os projectos de conservação da natureza que local nas acções de conservação da natureza, sejam desenvolvidos. sejam eles a educação ambiental, a formação ou a intervenção directa, são os recursos que permitem ultrapassar as várias dificuldades que o desafio de englobar todos na preservação é associada. Em última instância, a cooperação entre entidades e a população local pode potenciar diversas alterações e melhorias na conservação da natureza, seja de mentalidades, seja na legislação, activando mudanças significativas. E porque não é só do crescimento profissional e do enriquecimento “curricular” e científico que se trata quando falamos em colaborar para a conservação da natureza, mas também do crescimento pessoal que tanto os técnicos como as comunidades locais obtêm ao cooperarem na conservação da natureza, tenho mesmo que frisar como mais-valia os novos conhecimentos que se travam e amizades que se fazem.

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fotografia de Fernando Romão

Um corpo alongado, sinuoso e ligeiramente achatado, as patas curtas com cin-

co dedos e membranas interdigitais, pêlo impermeável e uma cauda longa que serve de propulsor dentro de água…Estas são algumas das características hidrodinâmicas da lontra (Lutra lutra Linnaeus, 1758). Dependente da água doce, esta espécie adaptou-se a diferentes ambientes aquáticos, ocorrendo de forma generalizada por todo o território continental.

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ocorrendo de forma generalizada por todo o território continental. Contudo, foi na Serra da Estrela - onde a altitude, a natureza granítica e a precipitação são os grandes modeladores da estrutura da região - que tive a oportunidade de realizar um estudo sobre a ecologia da lontra. Observações ocasionais, espécimes atropelados ou baleados e a elevada variedade de zonas húmidas indicavam a sua presença na serra mais elevada de Portugal continental. No entanto, à data, muito pouco se sabia sobre o seu regime alimentar ou utilização em altitudes mais elevadas.

Um corpo alongado, sinuoso e ligeiramente achatado, as patas curtas com cinco dedos e membranas interdigitais, pêlo impermeável e uma cauda longa que serve de propulsor dentro de água…Estas são algumas das características da lontra (Lutra lutra Linnaeus, 1758), que lhe configuram soberania nos ambientes aquáticos portugueses, particularidades que desde o início me fascinaram. Dependente da água doce, esta espécie adaptou-se a diferentes zonas húmidas,

Para perceber qual a distribuição da lontra no Parque Natural da Serra da Estrela, percorri toda a área protegida em busca de indícios de presença da espécie e verifiquei que existia uma estreita relação entre a ocorrência deste carnívoro e a presença de cursos de água ou lagoas com carácter permanente. Grosso modo, a área onde a lontra pode ocorrer varia consoante a altitude. Se por um lado, quanto maior a altitude menor é a área de habitat preferencial, por outro, é no sopé da montanha que se faz sentir uma maior perturbação, com a proximidade às povoações (habitualmente apontado como um aspecto negativo para esta espécie).

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Apesar desta diversidade de condições ambientais, podem ser encontrados vestígios de lontra por toda a área do parque, destacando-se a particularidade de a lontra também ocorrer a altitudes superiores aos 1500 metros, onde é menor a disponibilidade de coberto vegetal com condições de refúgio, bem como a abundância de alimento.

A ocorrência da espécie por toda a área e durante todo o ano - mesmo nas zonas com condições menos atractivas para a espécie reflectem o potencial hidrológico existente no PNSE, que incluem tanto os leitos dos rios como as suas margens, e podendo variar desde as cabeceiras e troços fluviais relevantes, até aos charcos e albufeiras de corrente lenta.

