TRiBUNA FEIRENSE

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FEIRA DE SANTANA-BAHIA, SEGUNDA-FEIRA, 30 DE JULHO DE 2018

ANO XVI - Nº 2.605

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Feira: polo educador ATENDIMENTO (75)3225-7500

Reprodução

Localizada em um dos mais importantes entroncamentos rodoviários do país, Feira de Santana, que nasceu da movimentação dos tropeiros pela antiga Estada Real, foi, por séculos, uma cidade essencialmente comercial. Mas esse perfil começou a mudar a partir da implantação, primeiro, da Faculdade de Educação, em 1968, e, posteriormente, da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), em 1976. Desde então, a Princesa do Sertão vem se consolidando como polo educacional. Em duas décadas, a cidade viveu uma explosão

universitária, com a implantação de diversas faculdades privadas e da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB). No Ensino Básico, no entanto, apesar das melhorias na infraestrutura, não houve avanços no Índice de Desenvolvimento da Educa-

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ção Básica (Ideb). O Estado, por sua vez, teve uma atuação limitada, tanto em temos de oferta quanto de qualificação do Ensino em nosso município. Na edição de hoje, o jornal Tribuna Feirense aborda aspectos relacionados à Educação

ANO V - Nº 188

FEIRA DE SANTANA-BAHIA, SEGUNDA-FEIRA, 30 DE JULHO DE 2018

Casa de Passagem para artistas itinerantes será primeira do Nordeste Ísis Moraes Realizar o sonho do pai cordelista, cantador, repentista. Sabiá Laranjeiras partiu em 2005, mas deixou para o filho, o produtor cultural, escritor e também cordelista Olliver Brasil, não só suas lições de vida e seu legado artístico, mas o desejo de ajudar o próximo e de difundir a cultura popular. O renomado artista tinha o desejo de construir um albergue, para hospedar os que, com poucos recursos e sem nenhum apoio, viajam pelo país para alegrar a rotina dos cidadãos comuns e subtraí-los do automatismo cotidiano. A morte precoce não permitiu que Sabiá iniciasse a construção do espaço, mas Olliver diz que o pai chegou a acolher dezenas de artistas na casa onde morava. “Meu pai teve a ideia de criar o albergue em 2003. Planejava construí-lo em um terreno dentro do sítio onde vivia. Desenhou a planta e chegou a fazer a demarcação do local onde ergueria a sede, mas, por falta de incentivo, teve que parar. No entanto, já vinha pondo em prática um embrião do projeto, albergando, na própria casa, mais de 40 artistas populares, oriundos de vários estados do Nordeste. Após a sua morte, o projeto ficou parado por dez anos, até que resolvi retomá-lo, em 2015”, lembra. Para concretizar o sonho do pai, Olliver Brasil e a esposa, Enny Olliver, venderam a casa onde moravam, compraram um terreno, localizado no Conjunto José Ronaldo de Carvalho, em Feira de Santana, e deram início à construção da Casa de Passagem Sabiá Laranjeiras, que será a primeira instituição do Nordeste a abrigar artistas itinerantes. “Em 2015, entrei em contato com a viúva dele, para saber se ela ainda tinha a planta e, felizmente, ela a havia guardado. Após conseguir esse desenho, renasceu toda a vontade de tomar conta do projeto, até por ser o único filho dele, dos nove, que é cordelista e cantador. Então, para mim, é uma honra dar sequência a essa ideia. Estamos seguindo o

projeto à risca”, ressalta. A iniciativa foi a forma que Olliver encontrou de não apenas perpetuar a memória do pai, mas de pôr em prática o traço mais valioso de sua personalidade: a capacidade de se solidarizar com as dificuldades e os sofrimentos dos outros. “Meu pai era um ‘Irmão Dulço’ (risos). Ele queria abraçar o mundo. Não aguentava ver uma pessoa na rua, precisando de ajuda, que se aproximava para perguntar o que era mais urgente. E se ele não pudesse fazer, tentava conseguir ajuda com algum amigo. Nem conhecia a pessoa, mas se solidarizava. E eu acabei herdando essa missão”, conta o produtor, que também tem por hábito abrigar os artistas que vêm de fora em sua residência particular. Segundo Olliver Brasil, o que movia o pai era o mesmo sentimento que o motiva: o amor, pelo ser humano, em primeiro lugar; e pela cultura popular, tão viva, mas ainda tão institucionalmente desvalorizada em Feira de Santana. “Essa cidade é um turbilhão. Está em ebulição constante. Por aqui passa gente de todas as partes do país, especialmente do Nordeste. É muito comum artistas da Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará virem para cá, tangidos pela expectativa de que, aqui, é possível levantar uma grana fazendo trabalho de rua. E, de fato, é, porque o pessoal daqui acolhe. No entanto, essas pessoas não têm onde pernoitar sem gastar muito. Então, o camarada vem de fora, faz um trabalho lindo, mas acaba gastando mais da metade do que ganhou só com hospedagem e alimentação. A viagem quase não compensa”, lamenta. Sentindo na própria pele as dificuldades de se fazer arte sem qualquer apoio, já que também realiza trabalhos de rua, Olliver diz que uma experiência foi definitiva para impulsioná-lo a tocar o projeto sonhado por Sabiá. “Em 2013, fui a Montes Claros, em Minas Gerais, realizar um trabalho e tive o prazer de ser hospedado pelo artista e amigo Carlos Renier Azevedo, que tem um projeto bem parecido lá. Ele

