SENSO (IN)COMUM - 57 - MAIO 2025

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S Seemmeennttees s d da a C Crriisse e

Cortes orçamentários e falta de prioridade fazem das fazendas da UFU um espaço negligenciado

Páginas 6 e 7

Cultura

Entre falhas na estrutura e força nos bastidores: o teatro segue vivo

Ciência e Tecnologia

Da fila do RU ao futuro da alimentação: a ciência faz a diferença.

Esporte

O esporte é para todos: sonhos precisam de investimento.

Página 4 Página 10

Página 9

EDITORIAL// CRÔNICA//

Às sombras da estrela

Contradições

Do esporte à alimentação os estu-

dantes da UFU

Ituiutaba a Pato

cercam o cotidi

dos os campi A

versidade carreg

tações, na m

financeiras

Nesta edição

reunimos relato

abismo entre o

o que tem conse

pela alimentaçã

falta de suco no

sitário quando

universidade tem

cia? A incoerênc

rentes cenários:

a ausência de in

pi avançado, se

recém inaugurad

blemas operacio

Ainda assim,

florescem É o c

mo o auxílio es com deficiência e o desenvolvimento de um aplicativo que organiza o aces-

so ao RU, pensados por quem está dentro da universidade, vivendo seus

desafios. A criatividade e o compromisso de estudantes e servidores

também aparecem em experimentos como a Fazendinha de Insetos, que reinventa a produção de rações, além de iniciativas que buscam a reflexão sobre o consumo elevado de álcool entre os estudantes

Este jornal não apenas denuncia, mas provoca A universidade é feita por pessoas, e é para elas que ela deve funcionar A edição 57 do Senso (In)comum é mais que um espelho das contradições: é um convite ao diálogo, à escuta e à construção coletiva de uma UFU mais coerente com a sua grandeza

Boa leitura! 

ENTRE DESAFIOS E CONQUISTAS, FÁBIO VLADIMIR

CONSTRÓI SUA TRAJETÓRIA COMO MULTIARTISTA FOTO: RIQUELMY MENEZES

Cresci com o sentimento de que meu primeiro presente foi o nome daquele que mais brilhava. Será que tudo que é dado precisa ser utilizado? Segui tentando honrálo, mostrando que também posso brilhar

Mostro que posso isso Ainda não sabia se dançava, se atuava ou se cantava. Talvez então eu poderia ser modelo, desfilar e, assim como um bom publicitário, atuar

Aos 14, encarava essa imensidão estrelada e me perguntava: “Há espaço para dois? Afinal, não temos o mesmo nome?”

De qualquer forma, continuei me movendo para fugir daquela luz, mas não consegui Não sei se aprendi com ele, mas sei que sou bom. Independente de tudo, tenho medo do seu brilho e acabo por me esconder na minha própria escuridão

O palco chama meu corpo à medida que vou crescendo Não posso fugir da minha natureza, mesmo que soubesse que, quando meu nome fosse chamado, poderiam

esperar por ele

co à dança urbana, nada mo encarnar um nome que rpetuava O medo ressoau desenvolvimento De um devo, sim, honrá-lo De rar a mim mesmo e agraue herdei

enas um nome O que me ma história de superação o ele, outra pessoa podepresente, mesmo sem same dando e chamar Elvis, ou até Miaria carregando nome e avelmente eu teria mais

Era disso que tinha meque se passa, eu crio mais ome Mas e aquele? Bom, dele. Me pertence em doqui, no palco, eu sou eu e já estive naquele grande Municipal de Uberlândia pelo menos 23 vezes. Quem está sou eu, e talvez podem achar que é ele, mas me orgulho Orgulho por saber que, se a estrela poderia estar lá, estou no caminho certo Se é o Fábio Vladimir pai ou júnior, só saberão aqueles que estiverem me assistindo. 

‘NA MINHA EPIDERME’ , DOCUMENTÁRIOAUTOBIOGRÁFICO DE FABIOVLADIMIR, FOI FILMADO EM SALAS DE DANÇA DA

Quando cortinas se fecham e luzes se apagam

Sem equipamentos e equipe técnica, teatro da UFU permanece inoperante meses após a inauguração

Assim que as portas do espaço cultural universitário se abriram em dezembro de 2024, a cidade ganhou um novo motivo para celebrar Após 15 anos de espera, a comunidade acadêmica e artística finalmente teria um ambiente essencial para o desenvolvimento da cultura na universidade. Durante uma semana, instrumentos, performances e

coreografias preencheram o palco Três me-

ses depois, o teatro permanece em silêncio, sem apresentações, sem público e sem vida.

Para quem observa além do espetáculo, o

breve momento de celebração tornou-se um

reflexo das dificuldades de se fazer cultura dentro da UFU Durante a inauguração, o lugar foi equipado com materiais e funcionários alugados para garantir que as apresentações ocorressem sem imprevistos No entanto, quando os eventos se encerraram, os equipamentos foram retirados e os profissionais temporários se despediram, restando apenas uma sala incompleta, sem estrutura definitiva para a continuidade das atividades culturais

A INTERMISSÃO ANTES DO PRIMEIRO ATO

A construção do teatro da UFU foi uma promessa que se arrastou por anos e enfrentou desafios administrativos, limitações orçamentárias e ajustes no planejamento. O projeto fez parte de uma proposta ambiciosa de expansão da infraestrutura cultural da universidade, um sonho para a comunidade que ansiava por um espaço moderno e equipado Mas, ao longo dos anos, essa expectativa foi corroída pelas barreiras impostas a cada etapa da construção, e, mesmo após a estreia dos palcos, a realidade revelou-se menos grandiosa do que o esperado. Florisvaldo Paulo Ribeiro Júnior, atual Pró-Reitor de Extensão e Cultura da UFU, expõe a fragilidade da inauguração: a obra sequer foi oficialmente entregue pela construtora, criando um limbo burocrático que impede o funcionamento do espaço “O teatro foi inaugurado, mas com uma série de problemas ainda por resolver” , comentou No papel, ele existe, porém, no cotidiano da universidade, permanece intocado, refém da ausência de materiais essenciais “O teatro não está dotado de um equipamento de som, de uma mesa de sonorização Então, por exemplo, um espetáculo que exija a microfonação dos atores e atrizes não é possível” , explicou o pró-reitor

