Dezembro 2015
ÁGUAS DA MONTANHA É SINAL DE PUREZA? AMAP UM NOVO MODELO QUE COMPROVA QUE EXISTEM ALTERNATIVAS
A Estrela da Serra: O Passado de um Topónimo PROJECTO LIFE TAXUS
FICHA TÉCNICA
Edição de Dezembro de 2015
A “ZIMBRO” é editada pela Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela com distribuição é gratuita. Os artigos de opinião são da responsabilidade dos seus autores.
Director José Maria Serra Saraiva (presidente da ASE) Corpo redactorial Tiago Pais José Amoreira Rómulo Machado Layout e Paginação Bruno Veiga
4. Editorial
José Maria Serra Saraiva
6. 10. 12.
Águas da montanha é sinal de pureza?
António José Alçada
Conferência de Paris
Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações climáticas (COP21).
A “Música Nova” Baú das Memórias
14. 18. 24. 28. 38.
Colaboraram neste número José Maria Serra Saraiva António José Alçada Pedro Rocha Fabio Silva Bruno Veiga
AMAP - Um novo modelo que comprova que existem alternativas
Pedro Rocha
Conservação da Natureza
Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
Projecto Life Taxus
Restaurar Bosquestes de Teixo
A Estrela da Serra: O passado de um Topónimo
Fabio Silva Institute of Archaeology, University College London, Reino Unido
Projecto para a valorização das potencialidades turisticas do Vale do Beijames Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
40.
Fotografia de capa Bruno Veiga www.brunoveiga.com/photography
Reconhecimento Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
Sede e redacção: Rua General Póvoas, 7 - 1º 6260 - 173 MANTEIGAS www.asestrela.org ASE: asestrela@gmail.com Redacção: info@asestrela.org
EDITORIAL
José Maria Serra Saraiva
Zimbro
A caminho dos 40 anos da data da criação do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), valerá a pena reflectir sobre se esta instituição mereceu a Serra da Estrela e se os pressupostos originários que justificaram a sua criação têm vindo a ser cumpridos. Fundamentado num conjunto de realidades e valores que a Serra da Estrela possuía, o Decreto-Lei nº 557/76 de 16 de Julho dá suporte legislativo ao PNSE, declarando que “O maciço da Serra da Estrela constitui uma região de característica economia de montanha, onde vive uma população rural que conserva hábitos e formas de cultura local que interessa acautelar e promover.” Talvez não seja despropositado o facto de no site do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) se referir apenas “uma região de característica economia de montanha”, menosprezando “onde vive uma população rural que conserva hábitos e formas de cultura local que interessa acautelar e promover.” Tal supressão de texto confirma a orientação que tem vindo a ser observada e sentida pelas populações locais, ou seja, o afastamento do PNSE enquanto instituição das pessoas e da realidade serrana. Tal atitude tem sido um erro que nunca foi corrigido e que se acentuou com o decorrer dos anos. Apesar da paisagem da Serra da Estrela ser um forte convite à reflexão, ela não foi suficientemente eficaz para contrariar a tendência que o País, do Minho ao Algarve, exprime no ditado – Lisboa é Portugal e o resto é…, sendo evidente quanto de verdade neste aforismo tem sido posto em prática uma vez que é quase nada o que se decide na Serra. É voz do Povo que quando algo nasce torto tarde ou nunca se endireita. Quando nos primórdios do PNSE se colocou a questão da localização da sua Sede, houve fortes pressões por parte de alguns concelhos com peso político que se posicionaram para conseguir esse desígnio. O Concelho de Manteigas tinha importância pelos valores naturais do seu território, já que era o único cujo território se situava integralmente no interior do PNSE, mas não possuía, no entanto, peso político e por isso não entrou no “jogo” dos concorrentes. A escolha de Manteigas para Sede do Parque Natural da Serra da Estrela foi uma forma simpática para evitar a “guerra” com os demais concelhos. Se
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“O maciço da Serra da Estrela constitui uma região de característica economia de montanha, onde vive uma população rural que conserva hábitos e formas de cultura local que interessa acautelar e promover.” Foto por Bruno Veiga
a solução tivesse ficado por aqui, o processo tinha sido fechado com chave de ouro. Mas não, era preciso compensar os derrotados e para tal repartiu-se o “mal pelas aldeias” (neste caso, as pretensas mais-valias) e montou-se uma estrutura que acabaria por destruir toda a capacidade orgânica de funcionamento eficaz. Ou seja, toda a energia que o PNSE necessitava para pôr em prática os objectivos que justificaram a sua criação, era gasta com a sua estrutura dispersa, nunca se conseguindo ultrapassar esta anacrónica realidade. Presentemente a situação entra ainda mais em conflito com os desígnios programados de outrora porque o PNSE esfumou-se, ou seja, não se dá pela sua presença e actividade. O seu responsável máximo reside em Viseu e passará o tempo a servir de “caixeiro-viajante” rodando de a Área para Área sem possibilidade de saber o que se passa em cada uma.
O sentimento das pessoas que vivem na Serra da Estrela é de revolta face à agressividade que vem sendo observada e já por diversas vezes foi denunciada pela ASE, por parte do pessoal técnico, que revela uma profunda ignorância das práticas ancestrais na agricultura e pastorícia que deviam proteger e valorizar, em vez de reprimir e autuar. Por tudo o que foi dito e pela atitude negativa e errada que os responsáveis pelo Parque Natural da Serra da Estrela têm vindo a adoptar contra quem pratica o montanhismo, cujos exemplos de conduta deveriam servir de orgulho a qualquer dirigente que tenha apreço pela conservação do espaço natural sob a sua responsabilidade, estamos conscientes das nossas razões para que evoquemos cada vez mais o nome da Serra da Estrela esperando que o PNSE venha um dia a merecê-la!
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Águas da montanha é sinal de pureza? Foi com muito gosto que acedi ao convite da ASE em escrever um pouco sobre a minha experiencia na exploração de sistemas de abastecimento público de água na zona serrana, mais concretamente em Manteigas. Quando cá cheguei em 2005, em pleno período de seca, fui confrontado com a qualidade da água proveniente da Fonte Paulo Luis Martins. Nunca imaginaria tal coisa porque desde o tempo dos meus avós que ouvia que a água da serra era sinonimo de pureza. E, efetivamente, das 18 captações que servem Manteigas apenas a Fonte Paulo Luis Martins apresentava incumprimentos. O problema só surgiu com a alteração legislativa sobre a qualidade da água para consumo humano, concretamente com o Decreto-lei 243/2001. Até à data, os parâmetros de qualidade eram cumpridos, embora aparecesse alguns vestígios de Arsénio (variava entre os 12 e os 15µg/l).
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Águas da montanha é sinal de pureza? - Coagulação/filtração – tratamento convencional para coagular o arsénio; - Alumina ativada – elimina o arsénio da água por adsorção com alumina; - Osmose inversa - sistema de agua em pressão, passando através de um filtro membrana retendo o Arsénio - Troca iónica – o arsénio é adsorvido por uma resina, sendo esta periodicamente regenerada com solução de clorito de sódio; - Oxidação/filtração – oxidação seguida de filtração. Foram efetuados ensaios laboratoriais de oxidação com Hipoclorito de Sódio e com oxidação com Dióxido de Cloro, recorrendo posteriormente à filtração com areia e também à coagulação com sal de Alumínio, tendo-se obtido, em ambos os processos, valores residuais de Arsénio na água.
Foto por Bruno Veiga
O problema era tecnicamente complexo. A estação de Tratamento de Agua tinha pouco espaço para ampliações e os pareceres de especialistas apontavam para soluções insustentáveis. Com poucos recursos financeiros abracei este objetivo como vital, tendo recorrido à ajuda de uma colega especialista em química, a Dra. Silvia Cardoso, e a um especialista em geologia, o Dr. Paulo Carvalho. Primeiro estudámos o motivo da presença do Arsénio: efetivamente o contacto da água com a rocha, mais concretamente complexos xistograuváquico ante-ordovício com mineralizações ricas em Arsénio, confirmando-se assim a origem do problema. A Fonte Paulo Luis Martins está assente na falha da Vilariça, que vai de Bragança a Manteigas, predominando
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sedimentos xistos grauvaques, que em contacto com a água percolada transmite Arsénio. No entanto esta reação pode ocorrer muitos quilómetros a montante da Serra da Estrela, mais concretamente nos xistos grauvaques da bacia do Douro. Um dado interessante era, que em período seco, os níveis de Arsénio subiam tendo-se registado valores record em 2005. O facto deviase ao aumento do tempo de contacto da água com a rocha, uma vez que as velocidades de escoamento baixavam. Era mesmo necessário resolver o problema. Foi-nos autorizado um orçamento reduzido e tínhamos um desafio pela frente. A primeira ação foi ver como quimicamente se podia remover o Arsénio da água. Os processos que encontramos foram:
“Até à data, os parâmetros de qualidade eram cumpridos, embora aparecesse alguns vestígios de Arsénio”
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suspensão na água. Continuamos à procura e consultamos empresas no estrangeiro, tendo-se finalmente encontrando um meio filtrante à base de Óxido de Ferro, próprio para tratamento de água e que não alterava a turvação da água tratada. Com a colaboração da manutenção, construi-se uma estrutura e um sistema hidráulico, tendo-se adquirido um filtro e o respetivo meio filtrante em Oxido de Ferro, ao fornecedor encontrado. Conseguiu-se assim resolver um problema aparentemente complexo, e com custos associados abaixo do orçamento aprovado. O projeto foi amplamente vzdivulgado, nomeadamente em encontros nacionais de tratamento de águas para consumo humano, como o ENASB e o Congresso Nacional da Agua, e, com a colaboração do Prof. António Sampaio Duarte, da Universidade do Minho, foi esta investigação foi publicada na revista “Sustainability”, na edição 2009-1-1288-1304, tendo já sido referenciado mundialmente por 4 vezes. António José Alçada, Msc em Hidráulica e Recursos Hídricos.