Acervo pessoal do artista

“Nosso desejo é que a Casa de Passagem Sabiá Laranjeiras seja uma casa de amigos para muitos artistas”, diz o produtor cultural Olliver Brasil acolhe tudo quanto é artista que passa pela cidade. E isso me emocionou muito. Foi uma peça fundamental nesse processo de reavivamento do sonho do meu pai. Quero dar sequência ao desejo dele, para que os artistas populares tenham mais oportunidades de ganhar o pão de cada dia, porque artista de rua sofre pra caramba”, constata. PERSISTÊNCIA Sem apoio governamental e sem incentivo de empresas privadas, até o momento, Olliver enfatiza que não tem sido fácil conseguir recursos para dar continuidade à construção, mas espera não precisar parar outra vez. “Começamos a levantar a sede em 2015, mas ainda falta muito. Inicialmente, construímos parte da residência, mas foi preciso dar uma parada, por falta de recursos. Ficamos um ano sem movimentar a obra. E, agora, retomamos o levante. A construção está 2,6 metros de altura. Isso com recursos próprios. Nossa expectativa, se tudo der certo, é fazer, já em agosto, nossa primeira virada cultural na área da Casa de Passagem Sabiá Laranjeiras. Estou construindo agora os dois primeiros compartimentos de quatros, que serão divididos em dois salões para

dormitórios, mais uma área para aulas e o escritório”, comenta, lembrando que ainda está tentando registrar a instituição, para obter o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) como Associação, processo demorado e difícil, em função da burocracia, mas essencial para a captação de recursos. O artista e produtor cultural diz que pensou em inscrever o projeto em algum edital de cultura, mas não conseguiu encontrar nada direcionado a esse tipo de iniciativa. A dificuldade não o fez desanimar. Ao contrário, instigou-o a utilizar uma das mais poderosas ferramentas contemporâneas a favor de seu sonho. “Usamos as redes sociais para agregar esforços. E cada vez mais pessoas estão nos apoiando. Amigos de São Paulo, Paraíba e de outros estados, além de artistas que já foram albergados por nós, estão se solidarizando e contribuindo como podem. Agora, eles inventaram uma vaquinha virtual. Mas tudo é muito difícil. Em dois meses, conseguimos apenas duas doações. No entanto, esse apoio nos dá forças para manter o foco. Nossa necessidade é gritante. É uma luta imensa, mas o sonho não pode parar. Vou buscar realizá-lo a vida toda”, afirma.

Olliver Brasil espera que os poderes públicos e a iniciativa privada também abracem o projeto, devido à importância dele para a perpetuação da cultura popular, tão fundamental no processo de formação de Feira de Santana e do próprio país. “Feira é uma mãe para os artistas populares, mas uma mãe que abraça na chuva, em função, justamente, dessa falta de apoio governamental. É preciso um olhar mais sensível para esse segmento. A arte popular está agonizando, mas não vai morrer. Enquanto tiver um artista de rua, ela vai sobreviver. Pode ser que a duras penas, mas não vai deixar de respirar jamais. Se os gestores, de todas as instâncias, tiverem um mínimo olhar possível, essa triste realidade pode mudar. Tantos milhões permanecem ociosos ou são mal investidos, então por que não apoiar projetos que tantos benefícios podem trazer para a população?”, questiona. Ele reconhece que parte da culpa é dos próprios artistas, que não apresentam projetos. “É preciso fazer nossa mea culpa. Não desenvolvemos projetos. E é importante uma maior conscientização por parte dos artistas populares. Digo por mim também. Tenho 12 livros e 64 cordéis publicados e meu material

é todo artesanal, desde o começo. A mesma coisa com os 30 CDs que gravei. Fiz tudo do meu bolso. Nunca procurei patrocinador. É um diferencial do meu trabalho, mas, ao mesmo tempo, me prejudica muito. Sei que outros artistas também trabalham assim, então também somos culpados. Precisamos buscar recursos, porque eles existem. Mas temos que apresentar projetos. Essa deficiência de editais voltados à cultura popular decorre disso também, não é apenas descaso governamental”, pondera. VACA MECÂNICA Um grande diferencial da Casa de Passagem Sabiá Laranjeiras é ir além do suporte aos artistas populares. Olliver e Enny também desejam dar ao projeto um importante foco social. “Nossa ideia é agregar também um trabalho de assistência a crianças em estado de desnutrição. Apelidamos esse projeto de Vaca Mecânica, porque visa a distribuição de leite de soja, pão integral e multimistura. Aparentemente, Feira de Santana não tem esse problema, mas tem sim. E ele é grave e complexo, porque, muitas vezes, está relacionado à maneira como uma pessoa se alimenta, e não necessariamente à fome. Às vezes, a

em Feira, mostrando os avanços e as mudanças, entre as dificuldades de obtenção de dados e a falta de projetos de avaliação. Já o caderno Tribuna Cultural, traz, na capa, uma matéria sobre um projeto inédito no Nordeste, que visa não apenas

acolher artistas itinerantes e difundir a cultura popular, mas também prestar um importante serviço social a crianças carentes. A Casa de Passagem Sabiá Laranjeiras está sendo erguida pelo produtor cultural, cordelista e cantador Olliver Brasil,

filho do grande artista popular que dá nome à instituição. Outro destaque do suplemento é o artigo do renomado escritor Lúcio Autran, filho do saudoso romancista Autran Dourado, um dos mais importantes escritores brasileiros.


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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 30 de julho de 2018

