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Editorial Editorial

Falemos de futuro

As origens de Alhos Vedros remontam ao período anterior à reconquista cristã. Há prova histórica de que os seus habitantes resistiram às investidas muçulmanas.

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Alhos Vedros chegou a ser sede de concelho. O desenvolvimento económico e populacional que se verificou entre os séculos XIV e XVI levaram a que em 1479, recebesse o poder municipal e, em 1514, o foral, concedido por D. Manuel I.

O seu território chegou a abranger os actuais concelhos do Barreiro e da Moita, estendendo-se desde a ribeira de Coina a Sarilhos Pequenos, sendo reconhecida como a terceira localidade da região (depois de Palmela e Almada). Por várias vicissitudes a vila de Alhos Vedros foi perdendo influência a partir de meados do séculoXVIedoséculoXVII.

Vivia-se da pesca, da agricultura e do transporte fluvial. No século XX os padrões alteraram-se em especial com o caminho-de-ferro e com o processo de industrialização. Até aos anos 60 o sector corticeiro seria o mais importante. Dos anos70eatéaosanos90,osectortêxtilassumiuapredominâncianaeconomiaaté aoprocessodedesindustrializaçãoqueresultoudeopçõespolíticasedasregrasde adesão à União Europeia que foram aceites sem questionar as consequências. Pagou-separanãoseproduzir,pagou-separadesindustrializar.

Entre1985e2009registaram-seenormesquebrasnotrabalhoporcontadeoutrem no conjunto de todas as indústrias transformadoras. A Península de Setúbal foi particularmente castigada, porque passou de 65 834 trabalhadores por conta de outrem em 1985 para 31 100 em 2009, em alguns períodos a taxa de desindustrializaçãofoi3a4vezessuperioràmédiaeuropeia.

Editorial Editorial

Alhos Vedros é um bom exemplo. A Norporte é a situação mais conhecida. Em Agosto de 1999 e depois de alguns episódios negativos relacionados com a gestão da fábrica, foi assumido por um governo do Partido Socialista, o compromisso de viabilizar a empresa, chegando mesmo o governador civil de Setúbal, em plena campanha eleitoral, prometer aos trabalhadores que os problemas da Norporte seriam resolvidos Registe-se que a Norporte, com os seus 480 trabalhadores chegou a faturar 20 milhões de euros Bem equipada e dispondo de moderna tecnologia, a empresa viu os problemas avolumarem-se por opções de gestão e por inépcia do governo que muito prometeu e nada fez, deixando desamparados centenas de trabalhadores e milhares de pessoas que viviam do fruto do seu trabalho. A Norporte, bem como outras empresas, encerraram, não pagando salários em atraso. Assistimos neste concelho a um espetáculo infame, que consistiu na carga policial do Corpo de Intervenção da GNR sobre os trabalhadores que, na defesa do seu emprego, procuravam impedir a saída das máquinas da empresa.

Alhos Vedros, uma Vila como tantas outras, vibrava à hora de almoço com a saída dos trabalhadores das fábricas. Os trabalhadores davam vida à Vila histórica do concelho da Moita. Hoje quando passamos pelas fábricas encerradas e pelos restos degradados dos edifícios onde os trabalhadores pulsavam com energia e faziam o país avançar com a sua força de trabalho, só podemos ficar tristes e com vontade de alterar o estado das coisas.

Mas falemos de futuro e de o futuro que a Geografia muito generosamente presenteou Alhos Vedros. Alhos Vedros fica no coração da grande Área Metropolitana de Lisboa. Com os investimentos certos, adiados por sucessivos governos, Alhos Vedros tem todas as condições para se afirmar com um Pólo de desenvolvimento na região. A III Travessia do Tejo, o novo aeroporto em Alcochete, o alargamento do Metro Sul do Tejo a Alcochete, a Plataforma Logística, aliada à disponibilidade de espaço e com um investimento sério em equipamentos e em recursos humanos, Alhos Vedros e o concelho da Moita serão afirmados no contexto regional O mais importante já temos, as pessoas. Que olhemos para o futuro com confiança e determinação e com a coragem de tomar as decisões certas e assim “obrigar” outros a fazer o mesmo, pois estar no coração da região de Lisboa é estar no coração de Portugal e Alhos Vedros, como o concelho da Moita, estão no nosso coração.

Nuno Cavaco

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