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TRÊS GERAÇÕES DE UMA FAMÍLIA TESTEMUNHAM SETE MARCOS DA UERN

Com relação direta, seja como estudantes ou servidores, avó, filho e neto presenciam os acontecimentos mais marcantes nos 54 anos de história da Instituição, desde a sua função em 1968 até a conquista da autonomia financeira

No dia 28 de setembro de 1968, a jovem mãe Alice Tavares ouvia no rádio a notícia de que, naquele dia, seria fundada a Universidade Regional do Rio Grande do Norte (URRN), unindo as Faculdades de Ciências Econômicas e Serviço Social com a Escola Superior de Enfermagem e Instituto de Filosofia, Ciências e Letras de Mossoró.

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Ao saber disso, ela se emocionou porque sabia que aquilo mudaria a vida de muita gente, sem se dar conta de que aquela decisão, capitaneada pelo então prefeito de Mossoró Raimundo Soares de Souza, mudaria o destino da família dela por completo com o passar do tempo.

Criação

“Torcia muito para que Mossoró tivesse uma universidade”, relembra.

Já mãe de três filhos, que viriam a se tornar alunos e uma servidora de carreira da hoje Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), essa testemunha ocular da história da instituição só se ligaria oficialmente à ainda Universidade Regional do Rio Grande do Norte (URRN) em 28 de abril de 1976 como servidora técnica administrativa.

Foram três filhos, um neto e o marido (José de Arimatéa Melo) graduados na Uern.

A servidora de carreira, sua filha Isolina Melo, trabalhou por 28 anos na Universidade, sendo 16 deles à frente do Cerimonial. Ela conta que a relação da família com a instituição antecede a entrada de sua mãe.

“Começou com minha tia Ritinha, Maria Rita Tavares de Góes, que morreu em 2022. Através dela, minha mãe entrou na antiga FURRN (sigla que acrescentava a Fundação à Universidade Regional do RN). Eu via o quanto elas amavam a Uern e a luta delas datilografando os cheques para fazer os pagamentos de salários atrasados”, lembra.

“Era um amor e uma dedicação muito grande de mamãe. Ia trabalhar doente e nunca faltou a um dia de trabalho”, conta.

Isolina se tornaria referência nacional na área de cerimonial e até hoje participa de conselhos nesta área. “Vivi abnegadamente pela Instituição. Foram anos maravilhosos, de amizades e aprendizados”, diz. “Mesmo longe (hoje mora na Itália), fico torcendo e vibro com cada conquista como a lista tríplice, a autonomia e o plano de cargos. A Uern sempre será minha casa”, declarou.

Mas até a conclusão do ciclo de conquistas, a Uern viveu tempos difíceis de uma universidade municipal que precisava cobrar mensalidades para se manter.

Uma das dificuldades ressurge com Alice reforçando as palavras de Isolina sobre o quanto era difícil lidar com os atrasos salariais dos tempos pré-estadualização.

“Trabalhava na contabilidade e era um choro só. A Universidade era paga e os alunos atrasavam e a gente ficava seis meses sem receber. Quando doutor Vingt (o então deputado federal Vingt Rosado) chegava, a gente já ficava feliz porque sabia que ele tinha conseguido alguma verba em Brasília para pagar os nossos salários”, relembra.

Dali a dois anos começaria a história do nosso segundo personagem: Fábio Bentes, terceiro filho de Alice que também viria a ser aluno e servidor da instituição. Por nove meses, enquanto era gerado, ele participou das rotinas de uma universidade que lutava para sobreviver tendo Alice como uma de suas servidoras mais empenhadas.

Eram tempos complicados em que os problemas da então URRN se cruzavam com os de Mossoró. “Ficava numa mangueira na Presidente Dutra (antes da duplicação) esperando por uma carona para poder ir trabalhar. Era um tempo em que não tinha a Avenida Jerônimo DixNeuf Rosado (conhecida como LesteOeste) e era mais difícil quando precisava sair do Epílogo para o Campus”, conta.

Estadualização

Enquanto os filhos mais velhos de Alice cresciam para se tornarem alunos e depois servidores da Uern, aconteceu o segundo marco da instituição: a estadualização capitaneada pelo então reitor padre Sátiro Cavalcanti. Foi um momento histórico, ocorrido entre os anos de 1986 e 1987, de união da ainda URRN e que mudaria para sempre a história da educação potiguar.

“A estadualização foi a minha maior alegria. Lembro como hoje que saímos em passeata da Igreja do Perpétuo Socorro para a Igreja de Santa Clara em procissão para agradecer. Ninguém acreditava que isso poderia acontecer e aconteceu. A gente sabia que essa mudança acabaria com esse sofrimento”, relembra emocionada.