Passados mais de 15 anos desde a realização deste trabalho, importa perceber o estado actual das populações de lontra no PNSE, tendo presente que, mesmo os resultados então obtidos permitiram apenas conhecer a distribuição generalizada da espécie na área do Parque Natural que, por si só, não é sinónimo de abundância ou estabilidade da espécie. Desconhecem-se Por outro lado, o completamente outros padrão de marcação do aspectos que permitam território pela lontra aferir o seu estado de (i.e. marcação odorífera de locais específicos, conservação, como são exemplo o tamanho muitas vezes associada à deposição de fezes), e tendência da população, a qualidade do que está directamente relacionado com a habitat ou o impacte das pressões que afectam importância dos habitats presentes nestas a espécie. áreas, também é diferente em altitudes superiores e inferiores aos 1500 m. As áreas Apesar da relativa tolerância e oportunismo de maior altitude apresentam quase sempre presentes nos hábitos da lontra, a preservação valores mais elevados de intensidade de das zonas húmidas revela-se crucial para marcação, o que poderá estar relacionado com manter a espécie num estado de conservação a defesa de recursos, mais escassos nessa área. favorável. No entanto, uma inversão deste padrão foi registada na Primavera, época de reprodução Dadas as potencialidades hídricas existentes da lontra, onde este predador encontra na Serra da Estrela, também o interesse do melhores condições a altitudes inferiores, Homem sobre as zonas húmidas é indiscutível, aumentando assim a marcação dos habitats. e a intensidade das actividades que nelas Estes resultados sugerem uma movimentação desenvolve são de relevância significativa para de indivíduos entre o Planalto Superior e as a conservação da lontra e de muitas outras áreas de menor altitude. espécies de hábitos aquáticos. A destruição Nestas regiões de altitudes mais elevadas, as populações de lontra evidenciaram uma grande adaptação às condições do meio. Assim, verificou-se que a lontra faz uso de recursos tróficos alternativos, onde os anfíbios representam cerca de 83,5% e os peixes (normalmente a sua presa principal) constituem apenas 6,3 % do total de presas consumidas.

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do coberto vegetal ripícola, a degradação da qualidade da água, a diminuição de caudal ou de recursos alimentares e a perturbação humana são alguns exemplos da alteração das características naturais do habitat de que a espécie depende.

desportos de inverno, pesca, extracção inertes, rega, abeberamento do gado, exploração da vegetação ribeirinha, potencial hidroeléctrico, etc.).

Ainda que sejam um elemento imprescindível numa estratégia de conservação da natureza, O valor ambiental das zonas húmidas não se a protecção nacional e internacional conferida limita ao seu interesse para a conservação de à Serra da Estrela, bem como à lontra e a espécies e habitats, representa também uma outros valores naturais aí existentes, não são garantia da qualidade da água e estabilização por si só suficientes. É assim, uma necessidade do leito e margens, suporte de importância e um desafio garantir uma utilização vital para o Homem. Permite tanto um sustentável dos usos múltiplos das massas usufruto social (actividade balnear, desportos de água, maximizando a rentabilidade mas náuticos, etc.) como a exploração económica salvaguardando os ecossistemas e a diversidade dos recursos (comercialização da água potável, biológica da Serra da Estrela.

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fotografia 4028mdk09, via Wikimedia Commons


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uito temos ouvido falar de pequenos produtores, agricultura familiar e de proximidade. Cada vez mais este é um tema corrente, mas principalmente agora, que 2014 foi escolhido como ano internacional da agricultura familiar, sendo essa forma de agricultura, considerada pela FAO como importante na solução para um mundo livre da pobreza e da fome. Por isso a FAO incentiva os governos a demonstrar o seu compromisso politico no apoio à agricultura familiar e de pequena escala, elaborando enquadramentos juridicos, instituições e politicas para os pequenos agricultores. Irónicamente o nosso governo presenteou em 2014 os pequenos produtores da nação com a introdução de um novo regime fiscal, que em nada os protege ou promove. Acedi com imensa satisfação ao convite feito pela Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela para escrever sobre a realidade dos pequenos produtores, e agradeço, em especial ao seu presidente José Maria Saraiva, a oportunidade de expor a minha visão sobre este assunto. Foi-me proposto abordar a importância da agricultura de proximidade, familiar e de pequena escala, realçando o seu contributo no desenvolvimento económico e social do pais, mas também sobre a forma como os pequenos produtores assumem a preservação da paisagem e contribuem para o enriquecimento de uma cultura e identidade, que tanto nos diferencia entre regiões, mas que a todos nos une como Povo.

