A ordem verbo sujeito sujeito verbo na fala pessoense

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

A ORDEM Sujeito Verbo/Verbo Sujeito NA FALA PESSOENSE

JULIENE LOPES RIBEIRO PEDROSA

JOÃO PESSOA 2000


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS ÁREA - LÍNGUA PORTUGUESA LINHA DE PESQUISA - SOCIOLINGÜÍSTICA

A ORDEM Sujeito Verbo/Verbo Sujeito NA FALA PESSOENSE

JULIENE LOPES RIBEIRO PEDROSA

Dissertação apresentada à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Língua Portuguesa.

JOÃO PESSOA 2000


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

A ORDEM Sujeito Verbo/Verbo Sujeito NA FALA PESSOENSE

JULIENE LOPES RIBEIRO PEDROSA

Prof. Dr. Dermeval da Hora Oliveira

(Orientador)

JOÃO PESSOA 2000


A ORDEM SUJEITO VERBO/VERBO SUJEITO NA FALA PESSOENSE

JULIENE LOPES RIBEIRO PEDROSA

Dissertaテァテ」o aprovada em: ______/ ______/ 2000.

Examinadores:

_______________________________________________________ Dermeval da Hora Oliveira

_______________________________________________________ Eliane Ferraz Alves

______________________________________________________ Ana Cristina de Sousa Aldrigue

JOテグ PESSOA 2000


Dedicatória

Aos meus pais, que passaram a vida toda ensinando-me os verdadeiros valores da vida, fazendo-me compreender que o saber é a maior riqueza que alguém pode possuir. Às minhas irmãs, ao meu irmão e a outros familiares, que sempre me ajudaram, apoiaram e depositaram em mim a realização de um sonho. A Wellington, meu namorado, pelo apoio, compreensão, incentivo e admiração, mostrando-me o quanto é grande o seu amor. E, em especial a Deus, por sua presença constante na minha vida, ofertando-me a luz e a força necessárias para cumprir o meu dever.


Agradecimentos

Agradeço:

Ao Prof. Dermeval da Hora, pela orientação, oportunidade, amizade, cumplicidade e, acima de tudo, pelo exemplo que representa para mim. À Profª. Jânia Ramos, pela paciência, carinho e presteza com que me ajudou a realizar este trabalho. À Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo apoio financeiro, que me propiciou a dedicação exclusiva a esse trabalho. À Coordenação de Pós-Graduação em Letras, pelo incentivo. À UFPB, pela formação profissional e pela oportunidade de especializar ainda mais os meus conhecimentos. Aos informantes do VALPB, que além de fornecerem o precioso objeto desta pesquisa, compartilharam um pouco de suas vidas comigo. A Aparecida, às amigas e aos amigos do VALPB, por me mostrarem o verdadeiro valor da amizade, que transformou o nosso ambiente de estudo em uma família. A todos os funcionários, com cuja colaboração valiosa, auxiliaram-me nos deveres de mestranda.


SUMÁRIO LISTA DE QUADRO, TABELAS E GRÁFICOS

i

ABREVIATURAS E SÍMBOLOS UTILIZADOS

iii

RESUMO

iv

ABSTRACT

v

INTRODUÇÃO

1

CAPÍTULO 1: ORDEM SV/VS

5

1.1. Breve Resenha de estudos sobre a Ordem SV/VS no Português

5

1.2. Hipótese de Análise

8

CAPÍTULO 2: SOCIOLINGÜÍSTICA VARIACIONISTA

10

2.1. Breve Histórico da Sociolingüística

10

2.2. Modelo Teórico-Metodológico de Análise

13

CAPÍTULO 3: ESTUDO QUANTITATIVO

19

3.1. Descrição da Amostra

19

3.2. Levantamento dos Dados

23

3.3. Variáveis Trabalhadas

24

3.3.1. Variável Dependente

24

3.3.2. Variáveis Independentes

25

3.3.2.1. Variáveis Sociais

25

3.3.2.2. Variáveis Lingüísticas

26

3.4. Tratamento Estatístico

33


CAPÍTULO 4: ANÁLISE DOS RESULTADOS

37

4.1. Resultados Gerais

37

CAPÍTULO 5: ANÁLISE DAS VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS

40

5.1. Variáveis Lingüísticas Selecionadas

40

5.1.1. Transitividade Verbal

40

5.1.2. Animacidade do SN Sujeito

44

5.1.3. Tipo de Sujeito

47

5.1.4. Definitude do SN Sujeito

50

5.2. Demais Variáveis Lingüísticas

55

5.2.1. Status Informativo do SN Sujeito

55

5.2.2. Tipo de Sentença

58

5.2.3. Forma Verbal

60

5.2.4. Voz Verbal

62

CAPÍTULO 6: ANÁLISE DAS VARIÁVEIS SOCIAIS

65

6.1. Anos de Escolarização

65

6.2. Sexo

68

6.3. Faixa Etária

70

CAPÍTULO 7: ENCAIXAMENTO LINGÜÍSTICO

76

CAPÍTULO 8: CONCLUSÃO

83

BIBLIOGRAFIA

85


i

LISTA DE QUADRO, TABELAS E GRÁFICOS

QUADRO QUADRO 1 – DESCRIÇÃO DA AMOSTRA

22

TABELAS 1. TAB.1 – RESULTADOS GERAIS

37

2. TAB. 2 – TRANSITIVIDADE VERBAL

42

3. TAB. 3 – ANIMACIDADE DO SN SUJEITO

45

4. TAB. 4 – ANIMACIDADE X TRANSITIVIDADE

46

5. TAB. 5 – TIPO DE SUJEITO

47

6. TAB. 6 – TIPO DE SUJEITO X TRANSITIVIDADE

48

7. TAB. 7 – TIPO DE SUJEITO X ANIMACIDADE

49

8. TAB. 8 – DEFINITUDE DO SN SUJEITO

51

9. TAB. 9 – DEFINITUDE X TRANSITIVIDADE

51

10. TAB. 10 – DEFINITUDE X TIPO DE SUJEITO

53

11. TAB. 11 – STATUS INFORMATIVO DO SN SUJEITO

56

12. TAB. 12 – STATUS INFORMATIVO DO SN SUJEITO X TRANSITIVIDADE 57 13. TAB. 13 – TIPO DE SENTENÇA

59

14. TAB. 14 – FORMA VERBAL

61


ii

15. TAB. 15 – VOZ VERBAL

63

16. TAB. 16 – ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO

66

17. TAB. 17 – SEXO

68

18. TAB. 18 – SEXO X ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO

69

19. TAB. 19 – FAIXA ETÁRIA

71

20. TAB. 20 – FAIXA ETÁRIA X ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO

72

21. TAB. 21 – FAIXA ETÁRIA X SEXO

73

22. TAB. 22 – ORDEM VS E ORDEM OV

79

23. TAB. 23 – ORDEM VS E ORDEM OV

80

GRÁFICOS

1. GRÁFICO 1 – ANIMACIDADE DO SUJEITO X TRANSITIVIDADE

46

2. GRÁFICO 2 – DEFINITUDE DO SUJEITO X TRANSITIVIDADE

52

3. GRÁFICO 3 – DEFINITUDE X ANIMACIDADE X TIPO DE SUJEITO

54

4. GRÁFICO 4 – STATUS INFORMATIVO X TRANSITIVIDADE

58

5. GRÁFICO 5 – ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO

67

6. GRÁFICO 6 – SEXO X ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO

69

7. GRÁFICO 7 – FAIXA ETÁRIA

71

8. GRÁFICO 8 – FAIXA ETÁRIA X ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO X SEXO

74

9. GRÁFICO 9 – VARIÁVEIS SOCIAIS

75


iii

ABREVIATURAS E SÍMBOLOS UTILIZADOS SV – Ordem sujeito verbo VS – Ordem verbo sujeito OV – Ordem objeto verbo CV – Concordância Verbal SVO – Ordem sujeito verbo objeto VSO – Ordem verbo sujeito objeto VOS – Ordem verbo objeto sujeito XVX – X é qualquer elemento que possa vir antes ou depois de V (verbo) SN – Sintagma Nominal PB – Português Brasileiro PE – Português Europeu Spec, IP – Especificador do Sintagma Flexional (Inflexional Phrase) Spec, VP – Especificador do Sintagma verbal (Verbal Phrase) PR – Peso Relativo % - Porcentagem Nº de ocorrências/Total – Número de ocorrências do fator especificado sobre o total de ocorrências TAB - Tabela S – Sentença Prep – Preposição -ing e –in - Formas do gerúndio em Inglês EUA – Estados Unidos da América


iv

RESUMO

Este estudo foi realizado com base nos postulados teóricos e metodológicos da Teoria da Variação Lingüística, objetivando analisar descritivamente a ordem do sujeito em relação ao verbo na fala pessoense. Utilizamos, para tanto, dados coloquiais de 36 informantes que fazem parte do corpus do Projeto Variação Lingüística no Estado da Paraíba (VALPB). Esses informantes estão estratificados socialmente em relação ao sexo, à fai xa etária e aos anos de escolarização. Ao longo da pesquisa, procuramos determinar quais os ambientes em que cada variante (SV ou VS) ocorre, analisando os possíveis fatores lingüísticos e extralingüísticos responsáveis pela escolha de uma delas. E com a ajuda dos resultados estatísticos obtidos pelo pacote de programas Varbrul (Pintizuk, 1988), pudemos confirmar as variáveis anos de escolarização; transitividade verbal; animacidade, tipo e definitude do SN sujeito como as mais relevantes para ‘Ordem Sujeito Verbo/Verbo Sujeito na Fala Pessoense’.

v


ABSTRACT

This research is supported by the theoretical and methodological postulates of the Linguistic Variation Theory, aiming to develop a descriptive analysis of the subject order in relation to the verb in the speech of the population of João Pessoa. We have used for this, colloquial data from 36 speakers which made part form the corpus of the Projeto Variação Lingüística no Estado da Paraíba (VALPB). This speakers are socially classified according with sex, age and school level. In the course of this research, we have tried to detect which are the social and linguistic environment of each variant (SV or VS) which probable are the responsible for the choice of one of the variants. And according with the statistical results obtained by Varbrul programs (Pintizuk, 1988), we have confirmed school level; verbal transitivity; liveliness, type and definiteness of the subject as the most relevant variables for the ‘Ordem Sujeito Verbo/Verbo Sujeito na Fala Pessoense’.


INTRODUÇÃO

A Sociolingüística veio mostrar a importância de estudos que descrevem o perfil lingüístico dos falantes, deixando de lado preconceitos existentes sobre a linguagem, pois, ao considerar o fator social como um dado relevante na determinação de formas de falar, a Sociolingüística evidencia o fato de que a língua apresenta processos correlacionados a fatores lingüísticos e extralingüísticos. Essa consideração nos permite aceitar a língua como objeto social e, portanto, variável. Contudo, isso não implica que a mesma não seja passível de sistematização, sendo essa sistematização a principal contribuição da Sociolingüística. Assim, ao analisar especificamente a linguagem oral, percebemos que os processos lingüísticos, nessa modalidade, manifestam-se bem diferentes do que estabelecem as gramáticas normativas, e isso nos dá a noção da complexidade que os fenômenos lingüísticos apresentam. E é diante dessa complexidade que analisaremos, à luz da Sociolingüística Quantitativa, apenas, dados coloquiais que privilegiam o fenômeno da ordem Sujeito/Verbo (SV) na fala pessoense, a exemplo de: O vôlei é bom. (SV) É bom o vôlei. (VS) Comprovando, dessa forma, que as ordens sujeito/verbo e verbo/sujeito ocorrem na fala coloquial do português. Assim, essa busca de sistematização do aparente „caos‟ lingüístico referente à Ordem SV na fala justifica um trabalho que tenha como objeto de estudo a linguagem oral, lembrando sempre que esta modalidade da língua em muito difere da linguagem escrita, sem, é claro, desmerecer nenhuma das duas, e, sim, reafirmando a importância e


peculiaridades que possuem. E é só através de uma visão conjunta desses dois componentes que se pode obter um estudo mais completo dos fatos de uma língua. Outra importante justificativa é o fato de que a estrutura da frase é bem mais complexa do que as descrições das gramáticas tradicionais permitem prever. Assim sendo, torna-se imprescindível a realização de um trabalho que toma como objeto enunciados reais em situações normais de uso da língua, pois só assim se poderá abarcar, mais amplamente, a complexidade que a variável aqui estudada apresenta. Uma descrição detalhada dos fatores que regem o processo lingüístico da Ordem e sua relação com outros processos lingüísticos com certeza contribuirão para explicitar o comportamento da variável em estudo. Assim, para que tais resultados possam fornecer, de fato, subsídios para uma melhor compreensão sobre a língua, estabelecemos os seguintes objetivos gerais:  traçar um perfil da freqüência das variantes na fala da comunidade de João Pessoa;  determinar que outras variáveis lingüísticas estão vinculadas ao processo da Ordem SV;  estabelecer comparações entre esse e demais estudos sobre a ordem SV; Estabelecemos, também, os seguintes objetivos específicos:  verificar a ordem de maior freqüência: SV ou VS ;  estabelecer os fatores que favorecem a ocorrência da ordem VS;  definir tais fatores hierarquicamente;  apresentar uma possível explicação para o fenômeno, com base nas variáveis sociais e estruturais que norteiam a variação da ordem SV;


 verificar se a variação da Ordem SV reflete um estágio de variação estável ou um processo de mudança em progresso;  informar sobre o encaixamento lingüístico da variável. Com base na literatura existente sobre a Ordem, assim como no conhecimento prévio de alguns dos dados a serem analisados, temos como hipóteses gerais:  a ordem SV da frase é a de maior ocorrência;  os fatores sociais não condicionam esta variação;  os fatores estruturais de natureza sintática e semântico-discursiva serão os de maior influência na ordem SV/VS. Por fim, lembramos que este trabalho tem cunho puramente descritivo, e para alcançar o seu intento, apresentará a seguinte ordem expositiva: No primeiro capítulo, será esboçado o nosso Objeto de Estudo, mostrando as suas implicações na língua falada. Logo após, faremos uma breve resenha dos trabalhos já realizados sobre o nosso objeto de estudo. No segundo capítulo, será apresentado o referencial teórico que nos serve de base. Primeiramente, mostraremos a relação entre a língua e o social antes do surgimento da Sociolingüística, e em seguida adentraremos de fato na própria teoria variacionista. No terceiro capítulo, será feita uma exposição sobre a metodologia utilizada neste trabalho, situando a nossa amostra, o projeto ao qual estamos vinculados (VALPB), os dados excluídos, as variáveis por nós levantadas e por fim o suporte quantitativo utilizado. No quarto capítulo, serão apresentados os resultados gerais, descrevendo o processo de análise quando indicaremos as variáveis estruturais e sociais que se destacaram como mais relevantes para o nosso fenômeno.


No quinto capítulo, serão tratadas as variáveis lingüísticas consideradas relevantes para a variação da Ordem SV, considerando também as hipóteses para cada uma delas, assim como realizando os devidos cruzamentos entre elas. Serão observadas, ainda neste capítulo, as variáveis lingüísticas descartadas estatisticamente. No sexto capítulo, serão analisadas as variáveis sociais trabalhadas e m nossa pesquisa, possibilitando, dessa forma, corroborar as nossas hipóteses iniciais e efetuarmos o devido cruzamento entre elas. No sétimo capítulo, será feito o encaixamento lingüístico da Ordem Sujeito Verbo, relacionando o comportamento dessa variável ao comportamento de outros fenômenos, Objeto Direto Anafórico, Ordem Verbo Objeto e Concordância Verbal, presentes na comunidade pessoense. No oitavo capítulo, serão feitas as considerações finais, retomando os fatores que se demonstraram relevantes, bem como expondo o cumprimento dos nossos objetivos, evidenciando, também, os questionamentos que merecem investigação futura. Para finalizar, será apresentada a bibliografia utilizada em nossa pesquisa.


