Estudo de Caso - Intervenções Urbanas Contemporâneas

CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO ARQUITETURA E URBANISMO

INTERVENÇÕES URBANAS CONTEMPORÂNEAS

LETICIA BERNARDES CARDOSO SOPHIA CHAVES LIN AM6AU

INTERVENÇÕES URBANAS CONTEMPORÂNEAS Trabalho de pesquisa e análise apresentado ao Centro Universitário Belas Artes de São Paulo no curso de Arquitetura e Urbanismo na disciplina de Preservação do Patrimônio Histórico da Arquitetura, do Urbanismo e do Paisagismo a respeito de intervenções urbanas contemporâneas em edifícios e áreas de importância histórica e cultural nacionais e internacionais.

PROFESSOR DAVID VITAL BRASIL VENTURA

SÃO PAULO 2022

SÃO PAULO 2022

2

3

4 SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO..................................................................................04 MUSEU DE ARTE DO RIO - MAR....................................................05 MUSEU DO IPIRANGA....................................................................17 MUSEU DO LOUVRE.......................................................................27 LA SAMARITAINE.............................................................................35 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................43 REFERÊNCIAS..................................................................................44

As ruínas arquitetônicas são objetos de estudos de diversos segmentos, seja eles com finalidade histórica, filosófica, artística, entre outros. Isso se deve às diferentes interpretações e abordagens instituidas ao longo dos séculos (RODRIGUEZ, 2017). Na arquitetura, tais ruínas são registros vivos de um lugar, contendo evidências das técnicas e métodos construtivos, elementos tipológicos e estruturais, possibilitando descobrir informações cruciais sobre uma obra de determinada região. Em contrapartida, elas também indicam a destruição, desde danos causados por conflitos até a própria ação do tempo (DINIZ 2014).

A valorização das ruínas é de extrema importância para a conservação e a restauração arquitetônica. Infelizmente, os patrimônios culturais são vítimas de descaso e do abandono, além de ser escassa as políticas públicas para a preservação dos mesmo (MEDEIROS; SURYA, 2009).

Desse modo, a preservação atual de bens culturais não deveria se limitar apenas à obras de arte, mas à obras que podem ser consideradas simples e banais presentes no cotidiano. Segundo Beatriz Kühl, "é prudente esclarecer o uso do termo monumento histórico, não como uma obra isolada de grandeza, mas em relação ao significado etimológico de monumento, a fim de preservar sua deposição", ou seja, preservá-la não somente pelo belo, mas por seu valor.

Sendo assim, o objetivo do presente trabalho é analisar os aspectos históricos e as restaurações contemporâneas do Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu do Ipiranga, o Museu do Louvre e o La Samaritaine.

5

6 NACIONAL

MUSEU DE ARTE DO RIO - MAR Instalado na Praça Mauá, um dos pontos mais simbólicos da cidade, a obra é uma das vitrines do plano de reestruturação da zona portuária do Rio de Janeiro, o Museu de Arte do Rio (MAR) foi criado sob a peculiar condição de se reciclar e integrar três edificações existentes: o Palacete D. João VI, prédio eclético inaugurado em 1916 e tombado pelo Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural no ano 2000; a antiga sede da Polícia Marítima e depois Hospital da Polícia Civil José da Costa Moreira, obra modernista dos anos 1940; e o antigo Terminal Rodoviário Mariano Procópio, inaugurado em 1950 como a primeira rodoviária interestadual do Rio de Janeiro (GIROTO, 2018).

Os autores do MAR foram Thiago Bernardes, Paulo Jacobsen e seu filho, Bernardo Jacobsen, que eram sócios na firma BJA até 2012. Os arquitetos foram convidados a projetar o museu após ficarem em segundo lugar no concurso.

Figura 1: Museu de Arte do Rio

Fonte: casaclaudia.abril.com.br

Inaugurado em março de 2013, o MAR tem uma proposta inovadora de dialogar com o público, promovendo sempre a interação das pessoas com a história da cidade, a arte e o cotidiano, incentivando a reflexão e todas as formas de expressão artística e de manifestações culturais.

Todas as exposições são temporárias e, entre as obras mostradas, há as do seu próprio acervo, que é constituído de 12 mil peças. A ideia envolve a construção de uma ligação com o espectador, que vai encontrar, por sua própria percepção, elementos com os quais se identifica e o inserem naquele contexto. As amostras são criativamente apresentadas e seus autores são artistas que pensam o Brasil ou são apaixonados pelo Rio. Aliás, o terceiro andar do pavilhão é todo dedicado à Cidade Maravilhosa.

