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Francisco Trincão

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Rochinha

Rochinha

Durante esses 36 anos ocupou vários cargos de relevo ligados ao desporto. O que destaca?

Fiz muita coisa, mas destacaria talvez a ligação ao hóquei em patins, modalidade que me é muito querida e na qual trabalhei em clubes e selecções como preparador físico. Fiz ainda trabalho autárquico, fui professor de escola e universitário, gestor de empresa, tive projectos na área dos eventos desportivos, estive na coordenação do desporto escolar da Grande Lisboa, fui director-técnico em algumas Federações (ginástica, trampolins e desportos acrobáticos e patinagem), coordenador desportivo (esgrima) e coordenador do projecto de andebol de cinco na Federação de Andebol de Portugal. Estive envolvido em diversas actividades que me permitem ter uma experiência muito alargada e uma visão do desporto que é fundamental para o desempenho das minhas funções.

O que o moveu neste regresso a casa e como está a cor‑ rer este quase ano e meio em funções?

O que me moveu foi ver um Sporting CP diferente, com muita vontade de crescer e de se desenvolver ao nível das modalidades, de iniciar uma nova etapa. Foi e está a ser um desafio. Quanto aos projectos, não temos limite neste momento. As condições que este Conselho Directivo está a dar às modalidades são enormes. Temos de trabalhar todos juntos, em equipa.

“As condições que este Conselho Directivo está a dar às modalidades são enormes”

“Neste momento temos mais de seis mil praticantes nas modalidades” “O Clube tem obrigação, até pelo seu estatuto, de apostar também no desporto de lazer”

“Quem está a começar necessita de olhar lá para cima, para os ídolos, e nós temos muitos” “O investimento na formação tem como objectivo trazer mais jovens para as equipas seniores”

Quais foram os maiores desafios que encontrou até agora? O maior desafio foi mudar o paradigma em relação à organização das modalidades. Estavam organizadas por “gavetas”, pois cada uma procurava por si própria as melhores soluções, sendo que neste momento é feito um trabalho global, numa lógica de Sporting CP – um só clube.

A pandemia foi outro factor que dificultou o trabalho em todos os sentidos nas modalidades.

Diria que foi uma fase muito penalizadora não só para os nossos jovens atletas, mas para todas as pessoas que deixaram de praticar o seu desporto. Isso vai reflectir-se nos próximos anos e não temos possibilidade de recuperar se não trabalharmos bem. Esse foi um trabalho que os nossos professores e treinadores fizeram, de tentar recuperar os jovens e pô-los novamente em níveis que perderam durante esses dois anos, foi difícil. Por outro lado, há também a questão dos hábitos, porque é cómodo estar em casa à frente da televisão, do computador e do telemóvel. É um trabalho que requer a ajuda dos pais, é necessário recuperar o tempo perdido.

Como avalia 2021/2022 relativamente à formação e desenvolvimento das modalidades?

O grande balanço tem a ver com um dos objectivos do Clube na área das modalidades, que é o aumento do número de praticantes. Recordo-me de que quando estive no Sporting CP a primeira vez, há mais de 30 anos, só a ginástica tinha mais de oito mil praticantes, sendo que o objectivo na altura era atingir os dez mil. Neste momento temos um total de mais de seis mil praticantes e no próximo ano queremos chegar aos 7500. Ter uma grande base de recrutamento é fundamental para a formação e o Sporting CP tem obrigação, até pelo seu estatuto, de apostar na competição e no lazer ou recreação. Esta última é uma área em que estamos a investir muito, queremos alargar a prática desportiva e sair um pouco daquilo que são os clubes tradicionais, nomeadamente nos desportos colectivos, em que há uma grande selectividade. Se qualquer pessoa pode vir a Alvalade fazer ginástica ou natação porque há oferta, porque é que isso não é possível no voleibol, basquetebol ou futsal? É esse trabalho que estamos a fazer. No último ano criámos uma academia de voleibol que tem cerca de 50 praticantes dos 14 aos 20 anos, alguns do desporto escolar e outros sem lugar nas equipas. Eles gostam da modalidade e querem desenvolvê-la, e ali podem treinar três vezes por semana e evoluir com as cores do Sporting CP. Uma outra área que iremos iniciar já esta época é nos adultos: Masters. Está certo no voleibol e, talvez, no basquetebol, é tudo uma questão de disponibilidade de instalações desportivas. Queremos ter antigos praticantes connosco, a praticar a sua modalidade de eleição, a treinar, a jogar e a conviver. É um nicho que queremos agarrar para dar-lhes a oportunidade de treinarem e representarem o Sporting CP.

Além dessa, que outras estratégias estão a ser postas em prática para atrair mais praticantes?