CAPÍTULO 1: ORDEM SV/VS

Neste capítulo, faremos um resumo de alguns dos trabalhos realizados sobre o mesmo objeto de estudo por nós selecinado: Ordem Sujeito/Verbo no Português. Esses trabalhos (Bittencourt, 1980; Lira, 1986; Berlink, 1989; Chaves, 1989; Decat, 1989, Oliveira, 1989; Araújo, 1990; Santos, 1990; Kato et al, 1996; Morais, 1996 e Costa, 1997) serviram como base para o levantamento das nossas hipóteses e fatores, já que, segundo a Teoria Variacionista, fenômenos semelhantes em uma mesma língua tendem a possuir as mesmas restrições, diferindo apenas em algumas especificações atribuídas à comunidade de uso. Após esse breve comentário, teceremos, então, algumas observações sobre a Ordem Sujeito/Verbo como nosso objeto de estudo.

1.1. BREVE RESENHA DE ESTUDOS SOBRE A ORDEM SV/VS NO PORTUGUÊS

É importante salientarmos que a maioria dos trabalhos a serem mencionados aqui casaram o aparato metodológico da Sociolingüística variacionista a outras teorias (Gerativa ou Funcionalista). Iniciando por Bittencourt (1980), vemos que a autora confirma a importância da transitividade verbal para a possibilidade de ocorrência da Ordem VS, pois segundo a autora, as estruturas, contendo verbo intransitivo e de ligação, favoreceriam essa ordem, apresentando para tanto uma formalização sintática com base na teoria Gerativa.


Lira (1986) confirma a ocorrência da Ordem VS com os verbos intransitivos e de ligação com o sujeito nominal. Revela, ainda, que é mais provável que o sujeito posposto seja indefinido, novo e inanimado. Berlinck (1989), em seu estudo diacrônico sobre a Ordem SV, mostra a diminuição da Ordem VS nos estágios mais recentes (séculos XIX e XX). Faz uma análise bastante consistente do fator transitividade, comprovando a força dos fatores formais para essa variável. Busca através de tal fato, constituir uma evidência a favor do possível encaixamento lingüístico entre a queda no uso dos clíticos e o aumento da ordem SV, já observado por Tarallo (1983). Chaves (1989), em seu estudo sobre o português da fronteira, destaca que outros fatores, além da transitividade, são relevantes para a Ordem Sujeito/Verbo, comprovando, dessa forma, a importância de fatores semântico-discursivos, como a animacidade, a definitude e o status informacional do sujeito. Decat (1989) faz um estudo diacrônico, encaixando lingüisticamente o fenômeno da Ordem ao Sistema Pronominal. A presença dos clíticos permite às sentenças uma maior liberdade quanto à ordem dos sintagmas. Contudo, com a perda da morfologia dos casos e da supressão dos clíticos, a ordem dos constituintes se tornou mais rígida, marcando, dessa forma, as funções sintáticas da sentença, confirmando, assim, a diminuição da Ordem VS no quadro sincrônico. Oliveira (1989) estuda os fenômenos de preenchimento, supressão e ordem do sujeito e do objeto nas sentenças do português, concluindo que o fenômeno do preenchimento dos constituintes da sentença é mais produtivo do que o seu ordenamento, e por isso, opta por estabelecer uma matriz flexível para o Português: XVX, onde a determinação dos Xs dependerá da atualização da sentença.


O estudo gerativista de Araújo (1990) analisa a Posposição do sujeito em Português com o intuito de defini- la como uma regra estilística (Chomsky e Lasnik, 1977) ou de mova  1 aplicada antes da estrutura superficial e que obedece a princípios da Gramática Gerativa (Burzio, 1986; Mira Mateus, 1983; Kayne e Pollack, 1978 e Kayne, 1979). Opta, com base nas características da posposição do sujeito no português, pela segunda alternativa. Em Santos (1990), temos uma discussão funcional sobre a ordem do sujeito e do verbo na sentença. Para tanto, a autora se utiliza da metodologia laboviana e controla vários fatores de origem sintática e semântico-discursiva. Dentre tais fatores, ressaltou os seguintes como relevantes para a Ordem VS: verbos intransitivos e de ligação, sujeitos nominais, oracionais e compostos, SNs sujeito com traços [-definido], [-animado], [-agente] e que carreguem informação nova. Kato et al (1996) objetivam especificamente estudar as Construções-Q 2 no Português brasileiro. Contudo, ao adentrar nas construções interrogativas-Q, na quarta seção, o alvo muda para a ordem dos constituintes nesse tipo de sentença, adequando-se, então, ao objetivo do nosso trabalho. Com a ajuda de vários fatores estruturais e sociais, as autoras buscam provar que a ordem preferencial da sentença é SVO, indicando, dessa forma, uma mudança sintática no padrão das interrogativas no português brasileiro. O estudo diacrônico de Morais (1996) apresenta uma discussão a respeito de uma possível mudança paramétrica na gramática interna dos falantes do português do Brasil. E, com base na Teoria Princípios e Parâmetros, a autora consegue provar que houve uma reanálise da estrutura da frase, concretizando, dessa forma, uma mudança no parâmetro do Caso Nominativo por regência na estrutura da frase no PB contemporâneo.

1 2

Regra de deslocamento do especificador () para u ma posição não temática. Construções interrogativas que apresentam pronomes interrogativos.


O último trabalho que mencionaremos aqui é o de Costa (1997) no qual é retomada a discussão sobre a posição do sujeito em línguas de sujeito nulo. Tendo por objeto de estudo o Português Europeu, o autor defende, com base na Teoria Gerativa, que o sujeito ocupará a posição de Spec, IP se for definido, e a posição de deslocamento à esquerda, se indefinido. Correlaciona, dessa forma, a posição do sujeito e o seu estatuto quanto à definitude.

1.2. HIPÓTESE DE ANÁLISE

Uma constante discussão na literatura sociolingüística é a questão das variáveis sintáticas. Sabemos que, para estabelecer uma variação lingüística, é prec iso, segundo Winford (1996: 177), identificar: 1. a estrutura profunda ou representação; 2. a equivalência semântica das variantes; 3. a natureza e motivações da mudança sintática. O problema da variação sintática reside exatamente no segundo item, pois o sentido de equivalência semântica pode diferir dependendo do propósito do estudo, e nem sempre as variantes sintáticas satisfazem esse item. O sentido de equivalência semântica aqui adotado será o mesmo defendido por Winford (1996), ou seja, as variantes que não possuírem distinção semântica poderão ser analisadas pela variação lingüística.


Assim, à primeira vista, consideraremos todas as ocorrências de SV/VS como variantes, deixando para tomar alguma posição a respeito de possíveis distinções semânticas após a análise dos dados e das restrições ligadas a essa variável. Teremos, portanto, por objeto de estudo estruturas que contemplem sujeito e verbo explícitos, possibilitando, dessa forma, a investigação da alternância de tais elementos dentro da estrutura frasal: Exemplos de estruturas Verbo/Sujeito: 1. Num existe isso não. (JM-A NM ) 3 2. É bom o volei. (FP-JUM ) 3. Faltou o gás. (MLSL-JNF) Exemplos de estruturas Sujeito/Verbo: 1. Minha mãe era do interior. (AFD-JNM ) 2. Mas eu num quis estudar. (AFD-JNM ) 3. Ela manda varrer a casa às vezes. (AFD-JNM )

Explicitado o nosso objeto de estudo, encaminhemo-nos, então, para o próximo capítulo, onde enquadraremos teoricamente o nosso trabalho.

3

Os códigos entre parênteses são as indicações das entrevistas. Para maiores detalhes, ver capítulo 4 da Metodologia.


CAPÍTULO 2: SOCIOLINGÜÍSTICA VARIACIONISTA

2.1. BREVE HISTÓRICO DA SOCIOLI NGÜÍSTICA

O homem sempre se preocupou com a língua e seus aspectos. Na antigüidade, por exemplo, essa preocupação estava voltada para o que seria a língua. Com o tempo, esse aspecto deixou de ser o ponto chave das pesquisas, transformando-se na necessidade de se saber, do ponto de vista genético, de onde a língua viria, iniciando-se aí a pesquisa no campo histórico. Então coube “à Gramática Comparada estreitar ainda mais os vínculos de semelhança entre as línguas, vindo a propor a relação de parentesco entre as mesmas.” (RAMAZINI, 1990: 21). Assim, a partir dos estudos do século XIX, chega-se à idéia de mudança em si, pois fenômenos como a evolução e a diferenciação das línguas já eram bastante perceptíveis à observação humana, e foram comprovados nesses estudos comparativistas. Nasce, depois desses estudos, a escola dos neogramáticos, que teve como principais representantes Osthoff, Brugmann e Hermann Paul. Essa nova escola criticava as pesquisas anteriores pelo fato de excluírem os fatores psicoló gicos de seus estudos, que, para os neogramáticos, atuariam em inúmeras mudanças e inovações fonológicas (TARALLO, 1990: 44-5). É importante perceber que essa escola foi a primeira a observar a regularidade na mudança dos sons, que por sua vez, remete ao estudo da mudança lingüística. Isso se deve ao fato de eles acreditarem que a mudança seria essencialmente mecânica e regular, podendo ser explicada através das Leis Fonéticas e da Analogia. Outro fato interessante dessa escola foi a consideração de Paul, q ue chamou a atenção para a importância das relações sociais na evolução da língua que, por conseguinte, estariam intimamente ligadas à evolução da sociedade (Apud HORA, 1997: 161).


Essa relação entre o falante e o uso lingüístico também foi considerada por outra escola: a estruturalista, com representantes na Europa e nos Estados Unidos. Saussure, o principal representante do estruturalismo europeu, faz afirmações importantes, dentre elas, a de que a linguagem tem um lado individual equivalente à fala (parole) e um lado social correspondente à língua (langue), sendo a língua a parte social da linguagem e por isso exterior ao indivíduo, enquanto a fala seria a realização individual da língua. Esses conceitos culminam, segundo Labov (1972: 186), em um paradoxo, referido como paradoxo saussuriano, a saber, “ o aspecto social da língua é estudado pela observação de qualquer indivíduo, enquanto o aspecto individual apenas pela observação da língua no seu contexto social.” 4 Apesar de suscitar questionamentos contrários, os conceitos de langue e parole foram bastante importantes e trouxeram ao seu lado outra dicotomia:

sincronia X

diacronia, possibilitando a divisão dos estudos lingüísticos em diacrônicos e sincrônicos. Nessa época, contudo, a mudança só seria perceptível em nível diacrônico, pois em nível sincrônico, a língua era considerada um sistema estático e parado, ou seja, a estrutura tão almejada por essa escola. Essa concepção saussuriana foi adotada sem alteração substancial pelo estruturalismo americano, cujo principal representante foi Bloomfield (Apud HORA, 1997: 162-4). Em meados de 1950, com o enfraquecimento do estruturalismo, surge a Teoria Gerativa. Com essa nova teoria, as pesquisas relacionadas à mudança foram deixadas de lado, já que essa escola preocupou-se apenas com o falante-ouvinte ideal em uma comunidade lingüística completamente homogênea. Com isso, essa escola buscava descrever os processos lingüísticos numa perspectiva biológica, ou seja, o que se passava em relação à linguagem na mente do falante. E baseado no interesse falante-ouvinte ideal, Chomsky (1965) apresenta novos conceitos: competência e desempenho, que podem ser 4

“Thus we have the Saussurian paradox: the social aspect of language i s studied by observing any one individual, but the individual aspect only by observing language in its social contex.” (Labov, 1972: 186)


relacionados, até certo ponto, com a dicotomia langue/parole de Saussure, já que a competência seria o conhecimento possuído pelo falante-ouvinte de sua língua; e o desempenho, o uso efetivo desse conhecimento em situações concretas. 5 A partir dessa época os lingüistas parecem formar dois grupos principais:

Grupo A, o grupo „social‟, que presta atenção especial aos fatores sociais na explicação da mudança, vê funções expressivas e diretas da língua intimamente interrelacionada com a comunicação da informação referencial; estuda a mudança em progresso e vê o prosseguimento da mudança refletido em mapas dialetais; e enfatiza a importância da diversidade lingüística, línguas em contato, e o modelo oscilante da evolução lingüística. Lingüistas do Gupo B, o grupo „associal‟, focalizam puramente os fatores internos – estruturais ou psicológicos – na explicação da mudança; segregam a comunicação afetiva ou social da comunicação das „idéias‟; acreditam que a mudança fonética em progresso não pode ser estudada diretamente, e que os estudos da comunidade ou os mapas dialetais mostram nada mais do que os resultados de empréstimo dialetal; eles consideram uma comunidade homogênea, monolingüe como típica, trabalhando dentro do modelo Stammbaum da evolução lingüística. [Contudo,] seria injusto sustentar que o Grupo B desconsidera inteiramente os fatores sociais na explicação da mudança lingüística.[...]. (LABOV, 1972:264-5) 6

Portanto, lingüistas como Whitney, Schuchardt, Rousselot, Gauchat, Meillet, Vendryes, Jespersen e Sturtevant fariam parte do primeiro grupo, enquanto Sweet, Kurylowicz, Humboldt, Paul, Mathesius, Bloomfield, Hockectt, Martinet, Chomsky e Halle fariam parte do segundo. (LABOV, 1972: 266)

5

É impo rtante lembrarmos que muitos desses conceitos da Gramática Gerativa foram retomados e reformu lados, dando origem a novos modelos. Mais detalhes sobre as tendências e concepções atuais da Gramát ica Gerativa ver Cho msky (1997). 6 Thus linguistics seem to fall into major groups in this matter. Group A, the „social‟ group, would pay attention to social factors in explain change; see expressive and directive functions of language closely intertwined with the communication of referential information; study change in progress and see on -going change reflected in dialect maps; and emphasize the importance of linguist ic diversity, language in contact, and the wave model of linguistic evolution. Linguists of Group B, the „asocial‟ group, focus upon purely internal – structural or psychological – factors in explaining change; segregate affective or social communication from the communication of „ideas‟; believe that sound change in progress cannot be studied directly, and that community studies or dialect maps show nothing but the results of dialect borrowing; they would take the homogeneous, monolingual community as typical , working within the Stammbaum model of linguistic evolution. It would be unfair to argue that Group B linguists would disregard social factors entirely in explaining Linguistic change. [...] (Labov, 1972: 264-5)


Dessa forma, os estudos que insistiam na relação entre a língua e o social e na possível heterogeneidade lingüística começam a refletir sobre alguns pontos que intrigavam e até mesmo questionavam a teoria gerativista:

Se uma língua tem que ser estruturada para funcionar eficientemente, como as pessoas continuam falando enquanto a língua muda, isto é, enquanto passa por períodos de reduzida sistematicidade? Alternativamente, se pressões determinantes forçam a língua a mudar, e se a comunicação é menos eficiente na ínterim (como poderia dedutivamente seguir pela teoria), porque tais deficiências não podem ser observadas na prática?7 (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968: 100-1)

Como tentativa de responder a essas perguntas, surgiu a Sociolingüística, que busca investigar a relação entre língua e sociedade, objetivando entender melhor a estrutura da língua e o seu funcionamento na comunicação. (WARDHAUGH, 1996: 13)

2.2. MODELO TEÓRICO-METODOLÓGICO DE ANÁLISE

Feitas estas considerações, passemos à Teoria da Variação ou Sociolingüística Quantitativa que será, efetivamente, a teoria que norteará o nosso trabalho. Tal modelo tem por precursor o lingüista norte-americano William Labov, e é denominado de Sociolingüística Quantitativa por operar com números e tratar estatisticamente os dados. É importante salientarmos que o grande avanço dessa escola foi exatamente a reformulação da relação entre sistema, estrutura e homogeneidade, que os estudos anteriores insistiam em fazer. Para a Sociolingüística, o sistema e a estrutura podem ser vinculados à heterogeneidade, e apesar de ser essa ligação aparentemente contraditória, é possível provar que a heterogeneidade presente na fala é regida por restrições (lingüísticas

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After all, if a language has to be structured in order to function efficiently, how do people continue to talk while the language changes, that is, while it passes through periods of lessened systematicity? Alternatively, if overriding pressures do force a language to change, and if co mmunication is less efficient in the interim (as would deductively follow from the theory), why have such inefficiencies not been observed in practice? (Weinreich, Labov & Herzog, 1968: 100-1).


e sociais), tornando-a passível de sistematização. Isso possibilita a descrição dos processos lingüísticos que ocorrem na fala, alcançando-se, dessa forma, a sistematização almejada. Assim, a Sociolingüística tem por propósito explicar a mudança lingüística e suas relações com o social, ou seja, é o estudo de fatores lingüísticos ligados aos fatores sociais, acreditando, portanto, nas diferenças entre as formas de fala a depender do interlocutor, da situação, do nível de formalidade do discurso etc. Para conseguir tal intento, a Sociolingüística Variacionista utiliza-se da língua como objeto de estudo, já que esta se apresenta como “um objeto histórico e cultural que se constitui a partir da interação social entre os membros de uma determinada coletividade...” (LUCCHESI, 1998: 210), permitindo, dessa forma, demonstrar “que a mudança não é apenas uma função do sistema lingüístico, mas uma função da interação da estruturação interna da língua com o processo social em que ela se realiza ...” (LUCCHESI, 1998: 200) Dessa forma, ao buscar resolver a questão da mudança lingüística, essa escola adentra cinco problemas básicos que se encontram organizados e sistematizados em Empirical Foundations for a Theory of Language (WEINREICH, LABOV e HERZOG, 1968). São eles: o problema das restrições (constraints problem), o problema do encaixamento (embedding problem), o problema da avaliação (evaluation problem), o problema da transição (transition problem), e o problema da implementação (actuation problem).