Visitas educativas podem ser agendadas e o setor de Educação promove ações pioneiras, tanto para alunos quanto para professores e o público em geral.

O complexo do museu engloba 15 mil metros quadrados e inclui oito salas de exposições e cerca de 2.400 metros quadrados, divididos em quatro andares; a Escola do Olhar e áreas de apoio técnico e de recepção, além de serviços ao público.

Segundo os arquitetos, o desenho do sistema de fluxos teve como premissa a eficiência distributiva e a configuração de um circuito de visitação ao museu de cima para baixo, evitando a repetição de passagens pelos mesmos espaços (GRUNOW et al., 2013).

O aparente protagonismo do edifício eclético camufla uma operação de maior impacto no prédio vizinho. Enquanto no palacete a interferência exterior foi mínima, limitando-se à restauração de sua condição original, no prédio moderno demoliu-se praticamente tudo o que não fosse estrutural. A instalação de vidro translúcido de piso a teto evidencia somente a linha das lajes e a silhueta dos pilares, ativando a memória de sua genealogia moderna.

No entanto, ao invés de ser uma operação de resgate e valorização, os elementos simbólicos da arquitetura moderna valorizados neste edifício, ou não existiam, como os brises neste caso feitos com peças de vidro –, ou não eram visíveis, como pilotis e lajes nos pavimentos superiores.

Cria-se uma condição paradoxal, na qual o edifício deixa de ser moderno para assumir-se “neomoderno”, diferentemente de outras intervenções icônicas sobre o patrimônio, como a de Paulo Mendes da Rocha na Pinacoteca do Estado de São Paulo (1989-99), onde da base eclética extraiu-se outros valores e demarcou-se com clareza os elementos inseridos.

7

8 Ao afastar-se do sentido do projeto moderno para dele utilizar apenas a sintaxe, o MAR reflete o caráter pop de grande parte da arquitetura contemporânea, gestado quando a linguagem austera dos anos 50 passou a ser usada como produto dos consumistas anos 60 (FOSTER, 2017).

Outro diferencial do Museu é o tratamento especial dado aos moradores do entorno, que ganham carteirinha para entrar e sair à vontade, através do programa Vizinhos do MAR, que ainda promove visitas e atividades específicas, encontros para debates e até um café da manhã mensal, sempre visando a inclusão, a arte-educação e o foco nos saberes e fazeres.

Os prédios ocupados, em seus tempos áureos, tiveram grande importância para a cidade. Construído entre 1913 e 1916, o Palacete Dom João VI foi erguido para sediar a Inspetoria de Portos, Rios e Canais e transformada em Empresa Brasileira de Portos (Portobrás) na década de 70 (SILVA et al., 2017).

O edifício, de estilo arquitetônico eclético, até a década de 80 era destinado a funções administrativas. Em 1990, o palacete passou a pertencer à Cia Portus - Instituto de Seguridade Social, proprietária à época de seu tombamento pela Secretaria de Patrimônio Cultural do Município, através do Decreto nº 19002, de 5 de outubro de 2000.

As intervenções de reabilitação realizadas no MAR foram muito profundas e, portanto, se enquadram no nível excepcional. Além de englobarem técnicas de restauro e reforço de elementos estruturais, conduziram os edifícios a padrões superiores aos previamente existentes (SILVA et al., 2017).

Figura 3: Implantação

Figura 2: Museu de Arte do Rio

Fonte: archdaily.com.br

Em 2010 tiveram início as obras de restauração do Palacete e retrofit do conjunto, após a etapa de diagnóstico dos imóveis e estudos de projeto.

A proposta para cada construção foi analisada considerando os diversos aspectos de tombamento e preservação e, com estilos arquitetônicos e histórias distintas, o primeiro desafio encontrado foi o de criar uma identidade visual (SILVA et al., 2017).

A reabilitação predial é uma ferramenta que busca aproveitar elementos de uma edificação antiga e dotá-la de características de desempenho atuais e, como consequência, amplia a duração de seu ciclo de vida. A incorporação dos conceitos de sustentabilidade na reabilitação é uma ação positiva, no sentido de que pode conferir ao espaço reabilitado um melhor desempenho energético, mais economia e um maior conforto aos seus usuários, ao mesmo tempo que contribui para redução dos impactos ambientais causados pela cadeia produtiva da construção civil.