Instituições de Ensino Superior transformaram perfil de Feira Karoliny Dias

A educação superior chegou à cidade com a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Ela nasceu como resultado de uma estratégia governamental, que tinha por objetivo interiorizar a Educação Superior, até então restrita a Salvador. O atual reitor da entidade, professor Evandro do Nascimento Silva, destacou a grande relevância que a entidade tem para a cidade. Para ele, a Uefs torna Feira de Santana um polo de conhecimento no interior da Bahia e dinamiza o desenvolvimento da região há quatro décadas. Na opinião de Evandro do Nascimento, a entidade traz várias contribuições para a Feira de Santana. Uma delas, segundo o reitor, é a injeção monetária na economia local. “Eu estimo que a presença da Uefs faz circular, por ano, cerca de 100 milhões de reais, com os salários de servidores e terceirizados, com os contratos de serviços que pagamos e com o consumo de estudantes que vêm de outros municípios”, avalia. A Instituição contribui ainda, conforme o gestor, com a disponibilização de profissionais qualificados para a indústria, para o setor de serviços, para a rede de Educação Básica, para o sistema de saúde local e para o setor público. “Há setores que estão embrionários, mas que são promissores para a nossa economia, e que tem a participação de profissionais formados na Uefs, como é o caso da área de Tecnologia da Informação”, observa. Outra contribuição importante diz respeito à cultura, através das atividades do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca); dos diversos museus mantidos pela Universidade; da Feira do Livro; e do resgate de manifestações e festejos populares, como o Bando Anunciador da Festa de Santana. “Temos ainda pesquisas importantes sobre o semiárido, saúde pública, biotecnologia, geotecnologias, literatura regional, para citar algumas áreas. Na Extensão universitária, os projetos e programas realizam o atendimento direto de mais de 200 mil pessoas. Só as Clínicas Odontológicas realizam cerca de 10 mil procedimentos por ano. A Universidade Aberta à Terceira Idade (Uati) atende a 760 idosos”, informa.

UFRB

Em Feira de Santana, ainda existe um campus da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). A cidade abriga o Centro de Ciência e Tecnologia em Energia e Sustentabilidade (Cetens). Susana Pimentel, diretora do Cetens, destacou que o local tem como missão a formação de profissionais das áreas da Educação do Campo, Engenharias, Tecnologias e Ciências Sociais Aplicadas. Ainda segundo Suzana, o Cetens oferta cursos de Graduação inovadores, como Licenciatura em Educação do Campo, com habilitação em Ciências da Natureza e Matemática; Bacharelado Interdisciplinar em Energia e Sustentabilidade, Engenharia de Energias, Engenharia de Materiais, Engenharia de Tecnologia Assistiva, Acessibilidade e Engenharia de Produção e Tecnologia em Alimentos; além da Licenciatura em Pedagogia, oferecida através do Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor). Na Pós-Graduação Lato Sensu (Especialização), existe o curso de Especialização em Ambiente Tecnologia e Sustentabilidade. Susana Pimentel lembra ainda que a atuação da comunidade acadêmica é marcada pela busca por soluções inovadoras e criativas, que permitam o uso e o desenvolvimento de tecnologias a favor do ser humano, ao tempo em que seja conservado e preservado o meio ambiente. “Podemos observar esse diálogo nas pesquisas realizadas no Centro, as quais envolvem desde a preservação de sementes crioulas até o estudo e desenvolvimento de biocombustíveis”, explica. O CETENS tem desenvolvido projetos de Pesquisa e Extensão envolvendo temáticas como, por exemplo, o desmatamento e aterramento das lagoas, em virtude da urbanização crescente da cidade de Feira de Santana; a acessibilidade dos espaços públicos e a busca para alcançar as metas do milênio para uma cidade acessível e sustentável; o incentivo de alunos do Ensino Médio para a carreira profissional na área técnica; e a implantação de coleta seletiva nas escolas públicas. Uma das maiores dificuldades da entidade, ainda conforme Suzana Pimentel, diz respeito aos recursos do Governo Federal, necessários para a construção da sede própria no terreno doado,

e já escriturado em nome da UFRB, localizado às margens da BR 116 Sul. Silvio Soglia, reitor da UFRB, diz que apenas parte dos recursos, frutos do pacto com o Ministério da Educação, foram disponibilizados conforme previsto para a instalação e a consolidação dos projetos intrínsecos à concretização das principais etapas da respectiva unidade. “O CETENS está em plena fase de consolidação e expansão, alinhada com a política de interiorização do Ensino Superior federal na Bahia. Todo o esforço tem sido feito para que possamos prover a infraestrutura necessária relativa à consolidação da UFRB em Feira de Santana”, completa.

INSTITUIÇÕES PARTICULARES

Em Feira de Santana, existem diversas faculdades e universidades privadas, em duas modalidades: presencial e de Educação à Distância (EAD). Três delas figuram entre as Instituições de Ensino Superior da rede privada mais bem avaliadas do país: a Faculdade Nobre (FAN), a Faculdade Anísio Teixeira (FAT) e a Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana (Unef). Essa conclusão veio de dados do Índice Geral de Cursos (IGC), divulgados em novembro de 2017, no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O diretor presidente do Grupo Nobre de Ensino, professor Jodilton Souza, destacou que “a cidade era carente em termos de Instituições de Ensino que ofertassem melhores condições físicas, humanas, laboratorial e, sobretudo, de qualidade pedagógica”, o que, segundo ele, motivou a implantação de cursos inovadores. As faculdades Unef e FAN são, hoje, segundo o seu diretor presidente, o maior polo local e regional de formação acadêmica, com 17 cursos de Graduação e oito de Pós-Graduação. “Trouxemos cursos que antes não existiam em Feira, nem na universidade pública. Depois das nossas faculdades, os feirenses passaram a não mais precisar se deslocar até Salvador para contar com uma formação de qualidade. Feira de Santana está em destaque nacional”, afirma. Jodilton salienta ainda que os investimentos na Educação Superior na cidade já dão frutos. Na FAN, ele destaca que existe