Esse trabalho também tem muito a ver com aquilo que os atletas seniores fazem, porque são eles as referências de qualquer jovem. Um jovem que comece a prática desportiva necessita de olhar lá para cima, para os ídolos, e nós temos muitos. Temos equipas superdotadas, atletas do mais alto nível, e é fundamental que eles sejam a amostra do Clube. Outro ponto importante é a ligação entre a formação e os seniores, e este ano tivemos um conjunto de iniciativas nos jogos das equipas principais, onde tivemos a preocupação de ter a formação presente. É fundamental.

Vários jogadores da formação subiram na última épo‑ ca às respectivas equipas seniores e outros assumiram‑ ‑se mesmo como peças fundamentais. É um sinal do trabalho realizado?

É um longo caminho que estamos a percorrer. O investimento que está a ser feito na formação tem como objectivo trazer mais jovens para as equipas seniores. Por um lado, através da melhoria do trabalho da própria formação, com a qualificação dos treinadores, melhoria das instalações desportivas e dos equipamentos de treino, além ainda do aumento do número de instalações, que é um problema na cidade de Lisboa. Esse é um caminho que vai levar algum tempo, mas por outro lado fizemos também um investimento na área da prospecção e scou‑ ting, que tenta trazer alguns dos melhores atletas para o Sporting CP. A juntar a isso, temos de criar também melhores condições para atrairmos e acolhermos jovens de outras zonas do país. As partes escolar, familiar e desportiva têm de estar integradas, não podemos olhar apenas para o rendimento desportivo. Temos de avaliar através de uma perspectiva global, pois ali está um jovem que está a crescer e temos de o formar, o que vai ao encontro do próprio ADN do Clube.

Qual é a importância de estes jovens beberem do ADN Sporting desde cedo na formação?

Como professor, acredito na formação e esse é um trabalho de formação. Se formarmos bem uma criança desde pequena, ou seja, se ela vir bons exemplos nos seniores, nos pavilhões, nos ginásios, nas piscinas e nas pistas, certamente estaremos a formar uma boa pessoa. Depois vem a parte do atleta, e aí a competência dos treinadores, as condições de treino e a melhoria do processo de treino têm de ser um grande investimento. O ADN do Clube, os valores, os princípios, o eclectismo, o respeito e a ética desportiva são fundamentais no trabalho da formação.

Tanto a ginástica como a formação do hóquei em pa‑ tins passaram a ter novas casas na última época, em di‑ ferentes espaços em Sacavém. Este foi um dos grandes feitos de 2021/2022?

O investimento ao nível das instalações, que é um dos défices do Clube no que toca às modalidades colectivas, faz parte dos objectivos do Conselho Directivo. A criação da academia da ginástica em Sacavém foi uma necessidade, para oferecer melhores condições aos atletas de alto rendimento. Temos lá a acrobática, que foi um regresso ao Sporting CP, o teamgym e os trampolins. Quanto ao hóquei em patins, era um objectivo que o Sporting CP já perseguia há muitos anos. Trabalhar no Pavilhão do Livramento [em Mafra], a uma grande distância de Lisboa, foi um trabalho notável pela dificuldade. Neste momento, com esta melhoria nas infra-estruturas, o Sporting CP tem obrigação de ser um dos melhores clubes a formar no hóquei em patins. Com instalações exclusivas para a modalidade, podemos fazer um trabalho sequencial nos vários escalões, aumentando o número de praticantes e o tempo e a qualidade dos treinos.

Que outros projectos estão a ser desenvolvidos neste momento?

Neste momento há conversações adiantadas com a Câmara Municipal de Lisboa na perspectiva de nos ser cedido um terreno para a possível construção de dois pavilhões que vão acolher as modalidades colectivas do Clube. Temos grande dificuldade em dar resposta a tantas equipas, treinos e jogos semanais, e essa é uma área fundamental para o Sporting CP poder dar o salto.

E o que podemos esperar de 2022/2023?

Estamos a trabalhar com novos parceiros, como escolas, colégios, juntas de freguesia, câmaras municipais e empresas, o que nos vai permitir alargar o raio de acção, estar em mais locais e tornar a marca Sporting CP cada vez mais presente juntos dos jovens. Além disso, temos um objectivo fundamental para a próxima época que é chegar aos 7500 praticantes, e acho que é possível. Queremos ter objectivos ambiciosos, temos de olhar lá para cima e não nos podemos nivelar por baixo. Para um trabalho de qualidade, a qualificação dos treinadores é também fundamental e queremos que haja um acompanhamento e uma supervisão dos técnicos por parte dos coordenadores de cada modalidade, bem como uma ligação ainda mais presente entre os treinadores seniores e os da formação. São estas as linhas de acção para a formação.

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