Fonte: pt.wikipedia.org

9

10 Estes benefícios podem ser aplicados na forma de uma certificação ambiental para a construção, que, no caso do Museu de Arte do Rio, foi a certificação LEED (SILVA et al., 2017).

Figura 6: Planta 1° pavimento

Figura 4: Planta Térreo

Fonte: archdaily.com.br

Fonte: archdaily.com.br Figura 5: Planta Mezanino

Fonte: archdaily.com.br

Figura 7: Planta 1° pavimento

Fonte: archdaily.com.br

11

12 Figura 8: Planta 3° pavimento

Figura 10: Planta 5° pavimento

Fonte: archdaily.com.br Fonte: archdaily.com.br

Figura 9: Planta 4° pavimento

Figura 11: Planta 6° pavimento

Fonte: archdaily.com.br

Fonte: archdaily.com.br

13

14 Figura 12: Diagrama museu

Figura 13: Diagrama museu

Fonte: sergionobre.wordpress.com

Fonte: sergionobre.wordpress.com

A reabilitação predial é uma ferramenta que busca aproveitar elementos de uma edificação antiga e dotá-la de características de desempenho atuais e, como consequência, amplia a duração de seu ciclo de vida. A incorporação dos conceitos de sustentabilidade na reabilitação é uma ação positiva, no sentido de que pode conferir ao espaço reabilitado um melhor desempenho energético, mais economia e um maior conforto aos seus usuários, ao mesmo tempo que contribui para redução dos impactos ambientais causados pela cadeia produtiva da construção civil (SILVA et al., 2017).

Em contrapartida, a escolha dos materiais e estratégias a serem adotadas na reabilitação, visando a nova vida do edifício, devem considerar também os requisitos de durabilidade, além dos parâmetros sustentáveis. Segundo a gerência de operações do MAR, foi necessária uma intervenção de caráter significativo, que ocorreu cerca de um ano após sua inauguração: o revestimento do piso da biblioteca e salas de aula da Escola do Olhar foi substituído. O piso em poliuretano apresentou danos causados pelo uso, que eram recorrentes mesmo após a manutenção - o que acabou conduzindo ao fim de sua vida útil física.

Figura 14: Corte

Fonte: archdaily.com.br

15

16 Houve um diálogo entre a administradora do prédio e a empresa construtora que executou a obra, para estabelecer qual seria a melhor forma de recuperar. A partir disso, decidiu-se que não seria vantajoso continuar com os reparos, e decidiu-se trocar todo o piso existente por um piso vinílico de cor mais escura. Este material mostrou-se compatível e mais tolerante às consequências do uso, do que o anteriormente empregado (SILVA et al., 2017).

Além disso, a redução do consumo de energia elétrica e de água, que podem ser promovidos pelos equipamentos e técnicas adotados pelo projeto, dependem da transferência da responsabilidade para o usuário.

Neste sentido, são adotadas estratégias tanto para conscientizar quanto para controlar o uso, dentro do que é cabível. Por se tratar de um museu, por exemplo, existem parâmetros limitadores para a diminuição do consumo e melhora do desempenho energético da edificação, como o uso de lâmpadas expositivas menos econômicas e devido a regras de conservação artística que orientam que o nível da temperatura interna do pavilhão de exposições, por exemplo.

Sob esta ótica, percebe-se que os projetos de modernização encontram, principalmente, limitações impostas pelo partido arquitetônico da edificação, pelo seu novo uso e pelos investimentos disponíveis para serem empregados (SILVA et al., 2017).

A restauração foram realizada de acordo com recomendações da Carta de Veneza (1964), a Carta de Restauro (1972), devido a conservação exigir uma manutenção constante, sendo sempre favorecida quando sua destinação é útil para a sociedade. Outro ponto de acordo com cartas patrimoniais é sobre a proibição de deslocamento do monumento, salvo quando sua preservação exige tal ação, ou quando há interesses nacional e internacional.

Figura 15: Fachada

Fonte: archdaily.com.br

17

18 NACIONAL

MUSEU DO IPIRANGA Inaugurado em 1895, o Museu do Ipiranga, localizado na cidade de São Paulo, no Parque da independência, s/n.º, no bairro do Ipiranga, zona sul da cidade, é uma das obras mais importantes da história do nosso país.