No ambiente onde a arte deveria ecoar, o silêncio se instalou. A falta de estrutura, aliada à ausência de uma equipe técnica fixa, transformou o teatro em um espaço estático, à espera de um futuro incerto Sem profissionais responsáveis pela operação dos equipamentos e manutenção do local, a área recém-inaugurada não passa de uma construção vazia Daniel Souza, professor do Instituto de Artes, expressou sua frustração: “Não tem funcionário para cuidar disso, por isso ele está fechado no momento. Ou seja, fizeram o prédio, mas não criaram o teatro, porque o teatro sem funcionários não existe”

ATUALMENTE O TEATRO DA UFU PERMANECE VIVO NAS

MÃOS DOS ESTUDANTES FOTO: ISABELA GADIA

O

PERSISTIR INQUIETO

Agora, o silêncio das cadeiras vazias se mistura à inquietação dos artistas que imaginavam a inauguração como um divisor de águas A estudante do curso de Teatro da UFU, Nara Erler, sentiu essa frustração de perto Envolvida na organização do Festival

Grande Otelo de Cenas Curtas, esperava que,

pela primeira vez, o evento pudesse acontecer em um espaço adequado. “Todos tinham muita esperança que acontecesse no teatro, mas não foi tão simples assim” , relatou ela Devido à inoperância do local, o evento precisou ser transferido para a sala Ana Carneiro, no bloco 3M do campus Santa Mônica, um espaço que não comportava a grandiosidade que o espetáculo alcançou em 2025 O público, fiel ao evento, compareceu em peso, superando todas as expectativas. “A fila estava saindo do bloco. Eu nunca tinha visto isso acontecer” , relembrou Nara O que deveria ser um momento de enaltecimento da arte tornou-se um desafio O ambiente, já pequeno para a grande plateia, ficou ainda mais sufocante diante do calor intenso e da falta de climatização O entusiasmo deu lugar ao desconforto, e alguns espectadores sequer conseguiram permanecer até o final. Para alunos como Nara, a frustração vai além da impossibilidade de subir no palco O teatro deveria ser mais do que um local para apresentações; é nele onde a arte se encontra em sua diversidade. “A gente faz o curso e apresenta muita coisa, mas também queremos assistir É frustrante porque não podemos usá-lo e não conseguimos aproveitar o espaço de outras maneiras” , desabafou ela Sem um teatro funcional, os estudantes perdem a chance de assistir a produções externas, trocar experiências com artistas e expandir seu repertório cultural A ausência desse ambiente não afeta apenas a prática acadêmica, mas compromete a formação profissional.

À ESPERA DO ESPETÁCULO

Apesar dos obstáculos, há esperança de avanços. Segundo Florisvaldo, a entrega definitiva da obra está prevista para antes do fim do semestre (2024 2), permitindo a disponibilização parcial do teatro “Temos um conjunto de ações necessárias para colocálo em pleno funcionamento. Se a construtora entregar as obras em breve, poderemos disponibilizar o teatro parcialmente para os professores do Instituto de Artes” , afirmou o Pró-Reitor. Enquanto as providências administrativas seguem, a espera se alonga Quando suas cortinas finalmente se abrirem, não será apenas mais uma estreia, será o resultado de anos de espera, de persistência e de uma comunidade que nunca deixou de aspirar por esse palco 

Circo-Teatro, um espetáculo de emoções

Apresentação criada na UFU conta história do modernista que marcou a cultura circense brasileira

O teatro circense é um encontro entre a magia do circo e a força do espetáculo, uma arte que encanta, provoca e desafia tanto os artistas quanto o público Misturando linguagens, estilos e emoções, essa vertente teatral convida à imaginação e ao encantamento Para compreender melhor essa fusão rica e cheia de nuances, a equipe do Senso (In)comum conversou com Daniele Pimenta, docente no curso de Teatro do Instituto de Artes da UFU. Graduada em Artes Cênicas, doutora em Artes pela UNICAMP e mestre em Artes Cênicas pela USP, Daniele alia uma sólida formação acadêmica a uma intensa vivência prática Além de apaixonada pelo palco e pela arte circense, ela dedica sua trajetória à pesquisa, ao ensino e à prática teatral em suas múltiplas formas Daniele também é atriz, diretora musical, autora de diversos trabalhos voltados ao universo do Circo-Teatro e dirigente do espetáculo Piolin, que marcou a estreia do teatro da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em dezembro de 2024 Com sua experiência, sensibilidade e profundo conhecimento da área, ela nos conduz por essa instigante viagem entre o picadeiro e os palcos, onde a criação se torna resistência e expressão

deiro e palco Na primeira parte, apresen-

tam-se números de circo no picadeiro, com

um intervalo. Na segunda parte, era uma

peça de teatro convencional, como as que aconteciam fora, mas com artistas do circo

Por exemplo, o artista era contorcionista na primeira parte e atuava na peça de teatro na segunda, sem usar o contorcionismo

Era uma peça convencional Outro ponto é pensar em espetáculos de teatro que utilizam habilidades circenses na encenação. No caso do Piolin, era um espetáculo de teatro musical que contava a história de um palhaço - uma figura real - com números circenses inseridos Eu o descreveria como um musical circense teatral, diferente do teatro circense tradicional, que acontecia nos circos É uma peça de teatro que conta uma história circense Há ainda uma terceira vertente comum: artistas de teatro que fazem escola de circo e montam peças usando essas técnicas Geralmente, são palhaços que fazem teatro de rua e incluem malabarismos ou acrobacias durante a peça. São três vertentes de espetáculos bem diferentes.

Senso (In)comum: Na perspectiva do ator, como fica essa diferença?

ESPETÁCULO “PIOLIN” DIRIGIDO POR DANIELE PIMENTA COM OS GRADUANDOS EM TEATRO UFU, NA INAUGURAÇÃO DO CINEMA E TEATRO DA UFU FOTO: AMANDA BIANCO

Senso (In)comum: Qual a diferença entre teatro circense e circo?