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Seria dificil escrever este artigo sem recorrer à minha própria memória e decisão de me tornar agrícultor aos 30 anos de vida. Em 1976, ano do meu nascimento, na freguesia de Arcozelo em Vila Nova de Gaia, distando apenas 12 km do centro do Porto, o gado ainda passava à porta. De manhã ao acordar o pão esperava na maçaneta da porta, dentro de um saco de pano onde era deixado o dinheiro durante toda a noite e em todo o horizonte a paisagem era dominada por campos de cultivo. Nesse tempo não existiam empresários agrícolas, apenas produtores. Pequenos produtores que lavravam todas as parcelas de terra disponivel e juntos numa espécie de organização invisivel cultivavam uma imensa variedade de legumes e frutas com que abasteciam semanalmente a grande cidade. Por trás de cada pequeno produtor escondia-se uma familia, por trás de cada familia vários laços com outras familias de produtores que cooperavam sem necessitar de Cooperativas, que se associavam sem Associações que os pudesse representar ou defender. Cada um tinha o seu pequeno talhão que podia ter apenas algumas centenas de metros quadrados, até meio ou um hectare. Cada um responsável pela sua parcela, mas sempre disponiveis para se ajudarem nas tarefas que exigiam mais braços. Tudo isto era realidade no sitio onde cresci, entre os campos de Arcozelo e a localidade piscatória da Aguda. Recordo bem as pequenas parcelas de terrenos, ladeadas por árvores de fruta e vinha e de toda a variedade de culturas. Recordo com particular afecto que tudo era cuidado, o mato cortado para fazer camas para o gado, que seriam posteriormente usadas na fertilização dos terrenos, os restos de comida compostados, as águas reutilizadas,


Da esquerda para a direita - Pedro Rocha e Carlos Grazina, Projecto Raízes

as sementes das variedades locais e regionais em Modo de Produção Biológico com Sede em Vila Nova de Gaia trocadas e preservadas. Onde cresci, crescia eu e de tudo um pouco. Depois cresceram os prédios onde vivem pessoas tão afastadas da realidade dos pequenos produtores que poucos conseguem perceber a sua importância. De facto muita coisa mudou desde 1976 e em 2006 inspirado pela memória de infância iniciei o Projecto Raízes para reavivar um conceito cada vez mais perdido. Fazer agricultura de proximidade, em pequena escala, apostando na variedade e qualidade em deterimento da quantidade e pouca qualidade. Para isso foi preparada uma candidatura ao Proder e criada a Raízes, empresa de produção de hortícolas

Em conjunto com o meu sócio Carlos Grazina temos vindo a desenvolver o nosso projecto agrícola. Criamos uma empresa, investimos, trabalhamos, fazemos distribuição para lojistas, restaurantes, hoteis, entregas ao domicilio, mercados e ainda criamos um grupo de consumidores que nos apoia directamente garantindo o escoamento de parte da produção e que chamamos de AMAP (Associação para a Manutenção da Agricultura de Proximidade). Para além de tudo isso, organizamos eventos, somos convidados a participar em coloquios, ir à Rádio, à TV, a dar entrevistas e também a escrever artigos como este. Tudo isto fazemos e muito mais faremos e queremos fazer.

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Os nossos clientes, encomendam via e-mail, conhecem-nos via página web, facebook, blog.

académida superior, com vontade, motivados e fazemos da criatividade e ousadia uma das nossas importantes armas.