Porem, a implementação de um sistema de tratamento que contemplasse uma destas soluções na atual Estação de Tratamento de Agua, não foi possível, em face das condicionantes já mencionadas. Ainda foram feitas experiências com meios técnicos que tínhamos, mas os resultados não foram satisfatórios. Assim sendo alterou-se a opção e tentou-se o processo de Adsorção com Oxido de Ferro. Foram igualmente efetuadas experiencias laboratoriais e obtiveram-se resultados ainda melhores. Os vestígios de Arsénio eram da ordem de 1µg/l. A solução estaria encontrada. Porem no mercado os produtos de Oxido de Ferro não eram adequados ao tratamento de água potável, uma vez qua a granolumetria ficava em ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Temos vindo, no âmbito da ASE, a fazer todos os esforços para dar o nosso contributo à escala da Serra da Estrela.
Conferência de Paris (COP21) Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações climáticas (COP21). Paris foi palco, durante o Mês de Dezembro,
da Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações climáticas (COP21). O acordo final, celebrado pelas 192 nações representadas pode ser consultado em http:// unfccc.int/resource/docs/2015/cop21/eng/l09r01. pdf aponta por conter o aquecimento global abaixo dos 2 graus Celsius, procurando limitá-lo ao 1,5, prevendo uma verba de 100 bilhões de dólares por ano para os países em desenvolvimento, com início em 2020. Negociar um acordo envolvendo quase duas centenas de Estados, é de uma complexidade que envolve questões internas de cada membro, da economia, ao crescimento e desenvolvimento, à segurança e independência das suas Nações. As conclusões da Conferência não tranquilizaram o movimento ecologista por considerar não ter sido suficientemente ambiciosa face à gravidade das alterações climáticas que ameaçam, a vida do planeta. A complexidade interna de cada país face aos problemas que as alterações do clima originam, só poderão ser ultrapassados com um despertar consciente dos cidadãos de cada Estado em confrontar os seus governos para políticas ambientais que eliminem o consumo energético baseado em combustíveis fósseis, em políticas que garantam a sustentabilidade das florestas, aposta em transportes públicos mais eficientes, não ignorando as questões da água e do apoio à manutenção das populações nos seus espaços naturais, para destacar as mais relevantes. Preocupados com as alterações do clima, temos vindo, no âmbito da ASE, a fazer todos os esforços para dar o nosso contributo à escala da Serra da Estrela. É assim com as propostas a defender o encerramento da estrada da Torre, que a ser aceite implicaria retirar o trânsito do ponto mais elevado da Serra da Estrela; o fim da aplicação de sal-gema, que funde milhares de metros cúbicos de neve que tão necessária é
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para o reabastecimento dos lençóis freáticos; garantia de melhor qualidade da água (como é do conhecimento público existem análises feitas por organismos credíveis que apontam para elevados níveis de cloreto de sódio); campanhas, de florestação, preferencialmente em zonas de altitude; políticas de turismo mais sustentáveis
que tenham um retorno mais vantajoso para as populações residentes; medidas de conservação de minimizem os riscos de erosão dos solos. A próxima Conferência do Clima irá acontecer na cidade de Marraquexe – Marrocos, em Novembro de 2016.
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A “Música Nova” privado de trabalho pelo encerramento das fábricas. Entretanto duas novas surgiram mas numa escala de empregabilidade muito inferior. Dificilmente os namorados terão hoje a coragem de por em causa a continuidade das “suas” moças na Banda. A escola tem cada vez menos crianças e sem elas não há futuro! A Música Nova tem sede e Mestre novos, e goza de boa saúde. A Filomena, quem sabe se pelos ares oxigenados, das caminhadas que fez pela Serra da Estrela, e pela sua força de vontade, surpreendeu-nos através da escrita. Com mais de uma dezena de livros editados e dois prémios: - A Sopa (2004) — com o qual ganhou o Grande Prémio de Literatura DST; A Cova do Lagarto (2007) — galardoado com o Grande Prémio de Romance e Novela APE/DGLB
“A Música Nova tem sede e Mestre novos, e goza de boa saúde.”
A “Música Nova” Baú das Memórias
Fomos ao baú das memórias e demos com este belo texto da nossa associada, Filomena Marona Beja, escrito em 1985, por ocasião da realização da 7ª Marcha e 7º Acampamento Nacionais de Montanha, no Covão da Ponte, organização da responsabilidade da nossa Associação. ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Passaram-se 30 anos desde que a Filomena fez este belo retrato de momentos de grande envolvimento cultural com a natureza plena. Comparar alguns detalhes do texto com a actualidade permitem desde logo avaliar o que mudou, localmente neste curto espaço de tempo. Desde logo quem era operário têxtil viu-se
Foi no fim do dia, no Covão da Ponte, num concerto improvisado entre as últimas árvores da mata serrana e o rio. Résteas de sol confundiam, num reflexo único, músicos e instrumentos. No anonimato dos clarinetes, dos trompetes, da percussão, duas ou três gerações de músicos faziam arte. Vieram à grande festa da Montanha tocar Mozart e outros clássicos muito clássicos, também Johon Lenon e Paul McCartney. Tocaram e encantaram; alertaramse sensibilidades, aquietou-se o bulício do acampamento, mais pessoas sentaram-se no chão e ficaram a ouvir. São cerca de cinquenta artistas; quando a banda recolhe voltam ao campo, à fábrica, à escola. Na Música Nova (*) pais e filhos aprenderam as “notas” e o instrumento, sonharam com belas partituras, com concertos de orquestras desconhecidas, com longínquos festivais.
Talvez marginalizados pelos centros nacionais de cultura eles são grandes, no mundo sem fronteiras do saber popular. Toda a Beira, e muitas outras regiões do país, os solicitam, disputam até. Estão em festas, espectáculos, encontros; são notícias na Imprensa Regional. Permanecem modestos e disciplinados, não faltam aos ensaios, mais do que o êxito continuam a amar a música. Os mais pequenos (impecáveis de compostura) são o João Paulo – 12 anos, na 3ª classe – e o Sérgio – 8 anos, 2ª classe – que 90 lições de solfejo puseram a ler música antes de saberem as letras. O Sr. António Almeida é dos mais antigos: operário reformado, camponês até morrer, 59 anos de vida, 25 de música. Bonitas, airosas no fardamento, a Lúcia de 17 anos e a Natércia de 16, operárias têxteis, são as únicas raparigas. Já foram 12, todas boas executantes, todas muito estimadas pelos colegas, mas umas casaram outras foram proibidas de continuar, pelos namorados… Com gestos seguros o Maestro José Dias dá instruções para a última peça. O Mestre (**) é um tecelão de 32 anos, auto-didata na música, sempre no caminho da valorização e do aperfeiçoamento. Irrompe o ritmo de jazz; vibra na ramaria, na água, nas fragas e nas nossas mãos. Impunemente os mosquitos do entardecer transformaram em estação de serviço, executantes e ouvintes. Há um solo de trompete, há mais força em todos os metais e nas palmas a compasso. Ninguém improvisa mas todos criam e recriam beleza. Mais uma maravilha da Serra da Estrela, esta Música Nova, de Manteigas. Filomena Junho, 1985 (*) Nome carinhoso por que é conhecida a Filarmónica Popular Manteiguense, fundada em 1877. (**) A forma popular da palavra tem o mesmo valor da erudita. ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
AMAP - UM NOVO MODELO QUE COMPROVA QUE EXISTEM ALTERNATIVAS O alimento é o pilar central das sociedades, é o sustento do corpo humano, que apenas saciado permite que nos expressemos como artistas, seres criativos e livres, como já nos dizia Agostinho da Silva. A importância dos alimentos é central, é a base da liberdade e com essa consciência todos os movimentos ligados às questões de Soberania Alimentar consideram que os bens alimentares não devem ser tratados como mercadoria. Alimento é um direito e cabe à comunidade civil, controlar onde é produzido, como é produzido, como é distribuído e consumido e qual o destino do lucro ou seu beneficio.
AMAP UM NOVO MODELO QUE COMPROVA QUE EXISTEM ALTERNATIVAS Pedro Rocha* Dia nove de Setembro em Berlim, decorreu o encontro Europeu das AMAP (Associação para a Manutenção da Agricultura de Proximidade), organizado pela agência Internacional URGENCI. Nos mesmos dias que decorria o Congresso Solikon, mesmo ali ao lado, sobre economia solidária. Apareceram quase mil pessoas de todos os cantos da europa. Falou-se de economia solidária, de novos modelos socioeconómicos, de democracia participativa, de soberania alimentar, software livre, etc. Apresentaram-se caso práticos de sucesso, casos iguais aos que dizem ser utópicos num mundo moderno, e quem lá esteve sabe que a alternativa existe, está em marcha e é viável.
