Uma temporada no Congo - Aimé Césaire

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Uma temporada no Congo

Uma temporada no Congo

Aimé Césaire

tradução, prefácio e notas João Vicente Juliana Estanislau de Ataíde Mantovani Maria da Glória Magalhães dos Reis

7 Sobre esta edição 11 Prefácio História e poesia em cena João Vicente, Juliana
Maria
Glória
Reis 25 Prefácio à edição francesa (2021) Éric Vuillard 32 Uma temporada no Congo 35 Primeiro ato 90 Segundo ato 140 Terceiro ato 187 Notas 203 Posfácio Kabengele Munanga Anexos 215 Fichas técnicas das apresentações 220 Sugestões de leitura 223 Sobre o autor 226 Sobre os tradutores
Estanislau de Ataíde Mantovani e
da
Magalhães dos

Sobre esta edição

No dia 30 de junho de 1960, o Congo Belga, como até então era chamado, se torna um país independente ao fim de um processo de transição conduzido por representantes políticos congoleses e belgas. Quem estivesse presente para assistir às solenidades do evento poderia crer que se tratava de uma transição harmoniosa, sem grandes conflitos. No entanto, a história que começa nessa data, com a nomeação de Patrice Lumumba – um dos líderes do movimento pela independência – ao cargo de chefe de governo do país recém-instituído, terá um desfecho trágico para seu protagonista e para o povo congolês. Uma temporada no Congo nos conta essa história, que se estende por mais de um ano, desde poucos meses antes da independência até o assassinato de Lumumba, ocorrido em 17 de janeiro de 1961. O texto põe em relevo os meandros políticos que conduziram o país a um golpe de Estado, perpetrado com a conivência, quando não ingerência, das potências ocidentais e da Organização das Nações Unidas, e lustrado por uma distorcida retórica anticomunista. A peça ultrapassa, porém, a dramatização dos bastidores da política, já que dá ao povo congolês um papel proeminente. Recorrendo a procedimentos frequentemente adotados por Brecht e pelo teatro elisabetano, Aimé Césaire constrói um universo literário regido pela tensão permanente entre a trama do poder, de um lado, e as dinâmicas do povo, com seus anseios, medos e versões próprias sobre os fatos, de outro; e seu herói, Lumumba, vive precisamente nesse limiar, onde ambas se tocam.

Escrita em 1966, concomitantemente ao processo da montagem teatral, a peça que o leitor tem agora em mãos é a terceira de autoria de Césaire. Ela foi precedida por duas outras, ambientadas no Haiti, Et les Chiens se taisaient [E os cães se

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calavam] (Temporal, no prelo), de 1946, e A tragédia do rei Christophe (Cobogó), de 1963, e sucedida por Uma tempestade (Temporal, no prelo), de 1969, uma recriação de A tempestade, de Shakespeare, segundo a perspectiva da luta do povo negro.

Uma temporada no Congo estreou no dia 20 de março de 1967, no Centro Cultural de Anderlecht, em Bruxelas, sob a direção de Rudi Barnet. Essa mesma montagem ainda esteve na programação da Bienal de Veneza em setembro do mesmo ano. Já no dia 4 de outubro, a versão do próprio autor, em parceria com o diretor Jean-Marie Serreau, chega aos palcos da capital francesa, no Théâtre de l’Est Parisien. Desde então, a peça ganhou diversas montagens, dentre as quais caberia destacar a do Teatro Nacional Popular (tnp), dirigida por Christian Schiaretti, que viajou pela França e pela Martinica, país natal de Césaire – todas as fotografias aqui presentes foram, inclusive, tiradas dessa última montagem. Esta edição também traz dois prefácios: o primeiro deles, assinado pelos três tradutores, apresenta a trajetória pessoal, política e artística de Césaire, bem como alguns aspectos sobre a gênese da obra e seus principais processos criativos; no segundo, traduzido para o português pelo mesmo trio a partir da edição francesa de 2021, Éric Vuillard ressalta o papel da linguagem, na peça, como testemunha viva das vozes silenciadas sob a sombra da paz. Conta-se ainda com posfácio escrito pelo intelectual Kabengele Munanga. Além disso, a peça é acompanhada de uma série de notas de fim, criadas com o intuito de trazer o leitor para perto de palavras e termos em línguas congolesas, personagens históricos, localidades e outras referências, de natureza variada, sobretudo relacionadas ao Congo e à sua história. Por fim, na seção “Anexos”, o leitor encontrará as fichas técnicas das três montagens supramencionadas, bem como sugestões de leitura.

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