Revista Linha Direta

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Entrevista

Rosa Cardoso: Nossa Comissão surgiu quase 50 anos depois do golpe e 30 após o fim dos governos militares. É notável como a Comissão da Verdade se expandiu mediante o surgimento de mais de 100 comissões em todo o País e 150 comitês por memória, verdade e justiça. Esperamos ainda crescer mais na reta final de nosso mandato. Temos tido também uma presença significativa na mídia. Já começamos a fazer nosso relatório e apresentaremos ao público algumas das nossas conclusões. LD - No início dos trabalhos existiam mais de 140 desaparecidos políticos no País. A Comissão conseguiu elucidar estes casos? RC - Elucidar em termos de comissão da verdade não é somente esclarecer como as pessoas efetivamente morreram ou onde foram enterradas, como faremos em vários casos. Nestes, estamos trabalhando com uma equipe de peritos que examinam laudos necroscópicos, acompanham processos de exumação, reveem autos de resistência, denunciando

O golpe e a ditadura retrocederam as condições de vida dos trabalhadores brasileiros 6

Linha direta em revista

foto: Marcelo Oliveira / ASCOM – CNV

Linha Direta - Qual o balanço que a Sra. faz do trabalho da Comissão Nacional da Verdade desde sua criação em 2011?

Da esquerda para a direita: Rosa Cardoso, Pedro Dallari (atual coordenador), José Carlos Dias, Paulo Sérgio Pinheiro, Maria Rita Kehl e José Paulo Cavalcanti.

farsas dos agentes da repressão e de seus comandos e indicando a forma como as pessoas morreram. Mas fizemos e estamos fazendo audiências públicas, nas quais ouvimos vítimas e testemunhas que também esclarecem como ocorreram a tortura, os desaparecimentos e as mortes. LD - O Chile e a Argentina, por exemplo, também tiveram Comissões da Verdade. Quais as diferenças entre o trabalho realizado naqueles países e o que é feito no Brasil? RC – A nossa não tem a centralidade social que tiveram as comissões da Argentina e do Chile, instaladas ainda quando aquelas sociedades faziam o luto pelos seus filhos e parentes. A comissão argentina trabalhou somente com depoimentos das vítimas. Não indicou o nome dos autores dos fatos. O Chile teve três comissões da verdade e também trabalhou com

estes depoimentos. O Chile não indicou autores. O Peru, El Salvador e o Paraguai o fizeram. Mas na Argentina e no Chile, depois da prisão de Pinochet, houve judicialização dos casos. Nos dois países os julgamentos estão em curso. LD - No decorrer das investigações da Comissão, qual fato ou acontecimento chamou mais a sua atenção? RC - O interesse da mídia em saber o que a Comissão Nacional da Verdade faz, seja para apoiá-la ou para desqualificar a sua atuação. LD - Existe um ramo de investigação na CNV que tenta elucidar a repressão que sofreu o Movimento Sindical. Como este trabalho é realizado? RC - Por intermédio de um Grupo de Trabalho específico, que reúne 10 Centrais do Movimento Sindical e busca esclarecer 11 questões vinculadas à perseguição, prisão,


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