O primeiro problema é o das restrições, em que se definem quais são os fatores estruturais e sociais que favorecem ou restringem a mudança lingüística em estudo. Ao estabelecer hipóteses que possam condicionar as variáveis, a Sociolingüística comprova que não existe variação livre, já que a variação é determinada por fatores sociais e estruturais, surgindo, aqui, o uso de regra categórica vs variável em oposição ao uso de


regra categórica vs opcional de Chomsky, já que essa última remete à variação livre não aceita pela Teoria Sociolingüística. Além dessa nova concepção, as regras variáveis exigem mais detalhes, pois, como mencionado acima, subentendem hipóteses lingüísticas e sociais para cada variável, sendo, portanto, chamadas regras explanatórias. (LE PAGE, 1997: 23) O outro problema a ser solucionado pelo sociolingüista é o do encaixamento (embedding problem), ou seja, a análise das hipóteses lingüísticas e extralingüísticas levantadas a partir dos resultados obtidos nos dados. Neste passo, pretende-se comprovar ou não o encaixamento lingüístico e social da variável estudada. Muitas vezes, as conclusões são obtidas com ajuda de outros trabalhos que tenham algo em comum com a variável em estudo. A avaliação, que é o terceiro problema, consiste exatamente na avaliação dos membros da comunidade a respeito da mudança em estudo, ou seja, os membros de uma comunidade, realizando seu julgamento sobre a variável que está sendo analisada. Isso pode ser feito pela comparação de diversos estilos de fala, fazendo um cruzamento com as classes sociais estudadas, ou ainda, em forma de testes que provoquem a utilização da variável pelos informantes (teste de produção) ou que questionem os falantes sobre as variantes que lhes foram apresentadas (testes de percepção). Esses resultados dão condições ao pesquisador de diferenciar as variantes em estereótipos, marcadores e indicadores lingüísticos 8 . Antes, porém, de mencionarmos os dois últimos problemas a serem solucionados pelo pesquisador, é fundamental esclarecer o que é tempo real e aparente, já que os dois últimos problemas estão relacionados a eles. Esses dois conceitos introduzidos pela Teoria da Variação dizem respeito à projeção histórica da variável. O tempo real seria o estudo da

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Tanto as variantes que são indicadores quanto as que são marcadores lingüísticos “não se manifestam a nível de consciência na comunidade; a diferença entre as duas está no fato de marcadores permitirem variação estilística.” (Tarallo, 1994: 62) O estereótipo, por sua vez, é u ma variante, que pode ser estigmatizada ou não, de domínio público de u ma co munidade.


variável em tempos distintos de posse de uma amostra diacrônica, ou seja, estuda-se uma variável hoje, e mais tarde, estuda-se a mesma variável, com os mesmos informantes, para se obter a consolidação ou não da mudança, isto é, saber que rumos a variável tomou. Já o tempo aparente seria um recorte transversal na amostra sincrônica em função da faixa etária dos informantes para se obter a primeira dimensão histórica da análise. (TARALLO, 1994: 65) Torna-se possível com esses dois tempos obter as duas direções básicas na Variação Lingüística: variação estável e mudança em progresso 9 . Essas direções podem ser observadas no tempo aparente com a ajuda do fator social faixa etária. Na mudança em progresso, a variante inovadora será mais usada pelos jovens, decrescendo em relação à faixa etária, e, por isso, a variante conservadora, que é mais usada pelos informantes mais velhos, tende a se extinguir com essa faixa etária, o que faz prevalecer na língua a variante inovadora. Na variação estável, por sua vez, há uma distribuição estável das duas variantes nas faixas etárias, aproximando, muitas vezes, o uso dos informantes mais novos ao uso dos informantes mais velhos. Entretanto, é importante salientarmos que não será apenas a faixa etária que indicará qual a situação das variantes na pesquisa realizada, mas a relação entre a faixa etária e os outros fatores sociais estudados, tais como: classe social, escolaridade, sexo etc. Lembrando, também, que apesar de o tempo aparente dar os indícios da mudança, a mesma só poderá ser comprovada de forma efetiva através do tempo real. Agora podemos, de fato, adentrar dois últimos problemas: transição (transition problem) e implementação (actuation problem). A transição seria a resposta de como e por quais caminhos a língua muda, ou seja, a projeção histórica da variação (variação estável ou mudança em progresso).

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Variação estável seria a coexistência das variantes de forma estável, enquanto que a mudança em progresso seria o indício de morte de uma das variantes e consolidação da outra. Essas situações pod em ser observadas através dos dois tempos: real ou aparente. (Tarallo, 1994: 63)


E a implementação seria por quê, quando e onde determinada mudança ocorreu, ou seja, o estudo da mudança em si.

Em outras palavras, inicia-se o processo de investigação no momento presente; volta-se ao passado para o devido encaixamento histórico das variantes, retornando-se, a seguir, ao presente para o fechamento do ciclo de análise. (TARALLO, 1994: 64)

A necessidade de a investigação ter início no presente (tempo aparente) e retornar ao passado (tempo real) se justifica pelo princípio da uniformidade.

Segundo esse princípio, as forças que atuam no momento sincrônico presente são (ou deveriam ser) as mesmas que atuaram no passado e viceversa. Portanto uma teoria da mudança lingüística deve guiar-se por uma articulação teórica e metodológica entre presente-passado e presente. (TARALLO, 1994: 64)

Assim, como foi dito antes, a pesquisa sociolingüística tem por objetivo principal a sistematização da variação. Para se alcançar tal objetivo, ela tem que formar um corpus baseado em dados naturais de fala, descrever detalhadamente a variável e suas variantes, estabelecer quais os possíveis fatores lingüísticos e sociais que influenciam a variável, encaixá- la lingüisticamente, avaliá- la e observar os processos de transição e implementação que a envolvem. Dessa forma, obtém-se o resultado esperado pelo pesquisador: dar conta da dimensão social, cultural e histórica do fenômeno lingüístico. Contudo, a pesquisa sociolingüística não termina por aqui, pois como afirma Tarallo (1994: 84):

Uma teoria geral de mudança lingüística para ser satisfatória deverá dar conta das condições que determinam o início, a velocidade, a direção, a propagação e o término de uma determinada mudança, e, eventualmente, a partir de dados analisados de vários sistemas, generalizar o conjunto de tais condições para a mudança lingüística.


Assim, resta ainda ao pesquisador enveredar pelo campo dos Universais Variáveis, pois todo processo lingüístico variável se mostra complexo e sistemático. Complexo, por apresentar um grande número de restrições; e sistemático, pelo fato de a maioria das restrições serem similares nas comunidades de fala. (GUY, 1996: 1) É exatamente a incidência dos mesmos efeitos lingüísticos e sociais em processos similares que se pode denominar de universais variáveis, ou seja, os fatores lingüísticos e extralingüísticos que se correlacionam com um processo de mudança em diferentes comunidades lingüísticas, sendo essa sistematicidade o foco de estudos atuais na pesquisa sociolingüística. Como a nossa pesquisa tem por arcabouço teórico a Sociolingüística Variacionista, buscamos, situá- la, primeiramente, na história da lingüística e, em seguida, estabelecer quais os princípios fundamentais que ela apresenta. Com isso, podemos passar para o capítulo seguinte, que tratará da metodologia que utilizamos para atingir os nossos objetivos.


CAPÍTULO 3: ESTUDO QUANTITATIVO

Ao conceber a língua como um organismo vivo e dinâmico, a Sociolingüística se propõe a estudar os processos que envolvem essa evolução. Para tanto, tem por objeto de estudo a fala espontânea onde se torna mais evidente o vernáculo dos falantes, ou seja, situações informais de fala, refletindo, dessa forma, o dinamismo lingüístico. Assim, toda pesquisa que utilize a metodologia laboviana, tem que, primeiramente, coletar dados reais de fala que exprimam o vernáculo, em seguida transcrevê- los e armazená- los. E após o trabalho da coleta dos dados, analisá-los a partir de um tratamento estatístico, estabelecendo, conseqüentemente, as restrições sociais e lingüísticas pertinentes à variável estudada. Como a nossa pesquisa tem por base metodológica o modelo laboviano, relataremos, na próxima seção, os passos por nós seguidos para o tratamento dos dados.

3.1. DESCRIÇÃO DA AMOSTRA

As nossas ocorrências foram extraídas do corpus do Projeto Variação Lingüística no Estado da Paraíba –VALPB (HORA, 1993) que, à luz do modelo teórico- metodológico laboviano, coletou dados de fala de 60 informantes selecionados aleatoriamente na comunidade pessoense.


Essas sessenta entrevistas estão estratificadas em função de três características sociais: sexo, faixa etária e anos de escolarização:

-

Sexo: feminino (F) 10 - 30 informantes masculino (M) - 30 informantes

-

Faixa etária: 15 a 25 anos (1) - 20 informantes 26 a 49 anos (2) - 20 informantes + 50 anos (3) - 20 informantes

-

Anos de Escolarização: nenhum (N) - 12 informantes 1 a 4 anos (P) - 12 informantes 5 a 8 anos (G) - 12 informantes 9 a 11 anos (S) - 12 informantes + 11 anos (U) - 12 informantes

Devido a variável estudada obter muitas ocorrências por informante, tornou-se necessário que a nossa amostra fosse menos ampla do que a descrita acima, totalizando 36 informantes, também estratificados por sexo, faixa etária e anos de escolarização. Para melhor ilustrá- los, vejamos a distribuição a seguir:

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As letras e números entre parêntesis são os códigos utilizados para indicar a referência social dos informantes. Por isso, após cada exemplo teremos em caixa alta as iniciais do nome do informante, a faixa etária, os anos de escolarização e o sexo.


-

Sexo: feminino – 18 informantes Masculino – 18 informantes

-

Faixa etária: 15 a 25 anos – 12 informantes 26 a 49 anos – 12 informantes + 50 anos – 12 informantes

-

Anos de escolarização: nenhum – 12 informantes 5 a 8 anos – 12 informantes + 11 anos – 12 informantes

O quadro a seguir expõe, de forma mais detalhada, todos os informantes caracterizados por sua faixa etária, anos de escolarização e sexo, caracterizando, assim, o número total de células utilizadas.


QUADRO 1 – DESCRIÇÃO DA AMOSTRA

INFORMANTES AFD SVS JS JM AJM ACS GHSS GSN JS LGP RRB ERG FP MVSC RVA AL WL LGP MLS MLSL SMPS IMS MJS JRM GS MLT MJC RAM IFS GPS VDN PAM RTO JPNA RCR AAM

IDADE 15-25 anos 15-25 anos 26-49 anos 26-49 anos +50 anos +50 anos 15-25 anos 15-25 anos 26-49 anos 26-49 anos +50 anos +50 anos 15-25 anos 15-25 anos 26-49 anos 26-49 anos +50 anos +50 anos 15-25 anos 15-25 anos 26-49 anos 26-49 anos +50 anos +50 anos 15-25 anos 15-25 anos 26-49 anos 26-49 anos +50 anos +50 anos 15-25 anos 15-25 anos 26-49 anos 26-49 anos +50 anos +50 anos

ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO Nenhum ano de escolarização Nenhum ano de escolarização Nenhum ano de escolarização Nenhum ano de escolarização Nenhum ano de escolarização Nenhum ano de escolarização 5 a 8 anos de escolarização 5 a 8 anos de escolarização 5 a 8 anos de escolarização 5 a 8 anos de escolarização 5 a 8 anos de escolarização 5 a 8 anos de escolarização +11 anos de escolarização +11 anos de escolarização +11 anos de escolarização +11 anos de escolarização +11 anos de escolarização +11 anos de escolarização Nenhum ano de escolarização Nenhum ano de escolarização Nenhum ano de escolarização Nenhum ano de escolarização Nenhum ano de escolarização Nenhum ano de escolarização 5 a 8 anos de escolarização 5 a 8 anos de escolarização 5 a 8 anos de escolarização 5 a 8 anos de escolarização 5 a 8 anos de escolarização 5 a 8 anos de escolarização +11 anos de escolarização +11 anos de escolarização +11 anos de escolarização +11 anos de escolarização +11 anos de escolarização +11 anos de escolarização

SEXO Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino


3.2. LEVANTAMENTO DOS DADOS

O levantamento dos dados foi realizado em função da variável dependente (Ordem do Sujeito em relação ao verbo) e 11 variáveis independentes, distribuídas em 3 sociais e 8 estruturais. Após a codificação e armazenamento das ocorrências, pudemos, enfim, submetê-las ao tratamento estatístico realizado pelo Sistema VARBRUL 2S 11 . É importante salientarmos que não analisamos ocorrências com sujeito ou verbo implícitos. Além dessas ocorrências, também não foram consideradas as que se enquadravam nos seguintes casos:

1. Quando o sujeito pode ser confundido com o predicativo: a. Ele era o melhor da turma.

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2. Expressões idiomáticas: b. Ela tomava conta do sobrinho.

3. Ocorrências com o verbo HAVER: c. Havia três meninos na sala de aula.

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A descrição do programa e suas etapas se encontram no item 4.4. deste trabalho. Esses exemp los não foram retirados do corpus, apenas foram citados para melhor visualização das ocorrências não computadas nessa pesquisa. 12


3.3. VARIÁVEIS TRABALHADAS

Com base em outros estudos sobre a Ordem Sujeito/Verbo (Berlink, 1989; Bittencourt, 1980; Chaves, 1989; Costa, 1997; Decat, 1983; Oliveira, 1989; Pontes, 1987; Santos, 1990), levantamos algumas variáveis e hipóteses que julgamos relevantes para o fenômeno em estudo. Assim, esse item será destinado à apresentação de tais variáveis com suas respectivas hipóteses.

3.3.1. VARIÁVEL DEPENDENTE:

Consoante os estudos tradicionais (Dias, 1959; Cunha, 1972; Neves, 1996), as estruturas que apresentam o sujeito seguido do verbo (SV) são consideradas como básicas, simples e diretas; sendo, portanto, a ordem predominante na língua portuguesa. Apesar dessa predominância, outras ordens podem, muitas vezes, ocorrer, como é o caso de estruturas que possuem o sujeito após o verbo (VS). É exatamente por esse motivo que o nosso objetivo é analisar quantitativa e qualitativamente a ordem linear dos principais constituintes da frase: o sujeito e o verbo, identificando, dessa forma, os ambientes que caracterizam cada variante, as quais observamos a seguir:

Ordem Sujeito/Ve rbo: a. “Minha mãe era do interior.” (AFD – 1NM ) b. “Mas, eu num quis estudar...” (AFD – 1NM )


Ordem Verbo/Sujeito: a. “... e quando chega a noite eu vou pra igreja...” ( GSF – 1GF) b. “...não é nada bom o estudo de hoje em-...” (MJC – 2GF)

Sabemos que outros constituintes também ocorrem na frase, mas o estudo exaustivo de todos esses constituintes demandaria muito tempo e por esse motivo, detemonos a analisar a posição do sujeito em relação ao verbo. Quanto aos demais constituintes, eles serão mencionados caso sejam relevantes para o nosso fenômeno.

