Bocage e a espiritualidade

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Bocage e a Espiritualidade Antonio Carneiro (Bélier)

Prefácio Quando, em Portugal ou no Brasil, alguém faz referência a Bocage, vem logo à memória a idéia de um poeta vadio, frequentador das noites boémias de uma Lisboa ainda traumatizada com o terramoto devastador que a assolara anos antes, com a sua sociedade decadente, a sua corte de hábitos hipócritas, de cujos desvios comportamentais se valia a pena satírica bocageana como mote ideal à sua observação atenta. A maioria das pessoas, entre as quais muitos críticos literários, ainda hoje entendem que o vate sadino esbanjou o seu enorme talento em produções de baixo nível, acentuadamente satíricas, burlescas, eróticas e até mesmo pornográficas, durante longos serões da madrugada lisboeta, nos improvisados palcos das tascas e botequins locais. Ao considerar o trajeto de vida de Bocage, ver-se-á facilmente que tal caminho muito terá contribuído para o seu, por vezes, descompassado comportamento. Nascido em Setúbal, em 1765, Manuel Maria Barbosa du Bocage viu a sua mãe falecer quando tinha apenas dez anos de idade e aos dezasseis já assentava praça no regimento de infantaria aquartelado nesse seu “pátrio Sado”, como diria mais tarde. Aos dezoito anos, transferiu-se para o curso da Companhia dos Guardas-Marinhas, em Lisboa, recém-criado na altura, o qual funcionava como uma das formações ligadas à Academia Real da Marinha, que formava engenheiros navais. Ao cabo de dez meses de frequência às aulas, a 6 de junho de 1784, no livro de registo dos oficiais do Corpo da Marinha pode ler-se

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