Daniele Pimenta: Primeiro, quando falamos em teatro circense, pensamos no circo-teatro, um fenômeno que ocorreu no

Brasil do final do século XIX até meados dos anos 70 Ainda há algumas companhias que o praticam É uma peça de teatro convencional, realizada dentro do circo Houve

um período de várias décadas em que esse

era o formato mais comum: o circo-teatro, com um espetáculo dividido em duas par-

tes A estrutura do circo-teatro tinha pica-

Daniele Pimenta: No caso dos artistas de rco-teatro, eram artistas nascidos e crias no circo, em sua maioria, embora às zes houvesse pessoas de fora Eles lidam com essa dicotomia Eram duas carreis distintas. Além disso, se um ator do teao convencional fala de circo em uma ça, ou se alguém que fez escola de circo também é ator usa o circo como ferraenta na construção da cena, os resultas e os processos são diferentes.

Senso (In)comum: Como é feita a comnação da tradição do circo com a linguam teatral?

Daniele Pimenta: O circo sempre t teatralidade Números de malabarismo trapézio envolvem o público com a sen ção de risco iminente O artista circe transita entre atuar e executar habilida físicas de forma natural, enquanto o ator teatro pode ter uma visão mais român do circo

Senso (In)comum: Qual a importân de Piolin no teatro circense?

Daniele Pimenta: Piolin, ou Abela Pinto, foi um excelente palhaço e dono

circo Ele criticava o formato tradiciona circo-teatro e escreveu e protagonizou suas próprias peças A Semana de Arte Moderna de 1922 focou em literatura, pintura

e música, com pouca participação do teatro, mas que contou com a presença do palhaço. Os modernistas consideraram Piolin

como símbolo de um artista genuinamente

brasileiro Exaltaram-no, escreveram sobre

ele, homenagearam-no, fizeram um banquete antropofágico, metaforica

s Os mo

rn

mo um artista que represent

brasileira, diferente de outros movimentos com forte influência estrangeira. Por isso ele se tornou importante Nossa peça sobre Piolin é uma releitura escrita por Beto Monteiro, montada com 24 pessoas, ampliando a dramaturgia e incluindo números musicais e circenses.

Senso (In)comum: Quais outros palhaços ou atores você recomenda para quem quer conhecer o circo-teatro?

Daniele Pimenta: Hoje, há poucas companhias de circo-teatro Um exemplo acessível é o palhaço Tubinho, que tem seu próprio circo e presença na TV e redes sociais. Seu trabalho pode ser visto no YouTube, redes sociais e em seu site

Senso (In)comum: Qual sua curiosidade preferida sobre o teatro circense ou dos bastidores do espetáculo Piolin?

Daniele Pimenta: No passado, o circo era a única forma de arte acessível a muitas comunidades Para driblar preconceitos, o circo-teatro passou a encenar histórias bíblicas e melodramas moralistas. Nos bastidores de Piolin, enfrentamos desafios como adaptar a atuação ao espaço do teatro e produzir cenários e figurinos do zero Os alunos mobilizaram rifas, vendas e patrocínios para viabilizar a montagem, adquirindo uma experiência valiosa em produção e captação de recursos 

ENTRE ACROBACIAS, MÚSICAS E EMOÇÃO, PIOLIN HOMENAGEOU A RICA TRADIÇÃO DO CIRCO-TEATRO BRASILEIRO FOTO: AMANDA BIANCO

Estamos bebendo demais?

Iniciativas na UFU promovem ações para refletir sobre a relação das pessoas com o álcool

Encontrar jovens consumindo álcool nos arredores dos campi da universidade é uma cena muito comum no fim do dia Pensando nisso, o Setor de Atenção à Dependência Química (SADEQ), mais conhecido como

Oficina da Vida, realiza ações de promoção da saúde e tratamento de alcoolismo Os estudantes e os servidores têm acesso a informações em lives, palestras e cursos, além do incentivo a atividades físicas e psicoterapia, que fomentam a criação de novos estímulos.

A Rede de Apoio a Usuários de Álcool e Outras Drogas (RAUAD), projeto de extensão do curso de Psicologia, também promove iniciativas com objetivo de propagar conhecimento em saúde pública Pautado pela redução de danos, o RAUAD realiza rodas de conversa, eventos e palestras visando o acolhimento dos estudantes e a troca de experiências “Sabemos que é um tema muito sensível falar sobre drogas dentro da universidade. É uma coisa do senso comum, mas na hora de compartilhar vivências, ainda tem muito tabu” , ressalta Letícia Nobre, estudante de Psicologia e diretora de marketing do RAUAD

A discussão acerca desse assunto não é novidade na UFU

Em 2014, foi criada a Comissão para Políticas de Álcool e Outras Drogas, com objetivo de diagnosticar a realidade dentro da universidade e propor políticas adequadas. Entre os participantes, estava o Pró-reitor de Assistência Estudantil da gestão 2013-2016, Leonardo Barbosa O trabalho da comissão nunca foi efetivamente cumprido.

Leonardo atribui essa questão à perspectiva da universidade sobre o assunto: “O que eu acho que impediu a implementação e que impede até hoje é a preferência da comunidade universitária em abraçar o senso comum

ao invés da ciência”

Ter políticas para falar sobre

álcool e drogas dentro da uni-

versidade é questão de saúde

pública, é necessário que elas

continuem a existir e ganhem

mais visibilidade. “A UFU tem

uma responsabilidade É um

bem público a serviço da socie-

dade” , afirma Barbosa

PORQUE REFLETIR SOBRE ?

Segundo pesquisa feita em

2023 pelo Centro de Informa-

ções sobre Saúde e Álcool

(CISA), 25% dos jovens entre 18 e

24 anos consomem álcool sema-

nalmente ou a cada 15 dias No

levantamento, a faixa etária

apresenta maior frequência de consumo

A ingestão de bebidas alcoó-

licas está presente na cultura

social brasileira, como afirma o

Ministério da Saúde na Política

para Atenção Integral ao Usuá-

rio de Álcool e Outras Drogas,

documento feito em 2003 e que

se mantém relevante atualmen-

te Compreender os riscos, pre-

juízos e nuances do tema é rele-

vante para conscientizar e

reduzir os danos.

FACETAS DO ÁLCOOL

Como consta na Política para

Atenção Integral ao Usuário de

Álcool e Outras Drogas, o consu-

mo excessivo e contínuo de álcool pode causar complicações na

saúde, problemas de convivência

com amigos e familiares. Além

disso, pode trazer prejuízos na vida profissional e acadêmica, as-

sim como danos decorrentes de acidentes ou violência.