Mas falta ganhar mais visibilidade, continuar a crescer, ser pragmático e ao mesmo tempo ser cuidadoso para que o crescimento não traga a subversão dos modelos apresentados. Dentro do encontro Europeu das AMAP chegou-se à ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
conclusão que não nos podemos esconder mais. Somos um milhão e meio de pessoas em todo o mundo e em rápido crescimento e por isso trabalhou-se na primeira declaração europeia das AMAP. Agora, essa mesma declaração é apresentada e discutida em Portugal, naquele que será o primeiro encontro nacional das AMAP. Em Portugal este modelo alternativo de relação entre consumidores e produtor é ainda desconhecido do público, mas alguns novos produtores, assim como redes, organizações e colectivos demonstram grande interesse no seu desenvolvimento. Com este encontro lançamos o desafio para a criação de uma dinâmica de âmbito nacional com o objectivo de promover, desenvolver e implementar o modelo das AMAP em Portugal. “A economia solidária é utópica a não ser que asseguremos, em primeiro lugar, a soberania alimentar”.
Numa frase: - Os, alimentos são um bem público, não privado, nem do Estado! As AMAP (Associação para a Manutenção da Agricultura de Proximidade), também conhecidas como CSA (Community Supported Agriculture), é apenas um dos modelos sócioeconómicos que responde à necessidade de atingir a soberania alimentar, sendo porventura a solução que o tem feito da forma mais eficiente e genuína. Ou seja, passando para as pessoas o poder de participar ativamente nos processos de produção, distribuição e acesso (comercialização), dos seus alimentos. Um modelo sócio-económico que na sua definição, como é proposto na Declaração Europeia de Berlim, fala em escala humana, parceria direta, partilha e relação de longo prazo. “Associação para a Manutenção da Agricultura de Proximidade (AMAP) é uma parceria direta, baseada na relação humana entre o grupo de consumidores e um ou mais produtores, onde os riscos, responsabilidades e recompensas da produção agrícola são partilhadas, através do estabelecimento de uma ligação de longa duração” No movimento europeu para as AMAP, não se conhecem representantes, títulos ou cargos.
Pedro Rocha
Os participantes são mandatados pelas bases e resumem-se a veículos de comunicação, expressando a realidade local, presente na sua origem. Sendo mandatados, o trabalho desenvolvido tem de regressar à base, para que novamente seja exposto e apenas depois disso poderá haver uma verdadeira Declaração Europeia, que seja representativa de todo o Movimento e onde todos se possam rever. De facto é um processo longo, demasiado para um mundo que gira cada vez mais rápido. Mas a mesma velocidade que nos faz avançar, trai a nossa essência. Somos seres sociais e a solidariedade apenas se revela quando mantemos a escala humana. Por isso amamos os que nos são mais próximos, por isso ajudamos todos os amigos, por isso contribuímos para o nosso bairro. Dito isto e resumindo, somos solidários, partilhamos responsabilidades e riscos, participamos, quando conhecemos o destinatário das nossas ações. O segredo das AMAP tem sido o saber multiplicar-se, preservando uma escala pequena a nível local e atuando como movimento crescente à escala global. Essa é a receita do seu sucesso, essa a formula que permite que todos se sintam incluídos, que todos participem. Desde os anos 70 que o conceito foi sendo desenvolvido, mas é a partir do inicio deste Século que realmente surge a cada ano com mais força. Em França em 15 anos surgiram mais de 1500 grupos de consumidores dentro do modelo AMAP e existem mais de 300 000 pessoas ligadas ao movimento. Mais recentemente o modelo tem chegado a muitos países, como o BRASIL onde já existem 35 grupos e em PORTUGAL onde são conhecidos pelo menos 5 grupos. Depois de Berlim, cabe agora à Associação Moving Cause organizar o primeiro encontro Nacional das AMAP, onde o modelo será apresentado a coletividades, redes, organizações, produtores e consumidores em geral. Apresentaremos e discutiremos a declaração europeia, falaremos do modelo AMAP, da metodologia de criação de grupos ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
de consumidores e lançaremos a base para a criação da rede nacional. Este é o propósito do encontro, porque cá, em PORTUGAL, as alternativas também são possíveis, haja vontade, haja gente. Certamente existe.
COMIDA COM MENOS EMISSÕES Mais uma vez os líderes mundiais encontraramse para discutir as alterações climáticas. Mais uma vez o consenso sobre a necessidade de actuar aumenta, assim como as evidencias. Mais uma vez os discursos são vazios de acção. Nenhum discurso faz reduzir as emissões de dióxido de carbono. Nenhuma palavra fará os problemas climáticos se resolverem. Enquanto os líderes de cada país continuarem a defender os seus interesses individuais, toda e qualquer cimeira estará condenada ao fracasso. Apenas o colectivo interessa. Não o colectivo da humanidade, mas sim de toda a vida no planeta. Mas não nos façamos depender das decisões dos líderes políticos. Não nos desresponsabilizemos daquilo que está unicamente nas nossas mãos.
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Cada um de nós tem um poder incalculável de mudança. Tudo começa pela simples decisão daquilo que escolhemos comer. Como dizia um amigo, o primeiro acto consciente do dia começa ao pequeno-almoço. A indústria agro-alimentar é uma das maiores poluidoras do planeta, consequência dos milhões de toneladas de pesticidas que são produzidos e aplicados na agricultura, poluindo ar, água, solo, o nosso organismo e todos os outros seres vivos. A produção em grande escala, em localizações distantes da fonte de consumo, obriga ao uso intenso de transporte, armazenamento e refrigeração, implicando gastos energéticos significativos. A política da prateleira cheia para encher o olho, dos preços baixos, para vender mais, provoca apenas desperdício de comida, de energia e uma distribuição injusta dos bens alimentares. Toda a cadeia de distribuição alimentar é arcaica e de uma paupérrima eficiência energética. Contudo, nada nos impede de optar por soluções mais eficientes e mais sustentáveis. A decisão está em cada um de nós. Quem nos impede de ter um sumo de laranja ao pequenoalmoço, com as laranjas da região? Quem
nos impede de optar pelos alimentos que são produzidos localmente? O argumento do preço, não convence, não chega e está errado. Pagamos menos no imediato, mas muito mais depois, com o flagelo do desemprego, com as alterações climáticas e com os problemas de saúde que uma agricultura irresponsável e eticamente condenável nos trás. Afinal, qual o valor que damos à vida? Na cimeira pelo clima, não se fala apenas da humanidade, mas sim da vida no Planeta, que não é propriedade de ninguém, mas que cabe à espécie humana preservar. Conheço produtores dispostos a trabalhar diretamente para os consumidores, dispostos a converter as suas explorações para o modo de produção biológica, dispostos a responder a uma solução mais eficiente e sustentável. A decisão está nas mãos do consumidor, a mudança de hábitos alimentares e nas escolhas, no acto de compra, dos alimentos que é diária e não depende de decisão superior. Se existe acto político que contribui para mudar o mundo, esse encontra-se presente a cada momento que abrimos a boca para nos alimentar.
*Pedro Rocha Nasceu em 1976 em Espinho - Portugal, mas foi entre as praias da Aguda e os campos de Arcozelo que cresceu. No ano de 2000 concluí o Curso de Ciências do Ambiente e Poluição na Universidade de South Wales no Reino Unido. Ainda como estudante frequenta o Departamento de Proteção Ambiental da Politechnika Wroclawska. No mesmo ano, inicia atividade profissional na consultora alemã Hydroplan GmbH, sendo consultor no projeto de desenvolvimento rural em Cabo Verde. Em 2005 inicia o projeto de agricultura biológica Raízes, na produção e distribuição de produtos biológicos, do qual ainda é sócio. Desde 2014 dedica-se à prestação serviços como agricultor urbano e consultor, promovendo novos conceitos de relação entre consumidores e produtor.
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Às vezes basta um pouco de imaginação para que a Natureza se refaça
Conservação da Natureza Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
A ideia de que sem dinheiro não é possível
Vista do cimo do Cantaro Magro. Foto por Bruno Veiga
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
preservar a Natureza, não é totalmente verdadeira. Às vezes basta um pouco de imaginação para que a Natureza se refaça, não querendo com esta afirmação dar como adquirido que, em determinadas circunstâncias e dependendo de realidades muito concretas e da urgência na intervenção, não tenham de ser necessários investimentos financeiros para que se consigam resultados mais imediatos. Vem o tema da conservação da Natureza a propósito do que a este nível tem (ou não) sido feito na Serra da Estrela por quem tem essa responsabilidade. Se quisermos ser rigorosos e procurar saber que acções foram concretizadas nestes quase 40 anos que já soma a tutela da conservação – o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) – temos alguma dificuldade em encontrar casos dignos de registo. A retirada das barracas da Nave de Santo António; o encerramento do círculo das barracas postadas na rotunda da Torre onde se vendia quase tudo (peles de Grândola, louça do Redondo, queijo de que não se sabe a origem certificada e que na actualidade não diferirá muito do passado, exceptuando ao nível das instalações); os estudos científicos desenvolvidos por algumas Universidades e por investigadores a título individual; a recuperação de alguns edifícios com interesse patrimonial e pouco mais. Sobre as barracas clandestinas da Nave de Santo António, o processo da sua remoção coerciva foi facilitado por não haver uma única construção ilegal que fosse pertença de algum cidadão de Manteigas, concelho que detinha, e detém, a administração territorial daquela área, tendo sido a própria Comissão Administrativa (recorde-se que, após o 25 de Abril, os Municípios foram presididos por ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Foto 1 – Entrada Norte da Nave de Santo António, deixando clara a possibilidade de entrada das pessoas, através da pequena abertura, e o impedimento a viaturas com as cancelas.
