TRIBUNA DO VALE EDIÇÃO Nº 2048

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Especial de TRIBUNA DO VALE

Sabado e domingo, 24 e 25 de dezembro de 2011

Natal

www.tribunadovale.com.br

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Após tragédia, faxineira comemora fim de ano com sonho realizado DE CASA NOVA Com filho adolescente preso por assassinato, Jucimara Ferreira, 31, não vê a hora de deixar bairro das pedras

Celso Felizardo

Feliz Natal e um próspero Ano Novo. A frase que pode parecer clichê para muita gente define bem o momento e as expectativas da faxineira Jucimara Ferreira, 31 anos, moradora de Santo Antônio da Platina. Acostumada a passar dificuldades, inclusive fome, ela sofreu o maior golpe da vida no final de agosto deste ano, quando o filho de 16 anos, usuário de crack, matou a facadas a adolescente Graziela Daniela Stanislaw, 14 anos. Após crises

de depressão, ela chegou até mesmo a perder a fé em Deus, mas conseguiu superar o inferno astral e dar a volta por cima. Há poucos dias, recebeu o presente dos sonhos: a casa própria. Jucimara foi contemplada pela Assistência Social e vai ganhar uma das 60 moradias que foram construídas no bairro Jardim Bela Manhã pelo programa habitacional do governo federal Minha Casa Minha Vida. Ela coloca todas as esperanças na casa nova para mudar de vida, definitivamente. “Você não sabe o quanto eu esperei por isso”, disse entre lágrimas. A reportagem da Tribuna do Vale acompanhou Jucimara em sua primeira visita ao novo lar. Os olhos arregalados procuravam atentos o ‘512’ entre os números

escritos a lápis nas paredes das casinhas, todas iguais, com exceção da cor das listras verticais nas fachadas. A dela era azul. A construção simples, com dois quartos e sala com cozinha conjugada, parecia mais um castelo para ela. Ainda sem as chaves, ela se contentou em espiar pela janela. “Olha, tem até pia já!”, comemorou. O dinheiro do décimo terceiro salário já tem destino certo: tijolos para levantar o muro. O azulejo, mais caro, ela vai comprar em prestações. “Tem que ter azulejos, sempre sonhei em uma casa bonita, cheia de azulejos”, contou. Depois de trabalhar quatro árduos anos no corte de cana, Jucimara diz ter encontrado o ‘emprego dos sonhos’ na Antônio de Picolli

Jucimara quer deixar bairro para proteger Caroline e Sabrina

Antônio de Picolli

Jucimara Ferreira, 31, quer esquecer ano trágico e retomar a vida na casa nova no Jd. Bela Manhã

limpeza do centro cirúrgico do Hospital Nossa Senhora da Saúde, onde está há quase um ano. “Quando conto, muita gente diz que não suportaria ver as ‘coisas feias’ que vejo lá, mas adoro meu serviço”, relata. Ela sobrevive com renda de pouco mais de um salário mínimo, pouco para pagar o aluguel e as despesas da casa no Jardim Santa Cruz, onde mora com as duas filhas, Caroline Ferreira Soares, 10, e Sabrina Ferreira Soares, 9. O marido, Alfredo Soares Neto, 32, está desempregado e passa mais tempo em Curitiba, fazendo bicos, do que em casa. O casal mora há nove anos na rua José Bonifácio, em um

casebre de madeira com lonas nos telhados para proteger da chuva. Do portão dá para ver a chácara onde o filho dela matou a adolescente. “Só de olhar para lá (chácara) já me dá um jeito ruim, quero ir embora pra nunca mais voltar”. Um dos motivos para tanta ansiedade em se mudar é o alto índice de criminalidade no bairro. O Jardim Santa Cruz, junto com os vizinhos Conjunto Álvaro de Abreu e Vila Ribeiro concentram quase 70% dos 12 homicídios registrados na cidade durante o ano. O tráfico de drogas está disseminado. “Aqui não é lugar de criar filho não, infelizmente um se perdeu nas drogas, mas ainda tenho as duas

pequenas para cuidar”, disse. Natal Com a fé renovada, Jucimara disse que esta vai ser a primeira vez em sua vida –consequentemente das filhas – que o Natal vai ter ceia. “Vamos fazer uma ‘interinha’ e comemorar todos na casa do meu sogro”. Após dizer ‘todos’, ela baixou a cabeça e lamentou: “quase todos”. A esperança de Jucimara é que o filho deixe o Centro de SócioEducação (Cense) de Santo Antônio da Platina e procure tratamento para o vício do crack e que possa ser o mesmo garoto feliz e dócil de antes de conhecer a droga. “Eu sempre vou estar esperando por ele, meu coração de mãe sabe que ele vai vencer isso”, acredita.

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