Para a professora Anaci Paim, Educação à Distância facilita o acesso ao Ensino Superior o Núcleo de Prática Jurídica e o Balcão de Justiça e Cidadania, que fazem mais de 200 atendimentos gratuitos semanais. Além disso, o Grupo Nobre mantém a Clínica Multidisciplinar de Saúde, com mais de 300 atendimentos semanais em Fisioterapia, Psicologia, Nutrição e Educação Física. O Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão (Nepex) é o que Jodilton considera como uma das principais atividades de Extensão desenvolvidas pela FAN. Ele também destaca o Projeto Vida Nobre, que assiste a quase 150 idosos, de forma multidisciplinar. O projeto Unef Sustentável, vinculado às Engenharias, também traz muitos benefícios para a cidade e para o todo o planeta, na visão do gestor. As Faculdades contam ainda com dois referenciais de grande importância para desenvolver suas múltiplas atividades de Pesquisa e Extensão: o INCARDIO, que ultrapassou a marca de mil cirurgias cardíacas; as Clínicas Portal da Saúde; e a Associação Desportiva Bahia de Feira (ADBF), instalada, recentemente, na Arena Cajueiro. Outra instituição considerada como uma das maiores da Bahia e que também se instalou em Feira de Santana é a Universidade Salvador (Unifacs). Márcia Barros, reitora da entidade, ressaltou que a escolha da cidade se deu pelo fato de Feira ser o principal centro urbano, político, educacional, tecnológico, econômico, cultural e comercial do interior da Bahia e também a principal e mais influente cidade do interior da região Nordeste. Há 11 anos instalada aqui, a Unifacs também tem ações voltadas à comunidade. O Projeto de Integração Social (Integra) é realizado em parceria com a Prefeitura Municipal de Feira

de Santana, ajuda no desen-volvimento econômico-social da cidade e permanece, até os dias atuais, como meio de subsistência de pequenos comerciantes. Em 2018, o projeto já disponibilizou 320 vagas para treinamentos e capacitações. As ações alcançarem outras feiras e centros comerciais. Atualmente, o Integra possui cerca de 120 alunos inscritos como voluntários, oriundos de diversos cursos de Graduação. “Esse projeto compreende ações acadêmicas interdisciplinares de prestação de serviços a feirantes, seus familiares e clientes. Desde 2017, realiza ações de capacitação dos feirantes para manipulação, higiene e conservação de alimentos perecíveis. Promove ações de saúde com a comunidade de feirantes e clientes e desenvolve uma tecnologia social de gerenciamento de resíduos sólidos e reorganização logística para feiras livres”, informa a reitora. Outro projeto de Extensão é o Festival Unifacs de Sustentabilidade Cultura e Arte (Fusca), que tem por objetivo incentivar, promover e realizar atividades de arte e cultura, não apenas no âmbito da Universidade, mas também em espaços públicos, culturais e pontos de cultura de Salvador e de Feira de Santana.

UNIVERSIDADES EAD

A Educação à Distância (EAD) nasceu para atender a uma demanda muito grande de pessoas que já deixaram, há muito tempo, a escola formal, mas não ingressaram no Ensino Superior em função da dificuldade de conciliar estudo e trabalho. “A EAD possibilita que as pessoas organizem seu tempo de estudo com autonomia e cumpra as atividades requeridas sem necessariamente ter uma frequência diária no ambiente físico da Instituição de Educação Superior”, destaca a professora Anaci Bispo Paim, especialista nesse tipo de universidade. Ainda conforme a Educadora, esse é um modelo de universidade flexível, que permite ao aluno buscar desenvolver as ações que lhe são estabelecidas pelo curso da sua opção, de modo a organizar o seu tempo, além de ser bem acessível em termos de mensalidades, o que é uma vantagem importante em um país em crise, como é o caso do Brasil. “A EAD exige do aluno disciplina, porque ele tem uma agenda a cumprir. Normal-

Fundado em 10.04.1999 www.tribunafeirense.com.br / redacao@tribunafeirense.com.br Fundadores: Valdomiro Silva - Batista Cruz - Denivaldo Santos - Gildarte Ramos Diretor - César Oliveira Editora - Ísis Moraes Editoração eletrônica - Maria da Prosperidade dos Santos

mente, existe um dia presencial no polo onde a instituição está desenvolvendo suas atividades, mas ela tem um ambiente virtual de aprendizagem e diversas outras ações contínuas. Na maioria das vezes, até mesmo diárias”, ressalta. Além disso, as universidades EAD viabilizam o retorno à educação para uma parcela significativa da população que não tinha essa oportunidade, principalmente por conta do tempo dedicado a outras atividades. Também diminuem as fronteiras geográficas, chegando a pontos bem distantes do estado e do país, evitando os deslocamentos, às vezes, de longas distâncias. Segundo Anaci Paim, que já foi reitora da Uefs, essas instituições permitem ainda a qualificação dos quadros de profissionais e a inclusão digital, por utilizarem computadores e internet como ferramentas de estudo. “É a democratização do Ensino Superior. Atualmente, mais de 1 milhão e meio de alunos realizam esse tipo de curso”, observa. Anaci Paim disse que, inicialmente, houve resistência por parte do feirense em relação à Educação à Distância, por não haver o conhecimento de como ela funcionava, ou seja, havia um pré-conceito sobre o assunto. “Quando as pessoas não sabem como a metodologia é desenvolvida e como o trabalho é realizado, elas assumem uma posição de resistência, por acharem que se trata de um ensino massificado, em que o aluno não vai à instituição e tem apenas que cumprir atividades que ele enviar pelos Correios ou internet. E não é bem assim. As atividades são organizadas de acordo com o projeto pedagógico de cada curso. A obediência à Legislação e as diretrizes curriculares são as mesmas de um curso presencial. O que muda é somente a metodologia”, explica, salientando que é fundamental a participação do aluno e o acompanhamento regular do mesmo, através de uma equipe multidisciplinar, que possibilita o desenvolvimento de todas as ações necessárias. A docente salientou ainda que não vê desvantagens nesse tipo de ensino, apenas algumas dificuldades. Uma delas é o fato de o Ensino à Distância não poder oferecer todos os cursos. Há restrições para alguns cursos da área de saúde. Mas, de resto, ela enfatiza que o ensino EAD apenas beneficia a população.

OS TEXTOS ASSINADOS NESTE JORNAL SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES.

