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Durante esses 36 anos ocupou vários cargos de relevo ligados ao desporto. O que destaca? Fiz muita coisa, mas destacaria talvez a ligação ao hóquei em patins, modalidade que me é muito querida e na qual trabalhei em clubes e selecções como preparador físico. Fiz ainda trabalho autárquico, fui professor de escola e universitário, gestor de empresa, tive projectos na área dos eventos desportivos, estive na coordenação do desporto escolar da Grande Lisboa, fui director-técnico em algumas Federações (ginástica, trampolins e desportos acrobáticos e patinagem), coordenador desportivo (esgrima) e coordenador do projecto de andebol de cinco na Federação de Andebol de Portugal. Estive envolvido em diversas actividades que me permitem ter uma experiência muito alargada e uma visão do desporto que é fundamental para o desempenho das minhas funções. O que o moveu neste regresso a casa e como está a cor‑ rer este quase ano e meio em funções? O que me moveu foi ver um Sporting CP diferente, com muita vontade de crescer e de se desenvolver ao nível das modalidades, de iniciar uma nova etapa. Foi e está a ser um desafio. Quanto aos projectos, não temos limite neste momento. As condições que este Conselho Directivo está a dar às modalidades são enormes. Temos de trabalhar todos juntos, em equipa.
“As condições que este Conselho Directivo está a dar às modalidades são enormes” Quais foram os maiores desafios que encontrou até agora? O maior desafio foi mudar o paradigma em relação à organização das modalidades. Estavam organizadas por “gavetas”, pois cada uma procurava por si própria as melhores soluções, sendo que neste momento é feito um trabalho global, numa lógica de Sporting CP – um só clube. A pandemia foi outro factor que dificultou o trabalho em todos os sentidos nas modalidades. Diria que foi uma fase muito penalizadora não só para os nossos jovens atletas, mas para todas as pessoas que deixaram de praticar o seu desporto. Isso vai reflectir‑se nos próximos anos e não temos possibilidade de recuperar se não trabalharmos bem. Esse foi um trabalho que os nossos professores e treinadores fizeram, de tentar recuperar os jovens e pô‑los novamente em níveis que perderam durante esses dois anos, foi difícil. Por outro lado, há também a questão dos hábitos, porque é cómodo estar em casa à frente da televisão, do computador e do telemóvel. É um trabalho que requer a ajuda dos pais, é necessário recuperar o tempo perdido.
“Neste momento temos mais de seis mil praticantes nas modalidades” Como avalia 2021/2022 relativamente à formação e desenvolvimento das modalidades? O grande balanço tem a ver com um dos objectivos do Clube na área das modalidades, que é o aumento do número de praticantes. Recordo‑me de que quando estive no Sporting CP a primeira vez, há mais de 30 anos, só a ginástica tinha mais de oito mil praticantes, sendo que o objectivo na altura era atingir os dez mil. Neste momento temos um total de mais de seis mil praticantes e no próximo ano queremos chegar aos 7500. Ter uma grande base de recrutamento é fundamental para a formação e
o Sporting CP tem obrigação, até pelo seu estatuto, de apostar na competição e no lazer ou recreação. Esta última é uma área em que estamos a investir muito, queremos alargar a prática desportiva e sair um pouco daquilo que são os clubes tradicionais, nomeadamente nos desportos colectivos, em que há uma grande selectividade. Se qualquer pessoa pode vir a Alvalade fazer ginástica ou natação porque há oferta, porque é que isso não é possível no voleibol, basquetebol ou futsal? É esse trabalho que estamos a fazer. No último ano criámos uma academia de voleibol que tem cerca de 50 praticantes dos 14 aos 20 anos, alguns do desporto escolar e outros sem lugar nas equipas. Eles gostam da modalidade e querem desenvolvê‑la, e ali podem treinar três vezes por semana e evoluir com as cores do Sporting CP. Uma outra área que iremos iniciar já esta época é nos adultos: Masters. Está certo no voleibol e, talvez, no basquetebol, é tudo uma questão de disponibilidade de instalações desportivas. Queremos ter antigos praticantes connosco, a praticar a sua modalidade de eleição, a treinar, a jogar e a conviver. É um nicho que queremos agarrar para dar-lhes a oportunidade de treinarem e representarem o Sporting CP.
“O Clube tem obrigação, até pelo seu estatuto, de apostar também no desporto de lazer” Além dessa, que outras estratégias estão a ser postas em prática para atrair mais praticantes? Esse trabalho também tem muito a ver com aquilo que os atletas seniores fazem, porque são eles as referências de qualquer jovem. Um jovem que comece a prática desportiva necessita de olhar lá para cima, para os ídolos, e nós temos muitos. Temos equipas superdotadas, atletas do mais alto nível, e é fundamental que eles sejam a amostra do Clube. Outro ponto importante é a ligação entre a formação e os seniores, e este ano tivemos um conjunto de iniciativas nos jogos das equipas principais, onde tivemos a preocupação de ter a formação presente. É fundamental.