Por outro lado, o álcool muitas

vezes desempenha um papel de socialização, utilizado como desi-

nibidor para superar a barreira da

timidez em momentos sociais.

Esse fator não deve ser deixado de lado ao se falar sobre a relação entre indivíduo e bebida, que se

torna complexa devido ao con-

texto no qual ele está inserido.

“Gosto de pensar que sempre

existe uma história atrás de todo o consumo, existem recortes sociais, políticos e emocionais” , re-

flete Letícia.

Para a população mais jovem,

a curiosidade diante do mundo

traz um desejo por experiências

A estudante de Psicologia expli-

ca que é importante não impedir

que os jovens vivam, mas, sim,

que esse viver seja com segu-

rança e compreensão Com esse

olhar, a conscientização torna-

se um recurso potente para mi-

nimizar os problemas “Nosso

interesse é divulgar informação

e sensibilizar sobre os possíveis prejuízos” , aponta Maria de Lourdes Costa, psicóloga e co-

ordenadora da Oficina da Vida

Ela ressalta que a repetição e a intensificação do consumo ao longo do tempo são indicativos de um problema É fundamental redobrar a atenção quando o consumo interfere nas atividades diárias e nos aspectos emocionais, funcionais e produtivos Em alguns casos, a autopercepção pode ser difícil, por isso, uma rede de apoio desempenha um papel primordial. Direcionar o olhar para o que acontece à sua volta e o comportamento dos amigos é uma forma de ajudar quem precisa desse acolhimento.

ESTAMOS BEBENDO DEMAIS, E AGORA?

A redução de danos é um conjunto de práticas focadas em diminuir os riscos do uso de substâncias e melhorar a qualidade de vida dos usuários Essa abordagem se opõe à visão proibicionista da guerra às drogas, reconhecendo que parar de usar nem sempre é viável para todas as realidades O trabalho é realizado considerando os diferentes contextos e o que funciona melhor para cada sujeito. As palestras e as rodas de conversa organizadas pelo RAUAD permitem o compartilhamento de vivências, contribuindo para formação de vínculo entre os estudantes por meio da identificação “É muito mais fácil absorver uma informação, se aquilo for significativo para você” , pontua Letícia. Além disso, é possível que o estudante participe das atividades sem identificação “Estamos ali para escutar” , reforça a estudante de psicologia. 

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25 km do campus Santa Mônica da UFU, encontrase ainda dentro da universidade o que falta em todo prato dos estudantes A Fazenda Experimental Água

Limpa, com 250 hectares, já foi responsável por abastecer o R.U. com polpas de frutas por 17 anos. As plantações preenchem quase toda a fazenda e produzem manga, abacaxi, maracujá, além de outras variedades que não chegam aos estudantes como antes, mas que ainda dão frutos todos os dias. A UFU possui´ , ao todo, três fazendas experimentais e uma reserva ecológica Juntas, essas áreas somam

aproximadamente 1 471,85 hectares e são verdadeiros laboratórios a céu aberto. Esses ambientes ricos em diversidade vegetal e animal unem pesquisa, ensino e extensão, apesar de não serem conhecidos por todos os alunos e funcionários da UFU.

Há 6 anos as polpas das frutas eram levadas diretamente das fazendas para os restaurantes da UFU e complementavam as refeições dos estudantes. O moti-

vo para o desaparecimento possui raízes orçamentárias e contratuais O custo de produção das fazendas era

suprido por recursos do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) até 2019. Devido à priorização de outras demandas e a um orçamento insuficiente para acompanhar o aumento da inflação, as fazendas pararam de abastecer os restaurantes uni-

versitários.

Em relação às questões contratuais, a mudança da empresa que fornece os alimentos para os estudantes é um tópico relevante No acordo com a Universidade,

não existe convênio para a distribuição de suco, e atu-

almente as polpas produzidas pela fazenda são compradas pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), administradora do Hospital de Clínicas da UFU, e distribuídas no HC.

Catarina Azeredo, vice-reitora da federal e pesquisadora sobre desigualdade alimentar, revelou que as fazendas têm plena condição de atender a demanda do

restaurante Contudo, ainda que as plantações sejam

extensas e tenham uma produção regular de frutos, o corte de funcionários devido à redução do orçamento

faz com que a possibilidade de trazer a bebida de volta

precise ser analisada. Maurício Martins, diretor de ex-

perimentação e produção vegetal da UFU, explica: “Se

você tem uma mangueira, um pé de limão ou uma

plantação de goiaba, é preciso adubar todo ano. Você

tem que aplicar produto para controlar as doenças

Depois da colheita tem que podar, ou seja, você tem que ter mão de obra para isso” .

Com o total de 11 funcionários na fazenda, sendo quatro trabalhadores do campo, a manutenção com-

pleta das plantações passa a ser insustentável. Os ali-

mentos apodrecem, as árvores são tomadas por doen-

ças e os campos de soja ficam sem tratamento Em

uma realidade de insegurança alimentar, em que os estudantes por muitas vezes ficam sem os nutrientes necessários, a perda desses frutos traz consequências futuras, o que afeta o aluno dentro e fora da sal

José Lucas (23) é um aluno que frequenta o R.U. nas três refeições do dia e cont

dade da comida está baixa e que

efeiçã

dos alunos que dependem do restaurante universitário, pois são nutrientes a menos na dieta Catarina comenta sobre esse problema:

“O estudante que se alimenta pior tem mais dificul-

dade de concentração, vai ter menor imunidade, adoe-

cer mais e vai se ausentar com maior frequência da aula” . A campanha da chapa à reitoria que Catarina in-

tegrou teve o R.U. como prioridade. Ela propunha abertura do restaurante todos os dias e a melhora do

cardápio universitário Mas, por problemas orçamen-

tários, os projetos andam a passos curtos Tanto a vi-

ce-reitora quanto o diretor de produção vegetal infor-

maram que as reuniões com a empresa Paladar

Alimentos, responsável por abastecer o restaurante,

ainda não foram marcadas.