Preparação de hortícolas para entrega na AMAP Porto Oriental

Tudo isto vocabulário extraterrestres para a Mas seremos nós produtores iguais aos que nos ajudaram a crescer? grande maioria dos pequenos produtores. No suporte de tudo o que fazemos, existe uma estrutura, leve, agil, organizada. Usamos programas de facturação, carregamos o ficheiro SAFT pela Internet, comunicamos permanentemente com a contabilidade via e-mail, criamos mapas de excel que nos ajudam a gerir de forma mais rigorasa a produção e a empresa e muito mais temos em mente fazer. Somos novos, com formação

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Crescemos sem a preocupação de trabalhar, tivemos a oportunidade de estudar no Reino Unido, viver fora do pais, viajar. Acompanhamos as novas tendências tecnológicas de comunicação, consiguimos falar vários idiomas e podemos apanhar o avião e ir a qualquer parte da europa ou do mundo para encontrar um cliente.


O novo regime fiscal para os pequenos produtores não é idiota por exigir uma legitima contribuição dos pequenos produtores para o Julgo que não, estou certo que não. Recordo que Estado, obrigação essa que já decorre da lei. O em Portugal nos anos 80 a taxa de analfabetismos novo regime é injusto porque não compreende era de quase 20% e cerca de 25% da população e marginaliza uma parte significativa dos vivia da agricultura. Basta ligar o televisor e pequenos produtores. O novo regime é injusto ouvir bem o que se está a passar com o novo porque não distingue a realidade de cada um regime fiscal para os pequenos produtores dos pequenos produtores, penalizando aqueles para perceber que não estamos a falar de que à partida estão e são mais vulneráveis. Falo de pequenos pequenos produtores produtores com que nasceram em baixos niveis de finais do Séc. XX. escolaridade, baixos Por isso enquanto rendimentos, faço este exercicio pouca produção, de escrita, dou por já com alguma mim a pensar como idade. Acima de poderá um pequeno tudo pequenos produtor na Serra da produtores para Estrela, que não teve quem o Mundo as oportunidades que eu tive, enfrentar evoluiu mais tudo o que lhe é depressa do que a hoje exigido? Como podem os pequenos sua própria capacidade de adaptação. produtores que me viram crescer competir comigo, ou com qualquer empresário agrícola? Idignou-me ouvir um produtor de 75 anos Compreensivelmente uma grande parte não dizer que não ia conseguir pagar as suas está dotado das ferramentas necessárias para contrubuições. Idigna ver um pais que não o fazer. reconhece a importância do trabalho de uma Mas devemos reconhecer a importancia da vida de um pequeno produtor que tem uma actividade de todos esses pequenos produtores, reforma de duzentos euros e não pode por isso que muito nos ensinam quando conversamos descansar da sua vida inteira de trabalho. com eles. Eles que conhecem a terra como A lei não é idiota ao atribuir a todos os mesmos ninguém, que moldaram a paisagem toda uma deveres, mas é idiota quem olha para todos vida com o cabo de uma enxada nas mãos. de forma igual. É idiota, injusto, socialmente insensível e de uma ingnorância grotesta Com todas as assimetrias sociais, educacionais quem cria e apova leis que não têm em conta e geracionais não é aceitável exigir o mesmo a as diferentes realidades existentes, sejam produtores com contextos sociais e educacionais económica, sociais, educacionais, regionais, tão diferentes como os que encontramos por etc... este pais fora. Não podemos exigir o mesmo que é exigido a um jovem agricultor. Não Podemos dizer que os pequenos produtores, podemos exigir o mesmo nivel burocrático, o desadaptados do mundo moderno, não têm mesmo nível de contribuição, o mesmo nível lugar no mundo de hoje e que precisamos de dinamica. de gente nova, ousada e capaz. Mas nunca poderemos ignorar que foram esses milhares de Seremos representativos da maioria dos pequenos produtores em Portugal?

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pequenos produtores que sempre alimentaram o pais, que cuidaram da floresta e estimaram a paisagem como mais ninguém. Cuidaram de tudo aquilo que milhões de turistas apreciam em nós, o Vinho, a Cortiça, o Azeite, o Douro, a Serra. O nosso grande trunfo sempre foi a

terra e o Sol e como pequeno produtor sinto repulsa por quem tão pouco reconhece o trabalho daqueles que me fizeram crescer para chegar hoje aqui e ter o previlégio de escrever este artigo.