Reconhecimento

Dali a seis anos surgiria um novo desafio: ser reconhecida como universidade pelo Ministério da Educação. O esforço mobilizou toda a Universidade e resultou na Portaria Ministerial No 874, de 17 de junho de 1993, e Decreto No 83.857, de 15 de agosto de 1993, assinados pelo ministro Murílio de Avellar Hingel. “Foi outra alegria muito grande”, conta Alice. Em meio a esses avanços que foram sendo conquistados, novos integrantes da família foram se firmando como servidores da Uern através de concursos públicos.

Fábio Bentes, filho mais novo de Alice, carrega uma relação com a Uern desde quando estava no útero da mãe, indo da condição de estudante graduado e pósgraduado em Educação Física à de servidor.

“Eu tenho uma visão de quem viveu tudo isso. Eu via o sofrimento da minha mãe para receber salário. Como estudante, encarei a realidade melhor já com a Leste Oeste facilitando o acesso e vi a construção do nosso ginásio, mas ainda assim eram muitas dificuldades e era bem diferente de hoje. Achar uma sala com ventilador era difícil. Hoje a regra são salas climatizadas. Hoje tem aluno indo de moletom para as aulas”, rememora. “A Uern está longe de ser perfeita, mas melhorou muito e está superando um momento em que sofreu demais”, complementa.

Alice se aposentou em 2006 quando Fábio já tinha três anos de casa. Seria ele, a partir dali, a testemunha ocular dos novos marcos da Uern que demoraram a sair, mas vieram todos em curtíssimo período, com o ciclo se iniciando em 2018, quando transcorreu o recredenciamento que mobilizou toda a instituição.

“Foi uma época muito tensa porque a Uern seria avaliada em sua infraestrutura, não só pela qualidade inquestionável de seus cursos”, lembra Fábio. “A gente não tinha dinheiro e tudo era uma confusão porque havia o medo de por causa de uma instalação elétrica com problemas a gente ser reprovado”, acrescenta.

Recredenciamento

Recredenciar a Instituição foi um momento de união cujo resultado foi bastante comemorado na época. “Foram dadas todas as condições para os avaliadores. Corremos para cumprir as exigências mudando as instalações elétricas, climatizando as salas e deu tudo certo”, comemora.

O recredenciamento da Uern foi assinado pela então secretária de Educação Cláudia Santa Rosa em 23 de abril de 2018.

A Uern aguardaria mais três anos para ter seus últimos marcos acontecendo quase que simultaneamente. “Sonhei ver tudo isso, mas não em tão pouco tempo”, diz Fábio Bentes.

Fim da lista tríplice

Assinado pela governadora Fátima Bezerra no dia 28 de setembro de 2021, durante a Assembleia Geral que comemorou os 53 anos da Instituição, o fim da lista tríplice nas eleições para reitor e vice da Uern proporcionou, a partir de então, que os mais votados pela comunidade acadêmica sejam automaticamente nomeados para os seus respectivos cargos.

“A existência da lista tríplice era uma coisa que me inquietava e tinha que mudar e só dava para mudar isso com uma lei. A imprensa foi fundamental nisso”, reconheceu o servidor.

Autonomia

Dali a três meses aconteceu a maior conquista da Uern desde a estadualização: a autonomia financeira. Um assunto que por três décadas esteve em discussão e com idas e vindas foi sancionado pela governadora Fátima Bezerra no dia 29 de dezembro de 2021. “Chorei com a autonomia porque minha vida se confunde com a Uern. Até acho que tinha que ter passado antes”, avalia.

Plano de Cargos

Com a autonomia financeira garantida e já valendo em janeiro de 2022, foi mais fácil o sétimo e último marco: a implantação dos Planos de Cargos, Carreiras e Remunerações dos técnicos administrativos e professores sancionado pela governadora no dia 24 de março de 2022.

“Foi um momento emocionante. Lembro que quando saiu o primeiro contracheque procurei minha mãe e disse para ela olhar como estava o salário dela. Ela não acreditou”, diz Fábio. “Nunca imaginei ter um salário como esse de agora”, acrescentou Alice Tavares.

Para Fábio Bentes, com tantas conquistas em tão pouco tempo, a hora é de focar nos alunos. “O aluno é a nossa razão de ser”, argumentou.

Um desses alunos faz parte da terceira geração da família. Fábio Bentes Júnior, como o pai, entrou para a Uern ainda no ventre da mãe, que cursava Pedagogia quando descobriu que estava grávida.

FÁBIO BENTES

“Quando ouço meu pai, minha avó e tios contando as histórias, vejo que muita coisa melhorou na Universidade. Olho para aquele hospital (o Hospital da Mulher) e penso que é um cenário de filme. Querendo ou não, também faço parte dessa história.

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