Ele fica no Parque da Independência, que é a região onde Dom. Pedro I proclamou a independência do Brasil em 1822.

O edifício monumental projetado pelo arquiteto italiano Tommaso Gaudencio Bezzi para marcar o sítio onde o príncipe regente D. Pedro proferiu a famosa expressão “É tempo! Independência ou Morte”, declarando a emancipação do Brasil do reino português, será reaberto ao público neste 7 de setembro em comemoração ao Bicentenário da Independência.

o projeto foi dividido em diversas etapas: elaboração de Programa de Necessidades, Diagnóstico Estrutural e das Fachadas, Concurso Público para Seleção do Projeto Arquitetônico e de Restauro, Estudo Preliminar, Projeto Básico, Projeto Executivo, licitação e execução da Obra e implantação de novas exposições e áreas técnicas (ARCHTRENDS, 2022).

Figura 17: Obras de restauração do Museu do Ipiranga

Figura 16: Museu do Ipiranga Fonte: jornal.usp.br

Fonte: sãopauloantiga.com.br

Em 2019, começaram as obras de restauração e modernização. Trata-se de uma obra complexa, que contou com cerca de 300 profissionais. Só para reduzir a passagem de calor nas áreas internas, mais de 450 janelas e portas tiveram que ser restauradas e receber vidros especiais. Por isso,

O Esse é o primeiro caso de restauração de patrimônio tombado que inclui uma ampliação. Além de aumentar a parte destinada à visitação, passando de 7 mil para 14 mil m², outra área está sendo construída. Ela inclui um auditório com capacidade para receber 200 pessoas, salas de exposições temporárias, loja, café, sala para atendimento do programa educativo, entre outros. A proposta é elevar o Museu ao nível dos grandes museus internacionais. Atualmente, após a conclusão da reforma, o edifício inteiro está disponível para visitação pública, com capacidade para receber mais de 500 mil visitantes ao ano. Os espaços que antes eram usados pela administração, biblioteca, reservas de acervo e laboratórios foram transformados em salas de exposição. No total, o Museu do Ipiranga contém 49 salas abertas. Além de espaços renovados de exposição, conta com completa acessibilidade e integração com o Parque da Independência. O projeto também inclui a parte paisagística do jardim francês e a recuperação de fontes, iluminação e outros aspectos (ARCHTRENDS, 2022).

19

20

Figura 18: Diagrama das novas áreas propostas e ampliações

Figura 19: Planta porão atualizada

Figura 20: Planta pavimento térreo atualizada

Fonte: revistapesquisa.fapesp.br

Fonte: vitruvius.com.br

21

22 Figura 21: Planta primeiro pavimento atualizada

Figura 22: Planta sedgundo pavimento atualizada

Figura 23: Corte FF com elevação da fachada Sul do Edíficio-Monumento

Fonte: vitruvius.com.br

Figura 23: Planta cobertura atualizada

23

24 Figura 21: Corte AA

Figura 24: Corte DD

Figura 22: Corte BB

Figura 25: Corte EE

Figura 23: Corte CC

Figura 26: Corte GG

Fonte: vitruvius.com.br

Durante a sua construção, a obra foi uma verdadeira escola de arquitetura, que depois forneceu mão de obra para diversos projetos na cidade. O resultado disso foi a criação de um museu que passou a ser visto como monumento. Além dos arcos e colunas nas fachadas, cheias de ornamento, o interior se destaca pela elegância das escadarias de mármore, piso de cerâmica, esculturas, grandes pinturas e galerias abertas.

25

26 O edifício-monumento idealizado por Bezzi tem como objetivo marcar o local da proclamação da independência, sendo previsto como único objeto a ser apreciado no seu interior o quadro “Independência ou morte”. Essa pintura foi encomendada pelo conselheiro imperial José Inácio Ramalho, então presidente da Comissão do Monumento do Ipiranga, ao pintor brasileiro Pedro Américo de Figueiredo e Melo (18431905), em 1886, e foi entregue em 1888. O edifício-monumento é a primeira grande estrutura em alvenaria de tijolos em São Paulo que trouxe consigo o emprego de técnicas e estilo europeus, em uma cidade onde ainda predominavam as técnicas vernaculares, de construção em taipa. Essa obra fomentou tanto a criação de fornecedores locais de vários materiais básicos de construção, como também a formação de mão de obra para uma cidade em crescimento (LEMOS, 1990).