Nota biográfica Pedro Rocha Nascido em 1976, Espinho - Portugal Pedro Rocha cresceu entre as praias da Aguda e os campos de Arcozelo. No ano de 2000 conclui o Curso de Ciências do Ambiente e Poluição na Universidade de Glamorgan, Reino Unido. No inicio do seu percurso profissiona trabalha como assistente de projectos de desenvolvimento na Alemanha, sendo ainda Consultor no Projecto “The Saudi Programme for Drilling of Wells, and Rural Developmente in the Sahel Countries of Africa - Phase III” em Cabo Verde. Durante a sua formação adquire ainda experiência internacional, como o seu projecto de graduação, no Instituto Politécnico de Wroclaw na Polónia, sobre “Gestão de Resíduos Urbanos Sólidos e Impacto Ambiental de Aterros Sanitários”. Depois do seu regresso a Portugal em 2003, cria em 2005 o Projecto Raízes ao qual dedica todo o seu tempo de trabalho.

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Folha de Feijão

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Aveiro www.facebook.com/ PedroEstevesPhotography

N

asceu em Aveiro decorria o ano de 1976. Em 2007 concluiu o curso superior de Gestão de Marketing no Instituo Português de Administração e Marketing de Aveiro, ficando habilitado com o grau de licenciado. Em 2008 frequenta o workshop de Composição em Fotografia no Instituto Português de Fotografia do Porto. Em Março de 2010 terminou o Curso Profissional de Fotografia no Instituto Português de Fotografia (IPF) – Porto. 2010,

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Debaixo de estrelas

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estágio curricular com o fotógrafo António Pedrosa. Janeiro de 2011, Workshop – Masterclass de montagem e comissariado de exposições fotográficas. Abril 2012 convidado para apresentar o portfólio no âmbito das “Conversas sobre Fotografia”. Ciclo de apresentações organizado pelo IPF (Instituto Português de Fotografia) e a Fnac. Nos últimos anos tem recebido diversos prémios em concursos nacionais e internacionais de fotografia.

Lago de nuvens

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Véu branco


Chegou o inverno

Mar de nuvens ZIMBRO - MARÇO 2014


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fotografia Hugo Figueiredo


Satyrus

actaea (Esper, 1781), lepidóptero diurno pertencente à família Nymphalidae (subfamília Satyrinae), apresenta uma distribuição europeia, abrangendo a Península Ibérica, França e Itália. Em Portugal é no Parque Natural da Serra da Estrela onde a sua abundância é maior, ocorrendo também no Parque Natural de Montesinho. Em Espanha abrange quase a totalidade do território, no Sul de França ocorre entre os Pirenéus e os Alpes e em Itália só é conhecida nos Alpes.

Bromus, Festuca e Poa. A crisálida é de tom avermelhado e fica ligeiramente enterrada no solo. Encontra-se na serra da Estrela a partir dos 1200m até ao topo, com maior abundância em prados de cervunal, mas também em áreas de vegetação arbustiva e encostas rochosas. Voa entre meados de Julho até início de Setembro numa única geração. Segundo The IUCN Red List of Threatened Species foi-lhe atribuído o estatuto de conservação de LC (Least Concern), uma vez que nos últimos 10 anos não houve um declínio acima dos 25% e as populações na Europa estão consideradas acima dos 10 000 indivíduos numa área superior a 20 000 km². É de notar que os locais onde a espécie ocorre em Portugal são abrangidos por áreas protegidas.