Para que o suco e a fruta voltem a ser extensão das

fazendas para seus próprios estudantes nos restau-

rantes universitários, são necessários diversos inves-

timentos que vão além dos custos da própria fazenda

Maurício comenta sobre a compra de equipamentos:

“Para começar, teremos que comprar uma refresquei-

ra para cada restaurante, porque é nela que é colocada

essa polpa, que posteriormente se torna o suco” . Já so-

bre a questão das frutas como sobremesa, Maurício

revela que as possibilidades são mais limitadas, devido

ao rápido apodrecimento de produtos orgânicos, que

teriam dificuldade de chegar aos campi mais afastados

da fazenda

As potencialidades do campo e a falta de orçamento

foram comentados por Catarina, que destacou os ga-

nhos da comunidade acadêmica com o investimento

nas fazendas. “Precisamos conseguir a viabilidade

financeira para a fazenda e ampliar as ações de ensino

e extensão para os nossos estudantes. Assim conse-

guimos ganhar duplamente, consumindo alimentos

saudáveis e tendo um laboratório experimental signi-

ficativo e proveitoso” , afirma a vice-reitora.

O desaparecimento das frutas e a diminuição da

qualidade da alimentação moveram a busca do Senso

(In)comum por entender o que acontecia em espaços

tão ricos de diversidade e possibilidade.

Deixamos a Fazenda Água Limpa com muita esperan-

ça e um saco de goiabas, desejando que outros alunos um

dia provem os próprios frutos da universidade. 

Uma fazenda incomum

Projeto busca auxiliar piscicultores a partir da criação de larvas da mosca soldado-negro

AS LARVAS EM ESTÁGIO DE CRESCIMENTO SÃO ARMAZENADAS EM RECIPIENTES FORRADOS COM FARELOS DE SOJA FOTO POR: VINICIUS MORAIS

Uma das principais despesas na aquicultura (criação de organismos aquáticos, como peixes, moluscos e crustáceos) é a ração Segundo a Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), esse gasto representa cerca de 80% dos investimentos totais no ramo. “Se tivéssemos outro suplemento mais acessível no mercado, conseguiríamos melhorar nossa lucratividade” , diz

Djalma Peixoto. O profissional trabalha com os peixes há mais de 25 anos, e é dono de um pesque-pague em Amanhece, Distrito de Araguari. É pensando nesse desafio que o Centro de Incubação de Atividades Empreendedoras (CIAEM) criou o “Fazendinha de Insetos” . O projeto, Entrepreneurial Actions Us (Enactus) UFU, utiliza larvas da mosca soldado-negro, criadas a partir da decomposição de resíduos orgânicos, para propor uma alternativa sustentável, econômica e nutritiva na produção de rações

A IMPORTÂNCIA DO PROJETO

O alto custo da ração compromete a criação de pequenos produtores da região. Nos últimos anos, o produto sofreu um aumento de 85% em seu

valor, de acordo com a Confederação da Agricultura e Pe-

cuária do Brasil (CNA). “Há 10 anos atrás, um saco de ração de qualidade, com 32% de proteína

bruta, custava R$25,00 Hoje,

você encontra essa mesma ra-

ção no valor de R$100,00”, afir-

ma o produtor. Por isso, o CIA-

EM fez um profundo estudo

sobre as condições de vida adequadas à espécie

Stela Domingues, ex-inte-

grante do Fazendinha, comen-

ta que só foi possível efetivar a

criação das espécies após visi-

tar um criadouro em Franca-

SP, para estudar o processo de criação na prática Mariely

Nunes, membro da diretoria de Gente e Gestão do projeto, explica o trabalho manual rea-

lizado diariamente: “Separa-

mos os estágios de vida da

mosca, recolhemos os ovos

que botam no viveiro e sepa-

ramos as larvas das pré-pupas

e estas das pupas” .

O biólogo Ivã Guidini, dou-

tor em aquicultura e pesquisa-

dor na Suécia, explica: “Essa

mosca, no estágio adulto, não

tem estômago e intestino

muito bem desenvolvidos, en-

tão ela não se alimenta, por is-

so é uma larva que cresce ex-

tremamente rápido se

comparada a outros insetos”

O especia

lista ainda acrescen-

ta que o baixo potencial inva-

sor e a “higiene” da soldado-

negro são outras vantagens. Esse processo, além de ser

utilizado na produção de ra-

ções, pode gerar um rico ferti-

lizante para os solos agrícolas

COMO SURGIU?

Cada integrante atua diariamente no acompanhamento e em áreas específicas. O curioso é que nenhum deles possui especialização em verten-

tes relacionadas à biologia ou à agronomia, a maioria vem de cursos como Relações Internacionais, Administração e

Economia, e tiveram que en-

carar o desconhecido de fren-

te. “Nunca na minha vida,

quando eu entrei no curso de RI, pensei que um dia estaria

mexendo com larvas, criando

moscas, algo de que eu tinha nojo” , é o que afirma Anahí

Vollet, vice-presidente da

Enactus UFU

O projeto nasceu no Evento

Nacional Enactus Brasil

(ENEB), em um “hackathon” , modalidade de evento que

reúne profissionais de diver-

sas áreas para resolver um

problema em um curto perío-

do de tempo. A situação pro-

posta pedia uma solução com

as seguintes causas: fome ze-

ro, agricultura sustentável, crescimento econômico, consumo e produção consciente.

A partir de muita pesquisa, surgiu a ideia das larvas, para

servirem como suplemento e reduzirem a quantidade de alimentos descartados Considerando os impactos apresentados antes mesmo de sua comercialização

destaca a visibilidade do projeto: “Em 2023, fomos selecionados para o ‘Action with Africa’ e para o edital da ‘Alimentação em Foco’ , da Cargill Ganhamos o primeiro lugar na categoria iniciante e, no ano passado, conquistamos a segunda posição na categoria principal” Além da produção da ração, a possibilidade de transformar resíduos provenientes das larvas em fertilizante também é real O “Fazendinha de Insetos” está em fase de implementação, são poucos os piscicultores que aceitaram contato até agora, para colocar a ação em prática O grupo pontua o afastamento entre a comunidade da aquicultura e os estudantes, além do estranhamento diante da novidade Segundo Márcia Freire, Professora Conselheira do projeto, foram estabelecidas parcerias para o fornecimento de restos orgânicos, com sacolões e verdureiros de Uberlândia, que se disponibilizaram em providenciar os resíduos que normalmente seriam descartados De acordo com Letícia Martins, gerente, a ideia está sendo estudada para que seja implantada no mercado, ampliando o impacto e sustentabilidade do Fazendinha 

