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O DIA ALAGOAS l 29 de junho a 5 de julho I 2014
CULTURA
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PROJETO VIDAS ANÔNIMAS ganha as páginas de O DIA ALAGOAS. Jovens jornalistas vão à procura do extraordinário na vida comum
O olho da rua Da Redação
O
pintor, dono de um pincel mágico, que busca descobrir qual cor o tornará visível ao olhar alheio. O porteiro que distribui bênçãos às centenas de moradores do edifício em que trabalha. O homem que é anônimo na maioria dos 365 dias do ano, mas durante os festejos de momo se tornava o Rei do Carnaval alagoano. A senhora que entre pontos altos, baixos, médios e inteiros, tricotou-se em pontos quebrados. A doce senhorinha que cheira a saudade, a tempo, a lembranças de uma vida
vivida e hoje esquecida. Neste mês de julho, você encontrará nas páginas da editoria de Cultura de O DIA ALAGOAS essas e outras histórias extraordinárias da vida real. As próximas quatro edições estarão associadas ao projeto Vidas Anônimas, que tem como propósito narrar acontecimentos banais que normalmente não virariam notícia, e das pessoas que não são celebridades. “Contar os dramas anônimos como se cada Zé fosse um Ulisses, não por favor ou exercício da escrita, mas porque cada Zé é um Ulisses. E cada pequena vida uma Odisseia.”
As palavras são da jornalista Eliane Brum, que ao lado de Gay Telese, Truman Capote, Paulo Barreto e outros nomes do jornalismo brasileiro e internacional, foram fonte de inspiração para este projeto. Recém-nascido, o Vidas Anônimas é uma publicação on-line e independente destinada a leitores interessados em descobrir o que está além. Sua autoria é de quatro amigos reunidos em torno de um denominador comum: a vontade de contar histórias e a generosidade em dividi-las com os leitores. Ana Cecília, Elayne Pontual, Francisco Ribeiro (também repórter de O DIA) e Glória
Elayne Pontual
Francisco Ribeiro
S
abe aquela moça que senta ao seu lado no ponto de ônibus ou o porteiro do condomínio onde você mora? Lembra do pintor que deixou suas paredes branquinhas ou até mesmo as pessoas que vêm e vão despercebidas nas ruas do Centro da cidade? Pois bem, estes personagens são a matéria-prima do Vidas Anônimas. Falamos sobre aquelas pessoas que estão presentes no nosso cotidiano, mas que não enxergamos, no sentido de não percebermos ou considerarmos suas existências. Falamos do mendigo, da vizinha abandonada, de você e de nós mesmos. Nossa principal ferramenta é a sensibilidade e nela nos apoiaremos para encontrarmos outro ângulo, outro foco, outro olhar. O principal desafio será esvaziar nossas visões de mundo, deixar de lado os preconceitos e julgamentos, para assim podermos dar lugar à voz do outro. Sempre tive muita curiosidade em relação à história alheia. Gosto de ir a um restaurante ou sentar na praia e ficar imaginando como aquelas pessoas vivem, o que pensam de estar aqui e agora, dividindo o mundo com gente desconhecida, feita da mesma matéria, mas que talvez nunca cheguem a trocar uma palavra sequer. O que pensam de existir? Antes de dormir, o que fazem? Têm amigos, família? São sozinhos no mundo? Sempre preferi ouvir a falar. Acho que quando falo sobre mim posso estar perdendo algo extraordinário que vem inteiramente do outro, daí decido fechar a matraca e ser só ouvidos. Foi por conta dessa curiosidade latente e da vontade de dividir com o mundo o que de fascinante podemos descobrir do outro que eu e mais três grandes amigos colocamos o Vidas Anônimas em prática. Com ele, estamos buscando também um sentido para essa existência louca e faremos o possível para alcançar nosso objetivo.
O
projeto Vidas Anônimas é resultado de uma ideia simples e generosa: contar histórias de gente feita de verdade e a vontade de dividi-las com vocês. Aliás, não haveria como ser de outra forma. Criado por quatro amigos, quatro perspectivas diferentes sobre a vida, porém marcados pela mesma sina: insistir que os milagres são cotidianos. Se temos um ideal (palavra forte, né?) é a nossa fé no homem. Não faço outra coisa melhor senão olhar, observar as minúcias, os detalhes. O desimportante é o extraordinário para mim. Cada história que escrevo é a história de um olhar. “Um olhar que enxerga. E por enxergar, reconhece. E por reconhecer, salva”, assim como disse a repórter e escritora Eliane Brum. Mas só consigo ver o que é alheio para a maioria, porque existe algo belo no que é desapercebido. Certa vez, um colega jornalista disse não suportar as pessoas, o convívio entre gente comum. Toda vez que me lembro dessa afirmação, eu sinto arrepios e corre um frio na espinha. Pois me acostumei a ouvir de grandes repórteres que a matéria-prima do jornalismo é o rosto anônimo que cruzamos todos os dias em cada esquina. É nisso que acredito. Por isso, escrevo. E deixo em meus textos um pedaço de mim.
Ana Cecília da Silva
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les estão nas esquinas, nas praças, nas ruas e, sem dúvida, têm muito o que falar. São como eu, você, têm as mesmas alegrias, medos e anseios. Contar histórias de anônimos, esses heróis sem capa nem escudo, é um grande desafio do qual tenho a honra de participar. O que afinal essas pessoas pensam sobre a existência? O que escondem em seu anonimato? O Vidas Anônimas pretende preencher o vazio e quebrar o silêncio dessas vozes, mostrar a cara daqueles que não viraram notícia, revelando ao leitor a realidade, essa que vai além das capas de jornais e revistas. A realidade que é mais complexa que simples palavras, feita também de nuances e de silêncio.
Damasceno são os nomes dos jovens jornalistas que assinarão os textos publicados neste espaço. Na contramão do timing dos jornais, das revistas e da internet, o projeto traz imagens e textos mais reflexivos, que contam a vida de pessoas-estatísticas, de gente que dribla as armadilhas do cotidiano brasileiro, de rostos anônimos que desejam bem mais do que sobreviver. Um mergulho no dia a dia de alagoanos para provar que não existem vidas comuns. A seguir, quatro breves perfis dos autores do projeto e suas motivações. Confira.