“Quem está a começar necessita de olhar lá para cima, para os ídolos, e nós temos muitos” Vários jogadores da formação subiram na última épo‑ ca às respectivas equipas seniores e outros assumiram‑ ‑se mesmo como peças fundamentais. É um sinal do trabalho realizado? É um longo caminho que estamos a percorrer. O investimento que está a ser feito na formação tem como objectivo trazer mais jovens para as equipas seniores. Por um lado, através da melhoria do trabalho da própria formação, com a qualificação dos treinadores, melhoria das instalações desportivas e dos equipamentos de treino, além ainda do aumento do número de instalações, que é um problema na cidade de Lisboa. Esse é um caminho que vai levar algum tempo, mas por outro lado fizemos também um investimento na área da prospecção e scou‑ ting, que tenta trazer alguns dos melhores atletas para o Sporting CP. A juntar a isso, temos de criar também melhores condições para atrairmos e acolhermos jovens de outras zonas do país. As partes escolar, familiar e desportiva têm de estar integradas, não podemos olhar apenas para o rendimento desportivo. Temos de avaliar através de uma perspectiva global, pois ali está um jovem que está a crescer e temos de o formar, o que vai ao encontro do próprio ADN do Clube.
Qual é a importância de estes jovens beberem do ADN Sporting desde cedo na formação? Como professor, acredito na formação e esse é um trabalho de formação. Se formarmos bem uma criança desde pequena, ou seja, se ela vir bons exemplos nos seniores, nos pavilhões, nos ginásios, nas piscinas e nas pistas, certamente estaremos a formar uma boa pessoa. Depois vem a parte do atleta, e aí a competência dos treinadores, as condições de treino e a melhoria do processo de treino têm de ser um grande investimento. O ADN do Clube, os valores, os princípios, o eclectismo, o respeito e a ética desportiva são fundamentais no trabalho da formação.
“O investimento na formação tem como objectivo trazer mais jovens para as equipas seniores” Tanto a ginástica como a formação do hóquei em pa‑ tins passaram a ter novas casas na última época, em di‑ ferentes espaços em Sacavém. Este foi um dos grandes feitos de 2021/2022? O investimento ao nível das instalações, que é um dos défices do Clube no que toca às modalidades colectivas, faz parte dos objectivos do Conselho Directivo. A criação da academia da ginástica em Sacavém foi uma necessidade, para oferecer melhores condições aos atletas de alto rendimento. Temos lá a acrobática, que foi um regresso ao Sporting CP, o teamgym e os trampolins. Quanto ao hóquei em patins, era um objectivo que o Sporting CP já perseguia há muitos anos. Trabalhar no Pavilhão do Livramento [em Mafra], a uma grande distância de Lisboa, foi um trabalho notável pela dificuldade. Neste momento, com esta melhoria nas infra‑estruturas, o Sporting CP tem obrigação de ser um dos melhores clubes a formar no hóquei em patins. Com instalações exclusivas para a modalidade, podemos fazer um trabalho sequencial nos vários escalões, aumentando o número de praticantes e o tempo e a qualidade dos treinos. Que outros projectos estão a ser desenvolvidos neste momento? Neste momento há conversações adiantadas com a Câmara Municipal de Lisboa na perspectiva de nos ser cedido um terreno para a possível construção de dois pavilhões que vão acolher as modalidades colectivas do Clube. Temos grande dificuldade em dar resposta a tantas equipas, treinos e jogos semanais, e essa é uma área fundamental para o Sporting CP poder dar o salto. E o que podemos esperar de 2022/2023? Estamos a trabalhar com novos parceiros, como escolas, colégios, juntas de freguesia, câmaras municipais e empresas, o que nos vai permitir alargar o raio de acção, estar em mais locais e tornar a marca Sporting CP cada vez mais presente juntos dos jovens. Além disso, temos um objectivo fundamental para a próxima época que é chegar aos 7500 praticantes, e acho que é possível. Queremos ter objectivos ambiciosos, temos de olhar lá para cima e não nos podemos nivelar por baixo. Para um trabalho de qualidade, a qualificação dos treinadores é também fundamental e queremos que haja um acompanhamento e uma supervisão dos técnicos por parte dos coordenadores de cada modalidade, bem como uma ligação ainda mais presente entre os treinadores seniores e os da formação. São estas as linhas de acção para a formação.