estes Órgãos de transição) a exigir a sua erradicação. Só não se entende como é que foi possível brindar quem prevaricou, desfrutando durante alguns anos daquele ambiente, propondo-lhe como recompensa pelo abuso de ter usurpado um espaço comunitário, mudar de ares para as Penhas da Saúde!? Os cidadãos de Manteigas, cuja noção de cidadania tem sido exemplar uma vez que nunca abusaram construindo, clandestinamente, na Serra, tiveram como “prémio” a escolha da moreia glaciária da Lagoa Seca para aterro do entulho das construções que foram destruídas na Nave de Santo António! Curiosamente, algumas intervenções positivas ao nível da preservação ambiental na Serra da Estrela provieram mais de iniciativas pontuais e à margem da cúpula do PNSE, que nem delas se apercebeu e que são hoje um exemplo evidente de que é possível conservar, com pouco trabalho e sem gastar um cêntimo, bastando capacidade de iniciativa, imaginação e alguma ousadia contra quem “decide”. Muitas das pessoas que conhecem a Serra, pelo menos desde meados dos anos 80 ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Foto 2 - A colocação de pedras para evitar o acesso de viaturas. Vê-se o painel com informação sobre a Reserva Biogenética e o suporte para o recipiente do lixo.
das viaturas intrusas sobre a importância daquele magnífico local para que, decorrido apenas um ano, o Covão d’Ametade deixasse de ter carros. Também deixou de haver uma insignificante receita da cobrança das entradas dos mesmos... Lamentavelmente, o Covão d’Ametade
não tem merecido, da parte de quem tem responsabilidades sobre a sua gestão, a intervenção que merece no sentido de ser garantida a sua conservação e ao mesmo tempo que seja gerar riqueza para a região. O caso mais cómico sobre formas de gerir os processos de conservação passouse na Nave de Santo António. Uns anos depois das barracas terem sido demolidas os carros continuavam a invadir aquele espaço, pondo em causa a preservação do cervunal (pasto de altitude). Lembrou-se um técnico do PNSE que o melhor seria abrir, o que foi feito, valas nas duas entradas para a Nave. Se fosse necessário combater algum incêndio florestal naquela zona as viaturas ficavam impedidas de o fazer, incapacidade que originou protestos dos Serviços Florestais. A opção passou então por voltar a repor tudo como estava antes e colocar uns grandes blocos de granito a barrar as entradas, mantendo-se na mesma a questão do combate aos fogos. É aflitivo e desconcertante, de facto, conviver com estes métodos de gerir a conservação dos espaços naturais!
Foto 3 – Covão do Boi, em Dezembro de 2015
do século transacto, lembrar-se-ão de que era habitual, no período estival, o Covão d’Ametade estar apinhado de viaturas, de roulotes, algumas delas até com lugar marcado de ano para ano, com o PNSE a cobrar pela entrada dos veículos! À revelia da Direcção do PNSE e correndo o risco de sanção disciplinar (que esteve por um triz), bastou conversar com os proprietários
Foto 5 – Cruzamento da EN 339 com o ramal para a Torre
Foto 4 – Nesta imagem ainda são visíveis os cubos que a JAE colocou. ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Covão da Ametade
Foto por Luis Matosinhos
A questão foi resolvida conforme mostra a fotografia (1), sem custos e sem que superiormente se desse por isso! Covão do Boi era um local em risco de perder o cervunal com a constante invasão de carros, ficando conspurcado por todo o tipo de lixo deixado ali por merendeiros e por plásticos que o vento trazia e eram usados para deslizar na neve, sendo depois abandonados, como ainda hoje acontece. Não se podia culpabilizar as pessoas por entrarem naquele Covão com as viaturas porque quem fez a estrada teve o cuidado de preparar a entrada com calçada, em cubos, induzindo os automobilistas a fazê-lo. No Covão do Boi não foi necessário pedir aos visitantes para não entrarem com os automóveis que destruíam o cervunal: bastou colocar as pedras (foto 2) para impedir o seu acesso e limpar o espaço poluído pelos plásticos. Estes nocivos despejos para o meio ambiente ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
continuam a ser ali depositados pelo vento por incapacidade de controlo de quem os utiliza para deslizar na neve. Quanto à regeneração do cervum e demais espécies arbustivas foi esperar que a Natureza fizesse a sua parte. Também neste caso a iniciativa para preservação daquele espaço foi assumida à revelia da Direcção do Parque Natural. A foto mostra ainda o painel informativo do PNSE sobre a Reserva Biogenética e um suporte em ferro para fixar o recipiente para o lixo. O Parque Natural ainda não evoluiu para a necessidade de serem os turistas a levar os seus resíduos até onde haja recolha (zonas urbanas) dos mesmos. Em vez dessa postura pedagógica optou por montar um sistema de recolha de lixo, substituindo-se às Autarquias, mas que deixou de funcionar por se tornar financeiramente insuportável. Para não falar da passagem de 3 profissionais, qualificados para trabalhar na área da conservação, os quais se viram
assim preteridos dessa função para passarem a conduzir durante anos uma viatura de recolha do lixo! O resultado da intervenção não autorizada no Covão do Boi, passados vinte anos, pode ser observado nas fotos (3 e 4). Na foto 4 são visíveis os cubos de granito que a antiga Junta Autónoma de Estradas (JAE) colocou para permitir o acesso das viaturas, quase cobertos pelo avanço do cervunal – a Natureza a regenerar-se! medida que se vai subindo a Serra a quantidade de disparates aumenta e tais evidências revelam a incompetência em lidar com alguns processos de gestão no Planalto Superior da Serra da Estrela. A última foto (5) foi tirada no cruzamento da EN 339 com o ramal para a Torre. Neste local sempre se depositou bastante neve que era arrastada pelo vento, chegando a ultrapassar os postes de orientação que têm uns
6 metros de altura. Tal já não vem acontecendo porque a queda de neve tem vindo a diminuir. Do ponto de vista do Centro de Limpeza da Neve, que tem a missão de manter a via desobstruída e em boas condições de circulação, a solução foi rebaixar os estratos de granito adjacentes à via evitando assim uma deposição de neve tão alta, facilitando desse modo o trabalho. Do ponto de vista ecológico e turístico não podiam ter feito pior e as culpas terão que ser imputadas ao Parque Natural da Serra da Estrela por ter permitido que tal disparate tivesse sido consumado. Uma vez mais se confirma que a estrada que rasga a Serra da Estrela, no seu ponto mais elevado, foi o maior erro e aquele que, a não ser corrigido, irá colocar em risco o turismo, a boa conservação natural e o desenvolvimento socioeconómico da região.
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Projecto Life Taxus Restaurar Bosquestes de Teixo [9580* Florestas Mediterrânicas de Taxus Baccata] LIFE 12 NAT/PT/000950
Está a decorrer desde julho de 2013 o projeto
LIFE TAXUS – Restaurar bosquetes de teixo [9580* Florestas mediterrânicas de Taxus baccata cujo objetivo central consiste em contribuir para a recuperação deste habitat prioritário, de forma a manter a diversidade do mosaico florestal, melhorando as áreas existentes e incrementando a área de ocupação na Rede Natura 2000. De forma a alcançar este objetivo, têm sido dinamizadas diversas ações concretas no terreno, assim como iniciativas de divulgação nas áreas de intervenção, os Sítios de importância Comunitária Serra da Estrela e Peneda-Gerês. Em seguida é apresentada a evolução decorrente da implementação das principais ações previstas no projeto. No âmbito da ação C2 – Melhoria do estado de conservação, a intervenção no SIC PenedaGerês iniciou-se no final de março de 2014 com o controle de vegetação sub-serial numa área de 2 ha nas imediações do rio Maceira e corte de alguns exemplares de Chamaecyparis lawsoniana, espécie exótica que pontualmente estava a provocar a asfixia de alguns teixos adultos. Na época seguinte, entre outubro de 2014 e março de 2015, foram intervencionados 19,05 há, nos quais se incluem 1.025 metros lineares de limpezas em caminhos pedestres que correspondem a cerca de 1,28 há, admitindo que os trabalhos foram efetuados numa faixa com largura média de 12.5 metros. Ao nível do incremento da área de ocupação dos bosquetes de teixo, previsto na ação C3, a realizar na Serra da Estrela, as condições climatéricas adversas, nomeadamente com temperaturas muito baixas e queda de neve, seguida de um curto período de primavera implicaram que as operações no terreno nem sempre tenham tido a evolução desejável. ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Taxus Baccata Foto de autor desconhecido
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Projecto Life Taxus
Durante as duas épocas de plantação, entre a primavera de 2014 e a primavera de 2015, foram plantadas 7.507 árvores e arbustos, numa área correspondente a 33% do previsto no projeto. A tabela que se segue apresenta a distribuição das plantas instaladas no terreno, em cerca de 5 há, segundo as espécies utilizadas.
