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EDUCADOR/A-PESQUISADOR/A – A estrutura se faz a partir de sujeitos. Por Andréa Tavares

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Tita Couto

Tita Couto

EDUCADOR/A-PESQUISADOR/A – A estrutura se faz a partir de sujeitos. Por Andréa Tavares..............6

Documentação Pedagógica no contexto AMAZÔNIA/SESC Fábrica Pompéia...................................................13

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Reflexões da Supervisão Educativa. Por Luciane Tobias............................................................................................21

Reflexões da Supervisão Educativa. Por João Pedro Canola ....................................................................................23

ENCONTROS EDUCATIVOS: CAMINHOS DA AMAZÔNIA........................................................................26

Sinopses.................................................................................................................................................34

AÇÕES EDUCATIVAS EM PARCERIA COM O EDUCATIVO DA EXPOSIÇÃO A VIDA DAS

COISAS...............................................................................................................................................................................44

SEMANA EDUCATIVA INCLUSIVA: FÁBRICA PARA TODAS AS PESSOAS...........................................49

REUNIÃO INSTITUCIONAL SESC..........................................................................................................................57

OBJETOS PROPOSITORES…………………………………………...............................................................58 Documento Ensaio...........................................................................................................................................................62 Bea Bonifácio.......................................................................................................................................63 Dany Oliveira.......................................................................................................................................64 Emily Mayumi......................................................................................................................................66 Enzo Kruschewsky..............................................................................................................................67 Felipe Leonidas....................................................................................................................................68 Gleice Kely...........................................................................................................................................69 Guilherme Almeida.............................................................................................................................70 Marana Rigatto.....................................................................................................................................71 . Nay Patente...........................................................................................................................................72 Pam Silva...............................................................................................................................................73 Rafael de Oliveira.................................................................................................................................74 Renan de Figueiredo............................................................................................................................76 Rive Agra...............................................................................................................................................77 Tiago Luz..............................................................................................................................................78 Tita Couto.............................................................................................................................................79

V+

EDUCADOR/A-PESQUISADOR/A – A estrutura se faz a partir de sujeitos Por Andréa Tavares

“Pesquiso para constatar, constando intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. ” – Paulo Freire

Trabalhamos considerando a autonomia dos sujeitos envolvidos no processo de educação não formal. Considerando a instauração de um educativo dentro de uma instituição como o Sesc como a instauração de um jogo, onde as regras são combinadas a priori, mas também modificadas no decorrer das partidas. Assim ao coordenar a instauração de uma equipe, ou time, de um jogo onde não há vencedores, o objetivo do jogo é jogá-lo, defendemos que todos os participantes devem ser considerados como sujeitos, complexos e críticos. A extensão do campo do jogo parte de um tabuleiro – a exposição, - como talvez em Jumamji , onde cada jogada amplia sua extensão. Assim, durante o processo costuma-se ultrapassar o escopo do conteúdo da exposição. Porque os encontros partem dela, se iniciam pela sua proposição, mas sendo uma proposição acolhida por um outro, este acolhimento soma e multiplica, se configura experiência própria de um sujeito, portanto ultrapassa seus limites, borra suas fronteiras, e no corpo de cada jogador circulam questões incontroláveis e mesmo imprevistas ao propositor (àqueles que realizaram o projeto da exposição).

Partimos da intenção de criar um time polifônico. Todos falam, cada um com sua voz. Ao compartilharmos informações específicas sobre a exposição e o que podemos considerar interessar ao desenvolvimento do trabalho também buscamos que as vozes se ouçam, percebam seu timbre, seu fôlego e como gostariam de soar. Isso criaria um primeiro coro quase harmonioso para o nosso time. As distintas vozes se esforçam por criarem um único som. É um esforço que demanda tempo e que nos leva a entender que o que vale é o esforço e porque como veremos a seguir o resultado de um uníssono é impossível e até indesejado.

Qualquer educador/a pode notar na sua prática que o conteúdo de seu trabalho, podendo ser definido como questão problema, assunto ou conceito, que deseja discutir, tende a ser extrapolado se não perdido quando é compartilhado com outros sujeitos. Jacques Rancière em O mestre ignorante nos lembra o quão frequente é a situação do professor/a que descobre que seu aluno/a não aprendeu o que ele pretendia ensinar com alguma “lição”, mas o que foi internalizado de forma real foi algo imprevisto. Essa dinâmica da imprevisibilidade acontece mesmo em uma metodologia que seja útil, acessível e democrática, para que todos saibam as mesmas coisas e tenham acesso aos mesmos conteúdos pré-selecionados e deglutidos. Ainda assim, diante de um quase genocídio de subjetividades os sujeitos ainda se rebelam, não aprendendo nada ou aprendendo outra coisa. Rancière recorre ao “Ensino Universal” primeiro proposto por Joseph Jacotot no século XVIII, para nos levar a refletir sobre a uma dinâmica de ensino aprendizagem onde ninguém se percebe como o detentor do