3.3.2. VARIÁVEIS INDEPENDENTES

3.3.2.1. VARIÁVEIS SOCIAIS:

Inicialmente, queremos salientar que acreditamos na irrelevância dos fatores sociais em relação à nossa variável, já que presumimos que ela não envolve valor social. Mas, apesar de nenhuma das nossas variantes ser estigmatizada, isso não impede que, com base na literatura pertinente, estabeleçamos hipóteses para cada variável social.

Faixa Etária:

1. 15 a 25 anos 2. 26 a 49 anos 3. + de 50 anos

Hipótese: A Ordem VS é mais utilizada pelos informantes da 2ª e 3ª faixas etárias, com tendência a diminuir entre os falantes mais novos.


Anos de Escolarização:

1. Nenhum ano de escolarização 2. 5 a 8 anos de escolarização 3. + de 11 anos de escolarização

Hipótese: Os falantes com mais anos de escolarização utilizam mais a Ordem SV, já que é a menos marcada.

Sexo:

1. Feminino 2. Masculino

Hipótese: A Ordem menos marcada (SV) da frase terá um maior índice entre as mulheres.

3.3.2.2.VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS:

Tipo de SN sujeito:

1. Sujeito Nominal Ex.: “A minha vontade é de sair daqui mas eu meus pais num quer, né?” ( GSF – 1GF) “ ... a sorte que vinha a professora e apartou a gente.” ( GSF - 1GF)


2. Sujeito Pronominal Ex.: “Ai, eu acho melhor ficar morando sempre aqui.” ( GSF - 1GF) “...num existe isso não.” ( JM – 2NM )

3. Sujeito oracional Ex.: “ a novela que eu mais gostava acabou.” ( IMS - 2NF) “ basta o cabra ir uma vez por mês, uma vez por ano, né?” (AJM – 3NM)

4. Sujeito Composto Ex.: “O pai ou a mãe dizia assim: vou cuspir no chão...” (AJM – 3NM) “... vai eu e a comadre e agente pula ate amanhecer ali no nova Querência.” (JM - 2NM)

Hipótese: Acreditamos que os SNs Sujeitos que tenham maior extensão, como os Oracionais, Compostos e Nominais, favorecerão a Ordem VS.

Definitude do SN sujeito:

1. Sujeito + definido Ex.: “A minha vontade é de sair daqui mas eu meus pais num quer, né?” (GSF 1GF ) “... vai eu e a comadre e agente pula ate amanhecer ali no nova Querência.” (JM - 2NM)


2. Sujeito - definido Ex.: “Todo mundo já tava preocupado.” (AFD – 1NM) “Sempre aparece as criança, pede esmola...” (MLT – 1GF)

Hipótese: O sujeito com traço [– definido] será o que mais favorecerá a Ordem VS.

Animacidade do SN Sujeito:

1. Sujeito +animado Ex.: “Ai, eu acho melhor ficar morando sempre aqui.” (GSF - 1GF) “ ... a sorte que vinha a professora e apartou a gente.” (GSF - 1GF)

2. Sujeito –animado Ex.: “A minha vontade é de sair daqui mas eu meus pais num quer, né?” (GSF 1GF ) “[Qualquer tipo de romantismo]...num existe isso não.” (JM – 2NM)

Hipótese: O sujeito com traço [– animado] será o que mais favorecerá a Ordem VS.


Status Informativo do SN sujeito:

1. Sujeito Dado Ex.: “Minha mãe era do interior...Quando tinha nove ano ela morreu.” (AFD – 1NM) “[Qualquer tipo de romantismo]Isso é tudo fantasia...num existe isso não.” (JM – 2NM)

2. Sujeito Novo Ex.: “Ai, eu acho melhor ficar morando sempre aqui.” (GSF - 1GF) “ ... a sorte que vinha a professora e apartou a gente.” (GSF - 1GF)

Hipótese: O Sujeito novo favorece a Ordem VS na frase.

Transitividade Verbal:

1. Verbos de Ligação Ex.: “A minha vontade é de sair daqui mas eu meus pais num quer, né?” (GSF – 1GF ) “ É muito grande a deficiência também.” (WL – 3UM)

2. Verbos Transitivos Diretos Ex.: “Ai, eu acho melhor ficar morando sempre aqui.” (GSF - 1GF) “Ganha muito dinheiro aqueles médicos lá.” (SVS – 1NM)


3. Verbos Transitivos Indiretos Ex.: “Eu não gostava de- de assistir aula.” (JM – 2NM) “...se chocou uma corrente com a outra” (AJM – 3NM)

4. Verbos Bitransitivos Ex.: “Eu peço pra ele se aquietar pra assistir televisão” (IMS – 2NF) “Como dizia Jânio Quadros [aos brasileiros], nunca mais o instituto subiu a ladeira. ” (ERG – 3GM)

5. Verbos Transitivos Circunstanciais 13 Ex.: “Quando eu cheguei em casa.” (MV – 1UM) “... vai eu e a comadre e agente pula ate amanhecer ali no nova Querência.” (JM-2NM)

6. Verbos Intransitivos Ex.: “... a gente pula até amanhecer ali no nova Querência.” (JM - 2NM) “...faleceu um filho.” (MJC – 2GF)

7. Verbos Existenciais (TER e EXISTIR) Ex.: “Isso na Universidade num existe.” (AL – 2UM) “...num tem uma mulher bonita.” (JM – 2NM)

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Optamos por essa classificação pelo fato de esse tipo de verbo ter um aspecto semântico de movimento e localização, necessitando de um argumento adverbial para completar o sentido da frase. Mais detalhes ver Ferreira, 1986; Rocha Lima, 1987 e Santos, 1990: 44.


8. Verbos SER em Sentenças Clivadas Ex.: “Amigos é o que num falta lá, viu? (MLT – 1GF) “Foi ele quem fez essa igreja.” (JM– 2NM)

Hipótese: Os verbos SER (em sentenças clivadas), TER e EXISTIR serão os que mais favorecerão a Ordem VS, seguidos dos Intransitivos, dos de ligação e dos transitivos circunstanciais.

Forma Verbal:

1. Forma Simples Ex.: “Quando eu cheguei em casa.” (MV – 1UM) “...faleceu um filho.” (MJC – 2GF)

2. Forma Composta Ex.: “Depois eles podia fazer o que eles quisesse.” (MLSL – 1NF) “Fica um vingando a morte dos outro.” (SMPS – 2NF)

Hipótese: A forma verbal composta, por apresentar um segundo verbo, inibirá a Ordem VS.


Vozes Verbais:

1. Voz Ativa Ex.: “Eu não gostava de- de assistir aula.” (JM – 2NM) “Ganha muito dinheiro aqueles médicos lá.” (SVS – 1NM)

2. Voz Passiva Ex.: “É que eu fui operado.” (ACS – 3NM) “Aí é obrigado o camarada ir pra maré.” (ACS – 3NM)

Hipótese: Esperamos que o Sujeito na Voz Passiva, por não ser agente e não conter informação nova, favoreça a Ordem VS.

Tipos de Sentença:

1. Afirmativa Ex.: “Depois eles podia fazer o que eles quisesse.” (MLSL – 1NF) “Fica um vingando a morte dos outro.” (SMPS – 2NF)

2. Negativa Ex.: “Hoje em dia eu não tou processando...” (MLT) “...num existe isso não.” (JM – 2NM)


3. Interrogativa-afirmativa Ex.: “Será que tu vai pra maternidade hoje, Vânia ? ” (RAM – 2 GF) “Porque acontece isso ? ” (AJM – 3NM)

4. Interrogativa-negativa Ex.: “Irmão, porque você num vai ? ” (AJM – 3NM) 

Nenhum caso de interrogativa- negativa ocorreu com a Ordem VS.

Hipótese: Acreditamos que as sentenças negativas e as interrogativas-afirmativas favorecerão a Ordem VS.

3. 4. TRATAMENTO ESTATÍSTICO

A Sociolingüística Quantitativa, como o próprio nome sugere, busca avaliar os contextos lingüísticos e sociais que restringem a variável de forma quantitativa, e, por esse motivo, muitos modelos matemáticos foram propostos (Labov, 1969; Cedergren & Sankoff, 1974; Rousseau & Sankoff, 1978; Sankoff, 1988) até chegar a um que atendesse à necessidade de medir adequadamente o efeito que cada fator tinha sobre a variável. Dentre os vários modelos, foi o misto ou logístico, introduzido por Rousseau & Sankoff em 1978, que melhor conseguiu esse intento. Este modelo conseguiu reunir as boas propriedades dos modelos anteriores e resolver os problemas e inadequações que eles apresentavam.

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E para efetuarmos o tratamento estatístico em nossos dados, utilizamos a terceira versão do programa computacional VARBRUL, de autoria de David Sakoff, que tem por base o modelo logístico. Esse programa foi organizado por Susan Pintzuk em 1988, para microcomputadores tipo IBM; sendo, então, denominado de VARBRUL 2S. O pacote de programas VARBRUL é formado por um conjunto de programas que seguem uma ordenação específica de execução: CHECKTOK, READTOK, MAKECELL, IVARB, TVARB, MVARB, sendo que os três últimos são variações de uma mesma etapa e, ainda, outros programas auxiliares no tratamento dos dados: COUNTUP, CROSSTAB, TEXTSORT, TSORT. O primeiro programa, que é o CHECKTOK, tem por principal função conferir no arquivo de dados os códigos previamente estabelecidos pelo pesquisador, com os mesmos códigos que estão no arquivo de especificação. Ou seja, através do arquivo de especificação sabe-se a ordem e os símbolos para cada grupo de fatores, tornando-se fácil para esse programa conferi- los com os códigos digitados no arquivo de dados. Após a conferência, o CHECKTOK já pode indicar ao pesquisador os erros de digitação, caso os tenha, para que ele possa corrigi- los. Só será possível passar para o próximo programa após as devidas correções. É importante salientarmos que esse programa apenas tem condições de indicar erros de digitação ou troca de códigos, por isso, as falhas que pressupõem uma análise incorreta do dados só podem ser identificadas pelo próprio pesquisador, numa revisão ao seu arquivo de dados. O próximo programa é o READTOK que se utilizará do arquivo corrigido gerado pelo CHECKTOK e criará um novo arquivo que contém apenas os códigos de cada ocorrência, excluindo os contextos referentes a eles. Isso se deve ao fato de que apenas os 14

Mais detalhes sobre os problemas e inadequações dos modelos anteriores ao de 1978 ver em Rousseau & Sankoff, 1978.


códigos servem para o tratamento estatístico efetuado pelo programa. Esse novo arquivo servirá, então, de entrada para o MAKECELL. No MAKECELL serão geradas as células que contém as porcentagens dos grupos de fatores com relação à variável. Para se executar esse programa, além do arquivo gerado no READTOK, tem que se utilizar um novo arquivo, o de condições. Nesse arquivo, serão especificados o grupo de fatores que contém a variável dependente e os grupos que contêm as variáveis independentes, possibilitando, assim, que se façam modificações aos fatores e às ocorrências sem alterar o arquivo de ocorrências. O arquivo gerado no MAKECELL pode ser utilizado como entrada para o IVARB, TVARB ou MVARB. Contudo, é necessário que não ocorra nenhum knockout nem single group, pois, o primeiro indica que o fator não tem comportamento variável, isto é, tem 0% ou 100% de aplicação, e o segundo indica que há apenas um fator dentro de um grupo de fatores, o que também vai de encontro ao propósito do programa, que é o de es tabelecer valores aos contextos variáveis. O próximo programa dependerá de quantas variantes serão trabalhadas. Se forem duas variantes, então o programa será o IVARB; se forem três, será o TVARB e, ainda, se forem quatro ou cinco, então, o programa a ser utilizado será o MVARB.

O

comportamento desses três programas é similar, e é através deles que o pesquisador adquire os pesos relativos de cada fator, obtendo os resultados finais. Na nossa pesquisa utilizamos o IVARB, devido a nossa variável ser binár ia. Esse último programa estabelece vários níveis de análise, em que os pesos relativos dos vários fatores vão sendo comparados. É a partir dessas comparações que são selecionados os fatores considerados relevantes. O processo comparativo que seleciona as variáveis mais relevantes dá-se no stepup, enquanto que o processo inverso, ou seja, o que descarta variáveis, ocorre no stepdown.


O programa binário além de estabelecer essas comparações, também explicita quais são os fatores selecionados como relevantes, cabendo ao pesquisador fazer a leitura dos números e relacioná- los aos processos lingüísticos. Para tanto, é necessário saber que o ponto de referência neutro de uma variável binária é de 0.50. Dessa forma, se os resultados aproximarem-se de 1.00 serão favorecedores à aplicação da regra, e se estiverem próximos de zero serão desfavorecedores. Apesar da inegável importância da referência que o ponto neutro representa, é interessante observar “que o mais relevante é a comparação entre os valores associados às probabilidades ou pesos relativos – medida pelas suas diferenças – e não os valores em si, observados isoladamente.” (SCHERRE, 1996: 45) Compreendemos, dessa forma, que os números são de grande importância para a pesquisa Sociolingüística, mas que de nada valem se o pesquisador não souber analisá- los, nem tampouco relacioná- los corretamente aos processos lingüísticos.


CAPÍTULO 4: ANÁLISE DOS RESULTADOS

Com base na Teoria Variacionista, acreditando na possibilidade de fatores externos e internos à língua serem os responsáveis pela escolha de determinada variante em detrimento de outra, é que temos necessidade de condicionar a nossa variável. Esse condicionamento possibilitará a verificação, com ajuda de dados de fala e tratamento estatístico, dos fatores que mais favorecem a Ordem VS. Por esse motivo, esse capítulo será dedicado à análise dos dados, relacionando os fatores sociais e estruturais que possam condicionar a nossa variável.

4.1. RESULTADOS GERAIS

Tivemos um total de 13734 ocorrências das quais apenas 437 eram de Ordem VS, o que corresponde a 3% do total, confirmando a hipótese do baixo índice de VS na fala pessoense. É sabido que se trata aqui de um caso de variante rara (VS), mas é importante salientarmos que os resultados obtidos se mostraram coerentes com os de outros trabalhos (BERLINK, 1989; COSTA, 1997; DECAT, 1989; SANTOS, 1990; etc), tornando-os confiáveis e passíveis de comparação.

TAB.1 – RESULTADOS GERAIS

15

ORDEM

APLICAÇÃO

PORCENTAGEM

PR15

SV

13297

97%

.97

VS

437

3%

.04

TOTAL

13734

100%

---

Essas são as iniciais de Peso Relativo.


Antes, porém, de indicarmos quais os fatores selecionados pelo programa como relevantes para a Ordem, acreditamos ser necessário mencionar que para obter os resultados acima expostos, tivemos que realizar três rodadas. Assim o fizemos porque as quantidades de dados (13734) e de fatores (13) são grandes, resultando em um número excessivo de células, obrigando-nos a rodar os fatores sociais separados dos estruturais. Como resultado da rodada dos fatores sociais, tivemos os seguintes fatores como mais relevantes: Anos de Escolarização e Sexo. E da rodada dos fatores estruturais, os seguintes fatores foram considerados mais significativos: Transitividade Verbal, Animacidade, Tipo de Sujeito e Definitude. Tiramos, nessa segunda rodada, as 14 ocorrências de frases interrogativas- negativas por se apresentarem invariavelmente com a Ordem SV. Com a retirada dessas 14 ocorrências, o total dos dados passou a 13720, sendo 13283 dados de SV e permanecendo os 437 dados de VS. Após as duas rodadas acima descritas, pudemos, então, realizar uma única rodada que contivesse os fatores sociais e estruturais mais relevantes para a nossa variável. Além dos fatores selecionados como significativos, deixamos o fator Status Informativo do Sujeito e Faixa Etária na rodada, por acreditar que esses fatores também são relevantes para o nosso estudo, mesmo que de forma indireta. Dessa terceira rodada, o programa selecionou cinco fatores, que foram indicados como mais relevantes para a Ordem VS. São eles: 1. Transitividade Verbal; 2. Animacidade do SN Sujeito; 3. Tipos de Sujeito; 4. Definitude do SN Sujeito; 5. Anos de Escolarização.