2014, em que os especialistas foram unânimes em considerar que a produção de teixo por semente é sempre melhor devido à salvaguarda da variabilidade genética, também foi referido que a estacaria poderá ser interessante como forma de preservar o material genético de núcleos e/ou espécimes, prevenindo que
Para a implementação da ação de incremento de habitat (ação C3.) prevista para o SIC Serra da Estrela, é de referir que nos viveiros florestais da S.ª da Graça – Malcata, encontram-se em número suficiente exemplares que permitem assegurar as plantações e retancha, assim como o período pós-LIFE. No seguimento da troca de experiências nas jornadas internacionais sobre o teixo, que decorreram na Catalunha em dezembro de
algum fenómeno estocástico os possa afetar. Como tal, tendo em conta a existência de um número de teixos superior aos 10.000 exemplares inicialmente previstos, na primavera de 2015 procedeu-se à recolha de estacas em dois exemplares masculino e feminino existentes na Barroqueira, tendo sido obtidas cerca de 300 estacas que foram tratadas com hormonas de enraizamento e colocadas em tabuleiros com substrato enriquecido com
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adubo e, posteriormente, colocadas na estufa de germinação, com rega regular e ventilação. No que respeita à divulgação do projecto, é de referir os seguintes aspetos: o site do projecto (http://lifetaxus.quercus.pt) apresenta uma afluência superior a 58.000 visitas; estão instalados 10 painéis informativos nas áreas de intervenção do projeto; foram promovidaos dois eventos de apresentação pública do projeto junto das comunidades locais; procedeu-se à divulgação de dois spots sobre o projeto e disponibilizados outros dois spots referentes a testemunhos; foi elaborada uma exposição interpretativa, um folheto e uma brochura, distribuídos por cerca de 3.500 pessoas; participou-se nos programas “Sociedade Civil” e “Biosfera”. De forma específica, o Programa Educativo “O tesouro das bolinhas vermelhas” dinamizado no âmbito da ação E7, direcionada para a educação ambiental, envolveu até à data cerca de 1.800 alunos e professores, superando os 1.000 alunos previstos no projeto. A dinamização do projeto teve como suporte a exposição do projeto, uma apresentação multimédia e um Guião de Exposição Pedagógica concebidos para o efeito. A ação em rede com outros projetos nacionais e internacionais, têm sido de uma enorme relevância para a melhoria dos resultados obtidos no projeto, decorrente da partilha e troca de experiências que proporciona. De entre os intercâmbios é de referir a participação da equipa do projeto constituida pelo Nuno Forner e Domingos Patacho nas “IV Jornadas Internacionais do Teixo”, que decorreu entre os dias 23 e 25 de Outubro de 2014 em Poblet (Catalunha), e posterior visita por parte da colaboradora do projeto LIFE11 NAT/ ES/000711 – “TAXUS – Improvement of TAXUS baccata conservation status in northeastern Iberian Peninsula”, Antónia Caritat, que teve oportunidade de visitar as intervenções efetuadas na Serra da Estrela. Outra iniciativa a referir prende-se com a visita do Diretor do “WIGRY NATIONAL PARK na Polónia, e técnicos afetos aos projetos LIFE11 NAT/
PL/000431 “Endangered species and habitats protecion of the Natura 2000 “Ostoja Wigierska” site” e LIFE11 NAT/PL/428 “Acitve protection of lowland populations of Capercaillie in the Bory Dolnoslaskie Forest and Augustwska Primeval Forest”. Esta visita, que contou com o acompanhamento por parte do ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, permitiu a troca de experiências ao nível da gestão e implementação de projectos, assim como possibilitou mostrar aos técnicos alguns dos valores naturais que estiveram na base da classificação de duas áreas emblemáticas da Rede Natura 2000 em Portugal. É ainda de entatizar a troca de informação com entidades e/ou projetos nacionais que estão a trabalhar com teixo, nomeadamente o Jardim Botânico do Faial, assim como com o LIFE Maciço Montanhoso (LIFE11 NAT/PT/327) na Madeira. O projeto envolve diversas entidades O projeto coordenado pela Quercus conta localmente com o apoio de diversas entidades, que de forma direta ou indireta contribuem para alcançar os objetivos definidos no projeto, nomeadamente o ICNF (Instituto da conservação da Natureza e das Florestas), os Baldios de São Pedro de Manteigas, Cortes do Meio, Unhais da Serra, Santa Maria e Fafião. O acompanhamento cientifíco está a cargo do CEG – IGOT (Centro de Estudos Geográficos – Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa). Este projeto é cofinanciado pelo programa LIFE+ da União Europeia e pela Valormed – sociedade Gestora de Resíduos de Emabalagens e Medicamentos. In suplemento Life, da Quercus Ambiente de Novembro/ Dezembro2015
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A Estrela da Serra: o passado de um topónimo Fabio Silva Institute of Archaeology, University College London, Reino Unido
Investigar a origem de um topónimo é uma forma de arqueologia: é necessário escavar lentamente, removendo camada a camada o passado recente para se revelarem indícios de um mais remoto. É, portanto, uma viagem no tempo, sequencial, traçando um percurso que vai da situação atual para trás. É isto que se pretende fazer neste artigo: explorar o passado do nome Serra da Estrela. Um passado algo confuso pela situação atual: embora a designação oficial seja Serra da Estrela, e este seja o termo comumente usado, outro topónimo é tido como sinónimo da mesma: Montes Hermínios. Esta confusão de termos não é em nada desmistificada pela presença, já nos primeiros séculos do Reino de Portugal, de ambas as designações, ou variações das mesmas. No entanto, investigações recentes vieram trazer um novo elemento que parece fechar o círculo entre as atuais lendas do nome da Serra da Estrela e as antas pré-históricas do vale do Mondego, identificando a Estrela que dá nome à Serra.
Este trabalho investigativo não pretende ser exaustivo. Trabalhos detalhados focados na compilação e análise de todas as variantes conhecidas da lenda do nome da Serra da Estrela, ou na compilação de todas as menções em registos históricos aos vários nomes da Serra, seriam verdadeiros tesouros para uma melhor compreensão da evolução do topónimo, mas também da própria memória social, etnografia e folclore na longue durée. Mas também seriam dignos de teses de doutoramento, envolvendo vários anos de estudo. Com este trabalho pretendem-se estabelecer traços gerais para um estudo diacrónico do topónimo Serra da Estrela, desde o presente etnográfico até ao passado pré-histórico, notando semelhanças e diferenças e tentando dar corpo a uma explicação para a ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Vista da Torre. Foto por Bruno Veiga
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congruência entre a narrativa arqueológica com seis mil anos e as lendas atuais. O Presente Etnográfico Comecemos então pelas lendas que explicam o nome da Serra da Estrela. Uma versão, tão generalista como concisa, é a presente no website do Município da Covilhã: “Conta o povo que o nome Serra da Estrela foi dado em tempos que já lá vão por um pastor que vivia em parte incerta no Vale do Mondego. Passava as noites a contemplar uma estrela que brilhava tanto que iluminava o cimo de uma serra próxima. Até que se decidiu e foi ao encontro daquela luz cintilante que o atraía tanto, na companhia do seu fiel cão. Depois de muitos dias de subida chegaram ao cume. Impressionado com a luminosidade da estrela, disse para o seu cão: ‘a este lugar que parece favorito dos astros vou chamar Serra da Estrela e a ti que me acompanhaste vou dar-te o mesmo nome.’” Existem outras variantes desta lenda, algumas das quais incluem outros elementos, mas o cerne da narrativa é sempre o encapsulado acima. Existe, no entanto, um conjunto de variantes em que a narrativa não termina com a chegada do pastor ao cume. Nestas, e após este feito, o pastor decide estabelecer-se na serra ou arredores. A estrela descende e assume a forma de uma rapariga, que vive com o pastor. Um rei (o Rei do Mundo, em algumas versões) recebe notícias disto e cobiça a rapariga-estrela. Ele envia um emissário (ou chama o pastor à corte, em algumas variantes) e oferece ao pastor muitas riquezas e bens em troca da sua companheira celeste. “O pastor não aceitou, pois preferia ser pobre do que perder a sua estrela.” Mas a rapariga, ao aperceber-se da avareza humana, volta à forma estelar e regressa à abóbada celeste. Esta variante parece ter-se materializado na forma de Nossa Senhora da Boa Estrela. Em Covão do Boi, a uns meros 500 metros da Torre, existe um santuário dedicado à aparição da Virgem Maria a um pastor. Nossa Senhora da ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Boa Estrela é padroeira dos pastores e é também conhecida por Nossa Senhora dos Pastores. A história coincide, quase ponto-por-ponto, com a lenda acima descrita com a explicação adicional de que a estrela que tomou forma feminina era, de facto, a Virgem Maria. Aparições Marianas são um tema recorrente nas tradições religiosas Ibéricas, e seria fácil considerar esta como apenas mais uma variação deste tema, não fora o caso de ela se enquadrar muito mais naturalmente nas lendas que explicam o nome da Serra. Se estas lendas tivessem sido contadas e transmitidas séculos atrás, é fácil perceber que um cristão, possivelmente do clero, teria interpretado a lenda (tida como verdadeira por quem a conta) como uma aparição Mariana, particularmente tendo em conta a associação da Virgem com uma estrela (Stella Maris, Estrela do Mar), popular desde pelo menos o século IX d.C. O santuário e o seu culto, celebrado anualmente na segunda semana de Agosto, pode ter resultado de uma hibridização de crenças locais com uma interpretação cristã, que teria ocorrido em determinada altura no passado histórico. Embora seja difícil determinar quão antigas estas lendas são (os mais antigos registos datam de inícios do século XX) elas fornecem-nos a única explicação popular para o topónimo Serra da Estrela. No entanto, esta designação é certamente mais antiga, como é confirmado pelos registos históricos.
