Jornal Dezembro 2011

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Leituras II

Acopiara - Andança nos nomes das ruas JB Serra e Gurgel (*) Os nomes das ruas, praças, parques, jardins, avenidas, bulevares, becos, vielas, marginais, viadutos, bairros, nas grandes metrópoles, cidades, vilas e povoados sempre foram mudados pelos séculos e séculos, amém. Em São Paulo, há grande preocupação com a futura renomeação das Marginais Pinheiros e Tietê. Coisas do Itaquerão! Mas São Paulo tem pencas de nomes para emplacar as marginais. Não importa a conotação negativa, pois não faz muita diferença um corrupto de um marginal! O único dado novo da questão surgiu no lado de cá do Atlântico que proibiu nome de bem público com gente viva. Só os mortos podem ser homenageados. Foi um grande avanço, já que o puxasaquismo ao alcance de todos seria um prato cheio para homenagear safados e corruptos. Dificilmente escaparíamos das primeiras damas ou dos primeiros damos! E até das raparigas e dos filhos delas! Do contrario as ruas do Brasil, do Oiapoque ao Chuí, estariam infestadas de nomes de Prefeitos, governadores, deputados, senadores, vereadores, na sua maioria vagabundos do mais baixo nível. Seriamos um país de canalhas, cantados em versos, prosa e placas! Há também entre nós uma pratica de botar nomes em ruas, praças, avenidas, alamedas, becos, vielas, bairros de pessoas que nada tem a ver com a nossa cidade, com a cara de nossa gente, ou de heróis de pés de barro, bolsos furados e contas em paraísos fiscais. Aqui no Ceará a pobreza de heróis – o cearense é avesso à heróis - fez com que tomássemos emprestados os de outros estados! Em Acopiara, muitas mudanças ocorreram, nos nomes de ruas e praças, sob protestos ou não. E há casos de esquecimento, pois jamais puseram nomes dos fundadores da cidade em vias de expressão: como Pedro das Lages, Henrique Gurgel do Amaral Valente e Francisco Guilherme de Lima. No caso do meu bisavó, Vovô do Rio, ganhou uma pracinha,na antiga rua Farias Brito (hoje Pedro Alves de Oliveira) da qual sumiu seu busto, mas lá coloquei uma placa chumbada para marcar nossos 100 na cidade. Espero que não arranquem a placa. Recordo-me que dias antes de fixar o nosso marco centenário me disseram que a praça iria mudar de nome... Chegamos antes e estamos em vigilia cívica. A praça Monsenhor Coelho mudou para praça tabelião José Marques Filho. Muita gente não gostou, por ódios políticos sempre lembrados. Monsenhor Coelho construiu a capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que o padre João Antonio de Araújo, outro esquecido, transformou na nossa linda Igreja matriz. José Marques veio de Jaguaribe e construiu sua vida ao lado, com sua casa, e atrás da Praça, com seu cartório, já na 3ª. geração. São quase 100 anos de presença. A rua Santos Dumont ganhou mudou para rua Cazuzinha Marques (José Marques de Oliveira). Nada mais justo, pois Santos Dumont está para Acopiara como Virgilio Távora para Porto Alegre. Já tio Cazuzinha, pobre e digno, morou a vida inteira em dois endereços da rua, desde que chegou do Jaguaribe, em 1808, com minha tia Maria Leopoldina, irmã de meu avô materno, Nelson Nunes Serra. A rua da Escadinha ganhou duas denominações, Lindoval José de Lima e João Holanda Lima. Nada mais justo. Rua Siqueira Campos mudou para avenida Paulino Felix. Adequado. A rua marechal Deodoro mudou para rua Francisco Gurgel Valente, meu avô, talvez o mais antigo comerciante da rua e que ocupou espaço no comércio também com seus filhos, Nertan, Nestor, Francisco,Nicanor, Neófito, Nilo (até hoje no local) e com seu neto, Carlúcio. Honra e glória ao enfadado marechal Deodoro que se não proclamasse a República teria sido preso pelos republicanos raivosos. Deodoro, monarquista, relutou até a undécima hora. A República custou a chegar a Acopiara. Acho que parou em Mombaça ou se mudou de mala e cuia para Iguatu. Homenagens justas: A rua Farias Brito mudou para Av. Pedro Alves de Oliveira, honras ao empreendedor. A rua dom Quintino mudou para rua tabeliã Maria Nilsen Marques, nora de José Marques, casada com seu filho, Evandro. A rua Quintino Cunha mudou para Emidio Alves de Almeida. A rua Quintino Bocayuva mudou para Eduardo Gurgel Valente. A rua padre Leopoldo Rolim mudou para Francisco Gomes de Oliveira Os ex-prefeitos falecidos foram lembrados: Celso de Oliveira Castro (Icó), Alfredo Nunes de Melo (Isidoro) ,Francisco Alves Sobrinho, Miguel Galdino de Oliveira (Saboeiro), Jairo Alves, Edmilson Teixeira. Registre-se que a rua do Papouco e a rua dos Dodôs mudaram para Santa Isabel. A rua Rabo da Gata mudou para rua Bonsucesso e o Alto dos “Bodes” mudou para rua 7 de Setembro. Pode-se lamentar numa “cidade católica” seus primeiros padres foram cassados, especialmente, monsenhor Jose Coelho, padre Leopoldo Rolim, e padre João Antonio de Araújo, cujos restos mortais descansam em paz na Igreja matriz, De temperamento forte e impulso, fez amigos e inimigos Pior do que isso só o esquecimento aos povoadores e pioneiros, da família Lages e Francisco Guilherme de Lima. (*) JB Serra e Gurgel (Acopiara), jornalista e escritor.

