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A-8 Cidades

TRIBUNA DO VALE Sexta-feira, 13 de julho de 2018

FÉ E SOLIDARIEDADE

“Foiummilagre”,afirmamissionáriade ArapotiqueajudounoresgatenaTailândia Tatiane de Araújo falou pelo telefone com a reportagem da Tribuna do Vale e contou um pouco de sua história e do resgate dos meninos no complexo de cavernas Tham Luangs

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AP Photo/Sakchai

Câmara na caverna Tham Luang onde estavam os meninos Gladys Santoro

Tatiane de Araújo, 36 anos, é uma missionária paranaense que se mudou para a Tailândia com a missão de evangelizar um povo essencialmente budista. Natural de Arapoti, Norte Pioneiro do Paraná, a moça conversou por telefone na noite de quarta-feira, 11, com a reportagem do jornal Tribuna do Vale. Ela falou um pouco de sua vida, de sua missão e também do resgate dos 12 meninos entre os 11 e 16 anos, e do treinador deles de

futebol, de 25 anos, que entraram no complexo de cavernas de Tham Luang, situado na província de Chiang Rai, no norte tailandês, e foram surpreendidos por uma tempestade de inundou o local. Eles ficaram 17 dias presos sem comida e correndo o risco de ficar sem ar também. O resgate mobilizou mergulhadores e especialistas em cavernas do mundo todo. “Eles terem saído com vida daquele lugar foi realmente um milagre”, constatou a missionária, que saiu de sua cidade natal com a missão

Tatiane Araújo é natural de Arapoti e mora na Tailândia

de levar a palavra e Deus nos locais onde ela não é reconhecida. “Fui para a Tailândia há seis anos. Demorei nove meses para aprender a língua. Atuo em uma comunidade evangélica chamada Jet Semont e faço parte do Ministério Casa da Graça. Nossa finalidade é prevenir a prostituição e o tráfico humano”, disse. Tati, como é mais conhecida, é solteira e não tem filhos. “Estou tão envolvida no meu trabalho, que não penso, por enquanto, em casamento e filhos. A Tailândia é minha

segunda casa. Quando cheguei aqui, Deus me disse que esse era o meu lugar. Não penso em voltar ao Brasil definitivamente. Uma vez por ano, visito meus familiares, mas minha vida é na Tailândia. Amo esse povo e a minha missão”, disse. Entre seus afazeres, Tati dá aulas de inglês para as crianças da cidade onde mora, na região da caverna onde ocorreu toda a tragédia, que emocionou o mundo. “Não fiz nada demais. Apenas traduzi o que falavam do tailandês para o inglês e vice e

versa. Sei que minhas orações, assim como a de todos os que oraram por aquelas pessoas, foram mais importantes”, avaliou com humildade. O resgate Tatiane de Araújo estava acompanhando pela televisão tailandesa, o problema das crianças presas na caverna, quando ouviu um apelo do governo em busca de tradutores. “Me inscrevi e fui aceita por saber falar tailandês e inglês. Fui para a caverna no dia 24, quatro dias após eles terem ficado presos no complexo.

No dia seguinte, foram localizados, mas daí até a retirada de todos, se passou um bom tempo”, contou. Embora traduzindo tudo o que era necessário para técnicos e para as emissoras de televisão, Tati não pode se aproximar demais da caverna. “Fiquei onde os familiares e a imprensa estavam. Conheci a família de um dos garotos, que também era cristã e pudemos orar juntos. Pela nossa fé, em nenhum momento, nem nos mais desanimadores, perdemos as esperanças”, disse. No 17º dia, Tati deu a grande noticia à imprensa. O último grupo de garotos e o treinador haviam deixado a caverna. Todos estavam debilitados, mas vivos. Foram levados ao hospital, onde se juntaram aos demais. “Agora, eles vão ficar de quarentena, mas em 10 dias poderão ir para suas casas. Com as chuvas torrenciais e a caverna toda alagada, eles saírem com vida foi um milagre”, repetiu. Um pouco da história Os 12 meninos tailandeses e o treinador de futebol foram visitar a caverna antes de ela ser fechada pelo governo por causa da temporada de chuvas. O grupo já havia ido em outras ocasiões e desta vez se afastou cerca de quatro quilômetros da entrada. Entretanto, naquele dia, um temporal inesperado atingiu o local e encheu todo o sistema de cavernas com água barrenta. Os meninos procuraram um local mais alto, mas se a chuva continuasse forte, as águas alagariam tudo. Centenas de mergulhadores de todo o mundo deixaram seus afazeres de lado para tentar salvar os garotos. Uma semana após o desaparecimento deles, dois mergulhadores ingleses os encontraram por acaso. Segundo relatos de noticiários de todo o mundo, eles encontraram um bolsão de ar e subiram para respirar quando avistaram o grupo. Somente um dos meninos falava inglês, por fazer parte de uma missão evangélica na região, e a comunicação foi estabelecida. Um médico mergulhador australiano foi até o local e ficou com eles durante todos os dias até o resgate. Com águas turvas e barrentas, os socorristas encontraram várias dificuldades para retirar os garotos. Havia locais onde a passagem era de apenas 60 centímetros, o que significa que o mergulhador precisava tirar o cilindro de oxigênio para passar. Segundo a missionária Tatiane Araújo, alguns meninos foram retirados em capsulas levadas por americanos para que eles pudessem passar pelas fendas mesmo que entrassem em pânico.


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