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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 30 de julho de 2018

César Oliveira

Bodega do Leegoza aldeias@uol.com.br

Escolas de corte e costura

É estarrecedora a atitude, nascida no governo Lula, ampliada no governo Dilma e encerrada, parcialmente, no governo Temer, de abertura de escolas médicas de forma indiscriminada, atendendo a empresários e amigos do poder, apoiado, aqui, pelo governador Rui Costa. No governo Temer, apesar de proibida a abertura de novas escolas – e já somos o segundo país do mundo em número de cursos –, manteve-se a possibilidade de ampliação de vagas. Apesar de haver critérios que deveriam ser respeitados, o processo

segue a desordem geral da nação, sem nenhuma exigência, sem critérios de avaliação, sem exigência de hospital-escola ou perfil de profissionais de ensino. Há verdadeiros cacetes-armados em atividade, com protestos de alunos e denúncias. A irresponsabilidade é criminosa, porque o médico mal formado é uma ameaça à sociedade e aos pacientes. E o Estado que valida o funcionamento desses cursos é um cúmplice moral desses assassinatos. Lamentavelmente, as entidades médicas não possuem a força, ou o interesse, de enfrentar o problema, preferindo manter o clima de con-

vescote de congressos e outros rapapés, ao invés de lutar contra esses cursos de paramedicina. Sabemos que há cidades no interior que não têm diversas especialidades, nem serviços, nem infraestrutura laboratorial para fazer funcionar um curso médico. Do mesmo modo, sabemos que não há médicos suficientes com treinamento para o ensino. Não basta ser médico para ser um bom professor. Treinamento, domínio pedagógico e densidade acadêmica são fundamentais para o exercício de atividades de formação profissional. Para termos professores qualificados, é preciso largo investimento em pós-graduação e em pesquisa. E tempo para

que esses médicos se tornem realmente professores, e não meros repetidores de conteúdos, porque a automatização, de modo geral, não resulta em aprendizado. Digo, sem medo de exagero, que é dramática a situação que estamos vivendo, com o nível de formação dos médicos que estão sendo entregues à sociedade. Toda vez que um governo toma uma atitude que prejudica a população, ele perde a legitimidade, porque seu papel é garantir e zelar pela qualidade dos profissionais que são entregues ao povo, e não ser a causa do agravo.

Educação A educação, no Brasil, tem um volume considerável de recursos investidos. Os valores, se não o colocam na liderança de recursos – estamos próximos dos países europeus –, não o deixam passar vergonha. Mas esse capital – ainda menor do que o necessário, é claro – não vem sendo investido em ações que resultem em melhoria educacional. Mais de 50% dos estudantes de oito anos não sabem ler nem fazer conta, o que é uma barbárie. O Brasil ocupa o 53º lugar em Educação, entre 65 países avaliados pelo PISA, um programa internacional de avaliação. 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não consegue ler (Todos pela Educação); 20% dos jovens que concluem o Ensino Fundamental, e que moram nas grandes cidades, não dominam a leitura e a escrita. Segundo o Instituto Paulo Montenegro, há cinco níveis de analfabetismo funcional, conforme está descrito no segundo relatório “Alfabetismo e o Mundo do Trabalho”: analfabeto (4%), rudimentar (23%), elementar (42%), intermediário (23%) e proficiente (8%). Os grupos analfabeto

e rudimentar são considerados analfabetos funcionais, uma taxa escandalosa, nos dias de hoje, sobretudo se se pensar que a ocorrência chega, inclusive, ao Ensino Superior. A Educação é um fator primordial para o desenvolvimento, redução da violência, melhoria salarial, emprego, renda e avanço da economia, impactando, positivamente, todos os índices que forem analisados. Nas últimas duas décadas, Feira viveu uma explosão universitária, para além da Uefs, que mudou o perfil da cidade, transformada em um polo educacional. No Ensino Básico, no entanto, se há melhoria da infraestrutura, não houve avanços no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mostrando que aprendizado vai muito além das condições físicas. O Estado, por sua vez, tem uma ação pífia na oferta e na qualificação do Ensino em nosso município. O Tribuna Feirense, nessa edição, aborda alguns aspectos da Educação em Feira, em meio a dificuldades de obtenção de dados e falta de projetos de avaliação.


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Uefs não realizará mais Vestibular para ingresso de estudantes Reprodução

Karoliny Dias A Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) anunciou que não realizará mais o Processo Seletivo (Prosel), mais conhecido como Vestibular, para o ingresso de estudantes na instituição. A decisão foi tomada, através de votação, pelos membros do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), no mês de fevereiro. A partir do próximo ano, portanto, todas as vagas serão disponibilizadas por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Governo Federal. Os estudantes terão direito ao ingresso em Instituições de Ensino Superior mediante realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). As vagas serão distribuídas conforme resultado da avaliação de desempenho. O processo de seleção do Sisu possui uma única etapa de inscrição. Ao efetuá-la, o candidato deve escolher, por ordem de preferência, até duas opções, dentre as vagas ofertadas pelas instituições que aderiram ao sistema. O Ministério da Educação (MEC) diz ainda que serão considerados selecionados somente os candidatos classificados dentro do número de vagas ofertadas em cada curso, por modalidade de concorrência. Caso a nota do candidato possibilite sua classificação em suas duas opções de vaga, ele será selecionado, exclusivamente, em sua primeira opção. Será realizada apenas uma chamada para matrícula. Os candidatos selecionados terão um prazo para efetuar a matrícula na instituição, confirmando, dessa forma, a ocupação da vaga. Os candidatos também devem definir se desejam concorrer a vagas de ampla concorrência ou a vagas reservadas. Estas obedecem à Lei nº 12.711/2012 (Lei de Cotas), alterada pela Lei nº 13.409, de 28 de dezembro de 2016, ou às demais Políticas Afirmativas praticadas pelas instituições. Essas e outras informações estão disponíveis no site do MEC.