Como pudemos observar, houve algumas mudanças em relação aos fatores selecionados, pois o Sexo, antes selecionado, é deixado de fora quando entram os fatores lingüísticos; resultando, apenas, na seleção, em último lugar, do fator Anos de Escolarização. Confirmamos, portanto, a nossa hipótese inicial de que os fatores internos são mais relevantes do que os externos. Isso indica, de certa forma, que a Ordem da frase se encontra em um nível mais abstrato da língua, e por isso não estaria sujeita a influências extralingüísticas (SANKOFF e LABOV, 1979). Contudo, é interessante observar que apesar de ser o último selecionado, o fator Anos de Escolarização está dentre os mais relevantes para o estudo, mostrando que a nossa variável também é regida por fatores sociais. Lembramos que os resultados por nós analisados serão os obtidos nessa terceira rodada. Apenas os fatores estruturais que não foram selecionados e que não estavam nessa rodada (Tipo de Sentença, Forma Verbal e Voz Verbal) é que serão analisados a partir da rodada só com os fatores estruturais. Já podemos, então, iniciar a análise detalhada das variáveis lingüísticas e sociais, sendo esse o propósito dos dois capítulos seguintes.


CAPÍTULO 5: ANÁLISE DAS VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS

Como vimos, as variáveis lingüísticas selecionadas como relevantes foram a Transitividade Verbal, a Animacidade, o Tipo de Sujeito e a Definitude, enquanto que as variáveis Status Informativo do Sujeito, Voz Verbal, Forma Verbal e Tipo de Sentença foram descartadas como irrelevantes para o fenômeno da Ordem. Por esse motivo, seguiremos a ordem de relevância indicada pelo programa para tratarmos de tais variáveis.

5.1. VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS SELECIONADAS

5.1.1. TRANSITIVIDADE VERBAL

Esta variável objetiva controlar a quantidade de argumentos relacionados ao verbo na oração, exatamente por supormos que uma maior qua ntidade de argumentos explícitos e adjacentes ao verbo dificulta a mobilidade dentro da oração, já que a posição de cada um desses argumentos também indica as suas funções. Sabemos que o controle da transitividade verbal é um assunto bastante relativo, que depende da semântica do verbo e principalmente do próprio contexto e, por isso, optamos por controlar as ocorrências que apresentam as estruturas mais facilmente identificáveis e que se relacionam com a semântica do verbo independente do contexto no qual se inserirá.


Esse grupo de fatores era composto, primeiramente, por oito subfatores: verbo transitivo direto, transitivo indireto, bitransitivo, transitivo circunstancial, intransitivo, de ligação, existencial e verbo “ser” em sentenças clivadas. 

transitivo direto: o verbo pede um complemento diretamente relacionado a ele sem o auxílio da preposição, sendo esse complemento classificado como objeto direto.

transitivo indireto: o verbo pede um complemento ligado a ele através de uma preposição e esse complemento é chamado de objeto indireto.

bitransitivo: o verbo pede dois complementos (direto e indireto) para que se complete a sua semântica.

transitivo circunstancial: esse tipo de verbo tem um aspecto semântico de movimento e localização e, por isso, necessita de um argumento adverbial para completar o sentido da frase.

intransitivo: esses verbos não necessitam de complementos para completar o seu sentido.

ligação: “os verbos de ligação (ou copulativos) servem para estabelecer a união entre duas palavras ou expressões de caráter nominal. Não trazem propriamente idéia nova ao sujeito; funcionam apenas como elo entre êste e o seu predicativo.” (CUNHA, 1972:94)

existencial: os verbos „existir‟ e „ter‟ que possuem um comportamento aparentemente semelhante aos verbos impessoais, mas que ainda apresentam um sujeito para fazer a concordância.

verbo “ser” em sentenças clivadas: estrutura que visa enfatizar um elemento da oração, direcionando a atenção para ele.


Após algumas rodadas de teste, percebemos ser irrelevante a distinção quantitativa entre os verbos transitivos diretos (0%), indiretos (0%) e bitransitivos (0%), por esse motivo, como também pelo fato de esses verbos possuírem a mesma característica estrutural, ou seja, terem a posição de complemento preenchida por um elemento de mesma característica, reunimo- los em um mesmo fator, classificando-os como transitivos. O verbo transitivo circunstancial não foi incluído nesse amalgamamento, pois não possui a mesma característica estrutural e nem tampouco a quantitativa dos demais verbos transitivos. Assim, esse grupo resultou em apenas seis fatores: verbos transitivos, intransitivos, circunstanciais, de ligação, existenciais e “ser” em sentenças clivadas, cujo grau de importância em relação à Ordem VS analisaremos a seguir.

TAB.2 – TRANSITIVIDADE VERBAL (Ordem VS)

Transitividade Verbal

Nº de ocorrências

%

PR

34/57

60%

1.00

62/93

67%

.98

132/999

13%

.90

94/1685

6%

.86

83/1940

4%

.64

32/8960

0%

.31

Total Verbo ser em Sent. Clivadas “Foi ele quem fez essa igreja.” (JM – 2NM )

Verbo Existencial “...num tem uma mulher bonita.” (JM – 2NM )

Intransitivo “...faleceu um filho.” (M JC – 2GF)

Transitivo Circunstancial “... vai eu e a comadre e agente pula ate amanhecer ali no nova Querência.” (JM -2NM)

Ligação “ É muito grande a deficiência também.” (WL – 3UM )

Transitivo “Ganha muito dinheiro aqueles médicos lá.” (SVS – 1NM )


Como pode ser visto pela tabela 1, os verbos “ser” em Sentenças Clivadas (1.00) são os que mais ocorrem com a Ordem VS. Os dados confirmam o fato de que as sentenças clivadas têm o objetivo de enfatizar um elemento da sentença, combinando, geralmente, a estrutura “ser + pronome relativo” e deslocando o elemento da sua posição original (Chafe,1976: 37). Observamos que 67% das ocorrências de sentenças clivadas não apresentavam o sujeito na posição original, direcionando a atenção para ele e, conseqüentemente, estabelecendo com isso um efeito contrastivo. Os verbos Existenciais (.98) também apresentam um alto índice de ocorrência com a ordem VS, sendo o segundo mais favorecedor. Esse resultado corrobora a tendência apresentacional 16 dos verbos existenciais, causando muitos questionamentos a respeito do status funcional do SN que o segue, já que é natural termos esse SN após o verbo e esta posição caracterizar a função de complemento verbal e não de sujeito. Contudo, consideramos, neste trabalho, o SN que segue o verbo existencial como sujeito, porque apesar de ele estar em uma posição que não é típica do sujeito, ele ainda estabelece a concordância com o verbo (Li & Thompson, 1976: 464-5). Ao acompanhar os resultados da tabela 2, observamos, ainda, que os verbos Intransitivos (.90), Transitivos Circunstanciais (.86) e de Ligação (.64) também favorecem a variante VS. Com isso, podemos estabelecer uma trajetória da influência dos verbos na Ordem VS, mostrando que os verbos que não possuem complemento verbal ou cujo complemento é facilmente distinguido do sujeito, favorecem mais a essa variante. Já os verbos transitivos (.31) desfavorecem a ordem VS, como exposto na tabela 2. Esse resultado está bem próximo do resultado de Santos (1990), que expõe a correlação negativa dos verbos transitivos com relação a essa variante.

16

Segundo Santos (1990:71), os verbos apresentativos servem para apresentar um elemento no discurso ou retirá-lo de cena.


Presumimos, portanto, que a ordem VS se apresenta, em maior probabilidade, em ambientes onde não seja necessário se distinguir o sujeito posposto de um possível complemento verbal. Pois, se o sujeito que se relaciona positivamente à ordem VS não é típico, ele pode ser facilmente confundido com o complemento presente na frase, causando uma possível ambigüidade no discurso. Assim, o grau de probabilidade de ocorrência de V SN com um dado verbo está associado ao grau de possível ambigüidade dessa construção numa relação inversamente proporcional: quanto maior é a chance de o SN ser interpretado com uma função que não a de argumento externo (principal) de V, menor é a probabilidade de que ele ocorra em V SN, e vice-versa. (BERLINCK, 1989: 104 - 5)

5.1.2. ANIMACIDADE DO SN SUJEITO

Há uma discussão bastante produtiva sobre a hierarquização dos elementos dentro da sentença, estabelecendo, dessa forma, as hierarquias tipológicas. Em relação à animacidade, temos a seguinte hierarquia 1ª/2ª pessoa > 3ª pessoa pronominal > nomes humanos > nomes animados > nomes inanimados (Croft, 1996: 347), levando-nos a concluir que o sujeito tende, primeiramente, a ser humano e animado, seguindo a escala mencionada. Esse fato é confirmado em outros estudos, como o de Siewierska (1996:372), que caracterizam a tendência de, nas línguas humanas, o sujeito ser definido, agente e humano; o objeto ser paciente, e o verbo representar ação. Os estudos de Kato (1998) e Santos (1990) corroboram a tendência para o sujeito original, que possui referente [+animado], de favorecer a ordem SV. Enquanto que o sujeito com referente [-animado], por ser atípico, favorece a ordem VS.


TAB. 3 – ANIMACIDADE DO SN SUJEITO (Ordem VS)

Animacidade do Sujeito

Nº de ocorrências

%

PR

238/1194

19%

.92

176/12481

1%

.42

Total -animado “[Qualquer tipo de romantismo]...num existe isso não.” (JM – 2NM )

+animado “ ... a sorte que vinha a professora e apartou a gente.” (GSF - 1GF)

De acordo com a tabela 3, os resultados confirmaram os estudos das autoras já citadas, já que o sujeito [+animado] (.42) desfavoreceu a ordem VS, enquanto o [-animado] (.92) a favoreceu. Apesar de nossos resultados comprovarem a disposição de o sujeito [- animado] estar mais relacionado à variante VS, não podemos deixar de mencionar que Berlinck (1989) questiona a influência direta da animacidade na ordem VS, pois, como o traço de animacidade é especificado pela grade temática do verbo, a sua relevância para essa variante não é própria, e, sim, derivada dessa relação que estabelece com o verbo. O fato de a animacidade ter sido selecionada logo após a transitividade permite-nos enveredar para as conclusões da autora acima mencionada, mas, cabe-nos fazer um cruzamento entre essas duas restrições, para comprovarmos se, de fato, essa relação de derivação entre a animacidade e a transitividade existe. É exatamente esse o nosso próximo passo.


TAB. 4 –ANIMACIDADE X TRANSITIVIDADE (Ordem VS) Animacidade

Suj. +animado

Suj. –animado

Total

%

PR

%

PR

%

„Ser‟ em Clivadas

57%

.99

83%

1.00

60%

Existencial

52%

.98

70%

1.00

65%

Intransitivo

4%

.81

52%

.99

13%

Circunstancial

4%

.84

30%

.98

5%

Ligação

2%

.75

9%

.91

4%

Transitivo

0%

.26

4%

.81

0%

Transitividade

Através dos resultados da tabela 4, percebemos que, apesar de o traço da animacidade ser atribuído pelo verbo-predicador, essa característica semântica influencia a ordem a ser utilizada, já que os sujeitos com traço [-animado] tendem a ocorrer com a variante VS, independentemente do tipo de verbo a ser utilizado, ordenando-os, de certa forma, em relação a essa variante. Contudo, esse fator só é determinante com os verbos transitivos, como pode ser visto no Gráfico abaixo: GRÁFICO 1 - ANIMACIDADE DO SUJEITO X TRANSITIVIDADE (Ordem

1,20 1,00

Clivada

0,80

Existencial Intransitivo

0,60

Circunstancial

0,40

Ligação

0,20

Transitivo

Sujeito [-animado]

Sujeito [+animado]

VS)


5.1.3. TIPO DE SUJEITO A exemplo do trabalho de Santos (1990), analisamos, além das características semântico- funcionais do sujeito, a classe gramatical que o seu núcleo possui. O nosso intuito com isso é o de analisar se as restrições formais são tão relevantes quanto as funcionais. Como podemos concluir através da literatura pertinente (SANTOS, 1990 e LIRA, 1986), o sujeito pronominal se restringe à variante SV, enquanto que os sujeitos compostos, nominais e oracionais ocorrem com as duas variantes. A tendência de o sujeito pronominal ocorrer mais com SV pode estar associada a sua extensão, uma vez que os constituintes mais leves ou curtos geralmente ficam no início da sentença, deixando os mais pesados ou longos para o fim (Lobato, 1988:137). Não controlamos o tamanho do SN sujeito por supormos q ue a sua classe gramatical possa elucidar esse fato, já que os sujeitos nominais, compostos e oracionais são mais longos, enquanto que o sujeito pronominal é mais curto, confirmando, dessa forma, a relação entre o tamanho e a classe gramatical do sujeito.

TAB. 5 – TIPO DE SUJEITO (Ordem VS) Nº de ocorrências

Tipo de Sujeito

%

PR

23/59

39%

.94

9/32

27%

.90

101/10074

8%

.68

304/3569

1%

.43

Total Oracional “E uma coisa muito importante o trabalho dela que ela faz” (M LSL – 1NF)

Composto “... vai eu e a comadre e agente pula ate amanhecer ali no nova Querência.” (JM - 2NM)

Nominal “ ... a sorte que vinha a professora e apartou a gente.”

(GSF - 1GF)

Pronominal “...num existe isso não.” (JM – 2NM )


Conforme a tabela 5, constatamos que, de fato, o sujeito oracional (.94), seguido pelo composto (.90) e nominal (.68) favorecem a ordem VS, enquanto que o sujeito pronominal (.43) a bloqueia. Observamos que os sujeitos favorecedores da ordem VS seguem uma possível escala de tamanho, estabelecendo que quanto maior o SN sujeito, mais favorecedor ele é da variante VS, o que confirma a nossa hipótese de relação do tamanho e da classe gramatical do sujeito com a sua posição na sentença. O fato do sujeito oracional ser o mais significativo também pode estar relacionado ao alto índice do verbo de ligação, pois o trabalho de Santos (1990:87) comprova que os verbos de ligação só favorecem a inversão por ocorrerem mais com sujeito oracional. Isso se dá pelo fato de que o sujeito oracional, apesar de não ser típico, não pode ser confundido com o complemento verbal, dado as diferenças entre ele e o complemento do verbo de ligação. O que pode ser comprovado na tabela 6 abaixo:

TAB. 6 – TIPO DE SUJEITO X TRANSITIVIDADE (Ordem VS) Tipo de Sujeito Suj. Oracional

Suj. Composto

Suj. Nominal %

Transitividade

%

PR

%

PR

„Ser‟ em Clivadas

50%

.99

100%

1.00

Existencial

100%

1.00

--

Intransitivo

45%

.98

Circunstancial

67%

Ligação Transitivo

PR

Suj. Total Pronominal %

PR

%

58% 1.00 60% 1.00

60%

--

70%

.99

50%

.99

67%

50%

.98

22%

.96

5%

.91

13%

.99

83%

1.00

14%

.95

1%

.79

6%

26%

.97

13%

.88

7%

.80

2%

.80

4%

13%

.94

0%

--

1%

.65

0%

.18

0%


Observamos na tabela 6 que o verbo de ligação realmente ocorre mais com a variante VS, se estiver combinando com o sujeito oracional (.97), muito embora também ocorra essa variante com os outros tipos de sujeito. Por isso, supomos que o verbo de ligação é favorável à ordem VS, independente do sujeito que possui, mas que se torna mais favorável quando relacionado ao sujeito oracional. Os nossos resultados confirmam a tendência gramatical dos sujeitos pospostos, e portanto, levam- nos a concluir que as características semântico-sintático-discursivas caminham juntas na formação das restrições da nossa variável. Realizamos, ainda, um cruzamento entre uma variável semântica (animacidade) e uma sintática (tipo de sujeito), referentes ao sujeito, para observarmos mais precisamente qual é a característica sintático-semântica do sujeito na ordem VS. Antes, porém, de iniciarmos a análise dos resultados da tabela 7, é importante salientarmos que o sujeito oracional foi desconsiderado nesse cruzamento pelo fato de não ter sido analisado em relação ao fator animacidade, cabendo-nos observar apenas os outros fatores. O sujeito composto também só foi considerado nos casos em que era formado com a mesma característica semântica.