A Estrela da Serra: o passado de um topónimo forma corrente no registo histórico dos séculos posteriores. É também importante notar que o documento deixa implícito que enquanto a parte egitaniense chama ao “monte” Serra da Estrela, o resto do país – ou pelo menos o clero – deveria chamar-lhe Ermio. Existe, no entanto, uma ligação segura entre a Serra e a Estrela anterior a esta sentença. José Leite de Vasconcelos, o famoso etnógrafo, arqueológo e historiador português, notou que no foral da Covilhã, concedido por D. Sancho I em 1186, coexistem as designações de Stella e de Ermio. Segundo o mesmo autor ambos os termos corresponderiam a toda a serra. No entanto, José David Lucas Batista notou que no foral Stella “deve ser entendida como respeitante a um ponto determinado e de área reduzida e não a toda a Serra.” Esta área, descrita no foral, corresponde ao Malhão da Estrela, mais famoso atualmente como a Torre. Esta interpretação da geografia do foral da Covilhã é também defendida por Jorge de Alarcão.
O Período Histórico
Parece-nos, portanto, que estamos perante uma evolução toponímica. Nos finais do século XII e durante o século XIII, a corte e o clero designariam a serra como um todo por Ermio. No entanto a Torre seria inicialmente designada por Stella, “estrela”, podendo já as povoações a oriente da Serra – a “parte egitaniense” – denominar toda a serra por Serra da Estrela.
Era Medieval A mais antiga menção ao topónimo Serra da Estrela nos registos históricos remonta a uma sentença de 28 de Fevereiro de 1256 sobre os limites das dioceses de Coimbra e da Guarda. Esta sentença, homologada pelo papa Alexandre IV a 27 de Abril do mesmo ano, menciona “o monte no qual dizem estar situados os ditos lugares que a parte egitaniense chama não Ermio mas Serra da Estrela.” Segundo José David Lucas Batista a serra encontrava-se então numa transição do nome Ermio (ver mais abaixo) para a forma atual que se torna a
Em registos anteriores o “monte” aparece sempre com uma designação derivada de Ermínio – Hermeno, Ermeno, Ermeo ou Ermio sendo variantes comuns. A menção mais antiga descoberta por Lucas Batista data de 1113 onde uma vinha de S. Romão aparece descrita como estando “em território da Serra, sob o monte Hermeno”. Entre este registo e a sentença de 1256 descrita acima, muitos outros exemplos existem sem que, no entanto, as descrições permitam uma identificação segura da atual Serra da Estrela com este “monte Ermínio” ou se, pelo contrário, o topónimo designaria todo
Fábio Silva
o sistema montanhoso Montejunto-Estrela, que forma a parte ocidental da Cordilheira Central ibérica. É precisamente esta a lógica que encontramos nos períodos que precedem a formação do Reino de Portugal, sendo isto claro na geografia árabe, mas também, como irei defender, na Romana. Períodos Árabe e Romano Contemporaneamente com os registo mencionados na secção anterior, Ibn Sa‘îd al-Magribi, geógrafo árabe, escrevia o seu Kitâb bast al-ard fî-l-tûl wa-l-‘ard, no qual complementava a obra geográfica de alIdrîsî. Embora contemporânea dos registos portugueses, esta obra advém de uma contínua ocupação árabe desde 711 e, portanto, os topónimos nela designados deverão ser anteriores à obra. Nesta, a zona da Serra da Estrela aparece designada como Jabal Shârra que, segundo António Rei, se refere a toda a Cordilheira Central ibérica. Este topónimo é bastante interessante na medida em que é tautológico – ambas as palavras são sinónimas embora em línguas distintas: jabal é árabe para montanha (cf. Jabal Tariq, “montanha de Tariq”, o herói da invasão de 711); enquanto shârra é uma arabização de serra, ou melhor do seu correspondente no “latim” então falado na Ibéria. Este tipo de toponímia tautológica é comum no choque entre duas culturas, com línguas e hábitos diferentes, aquando da confusão entre o substantivo próprio – o nome específico de determinado acidente orográfico – e o substantivo comum que designa a sua forma. No entanto, e ao contrário de tantos topónimos de Portugal cuja origem remonta à ocupação Árabe, as variações de Ermínio encontradas nos primeiros registos portugueses deverão ter origem no termo latino Herminius mons. Este termo sobrevive até nós através de duas obras da literatura clássica: o De Bello Alexandrino e As Vidas dos Césares. Já muita tinta foi derramada relativamente às menções, casuais, ao Herminius ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
mons nestas obras e não tenciono aqui repeti-las (o leitor interessado encontrará mais informação em praticamente todas as obras mencionadas na bibliografia no final deste artigo). Convém, no entanto, dizer que, de Leite de Vasconcelos até Jorge de Alarcão, passando por Lucas Batista e muitos outros, várias são as dúvidas levantadas relativamente à identificação deste topónimo romano com a Serra da Estrela em específico. Isto porque, com base nas duas menções que sobreviveram, é igualmente possível que o termo designasse todo o sistema MontejuntoEstrela, então mal diferenciado. Esta confusão não é ajudada pelo facto da etimologia do latim Herminius ser obscura. António Borges de Figueiredo sugeriu, já em 1886, o que é possivelmente a melhor etimologia para este estranho termo. Ele atribui o termo à junção de duas palavras celtas: ar e meneiu, a primeira servindo de partícula aumentativa e a segunda designando um qualquer monte ou elevação, “vindo por consequência a palavra significar grande elevação, monte alto.” Embora as línguas celtas do território hoje português estejam ainda muito pouco estudadas esta hipótese é viável. Nas línguas celtas ainda hoje existentes variantes de meneiu são usadas para descrever montanhas: por exemplo, mynydd é galês para montanha, enquanto que na Escócia diz-se monadh. Por outro lado, a partícula aumentativa ar- ou er- está também atestada na língua ibérica Tartéssica, contemporânea da menos estudada língua dos Lusitanos, significando “sobre” e “após” respetivamente. Ar-meneiu pode então efectivamente ter sido um substantivo comum celta designando uma grande elevação. De facto, outras possíveis variações locais do original celta são patentes na toponímia dos sistemas montanhosos nacionais. Exemplos já conhecidos, e compilados por Lucas Batista, incluem Aramenha – uma povoação do concelho de Marvão, Ermelo – duas povoações no norte do país associadas à Serra do Gerês e à Serra do Marão, e também em Aeminium — antigo nome da cidade de Coimbra, sempre associada ao rio Mondego e à Serra da Estrela no qual ele nasce.
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Herminius mons seria, portanto, também um topónimo tautológico que junta dois substantivos comuns: um indígena – celta – e o outro da cultura invasora – o latim, em nada diferente de Jabal Shârra, o termo árabe debatido acima. A associação da Serra a uma estrela parece então perder-se na Antiguidade Clássica. No entanto, podemos discernir aqui uma lógica de ligação entre o registo histórico e o que o precede.
associada a uma estrela, embora esta tradição não fosse generalizada a todo o território hoje português, mas circunscrita à parte egitaniense. É mais tarde, após a formação do Reino de Portugal, que a toponímia local se expande tornando-se
eventualmente a designação oficial da Serra. Dados recentes, e inesperados, descobertos pelo autor vieram substanciar esta hipótese, mas para os seguirmos teremos de sair da Serra em si e virarmonos para o vale do Mondego há seis mil anos. A Pré-História
Os nomes dados pelas culturas invasoras, sejam elas a romana ou a árabe, transformaram um substantivo comum da língua indígena num substantivo próprio. Estes termos eram claramente usados pela classe governante, mas sobre as comunidades locais pouco sabemos. O nível de integração da cultura invasora, seja ela a romana ou a árabe, e dos povos e costumes indígenas à Península Ibérica são ainda hoje foco de discussão pelos estudiosos na matéria. Permanece assim em aberto a hipótese de existir uma continuidade de tradição na qual a Serra (ou apenas a região da Torre) se encontrasse
Descobertas dos últimos 20 anos, em especial dos habitats Neolíticos na bacia do Mondego, permitiram reconstruir a vida local durante o quinto milénio antes da era cristã. As evidências arqueológicas indicam que pequenas comunidades viviam à base da caça e recoleção de bolotas e outros frutos de inverno. A agricultura, a ser praticada, teria tido um papel bastante reduzido. Por outro lado, a pastorícia de ovelhas e cabras, introduzida na região pelas primeiras comunidades Neolíticas, sugere que os invernos seriam passados em terras baixas e a primavera e verão nos pastos da Serra da Estrela. De facto, tanto a cultura material datada do Neolítico, como evidências palinológicas (pólen) e antracológicas (carvão) atestam a presença e impacto ambiental de comunidades na Serra da Estrela neste período.