"...lição emancipadora o artista, oposta termo a termo a lição embrutecedora do professor, é a de que cada um de nós é artista, na medida em que adota dois procedimentos: não se contentar em ser homem de um ofício, mas pretender fazer de todo trabalho um meio de expressão; não se contentar em sentir, mas buscar partilhálo. O artista tem necessidade de igualdade, tanto quanto o explicador tem necessidade de desigualdade. E ele esboça, assim, o modelo de uma sociedade razoável, onde mesmo aquilo que é exterior à razão - a matéria, os signos da linguagem - é transpassado pela vontade razoável: a de relatar e de fazer experimentar aos outros aquilo pelo que se é semelhante a eles. " (Ranciere. 2013.p.104)

do conhecimento privilegiado e correto por excelência. O professor dentro desta dinâmica é um mediador, um provocador e um ouvinte. A didática do afeto e da escuta proposta em meados do século XX por Paulo Freire demonstra os mesmos princípios enfatizando que a própria dinâmica e metodologia de ensino deve fazer sentido e ser elaborada em acordo com os participantes, o grupo, a classe, para que faça sentido a todes.

As atuais discussões sobre as metodologias ativas irá ressaltar a necessidade de pensar o professor como pesquisador. O professor-pesquisador, segundo esta definição atual, saberá estimular seus educandos a serem pesquisadores também, a levar em consideração suas próprias questões, enunciando-as e buscando respostas de forma autônoma. Autonomia crítica tem sido o centro dos estudos em pedagogia nos últimos dois séculos de forma sistemática com inúmeros experimentos sendo realizados e documentados segundo a tecnologia de cada época. Esses experimentos deixaram rastros, documentos e principalmente uma afetação nos corpos. O que se documenta é estudado por outros, e estes tem seus corpos afetados, documentam sua afetação para que o ciclo se estenda. Se Jacotot não tivesse publicado seu livro, deixado seus diários de classe Ranciére não poderia ter estendido seu raciocínio e o implicado em uma noção moderna de política. E portanto nossos corpos seriam outros.

Para instaurar um time para agir na situação exposição colocamos como parâmetros de atuação considerar que a/o educadora/o como sujeito pesquisador, autônomo. Então muito mais que um repetidor, o sujeito da experiência. Ser educador/a é uma posição que não concorre com a do especialista, artista ou curador; nesta posição o sujeito ensaia-se, no sentindo que

“(...) na investigação feminista se trata de entender como as coisas funcionam, quem são os participantes, que possibilidades existem e como atores mundanos podem, de alguma forma, prestar contas de seus atos e amar uns aos outros de maneira menos violenta.” – HARAWAY, Donna. “O manifesto das espécies companheiras”. Rio de Janeiro, Bazar do tempo, 2021. p. 16

Wally e seu amigo humano Joey Henney. https://canaldopet.ig.com.br/curiosi dades/especiais/2019-0206/jacare-abraco.html há movimento fluxo e não uma finalização. Parece que essa posição proporciona a quem está nela a criação de encontros e, portanto, comunidades temporárias, que constroem linguagens contingentes e temporárias. Assim o/a educador/a passa por vários encontros, linguagens, comunidades e concentra em si vestígios de tudo isso que serão levados até os próximos encontros.

Algumas aves, como os papagaios e as cacatuas, são consideradas pássaros repetidores. Assim como muitos consideram educadores como repetidores. Considera-se que os pássaros repetem de forma mecânica aquilo que ouvem muito. Como qualquer pessoa que convive com animais irá poder notar animais tem preferências que não parecem ser explicadas pela ciência como aprendemos na escola, que descreve os animais como autômatos que respondem apenas a sua programação genética. Como os animais escolhem aquilo de que gostam? As atividades em que preferem se engajar? É possível falar em “gosto’ para se referir as preferências dos animais? Teriam ele uma vida psíquica, uma subjetividade? Essas perguntas parecem tomar o animal como sujeito de sua experiência e não um autônomo que age aos eventos externos de acordo com uma pré programação. A bióloga feminista Donna Haraway, em “O Manifesto das Espécies Companheiras” se envereda por este tipo de reflexão, apontando que os animais criam comunidades conosco, tanto em nível de espécie, como no caso dos cães , mas também em comunidades menores, familiares. As redes sociais estão cheias de exemplos de comunidades estranhas criadas entre animais e pessoas; gatos que são amigos de ratos, galinhas cuidando de gatinhos, patos que saem pra passear usando coleiras, até um jacaré que serve de apoio psicológico para um senhor na Flórida. Comunidades e mundo outros, construídos por indivíduos que interagem não apenas para agradar uns aos outros ou por serem adestrados em determinados comportamentos.

As aves repetidoras são portanto muito mais que uma gravação em looping, são sujeitos que se comunicam e criam parcerias. O que nos lava a considera-las como repetidoras, como aquelas bonecas que sempre dizem as mesmas coisas, pode ser a mesma lógica estrutural que inclui o cargo de educador entre o conjunto das profissões subalternas, onde nada se cria. A também feminista, a

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