Na serra da Estrela esta espécie terá sido encontrada pelo conde de Hoffmansegg no início do século XIX, tendo Ochesenheimer classificado os exemplares que este lhe enviou como uma espécie distinta da S. actaea. Posteriormente, em 1882, A. A. Carvalho Monteiro descreveu-a como variedade mattozoi e finalmente Cândido Mendes, em 1910, como variedade monteiroi (Mendes, Referências bibliográficas 1910). Mendes, C., 1910. Satyrus actea Esp. (Lepid.) da Serra da Estrella. Brotéria: Série zoológica, As faces superiores das asas são de castanho- IX, 1: 60-66. escuro, com um ocelo na asa anterior nos Maravalhas, E., 2003. As Borboletas de machos e dois nas fêmeas, sendo estas de Portugal. Apollo Books, 455 pp. maior tamanho, face inferior variegada (tons IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened castanhos e cinzentos), com uma envergadura Species. Version 2013.2. <www.iucnredlist. entre 40 e 47mm. org>. Consultado a 9 de Março 2014. A lagarta é cinzenta, hiberna no solo e alimentase de gramíneas dos géneros Brachypodium,

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A polémica gerada à volta da ribeira das Cortes, a

jusante das Penhas da Saúde, continua a alimentar tensões entre os que são contra e os que estão a favor. A construção de barragens no leito de um rio são sempre garrotes que os atrofia e, por isso, a discussão deve ser franca e procurar envolver, sem subterfúgios, todos os interesses, o que me parece não ter sido o caso desta proposta barragem. Daí que não seja muito saudável ouvir ou ler dos que vivem na cidade algo que rebaixe ou minimize quem vive numa pequena aldeia, quando é sabido que o corte de água, através de uma barragem, vai penalizar e muito, os habitantes que vivem a jusante, como é o caso da Bouça, Cortes do Meio e muitas outras que se localizam a jusante da anunciada albufeira. Analisemos o processo para a construção da albufeira na ribeira das Cortes. Na década de 90, a Câmara Municipal da Covilhã, decide mandar elaborar estudos para a construção de uma barragem na ribeira das Cortes, com o objectivo de procurar resolver carências de abastecimento à população que, em anos de seca, já se faziam sentir na cidade e no concelho. É um dever de qualquer município uma vez que lhe compete garantir em quantidade e qualidade a água à sua população. A falta de água para o abastecimento público foi sendo colmatada através da abertura de poços nas margens do rio Zêzere e, também, através do aproveitamento de, aproximadamente, 30 nascentes e minas, na encosta sobranceira à cidade da Covilhã e de uma captação na ribeira das Cortes, através de bombagem. Devo salientar

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o factor negativo que tem para o ambiente e a biodiversidade, bem como para o aumento do risco de incêndio, a retirada desta água do seu meio natural para o sistema de abastecimento público. Apesar dos estudos da barragem garantirem que, todos estes sistemas de captação, é para serem desactivados após estar concretizado o abastecimento pela albufeira, voltando assim a água ao meio natural, a realidade tem demonstrado que a maioria das vezes os compromissos não passam de letra morta. O primeiro estudo para a construção de uma nova barragem localizava-a a jusante das últimas moradias existentes, no local onde posteriormente foi aberto um acesso e instalado um sistema de captação com bombagem (no estudo mais actualizado é referenciado como solução B). Uma leitura mais cuidada dos estudos deixa transparecer algumas lacunas que podem induzir em erro quem os lê já que se sugere uma opção que não corresponde com os factos e a realidade do meio. A opção A, que a COBA seleciona como a melhor, é referida como tendo um plano de água com 10,9 km2, e uma capacidade de armazenamento de 2,20 hm3 enquanto a solução B é referida como tendo uma área de 13,3 km2 e um volume de armazenamento de 2,28 hm3. Ou seja, o estudo revela que a opção B armazena mais 0,8 hm3, o que é muito significativo, mas troca as áreas dos planos de água como se pode ver pelas imagens da figura 1. Tomando como certo o erro, a área da opção B é menor e ainda armazena mais 0,8 hm3


Na sobreposição das duas opções, A e B pode verificar-se que o plano de água da opção A é maior mas a sua capacidade de armazenamento, substancialmente, inferior que a opção B.

