Linguagem projetual de obras de projeto - Estudo de caso Benedito Abbud

LINGUAGEM PROJETUAL DE OBRAS PROJETO: ESTUDO DE CASO BENEDITO ABBUD Cardoso, Letícia Bernardes Cardoso; Acadêmica; Universidade Belas Artes, leticia.bernardescardoso@hotmail.com1 Ortiz, Sergio Ricardo Lessa; Mestre; Universidade Belas Artes, sergio.ortiz@belasartes.br2 Resumo: Sustentabilidade, acesso ao verde e apreciação das plantas e tudo o que a natureza tem para nos oferecer. Trata-se de um conceito desenvolvido pelo arquiteto Benedito Abbud, renomado paisagista brasileiro que já realizou mais de seis mil projetos em seus quase 50 anos de carreira.

Palavras chave: Paisagismo, Benedito Abbud, Praça Jefferson Péres Abstract: Sustainability, access to greenery and appreciation of plants and all that nature has to offer. It is a concept developed by the architect Benedito Abbud, a renowned Brazilian landscaper who has already carried out more than six thousand projects in his almost 50-year career.

Keywords: Landscaping, Benedito Abbud, Jefferson Péres Square

Introdução O trabalho de um paisagista é cada vez mais a base da vida na cidade grande. É nelas que nosso cotidiano está constantemente sujeito a todo tipo de poluição e violência. Sem outras opções, as populações dos centros urbanos buscam uma maior qualidade de vida na natureza. É na demonstração de que espaços construídos e naturais podem conciliar e melhorar harmoniosamente a qualidade de vida e o meio ambiente, surge uma das maiores contribuições: o paisagismo.

A função social do paisagismo é alcançada através da implantação de espaços destinados a promover a convivência entre a população de uma área, como praças, parques e espaços públicos. É uma atividade que envolve arte, tecnologia, bom senso, gosto e criatividade. Trata-se de usar plantas e outros elementos decorativos para criar espaços funcionais, agradáveis e bonitos (ALVES, et al., 2016, p.6).

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Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Belas Artes.

Professor mestre do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Belas Artes.

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No Brasil, o mercado de paisagismo tem crescido muito recentemente, indo além dos jardins residenciais para espaços coletivos e públicos, como ruas, praças, parques, bairros e cidades. Como resultado, há cada vez mais oportunidades de trabalho para arquitetos paisagistas, mas quem entra nesse mercado precisa ser flexível o suficiente para lidar com os desafios envolvidos no projeto.

Benedito Abbud é uma das principais figuras da área, com mais de 45 anos de experiência e liderando um dos mais conceituados escritórios de paisagismo do país, lidera uma equipe que desenvolveu mais de 6.000 projetos no Brasil e exterior, como Uruguai, Angola e Argentina. Tendo projetos em todo o país, o arquiteto paisagista é conhecido por sua versatilidade, atuando em escalas que vão do residencial, apartamentos e comunidades em cidades inteiras.

Com uma equipe altamente qualificada, seu escritório cria projetos específicos e diferenciados para cada classe social. Uma de suas principais premissas é a crença de que o projeto paisagístico cabe em qualquer 'bolso', agregando valor a um negócio e ao mesmo tempo ajudando todas as pessoas a viver uma vida digna. A missão de Benedito Abbud é levar qualidade de vida a todos, sempre respeitando a natureza e o meio ambiente.

Paisagismo

Ao contrário do que muitos acreditam, o paisagismo não se baseia apenas na criação de jardins. O paisagismo inclui o desenvolvimento de projetos verdes que se alinham com um local específico, seja uma casa, uma empresa, uma praça, etc. O paisagismo visa garantir um ambiente agradável, verde, funcional e confortável sem perder sua sofisticação. O paisagismo é uma expressão artística que proporciona uma rica experiência sensorial. Não é por acaso que o termo "paisagem" é usado para se referir ao estilo da pintura holandesa do século XVI (SARAIVA, 2015).

O paisagismo, além de desenhos em papel vegetal, algumas árvores e bancos de jardim, ou belas fotos em cartões postais, exige dos profissionais conhecimentos sociais, biológicos e estruturais (MACEDO; CENIQEL, 1992).

Além da dimensão temporal, o objetivo do paisagismo é tratar a paisagem com todos os seus componentes, tanto os naturais, quanto as arquitetônicas.

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O paisagismo é feito de forma diferente hoje do que era no passado.

Conforme observado por Waterman (2011), a arquitetura paisagística, como é praticada atualmente, é muito diferente de suas raízes históricas no paisagismo e permanece em uma trajetória evolutiva. É uma arte que desperta todos os nossos sentidos, ou seja, os jardins têm a maior diversidade de cores, formas, sons, aromas e outros sentidos despertados em quem os aprecia (FILHO et al., 2002).