O Museu também conta com estátuas de bandeirantes, mostrando as regiões por onde eles passaram. Isso sem falar nas pinturas que narram outros acontecimentos ligados ao ciclo do ouro, à caça aos indígenas e à conquista de outros locais.

Figura 27: Estátuas de Fernão Dias e Raposo Tavares, respectivamente

Fonte: repensandoherois.home.blog

O Museu do Ipiranga estava fechado desde 2013 para uma grande reforma e restauração no edifício e reabriu as portas no dia 8 de setembro de 2022, para comemorar a data do Bicentenário da Independência do Brasil. A expectativa é que a capacidade de visitantes seja triplicada de 300 mil para 900 mil pessoas/ano. O projeto de restauração é de autoria do escritório H+F Arquitetos com curadoria da USP. Além de voltar com uma estrutura mais segura, o Museu do Ipiranga se adaptou às normas de acessibilidade universal. Os visitantes também terão acesso a salas para atendimento, café, área de descanso e outros espaços que são essenciais em museus modernos (CRUZ, 2022).

No final do mês de março de 2022, foram concluídas as obras de restauro do edifício-monumento do Museu do Ipiranga, incluindo os 7.600 metros quadrados das fachadas, que, pela primeira vez em sua história, passaram por limpeza, decapagem, recuperação dos ornamentos, aplicação de argamassa, tratamento de trincas e pintura (CRUZ, 2022).

Para pintar, foi utilizada uma tinta mineral, desenvolvida especialmente para o museu, que permite a troca de umidade entre o prédio de cal e o ambiente. Um estudo estratigráfico [ramo da geologia que estuda as camadas de rochas] e o processo de decapagem também tornaram possível recuperar a cor original da construção do século 19. Tetos e paredes do interior receberam tratamento similar. Os elementos de marcenaria, como as 450 portas e janelas, foram catalogados, retirados e restaurados em oficinas no canteiro de obras, e recolocados no mesmo lugar, bem como os 1.900 metros quadrados de assoalho que revestem o piso da edificação. Os pisos de ladrilho hidráulico franco-alemão também passaram por restauro. Com a instalação de elevadores, o edifíciomonumento será, enfim, totalmente acessível (CRUZ, 2022).

A restauração foi realizada de acordo com recomendações da Carta de Veneza (1964), a Carta de Restauro (1972), têm como intuito uniformizar os discursos do cuidado ao bem cultura. È fundamental a valorização histórica e artística, a não refuncionalização e o respeito ao monumento.

Dá-se estatuto à lógica de utilização de gabarito, como ferramenta para a distinção de uma valorização visual do patrimônio em questão.

27

28 INTERNACIONAL

MUSEU DO LOUVRE O Museu do Louvre está instalado no Palácio do Louvre, uma fortaleza do século XII que foi ampliada e reformada em diversas ocasiões. Antes de que se tornasse um museu, alguns monarcas como Carlos V e Filipe II utilizaram o palácio como residência real onde acumulavam suas coleções artísticas. Depois da transferência da residência real ao Palácio de Versalhes, o impressionante edifício de 160.000 metros quadrados deu início ao seu processo de transformação a um dos museus mais importantes do mundo. Em 1989 foi construída a pirâmide de cristal, rompendo a monotonia dos grandes blocos cinzas do museu e que atualmente serve como porta de acesso (MURTINHO, 2018).

A construção foi inaugurada em 10 de agosto de 1793, na capital da França, entre o rio Sena e a Rue de Rivoli. O Louvre marca o centro de Paris e o ponto de partida da espiral que dá número aos bairros da cidade, chamados de arrondissements. Localizado no 1º arrondissement, o Museu do Louvre ocupa uma área de mais de 70 mil m² na margem direita do Rio Sena, onde está o edifício principal, a área externa das pirâmides e ainda o Jardim do Carrossel, que também faz parte do museu.

Sua inauguração contou com uma exposição de 537 pinturas, a maioria das obras sendo propriedade real e confiscada da Igreja Católica. Devido a problemas estruturais com o edifício, o museu foi fechado em 1796 até 1801. A coleção foi ampliada sob o governo de Napoleão e o museu foi renomeado como Museu Napoleão, mas após a abdicação dele, muitas obras confiscadas por seus exércitos foram devolvidas aos seus proprietários originais. A coleção foi aumentada ainda mais durante os reinados de Luís XVIII e Carlos X e, durante o Segundo Império Francês. O arquiteto Ieoh Ming Pei foi designado, em 1983, para o planejamento de uma nova grande entrada para receber o público crescente e a disposição do interior do museu. Foi ele que desenhou a pirâmide cujo acesso foi aberto em março de 1989, simbolicamente no ano do bicentenário da Revolução Francesa.