TAB. 7 – TIPO DE SUJEITO X ANIMACIDADE (Ordem VS) Tipo de Sujeito Suj. Nominal

Suj. Pronominal

Suj. Composto

Total

%

PR

%

PR

%

PR

%

Suj. +animado

5%

.74

0%

.34

30%

.98

1%

Suj. -animado

20%

.94

19%

.95

22%

.95

20%

Animacidade


Como podemos observar pela tabela 7, o sujeito pronominal (.95), seguido do nominal (.94) influenciam mais a variante VS se apresentam característica semâ ntica [-animada]. Diferentemente, o sujeito composto (.98) se apresenta mais influente com a ordem VS se for [+animado], muito embora também se mostre relevante para essa variante com o sujeito [-animado], obtendo o mesmo índice do sujeito pronominal (.95).

Assim, o que podemos concluir através dos resultados, é que o sujeito pronominal é o mais sensível à animacidade, pois foi o único sujeito com característica [+animada] (.34) que se mostrou estatisticamente menos relevante para a ordem VS, corroborando com a tendência do sujeito [+animado] inibir essa variante. Acreditamos que isso se deva ao fato de esse sujeito ser o que menos propicia a variante VS e que, por isso, necessita das características semânticas para ocorrer com ela.

5.1.4. DEFINITUDE DO SN SUJEITO

O efeito da definitude na posposição 17 do sujeito tem sido um aspecto bastante estudado. Estudos como o de Costa (1997), Kato (1998) e Camacho (1996) acreditam que esse efeito é bastante relevante para a colocação do sujeito na frase, e ainda, no caso de Costa, para a classificação do tipo de movimento que ele pode fazer dentro da frase. Para Santos (1990) e Chaves (1989:71), assim como para os autores mencionados, o sujeito típico tem traço [+definido], assim, como os sujeitos pospostos não são típicos, eles provavelmente possuirão o traço [-definido].

17

Esse termo refere-se apenas a posição que o sujeito ocupa em relação ao verbo, não tendo relação com nenhum movimento dos elementos mencionados.


Como era de se esperar a Definitude também foi selecionada como relevante, comprovando que o sujeito indefinido (.68) favorece a ordem VS, enquanto que o sujeito definido (.46) a desfavorece, corroborando os autores mencionados, conforme pode ser confirmado na tabela 8:

TAB. 8 - DEFINITUDE DO SN SUJEITO (Ordem VS) Nº de ocorrência

Definitude do Sujeito

%

PR

172/2266

7%

.68

265/11468

2%

.46

Total Indefinido “Sempre aparece as criança, pede esmola...” (M LT – 1GF)

Definido “... vai eu e a comadre e agente pula ate amanhecer ali no nova Querência.” (JM - 2NM )

Os resultados permitem- nos confirmar, com os trabalhos mencionados, a tendência do sujeito indefinido ocorrer posposto ao verbo. Cabendo- nos, então, confirmar se essa tendência se apresenta determinantemente com todos os verbos, ou se se acentua com determinados tipos de verbos. Para isso, efetuamos um cruzamento entre a Definitude e a Transitividade Verbal, cujos resultados estão na tabela 9.

TAB. 9 – DEFINITUDE X TRANSITIVIDADE (Ordem VS) Definitude

Suj. +definido

Suj. –definido

Total

%

PR

%

PR

%

„Ser‟ em Clivadas

68%

1.00

31%

.98

60%

Existencial

62%

.98

73%

.73

67%

Intransitivo

11%

.90

21%

.94

13%

Circunstancial

3%

.83

15%

.94

6%

Ligação

4%

.63

7%

.81

4%

Transitivo

0%

.26

1%

.58

0%

Transitividade


A tabela 9 mostra-nos que os verbos „Ser‟ em Clivadas e Existenciais tendem a não ser determinados pela definitude, enquanto que os Intransitivos (.94), Circunstanciais (.94), de Ligação (.81) e Transitivos (.58) se mostram bastante dependentes do grau de definitude dos seus sujeitos, pois quando o sujeito desses verbos é [-definido], a probabilidade de acontecerem com a Ordem VS é maior. Para observarmos com mais clareza o efeito da definitude do sujeito nos verbos, fizemos um gráfico da transitividade relacionada ao sujeito [–definido], como podemos verificar a seguir:

GRÁFICO 2 – DEFINITUDE DO SUJEITO X TRANSITIVIDADE (Ordem VS)

1,2 Clivada

1

Existencial

0,8 0,6

Intransitivo

0,4

Circunstancial

0,2

Ligação

0

Transitivo Sujeito -definido

Sujeito +definido

O gráfico 2 acima mostra com bastante clareza que os verbos intransitivos, circunstanciais, de ligação e principalmente os transitivos se mostram bastante sensíveis à definitude do sujeito relacionado a eles, já que os sujeitos [+definidos] restringem ma is o uso desses verbos com a ordem VS.


Falta-nos, ainda, analisar outra relação com a definitude. Desta vez, é a provável interferência que esse fator pode exercer sobre o tipo de sujeito, e por isso, efetuamos um cruzamento entre essas variáveis. Lembramos, contudo, que analisaremos apenas o sujeito nominal, pronominal e composto, seguindo as mesmas restrições que fizemos com cruzamento entre o fator animacidade e tipo de sujeito.

TAB. 10 – DEFINITUDE X TIPO DE SUJEITO (Ordem VS) Definitude

Suj. +definido

Suj. –definido

Total

%

PR

%

PR

%

Nominal

8%

.68

9%

.80

9%

Pronominal

1%

.37

4%

.75

1%

Composto

31%

.96

17%

.69

28%

Tipo de Sujeito

A tabela 10 explicita que os sujeitos nominal (.80), pronominal (.75) e composto (.69) favorecem a ordem VS quando são [-definidos], corroborando as características do sujeito na ordem VS. Contudo, semelhante ao resultado obtido na tabela de cruzamento entre o tipo de sujeito e a animacidade, o sujeito composto (.96) se apresenta mais favorecedor se for [+definido], contrariando um pouco a literatura. Podemos perceber, também, que o sujeito pronominal é o mais sensível às características semânticas no caso da definitude, pois é o único (.37) que inibe a ordem VS quando [+definido].


As semelhanças entre o cruzamento do tipo do sujeito e da animacidade com o do tipo do sujeito e da definitude faz-nos querer comprovar, de fato, as características sintático-semânticas do sujeito da ordem VS. Para isto, realizamos um cruzamento entre esses três fatores: a animacidade, a definitude e o tipo de sujeito, cujos resultados estão no gráfico 3.

GRÁFICO 3 – DEFINITUDE X ANIMACIDADE X TIPO DO SUJEITO (Ordem VS)

40%

nome animado

35% nome inanimado

30% 25%

pronome animado

20% 15% 10%

pronome inanimado composto animado

5% 0% definido

indefinido

composto inanimado

Os resultados do gráfico 3 nos mostram que os nomes (35%) e pronomes (40%) se mostram mais favorecedores se [-animados] e [-definidos], sendo o pronome o que mais se destaca. Observamos que o sujeito composto animado (35%) é o único que apresenta comportamento contrário, sendo mais favorecedor da ordem VS quando [+definido]. No geral, o que podemos concluir do gráfico 3, é que há uma tendência de a Ordem VS ocorrer em maior probabilidade quando o sujeito se apresenta [-animado] e [-definido], salientando-se ainda mais se esse sujeito é um pronome. Esse fato nos leva a acreditar que quanto menos o tipo do sujeito favoreça a ordem VS, mais ele precisará das características semânticas para definir-se em relação às variantes.


5.2. DEMAIS VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS

Apesar de, a partir daqui, os fatores estruturais terem sido considerados estatisticamente menos significativos pelo programa VARBRUL, eles já se mostraram bastante relevantes para outros estudos com a mesma variável, e por isso, acreditamos na importância de explicitarmos a tendência de cada fator em relação à variante VS.

5.2.1. STATUS INFORMATIVO DO SN SUJEITO

Segundo Pontes (1987: 152-3) há uma certa consonância na literatura pertinente sobre o fato de o sujeito na Ordem VS trazer informação nova, enquanto que a informação dada ficaria a cargo de algum elemento que venha no início da sentença. Costa (1997: 1-2) confirma essa tendência e defende que sujeitos com funções discursivas diferentes ocupam diferentes posições, se o sujeito contiver informação dada, ocuparão Spec,IP e se for informação nova, Spec,VP. E diante disso, podemos ter diferentes estruturas dependendo do seu Status Informativo: SVO – sujeito é dado, objeto é novo VSO – tanto sujeito quanto objeto são novos VOS – sujeito é novo, objeto é dado Por isso, esperamos que os nossos resultados confirmem uma maior disposição de sujeitos novos com estruturas VS.


TAB. 11 – STATUS INFORMATIVO DO SN SUJEITO (Ordem VS)

Status Informativo do SN Sujeito

Nº de ocorrências

%

PR18

286/3400

8%

.55

151/10320

1%

.48

Total SN Sujeito Novo “ ... a sorte que vinha a professora e apartou a gente.” (GSF - 1GF)

SN Sujeito Dado “[Qualquer tipo de romantismo]...num existe isso não.” (JM – 2NM )

Como podemos observar pela tabela 11, o SN sujeito novo (.55) propicia mais a Ordem VS, enquanto que o SN sujeito dado (.48) tende a inibi- la, confirmando, desta forma, os trabalhos mencionados.

Outro fato importante em relação a esse fator é encontrado em Franchi et al (1998: 111). Pois, segundo esse autor, como “as orações existenciais constituem um dos recursos expressivos para ampliar o universo do discurso [...]”, elas trazem, acentuadamente, informação nova ao discurso.

Assim, se já se esperava um maior número de Ordem VS com sujeitos novos, se esse verbo for existencial, espera-se ainda mais. Então, para confirmamos essa hipótese, fizemos um cruzamento entre o status informativo e a transitividade verbal, o qual podemos conferir na tabela 12.

18

É importante mencionarmos que esses pesos relativos, assim co mo os dos demais fatores estruturais não selecionados, foram retirados de uma rodada realizada co m os fatores estruturais selecionados, mais especificamente, do nível em que interagiam co m esses fatores.


TAB. 12 – STATUS INFORMATIVO DO SUJEITO X TRANSITIVIDADE (Ordem VS) Status Informativo

Sujeito Dado

Sujeito Novo

%

PR

%

PR

%

„Ser‟ em Clivadas

66%

1.00

52%

.99

60%

Existencial

54%

.98

74%

.99

67%

Intransitivo

5%

.90

27%

.94

13%

Circunstancial

2%

.81

16%

.93

6%

Ligação

4%

.83

5%

.61

4%

Transitivo

0%

.24

1%

.49

0%

Transitividade

Total

Podemos perceber pela tabela 12 que só os verbos „ser‟ em clivadas (1.00) e os de ligação (.83) têm uma maior ocorrência com sujeitos dados, enquanto os outros verbos se relacionam mais ao sujeito novo, muito embora a distinção só se acentue com verbo transitivo (.24 - .49). O fato de essa distinção só se tornar mais visível com os verbos transitivos refuta, de certa forma, as nossas expectativas de os verbos existenciais se destacarem com o uso do sujeito novo.

E mesmo que se analisem apenas os pesos dos verbos em relação ao sujeito novo, percebemos que os verbos existenciais (.99) não se destacam muito dos verbos „ser‟ em clivadas (.99), intransitivos (.94) e circunstanciais (.93). Mas apesar dessa pouca diferença, podemos concluir que os existenciais tendem a utilizar mais o sujeito novo, corroborando, de certa forma, o proposto por Franchi et al (1998). Para melhor ilustrarmos, fizemos o gráfico 4 representando o cruzamento entre a transitividade e o status informativo.


GRÁFICO 4 – STATUS INFORMATIVO X TRANSITIVIDADE (Ordem VS)

1,2 Existencial

1

Clivada

0,8

Intransitivo

0,6

Circunstancial

0,4

Ligação

0,2

Transitivo

0 Suj. Novo

Suj. Dado

5.2.2. TIPO DE SENTENÇA

Segundo Pontes (1987: 149-50), há uma tendência para a utilização da variante VS em orações que sejam mais marcadas, distanciando-se, portanto, da oração declarativa neutra, afirmativa, ativa.

Controlamos, assim como Santos (1990), as sentenças afirma tivas, negativas e interrogativas, que subdividimos em afirmativas e negativas, por serem esses os casos que apareceram no corpus. Inferimos que as sentenças afirmativas seriam mais utilizadas com a Ordem SV, enquanto que as interrogativas e negativas ser iam mais propensas à Ordem VS.

Ao tomar estudos recentes por base, Kato et al (1996: 344) apontam a inversão VS como bastante restrita em interrogativas-Q no português brasileiro, ocorrendo, quase


unicamente, em sentenças com verbo copular. “Nos demais casos, o que se verifica é uma falsa inversão, isto é, o sintagma nominal que aparece deslocado à direita possui um pronome co-referente nulo na posição de sujeito.”

Diante do proposto no trabalho acima mencionado, restringimos ainda mais a nossa hipótese, acreditando que os nossos resultados também possam vir confirmar a diminuição de inversão VS em interrogativas-Q, restringindo, dessa forma, as interrogativas sem o elemento Q e as sentenças negativas como ambiente propício da ordem VS.

Antes, porém, de nos determos especificamente nos resultados, é importante lembrarmos que pouquíssimos casos de sentenças interrogativas ocorreram no corpus, mais especificamente, apenas 136, já tirando da rodada os 14 casos invariantes de interrogativa-negativas que mencionamos anteriormente, acreditamos que esse número reduzido de dados se explique pelo estilo da coleta, visto que analisamos entrevistas coloquiais, onde o que há em maior número na fala dos entrevistados são respostas e não perguntas. Passemos, agora, ao resultado geral, que podemos confrontar na tabela 13.

TAB. 13 – TIPO DE SENTENÇA (Ordem VS)

Tipo de Sentença

Nº de ocorrências Total

%

PR

Interrogativa-afirmativa

2/136

1%

.52

Negativa

58/1617

4%

.53

377/11967

3%

.50

“Porque acontece isso ? ” (AJM – 3NM )

“...num existe isso não.” (JM – 2NM )

Afirmativa “Fica um vingando a morte dos outro.” (SM PS – 2NF)


De acordo com a tabela 13, as sentenças afirmativas (.50) têm comportamento neutro em relação ao processo, não diferindo muito das interrogativas-afirmativas (.52) e das negativas (.53), que parecem favorecer apenas um pouco mais a Ordem VS. Já as sentenças interrogativas de caráter negativo (0%) apresentaram um comportamento desfavorecedor em relação a essa variante.

Percebemos que o tipo de sentença pouco ou nada influencia na opção por uma das variantes, mostrando-se um fator neutro no processo. Contudo, os resultados parecem indicar que o movimento do verbo nas orações interrogativas ainda está presente no dialeto pessoense, embora quase ausente nos dialetos do Sudeste brasileiro. E apesar de o baixo número de ocorrências não nos permitir fazer afirmações de caráter categórico sobre diferenças dialetais, certamente a realização e a análise de testes poderão esclarecer esse ponto. Essa tarefa, entretanto, coloca-se além do escopo do presente trabalho.

5.2.3. FORMA VERBAL

Santos (1990:46) afirma que:

Uma forma verbal é considerada composta (ou locução verbal), quando o verbo principal aparece em uma de suas formas nominais (gerúndio, particípio e infinitivo) e o auxiliar aparece na forma finita contendo a parte flexional de tempo, aspecto, modo e pessoa. Nestes casos a locução funciona como um todo que não pode ser desmembrado.


É pelo fato de a locução verbal funcionar como um todo que acreditamos, no caso da ordem VS, que o sujeito virá após o verbo principal, não podendo ficar entre ele e o auxiliar.

Dias (1959: 311), contudo, não assume uma posição tão rígida quanto à colocação do sujeito nos tempos compostos, pois supõe poder vir o sujeito depois do auxiliar, ou depois de todo o particípio. Assim, com intuito de confirmar se o sujeito poderia, em tempos compostos, aparecer entre os verbos, analisamos os casos de forma verbal composta para observar qual a colocação do sujeito, antes, porém, confirmemos o resultado geral.