Entretanto, o paisagismo vai muito além das plantas e organizar paisagens de qualquer escala com elementos funcionais e estéticos. É a arte de projetar e compor espaços abertos com vegetação e equipamentos diversos, como piscinas, caminhos, pérgulas, fontes e cercas.

Portanto, há uma grande parcela da atividade de paisagismo, pois envolve mais do que apenas os profissionais da construção civil, como comumente se pensa. O paisagismo é também uma área de atuação em agronomia, geografia urbana e rural, engenharia florestal e design de interiores. Dessa forma, podemos perceber que se trata de uma disciplina multidisciplinar, dependendo da atuação de profissionais em diferentes áreas, dependendo das necessidades.

As obras de Benedito Abbud

Diante do mundo moderno, o ambiente urbano está cada vez mais infiltrado por grandes edificações, o que dificulta o acesso aos espaços verdes.

Nas últimas décadas, o ritmo acelerado da urbanização e o aumento do uso da tecnologia tiveram um impacto negativo na saúde e no bem-estar físico e mental das pessoas devido ao seu isolamento do ambiente natural (REIS; REIS; NASCIMENTO, 2020).

Nesse sentido, os projetos de Benedito Abbud visam proporcionar lazer, educação social, esportiva, cultura e educação ambiental. Os projetos de Benedito Abbud também garantem uma perfeita harmonia entre a paisagem e a linguagem arquitetônica da casa e do projeto imobiliário, integrando ao máximo o ambiente interno e externo, além de propor soluções paisagísticas em harmonia com o estilo arquitetônico adotado, que é o sucesso do conjunto.

Benedito Abbud experimentou uma mudança na percepção da sociedade sobre a importância da arquitetura paisagística. No início de sua carreira, a 3

indústria do paisagismo ainda estava se desenvolvendo no Brasil, de modo que os escritórios de arquitetura muitas vezes não viam essas questões como prioritárias.

Há uma essência no trabalho de Benedito, que rompe com a ideia de os espaços verdes serem puramente estéticos, pois são sempre pautados por uma preocupação redobrada com a sustentabilidade nas esferas ambiental, social e pessoal. Ao desenvolver uma área, Abbud também busca aprimorar os cinco sentidos. Assim, mistura os aromas das plantas com frutas, chás e especiarias, remetendo aos sentidos do olfato e paladar.

Para o homem em particular, são o som, a luz, o cheiro, o paladar e o tato que lhe dão informações sobre o mundo. E a quantidade de informação recebida pelos olhos é a maior. Portanto, as respostas das pessoas a uma determinada paisagem dependem, em primeiro lugar, dos estímulos visuais que lhes são apresentados. Essa resposta dependerá da visão mais ou menos perfeita da paisagem (FILHO et al., 2002).

Desta forma, pode-se observar que os projetos de Benedito Abbud visam promover diferentes sensações, a textura das plantas evoca o tato, enquanto o barulho, o vento e a água das próprias plantas estimulam a audição, ele utiliza muitos espelhos d'água, fontes e cascatas para disfarçar o barulho da rua, além de ser calmante é claro.

Desta forma, podemos dizer que o arquiteto paisagista possui matériasprimas que vão além das pedras, flores, árvores e outros elementos constituintes. Os paisagistas trabalham com sentimentos e buscam conexões com os outros. Segundo Filho et al. (2002), os arquitetos paisagistas utilizam alguns elementos de comunicação para lidar com as emoções, ou seja, estabelecer um processo de comunicação.

Como toda arte, o paisagismo tem uma linguagem própria, capaz de expressar os momentos de nossas vidas, sejam eles históricos, sociais, econômicos, políticos ou religiosos. A história está escrita na paisagem, cada civilização, cada império do passado deixou sua marca de alguma forma importante. Por milhares de anos, as pessoas sentiram a necessidade de construir e criar (WATERMAN, 2010).

Benedito Abbud é conhecido por seus projetos, principalmente de paisagismo urbano, que é uma das ferramentas que podem ser utilizadas para 4

melhorar a qualidade de vida e o conforto do meio ambiente. Como Nucci (2008) apontou, diferentemente do asfalto e do concreto, a vegetação não é uma necessidade óbvia nas cenas urbanas e, portanto, precisa ser planejada e 'trazida' para nossas cidades.

