tinha a função de revestir interiores como cozinhas, quartos de banho e áreas comuns. A tecnologia cerâmica corrente, à época, era a majólica1 e o pó-de-pedra2. Com a crescente demanda de azulejos para aplicação no exterior sucedeu, em paralelo, o processo de industrialização e de modernização tecnológica das oficinas antigas e o estabelecimento de novas empresas, ambas incorporaram novas máquinas e ocorreu um incremento no número de operários. Este aumento de produção levou a uma consequente diminuição dos custos, fazendo do azulejo um produto mais democrático, permitindo um uso mais massivo. Os edifícios onde estes azulejos foram incorporados eram, na cidade do Porto, construídos em alvenaria de pedra (granito) e o azulejo desempenhou, concomitantemente, uma função decorativa ao ser uma camada de acabamento e funções complementares (funcionais) ao contribuir para a impermeabilização do sistema e aumentar significativamente a respetiva durabilidade. Esta forma de revestimento caracteriza e marca uma época histórica por influir no desenho da mancha da urbe - identidade conferida pela harmonia (ou desarmonia) dos ritmos cromáticos, de desenhos, de formas e de texturas, em diálogo. A qualidade e quantidade de panos de azulejo que a cidade apresenta tem uma dimensão sem paralelo na Europa de esse período e que, na atualidade, funciona como memória e testemunho singular. Contudo, para a população em geral o século XIX não está ainda muito distante, logo corresponde a uma época excessivamente próxima ao tempo atual, o que tem travado a atribuição de carácter de património único e característico, que na realidade tem. A valoração desta arte de ornamentação de cariz popular, por parte de um número restrito de pessoas, data dos anos oitenta do século passado e com o decurso dos tempos tem crescido de forma manifesta. Não se enquadrando na noção de “Monumento”, a maioria de este património de imóveis que exibem azulejos nas fachadas públicas são edifícios habitacionais, mais ou menos modestos que refletem as pessoas que os erigiram e os habitaram: os gostos; a cultura; as histórias e economias pessoais, regionais e nacionais; as crenças; a sociedade; e o próprio urbanismo. O revestimento funciona como interface entre o público e o privado, protege, exibe, seduz. Numa utilização em amplas áreas da cidade, o azulejo parece vestir o corpo orgânico urbano, transpirando o seu vivenciar. Corpo orgânico com a sua anima, o seu genius loci. A crescente preocupação com este tipo de património não tem sido manifestamente suficiente para permitir a manutenção dos revestimentos cerâmicos de forma sistemática e denota-se que os conhecimentos práticos fundamentais
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