TAB. 14 – FORMA VERBAL (Ordem VS)

Forma Verbal

Nº de ocorrências Total

%

PR

396/12240

3%

.50

41/1480

3%

.46

Simples “...faleceu um filho.” (M JC – 2GF)

Composta “Fica um vingando a morte dos outro.” (SM PS – 2NF)

Os resultados expostos na tabela 14 nos mostram que a forma verbal também se apresenta neutra ao processo da variação da Ordem, pois a forma verbal simples (.50) está no ponto neutro, e a composta (.46) bem próxima dele. Apesar de a forma composta ter o comportamento aproximadamente neutro, constatamos que ela tende levemente a desfavorecer a Ordem VS.


Tais resultados confirmam o trabalho de Santos (1990: 127-30), onde, apesar de os fatores se apresentarem de forma neutra para o processo, a forma composta desfavorece levemente a Ordem VS. E o que podemos concluir a partir desses resultados, a exemplo da autora mencionada, é que os verbos compostos tendem a desfavorecer a variante VS porque parecem funcionar da mesma forma que um verbo que possui argumento interno.

Antes de passarmos ao último fator, retomemos o problema da posição do sujeito na forma composta. Tivemos um total de 36 casos de forma verbal composta com sujeito posposto ao verbo. Desses 36 casos, apenas em 11 casos (31%) o sujeito se posicionava entre os verbos, nos demais casos havia uma propensão para os sujeitos pospostos virem sempre ao final do verbo principal, confirmando, desta forma, haver uma coesão mais forte entre os verbos quando estão na forma composta, caracterizando-a como um todo.

5.2.4. VOZ VERBAL

Apesar de este fator não ter sido selecionado, ele já se apresentou relevante para o processo da ordem, sendo, inclusive, selecionado anteriormente neste estudo. Por isso, não podemos deixar de analisá- lo aqui.

Para Santos (1990: 48-9), o processo de passivação “remove o agente da posição de tópico, enquanto o outro argumento da S é promovido a essa posição.” Assim, o elemento que é promovido a essa posição além de não ser agente, também não contém informação nova. E exatamente por isso pode ocorrer freqüentemente com a Ordem VS.


Kato (1998: 154) confirma a tendência de o agente preceder o paciente, já que em “qualquer teoria, a forma ativa é considerada a primitiva e a forma passiva, a derivada.”

Pontes (1987: 124) expõe que para Givón (1979) as estruturas passivas objetivam principalmente „escamotear‟ o agente, deixando-o, muitas vezes, fora da oração. Assim, temos nesses casos orações com apenas um argumento semelhantes às com verbo intransitivo, e portanto, favoráveis à Ordem VS. A autora ainda argumenta que “na passiva completa, o agente se distingue do paciente não apenas pela posição final quanto pela preposição: por. Então, a ordem pode ser mudada, porque se assegura a comunicação pela prep.”

E segundo Bittencourt (1980: 75) as estruturas passivas também são propensas a favorecer VS, pois a autora defende que, após a regra de passivização, as estruturas deixam de ser transitivas para tornarem-se ser + particípio passado, ou seja, ser + adjetivo. Isso a assemelha às estruturas com verbos de ligação, e como com esse tipo de estrutura a ordem VS pode ocorrer, as estruturas passivas também estariam propensas a isso.

Assim, esperávamos que os nossos dados apontassem uma tendência maior da voz passiva com a variante VS. Mas os resultados divergiram da nossa hipótese, como podemos ver pela tabela 15 a seguir:

TAB. 15 – VOZ VERBAL (Ordem VS) Nº de ocorrências Voz Verbal

Total

%

PR

436/13655

3%

.50

1/65

2%

.24

Ativa

“Ganha muito dinheiro aqueles médicos lá.” (SVS – 1NM )

Passiva

“Aí é obrigado o camarada ir pra maré.” (ACS – 3NM )


Pelos resultados concluímos que, nos nossos dados, a voz ativa (.50) se apresenta de forma neutra para o processo, enquanto a passiva (.24), contrariando as nossas hipóteses, inibe a variante VS. Contudo, é interessante observarmos que poucos casos de passiva (65) ocorreram em relação ao número total de dados (13720), o que nos leva a concluir que esse seria o provável motivo do baixo peso relativo que a passiva possui em relação à VS. Deixaremos, portanto, para discutir conclusivamente esses resultados em uma análise futura com dados escritos, onde a passiva tende a ocorrer em maior quantidade.


CAPÍTULO 6: ANÁLISE DAS VARIÁVEIS SOCIAIS

Este capítulo será dedicado à análise dos fatores sociais. Como já foi mencionado anteriormente, os fatores sociais não exercem muita influência sobre processos sintáticos mais abstratos, e principalmente aqueles que não acarretam julgamento social dos informantes, ou seja, aqueles em que as variantes não envolvem prestígio ou estigmatização. Segundo Labov & Sankoff (1979: 213), o efeito social se aplica mais aos processos lingüísticos que fazem parte do output da língua; assim, quanto mais abstrata for a variação, mas difícil se torna a sua correlação com os fatores sociais. Sendo, portanto, mais fácil estabelecer a implicação lingüística que a variável possui. Dessa forma, considerando que contraditoriamente duas das três variáveis sociais foram apontadas como relevantes para a variação da „Ordem SV na fala pessoense‟, cabe-nos explicitar a relação entre esse fenômeno sintático tão abstrato e os fatores sociais por nós levantados.

6.1. ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO Anos de Escolarização será o primeiro fator por nós analisado, em virtude de ter sido indicado pelo VARBRUL como o mais relevante entre os sociais na rodada só com os fatores sociais, e o único, quando analisados os fatores sociais e os estruturais em uma única rodada. 19

19

Lembramos novamente que os resultados dos fatores sociais foram retirados da rodada com todos os fatores selecionados. No caso do fator anos de escolarização, os seus resultados foram retirados do nível selecionado, já os outros dois fatores sociais, do nível e m que estão interagindo com os fatores selecionados.


Optamos pelo fator Anos de Escolarização por acreditarmos que quanto maior for o nível de escolarização maior será o conhecimento do falante em relação à língua que utiliza, e principalmente mais perceptível será o prestígio de determinadas formas em detrimento de outras, influenciando sua escolha por uma das variantes. Utilizamos, apenas, três níveis de escolaridade: nenhum ano de escolarização, 5-8 anos e + de 11 anos. Decidimos por essa distribuição diante da necessidade de restringir nossa amostra, já que nossa variável é bastante produtiva. Por isso, deixamos de fora os dois outros níveis de escolarização (1-4 e de 9-11 anos de escolarização), que totalizam o corpus do Projeto VALPB. Ao analisarmos esse fator, percebemos que, em termos de porcentagem, os informantes com nenhum ano (4%), de 5-8 anos (3%) e mais de 11 anos de escolarização (3%) quase se equiparam. No entanto, quando relacionados com os outros fatores selecionados, a distinção entre eles se torna mais visível: (.60) para os informantes com nenhum ano de escolarização, (.48) para os de 5-8 anos e (.42) para os com mais de 11 anos, propiciando a conclusão de que, mesmo discretamente, os informantes com nenhum ano de escolarização favorecem a ordem VS.

TAB. 16 - ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO (Ordem VS) Nº de ocorrências Anos de Escolarização

Total

%

PR

0 ano

162/4215

4%

.60

5-8 anos

158/5370

3%

.48

+de 11 anos

117/4149

3%

.42


Com base nos dados acima expostos, podemos supor que os universitários evitam utilizar variações da ordem que favoreçam ambigüidades e que possam prejudicar a sua comunicação. Desta forma, privilegiam o uso da ordem não-marcada (SV), e portanto, mais natural da frase, que é a SV. Não pretendemos dizer, com isso, que o falante tem consciência do processo de variação da ordem, mas sim que ele tem condições de julgar a clareza de seu enunciado. Apesar da aparente não implicação social dessa variável, percebemos regularidade na distribuição dos resultados, explicitando a preferência dos informantes mais escolarizados pela Ordem SV, como mostra claramente o gráfico 5 abaixo:

PR

GRÁFICO 5 – ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO (Ordem VS)

0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0

0 ano 5-8 anos mais de 11anos 1 Anos de Escolarização

Neste gráfico, podemos observar uma linha decrescente de uso da Variante VS, estabelecendo uma proporção inversa em relação à escolaridade: quanto maior a escolaridade, menor o uso de VS.


6.2. SEXO

O segundo fator a ser mencionado é o sexo, que na rodada dos fatores sociais também foi considerado como relevante. Esse fator foi primeiramente controlado por Fisher (1964) quando analisou a variação entre –ing e –in na fala de crianças de uma comunidade rural da Nova Inglaterra (EUA). Nesse trabalho, o autor apresenta a preferência dos falantes femininos pelo uso da forma de prestígio –ing, comprovando, com isso, a sensibilidade do sexo feminino pelo uso da forma padrão e de prestígio. Apesar da nossa variável não possuir a dicotomia: padrão x não-padrão e prestígio x estigmatizado, controlamos o fator sexo para conferirmos o efeito que o mesmo apresenta sobre a Ordem SV. É o que analisaremos a partir da tabela 17 abaixo:

TAB. 17 – SEXO (Ordem VS) Nº de ocorrências Sexo

Total

%

PR

Feminino

218/7567

3%

.49

Masculino

219/6167

4%

.52

Conforme tabela 17, os falantes do sexo feminino (.49) desfavorecem o uso de VS, enquanto que os do sexo masculino (.52) apresentam uma leve tendência a favorecer essa ordem. Isso nos mostra que as mulheres optam por utilizar a ordem básica não- marcada da frase (SV), assim como os informantes mais escolarizados. E com o intuito de verificar essa preferência, efetuamos um cruzamento entre os Anos de Escolarização e o Sexo (tabela 18).


TAB. 18 –SEXO X ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO (Ordem VS) Feminino

Masculino

Total

Sexo %

PR

%

PR

%

0 ano

4%

.62

4%

.57

4%

5-8 anos

2%

.46

4%

.51

3%

+11 anos

2%

.38

3%

.48

3%

Anos de Escolarização

De acordo com os resultados expostos na tabela 18, há uma tendência entre os dois sexos de diminuírem o uso de VS enquanto a escolaridade aumenta. Contudo, a redução é mais acentuada entre as mulheres (.38), levando-nos a crer que as mulheres mais escolarizadas optam pela Ordem SV, confirmando, de certa forma, o uso da variante mais aceita, ou seja, menos marcada pelo sexo feminino.

PR

GRÁFICO 6 – SEXO X ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO (Ordem VS)

0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0

Feminino Masculino

0 ano

5-8 anos mais de 11 anos

Anos de Escolarização


Como podemos observar no Gráfico 6, a linha que mostra o decréscimo do uso da variante VS pelas mulheres é bem mais acentuada do que a linha que mostra o uso dessa mesma variante pelos homens, destacando a maior resistências das mulheres em relação a essa variante.

6.3. FAIXA ETÁRIA

A Faixa Etária é um importante fator para o estudo sociolingüístico, pois permite identificar, no tempo aparente, em que estágio a variação se apresenta: variação estável ou mudança em progresso. Segundo Tarallo (1994: 65):

A relação de estabilidade das variantes ( a situação de contemporização) avultará, se entre a regra variável e a faixa etária dos informantes não houver qualquer tipo de correlação. Se, por outro lado, o uso da variante mais inovadora for mais freqüente entre os jovens, decrescendo em relação à idade dos outros informantes, você terá presenciado uma situação de mudança em progresso [...]

De acordo com o exposto acima, poderíamos concluir, de imediato, que temos uma relação de estabilidade das variantes em nosso estudo, visto que o fator faixa etária não foi selecionado como relevante. Contudo, não podemos deixar de analisar os resultados para conferirmos se, de fato, há uma tendência à estabilidade. Tais resultados estão expostos na tabela 19 a seguir:


TAB. 19 – FAIXA ETÁRIA (Ordem VS) Nº de ocorrências Faixa Etária

Total

%

PR

15-25 anos

118/3906

3%

.48

26-49 anos

154/5160

3%

.50

+ 50 anos

165/4668

4%

.52

Os resultados obtidos mostram que os valores quase se equiparam, com uma diferença muito discreta entre os fatores. Percebemos, de forma mais precisa, que só os informantes com +50 anos (.52) favorecem o uso de VS, enquanto que os de 26-49 anos (.50) se mostram neutros ao processo, e os de 15-25 (.48) desfavorecem essa variante. Em forma de gráfico, percebemos uma representação retilínea crescente em relação ao uso de VS, ou seja, quanto maior a idade dos informantes, maior o uso de VS. Essa representação dá-nos indícios, segundo a literatura pertinente, de um processo de retenção da variante SV e de diminuição da variante VS, ou seja, de uma mudança em progresso.

PR

GRÁFICO 7 – FAIXA ETÁRIA (Ordem VS)

0,53 0,52 0,51 0,5 0,49 0,48 0,47 0,46

PR

15-25 anos

26-49 anos Faixa Etária

mais de 50 anos


Apesar de o gráfico acima corresponder às expectativas de início de uma mudança em progresso, devemos enfatizar essa tendência com a ajuda dos outros fatores soc iais, pois só uma visão de conjunto pode determinar realmente em que estágio a variação se apresenta em face, principalmente, da proximidade dos resultados entre as faixas etárias. Assim, efetuamos, primeiramente, o cruzamento entre Faixa Etária e Anos de escolarização, cujos resultados estão expostos na tabela 20:

TAB. 20 – FAIXA ETÁRIA X ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO (Ordem VS) Anos de Escolarização

0 ano

5-8 anos

+de 11 anos

Total

%

PR

%

PR

%

PR

%

15-25 anos

6%

.62

2%

.44

2%

.38

3%

26-49 anos

3%

.59

3%

.49

3%

.42

3%

+50 anos

3%

.60

4%

.51

3%

.47

4%

Faixa Etária

Os resultados nos indicam que os informantes de 15-25 (.62) e +50 anos (.60) com nenhum ano de escolarização têm um comportamento semelhante, caracterizando uma representação curvilínea em relação a VS, mostrando com isso a estabilidade entre as variantes. Já os outros dois níveis de escolaridade relacionados à faixa etária apresentam a característica crescente no uso dessa variante, ou seja, quanto maior a faixa etária dos informantes mais escolarizados, maior será o uso de VS, muito embora esse aumento não seja tão significativo a ponto de ultrapassar o ponto neutro.


Esse cruzamento confirma, mais uma vez, a estabilidade das variantes entre os menos escolarizados, mas também apresenta uma leve tendência de os informantes mais velhos e escolarizados optarem pela Ordem VS, indicando, assim como os resultados da faixa etária, uma possibilidade de mudança. Ainda com o intuito de estabelecermos quais os rumos das variantes, realiza mos o cruzamento entre a Faixa Etária e o sexo. Desse cruzamento obtivemos os seguintes resultados:

TAB. 21 – FAIXA ETÁRIA X SEXO (Ordem VS) Feminino

Masculino

Total

Sexo %

PR

%

PR

%

15-25 anos

3%

.49

3%

.46

3%

26-49 anos

3%

.48

3%

.51

3%

+50 anos

3%

.49

4%

.55

4%

Faixa Etária

Percebemos, a partir dos resultados expostos na tabela 18, a regularidade na direção de uso da variante VS, pois enquanto os informantes masculinos tendem a aumentar o uso VS à medida que aumenta a idade, os informantes femininos apresentam um comportamento quase similar entre as três faixas etárias, levando-nos a crer que as mulheres de todas as faixas etárias tendem a desfavorecer o uso de VS, acentuando-se levemente na faixa de 26-49 anos. Para finalizar, realizamos o cruzamento entre as três variáveis sociais; buscando, com isso, estabelecer a verdadeira relação que apresentam entre si. Tal relação está exposta no gráfico 8, a seguir:


GRÁFICO 8 – FAIXA ETÁRIA X ANOS DE ESCOLARIZAÇÃO X SEXO

Porcentagem

(Ordem VS)

8% 7% 6% 5% 4% 3% 2% 1% 0%

H de 15-25 anos H de 26-49 anos H mais de 50 anos M de 15-25 anos M de 26-49 anos 0 ano

5-8 anos

mais de 11 anos

M mais de 50 anos

Anos de escolarização

Conforme observamos no Gráfico 8, os Homens de 15-25 anos apresentam um comportamento bem regular em relação aos anos de escolarização (3% - todos os anos de escolarização), enquanto as Mulheres mais jovens apresentam uma queda brusca do primeiro nível de escolarização (7%) para o segundo e terceiro níveis (ambos 2%). Os Homens de 26-49 anos apresentam um leve acréscimo no último ano de escolarização (1º- 3%, 2º- 3%

e 3º - 4%), já as Mulheres de 26-49 anos têm

comportamento contrário (1º- 4%, 2º- 3% e 3º - 2%). Por fim, constatamos que os Homens com + de 50 anos diminuem o uso da variante VS quando aumenta o nível de escolarização (1º- 5%, 2º- 5% e 3º - 3%), enquanto as Mulheres dessa faixa etária crescem juntamente com a escolarização em relação ao uso de VS (1º- 2%, 2º- 3% e 3º - 4%).