As primeiras estruturas megalíticas foram construídas cerca de mil anos depois. O tipo mais comum na região é a anta, orca ou dólmen, constituída por uma câmara poligonal feita de megálitos. A câmara tem uma entrada que pode ou não ter um corredor, também ele megalítico. Tanto este como a câmara continham um teto lítico, e toda a construção era coberta por um montículo de terra e pedra, denominado hoje por mamoa. No seu auge, uma anta típica teria o aspeto de um monte artificial com uma carapaça pétrea e uma abertura singular (o acesso ao corredor), embora hoje em dia apenas o esqueleto pétreo tenha sobrevivido em muitos casos. Datações por radiocarbono indicam que as antas desta região do país tenham sido construídas entre 4300 e 3700 a.C., embora
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tenham continuado a ser usadas depois deste período. O arqueológo João Carlos de Senna-Martinez, do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, e colaboradores sugeriram, com base nas evidências arqueológicas, um modelo económico para as comunidades Neolíticas da bacia do Mondego. Neste, o núcleo megalítico marcava o território de inverno e, nesse sentido, legitimaria a sua ocupação. Com efeito, os habitats Neolíticos da bacia do Mondego aparecem em proximidade de antas e sugerem uma ocupação sazonal focada nos meses do Outono e Inverno. Uma combinação de metodologias de arqueologia da paisagem e de arqueoastronomia enriqueceu esta imagem da vida Neolítica no centro de Portugal. Tanto arqueológos da paisagem como arqueoastrónomos estão interessados na orientação de estruturas megalíticas, em particular quando estas têm um único corredor e entrada. A presença de um padrão na orientação de várias estruturas semelhantes e contemporâneas pode indicar que a direção escolhida tivesse um significado especial que poderia estar relacionado com a topografia local ou com a abóbada celeste. A região do baixo Mondego contém um núcleo megalítico de bastante interesse, centrado no município de Carregal do Sal, mas estendendose também para os municípios de Tondela e Nelas. As antas deste núcleo encontram-se todas orientadas para um único acidente orográfico no horizonte: a Serra da Estrela, a mesma onde os construtores de antas teriam passado os meses quentes do ano. O fato de que este padrão se observa em todas as antas deste núcleo sugere um papel preponderante para a Serra da Estrela na ideologia destas comunidades pré-históricas, ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
podendo até ser considerada sagrada. Este alinhamento sugere também uma ligação entre a função das estruturas megalíticas e a Serra da Estrela. Além de terem funções potencialmente rituais e funerárias, as antas do vale do Mondego também marcavam os territórios invernais dos seus construtores, enquanto a Serra da Estrela, no horizonte, marcaria os
A Estrela da Serra: o passado de um topónimo o seu nascimento heliacal. Durante o período pré-histórico que nos interessa, o nascimento heliacal de Aldebarã ocorreria em finais de Abril ou mesmo nos primeiros dias de Maio, dependendo de fatores climáticos. Podemos então afirmar que a estrela apareceria pela primeira vez no céu oriental em finais de Abril/ inícios de Maio em alinhamento com a Serra da Estrela e as antas do vale do Mondego.
pastos veranis. Consequentemente, parece que tanto a topografia natural como a construída pelo homem ancoravam o movimento sazonal destas comunidades pré-históricas. O alvo dos alinhamentos era uma zona em particular da Serra que é visível do interior de todas as câmaras das antas. Isto sugere que estes “portugueses” do Neolítico poderiam ter uma motivação por detrás dos alinhamentos com aquela zona em particular. Essa zona correspondia exatamente à posição de nascimento de Aldebarã – a estrela mais brilhante da moderna constelação do Touro e a 14ª estrela mais brilhante do céu noturno – no período de construção das antas. Embora as estrelas, quando visíveis, nasçam e se ponham sempre no mesmo local do horizonte ao longo do ano, estrelas que se encontram a esta distância do pólo celeste passam por um período em que não são observadas no céu noturno. Após este período de invisibilidade a sua primeira aparição é de madrugada, nascendo imediatamente antes do Sol: este é denominado
Como mencionado acima, as evidências arqueológicas sugerem que, na primavera e verão, os construtores de antas levariam as suas ovelhas e cabras para os pastos da Serra da Estrela. Se estas comunidades observavam o nascimento heliacal de Aldebarã, como os alinhamentos das antas sugerem, eles poderiam usá-lo como um marcador ritual para o movimento sazonal. O período de invisibilidade de Aldebarã – dos finais de Fevereiro a finais de Abril – seria a perfeita intervalo de tempo para se efetuarem as preparações para quaisquer rituais que fossem encenados nas antas, assim como as preparações para a transumância.
Fábio Silva
Esta narrativa, baseada inteiramente nas evidências arqueológicas, parece replicar, por palavras não muito diferentes, as lendas do nome da Serra da Estrela discutidas no início deste artigo. O herói das lendas é um pastor que vivia no vale do Mondego, onde viu uma estrela nascer sobre uma serra no horizonte. Isto motivou-o a ‘seguir’ esta estrela, levando consigo o seu cão. A comparação com as comunidades Neolíticas é bastante sugestiva. Primeiramente, também elas habitavam o mesmo vale, onde o núcleo megalítico e habitats foram encontrados. Segundamente, também elas, como o herói da lenda, eram pastores. Finalmente, os dados indicam que elas levariam as suas ovelhas e cabras consigo para os pastos da Serra da Estrela. Na lenda, o movimento transumante do pastor é desencadeado pela observação da estrela sobre a serra. No caso dos construtores das antas, sugere-se que o nascimento heliacal de Aldebarã sobre a Serra, isto é, Aldebarã na sua função de Estrela da Manhã, servia o mesmo propósito. De facto, a importância de Aldebarã na cosmologia pré-histórica do Ocidente Peninsular parece não se restringir ao vale do Mondego. De acordo com medições inéditas feitas pelo autor no âmbito de um projeto financiado pela National Geographic Society, para cima de dois terços das antas em território português a norte do Mondego encontravam-se alinhadas com o nascimento de Aldebarã. As restantes encontram-se alinhadas com outras ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Variação da Vegetação
estrelas brilhantes na vizinhança desta, a saber: Alnath e/ou as Plêiades, também estas na constelação moderna do Touro, e Alnilam, na constelação de Orionte. Na Galiza, onde este tipo de estudos é menos corrente, os poucos dados existentes sugerem algo semelhante: a maior parte das antas galegas encontram-se alinhadas com Aldebarã, as outras também podem ser explicadas como encontrando-se alinhadas com as estrelas mencionadas. A sul, em particular no Alentejo onde se encontra a maior concentração de monumentos megalíticos da Península Ibérica, a situação não é muito diferente embora mais afetada pelas predisposições académicas dos investigadores. Os dados parecem demonstrar um interesse numa região do céu específica que se estende por todo o Ocidente Peninsular, mas é importante realçar que, com base nos dados das antas do Norte de Portugal, comunidades independentes nunca parecem ter abdicado do seu individualismo e livre‐arbítrio, uma vez que diferentes núcleos megalíticos concentram‐ se em diferentes alvos astronómicos desta mesma região do céu. Antevê‐se assim um fundo cosmológico, semelhante partilhado pelas comunidades Neolíticas ocupando uma vasta região (o Ocidente Peninsular, senão mesmo toda a Ibéria), mas potencialmente com ideologias e escolhas individuais. Este ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
modelo, meramente hipotético, não seria muito diferente do que se observa dentre as sociedades caçadoras‐recolectoras e horticultoras, por exemplo, da América do Norte, da Amazónia ou da Austrália. No entanto, mais trabalhos científicos são necessários para confirmar estas hipóteses. Conclusão: Aldebarã, a estrela da Serra Fecha-se assim o círculo que começou com as recentes lendas envolvendo um pastor, uma estrela e a Serra, e termina com as evidências arqueológicas com seis mil anos que parecem validar estas narrativas. A coincidência é grande demais para ser simplesmente ignorada. No entanto, a sua aceitação levanta questões importantes sobre a história das comunidades que hoje rodeiam a Serra da Estrela. O facto de que as lendas foram registadas em aldeias e vilas no sopé da Serra da Estrela, em particular a este da mesma, e que o nome atual se encontra atestado historicamente nesta mesma região, sugere que as comunidades nómadas construtoras de antas do vale do Mondego, a determinada altura, se sedentarizaram não neste vale, mas na “parte egitaniense” da Serra. Esta região fornece suficiente terra plana arável para permitir uma vida sedentária com base na agricultura. Esta
hipótese, embora especulativa, é ecoada nas variantes da lenda do pastor que assertam que o mesmo, ao chegar à Serra, por ali ficou. Esta região do território português, mais ou menos entre a Guarda e a Covilhã, contém poucos indícios datados do Neolítico, mas bastantes dos posteriores períodos, designados por Calcolítico e Idade do Bronze. Foi nestes períodos que a agricultura ganhou a preponderância atual enquanto fonte de subsistência primária, não só na Península Ibérica, mas um pouco por toda a Europa. Existem também indícios de deflorestação pelo fogo em torno da Serra da Estrela nestes períodos, provavelmente devido à prática de queimadas para limpeza de terrenos para posterior cultivo. É então possível que estas comunidades Neolíticas, após vários anos de transumância sazonal entre o baixo Mondego e a Serra onde ele nasce, ditada pelo nascimento heliacal da estrela Aldebarã, tenham feito uma última viagem para o sopé egitaniense da Serra onde assentaram permanentemente, dedicando-se primariamente à agricultura e, eventualmente, tendo sido a origem das comunidades e povos hoje presentes nesta região do território português. A memória do estilo de vida préhistórico, assim como da associação entre a Serra e a sua Estrela, teria sido mantida e transmitida oralmente e apenas localmente, talvez mesmo enquanto explicação do nome da Serra: o conto oral é afinal a melhor forma de transmitir informação e conhecimento em sociedades pré-literárias. Eventualmente estes contos iriam “oficializar-se” de três formas: enquanto topónimo na sentença de 1256 mencionada acima, enquanto ideologia na aparição de Nossa Senhora da Boa Estrela em século indeterminado e, finalmente, enquanto lenda nos registos etnográficos dos vários académicos que, desde o século XIX, têm vindo a prospetar o país.