Figura 29: Pirâmides de cristal

Figura 28: Palácio das Tulherias

Fonte: simplesmenteparis.com

Fonte: clickmuseus.com.br

A pirâmide de cristal rompeu a monotonia dos grandes blocos cinzas do museu e, atualmente, serve como porta de acesso. Ainda é possível visitar ruínas da fortaleza no porão do museu. O palácio é tão grande que se você esticasse as três alas em linha reta, o Louvre percorreria incríveis 14 quilômetros.

29

30 A construção da pirâmide de Pei gerou uma considerável polêmica porque muitos achavam que esta extensão modernista estava totalmente fora de lugar em frente ao Museu do Louvre, com sua arquitetura clássica, enquanto outros acusados ​de projeto faraônico Mitterand. No entanto, lentamente, muitos começaram a compreender e apreciar essa justaposição de estilos contrastantes de arquitetura como um amálgama de sucesso entre o antigo e o novo, o antigo e o moderno.

Figura 30: Pirâmides de cristal

Inicialmente, o Louvre era uma fortificação, providenciada pelo Rei Filipe II, no século XII, para defender Paris de ataques Vikings, construção localizada então ao norte da cidade. Tratava-se de uma construção de forma quadrilátera, em aparelho robusto de pedra, com uma dezena de torres perimetrais, tendo ao centro uma torre de menagem alta e circular dando à fortaleza um caráter de refúgio quase inexpugnável. Entretanto, só no século seguinte que a construção foi transformada em um palácio e passou a abrigar a monarquia francesa. Foi nesse espaço que o governo francês teve sua sede, até o reinado de Luís XIV, que deu início ao que hoje conhecemos como o principal museu do mundo.

No século XVI, Francisco I resolve demolir o Louvre e reconstruí-lo. Dessa forma, Francisco ficou conhecido como o soberano da renascença. De fato, foi nessa mesma época que Leonardo da Vinci e Monalisa ficaram conhecidos na França. Portanto, em sua reforma, o Louvre ganha espaços de recepção para mostrar essas obras. Posteriormente, Catarina de Médici mandou construir o Palácio de Tuileries. E, além disso, Henri IV construiu uma grande galeria entre os dois palácios, pois assim poderia circular entre a sua sede de poder e seus apartamentos. Essa modernização do Louvre apenas finalizou com Louis XIV anos depois.

Vale destacar que ele trouxe o jardim André Le Nôtre e os canteiros de Versalhes. Em 1962, criou-se uma galeria de esculturas antigas na Sala das Cariátides, e passou por alterações e cuidados, até 1989, quando foi reaberto como é conhecido atualmente. François Mitterrand tornou-se presidente da França em 1981. Assim ele ficou responsável por revigorar o Museu do Louvre.

Figura 31: Planta

Fonte: simplesmenteparis.com

Fonte: clickmuseus.com.br

31

32 Figura 32: Diagrama segundo subsolo

Figura 33: Diagrama primeiro subsolo

Figura 34: Diagrama térreo

Figura 35: Diagrama primeiro pavimento

Fonte: viajarnaeuropa.com

33

34 Figura 36: Diagrama setorização

A restauração foi concluída de acordo com de acordo com recomendações da Carta de Veneza (1964), a Carta de Restauro (1972, visto que, além de um legado para a cultura mundial, a construção é, sem dúvida, uma obra prima para a arquitetura, uma vez que une o clássico e o contemporâneo e mostra os traços da construção de diversos séculos.

Fonte: inexhibit.com

Figura 37: Corte

Fonte: inexhibit.com

35

36 INTERNACIONAL

Figura 39: Fachada vista da Pont Neu, década de 1930

LA SAMARITAINE La Samaritaine foi fundada em 1870 por Ernest Cognacq. Depois de ter exercido vários ofícios de vendedor, Cognacq tornou-se vendedor em uma tenda na Pont Neuf. Em 1870, decidiu transformar sua sala, anexa ao estabelecimento, em uma pequena loja de novos produtos, "À La Samaritaine".