Quem tem boca vai ao RU

Alunos da UFU criam aplicativo para otimizar as filas no Restaurante Universitário

Quando João Guilherme Araújo ingressou no curso de Sistemas de Informação na UFU, em 2023, não imaginava que sua nova rotina também traria o planejamento diário de esperar horas nas filas do bandejão para almoçar “Já houve situação em que entrei na fila às 12h40 e fui comer às 14h15”, relata No início, supôs que fosse um contratempo isolado, fruto da adaptação à vida universitária, mas logo percebeu que a espera era um fenômeno coletivo, e que os discentes já haviam encontrado maneiras de lidar com ela Uma dessas iniciativas era o grupo de WhatsApp “Filas do RU” , no qual estudantes compartilham fotos em tempo real para mapear os períodos mais críticos e evitar congestionamentos No entanto, apesar da adesão de centenas de alunos, a ausência de um canal formal fazia com que as queixas ficassem restritas ao grupo, tornando inviável qualquer solução institucional Diante desse cenário, João e outros graduandos da Faculdade de Computação (FACOM) Matheus Gualter, Rebecca da Silva e Jean Souto idealizaram o DataRU, um aplicativo dinâmico de avaliação diária do restaurante Para criar o seu banco de dados, os desenvolvedores administram hoje a comunidade “Filas do RU” e enviam enquetes diárias de satisfação, que são respondidas pelos 1800 membros Além de ser uma ferramenta que visa a melhoria da refeição, Matheus destaca que o projeto tem como objetivo evitar o desperdício e a falta de comida A ferramenta, ainda em desenvolvimento, pretende ser dinâmica e oferecer avaliações de uma a cinco estrelas, divididas em dois critérios: qualidade do alimento e serviço A expectativa dos alunos é de que, no futuro, o aplicativo se torne institucional, por meio de parcerias com órgãos como o Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CETIC), a Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (PROAE) e a Reitoria O diferencial do DataRU está na análise diária, o que supre a limitação do modelo atual, dependente apenas de uma pesquisa de satisfação anual e de um canal de Ouvidoria De acordo com os idealizadores, cerca de menos de 1% dos discentes de graduação votam nesta pesquisa. “Nosso objetivo é ampliar a adesão e ter uma maior amostragem, não apenas algo geral, como a PROAE faz ” , destacou Gualter

Catarina Azeredo, vice-reitora da UFU e nutricionista com mestrado em Ciências da Nutrição na Universidade Federal de Viçosa (UFV) e doutorado em Ciências na

Universidade de São Paulo (USP), teve os tópicos Restaurante Universitário e Racismo Alimentar como pautas centrais de sua campanha ao lado do reitor Carlos Henrique, em 2024. Ela destaca o papel do RU na garantia de uma alimentação adequada e na segurança alimentar dos estudantes: “Durante a pandemia, tivemos algumas pesquisas em várias universidades que mostraram que uma parte importante dos graduandos sofrem com insegurança alimentar e nutricional, porque não têm recurso financeiro”

Segundo dados da PROAE, o bandejão atende mais de 15 mil estudantes, servindo, aproximadamente, 900 mil refeições por ano No site oficial da UFU, é destacado que, com o valor de R$3,00, o Restaurante Universitário tem como propósito fornecer refeições balanceadas, do ponto de vista nutricional e sanitário

VIABILIDADE E NECESSIDADE DO DATARU

Nicole Silva, aluna de Fisioterapia na UFU, frequenta diariamente o RU dos campi Umuarama e Santa Mônica. Segundo ela, algumas refeições são recorrentes em reclamações e já são evitadas pelos discentes “São sempre pratos específicos, às vezes mal cozidos, que variam entre muito ou pouco salgados" , comenta a estudante Ela destaca, também, que muitos desconhecem a Ouvidoria como canal de

reclamação sobre o serviço e, mesmo entre os que sabem, há o sentimento de que a denúncia não trará resultados efetivos

A falta de confiança no sistema de reclamações reflete um problema mais amplo na gestão do restaurante Uma das propostas da chapa que venceu as últimas eleições para Reitoria é mantê-lo aberto todos os dias. Mas a vice-reitora alerta que, antes disso, é preciso enfrentar desafios estruturais “Recentemente, temos recebido protestos sobre a quantidade de proteína servida Pelo contrato, deveria ser 120 gramas de carne, mas os estudantes relatam receber 80, 60 gramas” , afirma Essas e outras contestações estão sendo averiguadas pela PROAE Desde 2024, o serviço é terceirizado à empresa Paladar Nutri e fiscalizado por nutricionistas da UFU e pela Divisão de Restaurantes Universitários De acordo com a vice-reitora, quando há descumprimento do contrato, a empresa pode ser penalizada com as chamadas ‘glosas’ , que envolvem multas e outras sanções

O lançamento do projeto está previsto para o segundo semestre de 2025 Sobre o possível auxílio do DataRu nesse processo, Catarina ressaltou que ter acesso a dados é fundamental para o planejamento Por isso, a proposta é importante, já que as informações que os discentes estão se propondo a colher são justamente os dados que os nutricionistas utilizam na elaboração do cardápio 

O TEMPO DE ESPERA NO R U PODE ULTRAPASSAR 1 HORA, TORNANDO A REFEIÇÃO UM DESAFIO PARA OS ESTUDANTES FOTO: MARIA CLARA ROCHA

Incentivo para quem?

Falta de estrutura esportiva em campi fora de Uberlândia evidencia desigualdade na Olimpíada UFU

Ano novo, problemas velhos: nem só o amor pelo esporte é capaz de manter uma competição viva Quadra alagada, falta de materiais e de locais para treinar são obstáculos comuns na rotina dos atletas da UFU que moram fora de Uberlândia Por isso, competir com igualdade no principal evento esportivo da instituição torna-se uma fantasia.

Nicolly Dias (20) é multiatleta da Associação Atlética Acadêmica Gnomada, do campus Patos de Minas Natural de Três Rios (RJ). Ela iniciou no esporte aos 3 anos, mas a mudança para cursar Engenharia Eletrônica e de Telecomunicações afetou suas atividades, devido à falta de espaços esportivos.