Referências Bibliográficas Batista, José David Lucas (1993) Do Ermínio à Serra da Estrela: Notas sobre uma alteração toponímica e outros estudos. Manteigas: Câmara Municipal de Manteigas e Parque Natural da Serra da Estrela. Borges de Figueiredo, António C. (1886) Coimbra Antiga e Moderna. Lisboa: Livraria Ferreira. de Alarcão, Jorge (1993) Arqueologia da Serra da Estrela. Manteigas: Parque Natural da Serra da Estrela. Leite de Vasconcelos, José (1980 [1941]) Etnografia Portuguesa Vol. III. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda. Marques, G (1997) Lendas de Portugal Vol. 4. Rio de Mouro: Círculo de Leitores. Rei, António (2005) ‘O Gharb al-Andalus em dois geógrafos árabes do século VII/XIII: Yâqût al-Hamâwî e Ibn Sa’îd al-Maghribî.’ Medievalista 1(1): 1-22. Silva, Fabio (2015) ‘The View from Within: a ‘time-space-action’ approach to Megalithism in Central Portugal.’ Em F Silva e N Campion (coord) Skyscapes: The Role and Importance of the Sky in Archaeology. Oxford, Reino Unido: Oxbow Books. Silva, Fabio (2015) ‘Once Upon a Time...: when Prehistoric Archaeology and Folklore Converge.’ Journal for the Academic Study of Religion 28(2): 158-175.
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Projecto para a valorização das potencialidades turisticas do Vale do Beijames Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
ASE | Ao submeter ao Orçamento Participativo para 2016, da Câmara Municipal da Covilhã, a ASE viu votada pelo público a sua proposta para a Valorização das Potencialidades Turísticas do Vale do Beijames. O projecto consiste na recuperação de antigas veredas utilizadas pelos pastores e carvoeiros, para as colocar ao serviço do turismo pedestre. À semelhança do que fez no Vale do Zêzere, no concelho de Manteigas, a ASE vai agora dar continuidade a esse trabalho ligando assim os vales do Beijames e Zêzere através de uma rede de percursos pedestres que os valorize. Os trabalhos, de recuperação das veredas vai ter a duração de seis meses e irá dar trabalho a 4 pessoas da região durante este período de tempo. Contrariando uma tendência que tem vindo a “fazer escola” no país, a ASE irá proceder a uma sinalética muito genuína, com raízes em elementos por onde os percursos se desenvolvem que importa destacar e valorizar. Após a conclusão, destes trabalhos o Vale do rio Beijames irá beneficiar de um conjunto de percursos que o percorrem em toda a sua extensão, ligando as terras chãs, onde ainda se cultivam os campos de uma maneira tradicional e a actividade caprina que mistura os espaços agrícolas com os matos e florestas; às zonas mais elevadas e escarpadas, de onde é possível olhar paisagens, agrestes e da rara beleza. A valorização turística destes vales não é feita ao acaso pela ASE. Para além do significado interesse que o vale do Beijames tem, é importante a sua promoção para que o desenvolvimento ajude as dinâmicas locais e a população tenha condições de vida que evite a sua fuga para outras paragens. Por outro a diversidade da oferta turística é fundamental para descomprimir a excessiva pressão humana que se faz sentir no Planalto Superior da Serra ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
A totalidade da rede de percursos do vale do Beijames será de aproximadamente 50 quilómetros.
da Estrela, área com ecossistemas muito frágeis, onde predominam reservas naturais de grande importância para a conservação que importa acautelar. Daí que desconcentrar os fluxos do turismo por outras áreas da Serra nos parece dever ser um primado que tem de estar na agenda de qualquer entidade responsável pela gestão da conservação dos espaços naturais e que a ASE faz questão de promover de uma forma muito objectiva. A totalidade da rede de percursos do vale do Beijames será de aproximadamente 50 quilómetros. Será possível aceder à rede através da Grande rota do Zêzere, da vereda de “A Lã e a Neve” que liga Manteigas à Vila do Carvalho/ Covilhã, ao percurso do Poço do Inferno e às variantes que levam à Serra de Baixo e ao Vale do Zêzere/Torre. A ASE tem vindo a colaborar com a Junta de Freguesia da Vila do Carvalho, no sentido de se encontrar a melhor solução, para uma alternativa à vereda tradicional que liga esta vila à de Manteigas, através de um traçado mais bem trabalhado e mais interessante do ponto de vista cénico. O início dos trabalhos de recuperação dos antigos caminhos, serão iniciados logo que o Município da Covilhã disponibilize os montantes aprovados. A Direcção
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Reconhecimento Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
A nossa Associação viu reconhecido, pela Assembleia Municipal de Manteigas, o trabalho que tem vindo a promover na defesa da Serra da Estrela. Desse facto damos conhecimento, do Ofício BC-AM/144 de 15/12/2015 que nos foi remetido pelo Senhor Presidente da Assembleia Municipal daquele Município, onde é referida uma Moção, cujo teor ignoramos, sobre o lançamento da Grande Rota do Zêzere, e um voto de louvor “pelo trabalho de preservação do património natural e cultural desenvolvido pela Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela” que mereceram a unanimidade dos votos daquele Órgão Autárquico. O reconhecimento da Assembleia Municipal de Manteigas ao trabalho da ASE é significativo e revela que o rumo que temos seguido estará no caminho certo e é motivo de regozijo para todos quantos têm pugnado pela defesa dos valores naturais da Serra da Estrela. No entanto, tal voto de confiança não nos deve esmorecer dos objectivos que originaram a criação da nossa Associação; manter uma vigilância permanente contra os malefícios que intentem contra o património natural, cultural e patrimonial, do maior maciço montanhoso do país; propor soluções para a sua defesa, através de medidas que garantam a sustentabilidade dos seus ecossistemas, e a garantia de que a melhoria das condições de vida dos seus residentes será o melhor desígnio para assegurar a gestão dos seus recursos. Os momentos não têm sido fáceis e será assim que se anunciam os próximos tempos. A Serra da Estrela precisa de muitos amigos para contrariar tendências muito negativas que têm vindo a ser promovidas na procura de interesses que desprezam a Serra da Estrela.
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Jorge Paiva Botânico e Investigador
ELEIÇÕES PARA OS ÓRGÃOS SOCIAIS
Na caixa do correio, uma vez mais, um envelope do nosso amigo e associado Jorge Américo Rodrigues de Paiva, mais conhecido apenas por Jorge Paiva, pois é assim que sempre fez questão de ser tratado, envia-nos os votos de um Bom Ano, a nós e a muitos milhares mais. Com a sua peculiar sensibilidade e preocupação pelas questões do ambiente e da conservação da natureza remata sempre o postal com uma mensagem forte, - “Que a época festiva do final do ano ilumine a consciência humana e não se derrubem árvores, produtoras de biomassa, despoluidoras e fábricas de oxigénio”.
Na sequência das informações que foram publicadas na edição de Outubro, nomeadamente o prazo anunciado no calendário eleitoral, comunico a recepção, de uma única lista para ser votada. Nesse sentido as próximas eleições irão ter a sufrágio a lista única, assim constituída:
Lista candidata às eleições para os órgãos da Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela MESA DA ASSEMBLEIA GERAL
Há 25 anos que recebemos esta singular forma de nos desejar um mundo melhor, mais amigo do ambiente e de todos os seres vivos. No cartão de Boas Festas deste ano, dános uma vez mais uma aula de botânica e zoologia sobre duas espécies que o ilustra: o Pinheiro-ancião, Pinus longaeva D.K. Bailey, com cerca de 5000 anos de idade, e a Tartaruga das Galápagos, Chelonoidis nigra Quoy & Gaimard, que raramente atinge 200 anos de idade, não se escusando a “comparar” a insignificância da nossa longevidade com a destes seres vivos. Longa vida ao amigo Jorge Paiva são os nossos sinceros votos.
Presidente: Vice-Presidente: Secretário: 2º Secretário
Rómulo Valdemar Ribeiro Machado João Manuel dos Santos Matos Martins Siggi de Matos Filipe José Lopes Saraiva
CONSELHO FISCAL Presidente: Vice-Presidente: Vogal: Vogal:
Luís Ferrão Saraiva Maria Eduarda Fonseca da Costa Vale António Manuel Albino Carvalhinho Susana Maria Pinto de Noronha
DIRECÇÃO Presidente: Vice-Presidente: Secretário: Tesoureiro: Vogal: Vogal: Vogal:
José Maria Serra Saraiva José Augusto Azevedo Veloso Paulo Barbosa Silva João Pedro Maurício de Sousa Carlos Alberto Morais Rosa Catarina Lopes da Cunha Martins Tiago Vasconcelos Duarte Moreira Pais
O Presidente da Mesa da Assembleia Geral,
Rómulo Valdemar Ribeiro Machado
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Edição de Dezembro de 2015