Uma das obras mais bonitas de Benedito Abbud é o Parque Jefferson Perez, no coração da capital do Amazonas, Manaus. Implantado em uma área de 53.421m², foi construído em uma área anteriormente invadida por palafitas, nos igarapés de Manaus e Bittencourt, dois tradicionais pontos urbanos da cidade. É composto por um pórtico de entrada, uma estrutura de ferro com altura superior a 10 m, material característico da construção da época, funcionando de acordo com a reinterpretação da época.

Figura 1: Pórtico de entrada do parque Jefferson Péres

Fonte: https://blog.rbarcos.com.br/, 2020

O desenho do piso repete o modelo utilizado pela primeira vez no Teatro Amazonas (depois levado para a calçada de Copacabana, no Rio de Janeiro), representando o encontro das águas dos rios Negro e Solimões.

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Figura 2: Piso representando a confluência das águas dos rios Negro e Solimões.

Fonte: https://blog.rbarcos.com.br/, 2020

O parque possui espelhos d'água contendo caixas de açaí remetendo à natureza local dos rios e à economia da Amazônia. Os espelhos d'água são amplamente utilizados nos projetos de Benedito Abbud por serem um elemento arquitetônico versátil. Plantas nativas como guaraná, seringueiras e entre outras também são utilizadas; além de túneis perfumados de jasmim que marcam a sequência de caminhos e mostram a diversidade da Amazônia.

Figura 3: Espelho D’água do Parque Jefferson Péres

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Fonte: https://blog.rbarcos.com.br/, 2020

Para valorizar os costumes locais, no espaço é continuamente colocado figuras vestidas, cabriolés puxados por cavalos e silhuetas de seringueiras (feitas de aço corten), além de gazebos da época vendendo tacacás e outros produtos alimentícios típicos da região, que representam a cozinha local.

Figura 4: Silhueta de uma carruagem.

Fonte: https://blog.rbarcos.com.br/, 2020

O parque também tem opções de lazer para crianças, com playgrounds temáticos da floresta e jogos de aventura para adolescentes. Completam a atração duas praças que estimulam o convívio social: a Praça do Bonde, que remete a essa característica do trânsito do período da Belle Époque em Manaus,

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e a Praça do Avião, que reproduz àquela criada e construída nos antigos jardins do Palácio Rio Negros em 1926.

Figura 5: Espaço infantil

Fonte: https://blog.rbarcos.com.br/, 2020

Por fim, utilizando todos esses elementos, Benedito Abbud buscou desenvolver um projeto baseado em quatro pilares: sustentabilidade ambiental com plantas nativas, sustentabilidade pessoal que resgata a autoestima e o orgulho pela história local, sustentabilidade social em educar os manauaras e, sobretudo, a sustentabilidade cultural, levando a essas populações um pouco da cultura da área em que vivem.

Considerações Finais Na obra de Benedito Abbud, há um belo equilíbrio entre a plenitude e o vazio de sua obra. As alturas e os diferentes agrupamentos de vegetação foram estudados para valorizar a paisagem existente e potencializar áreas menos interessantes. Mesmo com todo o seu talento, Benedito não se vê como um autodidata, mas como um profissional dedicado, aberto a novos conhecimentos.

Ele acredita que o paisagismo é a profissão do futuro e que construir cidades sustentáveis e mais amigáveis é responsabilidade de todos. Por fim, sua flexibilidade é impressionante, permeia todas as escalas e usos, desde grandes espaços verdes em grandes cidades, como praças, shopping centers, até empreendimento corporativos e residenciais.

Referências ALVES, Ana Carolina et al. Conforto térmico a partir do paisagismo. Revista Científica Semana Acadêmica, v. 1, n. 1, p. 1-19, 2016.

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FILHO, José Augusto de Lira et al. Paisagismo: elementos de composição e estética. Aprenda Fácil, 2002.

MACEDO, Silvio Soares; CENIQUEL, Mario. O paisagismo no Brasil-introduzindo a questão. Paisagem e Ambiente, n. 4, p. 131-138, 1992.

NUCCI, João Carlos. Qualidade ambiental e adensamento urbano: um estudo de ecologia e planejamento da paisagem aplicado ao distrito de Santa Cecília (MSP). Edição do autor, 2008.

RBARCOS. Visitando Parques e Praças de Manaus. Disponível em: https://blog.rbarcos.com.br/. Acesso em: 24 mar 2022.

REIS, Simone Novaes; REIS, Michele Valquíria dos; NASCIMENTO, Ângela Maria Pereira do. Pandemic, social isolation and the importance of people-plant interaction. Ornamental horticulture, v. 26, p. 399-412, 2020.

SARAIVA, Raysa Valéria Carvalho. Paisagismo brasileiro revitalizado. vol. 56. dez. 2015.

WATERMAN, Tim. Fundamentos de paisagismo. Bookman Editora, 2011.

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