ÚLTIMO VESTIBULAR

O último vestibular da Uefs foi realizado nos dias 10 e 11 de junho de 2018 e contou com a adesão de 14.475 inscritos. Eles disputaram 1.007 vagas, distribuídas em 28 cursos de Graduação. Destas, 56 foram destinadas a candidatos indígenas e quilombolas. A abstenção geral

De acordo com Amali Mussi, pró-reitora de Graduação da Uefs, “Sistema Unificado é a melhor política pública de acesso ao Ensino Superior”

foi de 18,40%. O resultado foi divulgado no dia 27 de junho. Questionado sobre quais impactos o fim do vestibular da Uefs trará para o Ensino Superior em Feira de Santana, o reitor da entidade, professor Evandro do Nascimento Silva, acredita que o principal será o preenchimento de todas as vagas. Ele explicou que, “com o vestibular, sempre há cursos que não preenchem todas as vagas”. E salientou que “deixar vagas ociosas não é algo bom, sobretudo quando se pensa na eficiência do investimento público”. Ainda segundo o reitor, com o Sisu, o que se espera é a democratização do acesso ao Ensino Superior, com os candidatos de outros municípios da Bahia podendo realizar as provas nos seus próprios municípios. “Há uma polêmica de que pode haver ocupação de vagas por candidatos de outros estados. Porém, com base em informações levantadas em outras instituições públicas da Bahia que já adotam o Sisu como critério de seleção, é certo que teremos uma predominância de alunos baianos. Na Ufba, na UFRB, na UFSB e na Uesc, não houve mudança significativa no perfil do alunado, com o Sisu, pois os índices apontam que 90% ou mais dos selecionados são residentes da Bahia”, explicou. Evandro do Nascimento acredita que o fim do Vestibular só trará benefícios para os estudantes. De acordo com o reitor, o fato de as escolas de Ensino Médio da cidade já terem currículos mais ajustados ao conteúdo do Enem pode ser considerado um ganho. Sendo assim, os alunos não terão de estudar para dois formatos de prova. “Temos informações de que alunos de escolas da zona urbana e de, pelo menos, dois distritos rurais de

Feira de Santana não faziam o vestibular da Uefs, porque priorizavam estudos voltados para o Enem. Agora, essas instituições manifestam que usarão o Enem para pleitear vagas na Uefs”, ressaltou.

AVANÇO INSTITUCIONAL

A professora Amali Mussi, pró-reitora de Graduação da entidade, ressaltou que essa nova forma de acesso aos cursos de Graduação da Uefs representa um avanço para a Instituição. Conforme a docente, a decisão é fruto de um processo de ampla discussão, que levou em conta, sobretudo, a democratização do acesso ao Ensino Supe-

rior, largamente propiciado pelo Sisu. A gestora entende também que o Sistema Unificado é a melhor política pública de acesso ao Ensino Superior e que os estudantes serão amplamente beneficiados com a troca. Segundo sua avaliação, além da democratização do acesso, os candidatos ganharão autonomia no acompanhamento de seus desempenhos e na decisão por curso e instituição. Também poderão realizar as provas do Enem nas suas regiões, em escolas próximas às suas residências, tendo direito também à isenção da taxa de inscrição, quando egressos de escolas públicas.

Jaqueline Lima

“Teremos uma predominância de alunos baianos”, garante Evandro do Nascimento Silva, reitor da Uefs

A pró-reitora de Graduação ainda salientou que dados publicados por instituições participantes do Sistema Unificado e pelo próprio MEC acabam comprovando que um dos aspectos de maior relevância social do Sisu é o incremento na democratização do acesso às vagas disponíveis em todo o território nacional, o que era um fator limitante para populações de menor poder aquisitivo, que se viam impedidas de custear despesas com inscrições, deslocamentos e hospedagens, para a realização de vestibulares específicos de cada universidade. “Em um único pro-

cesso, o Sistema Unificado possibilita aos candidatos concorrerem a vagas em diversas universidades, podendo ainda testar suas chances, pela comparação de suas notas com os pontos de corte específicos de cada curso, até definir por duas vagas com maior probabilidade de aprovação. Além disso, o MEC concede isenção da taxa de inscrição, automaticamente, aos participantes concluintes do Ensino Médio no ano de realização da prova, matriculados em qualquer modalidade de ensino em escolas da Rede Pública, declaradas ao Censo Escolar da Educação Básica”, justificou.

Presidente da Câmara de Vereadores é contra fim do Vestibular O presidente da Câmara Municipal de Feira de Santana, vereador José Carneiro (PSDB), declarou, publicamente, que é contra a decisão da Uefs. O edil considera ser necessário discutir o assunto com a sociedade civil e as entidades de classe. Ele sugere que a reitoria da Instituição abra um debate, a fim de saber a opinião de ambas em relação à mudança. José Carneiro, que disse ter iniciado sua carreira política em movimentos estudantis dos grêmios dos colégios Municipal, Estadual e Gastão Guimarães, tendo sido, inclusive, presidente da Casa do Estudante de Feira de Santana, por duas vezes, acredita que “os nordestinos serão os principais prejudicados, porque o nível do ensino da região Sudeste é bem superior ao do Nordeste”. O vereador chegou a defender, certa vez, que, no Vestibular da Uefs, constassem questões

de conhecimentos locais, a fim de que os estudantes baianos tivessem mais oportunidades de ingressar em uma instituição do nível da universidade feirense. “Vamos concorrer a uma vaga com todos os cidadãos brasileiros. Isso é injusto. A Uefs é estadual. É paga com o dinheiro dos baianos, e não com o dinheiro de todos os brasileiros. São as verbas do Estado que a mantém e, por isso, os baianos devem ter prioridade no acesso”, argumentou. O presidente da Casa da Cidadania chamou a decisão do Conselho da Uefs de “retrocesso”. E salientou que não consegue se convencer de que há motivos para se suspender o vestibular e adotar o Enem como critério de seleção. “Queremos, sim, é que os baianos tenham a oportunidade de chegar a uma universidade pública, e não dar a oportunidade àqueles que têm uma educação superior”, tentou ponderar.