Ernest Cognacq se casou, em Janeiro de 1872, com Marie-Louise Jaÿ, exprimeira vendedora do departamento de confeitaria da Bon Marché, com quem passou a administrar a loja. A construção, que fica no cruzamento das ruas Pont-Neuf e Monnaie, passou de uma pequena loja para um bloco de 70.000m², combinando Art Nouveau e estilos Art Déco do final do século XIX, dando origem, em 1900, às Lojas de Departamento de La Samaritaine (LOBATO, 2018).

La Samaritaine era o nome de uma bomba de água localizada na Pont Neuf cuja existência remonta a época do rei Henrique IV. Esta fonte era decorada com uma representação do episódio evocando o encontro de Jesus e uma samaritana no poço de Jacó (Evangelho segundo João), (16721744). O todo foi decorado por um relógio equipado com um jacquemart, e, mais tarde, um carrilhão.

Fonte: wikiarquitectura.com

O local é de grande importância histórica e o impacto do edifício se estende da Rue de Rivoli ao Quai du Louvre, com vista para o Sena.

Figura 40: Projeto de Henri Sauvage e Frantz Jourdain

Figura 38: A Pont Neuf e o Samaritano em 1915

Fonte: paris1900.lartnouveau.com

Fonte: wikiarquitectura.com

37

38 Em 2005, a loja foi fechada por motivos de segurança e o projeto geral foi feito pelo escritório SANAA. O projeto de reforma, que foi inteiramente financiado pelo grupo, custou cerca de 450 milhões de euros. A decoração interior do trabalho foi realizado por Peter Marino, que já havia trabalhado para Louis Vuitton, e arquiteto Edouard François. O novo trabalho começou em 2013 e envolveu a colaboração de 1.200 pessoas. Ele foi programado para durar 27 meses e que estavam sob a supervisão do grupo para os monumentos históricos Paris Também colaboram na obra profissionais oleiros, pedreiros, ferreiros e escultores.

Figura 41: Diagrama do edifício

Depois de 16 anos de extensa obra de renovação, ‘La Samaritaine’ reabriu ao público, com uma esplêndida reforma que se casa com características arquitetônicas originais com intervenções contemporâneas. Esta loja de departamentos tem as marcas mais famosas do mundo, uma arquitetura maravilhosa e cinco restaurantes que oferecem uma atmosfera fashionista.

No desenvolvimento do edifício que dá o personagem principal disto, tanto a configuração que faz com que o espaço e o seu papel decorativo na mesma, através das suas formas e suas cores verde e do ouro. A estrutura, por sua vez permite que o grande espaço do átrio está coberto por um grande telhado de vidro que fornece luz para o espaço interior e é o mais característico do século XIX lojas de departamento oferecem.

Figura 42: Mapa das lojas

Fonte: wikiarquitectura.com

Fonte: wikiarquitectura.com

39

Figura 43: Elevação

Fonte: archdaily.com.br

40

41

42 Figura 44: Fachada antes da intervenção

A nova área comercial foi distribuída em três andares ao longo de um eixo de circulação central que conecta edifícios em ambas as extremidades. Na Rue Rivoli, o SANAA propõe um gesto arquitetônico contemporâneo que marca o renascimento da Samaritaine, escrevendo uma nova página na história deste emblemático estabelecimento. A nova fachada ondulada de vidro é, de fato, uma continuação do espírito vanguardista e da pesquisa sobre o vidro que caracterizou o trabalho dos arquitetos responsáveis pelo projeto original do La Samaritaine, Frantz Jourdain e Henri Sauvage. Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa descrevem sua intervenção como uma negociação com a escala monumental do edifício e a importante fronteira com a Rue Rivoli. A fachada dupla reflete os ornamentos da arquitetura do entorno e apresenta um movimento que convida o público a explorar o quarteirão urbano.

Figura 46: Escada interna do edifício

Fonte: commons.wikimedia.org

Figura 45: Fachada após intervenção

Fonte: youmustgo.com.br

Fonte: archdaily.com.br

A restauração foi realizada de acordo com sugestões da Carta de Veneza (1964), a Carta de Restauro (1972), estando de acordo com política de valorização do bem histórico. Dessa maneira, pensa-se na totalidade da obra, incorpora-se, em sua abordagem, a ambiência social, cultural e natural e todo o seu processo histórico e artístico, devendo, em sua elaboração, ter em mente a conservação do entorno urbano e paisagístico, mantendo as estruturas viárias e os edifícios existentes.