Para manter os treinos, os atletas possuem a quadra do Pavonianos para treinar, apenas durante o período noturno, já que não há cobertura, e o sol dificulta os desportos A prática no Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM) também é uma possibilidade, mas com empecilhos, pois mais de 12 atléticas da própria faculdade utilizam os ambientes “Já aconteceu de os atletas terem que dividir o valor do aluguel da quadra para conseguir treinar” , contou Nicolly

A situação torna-se mais difícil quando a estrutura é inexistente. O campus de Monte Carmelo (Moca) não possui local para os exercícios, e os atletas precisam se apoiar em uma parceria ineficiente com a prefeitura. A distância também é um dificultador, já que o campus está na zona rural, a 48 minutos a pé do centro da cidade

José Romero (28), estudante de Agronomia em Monte Carmelo, participa das competições da UFU desde 2017 e relata que há uma ausência de apoio, como se fossem deixados de escanteio pela Universidade “Quando a parceria não dá certo, às vezes vamos para a Olimpíada sem tempo de preparação” , comentou o esportista.

A experiência com o esporte pode ser modificada quando os

SEM CONSIDERAR O RETORNO ÀS SUAS CIDADES FOTO: JOYCE ROCHA

atletas se sentem vistos Depois de 19 anos, o campus Pontal, em

Ituiutaba, possui um ambiente que permite o desporto, mas o processo não foi fácil, principalmente para quem acompanhou a construção dos espaços.

Claiton Menezes (23) é atleta de vôlei e um dos presidentes da

Infernal, atlética que resultou da união do setor esportivo do campus Pontal. O estudante contou que, apesar da nova es-

trutura, as modalidades individuais são treinadas por conta própria dos atletas.

DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

Os problemas que afetam os campi de fora se tornam mais expressivos quando há comparações O Centro Esportivo Uni-

versitário (CEU) é um local que os estudantes da UFU Uberlândia têm acesso. O campus Edu-

cação Física ainda possui diver-

sas praças esportivas, que podem ser utilizadas no período

noturno e aos sábados não leti-

vos. Enquanto alguns atletas pos-

suem ambientes para treinar,

outros carecem de condições

mínimas. Seja a busca por um

espaço, uma parceria concreta ou um investimento, a responsabilidade cai para as atléticas, que são obrigadas a trabalhar com o pouco.

André Luiz da Costa, vicepresidente da Moca, relata sobre

o privilégio no esporte em Uber-

lândia: “O pessoal reclama da

temperatura da água da piscina, de um rachado no chão, de uma

rede e eles não entendem que

aqui a gente não tem nenhum lo-

cal nem para poder reclamar” .

Joaquim Ferreira, presidente

da Gnomada, também expôs sua

indignação com a ausência de

respaldo: “Por que para eles têm

e para a gente não? Não estamos

querendo muito, só o mínimo” .

Igor Moraes, coordenador da

Divisão de Esporte e Lazer Uni-

versitário (Diesu), afirmou en-

tender o sentimento de abando-

no, mas explica: “Por estar

muito distante e não ter nin-

guém lá dando assistência, te-

mos pouca comunicação, o que

dificulta saber quais são os pro-

blemas” Ele completa que o ob-

jetivo de sua gestão é melhorar

a comunicação e providenciar verba extraorçamentária para ter estrutura nesses campi, já que a UFU não consegue aumentar os gastos

Sem a rotina de preparação, a qualidade técnica dos times cai. Sem incentivo, os discentes não veem o esporte como atrativo Assim, as atléticas ficam à mercê de uma solução que estimule a participação, ao mesmo tempo que aguardam um parecer da UFU

“O dinheiro atrapalha o bom rendimento, não é todo mundo que consegue arcar com as despesas todo final de semana” , explicou Claiton Sem incentivos, precisam buscar dentro de si a motivação para continuarem. 

Sonho olímpico transborda imaginário

PAPD contribui com prática de exercícios e indica atletas para projeto de paratriatlo

POR CAIO ALVES E RENAN DOS SANTOS

Subir ao pódio para receber uma medalha de prata nas Paralimpíadas parece uma tarefa fácil perto de nadar 750 metros no Sena, pedalar 20 km de bicicleta e correr 5 km nas ruas de Paris. Essa foi a trajetória de Ronan Cordeiro, então atleta do Praia Clube na conquista da primeira medalha da história do triatlo brasileiro na competição, em 2024. Ronan tem má formação congênita na mão esquerda e viu no esporte uma oportunidade que o levou ao alto nível de performance.

Por isso, projetos como o Programa de Atividades Físicas para Pessoas com Deficiência (PAPD), uma iniciativa que, desde 1982, promove a inclusão e a qualidade de vida para PcDs, na Faculdade de Educação Física e Fisioterapia (FAEFI/UFU), são essenciais em uma cidade como Uberlândia, um pequeno “polo” esportivo. Na Paralimpíada de Paris, em 2024, o Brasil teve a maior delegação de atletas em uma edição fora do país, com 280 esportistas. Uberlândia foi uma das cidades com maior representação: a soma dos atletas do Praia Clube, Clube Desportivo para Deficientes de Uberlândia (CDDU) e da Fundação Uberlandense do Turismo, Esporte e Lazer (Futel) totalizou 23 convocados Por mais que Ronan faça parecer simples, resultados históricos não surgem apenas da força de vontade – são fruto de um longo processo de formação de novos

esportistas, impulsionados por programas que incentivam a prática esportiva a pessoas com deficiência Para o medalhista olímpi-

co, que não teve a oportunidade de conhecer o paratriatlo na in-

fância, a criação de projetos para as crianças na modalidade é uma conquista enorme

DO INÍCIO AO PÓDIO

Mariana Costa é autista nível 1 de suporte, e está no início da busca pelo sonho olímpico. Aos sete anos de idade, ela já realiza treinos voltados para o triatlo no PAPD

O objetivo de representar o

Brasil nas Olimpíadas se aproximou após a aluna ser indicada pelo PAPD à Escolinha de Paratriatlo, criada pela Confederação