Ceará em Brasília

Homenagem

Formas e cores de Heloísa Juaçaba

Com vasta produção artística que intercala com linguagens como a pintura, a escultura e o desenho, Heloísa Juaçaba é homenageada com duas exposições especiais na cidade Com seu movimento preciso e equilíbrio cromático, Heloísa Juaçaba é uma das mulheres que ajudou a escrever a história das artes no Ceará. Há em sua poética uma forte inclinação à geometria das figuras. A artista cria composições que se formulam pela disposição perfeita de cada elemento, cuidadosamente, utilizado por ela, sejam por meio de linhas, espaços e cores. Por toda essa produção, repleta de nuances e simbolismos, Heloísa Juaçaba recebeu recentemente duas homenagens - na XVI Unifor Plástica e no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) Sala especial Ocupando o Espaço Cultural Unifor, a edição 2011 da Unifor Plática tem a curadoria do professor do curso de Belas Artes da Universidade de Fortaleza, Pablo Manyé. Nela, Juaçaba ganhou uma sala especial, em sua homenagem. O espaço é composto por cerca de 20 obras, de diferentes fases da artista. Para Manyé, a pintora tem uma arte geométrica com profundas referências à cultura nordestina. “Heloísa é uma figura importante para a cidade. Ela foi uma das primeiras pessoas que conheci quando cheguei em Fortaleza. Homenageá-la é fazer justiça à produção local”. Em texto curatorial o professor escreve: “a arte no Ceará se desenvolve graças a pessoas que ajudaram a criar bases que podem sustentá-la. Necessitamos de heróis, modelos, nos quais nos espelhamos para continuar essa sustentação. Certamente, uma de nossas heroínas é Heloísa Juaçaba”. Manyé acredita que a produção de Heloísa vai além da beleza, analisa o mundo e suas diferentes facetas, reconstruindo seus planos e cromatismos. “Heloísa também trouxe ao discurso artístico elementos do artesanato, tão presente no Nordeste. Ser regional é, sem dúvida, um caminho sólido para chegar ao universal”. Amostras de sua arte também podem ser vistos no CCBNB, até 31 de dezembro. Seus relevos brancos fazem parte do Projeto Acervo Aberto da própria instituição, coordenado por Jaqueline Medeiros. “Junto com as exposições que acontecem no Centro Cultural, procuramos trazer ao público obras de nosso acervo, que, de alguma forma, se relacionam com elas. Os trabalhos de Heloísa dialogam tanto com as duas últimas exposições de pintura que estavam em cartaz aqui, como com a próxima que será aberta na próxima terça-feira”, explica Medeiros. A coordenadora observa que os relevos brancos de

Juaçaba, construídos com punho de rede sobre eucatex, lembram muito as produções elaboradas pelo pintor russo Kazimir Malevitch, um dos precursores da arte abstrata geométrica e fundador da corrente suprematista, que defendia uma arte livre de finalidades práticas e comprometida com a pura visualidade plástica. “A artista traz para sua pintura uma questão construtivista. Ela tem um desenho muito matemático, e o uso da cor branca nestas obras faz referência a um estado puro e imaterial, próprios de Malevitch”, ressalta. Heloísa Juaçaba justifica como o ponto de partida para seus “relevos brancos”, a sua constante paixão pela arte popular brasileira. Certa vez passeando por lojas que existiam na parte baixa do antigo Mercado Central, ela encontrou um punho de rede que lhe chamou bastante atenção pela materialidade. A artista decidiu criar composições com o “achado”. A partir de um jogo de instrumentos cortantes e perfuradores para xilo, num manusear delicado e atento dos punhos, passando de um furo para o outro, de cima para baixo, de um lado para outro, nascia, então, os relevos de Juaçaba. E, com eles, uma de suas fases mais criativas. Fique Por Dentro Pinceladas Cearense da Serra de Guaramiranga, Heloísa Juaçaba iniciou sua carreira artística na década de 1950, na extinta Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap). Ela expôs pela primeira vez no “Salão dos Novos” e foi premiada nos Salão de Abril, Unifor Plástica e Mulher Maio Mulher. Assumiu diversas funções, como diretora do Departamento da Cultura da Prefeitura de Fortaleza (1969) e da Casa de Cultura Raimundo Cela (1971), o antigo Centro de Artes Visuais de Fortaleza. Além de pintora, Juaçaba é escultora, tapeceira, desenhista e gravadora. Dentre as homenagens que recebeu, a artista foi agraciada com o Prêmio Sereia de Ouro, em 1989. Exposições Sala especial para Heloísa Juaçaba na XVI Unifor Plástica. Acesso e estacionamento gratuitos. Em cartaz até 18 de dezembro, no Espaço Cultural Unifor. Visitas de terça-feira a sexta-feira, das 8 horas às 18 horas, e aos sábados e domingos, das 10 h oras às 18 horas. Agendamento de visitas guiadas para grupos de visitantes pelo telefone (85) 3477.3319 Projeto “Acervo Aberto”, com obras de Heloísa Juaçaba. Em cartaz até 31 de dezembro, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB-Fortaleza). Gratuita. Visitas de terça-feira a sábado, de 10 horas às 20 horas; aos domingos, de 12 horas às 18 horas. Contato: (85) 3464.3108 Ana Cecília Soares, Repórter

veja o site da Casa do Ceará em Brasília: www.casadoceara.org.br

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