43

44 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que apenas reconhecer uma obra como patrimônio não é o suficiente sem que a sociedade reconheça sua importância e necessidade de preservá-lo, o que se evidencia com alguns dos edifícios apresentados no trabalho, como o Museu do Ipiranga e o La Samaritane. O descaso com tais construções as deixaram em ruínas e as fizeram ser fechadas por conta da segurança ao público que a frequentava.

As intervenções realizadas seguem a Carta de Vezena (1964) e a Carta de Restauro (1972), ainda que se realizem mudanças drásticas, no caso, a implementação de elementos contemporâneos à construção original. O trabalho de restauração é de extrema importância para o legado que será passado à futuras gerações. Entretanto, é fundamental que cada indíviduo entenda como protegê-lo, além de ter conhecimento sobre as Cartas e a legislação a serem utilizados para esse fim.

REFERÊNCIAS ARCHTRENDS. Museu do Ipiranga: arquitetura monumental renovada. 2022.

Disponível em: https://blog.archtrends.com/museu-do-ipiranga/? gclid=Cj0KCQiA4aacBhCUARIsAI55maHv76RYhNuH4g9Ls_3kGHuznSVn894w5tsKAQ83KUvbBHNI4FNBHIaAhNPEALw_wcB. Acesso em: 02 dez. 2022.

CRUZ, Adriana. Museu do Ipiranga conclui obras de restauro de seu edifíciomonumento. 2022. Disponível em: https://jornal.usp.br/institucional/museu-doipiranga-conclui-obras-de-restauro-de-seu-edificio-monumento/. Acesso em: 02 dez.

2022.

CRUZ, Talita. Museu do Ipiranga: História, Arquitetura + Curiosidades. 2022.

Disponível em: https://www.vivadecora.com.br/pro/museu-do-ipiranga/. Acesso em: 02 dez. 2022.

CUTIERU, Andreea. Após uma década em obras, projeto do SANAA para o La Samaritaine em Paris será inaugurado. ArchDaily. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/960222/apos-uma-decada-em-obras-projeto-do-sanaapara-o-la-samaritaine-em-paris-sera-inaugurado. Acesso em: 02 dez. 2022.

DINIZ, Luciana Nemer. Projetos contemporâneos em ruínas: o passado compartilhado no presente. III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pósgraduação em Arquitetura e Urbanismo. Arquitetura, cidade e projeto: uma coletiva. São Paulo, p. 3-4, 2014.

FOSTER, Hal. O complexo arte-arquitetura. São Paulo: Ubu, 2017.

GIROTO, Ivo Renato. O Museu de Arte do Rio. Revista Prumo, v. 3, n. 4, p. 16, 2018.

GRUNOW, Evelise et al. A onda da sedução: Museu de Arte do Rio/Escola do Olhar, Rio de Janeiro. Projeto: revista mensal de arquitetura, n. 398, p. 68-75, 2013.

KÜHL, Beatriz Mugayar. História e ética na conservação e na restauração de monumentos históricos. Revista CPC, n. 1, p. 16-40, 2006.

LEMOS, Carlos. Notas e Depoimentos: O projeto de Bezzi e a arquitetura do século XIX em São Paulo. In Às Margens do Ipiranga: 1890-1990 [S.l: s.n.], 1990, p.15.

LOBATO, Nathália Theophilo. O Estylo Chic a Preços Módicos: gostos e públicos da loja Mappin Stores em São Paulo, 1913-1920. 2018. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

RODRIGUES, Angela Rosch. A problemática da ruína: das teorias da preservação patrimonial do século XIX ao restauro crítico. Revista CPC, n. 24, p. 9-34, 2017.

MEDEIROS, Mércia Carréra; SURYA, Leandro. A importância da educação patrimonial para a preservação do patrimônio. 2009. ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História – Fortaleza, 2009.

MURTINHO, Vítor. Louvre: um museu com história (Parte 1). Metálica, n. 50, p. 18-24, 2018.

SILVA, Maiane Ramos et al. Reabilitação predial no contexto das obras do Museu de Arte do Rio (MAR). 8º Congresso Luso-Moçambicano de Engenharia / V Congresso de Engenharia de Moçambique Maputo, 4-8 Setembro 2017.