Brasileira de Paratriatlo (CBTri)

em conjunto ao

Comitê Paralím-

pico Brasileiro

(CPB) Para a ale-

gria da jovem, após três meses

de paralisação, os

treinamentos es-

mo será acrescido na segunda fase de desenvolvimento. Fascinada por Rebeca Andrade, a maior medalhista olímpica

do Brasil, Mariana iniciou no esporte em 2023 por meio da ginástica olímpica do PAPD. O desejo de continuar no paratriatlo caminha ao lado de seu sonho de desbravar o mundo esportivo

Sobre a atividade favorita, ela aponta: “Subir lá naquela ponte”

–“Ginástica” , confirma Verônica

Costa, sua mãe

Verônica destaca a importância do PAPD no bem-estar e na sociabilidade da filha. Para a responsável, o feedback da iniciativa sobre o desenvolvimento de Mariana nas atividades é positivo, pois nem sempre recebe este feedback do Sistema Único de Saúde (SUS), de modo a apelar para medidas judiciais ou enfrentar uma longa espera na fila.

POR DE TRÁS DO SONHO

Solange Rodovalho, educadora física e coordenadora do PAPD desde 2009, considera essencial o envolvimento dos responsáveis pelos participantes no cotidiano do projeto “Além de conseguir acompanhar o que está sendo feito aqui, a gente ainda tem a oportunidade de conversar com as famílias sobre aspectos relacionados à melhor forma de estimular o aluno em casa” , ressalta a profissional, que teve o seu primeiro contato com a iniciativa durante a sua graduação na FAEFI, em 1984.

O esporte é o maior ensinamento. Ele ensina a ser humano, a viver.
RONAN CORDEIRO

pecializados de paratriatlo retornam em abril

De acordo com a coordena-

dora Ariadenes de Souza, o pro-

jeto, aprovado no ano passado,

atende a atletas que têm de 7 a 16

anos, da iniciação ao alto rendi-

mento do paradesporto. Hoje, a

Escolinha conta com atividades

de natação e corrida, e o ciclis-

A alegria contagiante dos alunos nos jogos e brincadeiras, a concentração nos

exercícios de piscina, o abraço

confortante no instrutor, as ca-

retas e sorrisos durante os treinos de musculação, o chute digno de camisa 10 Essa é uma parte do cotidiano do PAPD, considerado referência regional e nacional por Solange. Ela também informa que o programa pode fazer parceria

com todos os institutos da UFU, o que poderia aumentar a qualidade do atendimento oferecido pelo PAPD Uma das maiores demandas do programa é a presença de psicólogos

O ESPORTE É PARA TODOS

Uberlândia tem se consolidado cada vez mais como referência no âmbito da acessibilidade. Esse título, de acordo com Solange, é reflexo de um trabalho feito entre os anos de 1990 e 2000 em parceria com o PAPD, que, embora não seja voltado para iniciação esportiva, proporciona aos alunos a vivência com o esporte De volta ao momento de glória, a medalha recai sobre o peito como um símbolo que representa todo o apoio dado ao atleta paralímpico, tanto por familiares quanto por iniciativas de incentivo. Mas há um longo processo até este momento e, enquanto sociedade, ainda é preciso mais acessibilidade e respeito em relação aos deficientes. Neste contexto, além de expor as conquistas, o desporto tem uma função ainda maior, como Ronan sintetiza: “O esporte é o maior ensinamento. Ele ensina a ser humano, a viver” . 

Autismo nas Olimpíadas O regulamento oficial do Comitê Olímpico Internacional (COI) prevê que autistas de grau leve podem competir em qualquer modalidade do torneio Contudo a partir das regras definidas pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC) nas Paralimpíadas apenas as modalidades de natação, atletismo e tênis de mesa permitem a participação de atletas com deficiência intelectual

ACESSE AQUI A ENTREVISTA COM JOSÉ APARECIDO, ALUNO DO PAPD, E SUA MÃE MARIA CASTRO

MEDALHA OLÍMPICA RESULTA EM NASCIMENTO DE ESCOLINHA DE PARATRIATLO FOTO: CAIO ALVES

E Essppeettááccuullo o d de e d daannçça a

““B Brruuxxaas s”” é é a apprreesseennttaaddo o e em m U Ubbeerrllâânnddiia a

Entre coreografias e protestos simbólicos, exibição destacou o importante papel da bruxaria na história da emancipação feminina

O INÍCIO MOSTRA A CONEXÃO ENTRE MULHERES E NATUREZA

FOTO: CAIO ALVES

A ESTREIA NO TEATRO MUNICIPAL É UMA GRANDE CONQUISTA FOTO: JOÃO PEDRO PERON

Mariana Dias Pereira de Lima é roteirista, direto-

ra, produtora e faz parte do elenco do espetáculo

Sempre incomodada com o aprisionamento da mulher nos afazeres domésticos e cuidados da família, Lima pensou em como transmitir a emancipação feminina por meio de um espetáculo de dança inovador, que contasse com a expressão do simbolismo muito forte das bruxas para a busca das mulheres por liberdade e autonomia

ACESSE PARA CONHECER A FOTORREPORTAGEM COMPLETA

Esse novo olhar questionador próprio

lidade caracterizou a emancipação feminina naquela época e tornou-se um símbolo de resistência, evidenciando a luta das mulheres contra a opressão do patriarcado, sendo representada até os dias atuais.

O espetáculo de dança “Bruxas” , apresentado em 10 de abril no Teatro Municipal de Uberlândia, conta a história de resistência da bruxaria ao longo do tempo e como esse papel foi passado através de gerações. A obra mistura diferentes estilos de coreografias e ritmos para representar tanto o período em que a cena se passa quanto os diferentes modos de opressão e

resistência. Isso evidencia que, seja por pretextos religiosos ou sexistas, as mulheres continuam sendo alvo de censura na nossa sociedade

O ESPETÁCULO CONSEGUIU TRANSMITIR, COM SUAS COREOGRAFIAS, A TRAJETÓRIA DE PERSEGUIÇÃO DAS MULHERES DESDE A CAÇA ÀS BRUXAS ATÉ OS TEMPOS ATUAIS FOTO: ALAN ALVES

POR ALAN ALVES, CAIO ALVES, JOÃO PEDRO PERON, RENAN DOS SANTOS, RIQUELMY MENEZES

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