Anderson Dias

Vereador José Carneiro acha que fim do Vestibular prejudicará estudantes baianos

O vereador ressaltou ainda que espera que a entidade abra uma ampla discussão com a comunidade e que o reitor “repense sua decisão antes de determinar a mudança”. “Pedi, inclusive, que a Comissão de Educação da Casa da Cidadania fizesse uma reunião com a reitoria da Uefs, para que trouxesse o assunto à discussão”, concluiu. José Carneiro não levou em consideração que a decisão sobre o fim do Prosel não foi tomada, de forma isolada, pela reitoria da Uefs, e sim pelo Conse-

lho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão, que, além de ser representativo das bases da Universidade e de ter autonomia e soberania para estabelecer normas e decidir sobre os assuntos referentes ao âmbito Acadêmico e à Administração, baseou-se em inúmeros estudos, seminários e discussões realizadas pelos órgãos internos competentes, inclusive com participação da comunidade externa, conforme farto material divulgado pela Assessoria de Comunicação da Instituição.


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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 30 de julho de 2018

André Pomponet

Economia em crônica

O falso dilema entre educação e segurança pública Feira de Santana está atravessando a década mais violenta de sua História. Já faz tempo que o número de assassinatos superou o do decênio passado, que tinha sido o mais sangrento até então. Não é à toa que o município se sobressai nesses tristes rankings da violência, divulgados por instituições governamentais e por organismos internacionais. O Brasil enfrenta epidemia similar – ano passado aconteceram mais de 60 mil assassinatos, um recorde mundial – e, o que é mais desolador, o debate sobre o tema é pouco alentador. Há, inclusive, sinais inquietantes de que a Segurança Pública se tornou objeto de ações espetaculosas, demagó-

gicas. É o caso da intervenção federal no Rio de Janeiro que, quatro meses depois, apresenta resultados pífios, conforme era facilmente previsível. Movido pela ilusão de uma candidatura presidencial, Michel Temer (MDB-SP), o mandatário de Tietê, adotou a medida, pensando nos eventuais bônus eleitorais. Há poucos dias, às pressas, o Congresso Nacional aprovou o projeto que institui o Sistema Único de Segurança Pública, movido pelo apelo do tema e pelas eleições que se aproximam. No papel, parece algo avançado: a União assume a incumbência de coordenar as ações na área, em nível nacional, firmando parcerias com Estados e Municípios. Na prática – dado o clima político e o ritmo moroso das ações – ninguém deve comemorar

antecipadamente. Em meio a essas ações voluntaristas, há a desconfortável discussão dos pré-candidatos à Presidência da República. Alguns, ambíguos, tangenciam o tema. Mas há aqueles que se perfilam na linha de frente da questão – e defendem rearmamento, endurecimento da legislação penal, carta branca para as polícias saírem matando – e fazem sucesso defendendo a violência para reduzir a violência. E A EDUCAÇÃO? Noutra frente, o mandatário de Tietê vem reduzindo recursos da Educação para, supostamente, reforçar o orçamento da segurança. Até um Ministério da Segurança criaram – mais um penduricalho que beneficiará aliados políticos – para, demagogicamente,

atender a pretensos apelos populares. Tudo indica que é mais uma iniciativa perdulária e inócua, similar à intervenção federal no Rio de Janeiro. Conter o genocídio em curso no Brasil exige mais do que comprar viaturas, coletes, munição, armamento, pagar premiação a policial e fazer concurso todo ano. Também exige mais que a farta propaganda que vende uma realidade que, na prática, ninguém enxerga. Afinal, a vida verdadeira se mostra muito mais dura que os adocicados clichês dos marqueteiros. Não se ouvem comentários dos governantes sobre investir em educação para os mais pobres – principais vítimas dos assassinatos, conforme qualquer levantamento atesta – e em iniciativas de inclusão social que beneficiem, so-

bretudo, os jovens que vivem por aí sem perspectiva. Pelo contrário: o mantra do momento são os cortes, os contingenciamentos, as supressões.

CAMINHO ÁRDUO A partir do momento em que veio o garrote da crise, os pobres foram os primeiros penalizados. Os cortes na educação, na saúde, na assistência social, em ações de inclusão, foram vorazes, como sempre. Só que, agora, surge a necessidade de ampliar recursos da segurança pública – farejando-se a direção do barômetro eleitoral – e remaneja-se, obviamente, o dinheiro que costuma contribuir para elevar um pouco a qualidade de vida do pobre. Isso significa que se estabeleceu um dilema perigoso: investir na segurança

pública ou em áreas sociais, como a educação? Pelo que se percebe, a opção – ideológica, inclusive – é clara: os pobres que se virem, porque a prioridade é atender os apelos da classe média. Abandona-se, assim, de vez, a busca por soluções integradas, já que violência não é, exclusivamente, um problema de segurança pública. O que esperar do futuro próximo? Provavelmente o endurecimento que alguns defendem. Virão mais prisões, mais mortes, mais violência, mais exclusão e mais cisão na já fraturada sociedade brasileira. Mas isso ainda depende das urnas, do processo eleitoral em outubro. A esperança é tênue, mas, quem sabe, esse cenário se desfaça até lá e o País comece a reencontrar seu rumo...


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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 30 de julho de 2018

Feira de Santana: de entroncamento rodoviário a polo educacional Vanessa Testa

Vanessa Testa Nascida da movimentação dos tropeiros pela Estrada Real, que ligava o sertão às demais zonas do país, e da formação das feiras livre e de gado, Feira de Santana foi, por séculos, uma cidade essencialmente comercial. Mas esse perfil econômico, alavancado ainda mais por ser o Município um importante entroncamento rodoviário, começou a mudar a partir da implantação, em 1968, da Faculdade de Educação, parte da política de interiorização da Educação Superior, fomentada pelos governos federal e estadual. Posteriormente, em 1970, a cidade foi contemplada com a criação da Fundação Universidade de Feira de Santana (FUFS), que originou, em 1976, a Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Desde então, a Princesa do Sertão vem, cada dia mais, se consolidando como polo educacional. Educadora há mais de 40 anos, a professora Anaci Bispo Paim analisa os avanços do perfil educacional de Feira de Santana. De acordo com a pedagoga, que já ensinou desde o ensino fundamental até o superior, a educação feirense mudou bastante nos últimos anos. “Há algumas décadas, o que dava destaque a Feira era o fato de ser um entroncamento rodoviário, um ponto de passagem obrigatória de pessoas que vinham das regiões Sul, Sudeste e Norte do país. Depois de algum tempo, a cidade começou a vivenciar outro momento de evolução econômica, política e social. E o advento da Uefs contribuiu muito para isso. Hoje, Feira é um grande polo educacional da Bahia”, destaca a ex-reitora da instituição. Para Anaci Paim, o crescimento do complexo educacional da cida-

