Revista E - outubro/2021

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ALMANAQUE PAULISTANO

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ser humano carrega consigo, muitas vezes, o desejo de viajar no tempo com a intenção de observar o modo de vida em uma época distante. Sem máquinas ou outras tecnologias para percorrer esse itinerário, nos consolamos com a criação de um simulacro a partir de coordenadas geográficas, mais precisamente de ruas, praças, parques e outros espaços por onde andaram personagens de séculos passados que marcaram a História. Lugares que podemos visitar e por meio dos quais podemos recriar, por exemplo, os passos de artistas que protagonizaram a Semana de Arte Moderna de 1922, na cidade de São Paulo. Um convite para se imaginar na plateia do Theatro Municipal entre os dias 13 e 17 de fevereiro daquele ano, há quase um século; para observar, de trás de alguma árvore do Jardim da Luz, a jovem artista Tarsila do Amaral com seu caderno de desenhos; ou mesmo tomar um café com Mário de Andrade em sua residência na Barra Funda. Mapa na mão? É hora de partir...

JARDIM DA LUZ A região que hoje conhecemos como o centro histórico da capital paulista já foi cenário de transformações da economia, da industrialização, da chegada de imigrantes europeus e asiáticos, entre outros, bem como de mudanças culturais do início do século 20. Era um local de passagem, encontro e inspiração para os modernistas, a exemplo da artista Tarsila do Amaral (1886-1973). A artista chegou a morar no bairro Campos Elíseos e costumava caminhar de casa até o parque Jardim da Luz – criado originalmente como Horto Botânico e, em 1825, aberto ao público como Jardim Público da Luz. Aos que hoje frequentam o local, poderia ter se sentado em um dos bancos, à sombra das árvores, a jovem pintora, que costumava ir ao parque para desenhar em seu caderno. Mais tarde, seria em seu ateliê na Rua Vitória, nº 133, no bairro Santa Ifigênia, que a pintora de Abaporu (1928) receberia amigos do movimento modernista. Recém-chegada ao Brasil, vinda da Europa quatro meses depois da Semana de 1922, “nesse período, irradiando talento e simpatia, favorecia uma convivência amigável entre as pessoas do ‘grupinho’ (Grupo dos 5: formado por Tarsila, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti e Menotti del Picchia), enquanto se alimentava da São Paulo modernista de junho a dezembro de 1922”, descreveu Nádia Battella Gotlib, professora da Universidade de São Paulo (USP) e autora de Tarsila do Amaral: A Modernista (Edições Sesc São Paulo, 2018).

Vista aérea do Parque da Luz

Joca Duarte

Escultura de bronze Três Jovens (1939), de Lasar Segall Joca Duarte

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