Percebemos que os homens de 15 – 49 anos tendem a utilizar mais VS quando a sua escolaridade aumenta, essa tendência se inverte quando os homens possuem +de 50 anos de idade. Curiosamente, as mulheres apresentam comportamento contrário ao masculino, já que na faixa etária de 15 – 49, elas usam menos a variante VS quando se aumenta a escolaridade, invertendo essa tendência na 3ª faixa etária (+50 anos), como podemos concluir através dos resultados que estão no gráfico 9:

GRÁFICO 9 – VARIÁVEIS SOCIAIS (Ordem VS)

8% 7% 6% 5% 4% 3% 2% 1% 0%

Homens Mulheres

1N

2N

3N

1G

2G

3G

1U

2U

3U

O gráfico 9 confirma que as mulheres e os homens possuem comportamento inverso em todos os níveis de escolarização, fazendo-nos acreditar que as mulheres são as responsáveis pela retenção da Ordem SV, enquanto os homens os responsáveis pela presença de VS. Conseqüentemente, poderíamos atribuir às mulheres a responsabilidade pelos indícios de mudança em progresso (gráfico 6 da faixa etária) que estabelece a retenção da Ordem SV no sistema.


CAPÍTULO 7: ENCAIXAMENTO LINGÜÍSTICO

Após a análise dos fatores que restringem a variação da Ordem SV na Fala Pessoense, podemos, então, encaixá-la lingüisticamente, sendo este, aliás, o propósito deste capítulo. Percebemos que os fatores estruturais selecionados foram tanto de origem formal (Transitividade Verbal e Tipo de Sujeito) quanto de origem funcional (Animacidade e Definitude), intercalados na ordem de relevância para o processo. Assim, não podemos determinar especificamente se as implicações formais são mais relevantes para o processo do que as funcionais, apesar de o primeiro fator selecionado ter caráter formal. Resta-nos, apenas, dizer que as restrições se complementam, formando um todo de vital importância para o processo. É com a ajuda desse todo restritivo que tentaremos encaixar a variável aqui estudada, utilizando, primeiramente, resultados de outro processo: o uso variável do objeto direto anafórico. Para Berlinck (1989:104), geralmente “o posicionamento dos constituintes é tomado como uma das características indicativas de sua função sintática nesse tipo de construção; talvez como a principal delas.” Por esse motivo, sentenças que tenham verbos transitivos tendem a possuir uma maior rigidez na posição de seus constituintes, pois qualquer permuta ou alteração dessa ordem poderia atribuir uma função inadequada a um elemento. Um exemplo seria atribuir função de objeto ao sujeito posposto ao verbo, já que seu posicionamento indicaria isso. Uma possível solução para a não ambigüidade de funções nos contexto s mencionados seria a diferença funcional que o sujeito apresenta em relação ao objeto, mas já vimos que os sujeitos de estruturas VS são atípicos, e, por isso, seriam facilmente identificados como objetos.


Assim, resta-nos acreditar que a manutenção de VS em transitivas estaria restrita a contextos onde a função do objeto seja bem marcada, diferenciando-o do sujeito posposto. Iniciando, a partir desse ponto, a diminuição do uso de VS em construções transitivas.

É possível pensar, então, que uma língua com um sistema clítico rico e produtivo na fala permita uma liberdade maior na ordenação dos constituintes na sentença: quando eles são atualizados na forma de clíticos, a probabilidade de que a construção resulte ambígua diminui muito, uma vez que sua função sintática fica evidente.(BERLINCK, 1989:107)

Mas, segundo Baltor (1998:325), o clítico acusativo é bem pouco produtivo na fala pessoense (apenas 9 casos num total de 181 dados), estando esses poucos casos restritos à fala de universitários. Isso, de certa forma, dificulta a relação entre a pouca produtividade do clítico e a diminuição de VS, pois, como observamos em nossos resultados, essa ordem é mais produtiva com os informantes com nenhum ano de escolarização (12/1758 – 1%) do que com os informantes com +de 11 anos (8/2078 – 0%) 20 , levando-nos a concluir que só a variante VS produzida pelos informantes com +de 11 anos de escolarização é que pode ser afetada pela perda do clítico. Os estudos de Baltor (1998) só apresentam resultados sobre o clítico acusativo, não nos permitindo tecer comentários sobre outros clíticos (se, lhe, te), os quais acreditamos serem mais produtivos na fala pessoense. Esse fato nos leva a supor que os resultados desses clíticos podem estar mais relacionados a VS do que os do clítico acusativo. Mas, isso são só hipóteses, as quais só confirmaremos em um trabalho posterior quando tivermos resultados de estudos que contemplem esses resultados.

20

Lembramos que apesar de todos os verbos transitivos terem sido amalgamados em uma única variante, esses resultados são apenas dos verbos transitivos diretos, já que o fenômeno com o qual pretendemos relacionar a Ordem VS é o objeto direto anafórico.


É importante lembrar que existe outra variante: a categoria vazia do objeto, a qual se apresenta bastante produtiva nos dados da autora mencionada, possuindo um total de 53% dos 172 casos de objeto direto anafórico. Essa variante transforma o verbo transitivo direto em um verbo de um único argumento, o externo, facilitando, dessa forma, a mobilidade dentro da sentença. Esse dado possibilita- nos acreditar que as estruturas VS em construções transitivas poderiam não ter desaparecido totalmente no nosso corpus mais pela presença de objetos anafóricos nulos do que pela presença de clíticos, de vido à diferença quantitativa entre eles. Mas é exatamente essa diferença estatística que nos leva a questionar: se o objeto nulo apresenta mais da metade (53%) dos dados do objeto direto anafórico, e se acreditamos que essa variante pode ser a responsáve l pela manutenção de VS em estruturas transitivas diretas, então por que as ocorrências de VS não se apresentam mais produtivas do que SV? Esse questionamento faz- nos descartar a relação entre a manutenção de VS e do objeto nulo, como também o fato de o objeto nulo ser mais produtivo com os universitários (57%). Assim, a única conclusão que podemos obter em relação aos resultados sobre o objeto direto anafórico é que eles propiciam uma maior limitação de estruturas transitivas VS, pois o SN Lexical e o Pronome Lexical Nominativo em muito dificultam a distinção funcional tão bem estabelecida pelo clítico. Outro estudo relacionado ao nosso fenômeno é a ordem do objeto em relação ao verbo. Em Silva (1998:355), observamos que a ordem básica da frase é SVO, sendo que essa ordem pode apresentar variações, tanto do SN sujeito quanto do SN objeto.


Assim como no nosso estudo, os resultados de Silva (1998:356) também mostram que SVO é a variante mais utilizada, já que das 1733 ocorrências de estruturas transitivas, apenas 265 apresentaram OV, o que equivale a 15% do total. Repetimos que SVO é a variante mais produtiva, porque as posições de seus constituintes indicam a função sintática que desempenham, podendo causar ambigüidade a mobilidade entre eles. Assim, percebemos que as estruturas transitivas não são ambientes propícios para o movimento de constituintes e que isso só ocorre quando eles possuem características formais e funcionais atípicas para a função que antes ocupavam, ou seja, os SNs sujeitos ocorrem mais em estruturas VS quando são atípicos, acontecendo o mesmo em relação ao SN objeto. Para esclarecermos melhor, fizemos uma tabela comparativa entre os dois fenômenos: Ordem VS e Ordem OV.

TAB. 22 – ORDEM VS E ORDEM OV Fenômenos Orde m VS

Orde m OV

SN Sujeito/Objeto + animado

1%

.45

35%

.60

– animado

20%

.89

8%

.45

+ definido

2%

.46

17%

.53

– definido

8%

.67

8%

.34

Pronominal

1%

.43

42%

.82

Nominal

9%

.69

6%

.36

Oracional

39%

.93

9%

.43


Como observamos na tabela 22, os SNs sujeitos presentes em VS possuem características opostas aos SNs objetos de OV; corroborando, desta forma, as características dos constituintes de que devem ocupar a posição anterior e poster ior ao verbo. Percebemos, ainda, que apesar de os verbos transitivos não favorecerem a ocorrência de VS, eles apresentam uma hierarquia, mesmo pouco distinta, em relação à ordem VS, a qual é exatamente o oposto da estabelecida pela ordem OV. Como podemos observar na tabela 23 :

TAB. 23 – ORDEM VS E ORDEM OV

Fenômenos Orde m VS

Orde m OV

Transitividade Verbo Transitivo Indireto

0%

.38

17%

.44

Verbo Transitivo Direto

0%

.31

12%

.49

Verbo Bitransitivo

0%

.25

71%/16%

.87/.6021

Os resultados confirmam que esses dois fenômenos da Ordem possuem uma forte ligação, estabelecendo, por conseqüência, os ambientes propícios para o movimento dos constituintes da frase. Antes, porém, de finalizarmos este capítulo, não podemos deixar de mencionar outro fenômeno (a concordância verbo-sujeito), que completará o ciclo do encaixamento lingüístico, já que a escolha de uma das nossas variantes (SV ou VS) pode influenciar na aplicação da concordância verbo-sujeito.

21

Os verbos bitransitivos apresentam duas porcentagens e dois pesos porque Silva (1998:357) div ide esse fator em bitransitivo com o objeto indireto anterior ao verbo (71%/.87) e bitransitivo com o objeto direto anterior ao verbo (16%/.60), mas os dois fatores favorecem OV, co mo observamos pelos resultados.


Para completarmos o encaixamento, tomamos por referência o trabalho de Anjos(1999), que, assim como os outros fenômenos estudados no encaixamento, também têm por base o dialeto pessoense. Em seu trabalho, Anjos (1999) realizou todo um apanhado teórico sobre a influência da posição e da distância do sujeito na concordância verbo-sujeito na 3ª pessoa do plural no sintagma verbal. Anjos (1999:95-6) considera, baseada em Naro & Lemle (1976), Naro (1981) e Guy (1986), o sujeito anteposto mais favorecedor da concordância do q ue o sujeito posposto 22 , já que a posição mais à direita do verbo é menos saliente e o elemento determinante segue o elemento determinado. Encontramos, ainda, em Anjos (1999:96), outra consideração bastante interessante sobre o sujeito posposto: Peres & Móia (1995) afirmam ser atípica essa posição do sujeito e, por isso, ela tende a originar o não reconhecimento da função sintática desse constituinte, resultando na ausência de concordância verbo-sujeito. Com isso, Peres & Móia também confirmam a atipicidade do sujeito pós-verbal tão mencionada por nós durante a nossa análise dos resultados, relacionando, mais uma vez, essas duas variantes: ordem VS e ausência de CV (Concordância Verbal). Contudo, o mais relevante no trabalho citado é o resultado obtido. Em sua primeira consideração a respeito de seus resultados, Anjos (1999:98) afirma que o sujeito mais à esquerda do verbo favorece a concordância verbal, enquanto que a posição à direita do verbo (.18) a desfavorece. Esses resultados são confirmados, segundo Anjos (1999:98), pelos trabalhos de Scherre & Naro (1997), Guy (1986), Mattos e Silva (1992) e Graciosa (1991).

22

O termo “sujeito posposto” que será mencionado pelos autores aqui no encaixamento lingüístico não implica na realização de qualquer movimento do sujeito, refere-se, apenas, a posição desse constituinte na frase.


Assim, o que podemos concluir a partir de Anjos (1999:104), é que a posição pósverbal do sujeito é um fator altamente desfavorecedor da CV. Esse fato fica ainda mais explícito com o cruzamento do fator presença, posição e distância do sujeito em relação ao verbo e do fator anos de escolarização, que resulta em (.20) para os informantes com nenhum ano de escolarização, (.31) para os de 1-4 anos, (.12) para os de 5-8 anos, (.10) para os de 9-11 anos e (.22) para os com +de 11 anos. Percebemos, dessa forma, que todos os níveis de escolarização desfavorecem a CV, se o sujeito estiver após o verbo, aproximando bastante os níveis escolares mais d istantes (nenhum ano ( .20) e +de11 anos (.22)), levando- nos a concluir que nem o fator mais relevante estatisticamente para CV (anos de escolarização) é capaz de propiciar uma maior aplicação da regra de concordância verbo-sujeito quando o sujeito é pós- verbal. Para finalizar o encaixamento lingüístico dos fenômenos por nós mencionados, estabelecemos um esquema para esclarecer de forma mais explícita a relação entre eles:

Pron. Lexical Nominativo, SN Lexical  Ordem SV  Concordância Verbal

SE Orde m Ve rbo Objeto

Presença do Clítico Acusativo, Objeto Nulo  Ordem VS  Ausência de CV

SE Orde m Objeto Verbo

Legenda:  = maior probabilidade de ocorrência


CAPÍTULO 8: CONCLUSÃO

Esta parte final do nosso trabalho recuperará algumas considerações sobre a variação da “Ordem SV na Fala Pessoense”; ilustrando, conseqüentemente, as implicações restritivas desse fenômeno. No que concerne às restrições lingüísticas, os fatores Transitividade Verbal, Animacidade do SN sujeito, Tipo de SN sujeito e Definitude do SN sujeito foram considerados como os mais relevantes para o processo da Ordem. Dentro de cada fator, observamos que os verbos monoargumentais, o sujeito oracional, composto e nominal com traços –animado e –definido são os que mais propiciam a variante VS. Os outros fatores, apesar de não terem se relacionado positivamente neste estudo, confirmaram, de certa forma, as nossas expectativas. Em relação aos fatores sociais, encontramos resultados bem interessantes. Pois, apesar de acreditarmos que nossa variável não possuísse implicações de juízo social, ela se apresentou condicionada pelos fatores sociais anos de escolarização e sexo. Observamos que os informantes menos escolarizados e do sexo masculino são os que mais utilizam a variante VS. E com uma análise mais detalhada da faixa etária, apesar de não ter sido selecionada, confirmamos tratar-se de um processo que apresenta leves indícios de mudança. Com esses resultados, esperamos ter explicitado o papel que cada variável representa no fenômeno variável da Ordem, e confirmado as várias tendências que esses fatores apresentaram nos diversos processos variáveis já observados em estudos sobre outros dialetos brasileiros.


Contudo,

não

pretendemos

incidir

no

equívoco

de

tentar

„transferir

mecanicamente‟ as tendências lingüísticas e, sociais, acima de tudo, que outros trabalhos apresentaram para outros fenômenos estudados (LUCCHESI, 1998: 206-7). Mas, ao contrário, procuramos estabelecer quais as restrições que podem assemelhar-se nos processos estudados e, ainda, se elas possuem a mesma inclinação, tornando possível obter um quadro do que é variável e do que é geral nos fenômenos estudados e, conseqüentemente, do comportamento social em relação à língua. Para completar esse quadro, realizamos também o encaixamento lingüístico da nossa variável, apresentando a relação que a variação da Ordem SV/VS estabelece com outros fenômenos estudados no dialeto pessoense. Observamos que a presença do SN lexical e do Pronome Lexical Nominativo, assim como a Ordem Verbo Objeto, favorecem a ocorrência da Orde m Sujeito Verbo, a qual, por sua vez, propicia a Concordância Verbo-Sujeito. Já a manutenção do Clítico Acusativo, a ocorrência do Objeto Nulo e a Ordem Objeto Verbo possibilitam a Orde m Verbo Sujeito, que desfavorece a Concordância Verbal. Com isso, percebemos que o nosso objeto de estudo está perfeitamente encaixado no sistema lingüístico pessoense, possibilitando uma descrição mais geral dos fenômenos sintáticos nesse dialeto. Assim, esperamos ter contribuído para esclarecer a inclinação do processo variável da Ordem SV na Fala Pessoense, apresentando, de forma mais ampla, a complexidade que esse processo apresenta na língua em uso.


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