“É preciso ter objetivos mais perenes, independente de partidos políticos. Os países que evoluíram na Educação têm projetos de dez, 20, 30 anos em andamento”, diz Anaci Paim, ex-reitora da Uefs de tem sua importância, visto que é suprido por professores que aqui se formam e aqui ensinam. “É muito bom, na visão sistêmica de Educação, conseguir desenvolver um projeto mais integrado com comunidades de todas as esferas, etapas e níveis de educação, que vá desde a Educação Infantil, passando pelo Ensino Fundamental, Médio e Educação Profissional até a Educação Superior, nas diversas modalidades, sejam presenciais ou à distância, e chegando até o Mestrado e o Doutorado”, analisa. O fato de Feira contar com cursos de Pós-Graduação, presenciais e à distância, inúmeras Especializações, Mestrados e Doutorados é também um ponto positivo, na opinião da professora. “Há alguns anos, se você quisesse fazer um Mestrado ou Doutorado, tinha que se deslocar da Bahia. Atualmente, isso não é mais preciso”, relembra Anaci. EDUCAÇÃO BÁSICA Apesar de a Educação Superior ter crescido e se qualificado de forma abrangente na cidade, os indicadores da Educação B ásica ainda não são satisfatórios. O último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

(IDEB), divulgado em 2015, apresentou nota 4, número inferior à meta

água a pleno funcionamento; materiais escolares suficientes; além de transporte de qualidade, boa integração com a família e valorização dos educadores. Ter uma boa formação nas séries iniciais é crucial para o desenvolvimento de um estudante. Uma boa base é a garantia de que o aluno estará preparado para avançar rumo aos diferentes níveis da Educação. Para Anaci Paim, Feira ainda carece de melhorias nessa fase educacional. “Os indicadores de Feira de Santana não são os mais satisfatórios. Ainda temos escolas na faixa de 2,0 pontos numa escala de 0 a 10 do IDEB, tanto no Ensino Fundamental, quanto no Médio. E isso não é bom. É preciso investir mais nas séries iniciais. É preciso investir na Educação Infantil. Não vamos melhorar o nível do aluno que está ingressando na Educação Superior, se não tivermos um investimento vultoso na sua base educacional”, observa.

prevista, que era de 4,3. Desde 2011, a meta não é alcançada. Entretanto, comparados aos últimos crescimentos, que eram de 0,2, o avanço de 0,6 na nota de 2015 foi algo, à época, comemorado pela secretária Municipal de Educação, Jayana Ribeiro. Em matéria anteriormente publicada no jornal Tribuna Feirense, a secretária disse que o maior desafio de sua pasta era melhorar o IDEB do Município. Para alcançar esse objetivo, ela disse que é preciso superar outro desafio: fazer com que os professores melhorem as metodologias utilizadas em sala de aula, a fim de que os alunos sejam alfabetizados corretamente e de que tenham prazer em estudar. Melhorar os indicadores educacionais de uma cidade de mais de 600 mil habitantes não é tarefa fácil. É uma missão de alta complexidade, que depende de um conjunto de ações, como a existência de escolas equipadas EDUCAÇÃO INTEGRAL e adequadas às necessidaAnaci Paim chama des da comunidade; itens a atenção para mais um como merenda escolar, fator: o número insuinfraestrutura, energia e ficiente de Escolas em

Tempo Integral, não só em Feira de Santana, mas também em todo o país. De acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE 2001/2011), deve ser implantado, no Brasil, o aumento progressivo da jornada escolar. O documento estipula a duração de, pelo menos, sete horas diárias para o atendimento de tempo integral nas escolas. Para tanto, é indispensável que existam estruturas adequadas à proposta, além de corpo docente suficiente para cumprir essa demanda. O documento de 2001 estipula ainda que a prioridade do Tempo Integral deve ser das crianças pertencentes às camadas sociais mais necessitadas. Mas não é o que se vê na realidade.

Segundo dados da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, 101 escolas estaduais apresentam a modalidade, em 49 municípios baianos, totalizando 30 mil vagas. Em Feira, no entanto, apenas oito escolas trabalham em regime de Tempo Integral, um número muito pequeno diante da quantidade de estudantes e, principalmente, dos números cor-

respondentes à parcela mais carente da cidade. As Escolas em Tempo Integral trazem diversos benefícios para os alunos. Além de contribuir com uma melhora no aprendizado geral, a proposta se converte em mais tempo e espaço para estudar, participar de oficinas, desenvolver ações pedagógicas nos mais variados contextos, além de aumentar significativamente o contato dos alunos com a arte, o esporte, a ciência e a cultura. A falta de uma unidade na gestão educacional também é um ponto destacado pela professora Anaci Paim. Ela chama a atenção para problemas político-sociais enfrentados no país: “No Brasil, você começa um projeto bom. Quando ele está em desenvolvimento, muda-se o partido, muda-se a política partidária. Logo, aquele projeto já não serve mais, já não é continuado. É preciso ter objetivos mais perenes, independente de partidos políticos. Os países que evoluíram na Educação têm projetos de dez, 20, 30 anos em andamento. O que é bom continua. Não importa a biografia do autor”, conclui.


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Feira de Santana-Bahia, segunda-feira, 30 de julho de 2018


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