que a opção A o que é perfeitamente compreensível para quem conhece a área. O estudo revela outras imprecisões quando, no tocante aos impactes, admite que globalmente as duas opções são muito similares para depois considerar como negativos alguns elementos (do ponto de vista da sua construção até poderão ser mais favoráveis), com impactes diretos (morfologia, áreas classificadas, densidade da vegetação e qualidade da água) e indiretos potencialmente acrescidos (qualidade da água e perturbação devida às obras).,quando é precisamente o

contrário conforme se pode verificar in loco. Enquanto na solução A toda a área a inundar é rica em galeria ripícola, o mesmo não acontece com a opção B. Os efeitos causados pelas obras, apesar de idênticos, são mais negativos a montante (A) porque abrangem uma maior área de intervenção e atingem uma maior distância de leito que em, (B). O estudo não refere, por exemplo, a maior capacidade da bacia em B do que em A, para além de ignorar um apreciável afluente onde está agora a captação.

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Fig. 2 Nesta imagem do Google Earth, pode ficar-se com uma ideia dos planos de águas de ambas as barragens.

A única vantagem que consigo absorver na escolha da COBA, reside na distância dos adutores para levar a água à Estação de Tratamento de Água (ETA) do Pião 5,6 km (noutra parte do estudo

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referem-se cerca de 10 km (?), enquanto para a ETA da Varanda dos Carquejais se ficam pelos 1,2 km, neste caso com necessidade de uma cota superior, daí a opção A. O estudo não refere, no entanto,


os custos indemnizatórios se a opção recair em A muito mais, onerosos, porque envolvem habitações e uma maior área, ao invés da solução B onde não existem habitações, menos área de intervenção e de muito menos valor económico. Atendendo, exclusivamente, às duas opções em análise, do ponto de vista do impacto visual não tenho a mínima dúvida que a solução B é aquela que causa menos agressividade, tendo em consideração que os aspectos negativos não são causados pela massa de água mas sim pelo coroamento da barragem. É óbvio que não me estou a referir aos aspectos, extremamente negativos, que causam as albufeiras da Serra, quando na época do estio se encontram com os níveis da água muito abaixo do Nível Pleno de Armazenamento (NPA) ou mesmo sem água nenhuma o que causa um aspecto muito desolador. É uma questão que poderia ser resolvida, por consenso, para se parar a produção logo que diminua o caudal para o armazenamento, até para manter uma disponibilidade de água para o combate aos incêndios. Penso que a melhor solução para resolver o problema do abastecimento de água, por gravidade, ao concelho da Covilhã poderia ser encontrada na actual albufeira da Cova do Viriato. Com o seu

alteamento, desassoreamento e até alongamento para montante, podia ser a alternativa mais interessante, quer do ponto de vista ambiental quer dos custos. Se tecnicamente essa solução se revelar improvável devem procurar-se outras alternativas que não passem pela opção A. Por exemplo, penso que poderia ser equacionada a hipótese de transferir a água da ribeira das Cortes, sem qualquer barragem, apenas um pequeníssimo açude para captar a água quando ela é abundante, conduzi-la para várias lagos artificiais, que possibilitassem o encaminhamento para as referidas ETAs. Desta forma aproveitavase a água quando não faz falta a ninguém, pelo contrário até será benéfico para toda a gente que se reduza o caudal. Por outro lado o concelho fica mais protegido pela proliferação de pontos de água para o combate aos fogos. É claro que, esta possibilidade, requere uma exploração rigorosa de toda a área e implica a mobilização de solo, a altitudes muito mais baixas, praticamente na zona urbana. Se se fazem campos de futebol com 120x90 metros não vejo porque, numa situação destas, não se encare com mais apreço uma intervenção que resolva problemas básicos para a população.

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IAcampamento Historia Natural de

da

Serra da Estrela Semana científica

2014

Organização

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ASE

Parceria

seia


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